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Teste de diagnóstico de 12.

º ano

1 Teste de diagnóstico

GRUPO I

Lê o texto seguinte. Se necessário, consulta as notas.

FANTASIAS DO IMPOSSÍVEL
ARROJOS1

-
Se a minha amada um longo olhar me desse
-
Dos seus olhos que ferem como espadas,
-
Eu domaria o mar que se enfurece
-
E escalaria as nuvens rendilhadas.

5
Se ela deixasse, extático2 e suspenso,
-
Tomar-lhe as mãos mignonnes3 e aquecê-las,
-
Eu com um sopro enorme, um sopro imenso
-
Apagaria o lume das estrelas.

-
Se aquela que amo mais que a luz do dia
10
Me aniquilasse os males taciturnos4,
-
O brilho dos meus olhos venceria
- O clarão dos relâmpagos noturnos.

- Se ela quisesse amar, no azul do espaço,


- Casando as suas penas com as minhas,
15 Eu desfaria o sol como desfaço
- As bolas de sabão das criancinhas.

- Se a Laura5 dos meus loucos desvarios


- Fosse menos soberba6 e menos fria,
- Eu pararia o curso aos grandes rios
20 E a terra sob os pés abalaria.

Vocabulário - Se aquela por quem já não tenho risos


- Me concedesse apenas dois abraços,
1 atrevimentos; 2 em êxtase, maravilhado; - Eu subiria aos róseos7 paraísos
3 (palavra francesa) delicadas, graciosas; -
E a lua afogaria nos meus braços.
4 calados, tristes; 5 Laura é a mulher cantada

pelo poeta italiano Petrarca (séc. XIV) – a Se ela ouvisse os meus cantos moribundos
amada inacessível; 6 arrogante; 7 da cor das
rosas; 8 instrumentos musicais de cordas;
25 E os lamentos das cítaras8 estranhas,
9 animal das regiões polares, de pelo macio e - Eu ergueria os vales mais profundos
branco no inverno; 10 café de Lisboa
-
E abateria as sólidas montanhas.
-
E se aquela visão da fantasia
30 Me estreitasse ao peito alvo como arminho9
- Eu nunca, nunca mais me sentaria
-
Às mesas espelhentas do Martinho10.
Cesário Verde, Obra completa (org. Joel Serrão), Lisboa, Livros Horizonte, 1988

António Vilas-Boas e Manuel Vieira │Entre Palavras 12


1
Apresenta, de forma clara e bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.

1. Identifica três traços que caracterizam a figura feminina, justificando com elementos textuais.

2. Indica o valor expressivo da hipérbole presente nos versos «Eu com um sopro enorme, um sopro
imenso / Apagaria o lume das estrelas» (vv.7-8).

3. Analisa a relação do sujeito poético («eu») com a amada («vos»).

Lê o soneto.

Este amor que vos tenho, limpo e puro,


de pensamento vil nunca tocado,
em minha tenra idade começado,
tê-lo dentro nest’ alma só procuro.

De haver nele mudança estou seguro,


sem temer nenhum caso1 ou duro Fado2,
nem o supremo bem ou baixo estado,
nem o tempo presente nem futuro.
Vocabulário
A bonina3 e a flor asinha4 passa5;
tudo por terra o Inverno e Estio deita;
1
acontecimento; 2 Destino; só para meu amor é sempre Maio.
3
tipo de flor; 4 depressa;
5
morre; 6 indiferente; 7 rejeita;
8
em sofrimento Mas ver-vos pera mim, Senhora, escassa6,
e que essa ingratidão tudo me enjeita7,
traz este meu amor sempre em desmaio8.

Luís de Camões, Rimas(texto estabelecido e prefaciado por Álvaro J. da Costa Pimpão),


Coimbra, Almedina, 2005, p. 179

4. Partindo das quadras, caracteriza o amor que o sujeito devota à «Senhora» .

5. Explicita a queixa do sujeito presente no último terceto.

António Vilas-Boas e Manuel Vieira │Entre Palavras 12


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Teste de diagnóstico 12.º ano │ n.º 1

GRUPO II

Lê o texto. Se necessário, consulta as notas.

