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Sumário

1. PROGRAMA DA DISCIPLINA 1

1.1 EMENTA DO CURSO 1


1.2 CARGA HORÁRIA DA DISCIPLINA 1
1.3 OBJETIVOS GERAIS 1
1.4 CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 2
1.5 METODOLOGIA 2
1.6 CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO 2
1.7 BIBLIOGRAFIA ADOTADA E RECOMENDADA 3
1.8 SITES DE INTERESSE: 3
CURRÍCULO RESUMIDO DO PROFESSOR 4

2. INTRODUÇÃO E MICROECONOMIA 5

2.1 ECONOMIA E MICROECONOMIA 5


2.1.1 O CASO DOS MERCADOS COMPETITIVOS 5
2.1.2 ELASTICIDADE E A CURVA DE DEMANDA 16
2.1.3 ESTRUTURAS DE MERCADO 18

3. MACROECONOMIA 25

3.1 O MERCADO DE BENS E SERVIÇOS: CRESCIMENTO E INFLAÇÃO 29


3.1.1 PIB: CONCEITO E FATORES DE CRESCIMENTO DA OFERTA AGREGADA 29
3.1.2 O CONCEITO DE VALOR AGREGADO 32
3.1.3 PIB E PNB 39
3.1.4 A DEMANDA AGREGADA EM UMA ECONOMIA COMPLETA (COM GOVERNO E RELAÇÕES
COM O EXTERIOR) 43
3.1.5 O PIB E O CICLO DE NEGÓCIOS 47
3.2 FINANÇAS PÚBLICAS 51
3.2.1 DÍVIDA E DÉFICITS PÚBLICOS 51
3.3 O MACROMERCADO MONETÁRIO: A ATUAÇÃO DO BANCO CENTRAL E AS METAS
DE INFLAÇÃO 55
3.3.1 O PROCESSO INFLACIONÁRIO 55
3.3.2 A OFERTA DE MOEDA E A DETERMINAÇÃO DA TAXA DE JUROS DE MERCADO 58
3.4 O MACROMERCADO DE CÂMBIO 66
3.4.1 REGIMES CAMBIAIS 66
3.4.2 AS CONTAS DO BALANÇO DE PAGAMENTOS 70

4. PEQUENO GLOSSÁRIO DE TERMOS ECONÔMICOS 76

5. TEXTOS DE APOIO 83

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1

1. Programa da Disciplina

1.1 Ementa do Curso


Noções de Microeconomia: Custo de oportunidade, Assimetria da informação,
Equilíbrio de mercado, Estudos das elasticidades, Teoria dos jogos e Cartel .
Macroeconomia, O mercado de bens e serviços: PIB e PNB, o Balanço de Pagamentos,
o Fluxo Circular de Renda, poupança e investimento, crescimento e inflação. Meios de
Pagamento, Políticas Macroeconômicas (Monetária, Fiscal, Cambial e Comercial) e
Finanças Públicas.

1.2 Carga Horária da Disciplina


Para esta disciplina tem-se destinada uma carga horária mínima de 24
horas/aula, para que haja um bom desenvolvimento das idéias, conceitos e teorias
econômicas que podem ser aplicadas ao bom gerenciamento das organizações em todas
as suas esferas.

1.3 Objetivos gerais


Compreender os conceitos e processos econômicos mais relevantes e suas
aplicações dentro das organizações. Identificar os aspectos microeconômicos e ao
mesmo tempo conciliá-los com movimentos macroeconômicos que sejam de interesse
para as empresas e interfiram em seu processo de gestão. Permitir evoluções no
posicionamento estratégico das empresas em antecipação às ações disseminadas nas
políticas econômicas adotadas no âmbito nacional e internacional. Compreender
alternativas e a lógica subjacente à condução das políticas macroeconômicas.
Proporcionar aos gestores uma visão econômica local e ao mesmo tempo global, de

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maneira que possam usufruir dos conhecimentos econômicos em suas atividades


pessoais e profissionais.

