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Índice

Introdução.............................................................................................................................................2

Objectivos..........................................................................................................................................2

Geral..............................................................................................................................................2

Específicos.....................................................................................................................................2

Metodologia do Trabalho...................................................................................................................2

1. O Papel do Ministério Público na preservação do meio ambiente.................................................3

1.1. Evolução do Ministério Público em Moçambique.................................................................3

1.2. Funções ou Competências do Ministério Público..................................................................8

1.2.1. O papel do Ministério Público na defesa do meio ambiente...........................................8

CONCLUSÃO.....................................................................................................................................12

BIBLIOGRAFIA.................................................................................................................................13

1
Introdução
O presente trabalho de pesquisa se enquadra no tema relativo à defesa do meio ambiente pelo
órgão público cujas atribuições se circunscrevem na defesa da legalidade na ordem jurídica,
estamos a falar do Ministério Público. O Ministério Público é o órgão do Estado responsável
pela defesa da legalidade democrática que inclui a preservação do meio ambiente como
interesse colectivo da comunidade. Sobre isso, irei debruçar neste pequeno ensaio do Direito
do Ambiente. Falarei antes de mais da evolução do ministério público em Moçambique, dos
conceitos mais basilares envolventes ao tema e, por fim, me debruçarei, como deve ser, do
papel do Ministério Públicos.

Objectivos

Geral
 Descrever o papel do Ministério Público na preservação do meio ambiente

Específicos
 Fazer uma breve resenha da evolução do Ministério Público em Moçambique

 Trazer uma radiografia das funções do Ministério Públicos dentro da ordem jurídica
moçambicana

 Discutir o papel do Ministério Público no que tange à preservação do meio ambiente

Metodologia do Trabalho
A realização deste trabalho foi graças ao cruzamento de fontes bibliográficas brasileiras,
moçambicanas e portuguesas da área em pesquisa.

2
1. O Papel do Ministério Público na preservação do meio
ambiente

1.1. Evolução do Ministério Público em Moçambique


Existem grandes controvérsias entre os autores sobre a verdadeira origem do Ministério
Público. As vezes a sua origem é procurada quer no direito romano, quer no direito grego1.

A origem está há mais de 4 mil anos no Egipto, na figura do funcionário real, conhecido
como magiaí, pois este era “língua e os olhos do rei”, exercia o papel de castigar os rebeldes,
reprimir os violentos e proteger os cidadãos pacíficos, fazia ouvir as palavras de acusação,
indicando as disposições legais que se aplicavam ao caso e, após, tomava parte das instruções
para descobrir a verdade.

A análise dessa corrente que vê no Egipto a origem do Ministério Público é feita através da
atenção que o Egipto dava ao Direito Processual, fazendo nascer aí uma função tipicamente
fiscalizadora.

Entretanto, há autores que acreditam que a origem mais apropriada vem do Direito Francês. A
origem do Ministério Público, mais precisa da instituição, vem do direito francês, na figura
dos ‘procureur du roi’ (procuradores do rei), nascendo e formando-se no judiciário francês.
Na França, era vedado que os Procuradores do Rei patrocinassem quaisquer outros interesses
que não os da coroa, devendo prestar o mesmo juramento dos juízes.

Foi a Ordenança de Março de 1302 de Felipe IV, chamando de o Belo, Rei da França, o
primeiro diploma legal a tratar dos Procuradores do Rei3.

Os reis demonstravam, através de seus actos, a independência que o Ministério Público tinha
em relação aos juízes, constituindo-se em verdadeira magistratura diversa da dos julgadores,
pois os Procuradores do Rei dirigiam-se aos juízes do mesmo “assoalho” (‘Parquet’ em
francês) em que estes estavam sentados, porém o faziam de pé. Daí a expressão cunhada ao
Ministério Público de que ele era a Magistratura de pé.

A Revolução Francesa estruturou com maior adequação o Ministério Público, enquanto


Instituição, ao conferir garantias a seus integrantes.