Nos finais do século XIX, Charles Darwin1, William James2 e Sigmund Freud3 dada
a magnitude dos temas ligados à emoção e ao sentimento, poder-se-ia esperar que tanto a Filosofia
-

-
como as ciências da mente e do cérebro se tivessem dedicado ao seu estudo. Surpreendentemente, só
-
agora isso começa a acontecer. A Filosofia, apesar de David Hume4 e da tradição que se iniciou com
5 ele, nunca confiou na emoção, tendo-a relegado em grande parte para o domínio animal.
A ciência saiu-se melhor durante algum tempo, mas também perdeu a oportunidade.
- Escreveram profusamente sobre vários aspetos da emoção e deram-lhe um lugar privilegiado
-
no discurso científico. Porém, ao longo do século XX e até muito recentemente, tanto a neurociência
-
como as ciências cognitivas comportaram-se de forma pouco amigável com a emoção. Darwin
-

10
realizou um extenso estudo sobre a expressão da emoção nas diferentes culturas e nas diferentes
- espécies e, embora considerando as emoções humanas como vestígios de estádios anteriores da
- evolução, respeitou a importância deste fenómeno. William James apercebeu-se do problema com a
- sua clareza proverbial e realizou um estudo que, apesar de incompleto, permanece uma pedra
-
angular. E Freud entreviu o potencial patológico das emoções alteradas e anunciou a sua
importância em termos inequívocos.
15
Darwin, James e Freud foram pouco explícitos acerca da componente cerebral das suas ideias,
-

-
como era de esperar, mas um dos seus contemporâneos, Hughlings Jackson, foi mais preciso. Dando
- o primeiro passo em direção a uma possível neuroanatomia da emoção, sugeriu que o hemisfério
- cerebral direito tem uma influência dominante na emoção humana, comparável à que o esquerdo
20 exerce na linguagem.
-
Teria sido razoável esperar que no início do novo século as ciências do cérebro tivessem
incluído a emoção na sua agenda de trabalhos e resolvido os seus problemas. Porém, isso nunca
-

-
chegou a acontecer. Pior ainda, o trabalho de Darwin foi esquecido, a proposta de James foi
-
injustamente atacada e sumariamente rejeitada, e a influência de Freud fez-se sentir noutra direção.
25
Ao longo da maior parte do século XX, a emoção não foi digna de crédito nos laboratórios. Era
-
demasiado subjetiva, dizia-se. Era demasiado fugidia e vaga. Estava no polo oposto da razão,
- indubitavelmente a mais excelente capacidade humana, e a razão era encarada como totalmente
- independente da emoção.

António R. Damásio, O sentimento de si – o corpo, a emoção e a neurobiologia da consciência, Lisboa, Publicações Europa-América, 2000

Vocabulário

1
Naturalista inglês (1809- 1882)
2
Filósofo e psicólogo americano (1842-1910)
3
Médico austríaco, fundador da psicanálise (1856-1939)
4
Filósofo escocês (1711-1776)

António Vilas-Boas e Manuel Vieira │Entre Palavras 12


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Teste de diagnóstico de 12.º ano

1. Nas respostas aos itens de escolha múltipla, seleciona a opção correta.

1.1 A magnitude dos temas ligados à emoção justificava que


 (A) a Filosofia e as ciências da mente do cérebro se dedicassem ao seu estudo.
 (B) a Filosofia e as ciências da mente do cérebro adiassem o seu estudo.
 (C) o seu estudo se alargasse a outras ciências.
 (D) o seu estudo se limitasse ao domínio animal.

1.2 Ao iniciar a frase com o advérbio «Surpeendentemente» (l. 3), o autor apresenta o facto enunciado como
(A) irrelevante.
(B) estranho.
(C) súbito.
(D) isolado.

1.3 A emoção teve um lugar privilegiado no discurso científico


 (A) no início do século XX.
 (B) a em meados do século XX.

(C) nos finais do século XIX.


