You are on page 1of 24

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

Departamento de Química

INTERACOES QUIMICAS

QUÍMICA FORENSE
Por Jaqueline Pires Ruiz , 02/06/2007
Email: ruizjaque@hotmail.com

São Carlos
maio de 2007

1
QUIMICA FORENSE
A quimica em prol da criminalística
INDICE GERAL

• INTRODUCAO

• HISTÓRICO
- O arsênio
- Suspeitas da morte de Napoleão
- Análise de Arsênio
- Algumas reações envolvidas

• BALÍSTICA
- Resíduos de arma de fogo
- Detecção de Chumbo
- Microscopia eletrônica de varredura

• MARCAS DE SANGUE
- O vagalume
- Identificação de manchas de sangue
- Reagente de Kastle-Meyer
- O Luminol
- Síntese e avaliação das prioridades quimioluminescentes de derivados oxigenados do luminol

• A GENÉTICA NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL- PCR-

- O exame de DNA
- Violencia sexual
- Método de extração
- Método RFLP
- A eletroforese
- O impeachment de Bill Clinton
-A genética forense no Brasil

• IMPRESSOES DIGITAIS
-Técnicas para revelação de digitais
-Técnica do Pó
-Vapor de iodo
-As digitais de uma criança...
-Dipolo induzido- dipolo induzido

• CONCLUSÃO

• REFERÊNCIAS

2
INTRODUÇÃO

A ciência forense é uma área interdisciplinar que envolve física, biologia, química, matemática e
várias outras ciências de fronteira, com o objetivo de dar suporte às investigações relativas à justiça civil e
criminal. Recentemente o público começou a se dar conta da importância da ciência no desvendamento de
crimes, talvez pelo fato da grande proliferação de programas de televisão, documentários e ficção
científica.
Em investigações de crimes, na vida real, o foco principal do profissional forense é confirmar a
autoria ou descartar o envolvimento do(s) suspeito(s). As técnicas empregadas permitem que seja possível
identificar, com relativa precisão, se uma pessoa, por exemplo, esteve ou não na cena do crime a partir de
uma simples impressão digital deixada em algum lugar, ou então um fio de cabelo encontrado no local do
crime. Hoje em dia pode-se realizar a identificação humana através de técnicas de análise do DNA
presente na amostra. Só que estas análises são ainda muito onerosas e o número de casos faz com que,
muitas vezes, não se faça uma investigação mais profunda.

HISTÓRICO

O estudo de ciência forense teve início quando o Professor Henry Holmes Croft testemunhou
quanto ao homicídio cometido pelo Dr. William Henry King. O Professor Croft testemunhou que tinha
encontrado onze grãos de arsênico no estômago da Sra. Sarah King. Como conseqüência, o Dr. King foi
condenado pelo assassinato de sua esposa. A meta principal da ciência forense é prover apoio científico
para as investigações de danos, mortes e crimes inesplicados. A ciência da química forense lida com
substâncias como tinturas, vidro, solos, metais, plásticos, explosivos e produtos derivados do petróleo.
Um princípio básico da química forense é o fato irrefutável de que todo e qualquer tipo de
contato deixa um rastro. Se uma colisão seguida de fuga ocorresse, haveria transferência de pintura; se um
assaltante quebrasse uma janela de vidro, seriam achados pedaços do vidro em suas roupas; o disparo de
uma arma deixaria resíduos de pólvora nas mãos do usuário.
Os químicos forenses primeiramente encontram as pistas. Essas pistas são então analisadas e seu
significado é determinado.
A mais recente contribuição da química para o trabalho forense veio com as técnicas de
perfilamento de DNA. Este método tem a capacidade de identificar uma pessoa através do código genético
com qualquer pedaço de tecido, com certeza virtual.

O arsênio...

O arsênio ou arsênico é um elemento químico de símbolo As com número atômico 33 e com


massa atómica 75 uma. É um semi-metal ( metalóide ) encontrado no grupo 15 (5A) e foi descoberto em
1250 por Alberto Magno.
A toxicidade do arsênio e seus efeitos sobre organismos vivos são conhecidos desde a
antigüidade; vários autores têm estudado o arsênio em amostras biológicas. Efeitos agudos envolvem os
sistemas respiratório, gastrointestinal, cardiovascular e nervoso, além da pele, na qual pode causar câncer.
O envenenamento por arsênio leva ao coma e à morte. Intoxicações crônicas resultam em desordens
neurológicas, fraqueza muscular, perda de apetite, náuseas, hiperpigmentação e queratoses. Trabalhadores
de fundições sofreram lesões nas membranas mucosas do sistema respiratório.
Foi o agente envenenador de escolha na Idade Média, tendo essa preferência se mantido até o
início do século XX. Várias de suas características contribuíram em grande parte para essa popularidade: o
aspecto inofensivo, insipidez ou sabor levemente adocicado, podendo ser facilmente misturado aos
alimentos, fácil obtenção, evolução insidiosa dos sintomas de intoxicação simulando doença e sua

3
presença nos líquidos de embalsamamento – uma vez embalsamada a vítima tornava-se impossível a
prova do envenenamento.
Ainda como parte de sua vasta biografia, o As foi parar nos campos de guerra sob a forma de um
gás letal vesicante, lacrimejante e altamente irritante para os pulmões denominado levisita (lewisite, em
homenagem ao químico americano W. Lee Lewis). Temendo seu emprego em massa durante a Segunda
Guerra Mundial, os pesquisadores britânicos conceberam o antídoto BAL (British Anti-Lewisite)
empregado também nas intoxicações por metais como ouro, mercúrio, bismuto e antimônio.
O As é um veneno protoplasmático que exerce sua toxicidade através da inativação de cerca de
200 enzimas, em particular aquelas envolvidas na produção de energia celular e as relacionadas à síntese e
reparo do DNA
Em Bangladesh ocorreu uma intoxicação em massa, a maior da história, devido a construção de
uma infinidade de poços de água que estavam contaminados com esse tipo de material.

Suspeitas da morte de Napoleão


Em 1955, surgiram documentos em que Napoleão era descrito meses antes de sua morte,
pensando muitos que morto por envenenamento com arsênio. O arsênio era e é usado como um veneno
indetectável se aplicado a longo prazo.
Em 2001, um estudo de Pascal Kintz, do Instituto Forense de Estrasburgo, na França, adicionou
crença a esta possibilidade com um estudo de um pedaço de cabelo preservado de Napoleão após sua
morte: os níveis de arsênio encontrados em seu pedaço de cabelo eram de 7 a 38 vezes maiores do que o
normal.
Cortar pedaços do cabelo em pequenos segmentos e analisar cada segmento oferece um
histograma da concentração de arsênio no corpo. A análise do cabelo de Napoleão sugere que doses altas

4
mas não-letais foram absorvidas em intervalos aleatórios. O arsênio enfraqueceu Napoleão e permaneceu
em seu sistema. Lá, poderia ter reagido com mercúrio e outros elementos comuns em remédios da época,
sendo a causa imediata de sua morte.
Outros estudos também revelaram altas quantidades de fezes presentes em outras amostras de
cabelo de Napoleão tiradas em 1805, 1814 e 1821. Ivan Ricordel (chefe de toxicologia da Polícia de
Paris), declarou que se fezes tivessem sido a causa da morte, ele teria morrido anos antes. Fezes também
eram usadas na época em papel de parede, como um pigmento marrom, e até mesmo em alguns remédios,
e os pesquisadores sugeriram que a fonte mais provável de todo este arsênio seja um tônico para cabelo.
Antes da descoberta dos antibióticos, as fezes também eram usadas (sem efeito) no tratamento da sífilis,
levando à especulação de que Napoleão poderia estar sofrendo de sífilis. A controvérsia continua.

