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HISTÓRIA DAS PRANCHAS DE SURF

Por Ben Marcus

Linha do tempo

1780

O CAPITÃO É COZIDO

Entre as muitas novidades que o capitão Cook trouxe pela primeira vez ao Hawaii, é
interessante imaginar qual terá sido o efeito provocado pela introdução da madeira de sequóia e das
ferramentas de metal na construção das pranchas de surf, e conseqüentemente na forma como os
surfistas passaram a surfar as ondas. Os havaianos agradeceram a Cook por todas essas maravilhas,
comendo-o.

1868

SURFISTA NA TSUNAMI

A pintura a óleo de William Catchart descrita como “Halona surfando num tsunami em Ninole,
Hawaii” retrata o que aconteceu em 1968. O cenário assustador foi inspirado por um terremoto perto da
Big Island, ocorrido em 2 de abril de 1868, com uma magnitude estimada entre 7,25 e 7,75 graus na
escala richter. O terremoto provocou um deslizamento de terra na encosta do vulcão Mauna Loa, que
matou 31 pessoas e em seguida provocou o tsunami que “passou por cima dos coqueiros, a cerca de 18
metros de altura”, de acordo com Walter Dudley em seu livro de 1988 Tsunami! “... avançou terra
adentro cerca de 500 metros em alguns lugares, levando de volta para o mar, ao retornar, casas,
homens, mulheres, e quase tudo que não estava preso ao chão”. A lenda local conta que o ilhéu Halona,
foi arrastado para o mar, mas pegou um pedaço de madeira de sua casa e surfou uma onda, salvando
sua vida.

1885

OS PRÍNCIPES HAVAIANOS

Em 1885 um jornal de Santa Cruz noticiou que três príncipes havaianos “nadavam com
pranchas de surf” na desembocadura do rio Santa Cruz. Eles eram os irmãos Kalaniana’olé – Jonah,
David e Edward - , da mais pura realeza havaiana, filhos nativos do grande chefe da ilha Kauai, D.
Kahalepouli e da princesa Kekaulike. Os três estavam cursando a Saint Matthews’ Military School, e
quando Jonah Kuhio retornou ao Hawaii, ele se transformou num militante pela liberdade do Hawaii. Em
1895, Jonah Kuhio foi um dos participantes de uma rebelião contra a República do Hawaii – liderada pelo
presidente Sanford B. Dole, que havia usurpado o poder da monarquia três anos antes. Kuhio e seus
companheiros de rebelião foram presos e jogados numa cela. Sua sentença foi de um ano e cumprida
integralmente. Depois disso ele deixou o Hawaii com sua esposa e viajou, se juntando ao exército
britânico e indo lutar na África do Sul, na Segunda Guerra dos Böers. O dia 26 de março é hoje um
feriado estadual no Hawaii, em sua homenagem.

1901

OS BEACH BOYS

William Matson fez uma boa fortuna com açúcar e com frota mercante. Na virada do século ele
decidiu arriscar a sorte com uma nova empreitada: promover o turismo no Hawaii. Matson construiu o
Moana Surfrider Hotel, bem na praia de Waikiki, utilizando imagens de surf e canoas havaianas como
chamariz para os turistas visitarem o Hawaii, e foi ali no Moana que teve início a tradição dos Beach
Boys.
1905

NASCE O CLUBE DA HUI

Duke Kahanamoku e seus cinco irmãos foram co-fundadores do Hui Nalu, um clube para nativos
havaianos que praticavam canoagem, eram nadadores, surfistas, e outros atletas que se encontravam
em baixo de uma árvore, em frente ao Moana Surfrider Hotel. O fator que catalisou os integrantes do
Hui Nalu foi a fundação do Outrigger Canoe Club, principalmente formado por haoles. Os dois clubes
competiam constantemente.

1908

O OUTRIGGER CANOE CLUBE

Em visita ao Hawaii, o jornalista Alexander Hume Ford começou uma campanha para instalar
um clube: “Com o propósito de revitalizar e preservar o ancestral esporte havaiano do surf nas pranchas
e em canoas do tipo outrigger”. O Outrigger Canoe Club era localizado bem ao lado do Moana Hotel, em
duas choupanas de palha adquiridas de um zoológico.

1917

DUKE DESCE UMA ONDA HISTÓRICA

Em 1917, durante uma gigante ondulação de sul, Duke Kahanamoku remou para o outside em
Waikiki com uma prancha de madeira olo de 16 pés e desceu uma onda que se transformou numa lenda.
Duke dropou um Outside Castles e surfou por quase 2 quilômetros: “Se eu não tivesse caído”, Duke
disse numa entrevista de 1965, “teria entrado direto na taverna Happy Steiner’s, em Waikiki”.

1920

TOW WURFERS DOS ANOS 20

Setenta anos antes de Laird, Buzzy e Darrick começaram a rodear o pico de Backyards;
perseguindo ondas azuis gigantes, rebocados por um bote inflável, estes havaianos faziam tow surfing
atrás de um hidroavião.

1926

BLAKE VOLTA AO HAWAII E MODERNIZA A PRANCHA OLO

Citação de Tom Blake: “Tive o privilégio, e também trabalhei pesado, para restaurar as
pranchas de madeira do Paki Hall, deixando-as em sua condição original. Por mais de 20 anos elas
ficaram ali jogadas, ou amarradas por cabos de aço a uma parede de pedras, do lado de fora do museu,
cobertas com uma velha pintura vermelha e praticamente abandonadas. Minhas investigações sobre a
arte do surf foram desvendando o verdadeiro valor daquelas duas velhas pranchas de koa (acácia). Elas
são as duas únicas pranchas ancestrais autenticas de olo (as maiores pranchas de madeira utilizadas
pela realeza) de que se tem notícia até hoje. Ao restaurar as velhas pranchas do Paki Hall, descobri, sem
sombra de dúvida, que elas eram muito mais velhas do que qualquer pessoa imaginava. Na verdade,
quando o Paki Hall as adquiriu, elas já eram antiguidades...”.

Em sua terceira viagem ao Hawaii, Tom Blake ficou incomodando os curadores do Bishop
Museum até que eles permitissem que ele restaurasse três enormes pranchas de olo que estavam
espalhadas, praticamente esquecidas, ao redor do museu. Blake suou a camisa, com devoção, para
raspar a tinta e o verniz incrustados há anos e anos naquelas pranchas, mas o que ele sentiu nas mãos
acabou servindo como inspiração para shapear uma nova linha de pranchas olo, utilizando sequóias,
perfurando-as com buracos em diversos pontos, para que ficassem mais leves. Essas novas pranchas olo
revolucionaram tudo no surf havaiano e direta ou indiretamente nos levaram ao que todos nós
utilizamos para surfar atualmente.

1928

PRIMEIRO CAMPEONATO DE SURF DA COSTA DO PACÍFICO

Tom Blake aparece com sua prancha oca, inspirada nas pranchas olo, para disputar o primeiro
Pacific Coast Surf Riding Championship, em Corona Del Mar, na Califórnia. O contido riso debochado do
crowd foi se transformando em boca aberta de assombro à medida que Blake ia aniquilando todos, tanto
nas corridas de remada, como nas competições de surf.

1929-1930

A VITÓRIA OCA DE BLAKE

Em 1º de dezembro de 1929, Blake trouxe a público sua nova prancha de remada. Uma
multidão estava perfilada nas margens do canal Ala Wai para a primeira de uma série de corridas de
remada que ocorreriam na temporada de inverno. Essas corridas atraíam muita atenção, e vários
competidores participavam, trazendo uma grande variedade de pranchas. Blake quebrou, por 5
segundos, o recorde na corrida das 100 jardas, chegando a provocar gritos. As vaias foram porque
alguns acharam que Blake tinha uma vantagem injusta, utilizando sua prancha leve, oca, com design
parecido com o de um ‘cigarro’, pois todas as outras pranchas da corrida eram as utilizadas também
para surfar. A prancha de Blake havia sido construída especificamente para remada, e sua vitória
naquele evento deu início a reclamações que perduraram por vários anos. O maior evento da temporada
foi o Campeonato de Remada em Pranchas Havaianas de 1930, realizado no canal de Ala Wai no dia do
Ano-Novo, em 1930. Mesmo com os organizadores da competição encomendando nove pranchas
inspiradas nas olo de Blake, ocas e específicas para remada, o defensor do título Tommy Keakona
protestou contra a corrida por causa da prancha de Tom e se recusou a participar. Algo novo estava no
ar devido ao ‘cigarro’ de Blake, e dessa vez 3 mil pessoas lotaram as margens do canal para assistir às
corridas. Representando o Outrigger Canoe Club, contra o Hui Nalu e o clube Queen’s Ssurfers, Blake
saiu vitorioso na disputa da meia milha do Men’s Open, quebrando o recorde anterior por 2 minutos e 13
segundos. No evento mais esperado do dia, Blake bateu o recorde das 100 jardas por 5 segundos. Ele
também foi a âncora do time Outrigger Canoe Club no revezamento do quarto de milha. Blake foi
reconhecido como a ‘Grande Estrela’ do evento e sua prancha em forma de cigarro foi a ‘Grande
Sensação’, mas não para todos os presentes. As ‘vitórias ocas’ de Blake, em seu novo equipamento,
causaram uma má impressão, tanto que Blake só participou desse evento por mais uma única vez. Seu
recorde na meia milha e nas 100 jardas perduraram por 25 anos, até 1955.

1929-1941

OS CAMPEONATOS DE SURF DA COSTA DO PACÍFICO

Keller Watson venceu o segundo Pacific Coast Surf Riding Championship em 1929, e devido à
Quebra da Bolsa e ao colapso econômico que se seguiu, as competições foram canceladas em 1930 e
1931. Pete Peterson venceu os eventos de 1932, 1936, 1938 e 1941. Whitey Harrison foi o vencedor em
1939, quando a competição se realizou em San Onofre. O evento foi cancelado novamente por causa da
Segunda Guerra Mundial.
1929

OLO DIVIDIDA EM COMPARTIMENTOS

Em 1929 Tom Blake refinou as pranchas ocas, ao fabricá-las cavando compartimentos


separados, fechando-as com um compensado de madeira no deck e embaixo. Essas pranchas não eram
uma tábua de madeira dura com um monte de furos, mas eram fabricadas como asas de avião e
voavam, com alguma controvérsia, deixando para trás um rastro parecido com o de um jato: “No final
do ano de 1929, após três anos de testes, introduzi em Waikiki um novo tipo de prancha... na verdade,
esse design foi tirado de uma antiga prancha havaiana e também se baseou no casco dos barcos de
corrida ingleses. Ela era chamada ‘prancha cigarro’ porque o repórter de um jornal achou que ela era
montada como um cigarro gigante. Essa prancha era muito atraente, bonita de se olhar e sua
performance era tão boa, que os organizadores do campeonato anual de remada imediatamente
encomendaram uma série de nove modelos para serem utilizadas nos Hawaiian Paddling Championships
de 1930”.

