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OS REGIMES POLÍTICOS DA AMÉRICA DO SUL

A TEORIA DA MODERNIZAÇÃO E SUAS VARIANTES


UMA ANÁLISE EM UM PRISMA REGIONAL

Trabalho apresentado para a


Disciplina FLS 5899-3: Tópicos
Avançados em Ciência Política do
Departamento de Ciência Política da
Universidade de São Paulo. 2º
Semestre de 2008

Ivan Filipe de Almeida Lopes Fernandes


Ivan.fernandes@usp.br
INTRODUÇÃO

Neste ensaio analisaremos o padrão de comportamento dos regimes políticos da


América do Sul e sua dinâmica de estabilidade/instabilidade; esta mensurada em termos
da ocorrência ou não de transições políticas, utilizando-se do banco de dados
desenvolvido por Michael E. Alvarez, José Antonio Cheibub, Fernando Limongi e
Adam Przeworski (1999), doravante denominado ACLP. Para tanto, observaremos o
comportamento agregado dos regimes políticos sul-americanos em relação a algumas
variáveis utilizadas nas literaturas sobre a teoria da modernização e suas variantes,
assim como, se variáveis sobre a organização macro-institucional dos regimes e a
participação política dos militares estão relacionadas a este processo.
A escolha deste objeto de pesquisa decorre das hipóteses levantadas por
Przeworski, Alvarez, Cheibub e Limongi (2000) acerca dos regimes políticos latino-
americanos, pois tal como aventado, o que teria sido instável na América Latina foram
os regimes ditatoriais e não as democracias, como o senso comum nos informa. Isto
decorreria do fato de que nesta região as democracias surgiram com maior freqüência
do que em qualquer outra no globo. Os autores inferiram que estar na América Latina
aumentou em 12% a probabilidade de um país ser democrático na segunda metade do
século XX. Isto é, verificou-se assim que vários países da América Latina
experimentaram a democracia em face de condições nitidamente adversas, nas quais
países de outras partes do mundo tenderiam a permanecer nas garras da ditadura.
No entanto, não buscaremos obter relações de inferência causal nesta pesquisa,
uma vez que optamos por um recorte regional dos dados disponíveis no banco de dados,
deixando de lado as informações sobre outras regiões do globo, que permitiriam que
obtivéssemos relações causais mais apropriadas e consistentes. Por outro lado,
tentaremos descrever de forma extensiva qual foi o comportamento padrão dos regimes
políticos na América do Sul na segunda metade do século XX.
Esta escolha metodológica reflete os limites nos quais esta pesquisa está inserida,
pois, tal como já demonstrado na literatura empírica, são poucas as variáveis que
resistem às análises do comportamento dos regimes políticos em escopo mundial.
Portanto, um corte regionalizado dos casos se torna uma abordagem atraente para o
aprofundamento das investigações científicas sobre a evolução dos regimes políticos.
Ademais, em um teste empírico rigoroso Gassebner, Lamla e Vreeland (2008)
concluíram que a maioria das variáveis sugeridas na literatura especializada sobre

2
transições e democracia não é robusta, pois, ainda que muitos desses fatores possuam
efeitos em contextos específicos, quando submetidos ao teste não se mostraram
significantes1, comprovando mais uma vez a validade da opção por um enfoque regional
para a discussão das transições políticas e da democracia.
Além disso, o foco de análise em um prisma regional possibilita a produção de
generalizações contingenciadas. Estas são capazes de explicar fenômenos políticos
específicos, aplicados a tipos e subtipos bem definidos de casos com um maior grau de
riqueza explanatória, permitindo o refinamento de uma teoria geral em relação a um
mecanismo causal particular ao mostrar o efeito diferente que o hipotético mecanismo
pode provocar em certos casos (George e Bennett, 2005).
Frente ao exposto, buscaremos neste ensaio analisar a freqüência da ocorrência de
regimes políticos democráticos e autoritários e a respectiva estabilidade destes e de seus
diferentes tipos e subtipos. Esta estabilidade será analisada em termos da ocorrência ou
não de transições políticas. Igualmente, observaremos como estas variáveis se
relacionam com o nível de desenvolvimento e, por fim, analisaremos as relações entre
as transições políticas, o nível de desenvolvimento econômico, a organização macro-
institucional dos regimes e o tipo de participação política dos militares nos governos
nacionais.
Fora esta introdução, o ensaio possui mais cinco seções que estão organizadas
como se segue:
 Na próxima seção descreveremos os dados que utilizaremos nesta pesquisa.
 Na seguinte, analisaremos as freqüências relativas da ocorrência de ditaduras e
democracia e as taxas de transições de democracias para ditaduras e vice-
versa, por nível de desenvolvimento, medido em Paridade do Poder de
Compra (PPC) per capita. Munidos destas informações, iremos fazer algumas
observações teóricas pertinentes à teoria da modernização e suas variantes.
 Nas quarta e quinta seções, analisaremos se diferentes classificações sobre os
regimes políticos sul-americanos podem estar relacionadas com as taxas de
transições.
 Na quarta utilizaremos a tipologia que classifica os regimes

1
Gassebner, Lamla e Vreeland (2008) fizeram um teste empírico chamado Extreme Bounds Analysis para
identificar os principais determinantes da democracia. Das 59 variáveis propostas na literatura que trata
sobre o tema, apenas o número de transições políticas, o pertencimento à OCDE e o crescimento
econômico passaram no teste que verificava os determinantes das transições democráticas. Em relação à
sobrevivência das democracias, as mais robustas foram o nível de desenvolvimento econômico e o
número de transições passadas.

3
quanto aos subtipos macro-institucionais de ditaduras e democracias.
 Na quinta classificaremos quanto ao tipo de relacionamento
existente entre civis e militares e quais são as implicações destas informações
para a análise da estabilidade / instabilidade sul-americana.
 Por fim, na sexta e última seção faremos as últimas observações e
concluiremos o ensaio.

DESCRIÇÃO DOS DADOS

Nos próximos parágrafos relataremos como foi o comportamento das principais


variáveis que utilizamos ao longo desta pesquisa no período abrangido pelo ACLP. Em
relação à unidade de análise, as informações foram coletadas por ano e país. A amostra
é composta de 440 unidades de países/anos para as variáveis que identificam os
seguintes fenômenos: Regime Político (Ditadura ou Democracia); Organização Macro-
Institucional dos Regimes Políticos; Tipos de Relações Civis – Militares; Nível de
Desenvolvimento; e Ocorrência ou não de Transições.
Foram colhidas informações sobre os 12 países sul-americanos de 1951 até 1990.
Com exceção da Guiana e Suriname que entram na amostra apenas em 1966 e 1975,
respectivamente, anos em que se tornaram países independentes. Tais informações estão
resumidas no quadro que segue abaixo:

Quadro 1 – Anos de Entrada e Saída dos Países no ACLP.


Países Sulamericanos no ACLP
Países Ano de Entrada Ano de Saída
Argentina 1951 1990
Bolivia 1951 1990
Brasil 1951 1990
Chile 1951 1990
Colombia 1951 1990
Equador 1951 1990
Guiana 1966 1990
Paraguai 1951 1990
Peru 1951 1990
Suriname 1975 1989
Uruguai 1951 1990
Venezuela 1951 1990

Fonte: Banco de Dados ACLP.


No que tange aos dois tipos de regimes políticos existentes no banco de dados –

4
democracias e ditaduras – a opção pela adoção de uma classificação dicotômica é
devido à escolha realizada por Przeworski, Alvarez, Cheibub e Limongi (1999) 2, que ao
construírem o ACLP adotaram uma definição schumpeteriana de democracia 3. Tal
definição além de estar teoricamente embasada, permitiu uma objetividade analítica ao
utilizar-se de regras observáveis e não de julgamentos subjetivos, de forma que a
classificação obtida pode ser facilmente replicada por outros pesquisadores. Atendendo
desta forma a um dos requisitos básicos da pesquisa em Ciências Sociais (King,
Keohane e Verba, 1994).
Do conjunto total de países/anos sobre regimes, 48,9% são ditaduras, enquanto
51,1% são democracias. A freqüência de ditaduras e democracias entre os países sul-
americanos segue a seguinte evolução histórica que pode ser vista no gráfico abaixo:

Gráfico 1 –Freqüência Absoluta de Democracias e Ditaduras na América do Sul.

10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
1951

1953

1955

1957

1959

1961

1963

1965

1967

1969

1971

1973

1975

1977

1979

1981

1983

1985

1987

1989
Democracia Ditadura
Fonte: Banco de Dados ACLP

A evolução gradual deste quadro consiste em um aumento do número de


democracias entre 1957 e 1963, com um posterior movimento de reversão e por fim há
novamente um movimento de redemocratização dentro do subcontinente. Esta evolução

2
Embora tenhamos optado pela classificação dicotômica devido às necessidades metodológicas acima
expostas, concordamos com o argumento de Collier e Adcock (1999) que a escolha por abordagens
dicotomias ou gradativas para distinguir democracias de não democracias deve ser feita em tornos dos
objetivos específicos e dos desafios metodológicos de cada pesquisa.
3
Foi adotada uma definição minimalista de democracia que enfatiza a competição e contestação como
características essenciais. Isto é, no ACLP, democracia é um regime no qual aqueles que governam - o
Chefe do Executivo e os Órgãos Legislativos - são selecionados por meio de eleições dotadas de incerteza
sobre o resultado e com competição e contestação de uma oposição que possui chances de vitória.
Enquanto ditadura é simplesmente uma categoria residual de tudo que não é democracia (Przeworski,
Alvarez, Cheibub e Limongi, 2000).