Análise de Arsênio
As mais importantes técnicas para a determinação de níveis traços de As são as que usam a
técnica da geração de hidreto (arsina) como a espectrofotometria de absorção atômica com geração de
hidretos (HGAAS) e a da espectrofotometria molecular usando o DDC, a ativação neutrônica1 e a
espectrometria de fluorescência atômica também são muito utilizadas
A técnica de geração de hidretos existe há mais de 160 anos, Marsh foi quem primeiramente
sugeriu a determinação de arsênio usando esse procedimento, utilizando, basicamente, a seguinte
aparelhagem:

Já o ensaio de Gutzeit é uma simplificação do ensaio de Marsh, a principal diferença consiste em


que só é necessário um tubo de ensaio e a arsina é detectada pelo cloreto de prata ou cloreto de mercúrio.
Esse ensaio também pode ser realizado em escala micro com a utilização do seguinte equipamento.

Coloque 10 gotas da solução teste num tubo de ensaio


semimicro, adicione alguns grânulos de zinco, livre de arsênio,
e 1ml de acido sulfúrico diluído. Coloque um chumaço frouxo
de algodão puro umedecido com solução de nitrato de chumbo
no funil e, na parte superior deste, deposite o disco do papel de
reação à gota impregnado com solução de nitrato de prata 20%;
o papel pode ser mantido em seu lugar por um vidro de relógio
ou uma lamina de microscópio. Aqueça o tubo de ensaio
suavemente em banho-maria, para acelerara reação.
Após cerca de 5 min, examine o papel, uma mancha
cinza será formada.
Sensibilidade: 1μg de As.
Concentração limite: 1 em 50.000

5
Alguma reações envolvidas:

As3+ + 3Zn + 3H+ AsH3 + 3Zn2+

4 AsH3 4 As + 6H2

AsH3 + 6 Ag + As3+ + 3 H+ + 6 Ag

Cerca de 100 anos depois de Marsh, Vasak & Sedivec propuseram o uso do dietilditiocarbamato
de prata dissolvido em piridina como solução absorvedora da arsina, gerada através da reação com zinco
em meio clorídrico. Alguns problemas de metodologia, como a pouca estabilidade do complexo e as
variações da sensibilidade devido à pureza do SDDC e do zinco e o odor desagradável da piridina têm
gerado vários estudos sugerindo modificações no método, essas modificações sugerem a troca do zinco
por boroidreto e da piridina por outras aminas.

BALÍSTICA

O acusado efetuou os disparos? Como ter mais informações além de simples relatos? É sabido que
uma arma de fogo emite vários resíduos que podem impregnar na pele do atirador. Através de técnicas
analíticas, é possível determinar se uma pessoa atirou ou não com uma arma de fogo. E não adianta lavar a
mão, pois os resíduos penetram na pele e a detecção é possível, em média, até cinco dias após o ocorrido.
Outra possibilidade é a intoxicação – comumente vista na forma de envenenamento. É possível analisar os
fluidos do corpo a fim de encontrar traços da substância em questão.

A arma de fogo é, em essência, uma máquina térmica. Sua utilização independe da força física
(excetuando a força relacionada com o pressionamento do gatilho) e, como não poderia deixar de ser,
baseia-se nos princípios da termodinâmica. A arma é constituída pelo aparelho arremessador ou arma
propriamente dita, a carga de projeção (pólvora1) e o projétil2, sendo que estes dois últimos integram, na
maioria dos casos, o cartucho.

6
O cartucho observado de fora parece grande. Contudo, uma pequena parte, o projétil, é que irá ser
expelido pela arma após o disparo. A força com que este é projetado para fora do cano depende da
combustão da pólvora. Esta gera gases, os quais, com a elevação da temperatura interna (podendo chegar
aos 2500 °C) aumentam o volume e a pressão no interior da arma, fazendo com que o projétil seja
‘empurrado’, violentamente. Antes que ocorra a combustão da pólvora, é necessário uma ‘chama
iniciadora’, a qual é proveniente da espoleta. Ela contém uma pequena quantidade de explosivo3 sensível
a choque mecânico. O estojo, geralmente constituído por latão 70:30 (70% de cobre e 30 % de zinco),
trata-se da cápsula que contém o projétil na ponta, a pólvora dentro e a espoleta na base.

Resíduos de arma de fogo...


No momento do tiro são expelidos, além do projétil, diversos resíduos sólidos (provenientes do
projétil, da detonação da mistura iniciadora e da pólvora) e produtos gasosos (monóxido e dióxido de
carbono, vapor d’água, óxidos de nitrogênio e outros).
Também integram a parte sólida dos resíduos partículas constituídas pelos elementos antimônio
(Sb), bário (Ba) e chumbo (Pb), provenientes de explosivos como sais de chumbo, bário e antimônio, além
da composição da liga de projéteis e cartuchos. Parte desses resíduos sólidos permanece dentro do cano,
ao redor do tambor e da câmara de percussão da própria arma. Porém, o restante é projetado para fora,
atingindo mãos, braços, cabelos e roupas do atirador, além de se espalharem pela cena do crime.
Dependendo do tipo de resíduo, a constatação pode ser física, com o auxílio de uma lupa. Se não for
possível realizá-la, pode-se usar o exame químico.
Caso pretenda-se determinar nitritos,vale lembrar que os nitritos sofrem oxidação pelo oxigênio do
ar, passando gradualmente a nitratos ou volatilizando-se como ácido nitroso. Por isto, o exame deve ser
feito o mais breve possível após o suposto disparo. Além disto, nitritos podem ter diversas origens, não só
do disparo da arma de fogo.
A vida e os hábitos do suspeito devem ser levados em consideração, o chumbo pode aparecer
associado ao bromo em partículas provenientes de automóveis e ao antimônio nas placas de baterias e em
algumas soldas. Partículas somente de chumbo podem estar vinculadas à profissão do suspeito, como
mecânico, pintor, laboratorista, soldador, etc. O bário é encontrado em produtos de maquiagem, e em
alguns tipos de papel, além de detergentes. O antimônio é usado em muitas fibras, como as de poliéster.