PACIFIC SYSTEM HOMES

A quebra do mercado de ações em 1929 forçou Meyers Butte a abandonar a Universidade


Stanford. Ele voltou para casa e foi trabalhar no negócio da família, em Los Angeles, onde tinha à
disposição 10 hectares de madeira plantada, máquinas, plainas, escavadeiras, serras e prensas de
laminação hidráulicas. Meyers havia tentado surfar no Hawaii e viu a oportunidade de fazer com as
pranchas de surf o que Henry Ford havia feito com os carros. Butte começou a produzir lindas pranchas
com sequóia e madeira balsa, utilizando a marca Swastika, que naquele tempo significava apenas: “A
busca da saúde e do bem-estar”.

1930

ANTES DE BLAKE E DEPOIS DE BLAKE

Da mesma forma que os havaianos podem dividir sua história em antes de Cook e depois de
Cook, e Duke Hahanamoku pode marcar sua vida pelos Jogos Olímpicos de 1912, com Tom Blake a
história do surf é simplesmente dividida em antes de Blake e depois de Blake.

Blake não mudou apenas as pranchas que surfávamos, mudou também o que vestíamos. Blake
costumava remar muito e aparentemente, preferia ficar com o peito e a barriga queimados a utilizar
regatas de lã, além do mais ele estava a frente de seu tempo em termos de moda surf.

BLAKE DESCE UMA BOMBA

As versões das pranchas ocas de Blake para surfar ondas, inesperadas nas antigas olo,
possibilitarem que novos picos de surf fossem desbravados. As alaias, pequenas pranchas que estavam
na moda em Waikiki, não tinham nenhuma condição de descer as ondas grandes que quebravam lá fora,
durante as maiores ondulações de sul. Mas isso mudou com a olo moderna. Foi em agosto de 1930 que
Tom Blake surfou sua “mais longa onda em cima de uma prancha de surf”, quando deu um drop lá fora,
na primeira arrebentação de Ka-lehua-wehe, e seguiu até a praia, igualando e talvez até ultrapassando a
famosa onda surfada por Duke em 1917.

1929

LEONARDO DA WAIKIKI

Durante os anos 30, Blake era um pouco Da Vince, um pouco Thomas Edison, um pouco
Winston Churchill. Além de praticamente sozinho mudar as pranchas de surf, em 1931, Blake também
criou a primeira prancha ‘a vela: adaptou um mastro para velejar numa de suas grandes pranchas de
remada. No início dos anos 30 ele experimentou as primeiras cordinhas – um pedaço de cordão de
algodão que era amarrado à sua cintura e na prancha, evitando que ele tivesse de nadar centenas de
metros até a praia, ao perder a prancha. Na primeira metade dos anos 30, os salva-vidas do Hawaii e da
Califórnia descobriram que as longas pranchas de remada que Blake fabricava eram excelentes para
efetuar salvamentos no meio de arrebentação, da mesma forma que os salva-vidas modernos aderiram
aos jet-skis. Em 1932 ele chegou a criar uma prancha maleável feita de borracha.

BLAKE ENTRA PARA O COMÉRCIO

Em abril de 1931, Tom Blake registrou a patente de sua Water Sled, a prancha oca; o registro
foi oficializado em agosto de 1932. Essa patente permitiu que Blake começasse a fazer o licenciamento
de seus designs para diversos fabricantes. Isso provocou uma corrida, e durante os anos 30, ele assinou
acordos com a Thomas Rogers Company, a Robert Mitchell Manufacturing Company, a Los Angeles
Ladder Company e a Catalina Equipment Company, para transformar e adaptar as suas pranchas ocas
em pranchas de surf, pranchas de remada e pranchas para salvamentos.

1932

O OUTRIGGER CANOE CLUB, 25 ANOS MAIS TARDE

No início dos anos 30, Tom Blake descreveu as pranchas que estavam guardadas no Outrigger
Canoe Club – o centro do surf em Waikiki, fundado em 1907 – depois de um passeio por aquela praia:
“No clube pode-se encontrar uma fileira com cerca de 200 pranchas, guardadas de pé, com cadeados; o
espaço está lotado de pranchas de todos os tamanhos, tonalidades e cores; a média é ao redor de 10
pés, 23 polegadas de largura, três polegadas de espessura, planas em cima e também na parte de
baixo, com as bordas arredondas, pesando até cerca de trinta e poucos quilos. Elas são fabricadas em
sequóia da Califórnia, cedro branco, pinho e, algumas poucas, em madeira balsa. Cerca de 90% delas
são de sequóia, por serem mais leves, resistentes e baratas. Algumas eram escavadas até se tornarem
ocas e então fechadas com compensado, por cima, para ficarem mais leves”.

PRIMEIRA CORRIDA DE REMADA DA ILHA CATALINA

Em setembro de 1932, Blake provou o valor de suas pranchas ocas, feitas especialmente para
remada, quando ele terminou em primeiro lugar, entre três participantes, na primeira Catalina
Paddleboard Race. A primeira vez que surfistas cruzaram o canal até a Ilha Catalina foi no outono, com
Blake, Pete Peterson e Wally Burton saindo de Point Vicente, em Palos Verdes e fazendo a travessia
escoltados pelo Gloria H.

Tom Blake treinou mais duro e fez o percurso em 5 horas e 23 minutos.

PACIFIC SYSTEM HOMES NO HAWAII

Numa versão para o mercado de surf de mandar carvão para a cidade carvoeira de Newcastle,
em 1932 Meyers Butte despachou seis pranchas Swastika para o Hawaii. As pranchas Swastika se
transformaram em objeto de desejo tanto nas praias da Califórnia como no Hawaii: “Todos babavam
pelas pranchas Swastika”, disse Dale Velzy em depoimento a Craig Stecyk. “A maioria dos surfistas
tinham pranchas fabricadas em casa, ou recebidas de segunda mão de outro surfistas, então todos
queriam uma fabricada pela Pacific }System. Era possível encontrar muitas delas nos lugares onde
ficavam os caras mais ricos, que haviam comprado as pranchas no Hawaii, pois freqüentavam o Bel Air
Bay Club, o Jonathan Club, o Balboa Bay Club e o Santa Monia Swimming Club”.
1933

O INÍCIO DA BALSA

Craig Lockwood, no The Surfer’s Journal: “Ao retornar do Hawaii em 1933, Pete (Peterson) traz
uma idéia que viu e mais tarde relatou a Peter Dixon, um antigo salva-vidas de Santa Mônica, roteirista
de filmes e autor de livros de surf. Há uma coisa que não foi bem esclarecida e que eu gostaria de trazer
à tona”, conta ele para Dixon. “Alguns surfistas, tidos como pioneiros, falam e escrevem sobre as
antigas e pesadas pranchas de sequóia que eles utilizavam nos anos 30. Essas declarações fazem
parecer que todos os surfistas ficavam carregando essas pranchas de 40 quilos. Não foi exatamente
assim. Dois caras da Flórida, no início dos anos 30, construíram as primeiras pranchas de madeira balsa
e as levaram até o Hawaii... Eles eram realmente entusiasmados e habilidosos. E quando voltei para a
Califórnia, depois de testar aquelas pranchas, comecei a construir pranchas de madeira balsa – com 10
pés, que pesavam menos de 20 quilos. As pranchas eram assim leves porque não tínhamos fibra de
vidro para cobri-las. Mais tarde, começamos a colocar pedaços de sequóia nos bicos e rabetas (e bordas)
para torná-las mais resistentes, isso acabou aumentando o seu peso novamente”.

1934

A HOT CURL

Como lembra John Kelly, ele e Fran Heath estavam surfando em Brown’s, no South Shore, e
sentiam-se meio que frustrados com suas pranchas de sequóia, sem quilhas, que não conseguiam
manter a linha de corte. “Em todas as ondas que descíamos, se tentássemos virar a prancha, mesmo
que fosse de leve, a rabeta desgarrava, pois não havia nenhum tipo de bolina, e simplesmente
deslizávamos lateralmente e íamos de bunda na água, tentando nos agarrar à prancha para que ela não
fosse parar nas pedras. Depois remávamos de volta para fora”. Kelly e Heath deram machadadas na
rabeta de suas pranchas, diminuindo-as para 5 polegadas de largura, e até moldaram um V-bottom.
Pararam de derrapar e cair de bunda.

PRANCHAS OCAS NA AUSTRÁLIA

Nat Young: “O homem responsável por introduzir o sistema de construção de pranchas ocas de
Blake na Austrália foi Frank Adler, um surfista de Maroubra, que tirou a idéia de uma revista americana
que mostrava a prancha de Blake. Adler utilizou sua prancha oca pela primeira vez em competições no
ano de 1934, e teve a maior facilidade em deixar para trás, na remada, os outros surfistas que
utilizavam pranchas maciças. Não demorou muito para que o novo estilo de construção de pranchas
pegasse, e as pranchas ocas logo começaram a dominar o cenário do surf na costa leste australiana”.

