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PRODUÇÃO DE CANOAS NA AMAZÔNIA

O rio Arapiuns nasce na divisa dos estados do Amazonas e do Pará. São


quase quatro horas de barco, saindo de Santarém pelo rio Tapajós. Além da
natureza abundante e com cenário de cartão postal, a região do Arapiuns
abriga 68 comunidades, sendo São Pedro é a maior delas, com cerca de 200
famílias que vivem do artesanato e da pesca.
A matéria-prima principal usada pelos artesãos é a palha de tucumã. É uma
tradição da comunidade de São Pedro. A partir dela são produzidas bolsas,
bijuterias e utensílios para o lar. "A gente tesce, às vezes a gente tem
encomendas e é uma renda que entra para a família", explica o artesão
Rivelino Viana.
A paisagem bucólica e tranquila tem sido procurada por várias pessoas
interessadas em relaxar, se divertir e aproveitar os pratos típicos da região. É
um destino indicado também aos fãs do ecoturismo. "Quem é da terra, do
Brasil, na verdade, acaba não conhecendo essa beleza daqui, que é natural",
conta a psicóloga Gabriela Fortes.
A comunidade de Curi está localizada na margem direita do Rio Arapiuns,
tendo como vizinhas as vilas de São Pedro e Camará. É formada por 127
famílias que vivem da agricultura e, principalmente, da carpintaria
artesanal. Produção de canoas, botes, bajaras e pequenos barcos que são
trazidos e vendidos em Santarém ou mandados para outros municípios
vizinhos.
Nos últimos anos os ribeirinhos vêm encontrando barreiras que os
impedem de continuar mantendo sua atividade, base da economia local.
Dentre esses obstáculos, os dois principais merecem destaque: falta de
matéria prima (madeira) e a dificuldade de introdução do produto no
mercado devido a baixa procura por parte do setor pesqueiro do Município.
Desde a suspensão do Seguro Defeso dos pescadores artesanais no final
de 2015, os pescadores estão mais cautelosos no momento de fechar o
contrato de compra e venda devido às inconstâncias do benefício. Essa
insegurança acaba influenciando em outros setores, como é o caso dos
carpinteiros do Arapiuns que precisam vender seus produtos para
manterem sua fonte de renda.
“As vezes pegamos uma encomenda, vamos para a comunidade e
conseguimos a madeira para fazer, mas quando chegamos aqui o
pescador não tem o dinheiro para pagar, ou quer trocar em peixe, ou quer
pagar aos pouquinhos. Não podemos trabalhar assim porque não dá pra
cobrir nossas despesas”, desabafa o carpinteiro Francisco Pereira.
Outro problema citado pelos comunitários é a falta de madeira para a
fabricação do serviço. A matéria prima disponível na região está
centralizada dentro da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns (Resex) e só
pode ser beneficiada dentro da própria reserva. Ocorre que a Reserva está
localizada à margem esquerda do Rio Arapiuns, enquanto que as
comunidades que vivem da carpintaria artesanal estão na margem direita.
O ICMBio não permite que a madeira atravesse o rio.
Sobre este obstáculo, o carpinteiro Antonio Pereira acredita que “se nos
uníssemos com as outras comunidades que também vivem da carpintaria
artesanal e que precisam da madeira, como é o caso das vilas de Camará
e Cachoeira do Aruã, talvez conseguíssemos uma autorização legal para
fazer com que essa madeira chegue até nossos estaleiros. Pelo fato de
que não produzimos em grande escala, só para nosso sustento”.
“Não somos só nós carpinteiros que estamos sendo prejudicados pelo
ICMBio. Muitas comunidades de dentro da reserva viviam somente do
corte da madeira para repassar para as outras comunidades que faziam as
obras. Esses comunitários não sabem fazer canoas. Agora eles também
não podem mais fazer este serviço porque não podem atravessar o rio
para entregar a madeira. Enquanto que grandes empresários tiram toda a
madeira disponível dos limites da reserva e levam para Belém. E o ICMBio
faz vista grossa para as balsas que passam aqui em Santarém com essa
madeira para Belém. Não sabemos se isso é legal, porque as balsas só
passam durante a noite”, diz seu Francisco.
Os ribeirinhos temem que daqui a alguns anos não se tenha mais de onde
tirar recursos para a manutenção de suas rendas. Devido a escassez da
matéria prima e as dificuldades enfrentadas para chegar onde esta matéria
está centralizada.
Enquanto isso, famílias que antes viviam da carpintaria artesanal estão
voltando suas atividades para a agricultura familiar. No intuito de continuar
sustentando suas famílias e na esperança de que a situação se resolva e a
comunidade possa voltar a ser referência na atividade da carpintaria
artesanal, da qual tanto se orgulham.
'APOSTO QUE JÁ PASSOU DE MIL', DIZ CARPINTEIRO QUE HÁ 68
ANOS FAZ BARCOS - 27/11/2012 09h00 - Atualizado em 27/11/2012
09h00
Larissa MatarésioDo G1 RO

