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APLICAÇÃO DO ACOPLAMENTO ENTRE O MÉTODO DOS ELEMENTOS DE

CONTORNO E O MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS PARA A ANÁLISE


BIDIMENSIONAL DA INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA

Camila de Sousa Vieira


Francisco Patrick Araujo Almeida
João Carlos Cordeiro Barbirato
camila@lccv.ufal.br
patrick@lccv.ufal.br
jccb@lccv.ufal.br
Laboratório de Computação Científica e Visualização, Universidade Federal de Alagoas,
Campus A. C. Simões, km 104, Tabuleiro dos Martins, 57038-000, Maceió, Alagoas, Brasil

Resumo. O objetivo deste trabalho é o desenvolvimento de uma ferramenta computacional


para analisar problemas bidimensionais de interação solo-estrutura, onde o solo é modelado
pelo Método dos Elementos de Contorno (MEC) e as estruturas são tratadas pelo Método dos
Elementos Finitos (MEF). São implementadas as soluções fundamentais de Kelvin 2D e
Melan para o MEC, onde elementos de contorno com aproximação linear são utilizados.
Elementos finitos de pórtico bidimensional são usados para discretizar as estruturas
modeladas pelo MEF. Para realizar o acoplamento entre os meios é utilizada a técnica de
sub-regiões, onde condições de compatibilidade de deslocamentos e condições de equilíbrio
de forças são aplicadas às interfaces entre as diversas sub-regiões. Tanto o solo quanto as
estruturas são considerados como compostos por materiais homogêneos, isotrópicos,
elásticos e lineares. Porém, a técnica de sub-regiões permite que o solo seja considerado
como estratificado. A aplicação dos diversos carregamentos atuantes, na estrutura ou no
solo, é considerada lenta, assim, as análises propostas são estáticas. São apresentados
exemplos de aplicação do código computacional desenvolvido.

Palavras-chave: Interação solo-estrutura, Método dos elementos de contorno, Método dos


elementos finitos, Acoplamento MEC/MEF.
1 INTRODUÇÃO

O problema de interação entre estruturas e o solo é bastante comum na engenharia,


podendo-se citar o caso de tubulações para transporte de gás, água e esgoto, pavimentos
rodoviários e túneis. Tais obras de engenharia podem ser analisadas como problemas de
estado plano de deformações, ou seja, problemas bidimensionais, pois apresentam uma
dimensão muito maior que as outras, a saber, a espessura.
O Método dos Elementos de Contorno (MEC) é uma técnica bastante utilizada por
diversos pesquisadores para estudar o solo (Almeida, 2003; Barbirato, 1999; Cavalcanti,
2006; Coda, 2003; Komatsu, 1995, entre outros), pois possui formulação própria para meios
infinitos e semi-infinitos. Por sua vez, o Método dos Elementos Finitos (MEF) é uma técnica
numérica já consagrada para a análise de estruturas. Em problemas que envolvem a interação
entre estruturas e solo é vantajoso aproveitar o melhor das duas técnicas, resolvendo cada
parte do problema com o método que melhor se aplica à mesma e utilizando algum tipo de
abordagem para uni-las que, no caso deste trabalho, é a técnica de sub-regiões.

2 FORMULAÇÃO DO MÉTODO DOS ELEMENTOS DE CONTORNO

O Método dos Elementos de Contorno consiste, basicamente, em obter a solução das


equações diferenciais que descrevem o comportamento de um corpo no seu domínio, através
da solução de equações integrais sobre o contorno. Com isso, os problemas são reduzidos em
uma dimensão, gerando uma menor quantidade de dados de entrada.
Nesta sessão é apresentada a formulação direta do Método dos Elementos de Contorno
para o problema elástico bidimensional. Em todo o texto deste trabalho os índices i, j, l e k
indicam uma variação de 1 a 2.

2.1 Equações básicas da elastostática linear

As equações de equilíbrio de um corpo de domínio Ω e contorno Γ podem ser escritas em


termos de deslocamentos, resultando nas chamadas equações de Navier:

⎛ 1 ⎞ 1
ui , jj + ⎜ ⎟u j , ji + bi = 0 (1)
⎝ 1 − 2ν ⎠ μ

Na Eq.1 bi é o vetor de forças de domínio, ν é coeficiente de Poisson do material e

E
μ=
2(1 + ν ) (2)

onde E representa o módulo de elasticidade do material.