1935

A QUILHA

Tom Blake: “Na primeira vez que fui às ilhas havaianas, eles utilizavam pranchas com rabetas
bem largas e costumavam derrapar sempre que desciam uma onda mais vertical e crítica”, relembra.
“Imaginei que seria fácil corrigir esse problema. Era só acrescentar alguma coisa, uma quilha.
Finalmente, cheguei lá. Ninguém costuma fazer nada muito rápido lá no Hawaii, afinal todos os dias nos
divertíamos muito surfando. Acabei colocando uma quilha numa das pranchas e ela funcionou muito
bem. Era uma quilha rasa, tinha apenas 4 polegadas de profundidade e 15 centímetros de
comprimento”. O primeiro leme desenvolvido por Blake – ou “skeg”, como ficou conhecido – foi retirado
de um velho barco a motor que havia naufragado. A quilha era de alumínio e, além de muito afiada,
tinha diversas ranhuras, não dava para ficar descoberta. Blake adaptou um pedaço de madeira koa para
cobrir a quilha e encaixou-a em sua prancha de remada de 14 pés. Na primeira vez em que saiu
remando com a prancha, estranhou toda aquela estabilidade direcional, tanto que chegou a achar que a
idéia não havia dado certo, até que surfou uma onda: “Lembro... de começar pensando – essa coisa não
é boa. E provavelmente teria descartado a idéia. Mas acabei indo lá para fora e peguei uma onda muito
boa, uma onda de 6 pés, e foi notável o controle que tinha sobre a prancha com esta pequena quilha
nela. Ela não desgarrava, virava com facilidade, porque a rabeta se mantinha firme na água, quando se
aplicava pressão, e virava para onde eu a direcionasse. Naquele momento já percebi que seria um
sucesso. Mas ela era a única que existia e ninguém prestou muita atenção no que estava acontecendo;
acabou levando dez anos para que as quilhas pegassem para valer”.

1936

THE SKEG

Em 1936, Margart Bairos escreveu um artigo para o Honolulu Advertiser que contava ao mundo
o que Blake estava utilizando para surfar: “Minha nova prancha oca está especialmente adaptada para
surfar ondas grandes”, Blake afirmava nessa reportagem. “Ondas com altura de 25 a 30 pés, o que nós
chamamos de storm surf. Ela pesa 52 quilos, e em ondas enormes, de 30 pés, essa alça de metal na
traseira permite que o surfista segure a prancha na arrebentação. O desenvolvimento mais recente é a
acoplagem de um estabilizador, ou quilha, na parte de baixo da prancha, perto da popa. Tirei essa idéia
dos dirigíveis. Isso ajuda a virar e controlar a prancha”.

1937

DALE VELZY AOS 10 ANOS

Dale Velzy tinha 10 anos em 1937, na Califórnia, que estava voltando a se desenvolver, apesar
da Depressão: “Havia um punhado de garotos como nós, bem jovens (começando a surfar)”, Velzy
declarou a Paul Homes. “Tivemos a vantagem de cortar o tamanho das pranchas. Utilizávamos as
pranchas que eram largadas pelos outros. Não era possível deixá-las mais finas, ou colocar alguma
envergadura, mas qualquer uma de minhas pranchas era mais leve. Toda vez que você corta fora dois
pés da rabeta de uma daquelas tábuas perde uns 18 quilos!”.

DALE VELZY E AS QUILHAS

No final dos anos 30, Dale Velzy começou a fazer experimentos com quilhas, chegou a fixar
quilhas de 12 polegadas de comprimento e 3 polegadas de altura, com buchas e parafusos de madeira.
Eram quilhas low-tech, mas era melhor que ficar derrapando e caindo na água. Naquela época existiam
quilhas comerciais à venda: “Tom Blake estava fazendo uma quilha de alumínio, em forma de meia lua,
com 4 polegadas de profundidade; parecia um artefato bem moderno”, comentou Velzy com Paul
Holmes. “Elas eram prensadas em alumínio numa fábrica. Tinham uma espécie de rebordo, ou aba, em
cada um dos lados da base, e você podia aparafusá-la com parafusos de bronze. Mas essas quilhas eram
finas e perigosas. Era bem fácil de se cortar nelas”.

1937/1938

HOT CURLS PARA NORTH SHORE

No final dos anos 30, Wally Friseth e alguns amigos levaram suas pranchas Hot Curl ao North
Shore de Oahu, para descobrir se conseguiriam enfrentar as ondulações de inverno: “Whitey Harrison –
ele e a Tarzan Smith caíram em Haleiwa um belo dia”, disse Froiseth. “Isso era por volta de 1937 ou
1938, não vem ao caso. Eles entraram em Haleiwa, num dia grande. Ambos quase se afogaram. Então,
Gene Smith nos contou esta história: ‘Ah, meu Deus! Vocês tinham de ver as ondas!’ Estava junto da
minha turma (os Hot Curl Riders), ouvimos aquilo e dissemos: ‘Ei, vamos lá!’. No final da semana
seguinte partimos para o North Shore, mas Haleiwa não estava bom, só que Sunset Beah estava, e
fomos surfar em Sunset. Naquele tempo, ninguém havia dado nome às praias. Simplesmente víamos
boas ondas e caíamos no mar”.

1938

MARCA Z, COMO EM NAZI

Existem outras histórias sobre o surgimento das pranchas Swastika e como elas acabaram
levando essa marca estampa em pranchas de madeira maciça. No início dos anos 30, o símbolo da
suástica representava saúde e boa sorte, e as pranchas vindas da Pacific Ready Cut System Homes
levavam a marca que era símbolo dos germânicos, chamada hakenkreuz: ‘cruz gamada’. Esse símbolo é
encontrado em diversas culturas, continentes e eras, desde a Grécia antiga, até a Índia, e normalmente
é um símbolo do bem e da felicidade. A palavra ‘swastika’ é sânscrito e se traduz como ‘algo que traz
bem-estar’, e era dessa forma que os Buttes enxergavam o símbolo, com ‘conotações de saúde e boa
fortuna’, de acordo com Wilson Butte, filho de Meyers. “meu pai abandonou o símbolo, para evitar
qualquer controvérsia, assim que Hitler começou a utilizá-lo. As pranchas Waikiki começaram a sair por
volta de 1938”.

CHEGA DE ESCORREGAR DE RABETA

O V profundo na rabeta das pranchas Hot Curl agia como um estabilizador de direção,
permitindo que os surfistas e outros como Rabbit Kekai inovassem com um novo estilo de performance
chamado hot dog. Com essas pranchas eles puderam também desafiar ondas maiores e mais cavadas
como as de Makaha.

1942

POLIURETANO

A inovação do poliuretano por William Hanford e Donald Holmes desembocou na introdução de


uma grande variedade de novos materiais, inclusive do spandex ou elastano. O uretano segmentado é
uma fibra elastomérica, fabricada pelo homem, capaz de se expandir em até 100% e voltar, como a
borracha natural. Esse material substituiu a borracha utilizada nas roupas íntimas femininas.

PÓS GUERRA ESPIÃO VS ESPIÃO

Dois materiais de alta tecnologia, que surgiram durante a Segunda Guerra Mundial, foram a
fibra de vidro e a resina de poliéster. A resina de poliéster foi desenvolvida inicialmente pela Dupont em
1936, processo refinado pelos cientistas alemães durante a guerra. Os espiões ingleses roubaram esse
segredo e passaram para as empresas dos EUA, e em 1942 a American Cynamid estava produzindo
resina de poliéster para ser utilizada em conjunto com tecidos de fibra de vidro. Bob Simmons conhecia
a fibra de vidro de seu trabalho na Douglas Aircraft, durante a guerra, e em 1946 começou a expor esse
segredo e utilizá-lo como na produção de pranchas. Dale Velzy não podia ficar sem esse material; o
mesmo ocorria com Joe Quigg: “Por causa de seus constantes contatos pesquisando todas as empresas
químicas de Los Angeles”, escreveu Nat Young, “Joe Quigg era suspeito de ser espião alemão”.

PÓS GUERRA CASCOS PLANADORES


A maior fascinação de Bob Simmons depois da guerra era a publicação de Lindsay Lord, um
arquiteto naval, com PHd no Instituto de Tecnologia de Massachusets (MIT), que estudou intensamente
os ‘planing hulls’. Como definido no www.powerboating.com, um casco planador é: “O casco
desenvolvido para subir até a superfície da água sempre que alguma pressão for aplicada, minimizando
a porção do casco que está em contato com a água, reduzindo a fricção, o arrasto, e dessa forma
aumentando a velocidade do casco”.

John Elwell disse a Malcom Gault-Williams: “A marinha buscou encontrar a largura e o


comprimento ideais na forma de casco para que uma embarcação subisse rápido da água, fosse fácil de
manobrar e adquirisse máxima velocidade. Lord argumentava que seu estudo era uma ciência naval
baseada em informações sólidas e novas, e que nunca haviam sido feitas pesquisas anteriores. Simmons
se deliciava com o livro, cheio de gráficos, equações complexas, e ainda recomendava um novo material
que deixaria mais resistentes e leves os cascos planadores: a fibra de vidro misturada com resina. A
fórmula desenvolvida era um simples paralelismo, a busca de uma relação ideal entre comprimento e
largura, que era chamada de ‘aspect ratio’ (relação de aparência), utilizada no design de asas de avião...
Um dos problemas, relatava Lord, era com relação ao shape ideal – ele não era atrativo, mas poderia
ser. Ele mencionava que popas pontudas produziam maior arrasto, dizia que buscar a leveza externa
também era perigoso e que os cascos planadores eram complexos. Alertava que algumas coisas bem
esquisitas funcionavam, mas para não se deixar enganar. Todas as hipóteses eram consideradas e
aplicadas visando buscar a meta definitiva da velocidade superlativa: a natureza da água era levada em
conta, as leis de Newton, as leis de sustentação de Bernoulli, resistência, carga, ângulos de ataque,
design dos lemes e o centro da gravidade. O livro era a fonte das fontes para Simmons. Muitos surfistas
percebiam que Simmons estava possuído, mas não conseguiam compreender tudo aquilo, muito menos
aplicar às pranchas de surf”.

PÓS GUERRA STYROFOAM

O poliestireno extrudado foi a primeira espuma utilizada para pranchas de surf, mas não era
boa, pois reagia com a resina de poliéster da mesma forma que o óleo reage ao vinagre. De acordo com
o site www.dow.com: “Inventados pela Dow há mais de 50 anos e identificados mundialmente pela cor
azulada, os produtos de poliestireno extrudado (cuja marca comercial era Styrofoam) são, até hoje,
mundialmente reconhecidos por sua capacidade como isolantes. No início dos anos 1900, a Dow
Chemical Company inventou o processo para expandir o poliestireno de formas a obter uma célula mais
fechada, que resistisse à umidade. Reconhecendo sua capacidade superior de isolamento, flutuabilidade
e que ele ‘não pode ser afundado’, foi originalmente adotado pela Guarda Costeira em 1942, para ser
utilizado numa jangada para seis passageiros. Foi esse o início de muitas outras aplicações durante o
período de guerra, tanto pela Guarda Costeira como pela marinha”.