Detecção de Chumbo:
É um metal de cor branco-azulado e brilho metálico (o brilho desaparece quando exposto ao ar,
tornando-se cinza por se recobrir de uma camada de óxido), muito denso (d = 11,3 g cm-3) e baixo ponto
de fusão, funde a 328 °C. É dúctil e maleável e tão mole que se pode riscar com a unha, e cortar
facilmente com uma faca. No estado sólido não é tóxico, mas seus vapores possuem uma grande
toxicidade. É muito resistente ao ataque pelo ar e água.
*Dissolve-se facilmente em concentração média de ácido nítrico (8M):
3Pb + HNO3 3Pb 2+ + 6NO-3 + 2NO + 4H2O

*A 5 gotas de solução ácida diluída, acrescenta-se 2 gotas de H2SO4 1M.


Pb2+ + SO42- PbSO4 

Aquecer, centrifugar o possível precipitado de PbSO4 que é branco, pulverulento ou cristalino, muito
pouco solúvel em água, insolúvel em meio alcoólico, solúvel em soluções concentradas de NaCl e em
HCl, HNO3H2SO4 concentrado, facilmente solúvel em hidróxidos alcalinos fortes, em dissoluções
amoniacais concentradas de acetato ou tartarato de amônio e em soluções de EDTA com pH inferior a 2,5.
Assim, deve-se lavar o precipitado repetidamente até eliminar a acidez. Tratar o precipitado com 10
gotas de EDTA 5%. Aquecer brandamente. Centrifugar se ficou resíduo.

7
Umas gotas do líquido claro trata-se com outras de NaOH 2M até alcalinidade e 4 gotas de Na2S
recentemente preparado.
Pb2+ + Na2S PbS + 2 Na+

Forma-se um precipitado negro de PbS


A outras gotas do líquido claro acrescenta-se 3 de H2SO4 diluído e aquece-se. Re-precipita o PbSO4.
Pb2+ + SO42- PbSO4 

Essa é uma marcha analítica clássica para a detecção de Pb. Caso fosse feio um ensaio de chama,
obteríamos uma chama azul-pálida, não conclusiva. Mas, aquecendo um sal de chumbo na presença de
carbonato alcalino sobre carvão vegetal, obtém-se uma pérola maleável de chumbo.

Microscopia eletrônica de varredura

Os detetives, ao investigarem se um determinado suspeito efetuou tiros com arma de fogo ou não,
geralmente levam vários pequenos cilindros de metal chamados de ‘stabs’ (veja Figura 6) que contém um
adesivo, o qual é esfregado principalmente na pele do suspeito, em pontos específicos como a palma e
dorso da mão. Resíduos de disparos de arma de fogo (doravante GSR, do inglês gunshot residue), se
presentes, irão aderir ao adesivo. O cilindro então é colocado no Microscópio Eletrônico de Varredura
(SEM, do inglês Scanning Electron Microscope) e a superfície do adesivo é varrida por um feixe de
elétrons.
O SEM funciona basicamente como um microscópio óptico (MO). A diferença é que um MO
depende dos fótons para formar uma imagem. Já o SEM depende dos elétrons emitidos pela superfície dos
possíveis resíduos que constituem amostra analisada. Apesar de muito empregado na ciência, o MO tem
seu uso limitado pelo comprimento de onda da luz visível.

Uma das lacunas da balística forense, a qual infelizmente não é mostrada na ficção,é a determinação
do tempo em que o disparo foi realizado. Segundo Ludwig Niewöhner, chefe da Seção de Resíduos de
Tiro da BKA (Bundeskriminalamt) – a polícia Federal Alemã – “... nós podemos encontrar uma partícula
de resíduo de disparo de arma de fogo micrométrica, mas nós não podemos dizer se ela estava lá há dois
anos atrás ou há uma hora atrás.” Não obstante, Ludwig alerta para alguns estudos recentes que buscam
realizar estimativas do tempo que o disparo foi efetuado.
Além disso, os problemas que podem afetar a análise, como metodologia de coleta dos resíduos e
tamanho da área a ser analisada, estão sendo gradativamente resolvidos ou minimizados, utilizando kits de

8
coleta específicos para SEM e programas de computador que permitem a busca e análise automatizada de
partículas, segundo parâmetros definidos pelo operador.

MARCAS DE SANGUE

As técnicas de investigação com recursos científicos


remontam ao século I, quando o romano Quintiliano
descobriu que um homem assassinou a própria mãe depois
de analisar vestígios de sangue nas mãos do culpado. De
lá para cá os avanços no conhecimento científico deram
suporte às investigações das mais diversas evidências.

Existem situações em que a mancha de sangue é


evidente. Localiza-se, por exemplo, próximo ao corpo
alvejado por um disparo de arma de fogo. Contudo, há
casos em que a mancha não é explicita. Existe a
possibilidade, também, de que o criminoso limpe a cena
do crime. Como detectar rastros de sangue, se estes não
são visíveis a olho nu?

O estudo das manchas de sangue para fins forenses


faz parte da Serologia. Este é o termo usado para
descrever a prática de uma gama de testes de laboratórios
que usam reações de soro de sangue e demais fluidos
corporais. Tipo sanguíneo, caracterização de manchas
como sendo de sangue, teste de paternidade, identificação
do sêmen em casos de estupro e exames de DNA são
apenas alguns exemplos dos casos que a serologia
abrange.

O vagalume

A quimiluminescência caracteriza-se pela emissão de luz através de uma reação química. A técnica
de caracterização de sangue com luminol é um exemplo de processo quimiluminescente. Quando este tipo
de reação ocorre em seres vivos, temos a bioluminescência. Exemplo deste tipo de reação é a que ocorre
nos fotócitos – células especializadas em reações de emissão de luz como produto – do vaga-lume.
Nesse mecanismo do vaga-lume ocorre a oxidação da luciferina (A) pelo oxigênio molecular, reação
esta catalisada pela enzima luciferase, gerando a oxiluciferina (E) mais a luz que é observada por nós (D).
-1
Este mecanismo apresenta um alto rendimento quântico de bioluminescência (em torno de 0,9 E.mol ),
sendo que esta energia produzida pelo inseto é comumente chamada de "luz fria" devido ao seu alto
rendimento. É interessante destacar que 90 a 96% da energia produzida é convertida em luz, e somente 4 a
10% é convertida em calor: o inverso de uma lâmpada incandescente!

9
Identificação de manchas de sangue

Quando uma mancha de sangue chega ao laboratório forense, a mesma é sujeita a testes muito
sensíveis, porém pouco específicos, a fim de determinar se ela é de sangue ou não. A este tipo de análise
se dá o nome de teste de presunção.
Exames presuntivos de sangue são geralmente catalíticos, envolvem o uso de agente oxidante, como
o peróxido de hidrogênio [H2O2(aq)] e um indicador que muda de cor (ou luminescente) e que sinaliza a
oxidação catalisada pela hemoglobina como se fosse uma enzima peroxidase. Este comportamento de
peroxidase da hemoglobina foi descoberto em 1863 pelo cientista alemão Schönbein. De lá para cá
inúmeros testes de presunção foram elaborados. Do total de reagentes que existem, apenas um pequeno
número tem interesse prático no campo da ciência forense. Os reagentes aqui discutidos serão: Reagente
de Kastle-Meyer, reagente de benzidina e luminol.