1
RODRIGUES, Cunha, Em nome do Povo, Coimbra Editora, Coimbra, 1999b, p.36
3
Contudo, foram os textos napoleónicos, em especial o Código de Instrução Criminal e a Lei
de 20 de Abril de 1810, que efectivamente instituíram o Parquet.

A independência funcional do Ministério Público tem raízes históricas, pois em 1879 a Corte
de Cassação Criminal declarava de forma definitiva que os membros do Ministério Público
eram totalmente independentes em relação às cortes e aos tribunais perante os quais
funcionavam, não havendo nenhuma subordinação perante os magistrados que actuavam
sentados, muito menos podiam os Procuradores do Rei sofrer qualquer censura ou crítica dos
tribunais.

Daí pode-se notar que a independência funcional do Ministério Público também adveio do
Direito francês, que deu uma estrutura mais adequada à instituição2.

Pode-se verificar que a origem do Ministério Público no nosso ordenamento jurídico está
mais próximo ao Direito francês.

A Constituição da República Popular de Moçambique de 1975 criou a figura do Ministério


Público (MP) consagrado no Capitulo VI dedicado à organização judiciária do país que
tratava essencialmente dos tribunais, dedicando ao MP apenas um artigo 66, que prevê a
existência junto dos tribunais de magistrados do MP a quem caberia a representação do
Estado, bem assim consagrava a responsabilidade do Procurador-Geral da República (PGR)
perante a Assembleia Popular. O Ministério Publico não se encontrava definido, consagrado
como uma magistratura, e diferentemente dos tribunais cuja organização judiciaria respectiva,
composição e competências, a constituição remetia para a lei da organização judiciária. No
caso do MP a constituição não previa qualquer regulamentação legal e não existia uma lei
avulsa que o regulamentasse, prevendo-se tão-somente, como alias já se referiu
anteriormente, por um lado, a existência de magistrados do MP junto dos tribunais a quem
caberia a representação do Estado, e por outro lado, a responsabilidade do PGR perante a
Assembleia Popular, que nos termos do artigo 37 da CRPM de 1975 era o órgão supremo do
Estado e órgão legislativo mais alto a então Republica Popular de Moçambique.

A consagração formal do Ministério Publico na Constituição foi feita na 3ª Revisão da CRPM


feita pela então Assembleia Popular através da Lei 11/78, de 15 de Agosto, definindo-o como
2
GARCIA, Monique Julien, A Origem do Ministério Público e Sua Atuação no Direito Comparado- Origin of
the Public Prosecution And Its Performance in Comparative Law, in Revista Jurídica da Escola Superior do
Ministério Publico de São Paulo, Vol.II, São Paulo, 2012, pp.134-135, disponível em
www.esmp.sp.gov.br/revista_esmp/index.php/RJESMPSP/article/view/44/27, visitado em 11 de Setembro de
2017
4
uma magistratura hierarquicamente organizada subordinada ao Procurador-Geral da
Republica. Entretanto, a magistratura do MP era considerada vestibular e não uma carreira
autónoma, sendo que a Lei 12/78, de 2 de Dezembro, a Lei da Organização Judiciaria,
dedicou o capítulo IV ao MP, sendo o artigo 41 da sua definição e natureza. Ora, a Lei 6/89,
de 19 de Setembro veio a extinguir a Procuradoria da Republica e criou a Procuradoria-Geral
da Republica, sendo esta um órgão central do Estado, gozando de autonomia em relação aos
demais órgãos do Estado, caracterizando-se tal autonomia pela vinculação a critérios de
legalidade, objectividade, isenção e pela sujeição exclusiva da magistratura e agentes do MP
as directivas e ordens previstas na lei, mesmo assim o legislador não foi capaz de consagrar,
pelo menos em termos expressivos e inequívocos, o MP como magistratura e a PGR como
seu órgão superior, de tal modo que ao invés de prever os órgãos do MP como magistratura,
consagrou-o como demais órgãos centrais e locais da PGR, assim como o seu aparelho
central. Com base nesta lei, a magistratura do MP torna-se autónoma e paralela à judicial,
deixando assim de ser vestibular relativamente a esta, pelo que em rigor a magistratura do
MP como tal e como carreira surge com a aprovação e entrada em vigor da citada lei.