De acordo com The Surfer’s Journal: “Bob Simmons também contou com o poliestireno em seu
tempo. As espumas foram utilizadas durante a Segunda Guerra Mundial, moldadas em fuselagens como
carcaças de radares. Simmons foi capaz de se informar sobre as fontes dos produtos químicos puros por
meio de uma agência do governo. Ele fez um molde de cimento no chão e começou a expandir seu
próprio poliuretano com uma tampa de madeira compensada, contida por cinco grandes rochas no topo,
isso foi em 1947. Vimos os blocos em 1950, num posto de salva-vidas em Imperial Beach. Esse molde
ainda existe, está num celeiro que pertencia a seus tios, em Norwalk. Nesse local ele fez uma série de
trabalhos de pesquisa e desenvolvimento, manteve ferramentas e estoque; era um amplo local de
trabalho”.

1946
PLÁSTICOS

Bob Simmons conhecia a fibra de vidro dos tempos em que trabalhou na Douglas Aircraft,
durante a guerra, e em 1946 começou a utilizar esses materiais para prolongar o bico das pranchas que
não tinham nenhuma envergadura naquela época. Velzy e todos os outros, preocupados em fabricar
pranchas, também foram atrás desse elixir anti-embicada.

PETE PETERSON E A PRANCHA DE FIBRA

De acordo com Nat Young, não foi Bob Simmons e sim Preston ‘Pete’ Peterson que fabricou a
primeira prancha de fibra de vidro: “Ele fez isso em junho de 1946, com a ajuda de Brant Goldsworthy”,
escreveu Nat Young, em seu livro History of Surfing. “A prancha foi construída utilizando uma longarina
central de sequóia, e as emendas foram seladas com tiras de fibra de vidro”.

ENVERGADURA (ROCKER)

Na mesma época em que Simmons ficava enrolando o bico de suas pranchas com fibra, Velzy e
outros começaram a trabalhar com balsa, tentando envergar o bico das pranchas: “Nós trabalhávamos
com vigas retangulares de madeira”, Velzy declarou a Paul Holmes. “Íamos até a madeireira General
Veneer e escolhíamos a dedo. Procurávamos pedaços que fossem um pouco curvos. Os pedaços tinham
de 3 a 4 polegadas de espessura e mais ou menos 5 polegadas de largura, de forma que necessitávamos
de quatro a cinco pedaços para fazer uma prancha. Quando encontrávamos cinco pedaços e envergados,
ficávamos muito contentes, pois assim teríamos uma envergadura natural para trabalhar, e isso
facilitava muito. Descobrimos que as pranchas com maior envergadura funcionavam bem nos beach
breaks, mas não eram tão boas em ondas como Malibu, pois uma prancha muito envergada perdia
velocidade na parede”.

1947

VENTURA OVERHEAD

Um rolo de filme de 16mm, registrado em 1947 dá uma idéia do cenário de ondas grandes na
Califórnia logo após a guerra: Bob Simmons e um par de amigos botam para baixo, num dia grande e de
céu azul, em Ventura Overhead no mês de novembro. Pranchas de 11 pés, grandes, pesadas, com
quase 30 quilos, sem roupas de borracha, sem cordinhas, e os caras se atiravam com fé.

VIDA DEPOIS DA GUERRA, SIMMONS, PRANCHAS, SCRIPPS

Além de pesquisar muito em publicações, Simmons também investia bastante tempo na Scripps
Institution of Oceanography, em San Diego, compilando informações sobre a formação das ondas e as
previsões de swells utilizadas pela marinha, que precisava desses dados para planejar operações
militares de desembarque em praias.

“Por volta de 1948, Mike Johnson, um amigo de Simmons que se tornou surfista, comentou que
Simmons tinha uma prancha de 4 quilos e a utilizava para fazer experimentos em tanque de testes da
CalTech”, escreveu Malcolm Gault-Williams, no site legendarysurfers.com. Kit Horn sustenta que foi
nessa fase que Simmons veio até Malibu com sua primeira prancha que era realmente radical. “Os
comentários eram de que Simmons andava tão rápido que sua prancha chegava a levantar da onde e
ficar fora de controle”, escreveu Elwell. “Ele havia levado ao extremo a relação entre comprimento e
largura, diminuindo o peso além do limite. Para corrigir isso ele aumentou o peso e balanceou as
pranchas. Uma nova prancha surgiu, com características peculiares. Em primeiro lugar, elas eram bem
mais leves do que as pranchas habituais. Os bicos e as rabetas eram mais finos e as bordas eram
moldadas de forma hidrodinâmica. Elas eram mais largas e estreitavam na parte da rabeta. No bico, as
pranchas eram curvas e formavam uma espécie de barriga”. Simmons chamava essas pranchas de
‘hydrodynamic planning hulls’. Ele não continuou trabalhando além disso, mas estava óbvio que suas
pranchas combinavam elementos que nunca antes haviam sido vistos.

1947/1948

POLIESTIRENO

Em 1947 e 1948, Bob Simmons começou a produzir pranchas que tinham o interior de espuma
de poliestireno (isopor), bordas de madeira balsa e um compensado de madeira na parte onde o surfista
pisava. Em 1947 ele foi atrás dos materiais brutos que eram utilizados para fazer a estrutura das
carcaças, e forma de domo, que envolviam os radares utilizados nos aviões da Segunda Guerra Mundial.
Ele construiu um molde de cimento, no chão, que utilizava para moldar os sanduíches de isopor. Os
designs e os materiais utilizados por Simmons eram revolucionários, mas não amplamente aceitos pelos
surfistas da velha guarda, que pegavam ondas em San Onofre, então ele passava a maior parte de seu
tempo em Malibu. Em 1949, com suas pranchas sanduíche, ele fazia curvas mais fechadas do que
qualquer outro surfista em Malibu.

A PRANCHA DE DARRILYN/MARILYN

Durante o verão de 1947, Tommy Zahn pediu a Joe Quigg que fabricasse uma prancha mais
curta e leve para que sua namorada, Darrilyn Zanuck, pudesse manejar, transportando-a de seu carro
conversível até o local do surf. Quigg selecionou as melhores sequóias e balsas de cinco diferentes
madeireiras e fez uma prancha 10’2”, com bordas arredondadas 50/50, envergadura bottom bem plano
e com uma quilha. Logo essa prancha ficou conhecida como ‘a mais solta de toda a costa oeste’. Em
agosto de 1947, a turma de Los Angeles fez um surfari até San Onofre. Dave Rochlen, Matt Kivlin e Pete
Peterson emprestaram a prancha daquela ‘garota novata’ e inventaram o surf hot dog (cheio de
manobras) naquela sessão de surf.

OS HAOLES DA COSTA OESTE

Em 1947, Matt Kivlin, Joe Quigg, Tommy Zahn e um punhado de surfistas saíram velejando
para o Hawaii com as mais novas pranchas de balsa utilizadas em Malibu. O surfista haviano Rabbit
Kekai fez amizade com a turma de Malibu e surfou com as bizarras pranchas deles, com fundos chatos,
bordas arredondadas, que ficavam mais afiadas perto da rabeta. O termo que utilizou para definir as
antigas pranchas de rabeta quadrada e larga resumiu sua ineficiência nas águas do Hawaii – ‘mushers’
(pranchas para ondas fracas e gordas). “Ficamos assombrados de ver o que faziam naquelas pranchas”,
disse Kekai a respeito do quiver que foi trazido para o Hawaii por aqueles haoles invasores. “Eles
ficavam na parte de trás da prancha. Algumas tinham uma rabeta mais larga, com apenas uma quilha
no centro; outras, rabetas na parte côncova e duas quilhas. Rochlen e Quigg tinham biquilhas. Kivlin
tinha uma single fin com a rabeta mais estreita”. Ao fim da viagem, Quigg estava cansado de ouvir o
mesmo refrão, os surfistas locais balançando a cabeça e dizendo: “Toda aquela madeira balsa, que
desperdício”.

1949

A COLHER (SPOON) DE SIMMONS


Por volta de 1949, Joe Quigg e Matt Kivlin estavam trabalhando junto com Bob Simmons. Três
boas cabeças trabalhando em conjunto para desenvolver melhores pranchas de surf, eram também três
pares de mãos trabalhando com madeiras nobres e novos materiais para satisfazer uma demanda que
começava a crescer. Malcolm Gault-William escreveu: “Como um exemplo, Quigg lançou a moda das
primeiras quilhas de fibra de vidro neste período e ainda criou, da sua cabeça, outras inovações para as
pranchas de surf. Estes três surfistas esculpiram bicos diferentes, mexeram com as bordas, deixando-as
mais baixas e shapearam rabetas com várias formas experimentais. As pranchas de Simmons eram
particularmente largas na rabeta. Ele queria subir na prancha e ir embora, com fundos côncavos e todas
as inovações que ele foi implementando. Eram rápidas, entravam e seguiam direto, cruzando a onda.
Mas, cara, aquelas rabetas largas empurravam o bico para baixo, porque a tendência era que a parte
traseira da prancha acelerasse mais. A solução foi fazer o bico em forma de colher, com as rabetas
largas e os fundos côncavos. As pranchas tinham seus problemas, mas o conceito era funcional”.
De todas essas sessões de desenvolvimento, a mais notável foi a ‘Spoon’ de Simmons. Eram
pranchas de 10 pés, feitas de madeira balsa sólida, com o bico embarrigado e levantado, bordas finas e
uma quilha de madeira moldada, laminada na prancha. É bem provável que Simmons tenha
desenvolvido a sua Spoon de balsa para surfar ondas maiores, como Ventura Overhead e Bird Rock, em
La Jolla, principalmente devido a seu bico pontudo. Rennie Yater destacou: “Aquele bico em forma de
colher, vocês sabem, foi copiado muitas vezes. Ele fez com que as pranchas, em vez de ficarem
chapadas, tivessem uma curva, muito mais curva do que antes. Elas não ficaram assim logo de cara. Ele
fez, posso dizer, alterações muito radicais”. Em essência, esse foi o começo da envergadura nas
pranchas. “Bem, vocês podem dizer isso”, concordou Yater, “porque aquelas tábuas que eles usavam
antes não tinham nenhuma envergadura. Eram totalmente planas”.