2.2 Soluções fundamentais

A solução fundamental representa a influência, em um ponto de um domínio infinito ou


semi-infinito (ponto campo), de uma carga unitária aplicada em outro ponto do mesmo
domínio (ponto fonte). A obtenção da solução fundamental de Kelvin, assim como das
equações integrais de contorno, pode ser encontrada com maiores detalhes no trabalho de
Brebbia & Dominguez (1992).
Para este trabalho foram implementadas as soluções fundamentais de Kelvin, própria para
domínios infinitos, e a solução fundamental de Melan, adequada para domínios semi-infinitos.

2.2.1 Solução fundamental de Kelvin

Representando os deslocamentos presentes nas equações de Navier (1) em termos do


vetor de Galerkin é possível encontrar uma solução para estas equações, ou seja, encontrar
uma solução fundamental para o problema de Kelvin, que consiste em uma carga unitária
concentrada aplicada em um meio infinito.
Para o caso bidimensional, a solução fundamental para deslocamentos é obtida pela Eq.
(3).


u*ij =
1
⎢ (3 − 4ν )ln 1 δij + r,i r, j ⎤⎥ (3)
8πμ (1 − ν ) ⎣ r ⎦

onde δij é o delta de Kronocker, definido como:

⎧1 se i = j
δij = ⎨ (4)
⎩0 se i ≠ j

A solução fundamental para forças de superfície é obtida pela seguinte equação:

p*ij = −
1
4π (1 − ν )r
[ [ ] ]
r,n (1 − 2ν )δij + 2r,i r, j + (1 − 2ν )(ni r, j − n j r,i ) (5)

onde r é a distância entre o ponto fonte e o ponto campo, ni é a componente da normal ao


elemento na direção i,

∂r
r,n = = r,1n1 + r,2 n2 (6)
∂n

∂r ri
r, i = = (7)
∂xi r

2.2.2 Solução fundamental de Melan

Os problemas cujo domínio é o semi-plano, tais como o solo, podem ser tratados de
forma mais eficiente com a utilização da solução fundamental do semi-plano, que elimina a
necessidade de discretização da superfície livre.
A solução fundamental de Melan para deslocamentos é obtida somando-se à solução
fundamental para deslocamentos de Kelvin 2D uma parcela complementar, cujas
componentes são as seguintes:


[
u11c = K d ⎨− 8(1 − ν ) − (3 − 4ν ) ln R +
2 [
(3 − 4ν )R12 − 2cx + 4cx R12 ⎫
] ⎬
] (8)
⎩ R2 R4 ⎭
⎧ [(3 − 4ν )r1r2 + 2cx ] 4cx R1r2 ⎫
u12c = K d ⎨ + − 4(1 − ν )(1 − 2ν )θ ⎬ (9)
⎩ R 2
R 4

⎧ [(3 − 4ν )r1r2 + 2cx ] 4cx R1r2 ⎫


c
u21 = Kd ⎨ − + 4(1 − ν )(1 − 2ν )θ ⎬ (10)
⎩ R 2
R 4

c
u22

[
= K d ⎨− 8(1 − ν ) − (3 − 4ν ) ln R +
2
] [ ]
(3 − 4ν )r22 + 2cx − 4cx r22 ⎫
⎬ (11)
⎩ R2 R4 ⎭

onde

1
Kd =
8πG (1 − ν )
(12)

As variáveis usadas nas equações (8) a (11) são mostradas na Figura 1.

Figura 1 - Cargas unitárias pontuais aplicadas dentro do semi-plano.

As equações complementares para força de superfície são apresentadas na Eq. (13), onde
as componentes de tensão (σcijk) podem ser encontradas no trabalho de Telles & Brebbia
(1980).

pijc = σ ijk
c
nk (13)

2.3 Equações integrais de contorno

Partindo da minimização do erro que envolve a aproximação numérica das equações de


equilíbrio e utilizando como função ponderadora a solução fundamental para deslocamentos,
após duas integrações por partes é obtida a Eq. (14). Essa equação corresponde ao teorema da
reciprocidade de Betti e pode ser usada para a obtenção das equações integrais de contorno do
MEC.