O PGR era nomeado e demitido pelo Presidente da República (PR) nos termos do artigo 48,
al.e) da CRPM na sua versão original e nos termos do artigo 54, al.d), na sua 5ª revisão,
introduzida através da Lei 4/86, de 25 de Julho. Os magistrados a nível provincial e distrital
eram denominados de delegados do Procurador da Republica (artigo 43,alínea c) da Lei
12/78, de 2/12), eram nomeados pelo Ministro da Justiça, nos termos do artigo 49/, 2 do
mesmo diploma legal, o que, de certo modo, colocava em causa a independência e autonomia
da magistratura do MP em relação ao poder executivo em matéria de autogoverno ou gestão.

A Procuradoria da Republica como instituição ou serviço estava, na altura, na dependência do


Ministério da Justiça que superintendia a própria Procuradoria da Republica e nos serviços
dela dependentes, nos termos dos arts. 14 e 15 ambos do Decreto 1/75, de 27 de Julho3.

Já na CRM de 1990, não se consagra um tratamento específico ao MP enquanto magistratura


antes o cap.VII dedicado à PGR. No artigo 178/1 da CRM/90, consagra-se a mesma definição
e natureza anterior do MP, de acordo com a 3ª revisão constitucional. E no nº 2 do referido,
manteve-se a redacção das funções tal como fazia a Lei 6/89, de 19 de Setembro.

3
CUNA, Ribeiro José, O Ministério Publico, Centro de Formação Jurídica e Judiciaria-Ministério da Justiça,
Kapicua, Livros e Multimédia, Lda., Maputo, 2011, pp.37-42
5
Com o multipartidarismo introduzido pela CRM, torna-se inconstitucional a tarefa da defesa
dos bens do partido FRELIMO junto dos tribunais conforme consagrava o art. 4/2, d) da Lei
6/89.

O PGR e o Vice-Procurador-Geral são nomeados, exonerados e demitidos pelo PR no


exercício da sua função de Chefe de Estado, sendo que o PGR respondia perante o Chefe do
Estado e prestava informação anual a AR (artigo 120, h) e art. 176/3 da CRM) nos termos do
art. 176/3, 2ª parte da CRM, o PGR prestava a Assembleia da Republica informação anual
das suas actividades. Os Procuradores-Gerais Adjuntos (PGA’s) eram nomeados, exonerados
e demitidos pelo PGR, ouvido o Conselho Superior da Magistratura do Ministério Publico
(CSMMP) nos termos do artigo 174/4 da CRM/90. Os membros do MP a nível de província e
distrito já eram nomeados pelo PGR (artigo 9, alínea i) da Lei 6/89, de 19 de Setembro).

A grande inovação veio com a CRM de 2005 (muito conhecida por CRM/2004) que dedica o
seu Título X ao MP, dado a sua definição e natureza; consagrando as suas funções;
consagrando o CSMP como órgão de gestão e disciplina; referindo-se à nomeação dos PGA’s
bem como nomeação, mandato e casos de cessação de funções do PGR e do Vice-PGR.

Com a consagração em 2007 da Lei 22/2007, que aprovou a Lei Orgânica do Ministério
Público (LOMP), o MP é uma magistratura hierarquicamente organizada, subordinada ao
PGR (artigo 234/1 da CRM, art.1/1 da LOMP). Assim, os magistrados do MP ficam
subordinados ao PGR, os de escalão inferior aos seus chefes, de quem podem receber
directivas, ordens e instruções, por causa da observância são responsáveis, contanto as
mesmas sejam legais (arts. 51/1, 52/1, 2 e 3 e 53/1 da LOMP).