5
está de acordo com a periodização proposta por Huntington de que entre 1945 e 1962
houve uma Segunda Onda de democratização que foi seguida por uma Segunda Onda
Reversa em direção ao autoritarismo que terminou em 1975 e por fim, após esta, uma
nova Terceira Onda de redemocratização ressurgiu. (Huntington, 1991, 2003;
Przeworski, Alvarez, Cheibub e Limongi, 2000)4.
Observando estes eventos, Huntington identificou cinco fatores que contribuíram
para a emersão da Terceira Onda: a expansão mundial dos valores democráticos, o
crescimento econômico dos anos 1960 e suas conseqüências em termos de melhorias no
padrão de vida, no nível educacional e no tamanho das classes médias, o
reposicionamento da Igreja Católica em defesa da democracia e em oposição ao
autoritarismo, alterações nas políticas externas estadunidense, européia e soviética e o
efeito demonstrativo que as primeiras transições tiveram nas seguintes (Huntington,
2003)5.
Sobre os subtipos de regimes políticos determinados pela organização macro-
institucional dos países, o ACLP identificou dois subtipos de ditaduras e três de
democracias. As ditaduras são divididas em burocracias e autocracias: as primeiras
possuem uma Casa Legislativa, ao contrário das últimas 6. Já as democracias são
divididas em regimes parlamentaristas, presidencialistas e mistos 7. Da totalidade dos
regimes encontrados, 1,1% foram democracias parlamentares; 0,9% foram democracias
mistas; 49,1% foram democracias presidencialistas; 23,9% ditaduras burocráticas e

4
Importante ressaltar que quando esta periodização foi analisada em relação à totalidade da amostra de
países do ACLP, ela só se manteve para os países latino-americanos, pois, de acordo com o observado por
Przeworski, Alvarez, Cheibub e Limongi (2000), a Segunda Onda Reversa é resultado em sua maior parte
da descolonização que provocou o surgimento de dezenas de ditaduras e não da transição de democracias
para o autoritarismo.
5
Deste conjunto podemos conjecturar que todos estes fatores estiveram presentes nas transições
democráticas sul-americanas, pois, tal como veremos o subcontinente passou por um importante processo
de desenvolvimento econômico neste período, a Igreja Católica é uma instituição que exerce forte
influência na região e a política externa estadunidense sempre foi um fator presente. Embora não seja o
objeto deste ensaio, tais afirmações abrem um amplo campo de pesquisas empíricas, pois ainda que tais
acontecimentos tenham ocorrido em uma mesma conjuntura política, são necessárias evidências
empíricas que confirmar se tais hipóteses realmente estão corretas e quais dentre esta gama de fatores
foram os principais determinantes deste processo político.
6
Esta diferenciação decorre se as ditaduras codificam e anunciam as regras que tencionam aplicar ou se
governam sem tais regras. No primeiro tipo o poder é exercido segundo leis estabelecidas e fixas,
havendo regras internas para a operacionalização do governo, enquanto no segundo caso o Executivo
comanda por sua própria vontade e capricho. Isto é, as burocracias são ditaduras institucionalizadas
enquanto as autocracias são despóticas, semelhante ao conceito de regime sultanistico adotado por Linz e
Stepan (1975) em sua pesquisa sobre as transições e consolidação democrática.
7
O critério para a diferenciação destes subtipos é: parlamentarismo: sistema no qual o governo precisa da
confiança da legislatura para continuar governando; presidencialismo: sistema no qual o governo serve ao
presidente eleito; misto: sistema no qual o governo precisa responder a um Órgão Legislativo e ao
presidente eleito.

6
25,0% autocracias. A evolução histórica destes subtipos8 está retratada no gráfico
abaixo:

Gráfico 2 – Freqüência Absoluta de Regimes Políticos na América do Sul.

0
1951

1953

1955

1957

1959

1961

1963

1965

1967

1969

1971

1973

1975

1977

1979

1981

1983

1985

1987

1989
Dem. Parlamentar Dem. Mista Dem. Presidencialista Dit. Burocrática Dit. Autocrática

Fonte: Banco de Dados ACLP

No gráfico percebemos uma clara predominância de democracias


presidencialistas, ditaduras burocráticas e ditaduras autocráticas. A evolução destes três
subtipos de Regimes está, novamente, de acordo com a periodização proposta por
Huntington, pois a freqüência de democracias presidencialistas se expande de 1957 a
1963, quando começa a se retrair para só depois de 1978 expandir-se novamente,
enquanto os dois subtipos autoritários apresentam um padrão exatamente inverso, ainda
que a curva de burocracias seja mais estável que a curva das autocracias 9.
No que tange às relações entre civis e militares, o banco de dados observa três
tipos diferentes de relacionamento: o controle civil do governo, sem a interferência dos
organismos militares; um governo civil efetivamente controlado por uma elite militar; e
o comando direto dos militares sobre o governo de determinado Estado. Da totalidade
dos regimes encontrado, 70,7% foram caracterizados como governo civil; 18,9% foram
governos civis tutelados; e 10,5% foram governos militares. A evolução histórica destes
dados está retratada no gráfico que segue abaixo:

8
Para facilitar a exposição, adotamos o termo subtipo para nos referirmos aos 05 subtipos macro-
institucionais (democracias parlamentares, mistas e presidencialistas; e ditaduras burocráticas e
autocracias) e o termo tipo para nos referirmos aos 3 tipos de relacionamento civil – militar.
9
Como veremos mais à frente, a taxa de transição em regimes autoritários autocráticos foi 2,86 vezes
maior que a taxa de transição em ditaduras burocráticas.

7
Gráfico 3 – Freqüência Absoluta das Relações Civis Militares na América do Sul.

12

10

0
1951

1953

1955

1957

1959

1961

1963

1965

1967

1969

1971

1973

1975

1977

1979

1981

1983

1985

1987

1989
Governo Civil Governo Civil Tutelado Governo Militar

Fonte: Banco de Dados ACLP

No gráfico percebemos mais uma vez uma evolução consistente com a


periodização de Huntington, pois novamente surgem três movimentos distintos. No
primeiro há uma expansão do número de governos civis enquanto a freqüência de
governos civis tutelados e governos militares se retraem. No segundo momento, as
tendências se invertem. E no terceiro tais voltam ao padrão inicial. Isto é, embora a
periodização de Huntington tenha sido feita analisando a evolução da freqüência de
democracias e ditaduras, parece neste gráfico que a evolução da freqüência de governos
civis está associada às democracias, enquanto a freqüência dos governos civis tutelados
e dos governos militares está associada às não democracias.
Se estes três gráficos forem analisados conjuntamente, o que se observa é que o
subcontinente sul-americano na segunda metade do século XX foi significantemente
instável, pois são poucos os períodos que algumas destas curvas se estabilizaram em um
único ponto. Isto é, embora tenha havido três tendências que indicaram movimentos em
direção a mais democracias ou ditaduras, não há no subcontinente, durante toda a
metade do século, um período relativamente longo de estabilidade dos regimes
políticos.
Em relação aos dados sobre o nível de desenvolvimento da América do Sul, as
informações do ACLP apresentam dados a respeito da Paridade do Poder de Compra
(PPC) per capita10 com preços internacionais em Dólar (US$) de 1985. Isto é, o PPC

10
A teoria da paridade do poder de compra (PPC) ou paridade do poder aquisitivo (PPA) é um método
alternativo à taxa de câmbio para se calcular o poder de compra de dois países. A PPC estabelece que esta
taxa é igual à relação entre os níveis gerais de preço dos paises, isto é indica que todos os níveis de preço

8
per capita foi escolhido neste banco de dados como o melhor indicador do nível de
desenvolvimento, ainda que existam na literatura outros indicadores utilizados para
captar o nível de modernização em que um país se encontra. Em Lipset (1967) foram
utilizados múltiplos indicadores11. Em Arat (1988), o índice escolhido foi o Consumo
de Energia per capita12. Já em O’Donnell (1973) o índice escolhido para mensurar o
nível de modernização dos países sul-americanos foi o tamanho absoluto do setor
econômico moderno. Uma das conseqüências positivas desta abordagem de O’Donnell
sobre o desenvolvimento é que algumas economias modernas mas muito populosas, tais
como o Brasil e o México, que possuíam uma renda per capita baixa, foram alocadas
corretamente entre as mais modernizadas da América Latina (Collier, 1979).
As maiores concentrações de paises/anos estão nos dois intervalos de menor
desenvolvimento econômico: 34,8% dos dados se encontram dentro do intervalo de
US$ 1.000 – 2.000 e 21,1% entre US$ 2.000 – 3.000. Ademais, 74,1% dos país/ano
possuem PPC per capita menor que US$ 4.000, enquanto apenas 14,1% possuem
valores maiores que este. Tais dados podem ser vistos na Tabela 1, assim como no
Gráfico 4, no qual podemos visualizar a evolução histórica dos intervalos agregados,
que mostra um claro processo de desenvolvimento no sub-continente com a constante
diminuição da freqüência dos intervalos de menor nível de desenvolvimento e aumento
da ocorrência de eventos nos intervalos mais elevados.