∫ b u dΩ − ∫ b u dΩ = ∫ p u dΓ − ∫ p u dΓ
* * * *
k k k k k k k k (14)
Ω Ω Γ Γ
Foi usando o teorema de Betti, segundo Barbirato (1999), que Somigliana chegou à
representação integral de deslocamento, a chamada identidade Somigliana, que tem a seguinte
forma:

uli + ∫ p*lk uk dΓ = ∫ ulk* pk dΓ + ∫ u*lk bk dΩ (15)


Γ Γ Ω

A identidade Somigliana permite a obtenção dos valores de deslocamentos em qualquer


ponto do domínio, a partir dos valores de deslocamentos e forças no contorno, das forças que
atuam no domínio, caso existam, e da solução fundamental.
Como a identidade Somigliana é válida apenas para pontos no domínio é usado um
artifício para que a mesma possa ser usada em pontos do contorno. Para tal, considera-se que
existe uma semi-circunferência de raio ε centrada no ponto do contorno. Fazendo o raio
tender a zero é obtida a seguinte expressão:

clki u ki + ∫ plk* uk dΓ = ∫ ulk* pk dΓ + ∫ ulk* bk dΩ (16)


Γ Γ Ω

A matriz clk possui elementos apenas na diagonal principal e os valores desses elementos
dependem da localização do ponto fonte e da forma do contorno, sendo os seguintes:

⎧ 0, para pontos fora do domínio Ω;


⎪1
clk = ⎨ , para pontos no contorno suave Γ ; (17)
⎪2
⎩ 1, para pontos dentro do domínio Ω.

2.4 Método dos Elementos de Contorno

Para resolver numericamente as equações integrais é necessário dividir o contorno em


uma série de elementos, sobre os quais os deslocamentos e as forças de superfície são funções
de seus valores nodais. Escrevendo a forma discretizada da Eq. (16) para cada ponto nodal é
obtido um sistema de equações algébricas lineares que é resolvido após a aplicação das
condições de contorno do problema. Neste trabalho o contorno do domínio dos problemas é
discretizado com elementos aproximados linearmente.
Discretizando a Eq. (16) com elementos lineares é obtida a Eq. (18), escrita na forma
matricial, que não leva em consideração as forças de corpo.

⎧ ⎫ ⎧ ⎫
[c]{u} + ∑ ⎪⎨ ∫ [p* ][φ]dΓ j ⎪⎬{u}j = ∑ ⎪⎨ ∫ [u* ][φ]dΓ j ⎪⎬{p}j
Ne Ne
(18)
j =1 ⎪⎩ Γ j ⎪⎭ j =1 ⎪⎩ Γ j ⎪⎭

onde Ne representa o número de elementos e {u}j e {p}j são, respectivamente, os vetores com
os valores nodais de deslocamento e força de superfície de cada elemento, e

φ0 φ2 0 ⎤
[φ ] = ⎡⎢ 1 ⎥ (19)
⎣ 0 φ1 0 φ2 ⎦
As funções de interpolação φ1 e φ2 são definidas em termos da coordenada homogênea ξ,
que varia de -1 a 1, como mostrado nas seguintes expressões:

φ1 (ξ ) = (1 − ξ )
1
(20)
2

φ2 (ξ ) = (1 + ξ )
1
(21)
2

Escrevendo uma Eq. (18) para cada ponto do contorno é obtido o seguinte sistema de
equações lineares:

[H ]{U } = [G ]{P} (22)

As integrais que existem nos coeficientes das matrizes [H] e [G] podem ser avaliadas
numericamente para os casos em que o ponto fonte não pertence ao elemento integrado. Para
o caso em que ocorre uma singularidade na solução fundamental, ou seja, o ponto fonte está
no elemento integrado, as integrais são avaliadas analiticamente.

3 FORMULAÇÃO DO ELEMENTO FINITO DE PÓRTICO BIDIMENSIONAL

O elemento de pórtico bidimensional é formado por dois nós, os quais possuem três graus
de liberdade: deslocamento longitudinal, deslocamento lateral e rotação. Como mostrado na
Figura 2, ui1 representa o deslocamento longitudinal e ui2 e ui3 representam o deslocamento
lateral e a rotação do nó i, respectivamente. O mesmo vale para o nó j.