Em termos de autonomia, o MP tem autonomia administrativa e funcional, na medida em que


possui serviços administrativos próprios ao nível do seu órgão superior, a PGR, cuja garantia
de planeamento, orientação, coordenação e execução compete ao Secretariado-Geral, cuja
estrutura orgânica comporta áreas de apoio à actividade do MP e questões de natureza
burocrática, administrativa, de gestão financeira, do pessoal e patrimonial (artigo 2/2 e 3 da
LOMP). O MP torna-se autónomo dos demais órgãos do Estado, diferentemente da época
anterior em que a PGR é que era autónoma.

Alargam-se as suas competências, no caso as de actuação judicial e extrajudicial (art. 4/1 da


LOMP).

6
A Lei 6/2004, de 17 de Junho cria o Gabinete Central de Combate à Corrupção (GCCC)
subordinado ao PGR com funções, entre outras, de conduzir inquéritos e investigações com
base em queixas e denúncias, quando haja indícios de crime de corrupção, bem como
promover a instrução preparatória dos processos-crime.

Em 2017, outra inovação a nível legislativo concernente ao MP torna-se evidente com a


aprovação da Lei 4/2017, de 18 de Janeiro que aprova de forma unificada a LOMP e o
Estatuto dos Magistrados do MP (EMMP). Entre muitas inovações, em termos de autonomia,
o Ministério Público goza de autonomia nos termos da Constituição da República e da
presente Lei. A autonomia do Ministério Público caracteriza-se pela vinculação aos princípios
de legalidade, objectividade, isenção e pela exclusiva sujeição dos magistrados do Ministério
Público às directivas e ordens previstas nos termos da presente Lei. Ao Ministério Público é
assegurada autonomia funcional e administrativa, cabendo-lhe: a) orçamento próprio, com os
limites fixados nos termos da lei orçamental; b) propor ao Governo, através do Ministro que
superintende a área da Justiça, a criação e extinção dos seus cargos e serviços, bem como a
fixação das remunerações dos seus magistrados, oficiais de justiça e funcionários; c)
organizar os serviços internos; d) praticar actos de gestão própria (arts. 2 e 3 da Lei 4/2017).

Em relação aos órgãos do MP, A estrutura do Ministério Público compreende a Procuradoria-


Geral da República, como órgão superior, e os seguintes órgãos subordinados: a) o Gabinete
Central de Combate à Corrupção; b) as Sub Procuradorias-Gerais da República; c) as
Procuradorias Provinciais da República; d) as Procuradorias Distritais da República.

São órgãos colegiais do Ministério Público o Conselho Superior e o Conselho Coordenador.

Para além dos órgãos do Ministério Público descritos no número 1, podem ser criados outros
em diferentes escalões, de acordo com o que for estabelecido na Lei de Organização
Judiciária.

Os órgãos do Ministério Público podem organizar-se em departamentos, e estes em secções


de competência genérica ou especializada (artigo 9 do mesmo diploma legal).

1.2. Funções ou Competências do Ministério Público


Nos termos do artigo 236 da CRM, são funções do MP representar o Estado junto dos
tribunais e defender os interesses que a lei determina, controlar a legalidade, os prazos das
7
detenções, dirigir a instrução preparatória dos processos-crime, exercer a acção penal e
assegurar a defesa jurídica dos menores, ausentes e incapazes. E nos termos dos arts. 1/1, 4 da
Lei nº 4/2017, de 18 de Janeiro 4, a Lei Orgânica do Ministério Público e Estatuto dos
Magistrados do Ministério Público (LOMPEMMP), compete ao MP, entre outras funções,
defender o interesse público e os direitos indisponíveis, defender os interesses colectivos e
difusos.