Reagente de Kastle-Meyer

10
O reagente de Kastle-Meyer é
constituído por uma mistura de substâncias.
Um exemplo de proporção seria 0,1 g de
fenolftaleína, 2,0 g de hidróxido de sódio
(sob a forma de pellet), 2,0 g de pó de zinco
metálico e 10 mL de água destilada. Abaixo
temos as reações que ocorrem tanto no
processo de produção do reagente como nas
que ocorrem quando ele é aplicado na
suposta mancha de sangue.
Para realizar o procedimento de
detecção, macera-se a mancha ou a crosta
com 1 mL de água destilada ou hidróxido de
amônio concentrado. Após, seleciona-se duas
gotas do macerado e, após colocá-las em um
tubo de ensaio, misturam-se duas gotas do
reagente. Enfim, adicionam-se à solução duas
gotas de peróxido de hidrogênio a 5%

Na figura anterior, em [1], temos a reação entre o pó de zinco e o hidróxido de sódio. O produto de
interesse é o hidrogênio nascente, que garantirá a forma incolor da fenolfatelína. Se a mostra for de
sangue, esta terá, necessariamente, hemoglobina, a qual possui a característica de decompor o peróxido de
hidrogênio (comportamento de peroxidase) em água e oxigênio nascente [3]. Então, este oxigênio
promoverá a forma colorida da fenolftaleína, evidenciando ao perito que a amostra pode conter sangue. A
molécula de hemoglobina está presente nos eritrócitos (glóbulos vermelhos) e carrega consigo complexos
inorgânicos, tendo como átomo central um íon de ferro, complexo este denominado "Heme".

11
Diferentemente da mioglobina, que também exerce papel no transporte de oxigênio e possui apenas
um grupo 'heme', a hemoglobina possui quatro grupos. Este complexo irá ser responsável pela fixação e
transporte do oxigênio, uma vez que ele está ligado à estrutura protéica da hemoglobina e esta, por sua
vez, promove a movimentação de toda a estrutura. Cada hemoglobina carrega quatro moléculas de gás
oxigênio por vez, visto que existem quatro complexos “hemes” ligadas a ela. A ligação do complexo com
o oxigênio é fraca e instável, dependendo de uma série de fatores, como pH, temperatura e pressão parcial
dos gases dissolvidos no sangue. É neste sítio ativo com íon ferro que ocorre e decomposição do peróxido
de hidrogênio.
Causas de erro no método incluem a presença de sais de ferro, cobre, suco gástrico ou qualquer outra
substância capaz de decompor a molécula de H2O2 em água e oxigênio. A sensibilidade deste reagente é
de 1/1.000.000.

O Luminol

Este é clássico nos seriados de


investigação científica e também na vida real.
O 5-amino-2,3-di-hidro-1,4-ftalazinadiona,
mais conhecido por luminol, é um composto
que, sob determinadas condições, pode fazer
parte de uma reação quimiluminescente. Uma
das formas de obtê-lo é a partir do ácido 3-
nitroftálico, conforme é mostrado abaixo.

A reação química produzida não afeta a cadeia de DNA, permitindo o reconhecimento dos
criminosos ou das vítimas. Por isto, ele é recomendado para locais onde há suspeita de homicídio e
superfícies que, aparentemente, não exibem traços de sangue.
O luminol reage com quantidades
muito diminutas de sangue. Sua
sensibilidade pode chegar aos
impressionantes 1/1.000.000.000, mesmo
em locais com azulejos, pisos cerâmicos
ou de madeira, os quais tenham sido
lavados. A eficácia do produto é tão
grande que é possível a detecção de
sangue mesmo que já tenham se passado
seis anos da ocorrência do crime.
12
A reação de luminol com peróxido de hidrogênio em água necessita de um catalisador redox. Uma
grande variedade de metais de transição pode ser usada para este fim. No caso do teste para a presença de
sangue, este catalisador é o íon do elemento ferro que está presente nos grupos ‘heme’ da hemoglobina.
Esse catalisador oxida o luminol [1] (veja Figura 9) em diazoquinona [2], a qual sofre ataque pelo ânion
de peróxido de hidrogênio, formando o endo-peróxido [3]. Este último perde nitrogênio (uma molécula
muito estável) e forma o diânion do ácido 3-aminoftálico no estado excitado [4], o qual decai para o
estado fundamental [5], processo acompanhado pela emissão de radiação por fluorescência do 3-
aminoftalato com comprimento de onda de aproximadamente 431 nm.

13
Estão enganados aqueles que acham que todos os peritos brasileiros estão munidos desses materiais.
“Se na época do assassinato do jornalista Tim Lopes a polícia brasileira já utilizasse o Luminol, o trabalho
dos peritos seria facilitado para descobrir o local do crime e fazer o reconhecimento do corpo da vítima”,
afirmou Cláudio Lopes, coordenador do projeto de síntese do luminol na UFRJ em uma reportagem no
site da mesma universidade.

Síntese e avaliação das prioridades quimioluminescentes de derivados oxigenados do luminol.

Este projeto de pesquisa tem como principal finalidade estabelecer uma interação entre a
Universidade Federal do Rio de Janeiro- UFRJ, Departamento de Química Analítica- Instituto de Química
e a Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Criminalística Carlos Eboli
(ICCE) da Polícia Técnica do Estado Rio de Janeiro.
Na busca de atingir os objetivos, o projeto foi dividido em duas etapas. A primeira etapa, já
realizada, consiste numa nova abordagem de síntese em escala multimolar e formulação do Luminol,
substância quimioluminescente amplamente utilizada na química analítica, na detecção e quantificação
dos mais diversos tipos de analitos. E a segunda etapa, será o desenvolvimento de uma estratégia de
síntese de novos derivados oxigenados do Luminol. O presente projeto pretende obter os seguintes
compostos:

2,3-dimetoxiftalazina-1,4(2H,3H)diona,
2,3,4-trimetoxiftalazina-1,4(2H,3H)diona,
2-metoxiftalazina-1,4(2H,3H)diona,
4-metoxiftalazina-1,4(2H,3H)diona,
3-metoxiftalazina-1,4(2H,3H)diona,
3,4-metilenodioxiftalazina-1,4(2H,3H)diona
2,3-metilenodioxiftalazina-1,4(2H,3H)diona.