Figura 2 - Elemento de pórtico bidimensional.

De forma geral, a matriz de rigidez do elemento e os carregamentos nele distribuídos são


apresentados com base em um sistema de coordenadas locais (x,y). Para que haja
compatibilidade entre todos os elementos que formam a estrutura é necessário fazer uma
transformação de coordenadas para o sistema global (X,Y), usando para isso a matriz de
incidência cinemática:
⎡ cosθ senθ 0 0 0 0⎤
⎢− senθ cosθ 0 0 0 0⎥⎥

⎢ 0 0 1 0 0 0⎥
[β ] = ⎢ ⎥ (23)
⎢ 0 0 0 cosθ senθ 0⎥
⎢ 0 0 0 − senθ cosθ 0⎥
⎢ ⎥
⎢⎣ 0 0 0 0 0 1⎥⎦

onde θ representa o ângulo entre o elemento e o eixo horizontal.


A Eq. (24) representa a matriz de rigidez do elemento de pórtico bidimensional, cuja
obtenção pode ser vista detalhadamente em Bathe (1996) e Cook (1995), entre outros
trabalhos.

⎡ EA EA ⎤
⎢ L 0 0 − 0 0 ⎥
L
⎢ 12 EI 6 EI 12 EI 6 EI ⎥
⎢ 0 0 − ⎥
⎢ L3 L2 L3 L2 ⎥
⎢ 0 6 EI 4 EI 6 EI 2 EI ⎥
0 − 2
[k ] = ⎢⎢ EA L L L L ⎥
2
(24)
EA ⎥
⎢− 0 0 0 0 ⎥
⎢ L L ⎥
⎢ 0 12 EI 6 EI 12 EI 6 EI ⎥
− 3 − 0 − 2
⎢ L L2 L3 L ⎥
⎢ 6 EI 2 EI 6 EI 4 EI ⎥
⎢ 0 0 − 2 ⎥
⎣ L2 L L L ⎦

onde A, E, I e L representam, respectivamente, a área da seção transversal, o módulo de


elasticidade, o momento de inércia e o comprimento do elemento.
O vetor de forças nodais da estrutura é formado pelas forças aplicadas diretamente nos
nós, bem como pelas forças nodais equivalentes, oriundas dos carregamentos linearmente
distribuídos sobre os elementos. Para transformar carregamentos distribuídos em forças
nodais equivalentes é usada a seguinte matriz de transformação, apresentada também em
Leite et al (2003):

⎡L L ⎤
⎢3 0 0 0 0 ⎥
6
⎢ 7L 1 3L 1⎥
⎢0 − 0 − ⎥
⎢ 20 2 20 2⎥
⎢ L2 L L2 L⎥
⎢0 0 − ⎥
[C ] = ⎢ L 20 12
L
30 12

(25)
⎢ 0 0 0 0 ⎥
⎢6 3 ⎥
⎢0 3L 1 7L 1 ⎥
⎢ 0
20 2 20 2 ⎥
⎢ L2 L L2 L ⎥
⎢0 − − 0 − ⎥
⎣ 30 12 20 12 ⎦
A matriz de transformação [C] permite que o sistema de equações gerado pela aplicação
do MEF seja acoplado ao sistema obtido pelo MEC. Essa matriz é necessária porque o MEF
trata de forças nodais enquanto o MEC lida com forças de superfície, sendo necessário uma
compatibilização entre as variáveis presentes nos dois métodos.

4 ACOPLAMENTO ENTRE OS MÉTODOS

Neste trabalho o acoplamento entre os métodos é realizado com o uso da técnica de sub-
regiões, tratando a região discretizada pelo MEF como um elemento de contorno equivalente.
Esta técnica consiste em reunir, em um único sistema, os sistemas de equações provenientes
da aplicação do MEC ou do MEF a cada sub-região. Para isso são considerados o equilíbrio
de forças e a compatibilidade de deslocamentos na interface entre as sub-regiões.
A técnica de sub-regiões é usada por diversos autores, tais como, Almeida (2003), Coda
(1993) e Cavalcanti (2006).
Considere o domínio mostrado na Figura 3, dividido em três sub-regiões:

Figura 3 - Domínio dividido em três sub-regiões.