1.2.1. O papel do Ministério Público na defesa do meio ambiente


A Constituição prevê no artigo 90/1 o direito ao meio ambiente, donde radica o devedor de
protege-lo (arts. 90/2 e 117). Nestes termos, Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de
vida, impondo-se às entidades público e à colectividade o dever de defendê-lo e preservá- lo
para as presentes e futuras gerações.

Nos termos do artigo 4, al. d) da LOMPEMMP, compete ao MP defender os interesses


colectivos e difusos. O direito ao ambiente é um direito fundamental. A doutrina entende o
ambiente não contende menos com direitos subjectivos do que com interesses difusos, com
interesses colectivos ou comunitários individualmente sentidos5.

A qualificação do ambiente como “bem de uso comum”, aliado à sua caracterização como
condição de desenvolvimento de uma vida sadia e da referência à necessidade da sua
preservação nos planos intra e intergeracional, denotam a opção do legislador constituinte
brasileiro por uma noção restrita de ambiente, que permite centrar a política ambiental, sem
embargo da sua coessencial transversalidade, na preservação e promoção da qualidade dos
bens ambientais naturais. A importância do bem ambiente levou o legislador constituinte a
inserir na norma constitucional a sancionabilidade, penal e administrativa, das condutas que o
façam perigar, em qualquer dos seus componentes. Naturalmente que a fixação legal dos
tipos penais e contra-ordenacionais deverá atender ao princípio da proporcionalidade, mas a
relevância do bem para os membros da comunidade, por um lado, e a sedução dos interesses
económicos muitas vezes em rota de colisão com a preservação ambiental, por outro lado,

4
Publicada no BR nº 10, I Série, de 18 de Janeiro
5
MIRANDA, Jorge, Escritos Vários sobre Direitos Fundamentais, 1ª edição, Principia Editora, Estoril, 2006,
p.341
8
justifica a inserção desta determinação no texto constitucional, como forma de legitimação do
legislador ordinário na sua tarefa de efectivação das normas de tutela ambiental.

Importa agora dizer que interesse como a relação que se estabelece entre um sujeito
(individual ou colectivo) e um bem que expressa a valoração que o sujeito faz como apto
para a satisfação de uma sua necessidade. O interesse assumirá a qualidade de jurídico a
partir do momento em que seja reconhecido por uma norma6

Interesse difuso é aquele que provém de grupos que se formam, mas que são menos possíveis
de ser determinados e dificilmente existirá algum vínculo entre seus membros. Trata-se de
uma manifestação da existência ou do alargamento de necessidades colectivas
individualmente sentidas; traduz um dos entrosamentos específicos de Estado e sociedade; e
implica formas complexas de relacionamento entre as pessoas e os grupos de âmbito da
sociedade política que, só podem ser apreendidos numa nova perspectiva de cultura cívica e
jurídica.

Os interesses difusos traduzem necessidades comuns a conjuntos mais ou menos largos e


indeterminados de indivíduos e que somente podem ser satisfeitas numa perspectiva. Nem
são interesses públicos, ainda que possam projectar-se, de modo específico, directa e
indirectamente, nas esferas jurídicas ou daquelas pessoas7.

Os interesses difusos correspondem a interesses jurídicos reconhecidos e tutelados, cuja


titularidade pertence a uma pluralidade de sujeitos, tendencialmente indeterminados, não
sendo susceptíveis de apropriação individual. Como se pode depreender da própria definição,
os interesses difusos são interesses públicos e nem são interesses individuais, porquanto, nem
a qualquer comunidade ou grupo, e são inapropriáveis individualmente. Como tal, os
interesses difusos pertencem a qualquer um e a todos os membros de uma comunidade ou de
um grupo. Na medida em que os interesses difusos constituem interesses não públicos e não
individuais, não podem ser ignorados na dicotomia habitual de interesses públicos ou
privados8. De acordo com a Constituição, os interesses difusos são aqueles que se referem à
saúde pública, aos direitos dos consumidores, à qualidade de vida, à preservação do
ambiente e ao património cultural.