Tabela 1 – Desenvolvimento por PPC per capita na América do Sul por País/Ano.
Desenvolvimento por PPC per capita na América do Sul
US$ Total de País/Ano (%)
1000 ... 2000 153 34.8%
2000 ... 3000 93 21.1%
3000 ... 4000 80 18.2%
4000 ... 5000 49 11.1%
5000 ... 6000 25 5.7%
6000 ... 7000 22 5.0%
7000 ... 8000 15 3.4%
8000 ... 9000 3 0.7%
TOTAL 440 100%

Fonte: Banco de Dados ACLP

são iguais quando medidos em termos da mesma moeda. A PPC é necessária porque a comparação dos
produtos internos brutos (PIB) em uma moeda comum não descreve com precisão as diferenças de
rendimentos nem as diferenças no custo de vida de cada país (Krugman e Obstfeld, 2001).
11
Entre eles: renda per capita, número de telefones, rádios e jornais por 1000 habitantes, percentagem de
homens na agricultura, energia elétrica consumida per capita, níveis de educação e níveis de urbanização.
12
Vale ressaltar que para Arat (1988) o índice de Consumo de Energia per capita é relativamente
superior. No entanto, como o ACLP não apresenta dados a respeito deste indicador, não o utilizaremos
comparativamente ao PPC per capita para verificarmos se os resultados com estes dois indicadores são
semelhantes. Tal esforço analítico será deixado para pesquisas posteriores.

9
Gráfico 4 – Desenvolvimento Econômico na América do Sul (US$ - 1985).

0
1951

1953

1955

1957

1959

1961

1963

1965

1967

1969

1971

1973

1975

1977

1979

1981

1983

1985

1987

1989
1000 ... 2000 2000 ... 3000 3000 ... 4000 4000 ... 5000 5000 ...

Fonte: Banco de Dados ACLP

Por fim, sobre as informações disponíveis a respeito das transições políticas


ocorridas na América do Sul, nos 440 dados de países/anos, ocorreram 29 transições,
das quais, 13 foram de democracias para ditaduras – transições autoritárias – e 16 de
ditaduras para democracias – transições democráticas.

DESENVOLVIMENTO E TRANSIÇÕES

Nesta seção analisaremos a freqüência relativa das democracias e ditaduras e a


dinâmica de estabilidade – instabilidade na região, mensurada em termos da ocorrência
ou não de transições políticas. A freqüência relativa dos regimes políticos e a dinâmica
da estabilidade serão relacionadas aos diferentes níveis de desenvolvimento a fim de
que possamos analisar as implicações pertinentes destas evidências às teorias da
modernização e suas variantes.
Na primeira parte, observaremos a freqüência da ocorrência de democracias e
ditaduras por nível de desenvolvimento de forma comparada. A tabela 2 mostra a
freqüência absoluta de democracias e ditaduras encontradas por intervalo de
desenvolvimento econômico na América do Sul.

10
Tabela 2 – Democracias e Ditaduras por Nível de Desenvolvimento (PPC per capita)
Democracias e Ditaduras por Nível de Desenvolvimento
US$ Democracias Ditaduras
1000 ... 2000 49 104
2000 ... 3000 53 40
3000 ... 4000 49 31
4000 ... 5000 32 17
5000 ... 6000 9 16
6000 ... 7000 15 7
7000 ... 8000 15 0
8000 ... 3 0
TOTAL 225 215

Fonte: Banco de Dados ACLP

Como a tabela apresenta um desequilíbrio entre o número de evidências


encontradas por nível de desenvolvimento, visto que a América do Sul é um
subcontinente subdesenvolvido e, portanto, concentra suas observações nos menores
níveis de desenvolvimento, optamos por comparar a ocorrência de democracias e
ditaduras relativamente dentro de cada intervalo. Isto é, comparamos a proporção
ocupada dentro de cada intervalo por cada tipo de regime. Por exemplo, no último
intervalo, 100% dos paises/anos encontrados são democracias. O resultado desta análise
pode ser observado no gráfico abaixo:

Gráfico 5 – Regimes Políticos por Nível de Desenvolvimento (em 1.000 US$).

1
0.9
0.8
0.7
0.6
0.5
0.4
0.3
0.2
0.1
0
1 ... 2 2 ... 3 3 ... 4 4 ... 5 5 ... 6 6 ... 7 7 ... 8 8 ...
Democracias Ditaduras

Fonte: Banco de Dados ACLP

Há neste gráfico uma evidente tendência de quão maior foi o nível de


desenvolvimento na América do Sul, maiores foram as proporções de ocorrência de
democracias. Tal evidência parece estar de acordo com a tradicional teoria da
modernização proposta por Seymour M. Lipset na qual o desenvolvimento
(modernização) estaria associado a uma maior democratização. Segundo Lipset (1967)
quanto mais próspera for nação, tanto maiores são as probabilidades de que ela sustente

11
um regime democrático13.
Para verificarmos se esta distribuição de ocorrências não foi mera casualidade,
fizemos um Teste Qui-Quadrado (I) e observamos que a probabilidade que esta
distribuição tivesse sido apenas resultado do acaso, não havendo nenhuma associação
entre nível de desenvolvimento e as taxas de ocorrência de democracia e ditaduras foi
menor que 0,000.001%. Isto é, segundo este teste estatístico de significância, a
distribuição de ditaduras e democracias na América do Sul está associada ao nível de
desenvolvimento econômico, conforme previsto na teoria da modernização.
Por outro lado, não podemos deixar de notar que embora a distribuição de
ocorrências tenha se mostrado estatisticamente significante, as proporções de ocorrência
de democracia e de ditadura no intervalo de US$ 5000 – US$ 6000 trazem algumas
dúvidas a quaisquer afirmações conclusivas sobre a capacidade explicativa da teoria da
modernização para o comportamento dos regimes políticos sul-americanos na segunda
metade do século XX. Isto decorre do fato que as proporções apresentadas neste
intervalo não estão de acordo com a explicação da teoria da modernização, pois do
quarto para o quinto intervalo, não há um aumento da proporção de ocorrência de
democracia, mas sim o aumento da proporção de ditaduras.
Uma possível explicação para tal evento é proposta por Guillermo O’Donnell
(1973) e por Fernando Henrique Cardoso e Enzo Falleto (1970) que analisaram a
evolução histórica dos regimes políticos latino-americanos a partir do processo de
Industrialização por Substituição de Importações (ISI) e observaram que foi a
intensificação do processo de desenvolvimento que estimulou a expansão da ocorrência
de ditaduras.
De maneira simplificada, com o esgotamento da primeira fase da ISI, período no
qual as massas foram incorporadas à política, era necessário aprofundar o modelo com a
internalização de setores produtivos mais capital intensivos, o que exigiria a atração do
capital externo capaz de investir em projetos de mais alta monta e com mais lenta
maturação. Para atrair tal investimento era necessária a diminuição dos riscos da
instabilidade política que emergira com essa incorporação das massas e, desta forma,

13
De uma maneira sucinta, Lipset entende que existiria uma relação direta entre o grau de modernização
da sociedade e a democracia. Sua teoria previa que a obtenção de uma democracia estável seria o ponto
culminante dum processo de transformações sociais pelo qual as sociedades passariam ao transitar do
tradicional para o moderno. Neste processo ocorreria a diferenciação e autonomização das diferentes
esferas da vida social, marcando o aparecimento e incremento da urbanização, educação, comunicação de
massas, burocratização e por fim a democratização. Isto é, a probabilidade de que países venham a ser
democráticos aumentaria com o grau de modernização da sociedade. (Limongi, 1997).

12
visando atenuar o conflito político, as tecnocracias civis e militares articularam uma
coalizão golpista que instaurou um regime ditatorial capaz de prosseguir com o
aprofundamento da ISI.
Isto é, o Autoritarismo Burocrático, conceito desenvolvido por O´Donnell para
explicar este processo que emergia na América Latina, estava associado a uma evolução
particular do desenvolvimento capitalista do subcontinente que produziu uma derrota
política esmagadora do setor popular e de seus aliados14 (O’Donnel, 1982 e 1987).
Desta forma, concluímos que dadas as especificidades do modelo de
desenvolvimento por ISI, num momento específico da evolução econômica do
subcontinente houve um processo de reversão da tendência democratizante da
modernização. No entanto, após a superação deste patamar crítico da ISI, novamente o
desenvolvimento econômico volta a estar associado a uma maior presença relativa de
democracias15.
Tal explicação é plausível ao observarmos que dos três países que tiveram regimes
autoritários neste intervalo de desenvolvimento: dois – a Argentina, o Uruguai –
adotaram a ISI como modelo de desenvolvimento. O outro país, a Venezuela, é um caso
especial na América do Sul, pois por ser grande produtor de petróleo, o seu PPC per
capita tende a superestimar seu nível de desenvolvimento. Mas, no entanto, após ter
passado o patamar de US$ 6.600,00 de PPC per capita, em 1959, tornou-se uma
democracia e permaneceu nesta posição até o final da amostra, sendo, portanto, um caso
que está afinado às previsões da teoria da modernização.
Tendo já discutido a freqüência relativa de democracias e ditaduras na América do
Sul, agora, nos dedicaremos a analisar a ocorrência de transições e quais são os
argumentos teóricos propostos para justificar tal padrão de comportamento. A próxima
tabela mostra a freqüência absoluta de transições de ditaduras para democracias e de
democracias para ditaduras por intervalo de desenvolvimento econômico.

