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Aluno: João Vitor dos Santos

Resenha - Anzaldúa, Gloria. Falando em línguas - uma carta para as mulheres


escritoras do terceiro mundo.

A escrita como ferramenta de empoderamento.

Nascia em 1942 a escritora e teórica cultural Glória Evangelina Anzaldúa. Nascida


no sul do Texas, foi uma autora versátil “caminhou” por entre a poesia, ensaios teóricos,
contos, narrativas autobiográficas, entrevistas, livros infantis e antologias de vários
gêneros. Autora que tem como seu trabalho mais conhecido a coleção híbrida de poesia
e prosa “Borderlands/La Frontera: The New Mestiza.

No seu texto “Falando em línguas - uma carta para as mulheres escritoras do


terceiro mundo”, ela faz de sua escrita uma “esquina” onde se cruzam diferentes formatos
literários. Seu texto se cria no cruzo entre o acadêmico, a carta e a poesia para nos brindar
com seu pensamento sobre linguagem e poder. Linguagem aqui nesse contexto, no âmbito
do discurso. É no campo do discurso que o ato de escrever se transforma numa
“ferramenta” muito poderosa. Linguagem sendo uma estrutura de poder, dentro do seu
mecanismo determina quem pode falar e ser ouvido e quais memórias e pontos de vistas
serão mostrados, e são nesses pontos que Anzaldúa toca no seu texto a partir do incentivo
a escrita.

Estruturado como uma carta dividida em três partes (três dias diferentes) foi
escrito num período de 5 dias, entre os dias 21 e 26 de maio de 1980. Na primeira parte
do texto, 21 de maio de 1980, ela aborda questões de como é difícil ser mulher de cor
num mundo marcado por raça e gênero “a mulher de cor iniciante é invisível no mundo
dominante dos homens brancos e no mundo feminista das mulheres brancas”.

E nesse contexto de invisibilidade, onde o medo do que não se entende transforma


a diferença em algo a ser negada e oprimida, que as mulheres de cor o têm o seu direito
de fala e escuta negados. Numa sociedade onde, “não nos ensinaram a escrever, nem nos
deram a certeza de que estávamos corretas em usar nossa linguagem marcada pela classe
e pela etnia”, o ato de escrever se torna tão incomodo de se praticar ao mesmo tempo que
se torna necessário como ferramenta de libertação de amarras e de reconquista do direito
de falar e ser escutadas.
Nas partes 2 (24 de maio de 1980) e 3 (26 de maio de 1980) a autora trata a questão
da escrita como um processo orgânico, e por esse motivo não deve haver separação entre
“entre vida e escrita”. Como a autora diz, “o que nos valida como seres humanos, nos
valida como escritoras. O que importa são as relações significativas, seja com nós mesmas
ou com os outros”. Ela também fala das possibilidades de se reconhecer e se descobrir
através da escrita, pois na escrita revelamos segredos que repousam no subconsciente e
constituem nosso ser.

Ela termina o texto falando da importância de se “caminhar” na escrita sem seguir


caminhos definidos, da importância de deixar a escrita criar “seu caminho sem anteparos.
Para alcançar mais pessoas, deve-se evocar as realidades pessoais e sociais — não através
da retórica, mas com sangue, pus e suor.”

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