VELZY ABRE UMA LOJA

No final dos anos 40, Dale Velzy estava com 24 anos e já vinha tendo reconhecimento como um
cara que fazia tudo direito, desde o final da Segunda Guerra Mundial: sempre acompanhado de belas
mulheres, com uma cerveja gelada na mão, superbem-vestido, hot rods, motocicletas. Um cara sortudo,
que tinha um negócio que estava começando a estourar, fabricando e consertando pranchas debaixo do
píer de Manhattan Beach. Porém, as autoridades não estavam gostando daquele movimento. Velzy
emprestou uma grana do tio da mulher de um amigo, alugou uma loja onde antigamente funcionava
uma sapataria a apenas uma quadra do píer de Manhattan, imprimiu um pequeno adesivo que dizia
‘Designed by Velzy’ e involuntariamente se transformou no primeiro fabricante de pranchas de surf
oficialmente reconhecido na Califórnia. Velzy foi visitado por autoridades que insistiam que ele
registrasse uma licença de negócio e tirasse um número do tipo CNPJ – Cadastro Nacional da Pessoa
Jurídica. “E foi assim que me transformei no primeiro fabricante de pranchas registrado”, disse Velzy a
Paul Holmes.

1951

A MAKAHA SPECIAL DE DOWNING

Tirado da Enciclopédia do surf: “... George Downing fabricou uma prancha de 10 pés, com o
miolo de balsa, uma quilha estabilizadora inclinada (as pranchas hot curl não tinham quilha e eram em
sua maioria feitas de sequóia) e com o controle obtido por essa nova prancha. Surfistas como Downing e
Walter Hoffman conseguiram surfar ondas com o dobro do tamanho daquelas que vinham sendo
dropadas nos anos 40”.

1952

O’NEILL ABRE UMA SURF SHOP


Três anos depois de Dale Velzy, Jack O’Neill abriu uma das primeiras surf shops da Califórnia,
que ele chamou apenas de Surf Shop. A loja oferecia pranchas de madeira balsa, parafina e as primeiras
vestes de neoprene, que eram bem rústicas. As pessoas diziam que ele venderia produtos apenas para
alguns surfistas na praia, mas outros poucos turistas, e que logo fecharia o comércio. O’Neill só queria
sustentar sua família, que estava crescendo.

O CHOQUE DOS ADESIVOS

Os havaianos não costumavam decorar suas canoas em respeito ao oceano e seus perigos,
sendo assim também não decoravam suas pranchas, no máximo colocavam o nome do dono, ou uma
pequena arte entalhada no bico. Duke Kahanamoku e Tom Blake continuaram com essa tradição no
século XX, até que Blake começou a produzir pranchas em massa por meio de licenciamento. Um dos
primeiros logos usados de forma repetitiva foram as Swastika, nas pranchas da Pacific System Homes,
mas essa marca foi abandonada. Depois da guerra, fabricantes de pranchas como Bob Simmons, Joe
Quigg e Matt Kivlin faziam pranchas tão diferenciadas, que nem precisavam de uma marca, ou qualquer
sinal de reconhecimento. Foi só em 1952 que Dale Velzy tirou esta idéia da loucura de adesivos que
havia no mundo dos carros Hot Rod e fez uma série de decalques, que eram aplicadas com água para
serem colados sobre suas pranchas. Cinqüenta anos mais tarde, as pranchas de surf estão tão
enfeitadas como um carro que compete na Nascar.

1953

MAKAHA VIRA ATRAÇÃO NOS JORNAIS

O fotógrafo havaiano Skip Tsuzuki tirou uma foto de três surfistas – Brown, Trent e Downing –
descendo lateralmente numa parede lisa, num mar três vezes e altura dos surfistas em Makaha. A foto
foi parar na agência AP, e acabou sendo publicada em jornais do continente. Isso fez que alguns
surfistas largassem tudo que estavam fazendo e embarcassem num avião rumo ao Hawaii, para descer
aquelas ondas selvagens.

1953-1957

NORTH SHORE: O DESAFIO

Em meados dos anos 50, Makaha e o North Shore eram os lugares nos quais se ia surfar ondas
grandes. Potencializados por pranchas cada vez mais distintas, rápidas e sofisticadas, as “elephant guns”
(espingardas para caçar elefantes – daí vem o termo gun), shapeadas por George Downing, Pat Curen,
Greg Noll, Mike Diffenderfer e outros, os surfistas estavam se atirando em Sunset Grande, Laniakea,
Makaha e outros picos, mas Waimea Bay ainda era kapu (tabu, proibida).

1954

MAKAHA INTERNATIONAL SURFING CHAMPIONSHIPS

O primeiro ano dos Makaha Internacional Surfing Championships. Este foi considerado o (não
oficial) campeonato mundial de surf até o início dos anos 60. Chegaram a participar 500 competidores, e
algumas baterias tiveram até 20 participantes. Eram julgados numa escala de 1-30, considerando o
tamanho da onda, percurso mais longo, performance e também a habilidade do surfista em ‘atolar’(fade)
os outros competidores na espuma.

HOBIE ENXERGA O FUTURO

Hobie Alter começou a shapear pranchas na garagem de seu pai, em Laguna Beach, quando
ainda estava no colegial, e continuou a produção quando foi para a faculdade, Hobie fez 99 pranchas em
sua garagem e reservou a Número #100 para quando abriu sua primeira loja, em Dana Point, no ano de
1953. Sua produção subiu de 99 pranchas para 1.580 balsas, e, de todas essas, apenas duas não foram
feitas à mão por Hobie. Com sua precisão típica, Hobie é capaz de lembrar o dia exato em que em
fevereiro de 1954”, Hobie conta à história, “esse cara, Kent Doolittle, entrou em minha loja e mostrou
um pequeno pedaço de espuma que era deste tamanho em diâmetro e tinha esta espessura (as mãos de
Hobie mostram, de forma abstrata, um volume parecido como o de um maço de baralho). O material era
bem tosco, mas dava para sentir que era duro e denso... podíamos apenas enfiar um pouco as unhas
nele. Fiquei impressionado. Naquela época, quando alguém se referia a espuma, estava falando do que
se chamava Styrofoam, que era horrível; você podia enfiar o dedo e tirar um naco. Quero dizer, era pior
do que os recipientes de isopor que utilizamos para manter a cerveja gelada. Era uma espuma com
células abertas, daquelas que você encontra nas lojas de arte e esculturas, para proteger as peças. Nós
já havíamos experimentado esse troço antes. Rennie Yater (que trabalhava para mim naquela época) e
eu, havíamos tentado fazer uma prancha desse material. Que eu me lembre, a de Rennie saiu um pouco
melhor, mas ambas as pranchas eram terríveis... Elas ficavam soltas como ervilhas dentro da casca.
Precisávamos dar um jeito nelas utilizando cola ou fazendo enxertos de epóxi. Joey Cabell era um dos
surfistas que adorava essas pranchas, surfou com uma delas por um bom tempo. Mas elas não eram
boas, e acabamos não indo atrás das espumas. Doolittle chegou dizendo que a resina de poliéster não
iria dissolver seu pequeno bloco de espuma, então resolvemos testá-lo. Colocamos resina sobre ele.
Derramei acetona nele. Laminei aquele pedacinho e levei para uma festa que rolaria naquela noite; tirei
o troço do meu bolso e disse: ‘Caras, aqui está o futuro das pranchas de surf’”.

1957

UM DIA NA BAÍA DE WAIMEA

Quatorze anos após a morte de Dickie Cross, Greg Noll liderou um pequeno grupo de surfistas
empolgados em direção à ponta externa da baía de Waimea, para surfar aquelas ondas. “Era apenas um
daqueles dias médios, quando as ondas estão começando a quebrar lá fora, e uma galera disse: ‘Ei,
parece que está divertido’, então nós fomos e descemos as ondas”, disse Noll em depoimento para o
filme Riding Giangts. “Não foi grande coisa, mas em breve enfrentaríamos dias de arrepiar”.

Início dos anos 60

HOBIE E A PRIMEIRA LOJA DE VAREJO

Dick Metz era um surfista que vivia no Hawaii e foi contratado por Hobie para abrir a primeira
Hobie Sports em Honolulu: “Essa foi a primeira verdadeira loja de varejo, e ela veio mudar a estrutura
de preços do surf. As pranchas eram vendidas por US$ 85 diretamente dos fabricantes, e os shapers
ganhavam uma base de US$ 15. Agora que as pranchas estavam indo para o varejo, passavam a custar
outros US$ 15 a mais. Nunca houvera muito lucro na fabricação das pranchas. A segunda coisa que
vendíamos eram os adesivos com a marca Hobie. No início, os caras compravam uma camiseta junto
com a prancha. Decidimos colocar Hobie Honolulu nas camisetas, e o pessoal começou a comprar
apenas as camisetas. Fizemos muito dinheiro com camisetas, e foi aí que Hobie decidiu se diversificar e
partiu para Hobie Sportswear”. Metz relembra também que o preço de uma bermuda de surf era o
mesmo de um bife de filé mignon: “Havia um lugar em Honolulu que era como se fosse um precursor
dos refinados restaurantes Chart House, um lugar para comer um bufê de saladas com uma carne,
sendo que o preço de um bife naquele tempo era US$ 2,50, e esse o preço de um calção de surf”.

1961

PHIL EDWARDS SURFA NO BANZAI


“Quem foi o primeiro surfista a entrar em Pipeline?” é um tipo de questão que pode nos levar a
uma boa discussão, mas o crédito geralmente recai sobre Phil Edwards, que desceu uma onda de 4 pés
e sobreviveu. Depois veio o dia seguinte, e aí as ondas estavam com 6-8 pés. Foi o shaper Mike
Diffenderfer que sugeriu o nome Pipeline, destacando que as ondas pareciam as grandes tubulações que
estavam sendo utilizadas num projeto de construção bem próximos dali.

PAT CURREN CAI FORA

Depois de surfar Makaha e o North Shore apenas com um punhado de felizardos surfistas, num
isolamento bem-aventurado, durante a maior parte dos anos 50 – e fabricando gunzeiras para big waves
que eram universalmente consideradas as Ferraris (Fórmula 1) do esporte -, Pat Curren sentiu que seu
espaço nos picos estava diminuindo e abandonou o Hawaii em 1961. Leitor, reflita sobre isso por alguns
instantes.

BLUE HAWAII

Elvis Presley estrelou o filme Blue Hawaii como Chad Gates, um garoto haole que vivia no
Hawaii e volta às ilhas depois de dois anos servindo no exército americano e não quer saber de nada
além de ficar largado em um barraco com telhado de palha em Haunama Bay, surfar, tocar guitarra e ir
atrás das garotas. No filme, Presley passa a imagem de um cara que só quer saber de surfar. Ele utiliza
uma bermuda branca com duas listas pretas nas laterais, que eram a moda da época.