14
A característica excludente do Autoritarismo Burocrático é uma dupla supressão: a negação das
aspirações de participação econômica do setor popular e também o fechamento dos canais de acesso
político, junto com a eliminação ou subordinação das bases organizacionais desse setor.
15
É de fundamental importância que o leitor seja atento ao fato que embora as teorias da modernização e
as teorias do Autoritarismo Burocrático estejam tratando de assuntos similares, elas são por natureza
epistemológica distintas. Isto decorre do fato de enquanto a teoria da modernização é essencialmente
estruturalista, praticamente menosprezando a capacidade de Agência na evolução histórica da
democracia, as teorias do Autoritarismo Burocrático abrem um espaço importante para os atores políticos,
uma vez que a opção autoritária faz parte da estratégia de desenvolvimento defendida por uma elite
tecnocrática civil e militar.

13
Tabela 3 – Transições por Nível de Desenvolvimento (PPC per capita)
Transições por Nível de Desenvolvimento
US$ Transições Autoritárias Democráticas
1000 ... 2000 4 2 2
2000 ... 3000 9 4 5
3000 ... 4000 6 3 3
4000 ... 5000 5 2 3
5000 ... 6000 3 1 2
6000 ... 7000 2 1 1
7000 ... 0 0 0
TOTAL 29 13 16

Fonte: Banco de Dados ACLP

Esta tabela apresenta um equilíbrio entre a freqüência de ocorrências de transições


de democracia para ditaduras e de ditaduras para democracias. Foi realizado um Teste
Qui-Quadrado (II), no qual observamos uma probabilidade de mais de 99,5% que a
diferença entre as ocorrências de transições democráticas e autoritárias não esteja
associada ao nível de desenvolvimento econômico. Isto é, não houve uma diferença
significante estatisticamente entre as freqüências de ocorrências destes dois tipos de
transições que esteja relacionada ao nível de desenvolvimento dos paises sul-
americanos, o que mais uma vez coloca em dúvida os mecanismos explicativos
utilizados pela teoria da modernização.
Fizemos também três outros Testes Qui-Quadrados (III, IV e V) de significância
estatística para observarmos se a distribuição de ocorrências de transições, transições
autoritárias e transições democráticas, respectivamente, estão associadas ao nível de
desenvolvimento quando analisadas isoladamente. Os testes III e IV não obtiveram
resultados estatisticamente significantes, pois a probabilidade que não haja associação
entre a ocorrência de transições por nível de desenvolvimento foi respectivamente de
16,28%; 90,21%, já o teste V, que analisou isoladamente as transições democráticas se
mostrou estatisticamente significante, pois a probabilidade de não existência de
associação foi de 7,67%, uma margem considerada aceitável.
Além disso, dado que a ocorrência de países/anos por nível de desenvolvimento
econômico é bem mais concentrada nos menores intervalos de desenvolvimento,
conforme já visto na Tabela 2, também optamos por calcular quais foram as taxas de
transição por intervalo de desenvolvimento. Isto é, dividimos a freqüência absoluta de
ocorrência de transições, transições democráticas e transições autoritárias pela
freqüência absoluta de paises/anos, ditaduras e democracias, respectivamente, por
intervalo de desenvolvimento. Os resultados estão no gráfico que segue abaixo.

14
Gráfico 6 – Transição por Nível de Desenvolvimento (em 1.000 US$).

0,2
0,18
0,16
0,14
0,12
0,1
0,08
0,06
0,04
0,02
0
1 ... 2 2 ... 3 3 ... 4 4 ... 5 5 ... 6 6 ... 7 7 ... 8
Taxa de Transições Taxa de T. Autoritária Taxa de T. Democrática

Fonte: Banco de Dados ACLP

Estes dados são intrigantes, pois o Gráfico 6 descreve um comportamento distinto


daquele descrito pelo Gráfico 5, pois enquanto este último confirmava a tese proposta
pela teoria da modernização, o Gráfico 6 mostra que os índices intermediários de
modernização levam a uma maior instabilidade política, seja qual for o tipo de regime.
Embora haja uma maior instabilidade nos regimes autoritários, uma vez que a curva de
taxa de transição democrática é superior à taxa de transição autoritária, sendo que no
intervalo de US$ 4000 – US$ 5000 houve aproximadamente uma transição a cada cinco
países/anos ditatoriais, ambas as curvas apresentam seus maiores valores nos intervalos
intermediários.
Uma explicação levantada para justificar tal comportamento é a tese de Samuel
Huntington (1975) onde, revisitando algumas das conclusões tomadas por Lipset,
discute as conseqüências políticas da modernidade e da modernização a partir do prisma
da Ordem Política. A tese defendida é que embora a modernidade produza estabilidade,
a modernização trás instabilidade, pois provoca a emergência de novas forças sociais
que, ao não serem absorvidas pelo sistema político, desestabilizam-no com a luta pela
ampliação da participação.
Isto ocorreria devido ao hiato entre rápida mudança social / mobilização de novos
atores e o lento desenvolvimento das instituições políticas. O modelo teórico que
permeia a análise é definido pela relação entre institucionalização política e participação
/ mobilização social que determinariam a estabilidade da sociedade. De modo que, à
medida que esta se tornasse estruturalmente mais complexa e diversificadas, a
manutenção da ordem seria dependente do desenvolvimento destas instituições. Isto é, o
impacto da modernização na Ordem / Estabilidade seria definido pelo tamanho do hiato

15
entre mobilização e institucionalização, pois quanto maior fosse a frustração causada
pela não participação, maior seria o potencial de desestabilização.
Tal tese se aproxima genericamente das proposições de O’Donnell e Cardoso e
Falletto, pois nestas a ativação das massas a partir dos primeiros passos da
modernização gerou a instabilidade política em reação a qual a tecnocracia civil e
militar organizaram a coalizão golpista16. No entanto, enquanto as obras destes três
autores se referiam especificamente ao contexto latino-americano e à modernização via
ISI, a teoria de Huntington é aplicável a todas as sociedades17.
Ademais, é importante sublinharmos que diferentemente de Huntington,
O’Donnell e Cardoso e Falletto enfatizam que o processo de modernização em questão
é especifico, pois se trata de transformações econômico-sociais em sociedades
capitalistas periféricas e dependentes. Isto é, este foi um processo de transformação de
um tipo histórico de capitalismo diferente dos processos de industrializações dos paises
desenvolvidos da Europa Ocidental, anglo-saxões ou mesmo de industrialização tardia,
como o Japão e a Alemanha.
Devido ao fato que as divergências entre as evidências demonstradas nos Gráficos
5 e 6 estarem concentradas nos intervalos intermediários de desenvolvimento
econômico, analisaremos nos próximos parágrafos estas informações mais
detalhadamente, observando apenas os dados países/anos que se encontram entre US$
2000 – US$ 7000. Optamos por redesenhar os dois gráficos, diminuindo o tamanho dos
intervalos e trabalhando com as 25 transições que ocorreram dentro destes limites. Os
Gráficos 7 e 8 são, portanto, reproduções dos Gráficos 5 e 6, apenas com os intervalos
de desenvolvimento menores e deixando de lado os extremos mais pobres e mais
desenvolvidos da amostra.

16
A razão que as pressões populares debilitaram o Estado populista latino americano é que essa ativação
das massas se deu por meio do tratamento destas como um ente portador de exigências de justiça
substantiva e não como iguais cidadãos (O’Donnell, 1982).
17
Em seu modelo, Huntington criou o tipo analítico comunidade pretoriana para identificar as sociedades
cujos sistemas políticos não são capazes de absorver as novas forças sociais e suas demandas. Tal como,
para O’Donnel, aconteceu no momento anterior à emersão do Autoritarismo Burocrático, no qual as
pressões populares sobre o Estado o debilitaram e propiciaram a resposta de exclusão da participação
popular dos setores previamente ativados na política. Isto é, as democracias populistas sul-americanas
tornaram-se sociedades pretorianas de massa dentro da tipologia huntingtoniana, pois ao mesmo tempo
em que tinham um alto índice de participação, mostravam-se incapazes de processar as demandas
políticas, indicando uma fragilidade e transitoriedade institucional.

16
Gráfico 7 – Regimes Políticos por Nível de Desenvolvimento (em 1.000 US$)

1
0,9
0,8
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
2,0 ... 2,5 2,5 ... 3,0 3,0 ... 3,5 3,5 ... 4,0 4,0 ... 4,5 4,5 ... 5,0 5,0 ... 5,5 5,5 ... 6,0 6,0 ... 6,5 6,5 ... 7,0
Democracias Ditaduras

Fonte: Banco de Dados ACLP

Gráfico 8 – Transição por Nível de Desenvolvimento (em 1.000 US$)

0,4

0,35

0,3

0,25

0,2

0,15

0,1

0,05

0
2,0 ... 2,5 2,5 ... 3,0 3,0 ... 3,5 3,5 ... 4,0 4,0 ... 4,5 4,5 ... 5,0 5,0 ... 5,5 5,5 ... 6,0 6,0 ... 6,5 6,5 ... 7,0
Taxa de Transições Taxa de T. Autoritária Taxa de T. Democrática

Fonte: Banco de Dados ACLP

Podemos ver acima, em relação à freqüência relativa de ditaduras e democracias


na América do Sul (Gráfico 7), que há nos níveis intermediários de desenvolvimento
uma maior proporção de democracias, exceto nos intervalos entre US$ 5000 – US$
6000, que são intervalos que indicam um índice de desenvolvimento já bem mais
próximo dos países desenvolvidos. Neste intervalo ocorreram 16 anos/países ditatoriais
e 9 anos/países democráticos. Destes 16 anos/países autoritários, 9 são da Argentina, 2
do Uruguai e 5 da Venezuela. Enquanto dos 9 anos/países democráticos, 8 pertencem à
Argentina e 1 à Venezuela.
Em relação ao Gráfico 8, já não há mais um claro padrão que justifique a
afirmação da tese de Huntington que a modernização gera instabilidade, porque não há