O sistema de equações resultante da aplicação do MEC na sub-região Ω1 é dado pela


seguinte expressão:

[[H ] [H ]12 ]⎨ {u}12 ⎬ = [[G ]1 [G ]12 ]⎨ {p}12 ⎬


1 ⎧ 1⎫ ⎧ 1⎫
(26)
⎩{u} ⎭ ⎩{p} ⎭

Para a sub-região Ω2 é obtido,

⎧ {u}2 ⎫ ⎧ {p}2 ⎫
[[H ]
2
[H ]21 ] [
[H ]23 ⎪⎨{u}21 ⎪⎬ = [G ]2 [G ]21 ]
[G ]23 ⎪⎨{p}21 ⎪⎬ (27)
⎪{u}23 ⎪ ⎪{p}23 ⎪
⎩ ⎭ ⎩ ⎭

e, por sua vez, para a sub-região Ω3:

[[H ] [H ]32 ]⎨ {u}32 ⎬ = [[G ]3 [G ]32 ]⎨ {p}32 ⎬


3 ⎧ 3⎫ ⎧ 3⎫
(28)
⎩{u} ⎭ ⎩{p} ⎭

onde
Гi – parte externa do contorno da região Ωi;
Гij – contorno entre as regiões Ωi e Ωj;
{u}i,{p}i – deslocamentos nodais e forças de superfície nos nós do contorno Гi da região Ωi;
{u}ij, {p}ij – deslocamentos nodais e forças de superfície nos nós do contorno Гij como parte
da região Ωi;
[H]i,[G]i – partes das matrizes [H] e [G] obtidas para a região Ωi que multiplicam {u}i e {p}i,
respectivamente;
[H]ij,[G]ij – partes das matrizes [H] e [G] obtidas para a região Ωi que multiplicam {u}ij e
{p}ij, respectivamente.
Aplicando as condições de equilíbrio de forças e compatibilidade de deslocamentos, que
são

{u}12 = {u}21
{u}23 = {u}32
(29)
{p}12 = −{p}21
{p}23 = −{p}32
o seguinte sistema de equações é obtido:

⎧ {U }1 ⎫
⎪ 2 ⎪
⎪ {U } ⎪
⎡[H ]1 0 0 [H ]12 − [G ]12 0 0 ⎤ ⎪ {U }3 ⎪
⎢ 23 ⎥ ⎪ ⎪
⎢ 0 [H ]2 0 [H ]21 [G ]21 [H ]23 − [G ] ⎥ ⎨{U }12 ⎬
⎢ 0
⎣ 0 [H ]3 0 0 [H ]32 [G ]32 ⎥⎦ ⎪⎪{P}12 ⎪⎪
⎪{U }23 ⎪
⎪ 32 ⎪
⎩{P} ⎭
(30)
⎧ {P}1 ⎫
⎪ 2⎪
⎪ {P} ⎪
⎡[G ]1 0 0 [G ]1 0 0 0 ⎤ ⎪ {P}3 ⎪
⎢ ⎥⎪ ⎪
=⎢ 0 [G ] [G ] [G ]23 0 ⎥ ⎨{P }12 ⎬
2 21
0 0
⎢ 0
⎣ 0 [G ]3 0 0 0 [G ]3 ⎥⎦ ⎪⎪{P }21 ⎪⎪
⎪{P } ⎪
23

⎪ 32 ⎪
⎩{P } ⎭

onde {P } representa forças aplicadas na interface entre as regiões Ωi e Ωj.


ij

5 APLICAÇÕES

5.1 Aplicação 1

O primeiro exemplo consiste em uma cavidade circular de raio igual a 1,5m em um meio
semi-infinito, cujo centro dista 3m da superfície. Esta cavidade está submetida a uma pressão
interna de 300kN/m2. O módulo de elasticidade do material que constitui o meio semi-infinito
é igual a 80000kN/m2 e o coeficiente de Poisson, 0,25.
O objetivo é verificar a influência da colocação de um reforço com espessura de 10cm
no contorno da cavidade pressurizada. Para isso são calculados os deslocamentos, na direção
radial, de vinte pontos localizados ao longo da linha tracejada L (Figura 4) para os casos de
haver ou não o reforço.