Espera-se com a inserção de grupos oxigenados à estrutura do anidrido ftalico, precursor do


Luminol, será formada substâncias com estruturas química semelhante ao luminol, entretanto, mais ricas
em elétrons e com suas propriedades quimiluminescentes superiores às do luminol após avaliação pelo
espectrometro de UV/Visivel e fluorimetro. Esta mudança estrutural irá representar um aumento nas
propriedades quimioluminescentes destes derivados oxigenados, desse modo, então, se desenvolverão
novas formulações que irão possibilitar o emprego destes em metodologias analíticas em química forense,
na detecção de sangue humano em locais de homicídio, nas roupas de centros de tratamento intensivo,
cirúrgicos e equipamentos médicos utilizados em exames endoscópicos. A estratégia de síntese
desenvolvida neste projeto envolve a preparação de alguns intermediários estratégicos semelhantes aos
descritos nas rotas sintéticas das patentes desenvolvidas pelo nosso grupo de pesquisa1,2.

A GENÉTICA NA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL

Muito se passou desde a proposta de Bentham, em 1832, nos Estados Unidos, em empregar a
tatuagem como processo de identificação civil, ou nos tempos mais ou menos remotos, quando, premidos
pela necessidade de identificar seus semelhantes, empregavam-se os mais bárbaros e desumanos processos
de identificação. Destituídos de quaisquer recursos científicos, tais “tratamentos” consistiam na marcação
com ferro em brasa em indivíduos que houvessem praticado, por exemplo, um roubo, ou se tratasse
simplesmente de um escravo em fuga. Já neste século, com a descoberta dos antígenos eritrocitários,
tornou-se possível a idéia de discriminar indivíduos através de análises sangüíneas.
Mas em agosto de 1986, na Inglaterra, um caso criminal envolvendo o estupro e homicídio de duas
adolescentes foi solucionado com a determinação da autoria do delito após toda a população masculina de

14
dois vilarejos do condado de Leicester ter contribuído com a doação de amostras de sangue para confronto
com vestígios de sêmen coletados do corpo das vítimas. Estava assim inaugurada uma nova página no
emprego da biologia molecular e sua utilização na identificação humana criminal.
A Genética Forense iniciou quando foram utilizadas as primeiras características genéticas para fazer
testes de paternidade. ajudando a justiça.
Logo após a descoberta do Sistema ABO de grupos sanguíneos, este já foi utilizado em exames de
paternidade. Um suposto pai O não poderia ter um filho A, B ou AB, por exemplo.
A fase moderna da Genética Forense iniciou na década de 1980 quando pesquisadores descobriram
regiões altamente variáveis do DNA, capazes de individualizar uma pessoa. Em 1985, Sir Alec Jeffreys
apelidou as características únicas do DNA de uma pessoa de "impressões digitais do DNA".
No decorrer da década de 1990, com a popularização da PCR, desenvolveram-se técnicas cada vez
mais sensíveis, capazes de identificar a origem de amostras biológicas com muito pouco DNA.

PCR
PCR é o acrónimo de Polymerase Chain Reaction (em português - reacção em cadeia da polimerase).
É um método de amplificação (de criação de múltiplas cópias) de DNA (ácido desoxirribonucleico) sem o
uso de um organismo vivo, por exemplo, Escherichia coli (bactéria) ou leveduras.
O PCR encontra sua principal aplicação em situações onde a quantidade de DNA disponível é
reduzida. Em teoria, é possível amplificar qualquer DNA. Uma das principais aplicações do PCR é na
medicina forense, onde pequenas amostras de DNA retiradas da cena de um crime (pedaços de cabelo,
gotas de sangue ou saliva, pedaços de pêlo ou até mesmo a minúscula quantidade de DNA deixada em
uma impressão digital) são amplificadas para serem analisadas pelo método de fingerprinting. O PCR
também é rotineiramente utilizado em procedimentos científicos de Biologia Molecular como
amplificação para gerar mutagênese, detecção de mutações ou preparação de fragmentos de DNA para
clonagem (inserção em plasmídeo, por exemplo) como também pode ser utilizado para identificação de
patógenos que estão presentes em amostras como por a exemplo identificação de agentes como Cândida
sp, Chlamydia trachomatis, HPV Vírus do papiloma humano e seus genótipos. etc

O exame de DNA

Apontada como a maior revolução científica na esfera forense desde o reconhecimento das
impressões digitais como uma característica pessoal, as técnicas de identificação fundamentadas na análise
direta do ácido desoxirribonucléico (significado da sigla DNA, de Deoxyribonucleic Acid) ostenta pelo
menos duas vantagens sobre os métodos convencionais de identificação: a estabilidade química do DNA,
mesmo após longo período de tempo, e a sua ocorrência em todas as células nucleadas do organismo
humano, o que permite condenar ou absolver um suspeito com uma única gota de sangue ou através de um
único fio de cabelo encontrado na cena do crime.
O Instituto de Criminalística e o DNA
Pioneiro na execução de exames oficiais no país, o Instituto de Criminalística do Paraná recebe
materiais biológicos de todas as regiões do Estado além de solicitações de outros estados. Por ser uma
instituição voltada para a esfera forense, executa seus exames rigorosamente dentro do âmbito oficial,
quando houver solicitação da Autoridade Policial, Ministério Público ou Poder Judiciário, e, para tanto,
dispõe de três Peritos Criminais especialistas em biologia molecular para proceder as análises solicitadas.
Do ponto de vista das aplicações práticas na atividade pericial forense, os exames de DNA são
empregados, dentre outros, nos seguintes casos:
Identificação de suspeitos em casos de violência sexual
Identificação de cadáveres carbonizados ou em decomposição
Identificação de corpos mutilados
Identificação de peças ósseas e órgãos humanos
Investigação de paternidade

15
Produção de perfis de material genético recuperado a partir de evidências de natureza biológica
presentes em suportes diversos encontrados em locais de crimes (manchas de sangue, manchas de
esperma, manchas de saliva, pêlos e outros)

Violência sexual

Será que realmente houve o assedio sexual? No exame de corpo delito além das marcas de agressões
também pode-se realizar um exame para saber se houve um contato sexual.
A identificação de espermatozóides pode ser feitas através a da utilização de corantes para a
coloração diferencial rápida em hematologia.
Já para saber de quem são os espermatozóides deve ser feito um exame de DNA.

Método de extração

O ADN está presente nas células e especialmente no núcleo delas. Como fazer para retirar este ADN
a fim de analisá-lo posteriormente? Os métodos de extração variam de acordo com o tipo de evidência
coletada. Relembrando que, em princípio, qualquer tipo de tecido ou fluido biológico pode ser utilizado
como fonte de ADN, uma vez que são formados ou possuem células. Isso torna possível realizar o exame
de ADN em pequenas manchas de sangue ou sêmen, células da mucosa bucal (presas a cigarros, por
exemplo), fios de cabelo (com bulbo), fragmentos de pele, etc.

De maneira geral, as técnicas de extração consistem em desnaturar as proteínas que envolvem o


ADN. Para isto, utiliza-se uma gama de espécies químicas. Por exemplo, a mistura de clorofórmio, álcool
isoamílico e fenol. Outra forma é utilizando uma solução de cloreto de sódio, que separa os sistemas em
uma fase sólida e uma fase líquida, onde nesta última se encontra o ADN.