1962

SURF O RAMA

A Surf-O-Rama era uma ancestral das grandes feiras de surf da atualidade (ASR e Surf Expo),
que sustentaram um mercado multibilionário da indústria do surf. Naqueles tempos a Surf-O-Rama era
mais tranqüila, mas todos iam lá para se divertir, como foi descrito por Mike Doyle: “O objetivo principal
era que os fabricantes de pranchas e outros participantes da indústria do surf mostrassem seus produtos
mais recentes”, relatou Mike Doyle para o site legendarysurfers.com; “aquela loucura pelo surf não havia
se espalhado pelo país ainda, apesar de que em pouco tempo o surf se transformaria num grande
esporte no sul da Califórnia e a indústria do surf iria começar a perceber sua influência”. E continua.
“Enquanto eu passeava pela feira, os filmmakers Bud Browne e o jovem Bruce Brown estavam por lá
exibindo seus filmes, e havia bandas como a de Dick Dale e os Deltones tocando um rock’n’roll forte e
cheio de vitalidade, que era chamado de surf music...”.

1964

SURF LINE HAWAII

Por volta de 1964 Dick Metz ainda cuidava da Hobie Sports, mas quando ele percebeu que
Weber, Bing, Greg Noll, Hansen e Gordon & Smith, também queriam um distribuidor no Hawaii... “Viajei
ao continente para me encontrar com Bing, Hansen e Weber, acabei pegando a representação deles.
Voltei para Honolulu e abrimos a Surfline Hawaii, que era a loja de varejo que funcionava como
representante de todos os outros fabricantes de pranchas. Hobie não se importou com isso, desde que
eu continuasse vendendo as Hobie na loja Hobie Sports.

Ele sabia que a competição iria ocorrer um dia, e para ele era melhor saber que eu estivesse
atuando como dono desta competição do que ter outros caras competindo comigo no mercado havaiano.
Neste acerto eu era o responsável pelas duas lojas, mas ninguém estava sabendo disso. Para mim era
muito melhor ter uma concorrência que eu pudesse controlar, uma disputa que estivesse nas minhas
mãos”.
MOREY ENTRA NO MERCADO

A indústria aeroespacial perde um bom empregado, e quem sai ganhando é a indústria do surf,
quando Tom Morey deixa a Douglas Aircraft e se muda pra Ventura e começa a Tom Morey Skeg Works.
Sua primeira inovação é a TRAF, uma quilha de polipropileno (TRAF é FART – ‘peido’ escrito ao
contrário); essa foi a primeira quilha intercambiável produzida comercialmente para pranchas de surf.

1965

MOREY-POPE TRISECT

Tom Morey se junta a Karl Pope, e o primeiro produto que eles fazem é a Trisect, uma prancha
repartida em três pedaços, que podia caber dentro de uma mala. Juntos, eles fundam a WAVE (Water
apparatus and Vehicular Engineering Corporation), e as novidades começam a vir, uma atrás da outra.

GREENOUGH ENCONTRA NAT YOUNG

Um encontro fatídico entre um gênio shaper e um gênio surfista ocorreu na segunda viagem de
Greenough para a Austrália, em 1965. “Nunca havia encontrado Nat até minha segunda trip para a
Austrália”, conta Greenough para Paul Gross em matéria elaborada para The Surfer’s Journal. “Ele era
inacreditável. Surfava muito forte, muito impressionante. Nat tinha força para jogar um pranchão para
os lados na onda como se fosse uma pranchinha. Além disso, tinha uma grande sensibilidade para saber
em qual ponto da onda a prancha devia estar. As pranchas que ele utilizava tinham pouco mais de 9
pés, e eram o mesmo tipo de prancha surfada por caras que pesavam ao redor de 60 quilos. Nat se
destacava de uma forma como nenhum surfista se destaca atualmente. Hoje em dia há muitos surfistas
que estão num patamar similar de habilidade, olhando da praia você nem consegue distingui-los. Nat
simplesmente estava a milhas de distância de todos os outros de sua era. Além de surfar longboards
como se fossem pranchas pequenas, ele também caminhava até o bico da prancha com muita
sensibilidade”.

1966

NAT E A PRANCHA SAM, NA CALIFÓRNIA

Young viajou com sua arma secreta para a Califórnia; ele e a Sam se conheciam há três
semanas. Antes do Campeonato Mundial foram surfar em Hollister Ranch, nas mesmas ondas que
haviam inspirado George Greenough a desenvolver seu estilo de surfar sempre perto do curl (parte
crítica da onda). “Quando ele chegou aos EUA para o World Contest de 1966, ficou comigo em Santa
Bárbara”, contou Greenough a Paul Gross para matéria do Surfer’s Journal. “Enquanto Nat estava
conosco fomos para Carpinteria, com o objetivo de comprar um carro usado. Ele queria encontrar uma
barganha, e fomos parar numa loja que vendia alguns carros modificados. Aí apareceu um vendedor que
falou um monte sobre esse carro e perguntou se Nat não queria dar uma volta com o carango. Num
piscar de olhos, Young deu a partida, manobrou para fora do estacionamento da loja e desapareceu
virando a esquina. Passaram-se alguns minutos, lá estou eu, ao lado do vendedor falando algumas
abobrinhas, quando ouvimos o barulho do motor, cada vez mais forte, vindo de quase um quilometro de
distância. Em poucos segundos, Nat passa em frente da loja gritando, a uns 140 quilômetros por hora,
com o pé na tábua, pisando fundo. O carro está dando o máximo, o motor roncando, o carro parece
estar a ponto de explodir! Nat volta para a loja logo em seguida e diz para o vencedor que o carro é uma
porcaria, e vamos embora”.
Essa é uma parábola interessante, pois todos que puderam observar Nat com a Maagic Sam
pensaram a mesma coisa sobre sua prancha, mas Greenough sabia de algo mais, quando viajara para o
norte, rumo ao Hollister Ranch, para realizar algumas sessions de pesquisa e desenvolvimento, em
alguns dos melhores point breaks da Califórnia. “Ele estava surfando Sam, que era uma prancha 9’4
muito fina. Como uma lâmina. Nós trabalhamos na quilha com uma lixadeira e a deixamos afinada. Ele
era imbatível naquela prancha”. Por semanas Nat pegou intimidade com a Maggic Sam, então dirigiu
rumo ao sul, para Ocean Beach, e mudou o mundo.

SHORTBOARDS DEIXAM SUA MARCA EM OCEAN BEACH

O terceiro Campeonato Mundial de Surf – que ainda era anual naqueles anos – foi realizado em
San Diego, na praia de Ocean Beach. O showdown, que iria colocar tudo em pratos limpos naquele
evento, era o embate de David Nuuhiwa e Nat Young: a disputa era entre dedos no bico e pés firmes na
rabeta, longboard vs.short, surf hotdog vs. ‘total envolvimento’. Nuuhiwa ficou doente e acabou
perdendo cedo demais, abrindo espaço para que a vitória de Young fosse considerada o nascimento da
shortboard, a revolução do surf progressivo.

1967

V BOTTOMS VS. POCKE ROCKETS

Dick Brewer vivia em Maui quando Bob McTavish e Nat Young apareceram em Honolua Bay com
suas pranchas com fundo em ‘v’ acentuado, máquinas de ‘total envolvimento’. Naquele tempo, Brewer
estava trabalhando em pranchas leves, com a pintail, mas que ainda eram longboards. Eram chamadas
de ‘pocket rockets’, ou ‘miniguns’. Um novo tipo de surf acabou evoluindo dessa competição por
desenhos melhores e acabou se propagando em direção às pranchas maiores, para as maiores ondas
surfadas, levando a um novo nível de performance em Waimea Bay, Makaha e nos dias de ondas
gigantes em Sunset Beach.

AUSTRALIANOS INVADEM HONOLUA: NOVEMBRO DE 1967

De acordo com Drew Kampion, no Surfer’s Journal: “Brewer vivia em Prision Street, na cidade
de Lahaina, perto de Honolua Bay. Recentemente, havia aberto uma surf shop, a Lahaina Surf Designs
(LSD). Os australianos sempre reclamaram para si o mérito de terem efetuado a ‘shortboard revolution’,
sem nunca deixar de creditar o protogênio kneeboarder (surfista de joelhos) da Califórnia, George
Greenough, pela inspiração, trazida por suas pranchas flexíveis, em forma de colher, e suas longas e
vibrantes quilhas que assobiavam. Essa revolução foi introduzida no hemisfério norte na forma de
pranchas com a rabeta gorda e o fundo em ‘v’, que se transformaram na piada da temporada, ao
seguidamente derraparem em Sunset Beach naquele inverno, pedra fundamental da Era Shortboard”.

LOPEZ NO INVERNO DE 1967 EM MAUI

“Creio que foi no final do ano de 1967”, lembrou Gerry Lopez para Drew Kampion. “Brewer
havia acabado de se mudar para Maui, vindo do North Shore, e estava shapeando em Lahaina. Reno
Abellira e eu levamos um bloco para lá; ambos queríamos que Brewer nos fizesse uma prancha. A
primeira a ser shapeada foi a de Reno, mas antes que ele pudesse shapear a minha, Nat, Greenough,
McTavish, Ted Spencer e um par de outros aussies chegaram com aquelas pranchas de rabeta larga e V-
bottom. Eles queriam testá-las em Honolua Bay, mas as ondas não estavam quebrando por lá. John
Thurston tinha uma surf shop (dentro do galpão da fábrica de enlatados – Cannery – em Lahaina), onde
todas aas pranchas eram laminadas. Os australianos foram parar lá, e acabamos nos encontrando com
eles; Brewer e McTavish ficaram levando um papo totalmente insolente, abobrinhas, por muito, muito
tempo. Então no dia seguinte, iríamos fazer a minha prancha – acho que eu queria uma 9’8, que era
considerada mais curta que o normal para aquela época -, e Brewer pegou um serrote e simplesmente
cortou dois pés do que seria o tamanho original; minha prancha virou uma 8’6, e me disse: “Este é o
tamanho da prancha que vou fazer para você...”.

