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REPRESENTAÇÕES GRÁFICAS DE ESTUDANTES DO 3º ANO DO

ENSINO MÉDIO SOBRE OS VEGETAIS


Eliziane da Silva Dávila(1), Daniel Morin Ocampo(2), Robson Luiz Puntel(3)

Eixo 1 - Metodologia do Ensino / Relato de experiências


(1)
Docente do Instituto Federal Farroupilha (IFFar); Santo Augusto; Rio Grande do Sul;
eliziane.davila@iffarroupilha.edu.br
(2)
Doutorando do Programa de Pós Graduação Educação em Ciências: Química da Vida e Saúde;
Universidade Federal de Santa Maria (UFM); Santa Maria; Rio Grande do Sul; daniel.ocampo@ufsm.br
(3)
Docente da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) – Campus Uruguaiana;
robsonunipampa@gmail.com

RESUMO
O cenário educacional está sofrendo alterações gradativamente, através de políticas públicas
que estão priorizando um ensino mais contextualizado, de acordo com a realidade do aluno, onde
ele passe a ser o agente ativo da construção do seu conhecimento. Para isso, torna-se importante
conhecer as concepções alternativas dos estudantes para poder guiar as práticas pedagógicas.
Dentro deste contexto, este trabalho teve como objetivo analisar as concepções sobre vegetais dos
estudantes do 3º ano do ensino médio de 2 escolas públicas do município de Uruguaiana – RS. Para
averiguar os conhecimentos prévios dos alunos sobre os vegetais, foi pedido para desenharem uma
planta. As avaliações foram realizadas com caráter quali-quantitativo. Os resultados demonstraram
que os estudantes ilustraram na sua maioria, vegetais do grupo das angiospermas, representando
como plantas ornamentais, desenhos estereotipados e antropomórficos. Em menor frequência
apareceram as pteridófitas e gimnospermas. Independente do grupo vegetal ilustrado, todos
representaram morfologicamente uma planta como tendo caule e folhas. Pode-se concluir que os
estudantes não possuem uma compreensão completa sobre os vegetais, restringindo-se, na sua
maior parte, a um grupo vegetal. Espera-se, através destes dados, contribuir para novos estudos
sobre o ensino de botânica e na busca de estratégias alternativas que levem em consideração os
conhecimentos-prévios dos estudantes e auxilie na alfabetização científica.

Palavras-Chave: ensino de botânica, concepções, representações mentais, educação em ciências.

INTRODUÇÃO

O ensino de botânica tem apresentado problemas relacionados ao processo de ensino e


aprendizagem. Amorim et al. (2001) descrevem este ensino como sendo descritivo e descontextua-
lizado, onde os professores os educadores apresentam os grupos vegetais de forma fragmentada,
não estabelecendo interações entre eles. Batista e Araújo, (2015) colocam que por este ensino conter
termos científicos e conteúdo de difícil compreensão, acaba se tornando exaustivo, desmotivador e
desinteressante para os estudantes, ocasionando um baixo índice de aprendizagem. Desta forma,
torna-se comum os estudantes não terem apreço pelas aulas de Botânica e concluírem o ensino mé-

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dio desconhecendo as principais características e biodiversidade dos vegetais (AMORIM et al.,
2001).
Fourez (2003), menciona que o ensino deveria auxiliar seu aluno a compreender o mundo
que os rodeia, considerando suas concepções prévias ao invés de obrigá-los a ver o mundo somente
com o conhecimento científico. As ideias prévias ou concepções prévias são os conhecimentos ou
as representações construídas pelos indivíduos de uma sociedade, derivados da primeira leitura de
mundo por parte dos indivíduos e da necessidade que os indivíduos têm de responder e resolver os
problemas do cotidiano (FLORENTINO, 2004).
Estas concepções, que podem ser expressas por meio de desenhos, podem revelar ideias
equivocas da realidade, podendo atuar como obstáculo para uma aprendizagem significativa eficaz
(SILVA, 2004) além de evidenciar atitudes e valores dos estudantes a respeito do assunto, que po-
derão conduzir suas práticas a favor, ou não, da sustentabilidade ambiental bem como a manifesta-
ção de seus conceitos de identidade ética e cultural (PESSANO et al, 2013).
Baseado nestas informações, este trabalho teve como objetivo analisar as concepções sobre
vegetais dos estudantes do 3º ano do ensino médio de 2 escolas públicas do município de
Uruguaiana – RS com a finalidade de contribuir com o repensar da prática pedagógica.

