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Um ensaio sobre Fred Hoyle

Rafael Luiz da Silva Rabelo


25 de junho de 2007

Resumo
Astrônomo brilhante e criativo, inglês ”pouco tı́pico”; duas definições que se encaixam
muito bem em Fred Hoyle. Este ensaio fala brevemente das teorias que o tornaram
conhecido - a Teoria do Universo Estacionário, a Sı́ntese de Elementos em Estrelas e a
Panspermia -, e ao mesmo tempo conta um pouco da história de um homem que não
tinha medo de enfrentar crenças ortodoxas.

O fı́sico e astrônomo britânico Frederick Hoyle foi, sem dúvida alguma, um dos maiores
pensadores cientı́ficos do século XX. Foi, talvez, o maior opositor à teoria do Estrondão de
origem do universo; ironicamente, foi Hoyle quem batizou a teoria com o nome com que ela
ficou mais conhecida, Big Bang. Ateu, ele acreditava que era filosoficamente problemático o
universo ter um inı́cio, uma vez que o inı́cio demandaria uma causa, e a causa, um criador.
Por isso, Fred Hoyle desenvolveu uma teoria cosmológica em que o universo seria eterno e
praticamente imutável, a Teoria do Universo Estacionário1 , que, até o começo dos anos 70,
disputava o lugar de teoria mais aceita com a teoria do Estrondão, hoje considerada padrão
pela comunidade cientı́fica.
No coração dessa disputa estava a sı́ntese nuclear de elementos pesados. George Gamow,
um dos criadores da teoria padrão, alegava que os elementos pesados, assim como os leves -
leia-se Hidrogênio, Deutério, Trı́tio, Hélio e Lı́tio -, teriam se formado no evento que deu origem
ao universo, o Estrondão. Em resposta, Fred Hoyle, junto com Eleanor e Geoffrey Burbidge,
e William Fowler, publicou um artigo que logo tornou-se um clássico [1]. Conhecido por
B 2 HF , o artigo2 publicado em 1957 propunha uma série de reações nucleares que ocorreriam
no interior de estrelas, a mais de 3 milhões Kelvin, dando origem aos núcleos atômicos mais
pesados. A maioria dos processos propostos continua aceita até hoje, e uma recente revisão
desse trabalho, [2], publicada em 1997, mostrou que B 2 HF continua correto a atual.
Proposto em 1948 por Bondi e Gold [3], e Hoyle [4], o modelo do Universo Estacionário
é baseado em um princı́pio cosmológico perfeito, i.e., homogeneidade e isotropia em todo
o tempo. Baseado nisso, e assumindo a expansão do universo, Hoyle propunha a criação
constante de matéria para que não houvesse mudança na densidade do universo. Por causa
disso, a teoria foi bastante criticada, mas manteve-se até que observações começaram a dar
vantagem à teoria do Estrondão.
Um teste observacional de relevância, que diz respeito à abundância do elemento Hélio em
relação à abundância de outros elementos, como o Oxigênio, marcou uma grande vitória para
a teoria padrão. Apesar de B 2 HF estar correto, observações recentes [8] apontam para uma
quantidade de Hélio muito maior do que é previsto na sı́ntese estelar. A teoria do Estrondão
1
Do inglês Steady State Theory. A tradução Teoria do Estado Estacionário é mais comum, mas, como em
[9], achei Teoria do Universo Estacionário mais adequado.
2
Uma curiosidade: segundo scholar.google.com, este artigo tem hoje 1166 citações.

1
explica essa abundância de Hélio como o fruto de um fenômeno conhecido como Nucleossı́ntese
Primordial, e suas previsões se encaixam muito bem com tais observações.
Mas não há dúvidas de que a descoberta da radiação de fundo de microondas pôs um fim
à teoria do Universo Estacionário, pelo menos da maneira como era. Tudo indica que esse
fundo de radiação foi emitido por um corpo negro, o que é completamente incompatı́vel com
a teoria de Hoyle. Se o universo é imutável, e hoje é transparente, conclui-se que ele sempre
foi transparente, e, portanto, jamais poderia ter emitido como um corpo negro.
Mesmo assim, Hoyle não desistiu de sua teoria, e junto com Burbidge e Narlikar fez
adaptações para que ela ficasse compatı́vel com as observações citadas. A teoria adaptada,
que passou a ser conhecida como teoria do Universo Quase-Estacionário, faz previsões inter-
essantes de um universo que se comporta como um universo de Einstein-de Sitter. Apesar
disso, explicações confusas dadas por Narlikar sobre a teoria e previsões discrepantes com a
teoria padrão de fı́sica de partı́culas fizeram com que essa nova variação fosse desacreditada
na comunidade cientı́fica. Para uma discussão um pouco mais detalhada, veja [5].
Fred Hoyle era não somente um grande cientista, como também encontrou tempo para
escrever livros e artigos de divulgação cientı́fica, ficção, séries de televisão, e até mesmo uma
ópera. Entre os livros de divulgação cientı́fica, os que mais se destacam são A natureza
do universo e O universo inteligente, ambos com tradução para o português. O livro A
nuvem negra, também traduzido, e a popular série de tv do Reino Unido A for Andromeda,
televisionada pela BBC de Londres, foram as principais obras de ficção cientı́fica escritas por
Hoyle. Para uma lista completa de suas publicações, e informações completas a respeito de
sua vida, consulte [6].
Houve ainda uma terceira teoria que também está relacionada ao reconhecimento que Fred
Hoyle tem hoje: a panspermia [7]. Hoyle acreditava na vulgaridade da vida no universo, e
defendia que a vida teria chegado à Terra em formas primitivas, como sementes de vida, que
a bordo de cometas foram ”disseminadas” pelo cosmos.

Referências
[1] E. Margaret Burbidge, G. R. Burbidge, William A. Fowler e F. Hoyle, ”Synthesis of the
Elements in Stars,” Rev. Mod. Phys. 29, 547 (1957).
[2] G. Wallerstein, et al., ”Synthesis of the elements in stars: forty years of progress,” Rev.
Mod. Phys. 69, 995 (1997)
[3] H. Bondi e T. Gold, ”The Steady-State Theory of the Expanding Universe,” Monthly
Notices of the Royal Astronomical Society 108, 252 (1948)
[4] F. Hoyle, ”A New Model for the Expanding Universe,” Monthly Notices of the Royal
Astronomical Society 108, 372 (1948)
[5] http://www.astro.ucla.edu/wright/stdystat.htm
[6] http://www.hoyle.org.uk
[7] F. Hoyle e C. Wickramasinghe “Astronomical Origins of Life: Steps Towards Panspermia,”
Kluwer Academic Press (2000).
[8] http://arxiv.org/abs/astro-ph/0407176
[9] http://www.observatorio.ufmg.br/pas34.htm

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