6
SILVA, F. Nicolau dos Santos, Os interesses supra-individuais e a legitimidade processual civil activa, Quid
Juris Editora, Lisboa, 2002, p.37
7
MIRANDA, Jorge, Manual de Direitos Fundamentais, IV, 4ª edição, Coimbra Editora, Lisboa, 2008, pp.76-77
8
SERRA, Carlos, CUNHA, Fernando, Manual de Direito do Ambiente, 1ª edição, Ministério de Justiça, CFJJ,
Maputo, 2004, p.243
9
Quando os interesses difusos encontram um portador, transformam-se em interesses
colectivos. Os interesses colectivos dizem respeito a um grupo, a uma categoria ou a um
conjunto de pessoas ligadas entre si por uma relação jurídica e permitem a identificação dos
seus membros.

A defesa dos interesses difusos e colectivos constitui área fundamental das competências
conferidas por lei ao Ministério Público/MP9.

A tutela dos interesses (colectivos) difusos está ligada directamente a uma ideia de acesso à
justiça tida não só como mera possibilidade de qualquer cidadão ter suas pretensões de direito
analisadas pelo Poder Judicial (ou por qualquer órgão que exerça tal função), mas como um
princípio que prescreva as vias mais rápidas, eficazes e justas para prover tutela jurídica em
relação aos conflitos surgidos na sociedade. A criação de meios apropriados (justos) para a
defesa desses direitos vem servir de instrumento para a implementação de um equilíbrio no
processo, através do redimensionamento das forças conflituantes, em benefício da parte mais
fraca. Temos várias espécies de processos, nos termos do artigo 13 da Lei 7/2014 10, a Lei do
Processo Administrativo Contencioso (LPAC), a saber recursos jurisdicionais, recurso de
decisões arbitrais, recursos contenciosos, acções, processos de impugnação de normas,
conflitos de competência entre tribunais administrativos provinciais, processos urgentes,
outros processos, recursos directamente interpostos em primeira e única instancia, conflitos,
processos urgentes, outros processos.

Outra problemática a respeito dos interesses colectivos é directamente relacionada à defesa de


direitos indivisíveis em juízo – tanto os pertencentes a grupos específicos e individualizáveis
(direitos colectivos stricto sensu) ou como os outros, titularizados pela colectividade em geral
(direitos difusos).

Toda dificuldade gira em torno da exigência do devido processo legal, pois essa cláusula,
presente em quase todos os ordenamentos jurídicos democráticos, reclama, para que se atinja
o património ou a liberdade das pessoas, que elas tenham sido chamadas em juízo para
participar do processo, com possibilidade de utilização de todos os meios e recursos inerentes
à ampla defesa. Com base nesse princípio, toda vez que algum direito indivisível fosse
questionado, seria necessário que todas as pessoas que pudessem ser afectadas directamente

9
Procuradoria-Geral da Republica Portuguesa: Gabinete De Interesses Difusos E Coletivos disponível em
http://www.ministeriopublico.pt/pagina/gabinete-de-interesses-difusos-e-coletivos
10
Publicada no BR nº 18, I Série, Sexta-feira, 28 de Fevereiro de 2014
10
pela sentença pacificadora do conflito fossem trazidas para participar no processo; acontece
que isso inviabilizaria a própria propositura da demanda porque, em processos colectivos, a
dimensão subjectiva da lide é geralmente muito grande.

Essa legitimidade difusa do MP circunscreve-se na componente administrativa, civil e penal


do meio ambiente.

Dispõe o artigo 79 da CRM que Todos os cidadãos têm direito de apresentar petições,
queixas e reclamações perante autoridade competente para exigir o restabelecimento dos
seus direitos violados ou em defesa do interesse geral. Assim, Com base nessa lei, podemos
afirmar que a efectiva tutela dos interesses supra-individuais dentro da acção popular
consagra-se sob quatro finalidades: prevenção; cessação; perseguição; e indemnização das
infracções contra esses bens jurídicos.