METODOLOGIA

O público–alvo deste estudo foram 34 estudantes do 3º ano do ensino médio de 2 escolas


públicas do município de Uruguaiana – RS.
Para averiguar os conhecimentos prévios dos alunos sobre os vegetais, foi pedido para dese-
nharem uma planta. Os desenhos foram classificados tendo por referência os grupos vegetais (brió-
fita, pteridófita, gimnosperma e angiosperma). Após, identificou-se as características específicas de
cada grupo identificado (planta ornamental, morfologia vegetal, desenho estereotipado e/ou seme-
lhanças humanas - antropomórfico e habitat). Os dados foram analisados quali-quantitativamente.
Ressalta-se que este trabalho faz parte de um estudo maior de doutorado no Programa de Pós
Graduação em Educação em Ciências: Química da Vida e Saúde da Universidade Federal de Santa
Maria – RS.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados demonstraram que 76,5% dos alunos representaram uma planta do grupo das
angiospermas (Tabela 01). Este dado difere do encontrado por Barreto et al. (2007) e Bitencourt e
Macedo (2012) que ao analisarem desenhos sobre vegetais de alunos do ensino fundamental,
encontraram somente representações de angiospermas.

Tabela 01 – Classificação dos desenhos quanto ao grupo vegetal.


GRUPO VEGETAL TOTAL
Somente Angiosperma 76,5%
Mais de um grupo vegetal 17,5%
Somente Gimnosperma 5,9%

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Constatou-se que independentemente do grupo vegetal ilustrado, todos representaram uma
planta como tendo caule e folhas, entretanto somente um aluno desenhou uma planta com todas as
suas partes, semelhante ao resultado encontrado por Bitencourt e Macedo (2012).
Com relação às representações gráficas de “somente angiosperma”, verificou-se várias
características distintas. Observou-se desenhos com características humanas, contendo olhos, boca,
braços e língua (Figuras 01 e 02). Bizerril et al (2007) também encontraram estes dados ao analisar
percepções de estudantes sobre de plantas carnívoras, sugerindo que este fato possa estar
relacionado com a imagem de vegetal algumas vezes veiculada na mídia.

Figuras 1 e 2 – Representação de plantas com


características humanas.

Outro grupo de alunos ilustrou as angiospermas com formas estereotipadas (Figuras 03 e


04), assim como nos estudos de Silva e Cavassan (2006) com alunos de 6ª série sobre ambientes
naturais. Estes mesmos autores explicam que este tipo de desenho é baseado em modelos
convencionais que são repetidos a partir de uma matriz. Bizerril et al (2007) citam a televisão,
jornais, desenhos animados, além do imaginário popular, como sendo alguns exemplos de
referencial para estereótipos.

Figuras 3 e 4 – Representação de plantas com formas


estereotipadas.

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Também verificou-se desenhos de plantas ornamentais (Figura 05 e 06), como lírio e
antúrio, ilustradas em vasos ou no solo, dados semelhantes aos encontrados por Bitencourt e
Macedo (2012). Estas representações podem indicar com quais plantas estes estudantes tiveram ou
tem mais contato no seu dia-a-dia.

Figuras 5 e 6 – Representação de plantas ornamentais.