17
mais um intervalo claro de concentração das transições. No entanto, ainda nos restam
dois argumentos para não refutarmos a tese de Huntington que a modernização gera
instabilidade com estas evidências empíricas.
O primeiro argumento seria que em todo o intervalo analisado, que vai de US$
2.000 a US$ 7.000, ocorreria o processo de modernização, uma vez que tal processo não
é um simples acontecimento social que pode ser compreendido em um pequeno
intervalo de desenvolvimento econômico, ainda mais que o conceito de modernização
utilizado pelo autor abrange a aspectos sociais que vão além da análise econômica 18.
O segundo argumento é curiosamente proposto por Lipset em sua obra clássica
sobre a teoria da modernização. Segundo este autor, embora o desenvolvimento esteja
associado com a democracia, quando o processo de modernização e industrialização é
muito rápido, introduz bruscas descontinuidades entre a situação pré-indutrial e a
industrial, estimulando a emersão de movimentos políticos extremistas. Segundo o
autor, os movimentos socialistas revolucionários europeus surgiram em resposta às
tensões criadas pela rápida industrialização. Desta forma, uma hipótese plausível para a
grande instabilidade encontrada demonstrada no Gráfico 8 é a grande transformação
modernizadora por qual passou o subcontinente, sobretudo os países do Cone Sul, na
segunda metade do século XX.
Por fim, vale a pena ressaltar que a Argentina, tal como demonstrado por
Przeworski, Alvarez, Cheibub e Limongi (2000), é um ponto fora da curva de
distribuição de ditaduras e democracias, uma vez que 4 das 5 transições autoritárias que
aconteceram em maior patamar de desenvolvimento em todo o globo ocorreram neste
país, enquanto a outra ocorreu no Uruguai. Deste modo, está claro que o comportamento
fora do padrão dos regimes políticos argentinos dificulta a averiguação de um modelo
claro de comportamento dos regimes políticos sul-americanos que admita os
mecanismos causais de Lipset ou de Huntington.
Uma possível justificativa para o caso argentino é encontrada em artigo de
Przeworski (2004) no qual foi observado que a história passada dos regimes políticos

18
Um exemplo da abrangência do fenômeno da modernização é a definição adotada por Inglehart e
Welzel (2005) sobre o que é desenvolvimento socioeconômico. Para estes autores, o desenvolvimento
socioeconômico ocorre a partir das inovações tecnológicas que aumentam a produtividade do trabalho,
permitindo a especialização ocupacional, o aumento do nível educacional da população, a diversificação
das interações humanas, a mudança da ênfase nas relações de autoridade para as relações de barganha; no
longo prazo permite as mudanças culturais, tais como o papel dos gêneros, atitudes em relação às
autoridades, mudanças nas normas sexuais, declínio das taxas de fertilidade, maior participação política.
Deste modo, o leitor deve estar atento que o PPC per capita é, portanto, apenas um método escolhido para
mensurar o nível de desenvolvimento dos países de forma objetiva e replicável.

18
possui grande relevância para a determinação da dinâmica da estabilidade política, pois
aqueles que herdaram instabilidade política do passado tendem a ser mais propensos a
transições, com exceção apenas das democracias que emergem em paises
desenvolvidos. Isto é, para os regimes autoritários, quanto maior for a instabilidade
passada, seja o país rico ou pobre, maior é a probabilidade de instabilidade futura,
enquanto para os regimes democráticos, apenas para os não desenvolvidos a
instabilidade passada afeta a capacidade de manutenção do regime. Dada esta
conclusão, é possível então que o fato explicativo da maior instabilidade da Argentina
na segunda metade do século XX, mesmo em patamares de desenvolvimento
relativamente alto, é decorrente de seu histórico de instabilidade, uma vez que este é o
país que passou por mais transições políticas no mundo e está inserido num
subcontinente subdesenvolvido 19.

ORGANIZAÇÃO MACRO-INSTITUCIONAL E TRANSIÇÕES

Nesta seção analisaremos se os subtipos macro-institucionais dos regimes


políticos (regimes democráticos parlamentaristas, presidencialistas e mistos e regimes
ditatoriais autocráticos e burocráticos) tiveram alguma influência na ocorrência das
transições políticas. Na primeira parte observaremos as freqüências absolutas destes
diferentes subtipos e depois analisaremos as taxas de transição de todos os subtipos para
que possamos identificar quais foram os mais instáveis. Por fim, incorporaremos a
análise das taxas de transição por subtipos os intervalos de desenvolvimento, tal como
utilizamos na seção anterior e verificaremos as implicações destas evidências empíricas
para as teorias da modernização e suas variantes.
Conforme já dissemos no ensaio, são cinco os subtipos de regimes, mas, no
entanto, há uma concentração em três, conforme pode ser visto na tabela abaixo:

19
Conforme já expusemos na nota 1, a variável transições passadas também passou no rigoroso teste de
Gassebner, Lamla e Vreeland (2008), sendo, portanto, um importante determinante das transições
políticas.

19
Tabela 4 – Freqüência de Ocorrência de Subtipos dos Regimes Políticos
Frequência dos Subtipos de Regime
Subtipo freq. Absoluta freq. Relativa
Dem. Parlamentarista 5 1.1%
Dem. Mista 4 0.9%
Dem. Presidencialista 216 49.1%
Dit. Burocrática 105 23.9%
Dit. Autocrática 110 25.0%
TOTAL 440 100.0%

Fonte: Banco de Dados ACLP

No que diz respeito às transições, com exceção de uma transição autoritária


ocorrida durante uma democracia parlamentarista20, todas as outras ocorreram em
democracias presidencialistas, já as transições democráticas tiveram uma sua ocorrência
mais distribuída, tal como pode ser visto na tabela abaixo:

Tabela 5 – Freqüência de Ocorrência de Subtipos dos Regimes Políticos


Transições por Subtipo
Subtipo Ocorrência
Dem. Parlamentarista 1
Dem. Mista 0
Dem. Presidencialista 12
Dit. Burocrática 4
Dit. Autocrática 12
Total geral 29

Fonte: Banco de Dados ACLP

Com esses dados, podemos agora obter as taxas de transição por subtipos de
regime políticos. Para isto é necessário apenas que observemos qual é a proporção de
anos/países que tiveram transições na totalidade de anos/países de cada subtipo. Por
exemplo, as 12 transições autoritárias dos 216 anos/países democráticos
presidencialistas perfizeram aproximadamente uma taxa de transição autoritária em
regime presidencialista de 5,5%. Tendo em mãos estas taxas poderemos calcular quais
foram os subtipos menos estáveis na segunda metade do século XX na América do Sul.

20
A democracia parlamentar no Suriname foi o primeiro regime político do país que se tornou
independente da Holanda no ano de 1975. Este regime durou até o ano de 1980, quando o primeiro-
ministro foi deposto por um golpe de Estado, a Revolução dos Sargentos, e se tornou uma ditadura
autocrática.

20
Tabela 6 – Taxas de Transição por Subtipos de Regimes
Taxas de Transições por Subtipo
Subtipo Taxas
Dem. Parlamentarista 20.0%
Dem. Mista 0.0%
Dem. Presidencialista 5.6%
Democracias 5,8%
Dit. Burocrática 3.8%
Dit. Autocrática 10.9%
Ditaduras 7,4%
Total geral 6.6%

Fonte: Banco de Dados ACLP

Os subtipos que ficaram acima da taxa de transição de toda nossa amostra (6,6%)
foram as democracias parlamentaristas (20%) e presidencialistas (5,6%) e as ditaduras
autocráticas (10,9%). As democracias parlamentaristas apresentaram uma taxa de
transição 3,60 vezes maior que as democracias presidencialistas, enquanto as
autocracias apresentaram uma taxa de transição 2,86 vezes maior que as burocracias
autoritárias. Por fim, a taxa de transição democrática foi 1,29 vezes maior que a taxa de
transição autoritária, indicando uma tendência geral na América do Sul em direção à
democracia21.
As 12 transições democráticas originadas em autocracias em sua totalidade
resultaram em democracias presidencialistas, enquanto das 04 transições de burocracias,
03 resultaram em democracias presidencialistas e 01 em democracia parlamentar. Já das
12 transições autoritárias iniciadas em democracias presidencialistas, 10 resultaram em
ditaduras autocráticas e 02 em burocracias, enquanto a única transição de uma
democracia parlamentar resultou em uma ditadura autocrática. Desta forma, houve uma
afinidade na América do Sul entre as democracias presidencialistas e as ditaduras
autocráticas, uma vez que a maior parte das transições iniciadas em um destes subtipos,
teve como ponto de chegada o outro subtipo.
Incorporando à nossa análise das taxas de transição por subtipo os diferentes
intervalos de desenvolvimento, chegamos às taxas de transição por subtipo e intervalo
de desenvolvimento que trazem outras evidências interessantes, nos remitindo à

21
Com esses dados, podemos conferir se esta tendência de democratização foi concomitante a um
processo de desenvolvimento econômico da região, medido em PPC per capita. Verificando os dados do
ACLP nota-se um claro processo de desenvolvimento econômico durante o período, uma vez que há uma
evolução da concentração de ocorrência de paises nos níveis inferiores de desenvolvimento para os níveis
intermediários. Esta evolução fica nítida se compararmos os dados de 1951 com os dados de 1990, pois
enquanto em 1951 a distribuição esteve concentrada no menor nível de desenvolvimento, 60,0% das
ocorrências se deram no intervalo de US$ 1000 – 2000, já em 1990 45,5% das mesmas se encontravam
no intervalo de US$ 3000 – 5000 e apenas 18,2% no intervalo de US$ 1000 – 2000.