Método RFLP

A fim de reconhecer os ‘locos’ (sítios) onde ocorreram mutações foi desenvolvida a técnica
conhecida pela sigla RFLP, do inglês Restriction Fragment Length Polymorphism, ou ‘Poliformismo de
Comprimento de Fragmento de Restrição’. Este método se baseia no ‘corte’ que as enzimas de restrição
são capazes de fazer onde existem apenas certas seqüências específicas de nucleotídeos. Estas enzimas são
uma espécie de ‘tesoura biológica’ que vão ‘cortar’ o ADN em locais específicos, chamados de posições
de restrição, gerando fragmentos de ADN de tamanhos diferentes e seqüências específicas. Para separar os

16
fragmentos de ADN ‘cortados’ pelas enzimas de restrição, utiliza-se a técnica de eletroforese, que consiste
na separação das espécies de uma solução coloidal pela influência de um campo elétrico.
De forma geral, na Figura 9 temos um esquema que engloba as principais fases de um teste de ADN.

17
Devido ao fato das pessoas terem uma seqüência de nucleotídeos diferentes entre si, pode-se
identificar uma pessoa pela evidência deixada no local do crime a partir da comparação dos resultados
obtidos pelos exames de ADN. No esquema acima, temos um suspeito que supostamente teria estuprado a
vítima. Em (a) temos a coleta de sêmen na vítima e posterior exame. Também é feita a análise do ADN a
partir de uma amostra de sangue do suspeito. Em (b) são representadas as enzimas de restrição que têm a
capacidade de ‘cortar’ o ADN em lugares onde uma determinada seqüência de nucleotídeos ocorre. A
tesoura simboliza as enzimas necessárias para a seleção de seqüências específicas. Em (c) ilustra-se os
pedaços de ADN separados pela eletroforese. Em (d) é mostrado um padrão conhecido como DNA
fingerprint. Observe que os padrões oriundos do sêmen coletado e do sangue do suspeito coincidem,
indicando que o sêmen é do suspeito e que este está ligado ao crime. A separação dos fragmentos de ADN
ocorre através de eletroforese, conforme visto anteriormente. Analisaremos mais detalhes deste processo a
partir da observação da figura abaixo.

A eletroforese

O fenômeno denominado eletroforese é definido como sendo a migração de espécies carregadas


eletricamente, que ocorre quando as mesmas são dissolvidas ou suspensas em um eletrólito, através do
qual uma corrente elétrica é aplicada. Esta técnica de separação foi desenvolvida pelo químico Arne
Tiselius para o estudo de proteínas em soro e por este trabalho ele ganhou o prêmio Nobel em 1948.
Este método, denominado solução livre, era bastante limitado devido à instabilidade do aparelho, e
mais significativamente, pelos efeitos de difusão e aquecimento gerados pelo campo elétrico, os quais
comprometiam a resolução (a separação) dos compostos. Estes efeitos foram minimizados com a
introdução de suporte (gel ou papel) que ajudou a conter o movimento livre dos analitos, de forma que o
efeito da difusão fosse diminuído. Entretanto este sistema oferecia um baixo nível de automação, tempos
de análise longos e após a separação a detecção era feita visualmente.
A eletroforese capilar (EC) é uma técnica que foi introduzida em 1981, por Jorgenson e Lukacs [3] e
tem sido aceita cada vez mais, como um importante método analítico. Em sua forma mais simples a EC é
uma aproximação da técnica original, descrita por Tiselius, porém emprega-se um tubo capilar,
preenchido com um eletrólito, conforme o próprio nome sugere.
A eletroforese capilar (EC) é uma técnica aplicável na determinação de uma grande variedade de
amostras, incluindo hidrocarbonetos aromáticos, vitaminas hidro e lipossolúveis, amino ácidos, íons

18
inorgânicos, ácidos orgânicos, fármacos, catecolaminas, substâncias quirais, proteínas, peptídeos e muitos
outros. Uma característica que difere a EC das outras técnicas é a sua capacidade única para separar
macromoléculas carregadas eletricamente de interesse tanto em indústrias de biotecnologia quanto em
pesquisas biológicas. Por exemplo, o projeto Genoma Humano, que foi concluído recentemente, teve
como meta obter a seqüência completa do DNA humano e para isso foi necessário distinguir os diversos
polinucleotídeos, com massas molares, por volta de 200 a 500 Daltons (Dalton = u.m.a.) que diferiam
entre si por um único nucleotídeo. Somente a EC tem resolução suficiente para este tipo de separação.
Além disso, o DNA humano contém cerca de 3 bilhões de nucleotídeos e as altas velocidades de análises,
obtidas pela EC, permitiram que milhares de nucleotídeos fossem seqüenciados em um único dia.
Existem vários tipos de eletroforese, a citada no esqquema acima é a eletroforese em gel de agarose.
Nesse caso, a agarose é utilizada como gel para a eletroforese. A agarose é um polissacarídeo, e forma
uma rede que segura as moléculas durante a migração. Dependendo da concentração de agarose, têm-se
uma diferença no gradiente de separação. Para preparar um gel de agarose, simplesmente faz-se a mistura
entre o pó de agarose e água quente. Após fundir, coloca-se brometo de etidio, que fará o DNA ou RNA
"brilhar" quando exposto ao UV. Quando a mistura esfriar o gel estará duro. Esse endurecimento é feito
em um local apropriado, o mesmo local onde será feita a corrida da amostra. Um detalhe importante é a
colocação do pente no gel durante o endurecimento. O pente cria poços que serão utilizados para a
colocação das amostras.

O impeachment de Bill Clinton

Quem não se lembra do caso de assédio sexual envolvendo a


funcionária da Casa Branca, Mônica Lewinsky, em 1998, com o então
presidente do EUA, Bill Clinton? aquela velha história. Não se tinha provas
que confirmassem ou acusassem o presidente, mas todos começaram a
olhá-lo de maneira diferente, imaginando: será? O presidente realmente
havia tido relações sexuais com Mônica ou seria uma tentativa de
exposição da imagem dela na mídia? O FBI coletou uma amostra de sêmen
(Q3243) do vestido de Mônica e fez uma análise pelo método RFLP. Foi
também coletada uma amostra de sangue (K39) do suspeito, no caso, do
presidente Clinton. Após análises, foi reportado o seguinte: “baseado nos
resultados de sete locais genéticos, o espécime K39 é fonte do ADN obtido
do espécime Q3243, com um grau razoável de certeza científica”.A
probabilidade de erro foi calculada e ficou na ordem de 1 em 7,8 trilhões.
‘Bem razoável’, eu diria. Diante da irrefutável evidência, o presidente
Clinton quase sofreu um impeachment.

A genética forense no Brasil


Enquanto nos Estados Unidos a preocupação da polícia é tentar
corresponder às expectativas dos programas nacionais de investigação
forense, no Brasil ainda há um longo caminho a percorrer em busca da
equiparação aos padrões internacionais de qualidade para as ciências
forenses. Para obter os mesmos níveis de segurança dos exames realizados
em laboratórios de referência no exterior, é preciso estabelecer rígidos
padrões de qualidade, entre ele a calibração periódica de equipamentos, a
coleta apropriada de material e o procedimentos que minimizem as chances
de troca acidental, ou proposital, de amostras.

