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por exemplo), como uma nova com o modelo empregado na Os militares na política - as

identificação mais definitiva União Soviética), justamente mudanças de padrões na vida


(permanência do capitalismo) · pelo fato de ser uma opção de brasileira
com o novo contexto de refe- desenvolvimento em paralelis-
rências. mo não-antagônico com a mo- Por Alfred Stepan, Trad. ltalo
A terceira e última parte dernização. Neste n fvel de aná- Tranca do original americano:
aborda os aspectos antagônicos lise, a sociologia é colocada The military in politics. Rio de
à modernização (contramoder- como assumindo um papel his- Janeiro, Editora Artenova S.A.,
nização, demodernização), com tórico de "filosofia do não", 1975. Copyright The Rand
maior destaque, mais uma vez, cuja função específica é trazer à Corporation.
para as perspectivas oferecidas tona os problemas cruciais de
pelo Terceiro Mundo. Os auto- desenvolvimento. A procura de
res procuram colocar-se numa alternativas, no entanto, é refe-
linha não-funcionalista, racio- rida a nível de instituicões (e
nal, ou moderna; procuram este ponto é fundamental à
identificar quais formas assume medida que revela a opinião dos
o aprendizado de demoderni- autores sobre produção de co-
zação, reduzindo-as a um obje- nhecimento), e do conhecimen-
tivo por eles chamado de to por elas produzido, legiti-
"neomfstico", integrante do mado e difundido. Lamentam
conhecimento pré-teórico, e apenas os autores, o fato de que
não uma ideologia propriamen- as ciências sociais estejam divi-
te dita. Quaisquer que sejam as didas entre duas correntes, as-
diversas correntes contramoder- sim caracterizadas: cientificismo
nizantes, todas elas convergem pedante (Skinner), e utopismo
de maneira geral contra a ra- messmn1co (Guevara), sendo
cionalidade funcional que mol- que ambas levam cientifica-
da a realidade atualmente. No mente a um tipo qualquer de
entanto, existem limites de totalitarismo. Ao mesmo tempo
demodernização resultantes das que estas conclusões procuram
estruturas at uais do conheci- sintetizar o espírito na obra, Parte 1: O militar na polftica:
mento, das solicitações institu- elas dão mostra das intenções fundamentos institucionais
cionais, nem sempre direcionais dos autores de afirmar uma ca-
à reversão do status. No Tercei- racterização de produção e Nesta parte analisam-se aspectos
ro Mundo, a contramoderniza- transmissão de conhecimento institucionais, organizativos e
ção atua muito mais reforçada por um processo de institucio- sociais do Exército brasileiro. A
pela presença maciça de padrões nalização, qualquer que seja, perspectiva do autor é a de que
culturais tradicionais; além do mas pratic~mente irreversível e a análise desses aspectos insti-
que, a estrutura de conheci- insubstitu ível. • tucionais não é suficiente para
mento destes pa rses ainda não explicar o comportamento po- 87
está definitivamente assentada Ol ivier Udry lítico dos militares. De seu pon-
em instituições, podendo obser- to de vista teórico, as Forças
var com mais cu idado as expe- Armadas devem ser encaradas
riências dos países mais avan- como instituição pol ftica, o
çados, calcados neste modelo. subsistema militar é parte inte-
Neste aspecto, a liderança pol r- grante do sistema político e está
tica bem direc ionada poderá sujeito às mesmas pressões que
propor um modelo de desenvol- atuam sobre ele.
vimento adequado às aspirações No primeiro capítulo, o
d a sociedade como um todo. autor analisa inicialmente a es-
trutura de recrutamento das·
As conclusões "pol fticas" Forças Armadas brasileiras e
propostas pelos autores mos- constata que, tradicionalmente,
tram que o socialismo não pode o Exército seguiu a polftica de
ser colocado como perspectiva recrutar conscritos em zonas
determinante para os pafses do tão próximas quanto possível
Terceiro Mundo. (Aliás, a idéia de cada guarnição e isso con-
de socialismo parece coincidir 1 u tribui para manter neles uma

