You are on page 1of 3

08/01/2018 "Mídias sociais favoreceram a imbecilidade" — CartaCapital

Inscreva-se na Newsletter de CartaCapital


Receba todos os dias as notícias mais importantes em seu e-mail.

Nome *
Email *
Enviar
Não quero assinar a Newsletter.

Dólares, Si vivís en Argentina


comprar dólares podría
¿para qué? ser un gran error.

Sociedade
Entrevista - Mario Sergio Cortella

"Mídias sociais favoreceram a imbecilidade"


por Deutsche Welle — publicado 05/12/2017 00h20, última modificação 04/12/2017 15h27

Cortella comenta a cultura do ódio que se disseminou pelo país: na internet todos têm uma opinião, mas poucos
têm fundamentos para ancorá-la
Wikipedia/CPFL Cultura/T.Ferro

Cortella: 'Para quem está com o martelo na mão, tudo é prego'

Dólar: Ni se te ocurra

Si tenés dólares,
necesitás ver este
Informe Especial

https://www.cartacapital.com.br/sociedade/midias-sociais-favoreceram-a-imbecilidade?utm_campaign=newsletter_rd_-_05122017&utm_medium=… 1/3
08/01/2018 "Mídias sociais favoreceram a imbecilidade" — CartaCapital

Por Renata Martins

A instantaneidade e conectividade das mídias sociais fomentam um ambiente hostil em que todos têm "alguma opinião sobre algo, mas
poucos têm fundamentos refletidos e ponderados para iluminar as opiniões", diz o filósofo e professor universitário Mario Sergio Cortella, em
entrevista à DW Brasil.

Cortella é uma figura influente na sociedade brasileira como palestrante, debatedor e comentarista de rádio. Com mais de um milhão de livros
vendidos entre seus 33 títulos lançados, Cortella traduz à linguagem coloquial e adapta à realidade atual do Brasil complexos temas
filosóficos, existenciais e políticos como "se você não existisse, que falta faria?" ou "o caos político brasileiro". Nesta entrevista, ele analisa
como a cultura do ódio é alimentada por "analfabetos políticos".

Leia também:
O ódio como ameaça ao pacto civilizatório
Onde nasce o ódio?
O intérprete do ódio

DW Brasil: Etimologicamente, a palavra "cultura" (culturae, em latim) originou-se a partir de outro termo, colere, que indica o ato de "cultivar".
Podemos considerar que a "cultura do ódio", que se vê eclodir na sociedade brasileira, é algo que já estava presente nas relações sociais,
vem sendo cultivado e agora encontrou o tempo ideal para a "colheita"?

Mario Sergio Cortella: O ódio é uma possibilidade latente, mas não é obrigatório. Contudo, não havia tanta profusão de ferramentas e
plataformas para que fosse manifestado e ampliado como nos tempos atuais no Brasil. A instantaneidade e a conectividade digital permitiram
que um ambiente reciprocamente hostil – como o da fratura de posturas nas eleições gerais do final de 2014 – encontrasse um meio de
expressão mais veloz e disponível, sem restrição quase de uso e permitindo que tudo o que estava aprisionado no campo do indivíduo
revoltado pudesse emergir como expressão de discordância virulenta e de vingança repressiva.

DW: Qual o papel das redes sociais nesse fenômeno? Você concorda com Umberto Eco, para quem as mídias sociais deram o direito à fala a
legiões de imbecis?

MSC: As mídias sociais favoreceram, sim, o despontar de um palanque também para a imbecilidade e a idiotia. Antes delas, era preciso, para
se manifestar, algum poder mais presente ou a disponibilidade de uma tribuna mais socialmente evidente. Agora, como efeito colateral da
democratização da comunicação, temos o adensamento da comunicação superficial, na qual todos têm (e podem emprestar) alguma opinião
sobre algo, mas poucos têm fundamentos refletidos e ponderados para iluminar as opiniões. Como dizia Hegel: "quem exagera o argumento,
prejudica a causa".

DW: Por que pensar e se expressar de forma distinta daquilo "com o que eu concordo" passou a ser o estopim para reações de ódio
exacerbado no Brasil?

MSC: Uma sociedade antes fragmentada concentrou-se em ser mais dividida. Isto é, dois lados em confronto, agora dispondo de arsenais
mais contundentes de propagação e, por outro lado, vitimadas por poderes comunicacionais dos quais desconhece a face e o interesse. O
salvacionismo moral sugerido por alguns em meio a uma crise de valores republicanos e à degradação econômica encontrou fácil
disseminação. Como se diz em português: "para quem está com o martelo na mão, tudo é prego..."

DW: Como explicar casos de "cidadãos de bem" sendo atores de ações de censura, de extrema intolerância e violência, verbal e física, contra
outros cidadãos, igualmente "de bem"?

MSC: O "cidadão de bem", entendido como aquele que não faz o que faz por maldade, é a encarnação do que Bertolt Brecht chamava de
"analfabeto político". Isto é, alguém que, portador de boas intenções, age em consonância desconhecida com as más intenções de quem
almeja uma situação disruptiva e oportunista.

DW: Quem se beneficia dessa explosão de ódio?

MSC: Todos os "liberticidas" e todos os "democracidas" são herdeiros dessa seara incendiadora que exclui o conflito (divergência de ideias ou
posturas) e alimenta o confronto (busca de anulação do divergente).

DW: Aonde essa cultura do ódio e intolerância no país pode nos conduzir? Tempos sombrios estão por vir?

MSC: Tempos sombrios podem vir, sempre. Contudo, podem ser evitados se houver uma aliança autêntica em meio às diferenças entre
aqueles e aquelas que recusam a brutalidade simbólica e física como instrumento de convivência. Não há um caminho único para o futuro.
Não há a impossibilidade de esse caminho parecer único. Não há inevitabilidade de que um caminho único venha.

DW: "Até nos tempos mais sombrios temos o direito de ver alguma luz", disse a filósofa alemã Hanna Arendt. Qual seria a luz para começar a
responder a essa cultura do ódio?

https://www.cartacapital.com.br/sociedade/midias-sociais-favoreceram-a-imbecilidade?utm_campaign=newsletter_rd_-_05122017&utm_medium=… 2/3
08/01/2018 "Mídias sociais favoreceram a imbecilidade" — CartaCapital

MSC: A luz mais forte é a da resistência organizada e persistente de quem deseja escapar das trevas e não quer fazê-lo sozinha, nem excluir
pessoas e muito menos admitir que impere o malévolo princípio de "cada um por si e Deus por todos". Seria praticando cotidianamente o "um
por todos e todos por um". Afinal, como dizia Mahatma Ghandi, "olho por olho, uma hora acabamos todos cegos".

¿Qué es lo que se
El Dolar no va
viene? Informe
más Especial

https://www.cartacapital.com.br/sociedade/midias-sociais-favoreceram-a-imbecilidade?utm_campaign=newsletter_rd_-_05122017&utm_medium=… 3/3

You might also like