Segundo dispõe o artigo 1 da Lei 2/96, de 4 de Janeiro, o artigo 1 estabelece que o direito de
petição é exercido perante autoridade competente, com excepção dos tribunais. Ao MP
incumbe deste modo a defesa dos valores ambientais protegidos pela Lei do Ambiente 11, em
pé de igualdade, se for o caso, com os lesados das acções danosas, conforme dispõe o artigo
21/4 da Lei do Ambiente.

CONCLUSÃO
Depois da investigação feita, concluímos que o nosso sistema jurídico consagra quanto à
tutela de defesa do meio ambiente ao Ministério Público conforme o novo regime jurídico
aprovado pela Assembleia da República. A defesa dos interesses difusos não pressupõe que

11
SERRA, C., Manual…, ob.cit., p.246
11
ela pode ser feita apenas pelo MP, antes a Constituição e a Lei consagram a legitimidade aos
particulares.

O MP é um órgão máximo que zela pela legalidade democrática, ou seja zela pelo
cumprimento voluntário da lei, quando não for cumprida voluntariamente então se
desencadeia o cumprimento forçoso. Sendo o meio ambiente o meio que nos rodeia e que
com ele temos interacção e contribuindo de forma decisiva para o nosso bem-estar, o zelo
pelo cumprimento das normas elementares que regem a interacção do homem com o meio
ambiente torna-se imperativo, donde radicam necessidades da existência de certas entidades
como sejam as públicas para zelar pelo cumprimento efectivo dessas normas básicas tendo
em conta que a nossa responsabilidade deve sempre primar pela preservação do meio
ambiente para as gerações vindouras.

BIBLIOGRAFIA
CUNA, Ribeiro José, O Ministério Público, Centro de Formação Jurídica e Judiciaria-
Ministério da Justiça, Kapicua, Livros e Multimédia, Lda., Maputo, 2011

GARCIA, Monique Julien, A Origem do Ministério Público e Sua Atuação no Direito


Comparado- Origin of the Public Prosecution And Its Performance in Comparative Law, in
Revista Jurídica da Escola Superior do Ministério Publico de São Paulo, Vol.II, São Paulo,
12
2012, disponível em
www.esmp.sp.gov.br/revista_esmp/index.php/RJESMPSP/article/view/44/27, visitado em 18
de Outubro de 2017

MIRANDA, Jorge, Escritos Vários sobre Direitos Fundamentais, 1ª edição, Principia


Editora, Estoril, 2006

MIRANDA, Jorge, Manual de Direitos Fundamentais, IV, 4ª edição, Coimbra Editora,


Lisboa, 2008

Procuradoria-Geral da Republica Portuguesa: Gabinete De Interesses Difusos E Coletivos


disponível em http://www.ministeriopublico.pt/pagina/gabinete-de-interesses-difusos-e-
coletivos

RODRIGUES, Cunha, Em nome do Povo, Coimbra Editora, Coimbra, 1999b

SERRA, Carlos, CUNHA, Fernando, Manual de Direito do Ambiente, 1ª edição, Ministério


de Justiça, CFJJ, Maputo, 2004

SILVA, F. Nicolau dos Santos, Os interesses supra-individuais e a legitimidade processual


civil activa, Quid Juris Editora, Lisboa, 2002

Legislação

Constituição da República de Moçambique

Lei 2/96, de 4 de Janeiro

Lei 20/97, de 1 de Outubro, publicada no BR nº 40, I Série, 7 de Outubro de 1997

Lei 7/2014, de 28 de Fevereiro, publicada no BR nº 18, I Série, Sexta-feira, 28 de Fevereiro


de 2014

Lei nº 4/2017, de 18 de Janeiro, Publicada no BR nº 10, I Série, Quarta-feira, 18 de Janeiro

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