Resenha bibliográfica
mentalidade regional e não leva e estratégica. A fragmentação latino-americana, passa a definir
a uma orientação nacional. das unidades militares e sua o modelo moderador, que pro-
E qua nto aos soldados e grande dispersão estão ligadas põe como típico das . relações
of iciais de carrei ra? Ajustam-se historicamente ã necessidade de entre civis e militares da Amé-
à imagem do mil itar p rofissio- maior controle da população. rica Latina: militares altamente
nal, sem laços com sua região de Além disso, essa fragmentação politizados, inc lus ive manifes-
origem? Stepan co nsidera que levou a um a dispersão muito tando grande heterogeneidade
o Exército brasile iro possui al- grande d o pode r de dec isão en- de orientação pai ítica, porém
gumas das característ icas de re- · tre os militares. tentando manter a unidade ins-
crut amento próprias de uma Quanto ã extração social do titucional em interação com eli-
milícia estadual; os oficiais pre- Exérci to b rasi leiro, analisada no tes pai fticas que t entam coop-
ferem servir em suas regiões de terceiro cap ítul o, o autor con- tá-los, sejam grupos situacio nis-
origem para ficar próximos às clui que a oficialidade provém tas, sejam oposicionistas. Além
famíli as e não existe um sistema prepo nderantemente da classe de t entar cooptar os militares,
cent ralizado de recrutamento média; que há baixo recruta- essas mesmas lide ranças polí-
que selecione para as Forças mento nas classes altas e baixas, ticas legitimam a interve nção
Armadas uma amost ra represen- e que, devido ao aumento das· mil itar em momentos de crise,
tativa da popul ação. Cada un i-. exigê ncias educacionais da Aca- exercendo um papel de árbitros.
dade militar recruta seus p ró-. demia Militar de Agulhas Negras Solucionada a crise, as lide ran-
prios integrantes na região ci r- e ã inca pacidade do sistema ças pai fticas latino-americanas
cunvizinha. educacional brasileiro de aten- esperam a volta dos militares
. Essa estrut u ra de recruta- der à explosão demográfica, aos quartéis e não legitimam o
mento tem grande importânc ia houve pequeno aumenta do re- exercício do poder pelos mili-
pai ftica, po is a base local do crutamento nas classes baixas, tares de forma duradoura.
Exército bras ileiro, somada ao nas últimas décadas. Analisa a seguir os aspectos
fato de que os gove rnadores es- Apesar de peítencerem à civis do padrão moderado r, ou
tadu ais sempre se escudaram classe média, os oficiais brasi- seja, a forma pela qual tanto o
nas milícias de seus respectivos lei ros atribuem a si mesmos a governo, quanto seus partidá-
estados, preci pitou em várias característica de "estrato des- rios e opositores apelam para a
ocasiões crises de lealdade que vinculado, relativamente sem intervenção militar no processo
fragmenta ram seções inteiras do classe" que "resume em si todos pai ítico, e mais do que isso,
Exército nacio nal: 1930, 1932, os interesses sociais", que tentam usá-lo como instru men-
1961. Por isso, não é poss ível Mannheim atribui à intelli- to de ação pol ftica.
partir do p ressuposto de que a gentsia. Essa visão de si mesmos,
instituição castrense, devido ã como desvinculados de classe, Da análise acima depreende
sua missão e organização espec f- leva os militares a legitimar sua que a atitude dos civis para com
ficas, é uma instit uição perfei- intervenção pai ítica: são os mais os militares pode ser tanto ou
tamente unificada e de orienta- adequados para atuar em defesa mais im po rtante que a própria
ção exclusiva me nte nacional. dos interesses nacionais. ·ideologia e objetivos castrenses
88 na determinação da · dinâmica
Em seguida, no segu ndo dos golpes militares na Amé rica
Stepan nega a tese de que a
capítulo, o autor analisa a Latina. A partir dessa constat a-
origem social é o determinante
mag nitude do efetivo das For- ção básica, formu la duas hipó-
fu ndamental do comportamen-
ças Armadas e su a importân-
to político do militar e afirma teses que explicari am o funcio-
cia pai ftica. Nega a proposição namento do modelo modera-
que os aspectos institucionais,
de qu e o poder mil ita r é funç ão dor:
organizacionais e burocráticos
de sua magnitude nu mérica e
das Forças Armadas têm grande a) a propensão dos militares
afirma que, freq üent emente, as
peso na determinação do com- para intervir politicamente au-
variáveis pai ít icas são muit o
portamento pai ftico dos mil i- menta quando diminui a coesão
mais important es do que a
tares_
qu antidade de efet ivos mi litares das elites clvis e \/ice-ve rsa;
na determinação do papel que Parte li : O "padrão mode rado r" b) os golpes militares t endem a
cumprem as Forças Armadas na das rel ações entre civis e mil ita- ser vitoriosos quando há eleva-
soc iedade. res: Brasil, 1945-1964 do grau de legitimidade outor-
Com relação ao Brasil, afir- Depois de traçar uma tipologia gada por civis de relevância po-
ma que a dispersão geográfica de modelos de relações entre lítica à intervenção militar e re-
do Exército sempre refletiu civis e militares, que segundo o duzida legitimidade outorgada
considerações de ordem pai rtica autor não se adapta à realidade por esses mesmos civis ao gover-