21
discussão anterior sobre a teoria da modernização. Vale ressaltar que dado a
inexistência de transições autoritárias em democracias mistas e de apenas uma em
democracias parlamentares, colocamos no Gráfico 9 apenas os dados referentes aos
regimes presidencialistas e aos dois tipos de autoritarismo. E, portanto, os dados são
sobre 28 das 29 transições ocorridas no subcontinente.

Gráfico 9 – Taxa de Transição por Subtipo e Nível de Desenvolvimento (em 1.000 US$).

0.2

0.15

0.1

0.05

0
1 ... 3 3 ... 5 5 ...

Taxa TA Presid Taxa TD Buroc Taxa TD Autoc

Fonte: Banco de Dados ACLP

Este gráfico mostra uma grande estabilidade da taxa de transição autoritária por
subtipo e nível de desenvolvimento nos regimes democráticos presidencialistas com
uma pequena queda com o aumento do nível de desenvolvimento, enquanto as taxas de
transição democráticas tenderam a aumentar com o crescimento do nível de
desenvolvimento dos países, ainda que de forma suave nos regimes autocráticos e de
maneira mais acentuada nos regimes burocráticos, no qual o maior índice se encontrou
no intervalo intermediário de desenvolvimento.
Tais evidências se apresentam de acordo com uma teoria da modernização
suavizada, pois demonstra que a cada patamar mais elevados de desenvolvimento,
maior foi a resistência das democracias às transições autoritárias e menor foi a
capacidade dos regimes autoritários suportarem a pressão por democratização, ainda
que a curva em parábola da taxa de transição das ditaduras burocráticas possa ser
explicada pela versão huntingtoniana da teoria da modernização, uma vez que o maior
índice da taxa de transição democrática a partir de ditaduras burocráticas encontrou-se
nos patamares intermediários de desenvolvimento.

22
RELAÇÕES CIVIL-MILITARES E TRANSIÇÕES

Nesta seção analisaremos se os diferentes tipos de relacionamento entre civis e


militares (governo civil, governo civil tutelado e governo militar) tiveram alguma
influência no padrão de ocorrência das transições políticas na América do Sul na
segunda metade do século XX. Na primeira parte observaremos as freqüências absolutas
destes diferentes tipos e depois analisaremos as suas taxas de transição para que
possamos identificar quais foram os mais instáveis e como se deu a dinâmica de
transição em relação a esta tipologia. Por fim, incorporaremos a analise das taxas de
transição por tipo de relacionamento civil – militar os intervalos de desenvolvimento, tal
como utilizamos nas seções anteriores, haja vista que, conforme já amplamente
demonstrado na literatura, o desenvolvimento é uma variável que afeta a dinâmica dos
regimes políticos.
Tal como vimos na Introdução deste ensaio, dos dados encontrados na nossa
amostra, 70,7% foram caracterizados como governo civil; 18,9% foram governos civis
tutelados; e 10,5% foram governos militares. Podemos ver as freqüências absolutas de
ocorrência destes tipos na tabela abaixo:

Tabela 7 – Freqüência de Ocorrência de Tipos de Relacionamento Civil - Militar


Frequência dos Tipos de Relacionamento Civil - Militar
Tipo Democracias Ditaduras
Governo Civil 219 92
Governo Civil Tutelado 6 77
Governo Militar 0 46
TOTAL 225 215

Fonte: Banco de Dados ACLP

Das democracias, a maior parte dos regimes da amostra são considerados


governos civis. Isto se deve ao fato que por definição do que seja democracia, é
necessário que os militares não tutelem direta ou indiretamente o governo. No entanto,
como no ACLP é adotada uma definição schumpeteriana da democracia, que enfatiza a
competição e contestação como suas características essências, o governo do General
Figueiredo no Brasil foi classificado como um regime democrático com governo civil
tutelado e corresponde aos 06 anos/países indicados na tabela acima. Tal governo,
conforme bem sabido, faz parte de um processo atípico de distensão lenta e gradual que
configurou a transição democrática brasileira. Como o regime sucessor a este governo é
democrático e com governo civil, esta anomalia encontrada nos dados não prejudica as
nossas ponderações a respeito das transições. Isto é, no que nos concerne nesta

23
discussão, a transição ocorrida no Brasil após o Governo Figueiredo é uma alteração no
relacionamento civil – militar e não uma alteração no regime político.
Já sobre os regimes autoritários, houve uma maior distribuição deste tipo em
relação às três formas de relacionamento civil – militar analisadas. Por outro lado,
novamente, a maior concentração das ocorrências foi de governos autoritários civis que
corresponderam à cerca de 42,8% dos anos/países autoritários da amostra, enquanto os
governos civis tutelados e militares corresponderam, respectivamente, a 35,8% e 21,4%.
Destes governos classificados como militares aproximadamente 78,3% da
ocorrência deste esteve concentrada nos seguintes países: Argentina, Equador e Peru,
durante as décadas de 1960 e 1970. A razão para isto é que, segundo John J. Johnson
(apud Huntington, 1975), os militares, neste período, formavam a instituição mais bem
organizada destes países e estavam, portanto, em melhor posição para dar expressão
objetiva à vontade nacional do que os outros tipos de instituições políticas, como, por
exemplo, partidos ou grupos de interesse.
Quanto à ocorrência de transições, a sua freqüência foi concentrada mais uma vez
nos governos civis, embora, os outros tipos também apresentaram freqüências
relevantes. A justificativa para a maior ocorrência absoluta de transições em governo
civis é que todos os regimes democráticos que se tornaram ditaduras eram governos
civis. Ademais, é importante observarmos que das transições democráticas, apenas uma
ocorreu em governos autoritários civis, indicando uma grande estabilidade dos regimes
autoritários civis na América do Sul, fato sobre o qual faremos algumas observações
abaixo. Estas informações a respeito das transições por tipos de relacionamento civil –
militar estão descritas na Tabela:

Tabela 8 – Freqüência de Ocorrência de Transições por Relacionamento Civil - Militar


Transições por Governo
Tipo Trans. Autoritárias Trans. Democráticas Total
Governo Civil 13 1 14
Governo Civil Tutelado 0 8 8
Governo Militar 0 7 7
TOTAL 13 16 29

Fonte: Banco de Dados ACLP

Em relação aos governos autoritários civis, nestes ocorreu apenas uma transição
democrática – na Argentina em 196322. Dos outros seis regimes ditatoriais deste tipo,

22
Esta única transição democrática ocorrida num governo civil em 1963 na Argentina foi precedida de
uma transição autoritária em governo civil que havia ocorrido em 1961. Isto é, este governo civil

24
dois permaneceram neste estado durante toda a amostra – Guiana e Paraguai; dois
transicionaram para governos autoritários civis tutelados – Colômbia e Venezuela; e
dois transicionaram para governos autoritários militares – Bolívia e Equador.
Diante do quadro exposto acima, conclui-se que a maior parte das transições
democráticas ocorreu em governos nos quais os militares exerciam influência direta ou
indireta e que os governos autoritários civis resultaram em consolidação dos regimes
ditatoriais. Enquanto sobre as transições autoritárias, conclui-se, obviamente, que todas
as democracias que caíram eram governos civis.
Ademais, das 07 transições democráticas ocorridas em governos militares, todas
resultaram em regimes democráticos de subtipo presidencialista, confirmando uma
descoberta feita por Przeworski, Alvarez, Cheibub e Limongi (1996) que na América
Latina os regimes presidencialistas parecem ser, pelo menos parcialmente, um legado
militar, pois as transições das ditaduras militares para regimes presidencialistas
refletiriam a continuidade do papel político destes, porque o regime presidencialista dá
aos militares um maior espaço para o exercício de pressões políticas ao possuir uma
clara hierarquia de comando. Já das 08 transições democráticas ocorridas em governos
civis tutelados, uma destas resultou em um regime democrático misto. Tal transição
ocorreu em 1988 no Suriname.
Com os dados apresentados, tal como já fizemos nas seções anteriores, podemos
obter as taxas de transição de cada tipo de relação civil – militar. Para tal observemos
qual é a proporção de anos/países que tiveram transições na totalidade de anos/países de
cada tipo em nossa amostra. Munidos estas informações poderemos calcular qual foi o
tipo de relacionamento menos estável na América do Sul.

Tabela 9 – Taxas de Transição por Relacionamento Civil - Militar


Taxas de Transições por Governo
Tipo Taxas
Governo Civil 4,5%
Governo Civil Tutelado 9,6%
Governo Militar 15,2%
Total geral 6.6%

Fonte: Banco de Dados ACLP

A Tabela 9 mostra que os governos civis foram muito mais estáveis que os outros,

autoritário foi efêmero, não chegando a completar dois anos de existência. Além disso, apesar de ter tido
uma liderança civil ao ter sido escolhido para a Presidência o presidente da Câmara dos Deputados José
Maria Guido, a origem do regime foi um golpe militar realizado contra o governo democrático de Arturo
Frondizi.