Figura 4 – Posição da cavidade com relação à superfície do semi-plano.

Para discretizar o meio semi-infinito é usado o MEC que, com a utilização da solução
fundamental de Melan, exige a discretização apenas do contorno da cavidade. O reforço, por
sua vez, é discretizado com o MEF, cujos elementos possuem módulo de elasticidade igual a
360000kN/m2. Foram usados 24 elementos para discretizar o contorno da cavidade e a mesma
quantidade para o reforço.
São mostrados no gráfico da Figura 5 os valores de deslocamento nos pontos localizados
ao longo da linha L, para os casos com e sem reforço. Como esperado, os deslocamentos
diminuem com o aumento da distância ao ponto onde o carregamento é aplicado e a
colocação do reforço no contorno da cavidade acarreta uma diminuição nos valores destes
deslocamentos.

Figura 5 – Deslocamentos nos pontos do domínio.


O comportamento dos deslocamentos ao longo da linha L é o mesmo para o caso em que
não há reforço, ou seja, uma diminuição nos seus valores com o aumento da distância à
cavidade. Sem o reforço, a diferença entre o deslocamento do último ponto em relação ao
primeiro é por volta de 66%. Com o reforço, esta diferença é de aproximadamente 57%, ou
seja, 9% menor do que no caso em que não existe a camada de reforço.
Pode ser visto mais claramente na Figura 6 a influência da camada de reforço na redução
da magnitude dos deslocamentos. Para o ponto mais próximo do contorno da escavação, ou
seja, do ponto de aplicação do carregamento, a redução no valor do deslocamento é de 33%.
À medida que os pontos ficam mais distantes do contorno da cavidade a influência da camada
de reforço diminui, assim, para o último ponto que está a 3m do contorno, o deslocamento é
reduzido em apenas 14%.

Figura 6 – Porcentagem da redução dos deslocamentos.

5.2 Aplicação 2

Este exemplo representa o caso de um carregamento uniformemente distribuído em uma


faixa de comprimento infinito e largura igual a 6m. Este carregamento é aplicado na
superfície de um semi-plano próximo a uma escavação retangular de comprimento também
infinito, como mostrado na Figura 7. O meio semi-infinito possui módulo de elasticidade
igual a 8000kN/m2 e coeficiente de Poisson igual a 0,25.
O objetivo desta aplicação é verificar a influência de uma camada de reforço, colocada
sob o carregamento que tem valor igual a 300kN/m2, nos deslocamentos horizontais da parede
da escavação mais próxima da aplicação da carga.
Figura 7 - Dimensões da vala e posição do carregamento.

Inicialmente é verificada a influência da espessura da camada de reforço na magnitude


dos deslocamentos na parede vertical da vala. O módulo de elasticidade do reforço é igual a
160000kN/m2 e são consideradas três diferentes espessuras, quais sejam, 10, 20 e 30cm.
O contorno da escavação foi discretizado com 40 elementos de contorno lineares,
usando a solução fundamental de Melan, e a parte da superfície sob o carregamento, com 6
elementos. Por sua vez, o reforço foi discretizado com 6 elementos finitos.
Na Figura 8 são mostrados os deslocamentos ao longo da parede vertical da vala para o
caso em que não existe reforço sob o carregamento, assim como os casos em que são
colocados reforços de diferentes espessuras.

Figura 8 – Deslocamentos ao longo da parede da vala.

Pode-se notar, pela Figura 8, que a colocação de um reforço sob o carregamento diminui
de maneira significativa os deslocamentos na parede vertical da vala. A mudança na espessura
da camada de reforço praticamente não alterou a influência do mesmo nos valores de
deslocamentos, como pode ser visto mais claramente na Figura 9. A redução foi de 65%, na
média, independente da espessura do reforço.

Figura 9 – Influência da espessura do reforço nos deslocamentos.