Revista de Administração de Empresas


no vigente. os·· golpes tendem a Iítico das Forças- Armadas brasi- tad-a do qu·e arites, qu-a ndo não
fracassar nas condições inversas. leiras. Mostra como a Doutrina tinha a responsabilidade do po-
de Segurança Nacional, elabo- der político.
Tenta comprovar suas hi- rada pela ESG, é a ideologia Essa fragmentação mostra-
póteses, no primeiro caso, rela- propulsora de uma nova con- se claramente no problema su~
cionando o grau de coesão das· cepção do papel político dos ·cessório, que o autor analisa no
elites políticas da Primeira Re- _ militares frente ao desenvolvi- ·càp-ltulo i ( 'ãssi-m como a des-
pública e a participação militar mento nacional, e, em última - continuidade entre os Governos
no processo político, e, no se- instância, como ela é a ideologia Castelo Branco e Costa e Silva.
gundo caso, analisando os gol- propulsor~ da revolução de 64. · Indaga se essa descontinuidade
pes militares de 1945, 1954, se deve basicamente a experiên-
1955, 1961 e 1964 no Brasil. Descreve a seguir a conjun-
cias de carreira diversas entre os
Verifica que os golpes triunfan- tura política do Governo João
assessores dos dois presidentes.
tes de 1945, 1954 e 1964, con- Goulart e a tomada do poder
Após examinar minuciosamente
tra o Poder Executivo, ocorre- pelos militares.
a formação dos principais asses-
ram quando houve baixo grau Parte IV: Os militares brasileiros sores de Castelo Branco, conclui
de legitimidade desse poder e al- no poder, 1964-196a': um es- que eles viveram uma experiên-
to grau de legitimidade dos mi- tudo de caso dos problemas po- cia militar atrpica que os levou
litares para interferir, ocorrendo 1íticos do governo militar a uma orientação pol ftica tam-
a situação oposta por ocasião bém atípica e que os distingue
dos golpes frustrados de 1955 e Ao analisar os primeiros anos
da maioria da oficial idade brasi-
1961. do regime militar brasileiro, o
leira, assim como da orientação
autor pretende questionar a tese
·política do Governo Costa e
Parte 111: A ruptura do ''padrão de que as Forças Armadas, por
Silva._
moderador" das relações entre suas características organiza-
Este, embora não expres-
civis e militares e a emergência cionais e tecnológicas, consti-
sasse diretamente as posições
do governo militar tuem poderoso instrumento de
dos nacionalistas autoritários
desenvolvimento econômico e
Buscando os fatores determi- mais jovens (comumente deno-
político. Não tem o objetivo de
nantes da ruptura do padrão minados "I in h a dur.a "), "emer-
examinar detalhadamente os
moderador com a revolução de giu como I rder porque era con-
programas políticos e econô-
1964 no Brasil~ Stepan pretende siderado simpático aos desejos,
micos da primeira fase da revo-
mostrar, em primeiro lugar, a algo inarticulados, mas podero-
lução, mas a ênfase de sua aná-
relação básica que existe entre a sos, de um governo mais mili-
lise recai sobre o estudo do go-
mudança do papel pol ftico dos ~

verno militar na medida em que tante e autoritário e de uma


militares e as mudanças globais posição menos pró-americana e
afetou a organização interna e
do sistema político-econômico mais nacionalista". (p. 182)
os propósitos da própria insti-
brasileiro. Caracterizadas essas Finalmente, no último ca-
tuição .mili~ar.
mudanças, o autor passa a des- pítulo, analisando as Forças Ar-
crever o efeito que elas pródu- Depois de mostrar o desgas- madas como instituição e o con-
zem nas F orças Armadas brasi- te da coalizão cívico-militar que traste com o papel que cum-
leiras: o temor da destruição do fez a revolução, e a perda de prem no governo, conclui que
quadro de oficiais (a influência apoio civil, o autor constata que elas entraram em luta com os
da revolução cubana nesse te- os novos padrões de relações próprios militares que exercem
mor); o ativismo polftico dos cívico-militares implicam novas diretamente o governo, a ponto
sargentos e suas ligações com os exigências para as Forças Ar- de criar uma fonte básica de ·
sindicatos; a politização dos madas: unidade institucional e instabilidade. •
padrões de promoção; a cres- consenso em torno de um pro-
cente rejeição dos Iimites tradi- grama pol (tico-econômico. A Maria Cecilia Spina Forjaz
cionais à ação militar. inexistência desses dois requisi- ·
tos principais cria profundas
Em segundo lugar, Stepan divergências tnter-nas· ria -o rgan i-
analisa o desenvolvimento de zação militar e produz um regi-
uma nova ideologia castrense na me que, além de autoritário, é.
Escol a Superior de Guerra, bastante instável politicamente.
como determinante básico do A e'xclusão dos civis não elimina
esgotamento do padrão mode~ a lidivisibilidade da política"
radar e do surgi menta de novos que penetra a instituição militar
padrões de comportamento po- e torna-a muita mais fragmen-

Resenha bibliográfica

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