1969

A ONDULAÇÃO DO FIM DO MUNDO

Em 1º de dezembro de 1969, o Serviço de recrutamento dos EUA fez uma convocação lotérica,
que não ocorria desde 1942. Sacaram 366 cápsulas azuis de plástico de um grande recipiente de vidro,
fazendo uma convocação por número de ordem: eram todos homens entre 18 e 26 anos de idade,
especificados pela Lei de Serviço Militar para servirem na Guerra do Vietnam. No dia 14 de setembro,
havia ocorrido a primeira chamada. No dia 2 de dezembro de 1969, uma manchete no Los Angeles
Times tinha a seguinte chamada: “Culto selvagem é culpado do assassinato de Tate”, mostrando pela
primeira vez, uma foto de Charles Manson. A reportagem explicava como “um oculto bando de hippies,
dirigidos por um líder que se autoproclamava ‘Jesus’, cometera cinco assassinatos”. Em 3 de dezembro,
foi oferecido a John Lennon o papel na peça Jesus Christ Superstar. Em 5 de dezembro, os EUA
detonaram a “Diesel Train”, uma bomba nuclear de 20 quilotons, no meio do deserto de Nevada. Em 6
de dezembro, uma pessoa na platéia em Altamont foi esfaqueada até a morte pelos Hells Angels, que
formavam a “força de segurança” num show dos Rolling Stones, no momento em que eles tocavam o hit
“Sympathy for the Devil”. E no meio de tudo isso, em 4 de dezembro – no mesmo dia em que os
policiais de Chicago mataram dois dos líderes dos Panteras Negras, enquanto eles dormiam -, Greg Noll
foi o último surfista a ficar na água no maior dia de surf que a ilha de Oahu já presenciou. Com o North
Shore completamente fora de controle e fechando, Noll e alguns amigos deram a volta em direção ao
lado oeste da ilha e repetiram o desfecho no filme Mar raivoso. Greg Noll foi o cara que foi mais lá para
fora num dia realmente grande. Ele deu um jeito de dropar uma onda, acabou caindo na base,
conseguiu chegar vivo na praia e então, como um Sísifo (personagem da mitologia grega que rolava
uma pedra até quase o topo de uma montanha, mas nunca chegava ao cume com ela; a pedra desabava
quando estava quase lá, e ele era obrigado a começar tudo de novo, da base – daí sisifismo: o eterno
recomeço de alguma coisa’) moderno, empacotou todas as suas coisas, mudou-se para o norte da
Califórnia e virou um pescador. Leonard Brady surfou essa mesma ondulação em Honolua Bay e a
batizou como ‘The End of the World Swell’, porque todos estavam apreensivos com o recrutamento e a
grande decisão que seriam forçados a tomar: lutar ou escapar.

1970

PARTINDO PARA A PESCA

Noll tivera uma visão do futuro durante seu wipeout em Makaha, porque em 1970 ele pegou
sua família e, como Sísifo, foi para outro lugar, mudou-se para o extremo norte da Califórnia para
batalhar com o oceano, mas agora como pescador comercial. Dewey Weber e outros surfistas daquela
geração, como Harold Walker, Hap Jacobs, Mark Martinson, Greg Noll e Del Cannon tiveram perdas
pesadas com a queda na venda das pranchas. Dewey também decidiu ir pescar. No início dos anos 70,
ele construiu um barco para duas pessoas, especial para pescar peixe-espada. Esse barco era chamado
The Avispa e ficava bastante tempo em alto-mar. “Logo”, escreveu Jeff Duclos, “as histórias de surf
viraram histórias de pescador”.

1971-1974

A BONZER

Em 1971, dois irmãos de Ventura, na Califórnia, começaram a experimentar uma prancha meio
doida, de três quilhas, com canaletas no fundo, que eles chamaram de ‘Bonzer’. Emprestaram dos
australianos esse nome – que quer dizer bom -, e o design era selvagem: “A Bonzer foi uma das
primeiras pranchas a utilizar três quilhas”, escreveu Matt Warshaw em sua Enciclopédia do surf. “Um par
de quilhas mais baixas e compridas, inclinadas, instaladas um pouco à frente da quilha central padrão. A
prancha também possuía duas concavidades paralelas, que começavam a partir da metade do bottom
traseiro da prancha”.

1971

A CORDINHA

Pat O’Neill viaja para o sul, vindo das costas rochosas de Santa Cruz, para competir num
campeonato para convidados em Malibu. Ele traz uma prancha com um pedaço de tubo cirúrgico preso
ao deck por meio de uma ventosa. Oferece o dispositivo para alguns de seus amigos competidores e,
pela sua bondade, e é proibido de competir com sua “kook cord" (corda para pregos). A popularidade da
cordinha só aumentaria a partir daquele dia. Alguns surfistas de Santa Cruz censuraram a cordinha,
porque agora os surfistas que não eram tão bons poderiam surfar nos picos mais perigosos sem correr o
risco de danificar suas pranchas nos rochedos. Jack O’Neill (pai de Pat) foi uma das primeiras vítimas do
leash, quando uma prancha estilingada voltou de encontro ao seu olho. Ele perdeu a visão, mas ganhou
seu famoso look pirata.

PRANCHA BAHA’I

Após mudar-se para o Hawaii em 1968, Morey abraça a seita Baha’i. “Larguei totalmente o
álcool, as drogas e a promiscuidade sexual”, declarou Morey para Drew Kampion. “comecei a dizer
preces Baha’i como ‘venha a mim, oh, meu Deus, um bom pensamento pode transformar este planeta
num jardim de rosas’”. E Deus viu que isso era bom, e inspirou Morey a inventar a boogie board.

1972

LIGHTNING BOLT

Gerry Lopez e Jack Shipley tomam conta do ponto onde ficava a velha loja Hobie de Karl Heyer,
que havia adquirido o negócio de Dick Metz. Lopez faz as pranchas e Jack as vende em menos de uma
semana; Barry Kanaiaupuni e Bill Stonebreaker também se mostram interessados em vender suas
pranchas na loja de Lightning Bolt: “Os surfistas profissionais de todo o planeta utilizando nossas
pranchas eram propaganda de graça, e Shipley incentivava isso, com muita relutância de minha parte”,
disse Lopez. “Estávamos dando pranchas de graça para esses caras utilizarem enquanto estivessem nas
ilhas. Ou eles devolviam as pranchas após a temporada ou faziam algum tipo de negócio com Jack para
levá-las para casa, ou então as partiam em dois pedaços. Como vocês podem imaginar, isso nos custou
muito dinheiro, mas analisando sob uma perspectiva de marketing, foi uma tacada brilhante. A maioria
das fotos que saíam nas revistas era de surfistas famosos utilizando as nossas pranchas”.

SIMON ANDERSON E AS PRANCHAS ENERGY

Caso o pai de Simon Anderson não tivesse ganhado na loteria, em que pé estaria o surf hoje
em dia? Anderson nasceu em 1954 e estava morando num subúrbio chamado Balgowlah, quando seu
pai tirou a sorte grande e pôde mudar com sua família para uma casa de frente para a praia, em
Collaroy, perto de Narrabeen. Simon ganhou sua primeira prancha em 1967, aos 13 anos de idade; em
1971 já tinha quase 1,90 metro, estava com 17 anos e era um dos surfistas mais quentes da Austrália,
já tendo vencido na Divisão Júnior e ganhado o título nacional australiano, além do campeonato de Bells.
Em 1972 defendeu esses dois títulos com sucesso e foi escalado para a equipe australiana que iria para
o World Surfing Championships, em San Diego. Anderson já era um cara grandão, mas ainda estava em
fase de crescimento; independentemente disso, possuía um estilo suave e ao mesmo tempo forte,
surfava com naturalidade e mesmo seus adversários apreciavam vê-lo surfar.

1974

PEQUENOS GRANDES HOMENS

Apesar de o surf em ondas grandes ter ficado um pouco fora de moda à medida que as
pranchas e os surfistas iam diminuindo de tamanho nos anos 70, no Dia de Ação de Graças de 1974
Reno Abellira, por muito pouco, venceu Jeff Hakman em ondas épicas de 25 pés, na baía de Waimea.
Reno pesava 61 quilos mesmo molhado, e Hakman não era muito maior que ele, se é que era. Pesando
os dois juntos, eles deveriam ser mais leves do que Da Bull e uma de suas pranchas Rhinochasers –
gunzeiras de 11’4. Esses dois pequenos homens, em suas refinadas guns shapeadas por Dick Brewer,
além de outros surfistas, provaram que tamanho nem sempre é documento ao surfar ondas grandes, e
hakman e Reno ditaram o passo para que novos pequenos grandes homens viessem: Dorian, Flea,
Noah.

Meados dos anos 70

MAVERICK ERA UM CÃO

Em algum ponto do meio doa nos 70, um aluno de colegial chamado Jeff Clark come;a a surfar
uma onda assustadora, que quebra a 800 metros da costa, em frente a Pillar Point. Ele sobrevive a
tubarões, frio, caldos homéricos, água congelante por quase 20 anos, antes de desvendar seu T-rex
particular para o resto do mundo.

1975

A EMOÇÃO ESTÁ DE VOLTA

Herbie Fletcher passa algum tempo vivendo e esquiando em Sun Valley e depois acaba voltando
para San Clemente. Ele abre a Herbie Fletcher Surfboards em Dana Point e começa a fabricar
longboards, menos de 10 anos após Nat Young ter transformados os pranchões em objetos fora de
moda durante o World Contest: “Ninguém fabricava longboards naqueles dias, Hobie não queria saber
nem de laminar minhas pranchas. Comecei a fabricar longboards e lancei o slogan ‘The Thrill is Back’-
‘A Emoção está de volta’. Quando voltei, todos estavam ligados nas shortboards. MUitos dos caras
tinham largado o surf porque haviam ingressado na universidade, ou estavam trabalhando e não tinham
tempo para surfar porque não conseguiam manter o rip para manejar uma pranchinha. Então pensei:
Vamos reverter isso, voltar ao início de tudo, quando era divertido surfar. Comecei a falar para todo
mundo: “The Thrill is Back!” e comecei a fabricar pranchões para as pessoas que tinham família e
haviam abandonado o surf”.