25
uma vez que sua taxa de transição foi a única que está abaixo do padrão da amostra,
sendo que as taxas de transição em governos civis tutelados e governos militares foram,
respectivamente, 2,14 e 3,38 vezes maiores que a taxa dos governos civis. Agora, se
observamos estas taxas de acordo com o sentido da transição, obtemos dados que
confirmam ainda mais a conclusão que os regimes cujos governos foram civis foram
mais estáveis que aqueles cuja participação militar na política foi presente. Na tabela
abaixo, apenas vemos as taxas de transição em ambas as direções nos governos civis,
pois este foi o único tipo que apresentou tanto transições autoritárias quanto
democráticas.

Tabela 10 – Taxas de Transição por Relacionamento Civil - Militar


Taxas de Transições por Governo
Tipo Taxas
Trans. Autoc. Governo Civil 5,94%
Trans. Democ. Governo Civil 1,09%
Trans. Democ. Governo Civil Tutelado 10,39%
Trans. Democ. Governo Militar 15,22%
Total geral 6.6%
Fonte: Banco de Dados ACLP

As taxas de transição dos governos civis foram ambas as menores encontradas,


sendo que a taxa de transição democrática das ditaduras civis foi nada menos que 14
vezes menor que a taxa de transição democrática dos governos militares e 9,56 vezes
menor que das ditaduras cujos governos foram civis tutelados. No que tange aos tipos
de governo que possuíram presença militar, os regimes autoritários civis tutelados
foram muito mais estáveis que os regimes autoritários militares, visto que a taxa de
transição democrática do primeiro foi 31,7% menor que a taxa do último.
Incorporando à nossa análise das taxas de transição por tipo de governo os
diferentes intervalos de desenvolvimento, chegamos às taxas de transição por relações
civis – militares e intervalo de desenvolvimento que trazem outras evidências
interessantes que nos remetem à discussão anterior sobre a teoria da modernização. Vale
ressaltar que dado o fato de ter havido apenas uma ocorrência de transição democrática
em governo civil, não colocaremos essa curva no Gráfico, de forma que analisamos
apenas 28 das 29 transições políticas ocorridas na América do Sul. Ademais, como não
houve nenhuma transição autoritária em governos civis tutelados e militares, também
não apresentaremos estas curvas. Portanto, no Gráfico abaixo encontramos somente as
curvas das taxas de transição democrática em governos tutelados e militares e a taxa de

26
transição autoritária em governos civis.

Gráfico 10 – Gráfico de Taxa de Transição por Relacionamento Civil – Militar e Nível de


Desenvolvimento (em 1.000 US$).

0.35

0.3

0.25

0.2

0.15

0.1

0.05

0
1 ... 3 3 ... 5 5 ...
Taxa TA GCivil Taxa TD GCivil Tutelado Taxa TD GMilitar

Fonte: Banco de Dados ACLP

Este gráfico mostra uma grande estabilidade das taxas de transição autoritária por
governo civil e transição democrática por governo militar, pois em ambas houve apenas
uma pequena tendência de diminuição com o aumento do nível de desenvolvimento. Já
a taxa de transição democrática por governo civil tutelado apresentou uma forte
tendência de aumento nos patamares mais elevados de desenvolvimento. Estes
resultados trazem mais questionamentos às teses defendidas na teoria da modernização
e suas variantes, pois, enquanto duas curvas trouxeram evidências de acordo com as
teses defendidas, uma curva as contradisse.
As duas curvas que estão de acordo com as proposições analíticas da teoria da
modernização foram as curvas da taxa de transição autoritária em governo civil e da
taxa de transição democrática em governos civis tutelados. Se observarmos a primeira, a
freqüência de ocorrência de queda das democracias tornou-se menor à medida que os
governos civis atingiram maiores patamares de desenvolvimento. Na segunda, a medida
que os países avançaram em seu desenvolvimento, o índice de transição democrática
atingiu valores cada vez mais elevados, sendo que do intervalo de desenvolvimento
intermediário ao intervalo mais desenvolvido houve um crescimento dramático do
índice de transição democrática de aproximadamente 242%. Isto é, de acordo com estas
duas curvas o avanço do desenvolvimento diminuiu a tendência de queda das
democracias e aumentou a tendência de queda dos regimes autoritários.
No entanto, por outro, em relação aos governos militares, o comportamento da
taxa de transição democrática neste tipo apresentou um comportamento justamente

27
oposto ao previsto nas teorias da modernização, pois com o aumento dos níveis de
desenvolvimento houve uma diminuição na taxa de transição democrática. Isto é,
quanto mais ricas se tornaram as ditaduras militares sul-americanas, maior foi a
estabilidade de seus regimes autoritários.

CONCLUSÕES

O objetivo desta pesquisa foi descrever extensamente durante as seções anteriores


o comportamento dos regimes políticos sul-americanos na segunda metade do século
XX, período no qual observamos a evolução da distribuição de democracias e ditaduras,
como ocorreram as transições entre os regimes e qual foi o papel desempenhado pelo
desenvolvimento econômico, pelos tipos de relacionamento civil/militar e pela forma
como estavam organizados macro-institucionalmente estes regimes. Porém, além do
descrito anteriormente, faremos alguns comentários a respeito das teorias da
modernização e suas variantes de forma mais abrangente, versando também sobre quais
contribuições esta pesquisa pode trazer para o debate, a partir dos dados obtidos na
mesma.
No entanto, antes de analisarmos as implicações de nossas descobertas, é
importante relatarmos quais foram as conclusões que os autores do ACLP chegaram
quando investigaram a dinâmica das transições a partir de um prisma global, uma vez
que suas conclusões representam um ponto de inflexão na pesquisa sobre as relações
entre o desenvolvimento e a democracia (Boix e Stokes, 2003).
A leitura de Przeworski e Limongi (1997) e de Przeworski, Alvarez, Cheibub e
Limongi (2000) sobre a proposta de Lipset observou dois tipos distintos de explicações
que elucidariam porque as democracias são usualmente encontradas nos países mais
ricos e as ditaduras nos paises menos desenvolvidos. A primeira explicação, a qual
denominam de versão endógena da teoria da modernização, é a afirmação que as
transições democráticas tornam-se mais prováveis à medida que as ditaduras vão se
desenvolvendo, pois é o próprio processo de desenvolvimento econômico que produz os
regimes democráticos23. Nesta explicação a democratização é o estágio final de um

23
O mecanismo causal subjacente a esta explicação é que com o desenvolvimento, as estruturas sociais
dos paises tornam-se mais complexas, os processos de produção e trabalho passam a requisitar uma
cooperação ativa dos empregados e novos grupos emergem e se organizam. Como resultado deste

28
processo geral que consiste na gradual diferenciação e especialização das estruturas
sociais, culminando na separação das estruturas políticas das outras estruturas.
A segunda explicação, a qual denominam de versão exógena, é a afirmação que a
probabilidade de ocorrência de uma transição democrática é independente do nível de
desenvolvimento atingido. As ditaduras morrem de uma tão variada sorte de razões que
o desenvolvimento não possui um papel especial. Isto é, as transições democráticas
ocorrem aleatoriamente em relação ao desenvolvimento. Por outro lado, quanto mais
rica for a sociedade democrática, maior é sua capacidade de sustentar a democracia, ou,
em outras palavras, de resistir a transições autoritárias. Deste modo, é esperado que as
democracias apareçam de maneira aleatória em países ricos e pobres, mas tendem a
morrer nestes e perdurar naqueles, de forma que, gradualmente, a história acumula
democracias ricas24.
Ao analisarem os dados do ACLP a fim de verificar qual das duas explicações
seria encontrada empiricamente, os autores observaram que a curva de transições
democráticas não cresce monotonicamente com o aumento do nível de
desenvolvimento, isto é, há momentos em que o aumento no nível desenvolvimento
gera uma menor taxa de transição, contrariando o que fora previsto pela versão
endógena. Já a curva de transição autoritária decresce monoticamente com o aumento
do nível de desenvolvimento, de tal forma que a explicação mais convincente para o
comportamento dos dados do ACLP é aquela proposta pela versão exógena da teoria da
modernização, na qual, o desenvolvimento não gera a democracia, mas sim a sustenta.
Tal conclusão se torna ainda mais forte quando observado o intervalo mais alto de
desenvolvimento, onde dos 619 países/anos encontrados na amostra como

processo, o sistema não é mais efetivo se executado por comando: a sociedade é muito complexa,
mudanças tecnológicas dotam os produtores com alguma autonomia e informações privadas, sociedade
civil emerge e formas ditatoriais de controle perdem sua eficácia. Vários grupos, seja a burguesia,
trabalhadores, ou mesmo a amorfa sociedade civil, se erguem contra a ditadura e o regime cai.
24
Um mecanismo causal proposto por Lipset para explicar a maior capacidade dos paises desenvolvidos é
que a intensidade do conflito distributivo é mais baixa nestes países. Já segundo Przeworski e Limongi
(1997), a transição autoritária não acontece em paises desenvolvidos, pois o custo da destruição de parte
do setor produtivo na luta pelo poder não seria compensado pelos ganhos que seriam obtidos quando a
parte vitoriosa dominasse o Estado. Embora tal explicação esteja alinhada com a idéia de Lipset que o
conflito distributivo é baixo nos países mais afluentes, ela carece de uma lógica aplicável a todos os
casos, pois grande parte das transições ocorre sem guerra civil, envolvendo apenas um pequeno número
de atores sociais e são pouco sangrentas, não havendo, portanto, o custo de destruição de parte do setor
produtivo previsto neste mecanismo causal. Ademais, Boix e Stokes (2003) criticam o mecanismo causal
de Przeworski e Limongi ao chamar atenção para o fato que embora o potencial de destruição do setor
produtivo por uma transição autoritária seja maior nas democracias mais ricas, o prêmio pela obtenção do
poder é também maior, pois a produção total do país desenvolvido é maior, de forma que o valor de ser
um ditador torna-se muito maior em paises afluentes.