19
O destaque que alguns crimes ganham na televisão e a subseqüente divulgação dos métodos de
investigação forense acabaram despertando o interesse da população para o uso da tecnologia dos testes de
DNA na descoberta de paternidade e na resolução de crimes. Entretanto, a “prova do DNA” costuma ser
apresentada como algo isento de erros, o que não corresponde à verdade. Mundialmente existem casos de
contestações judiciais e invalidação de exames.
No Brasil, o primeiro laboratório para realização rotineira de exames forenses criminais através da
análise de material genético foi criado somente em 1994. Tratava-se da Divisão de Pesquisa de DNA
Forense da Polícia Civil do Distrito Federal. Atualmente, São Paulo e Minas Gerais já estão montando
laboratórios especialmente para este fim, por meio dos respectivos institutos de criminalística, órgãos da
polícia civil estadual e universidades federais locais. Em alguns estados, são os laboratórios universitários
que realizam os exames, para os quais contam com mão-de-obra formada por alunos de graduação e pós-
graduação.
Apesar do alto investimento em suporte material em todo o país, a situação nacional ainda é marcada
por um ponto fraco: a pouca disponibilidade de profissionais treinados. A pouca experiência de alguns
dos laboratórios nacionais nesse setor pode danificar amostras, por exemplo a exposição do DNA a fatores
como luz solar, microorganismos e componentes químicos pode provocar a degradação da molécula.
Logo, a correta realização da coleta e a preservação adequada do material obtido em cenas de crime são
indispensáveis para bons resultados dos testes.
Pelo menos aos poucos os laboratórios no Brasil estão começando a adotar a investigação de regiões
do DNA com pequenas seqüências repetitivas, técnica que requer menor quantidade de material genético e
não exige que a molécula de DNA se encontre em perfeito estado de conservação, ao contrário dos
métodos antigos. É um avanço, porque normalmente as cenas de crime trazem amostras degradadas de
DNA e em pouca quantidade. Algumas unidades já estão implantando também metodologias de rotina
para análise de DNA mitocondrial e de cromossomos sexuais.
Além dos esforços atuais, a Secretaria Nacional de Segurança Pública está implementando o Banco
de Dados Nacional Criminal de Perfis Genéticos, como o americano Codis, que armazena dados de
criminosos condenados, e o europeu Fenix, que contém o perfil genético de milhares de pessoas
desaparecidas. Tais ferramentas tornam mais ágil a troca de informações entre as instituições espalhadas
pelo vasto território nacional, e facilitam a resolução de diversos casos. No Brasil a implementação desse
banco de dados levará ao aumento da demanda nos laboratórios de perícia, uma vez que permitirá, por
exemplo, identificar o criminoso pela análise de uma única gota de sangue encontrada no local do crime.

IMPRESSÕES DIGITAIS

Os métodos de identificação humana foram evoluindo ao longo do tempo. Os babilônicos, por


exemplo, já em 2000 a.C, usavam os padrões de impressões digitais em barro para acompanhar
documentos, a fim de prevenir falsificações.

20
A datiloscopia se baseia em alguns princípios fundamentais, os quais estão relacionados com a
identificação humana. O princípio da perenidade, descoberto em 1883 pelo anatomista holandês Arthur
Kollman, diz que os desenhos datiloscópicos em cada ser humano já estão definitivamente formados ainda
dentro da barriga da mãe, a partir do sexto mês de gestação. O princípio da imutabilidade, por sua vez,
diz que este desenho formado não se altera ao longo dos anos, salvo algumas alterações que podem
ocorrer devido a agentes externos, como queimaduras, cortes ou doenças de pele, como a lepra. Já o
princípio da variabilidade garante que os desenhos das digitais são diferentes, tanto entre pessoas como
entre os dedos do mesmo indivíduo, sendo que jamais serão encontrados dois dedos com desenhos
idênticos. Ou princípio da classificabilidade indica o potencial de uso dos desenhos das digitais na
identificação humana. Como é praticamente impossível existir duas pessoas com a mesma digital, e
também pelo fato da existência de um reduzido número de tipos fundamentais de desenhos (veja Figura
1), é possível, via de regra, classificar uma impressão digital. Além do mais, tal procedimento possui
grande praticidade, pois obter impressões digitais é um procedimento relativamente simples, rápido e de
baixo custo quando comparado aos outros métodos.

Técnicas para revelação de digitais

Há basicamente dois tipos de


IPL: as visíveis e as ocultas. As
visíveis pó
dem ser observadas se a mão
que as formou estava suja de tinta ou
sangue. Já as ocultas são resultado
dos vestígios de suor que o dedo
deixou em um determinado local.
Aliado ao fato de que, quando a
pessoa está fazendo um ato ilícito, via
de regra, a transpiração aumenta,
transformar estas IPL ocultas em
visíveis acaba sendo um processo de
grande importância nas investigações.

Saber escolher a técnica se torna importante na medida em que, se algo der errado, uma técnica pode
não só ser ineficiente como também destruir uma IPL. O perito tem uma centena de técnicas possíveis,
aplicáveis em situações genéricas e específicas. Antes de analisar as técnicas, é importante ter uma idéia
da composição química de uma impressão digital. A Tabela acima relaciona as principais substâncias
presentes no suor humano e as glândulas que as excretam.

21
Técnica do Pó

É usada quando as IPL localizam-se em


superfícies que possibilitam o decalque da
impressão, ou seja, superfícies lisas, não rugosas
e não adsorventes3 (veja Figura 3). A técnica do
pó está baseada nas características físicas e
químicas do pó, do tipo de instrumento aplicador
e, principalmente, no cuidado e habilidade de
quem executa a atividade – vale lembrar que as
cerdas do pincel podem danificar a IPL. Além
dos pincéis, a técnica também pode ser realizada
com spray de aerossol ou através de um aparato
eletrostático. Quando a impressão digital é
recente, a água é o principal composto no qual as
partículas de pó aderem. À medida que o tempo
passa, os compostos oleosos, gordurosos ou
sebáceos são os mais importantes. Esta interação
entre os compostos da impressão e o pó é de
caráter elétrico, tipicamente forças de van der
Waals e ligações de hidrogênio.
Vapor de iodo

Para a revelação de impressões digitais com iodo utiliza-se suas propriedades físicas mais notáveis.
Primeiramente, como qualquer outro halogênio, sua cor é altamente notável. O vapor de I2 possui
coloração acastanhada, e essa cor é devida ao espectro de absorção óptico que surge primariamente das
transições onde um elétron é promovido dos orbitais preenchidos sigma e * ao orbital sigma*.