Verifica-se, também, a influência do módulo de elasticidade do reforço na redução dos


deslocamentos da parede vertical. Para isso, consideram-se três diferentes valores de módulo
de elasticidade: 10000kN/m2 (E1), 12000 kN/m2 (E2) e 160000kN/m2 (E3). Estes valores
representam, respectivamente, um valor 25, 50 e 100% maior do que o módulo de elasticidade
do meio semi-infinito.
Na Figura 10 são mostrados os deslocamentos ao longo da parede da vala para o caso em
que não existe reforço e, também, para os casos em que existe um reforço com 10cm de
espessura e diferentes módulos de elasticidade.

Figura 10 – Deslocamentos ao longo da parede da vala.


Pode-se notar pela Figura 10 que a diminuição nos valores de deslocamentos foi bastante
significativa, sendo que aqueles valores diminuíram com o aumento do módulo de
elasticidade do reforço. Essa influência é vista de maneira mais clara na Figura 11, onde se
pode ver que a diminuição dos deslocamentos foi de aproximadamente 45% para o reforço
E1, 50% para o reforço E2 e 65% para o reforço E3.

Figura 11 - Influência do módulo de elasticidade do reforço nos deslocamentos.

Com base nestes resultados é possível afirmar que a utilização de uma camada de reforço
sob um carregamento aplicado no solo influencia o comportamento do mesmo. Para um
mesmo tipo de material, a espessura do reforço não altera de maneira significativa esta
influência. O tipo de material do reforço, por sua vez, influi de forma expressiva na alteração
do comportamento do solo sob carregamento.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O acoplamento entre o Método dos Elementos de Contorno e o Método dos Elementos


Finitos é uma alternativa eficaz para analisar problemas de interação entre solo e estruturas. O
solo, sendo um meio semi-infinito, pode ser analisado de forma bastante simplificada com a
utilização da solução fundamental de Melan, devido à necessidade de discretização apenas da
superfície sob carregamento. Com uma quantidade relativamente pequena de dados
provenientes da sub-região que representa o solo, é diminuído o esforço computacional
necessário para resolver o problema.
A técnica de sub-regiões, utilizada para realizar o acoplamento entre os dois métodos
citados é bastante eficiente. Consistindo basicamente em manipulação e alocação de matrizes,
a técnica é capaz de realizar o acoplamento entre métodos iguais (MEC/MEC e MEF/MEF) e
diferentes (MEC/MEF).

Agradecimentos

Os autores gostariam de agradecer à FAPEAL o financiamento desta pesquisa na forma


de bolsa de mestrado.
REFERÊNCIAS

Almeida, F. P. A., 2003. Aplicação do acoplamento entre o MEC e o MEF para o estudo da
interação dinâmica elastoplástica entre o solo e estruturas. Tese de doutorado – Escola de
Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo.
Barbirato, J. C. C., 1999. Método dos Elementos de Contorno Com a Reciprocidade Dual para
a Análise Transiente Tridimensional da Mecânica do Fraturamento. Tese de doutorado –
Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo.
Bathe, K. J., 1996. Finite Element Procedures. Prentice-Hall International Editions.
Brebbia, C. A., & Dominguez, J., 1992. Boundary Elements – An Introductory Course.
McGraw-Hill Book Company.
Cavalcanti, D. J. H., 2006. Análise da Interação Solo-Estrutura Através do Emprego Conjunto
dos Métodos dos Elementos de Contorno (MEC) e dos Elementos Finitos (MEF).
Dissertação de mestrado – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil,
Universidade Federal de Alagoas.
Coda, H. B., 2003. Análise Tridimensional Transiente de Estruturas Pela Combinação Entre o
Método dos Elementos de Contorno e o Método dos Elementos Finitos. Tese de
doutorado – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo.
Cook, R. D., 1995. Finite Element Modeling for Stress Analysis. John Wiley & Sons.
Komatsu, J. S., 1995. Estudo de Problemas de Escavação Através da Combinação Elementos
de Contorno e Elementos Finitos. Tese (Doutorado) - Escola de Engenharia de São
Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos.
Leite, L. G. S., Coda, H. B., & Venturini, W. S., 2003. Two-dimensional solids reinforced by
thin bars using the boundary element method. Engineering Analysis with Boundary
Elements, vol. 27, pp. 193-201.
Telles, J. C. F., & Brebbia, C. A., 1980. Boundary Element Solution for Half-Plane Problems.
International Journal of Solids and Structures, vol. 17, pp. 1149-1158.

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