29
democráticos, em nenhum deles ocorreu alguma transição autoritária 25.
Observando as conclusões Przeworski, Alvarez, Cheibub e Limongi. Boix e
Stokes (2003) refutaram a tese que apenas a versão exógena da teoria da modernização
é válida. Estes últimos autores refizeram a análise dos primeiros e notaram que no
período abrangido pelo ACLP a elevação para patamares maiores de desenvolvimento
aumentou a probabilidade de ocorrência de transições democráticas, embora tal
aumento tenha sido de pequena monta e de muito menor impacto que na diminuição da
probabilidade de ocorrência de transições autoritárias. E, ademais, eles
complementaram a análise ao estudarem o comportamento dos regimes políticos desde
o século XIX é concluíram que a modernização foi neste período um componente
determinante das transições democráticas, ainda que o efeito daquela sobre estas tenha
sido maior antes da Segunda Guerra Mundial do que depois.
Já discutida as contribuições destes autores, vamos agora retornar nossa atenção
aos dados, aos testes de significância estatística e às curvas, construídos neste ensaio em
relação ao subcontinente sul-americano.
As evidencias produzidas são complexamente contraditórias. Em relação aos
testes de significância, o Teste Qui-Quadrado I, que analisou a distribuição de ditaduras
e democracias mostrada na Tabela 2, indicou que a distribuição dos regimes está
associada ao nível de desenvolvimento econômico atingido pelos países. Por outro lado,
o Teste Qui-Quadrado II, que analisou a distribuição de freqüências absolutas de
transições mostrada na Tabela 3, indicou a inexistência de uma associação entre estas
ocorrências de transição e o nível de desenvolvimento econômico. Ademais, dos três
Testes-Quidrados III, IV e V que testaram a associação entre as transições, autoritárias e
democráticas, isoladamente, com o nível de desenvolvimento, os dois primeiros tiveram
resultados que indicaram a insignificância estatística desta associação, enquanto o
terceiro indicou que houve uma associação estatisticamente significante entre o nível de
desenvolvimento e a ocorrência de transições democráticas.
No que tange às curvas de taxas de transições expostas nos diversos gráficos
apresentados ao longo da exposição, enquanto algumas se encontram de acordo com a
versão endógena, outras estão de acordo com a versão exógena, havendo ainda outras de
acordo com a versão huntingtoniana. Sem contar que, conforme mostraremos abaixo,

25
Importante ressaltarmos que nesta vasta pesquisa os autores não observaram o argumento de Lipset que
a modernização rápida pode trazer desestabilização política, uma vez que a medida que utilizaram para
mensurar o nível de desenvolvimento econômico não capturava as diferentes velocidades em que se deu
os processos de desenvolvimento.

30
uma das curvas construídas está em desacordo com quaisquer previsões destas teorias.
Em relação às curvas favoráveis à teoria da modernização tradicional, na qual, o
desenvolvimento deve gerar monotonicamente o aumento no número de democracias,
encontramos de acordo com esta versão apenas as curvas de taxa de transição
democrática em ditaduras autocráticas (Gráfico 9) e de taxa de transição democrática
em governos civis tutelados (Gráfico 10). Além dessas, nas curvas de freqüência de
ocorrência de ditaduras e democracias, há também uma clara tendência de maior
concentração de democracias nos níveis mais altos de desenvolvimento, com exceção
do quinto intervalo, que podemos desconsiderar uma vez que o Teste Qui-Quadrado I
indicou claramente a existência de uma significante associação entre freqüência relativa
de democracias e nível de desenvolvimento (Gráfico 5 e 7).
Já em relação à proposta huntingtoniana que a modernização geraria instabilidade,
enquanto a modernidade geraria estabilidade, encontramos também algumas evidências
que comprovam este tese. As três curvas – taxa de transições, taxas de transições
autoritárias e taxas de transições democráticas – do Gráfico 6 trazem indícios que a
aprovam, pois, ainda que em níveis de desenvolvimento diferentes, o período onde os
cumes das três curvas foi maior se encontra entre os três intervalos intermediários de
desenvolvimento. No entanto, quando no Gráfico 8 verificamos mais detalhadamente
estas curvas, as taxas de transição se mostraram mais erráticas e com movimentos pouco
padronizados. Por fim, a curva da taxa de transição democrática em ditaduras
burocráticas também se encontra de acordo com esta tese, pois é no nível intermediário
de desenvolvimento que está taxa atinge o seu maior índice (Gráfico 9).
Ademais, é interessante notarmos que ambas as curvas das taxas de transições
autoritárias do Gráfico 6 e 8 não estão de acordo com as evidências encontradas na
versão exógena da teoria da modernização, pois ambas não decrescem
monotonicamente com o aumento do nível de desenvolvimento. Tal fenômeno também
acontece com as curvas das taxas de transições democráticas, pois em ambos os gráficos
estas curvas não são ascendentes e monotônicas, não se adequando, portanto, à versão
endógena proposta e refutada por Przeworski, Alvares, Cheibub e Limongi.
A única curva que apresenta uma relação monotonica descendente entre as taxas
de transição autoritária e o nível de desenvolvimento é a taxa de transições autoritárias
em regimes democráticos presidencialistas do Gráfico 9. Uma outra curva que se
aproximou deste padrão foi a curva de transições autoritárias em governos democráticos
civis, no qual, com exceção de um muito suave aumento do intervalo inferior para o

31
intervalo intermediário de desenvolvimento, há na curva uma tendência descendente
com o aumento do nível de desenvolvimento (Gráfico 10).
Outrossim, o dado mais interessante observado em toda esta pesquisa são as
implicações decorrentes da curva das taxas de transição democrática em governos
militares (Gráfico 10), pois esta demonstra que quanto mais desenvolvidas foram as
ditaduras militares sul-americanas na segunda metade do século XX, menor foi a sua
taxa de transição para democracias. Isto é, o desenvolvimento econômico ao invés de
estimular a ocorrência de transições democráticas, estimulou a consolidação destas
ditaduras militares, invertendo, portanto, as conseqüências previstas pelas teorias da
modernização a respeito dos efeitos do desenvolvimento. Tal explicação se aproxima da
proposta de O’Donnell e de Cardoso e Falleto que afirma ser a dinâmica política latino-
americana especifica devido ao modelo de desenvolvimento adotado: a ISI26.
Diante deste quadro de informações complexas e contraditórias, o qual não
permite ao leitor aceitar quaisquer das propostas da teoria da modernização e suas
variantes como verdades definitivas, aplicáveis a todos os casos, é necessário nos
atentarmos para investigações de médio alcance que permitam produzir generalizações
contigenciadas, capazes de explicar fenômenos políticos mais específicos e com maior
riqueza explanatória, tal como as tese de O’Donnell e de Cardoso e Falleto para a
especificidade do processo de desenvolvimento econômico latino-americano.
Posto isto, concluímos que devido ao fato de o desenvolvimento ser um fenômeno
multifacetado e dinâmico, uma vez que varia de acordo com o tempo e espaço onde é
realizado, a leitura dos diferentes processos de modernização dentro do sistema
capitalista deve ser capaz de destrinchar as variações existentes e quais são as
conseqüências destes distintos processos para o campo político. Isto é, tal como já
observado por Moore (1983), as diferentes rotas para a modernidade afetam a relação
entre a modernização e o campo político.
Tais relações podem variar tanto de acordo com o momento no qual os países
ingressam na locomotiva da história, quanto de acordo com a localização geográfica
e/ou a localização do país dentro do continuo centro-periferia. E, conforme expusemos
aqui, as explicações de O’Donnell e de Cardoso e Falleto são elucidações que
levantaram hipóteses interessantes acerca das inter-relações existentes entre o processo

26
Neste modelo, como já mencionado, com o esgotamento da etapa fácil de substituição de importações,
era necessário aprofundá-lo com a internalização de setores mais capital intensivos, o que exigia a atração
de investimento externo, para os quais era necessário o fechamento do regime político às pressões
populares. Dado isto foram instaurados os regimes Autoritários Burocráticos de O’Donnell.

32
de desenvolvimento e o campo político sul-americano.
Isto é, embora não devamos colocar de lado a capacidade explicativa das teorias
de amplo aspecto, pois estas elucidam quais são as variáveis mais fundamentais na
determinação de certos fenômenos políticos – no nosso caso, fica claro com as
pesquisas de amplo aspecto que a variável desenvolvimento é uma questão fundamental
na dinâmica de transições dos regimes políticos – é importante que busquemos
pesquisas mais focadas que nos ajudem a esclarecer quais são os mecanismos causais
específicos por trás destes eventos gerais, pois muitas vezes os mecanismos causais
propostos nas teorias de longo alcance são argumentos abstratos de difícil aplicação
objetiva, o que torna complexa a sua replicação em pesquisas de médio alcance.
Por fim, é importante também que estejamos atentos ao fato que as teorias da
modernização lidam com um fenômeno extremamente complexo e intrigante: o
desenvolvimento; cujas variáveis escolhidas para mensurar o nível de modernização
alcançado sempre serão simples proxies, e, portanto, devem ser observadas com
sobriedade, uma vez que nem sempre conseguem capturar com exatidão todas as
sutilezas deste fenômeno.

33
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