Com relação aos aspectos morfológicos das angiospermas, todas as ilustrações apresentaram
em comum o caule e a folha. Houve desenhos que além destas partes, apresentaram raiz e flor. So-
mente um desenho apresentou o fruto. Através destes resultados, verifica-se que os estudantes não
possuem o conceito completo de planta, pois não identificam todas as partes essenciais de um vege-
tal, independente do grupo vegetal analisado. Também constatou-se ilustrações semelhantes ao
apresentado em livros didáticos, reforçando a ideia de desenhos esteriotipados.
Em relação ao grupo de ilustrações de “somente gimnospermas”, identificou-se todos os
desenhos como sendo um pinheiro contendo caule, raiz e folha (Figura 07).

Figura 7 – Representação de
uma gimnosperma.

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Os desenhos classificados como tendo “mais de um grupo vegetal” apresentaram
representações de angiospermas e pteridófitas, todas plantas ornamentais, como rosa, tulipa, onze-
horas, bem-me-quer, girassol, copo-de-leite e samambaia (Figuras 08 e 09).

Figuras 8 e 9 – Representação de plantas do grupo pteridófita e angiosperma.

No que concerne aos aspectos ecológicos dos vegetais, não foi identificado nenhum desenho
dentro do contexto de ecossistemas e nenhuma representação de interação de plantas com animais
ou com seres humanos.

CONCLUSÕES

A partir dos resultados apresentados constatou-se que a maioria dos estudantes não possuem
uma compreensão completa sobre os vegetais, seja por restringirem-se ao grupo das angiospermas
como percepção de planta como pela ilustração morfológica da mesma. Também verificou-se que
não foi representado uma biodiversidade vegetal, limitando-se a desenhos de plantas ornamentais,
estereotipados e antropomórficos. Por terem desenhado, na sua maior parte, plantas ornamentais,
supõe-se que possivelmente os alunos tenham representado sua vivência e realidade com os vege-
tais.
Ao se considerar os aspectos ecológicos das plantas, constatou-se que nenhum estudante
representou um vegetal dentro de um ecossistema da natureza e nem estabelecendo interação com
animais e seres humanos, sugerindo uma visão fragmentada dos conhecimentos de Botânica e
Ecologia.
Estes dados são preocupantes, pois estes alunos estão concluindo o ensino médio e supõe-se
que durante sua caminhada escolar tenham estudado botânica e ecologia, entretanto não estão iden-
tificando os outros grupos de vegetais, suas características essenciais, a biodiversidade existente e
as diversas interações realizadas pelos vegetais.
Espera-se, através destes dados, contribuir para novos estudos sobre o ensino de botânica e
na busca de estratégias alternativas que levem em consideração os conhecimentos-prévios dos
estudantes e auxilie na alfabetização científica.

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REFERÊNCIAS

AMORIM, D.S.; D.L. MONTAGNINI; F.B. NOLL; M.S.M. CASTILHO; R.J. CORREA. Diversi-
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Editora, p. 41-49. (2001).
BARRETO, L. H.; SEDOVIM, M. R.; MAGALHÃES, L. M. F. A idéia de estudantes de ensino
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jul. 2007.
BATISTA, L. N. E ARAÚJO, J. N. A botânica sob o olhar dos alunos do ensino médio. Revista
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BITERCOURT, I. M. E MACEDO, G. E. L. Conhecimentos dos estudantes do ensino fundamental
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BIZERRIL, M. X. A.; LOUZADA-SILVA, D.; ROCHA, D. M. S.; PERES, J. M.; FURONI, G. L.;
Percepção de alunos de ensino fundamental sobre a biodiversidade: relações entre nomes de orga-
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FLORENTINO, A. Fundamentos da educação 1. v.1, Rio de Janeiro: Fundação Cecierj, 2004.
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SILVA, P. G. P. As ilustrações botânicas presentes nos livros didáticos de ciências: da repre-
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naturais considerando-se os desenhos dos alunos e os aspectos morfológicos e cognitivos
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