1976

AS BIQUILHAS DE RENO INSPIRAM MARK RICHARDS

Reno Abellira já havia experimentado uma versão antiga de prancha de três quilhas com Dick
Brewer, isso no início dos anos 70, e eis que no ano de 1977 é uma das pranchas pequenas que Abellira
fazia, uma prancha Fish, com duas quilhas baixas e compridas, tipo keel, que inspira Mark Richards a
shapear suas twin-fins. Ele veio com o apelido The Wounded Gull, a Gaivota Ferida, mas por causa do
seu tamanho avantajado, ficava em desvantagem em relação aos caras menores, quando o surf estava
pequeno. Em 1976, Richards fica de olho quando o surfista Reno Abellira chega à Austrália com uma
prancha larga, com bico menos pontudo, medindo 5’3, e em duas quilhas. No ano seguinte Richards faz
um aprendizado de um mês com Dick Brewer e talvez por causa dessa influência produz uma versão
mais longa e limpa de biquilha. Shaun Tomson vence o título de 1977, seguindo de Wayne “Rabbit”
Bartholomew, mas em 1979 Richards vence o primeiro de quatro títulos mundiais. Grande parte de seu
sucesso ocorreu porque essas pranchas, biquilhas, se transformaram em sua arma secreta,
principalmente quando as ondas estavam pequenas.

1979

A MÁQUINA DE SHAPE

No ano de 1962 o surfista / shaper / designer Frances Michel Barland vence o Campeonato de
Surf Frances; algum tempo depois ele se gradua na Universidade de Paris, formando-se em engenharia
mecânica, isso em 1968. Em 1979, Barland alia seus conhecimentos de surf e a experiência como
shaper à sua formação em engenharia mecânica para desenvolver uma máquina de shapear pranchas
computadorizada. Em cinco anos, Barland isola 50 variáveis: era só apertar um botão, e em 13 minutos
saía uma prancha shapeada mecanicamente, requisitando apenas pequenos ajustes manuais que
tomariam poucos minutos do shaper, com uma lixadinha aqui e ali. Quinze anos mais tarde a maioria
dos grandes fabricantes de prancha ao redor do planeta utiliza uma versão atualizada da máquina de
shape de Barland.

1980

DAS PLASTIC MACHINES, ÀS LAZOR ZAP, ÀS THRUSTERS

As quilhas duplas de Bob Simmons, desenvolvidas nos anos 40 e 50, dão idéia às Fish de Lis,
mais tarde às Bonzer e depois às biquilhas de Reno, Richards, Brewer e outros, e todos esses ajudam a
originar as Thrusters de Simon Anderson: “Levou muito tempo e muitos estudos de design para
conseguir tirar o melhor da idéia da Thruster”, escreveu Nick Carroll. “Basicamente a Thruster colocou
um motor V8 numa Kombi, que era a prancha de uma quilha utilizada em ano de 1980. Isso obrigou
designers de Rusty a Al Merrick, inclusive Rawson, Al Byrne, etc., a darem uma refinada na prancha,
adaptando-a ao V8, acertando o motor ao mesmo tempo. Daí, posteriormente surgiu a concavidade
limpa, o estreitamento do outline, V-reverso, bordas mais refinadas, etc. Ninguém conseguiu superar
esse design original, apesar de inúmeras tentativas. Simon não é rico, mas ele fabrica as pranchas que
Kelly utiliza para surfar em point breaks, e Kelly é rico pra caramba”.

1981

SIMON PASSA NA PROVA DE FOGO

Nesse ano Anderson se prepara para lançar seu design aos olhos do grande público. Em 1981,
Simon surfa com sua prancha de forma brilhante em ondas imensas em Bell’s Beach, vencendo, além
desse prestigiado evento, também o Coke Classic, em Sydney. Anderson coloca um fecho de ouro com
sua vitória no Pipeline Masters. Ele não compete nem um terço dos eventos daquele ano e mesmo assim
termina em 6º lugar no ranking, enquanto Mark Richards vence mais uma vez. “Mas o grandalhão
surfista de Narrabeen foi, claramente, o atleta que teve a melhor performance naquela temporada”,
escreveu Matt Warshaw em sua Enciclopédia. “E os surfistas que utilizavam twin-fins, por todo o mundo,
começaram a se converter às triquilhas. Simon terminou como 11º do mundo em 1982, 19º em 1983 e
depois abandonou o circuito.
PATENTE NÃO REQUERIDA

O surfista e designer de pranchas australiano Simon Anderson prova que é possível ser um cara
muito legal com todos. Em 1980, esculpe sua prancha Thruster, uma prancha de rabeta quadrada, com
três pequenas quilhas aplicadas de forma a dar maior firmeza nas curvas. Imediatamente ele sai
vencendo campeonatos em cima de sua tri-fin. Apesar disso, Anderson nem se preocupa em patentear
seu design, e a descoberta acaba se transformando num presente para o mundo do surf. A Thruster é
adotada e depois aperfeiçoada por shapers ao redor do mundo. Al Merrick, de Santa Barbara, é
responsável por muitos dos ajustes de sintonia fina ao design da tri-fin, como admitiu em 1987. “Sou
um designer, mas não inventei nem descobri nada. Simplesmente utilizo o que está à disposição por aí...
E tenho certeza que ainda captarei mais idéias de outras pessoas no futuro”. No meio dos anos 80 a
Thruster é a prancha predileta de praticamente todos os surfistas do planeta.

1985

BRADBURY E A EPOXY

Em 1985, John Bradbury, de Santa Barbara, começa a trabalhar com epóxi, uma resina mais
forte e durável que a de poliéster, permitindo a utilização de espumas mais leves. Outros shapers como
Clyde Beaty e Greg Loher também trabalham com epóxi na mesma época. O surfista sul-africano Martin
Potter testa pranchas de epóxi no ano de 1985 e imediatamente vence um evento do circuito mundial.
Isso leva outros surfistas de ponta, como Brad Gerlach e Cheyne Horan, a encomendar epóxis com
Bradbury, mas eles estão adiantados no tempo. Havia vantagens na epóxi, mas também muitos
problemas, que apontaram direto para os mesmos dilemas encontrados por Bob Simmons, Joe Quigg e
Matt Kivlin, durante as primeiras experiências com espumas. A epóxi é mais cara, mais difícil de
trabalhar, e uma prancha quebrada de epóxi chupa a água imediatamente, forçando os surfistas a levá-
las diretamente par ao conserto.

1987

HERBIE REBOCARIA

Durante o inverno de 1987, Herbie Fletcher reboca os surfistas Martin Potter, Tom Carroll,
Christian Fletcher e alguns outros em ondas de 10 pés que quebram em Pipeline. Alguns observadores
ficam atormentados com a intrusão, outros ficam intrigados.

Início dos anos 90

PÁSSAROS AZUIS EM BACKYARDS

Chateados com o crowd, que não para de crescer em Waimea Bay e outros picos onde caçam as
ondas grandes, Laird Hamilton, Buzzy Kerbox e Darrick Doerner partem, num bote inflável, rumo ao
outside de Backyards num dia grande. Com suas gunzeiras convencionais, saem para caçar os “pássaros
azuis” que voavam lá fora e não podiam ser pegos apenas com a força dos braços.

1992

ZUMBIDOS NO BACKYARD

A partir dos próximos anos, este ato passa a ser refinado com a utilização do PWC (Jet-skis) e
pranchas fabricadas especialmente para serem rebocadas, mais curtas, mais estreitas e bem mais
pesadas.
1995

CHAMADA PARA ACORDAR

A Strapped Inc. solta um vídeo tendo como a estrela principal Laird Hamilton, coadjuvado por
seu bando. Eles praticam tow-in em Jaws, apresentando pela primeira vez a realidade em movimento do
que havia sido desvendado apenas em breves instantâneos nas revistas tudo parece ser produzido com
efeitos especiais. Uma nova arena acaba de entrar em jogo.

2000

LAIRD EM TEAHUPOO

Quando Bruce Brown, Mike e Robert estiveram no Taiti em 1964, os locais disseram a eles: “No
Taiti não há ondas!”. Eles não tinham a menor idéia do que rolava nas bancadas, lá fora, nos outer
reefs. Dependendo da pessoa com quem você conversar, vai lhe informar que alguns surfistas locais
começaram a remar para essa ponta de recife, no final da estrada, por volta de 1985. Batizaram o pico
de End of the Road. O bodyboarder Mike Stewart liderou o ataque durante os anos 80, e na primeira
megaediçao da Surfer, em 1996, encontramos a seqüência de Vetea ‘Poto’ Davide sendo rebocado por
um Jet-ski para pegar uma onda imensa, em algum lugar da Polinésia Francesa. A ASP faz um evento do
WQS, que não tem muito brilho, em 1997. É então que a Gotcha assume o Tahiti Pro em 1998 e 1999;
nesses eventos, Teahupoo cimenta sua reputação como a onda mais pesada do mundo. Em 1999 o
floridiano Cory Lopez rema para dentro de um tubo monstruoso e mortal que estabelece um padrão
elevado. Em agosto de 2000, apenas algumas semanas após a morte de um surfista local, Briece
Taerea, encontrado naquele recife, Laird Hamilton aparece perseguindo um gigantesco swell do
hemisfério sul no mesmo lugar que agora é conhecido mundialmente como Teahupoo. Laird é rebocado
para ‘dentro de uma situação de vida ou morte, numa onda maciça, que provoca conversas e referências
até hoje: “O que pode ser mais pesado do que isso?”, pergunta Matt Warshaw em comentário para a
narração do filme Riding Giants (No limite da emoção). Surfistas como Raimana van Bastolear, Shane
Dorian, Andy Irons e Garret McNamara têm tentado responder a essa pergunta desde aquele dia.

11 DE SETEMBRO, 2001 A DEZEMBRO, 2005

PREÇO DO PETRÓLEO

O preço de um barril de petróleo bruto flutuou de pouco mais de US$ 10 até quase US$ 70,
desde 1947, mas desde 11 de setembro o preço voltou a subir e quase atingiu sua marca máxima de
US$ 70. O mercado de blocos de poliuretano depende profundamente dos produtos petroquímicos, e é
difícil mensurar que efeitos esses aumentos de preços tiveram.

CLARK FECHA AS PORTAS

Em 5 de dezembro de 2005 – um dia que viverá na infância – Gordon Clark envia um texto de
sete páginas por fax anunciando o imediato fechamento da Clark Foam. Isso coloca a indústria de
pranchas de surf em uma louca batalha, totalmente desordenada, para tentar suprir um vácuo de
demanda de quase 400 mil blocos de poliuretano por ano. Desde aquela data, mais do que uma dúzia de
empresa de blocos se atirou neste mercado.

(... a evolução continua)

Fonte: MARCUS, Ben. A História da Prancha. Revista Alma Surf. #39 Julho/Agosto 07. Ano 7. São
Paulo: Cosmmos do Brasil Produção Editorial.

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