O iodo tem como característica a sublimação, ou seja, passagem do estado sólido diretamente para o
estado vapor. Para esta mudança de estado, o iodo precisa absorver calor. Este calor pode ser, por
exemplo, o do ar que expiramos ou até mesmo o calor de nossas mãos direcionado sobre os cristais. Seu
vapor tem coloração acastanhada e, quando em contato com a IPL, forma um produto de coloração
marrom amarelada. O vapor interage com a IPL através de uma absorção física, não havendo reação
química.
Esta técnica é utilizada geralmente quando a IPL encontra-se em objetos pequenos. Colocando-se o
material a ser examinado junto com os cristais em um saco plástico selado, após agitação é gerado calor
suficiente para a sublimação dos cristais. Uma vantagem que esta técnica tem em relação às demais, como
a do pó, é que ela pode ser utilizada antes de outras sem danificar a IPL. A destruição da IPL pode ocorrer
após o uso de um produto fixador que evita os cristais de iodo sublimarem novamente da impressão
digital.

22
Outros métodos também podem ser usados para a revelação de digitais, tudo depende dos recursos
diponíveis, da habilidade do perito e do tipo de digital encontrada.

As digitais de uma criança...


Peritos perceberam que as digitais produzidas pelo contato dos dedos de uma criança em um copo
plástico desapareciam mais rapidamente do que o mesmo contato feito por um adulto, nas mesmas
condições de temperatura.. Uma explicação mais científica para este fenômeno foi obtida quando os
peritos resolveram utilizar técnicas analíticas como a cromatografia gasosa e espectrometria de massa
(CGMS), as quais revelaram resultados surpreendentes.
Os compostos identificados em impressões de adultos possuíam, em média, cerca de 32 átomos de
carbono (Ex: C15H31CO2C16H33), ao passo que os extraídos de crianças possuíam uma massa
molecular menor, com cerca da metade de carbonos (Ex: C12H25CO2H). As interações intermoleculares
que explicam a volatilidade destas substâncias são as conhecidas dispersões de London.
Como estas forças intensificam-se com o aumento da massa molar e da superfície molecular, as
impressões digitais de crianças tendem a ser mais voláteis e podem desaparecer em questões de horas em
um ambiente quente. Por este motivo, concluiu-se que as impressões digitais da criança simplesmente
desapareceram. Outro aspecto importante é o fato de que os óleos presentes nas impressões digitais não
são provenientes do dedo, mas da oleosidade segregada por glândulas da face. Esta oleosidade então se
deposita na superfície do dedo toda vez que a pessoa toca a face com as mãos. Como a oleosidade muda
conforme a fase da vida da pessoa, isto também ajudou a esclarecer o fato das impressões digitais
desaparecem.

Dipolo induzido - Dipolo induzido

Também chamada Força de dispersão de London, é uma atração que ocorre entre moléculas
apolares, que quando se aproximam umas das outras, causam uma repulsão entre suas nuvens eletrônicas,
que então se deformam, induzindo a formação de dipolos. Essa força é mais fraca que a do tipo dipolo
permanente - dipolo permanente. Logo, as substâncias que apresentam esse tipo de ligação apresentam
menor ponto de fusão e ebulição. Quanto maior for o tamanho da molécula, mais facilmente seus elétrons
podem se deslocar pela estrutura. Maior é então, a facilidade de distorção das nuvens eletrônicas, e mais
forte são as forças de dispersão de London. Isso faz com que a substância tenha maior ponto de ebulição.

*Diferença entre outros tipos de forças...

23
CONCLUSÃO

Essa é uma pequena parte do que é toda a Ciência Forense que vem encantando leigos e
profissionais de Química e outras ciências. Para ser perito, estadual ou federal, deve ser prestado um
concurso e o salário varia de R$2.850,00 a R$7.965,91 mais todas as vantagens de um cargo
publico estável.
"O dever de um perito é dizer a verdade; no entanto, para isso é necessário:
primeiro saber encontrá-la e, depois querer dizê-la. O primeiro é um problema científico,
o segundo é um problema moral." Nerio Rojas
Atividade policial deve ser guiada pela inteligência isso deve incluir, fundamentalmente, a coleta e
análise de informação para elaboração de um produto final—conhecimento—criado para instrumentar o
processo decisório da gestão policial, tanto através da análise criminal tática quanto estratégica.
Perito Criminal é o policial ou servidor a serviço da justiça, ou ainda profissional autônomo,
especializado em encontrar ou proporcionar a chamada prova técnica ou prova pericial, mediante a análise
científica de vestígios produzidos e deixados na prática de delitos.
O conjunto dos elementos materiais relacionados com a infração penal, devidamente estudados por
profissionais especializados, permite provar a ocorrência de um crime, determinando de que forma este
ocorreu e, quando possível e necessário, identificando todas as partes envolvidas, tais como a vítima, o
criminoso e outras pessoas que possam de alguma forma ter relação com o crime, assim como o meio pelo
qual se perpetrou o crime, com a determinação do tipo de ferramenta ou arma utilizada no delito.
A prova pericial é indispensável nos crimes que deixam vestígio, não podendo ser dispensada sequer
quando o criminoso confessa a prática do delito.
O Perito Criminal estuda o corpo(ou objeto envolvido no delito), refaz o mecanismo do crime (para
saber o que ocorreu), examina o local onde ocorreu o delito e efetua exames laboratoriais entre outras
coisas.
A perícia criminal encontra-se atualmente em processo de expansão no Brasil, com início de
valorização por parte das autoridades, mas em curso demasiadamente lento, o que faz com que o Perito
Criminal ainda seja visto através de uma fachada de filmes de Hollywood, o que não se aplica à realidade
brasileira. O Perito Criminal não poderia ser vinculado hierarquicamente a qualquer tipo de órgão público,
sob risco de sofrer pressões ou influências externas (com a excessão da PC _ Policia Civil), bem como
deveria ter maior reconhecimento salarial, sob risco de corrupção.

REFERÊNCIAS

• www.cib.org.br, ano 2, n.º 4, junho 2004, pagina 3


• Anais brasileiros de dermatologia, Arsênio - Uma revisão histórica (80) nº 1
• http://pt.wikipedia.org/wiki/Napole%C3%A3o_Bonaparte
• Vogel, Química Analítica Qualitativa, 5ª ed, Editora Mestre Jou, SP, 1979
• http://www.unb.br/iq/labpesq/lqaa/gaston/DescritivaG1.doc
• http://www.pr.gov.br/policiacientifica/recomenda_dna.shtml
• http://www.chemkeys.com/bra/md/mds_11/elecap_4/elecap_4.htm
• CHEMELLO, E. Química Virtual, dezembro (2006)
• CHEMELLO, E. Química Virtual, janeiro (2007)
• CHEMELLO, E. Química Virtual, fevereiro (2007)
• CHEMELLO, E. Química Virtual, março (2007)
• Eclet. Quím. vol.27 São Paulo 2002
• Quim. Nova, Vol. 27, No. 3, 409-413, 2004
• Química inorgânica, P. Atkins
• http://br.geocities.com/chemicalnet/geral/ligacoes_quimicas2.htm

24

You might also like