(D) nos finais do século XX.
1.4 Os trabalhos de Charles Darwin e de William James relativos à emoção
(A) apresentaram-na como um fenómeno subjetivo e muito vago.
(B) demonstraram que a razão e a emoção são totalmente independentes.
(C) foram ignorados ou rejeitados, apesar do seu interesse científico.
(D) apresentaram um conjunto de conclusões praticamente idênticas.
1.5 A repetição da palavra «emoção» (ll. 2, 5, 7, 9, 10, 11,14, 18, 22) contribui para a coesão
 (A) frásica.
 (B) lexical.
 (C) temporal.
 (D) referencial.

1.6 Nas expressões «perdeu a oportunidade» (l. 6) e «isso nunca chegou a acontecer» (ll. 22-23), as palavras
destacadas são
(A) preposição e preposição, respetivamente.
(B) determinante e preposição, respetivamente.
(C) determinantes em ambos os casos.
(D) preposições, em ambos os casos.

1.7 O último parágrafo do texto é predominantemente


(A) expositivo.
(B) narrativo.
(C) argumentativo.
(D) descritivo.

António Vilas-Boas e Manuel Vieira │Entre Palavras 12


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Teste de diagnóstico 12.º ano │ n.º 1

2. Classifica a oração iniciada por «que» (l. 4).

3. Indica a função sintática desempenhada pela oração «que o hemisfério cerebral direito tem uma influência
dominante na emoção humana» (ll. 18-19).

4. Indica o antecedente do determinante possessivo «seu» (l. 3).

GRUPO III

A expressão de sentimentos e emoções é fundamental para o equilíbrio de toda a gente, nomeadamente de


crianças e adolescentes.

Redige um texto expositivo-argumentativo, no qual mostres que assim é, apresentando, pelo menos, dois
argumentos que comprovem este ponto de vista e respetivos exemplos.

O teu texto deve ter entre 200 e 300 palavras e deve estruturar-se em três partes lógicas.

António Vilas-Boas e Manuel Vieira │Entre Palavras 12


5
Soluções

Nota: nas perguntas de resposta fechada, as soluções são as


indicadas; nas de resposta aberta, naturalmente, outros modos
de responder corretamente devem ser tidos em conta.

Teste de diagnóstico

TESTE DE DIAGNÓSTICO N.º 1

Grupo I

A
1. A figura feminina tem um olhar cortante - «olhos que
ferem como espadas» (v. 2), mãos pequenas e graciosas,
isto é, «mãos mignonnes» (v. 6) -, mas mostra-se distante
e irreal - «aquela visão de fantasia» (v. 29).
Nota: outras respostas são possíveis.

2. A hipérbole coloca em evidência a força transformadora do


amor, capaz de conferir ao sujeito poético poderes sobre-
humanos que lhe permitem dominar as forças da Natureza.

3. A relação do sujeito poético «eu» com a amada é marcada


pelo desequilíbrio. À paixão manifestada pelo sujeito
poético correspondem a distância e a inacessibilidade da
amada, apenas transponíveis pela fantasia. Todo o poema é
a expressão dessa fantasia. Nessa relação sonhada, o «eu»
formula de diferentes maneiras o desejo de que a «amada»
corresponda aos seus desejos de amor, embora tenha
consciência da impossibilidade da sua «Laura» alguma vez
os possibilitar.

4. É um longo amor «limpo e puro», constante («De haver


mudança nele estou seguro») e firme («sem temer nenhum
caso ou duro Fado»).

5. O sujeito queixa-se da ingratidão da «Senhora», que lhe não


corresponde - «ver-vos (…) escassa» -, o que lhe provoca
constante sofrimento - «traz meu amor sempre em
desmaio».

Grupo II

1. 1.1 (A); 1.2 (B); 1.3 (C); 1.4 (C); 1.5 (B); 1.6 (B); 1.7 (C)

2. Oração subordinada adjetiva relativa restritiva

3. Complemento direto

4. «temas ligados à emoção e ao sentimento» (l. 2)

António Vilas-Boas e Manuel Vieira │Entre Palavras 12


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