Botes e canoas são as especialidades de Manoel Davi - Preços variam pelo


tamanho e qualidade da madeira.

Monteiro, que já construi mais de mil barcos, diz que só continua na


profissão quem tem amor pela arte da carpintaria naval (Foto: Larissa
Matarésio/G1)

Há 68 anos construindo embarcações, Manoel Davi Monteiro afirma que


perdeu as contas de quantos barcos já fez. "Quando eu trabalhava com
embarcações grandes, fiz mais de 30 'batelão'. Mas hoje só faço canoas e
botes, porque só tenho um ajudante. Não contei, mas aposto que já passou
de mil", enumera Monteiro, que se mudou para Rondônia há 42 anos e
durante todo este tempo vive dos barcos que constrói.
Aos 75 anos, Monteiro contou ao G1 que começou a construir barcos com 12,
e garante que só fica na profissão quem tem amor pela arte. "Eu aprendi com
um tio meu. Antes disso tentaram me ensinar a ser torneiro mecânico, mas eu
não gostava daquele monte de graxa. Com a madeira, não. Gostei desde a
primeira vez que trabalhei com ela", lembra.
Nascido em Manaus (AM), ele saiu de casa aos 18 anos para ser motorista
de voadeira - uma espécie de embarcação - na Petrobras. Foi trabalhador da
construção civil durante um tempo, mas diz que nunca largou a construção
naval. "Gosto demais disso, de aplainar a madeira, de construir as peças.
Tem que gostar mesmo de fazer isso, senão o cara muda de profissão",
ressalta.

O carpinteiro leva, em média, cinco dias para construir um bote e chega a vender
seis por mês (Foto: Larissa Matarésio/G1)

De acordo com Monteiro, por mês são construídos seis botes. Cada um leva
em torno de cinco dias para ser construído e o preço depende do tamanho e
do tipo de madeira utilizada. "O bote é maior que a canoa e aguenta um motor
de popa. Um [bote] de madeira branca, com sete metros de comprimento por
1,2 de largura custa em torno de R$ 700. Mas isso só porque é madeira
branca, se fosse itaúba - madeira mais nobre - custaria uns R$ 1,5 mil",
afirma.
Atualmente a 'fábrica' está instalada em frente à casa em que mora, na
calçada. "Antes eu trabalhava em um barracão alugado, mas aí pediram o
terreno e eu instalei meu negócio aqui. É ruim, o espaço é pequeno, mas eu
só me mudaria daqui se fosse para construir [uma casa] na beira do rio, mas
com o desbarrancamento que está acontecendo lá, isso é impossível agora",
lamenta o carpinteiro naval.

Há 68 anos Monteiro constrói barcos e diz que já perdeu as contas de


quantos foram (Foto: Larissa Matarésio/G1)
Ele conta também, que nos últimos anos tem tido dificuldade em encontrar
madeira para construir canoas e botes em Rondônia. "Quando a gente
encontra, tem que comprar um bom estoque para durar", diz. Segundo
Monteiro, assim que chegou no estado, a matéria prima era fácil. "Antes não
existia essa preocupação com meio ambiente, reflorestamento. A gente ia no
quintal e cortava árvore para construir, hoje é mais difícil", explica.
O carpinteiro naval, como ele gosta de ser chamado, utiliza principalmente
madeiras da espécie itaúba, louro, cedro e madeira branca. "Só consigo fora
de Porto Velho, em Calama [distrito] e Manicoré [AM], principalmente. E
compro de gente certificada", ressalta Manoel.

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