1.4 Conteúdo Programático


Oferta e demanda;
O conceito de elasticidade;
Microeconomia
Estruturas de Mercados;
Teoria dos jogos no Oligopólio.
Determinação da renda como fluxo de valor;
Macroeconomia: o fluxo
Os conceitos de PIB e PNB;
circular de renda e o
Poupança, investimento e crescimento econômico e
mercado de bens e
Inflação;
serviços.
O balanço de pagamentos;
Políticas Macroeconômicas;
O mercado monetário-
O papel do Banco Central: políticas de mercado;
financeiro
Políticas de estabilização e as metas de inflação.
O mercado cambial e Taxas de câmbio e regimes cambiais.
fluxo de divisas

1.5 Metodologia
Aulas expositivas com o foco em fornecer um conjunto de elementos que visam
a discussão continuada de temas que envolvam a realidade econômica das empresas, do
Brasil e demais componentes do mercado internacional. As atividades e discussões
serão realizadas em pequenos grupos, com o intuito de analisar os fatos do passado, da
atual e da futura conjuntura econômica que, de certa forma, contribuirá positivamente
na formulação das estratégias por parte dos alunos.

1.6 Critérios de Avaliação


Prova discursiva envolvendo temas apresentados e amplamente debatidos
durante todo o curso. Em algumas turmas, de acordo com apontamento do professor, a
prova poderá envolver questões relacionadas a algum estudo de caso que tenha relação
direta com a vida econômica das organizações. Existem casos em que parte da avaliação
será alternativa.

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1.7 Bibliografia Adotada e Recomendada


CASTRO, L. B. de (e outros). Economia Brasileira Contemporânea. Rio de Janeiro:
Editora Campus, 2004.
EQUIPE DE PROFESSORES DA USP. Manual de Introdução à Economia. São
Paulo: Saraiva, 1998.
GONÇALVES, A.C.P. (org.) e outros. Economia Aplicada. Rio de Janeiro: Ed. FGV,
2009.
GREMAUDI, A. P. (e outros). Economia Brasileira Contemporânea. São Paulo:
Editora Atlas, 2002.
MANKIW, G. N. Introdução à Economia. São Paulo: Editora Campus, 2000.
MOCHÓN, Francisco Morcillo. Introdução à Economia. São Paulo: Editora Makron,
2002.
OBTSFELD, N. e KRUGMAN, P. Economia Internacional: teoria e prática. Editora
Makron Books, 2000.
PORTER, Michael E. Estratégia competitiva. Rio de Janeiro, Campus, 2005.
SILVA, César R. L e LUIZ, Sinclair. Economia e Mercados. São Paulo: Saraiva, 2005.
VASCONCELLOS, M. A. S. de. Economia: Micro e Macro. São Paulo: Ed. Atlas,
2002.

1.8 Sites de Interesse:


• Banco Central do Brasil: www.bcb.gov.br
• Banco Mundial: www.worldbank.org
• BNDES- Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social:
www.bndes.gov.br
• Google Acadêmico: www.scholar.google.com
• IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística: www.ibge.gov.br
• IPEA- Instituto Pesquisas Econômicas Aplicadas: www.ipeadata.gov.br
• Ministério das Relações Exteriores: www.mre.gov.br
• Ministério do Desenvolvimento: www.desenvolvimento.gov.br
• SEADE- Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados: www.seade.gov.br
• Universo Jurídico: www.uj.com.br

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Currículo Resumido do Professor


Claudio Augusto Garbi é nascido na cidade de São Paulo, SP. Formado em
Ciências Econômicas, pela Instituição Toledo de Ensino (ITE-Bauru), e também
graduado em Administração (CEUCLAR). Tornou-se especialista em Economia por
escolas da USP-ESALQ e UFSCar. Estudou na Inglaterra e Estados Unidos, além de ter
conhecido 13 países em diferentes continentes (África, América, Europa, Oriente Médio
e Oceania). É mestre em Administração pela Universidade São Francisco-USF, e desde
então, desenvolve estudos na área de docência e negócios na FGV, instituição esta que
atua desde 2004 na graduação e em vários cursos dos programas de pós-graduações. Foi
premiado pela FGV como destaque e melhor professor em Economia do FGV
Management em 2009. É coordenador de pós-graduação e vice-diretor acadêmico da
Faculdade de Agudos (FAAG), a qual coordena o MBA Internacional em Gestão
Empresarial e de Pessoas na Universidade de Benguela e em Luanda, capital de Angola.
Atua paralelamente como industrial do setor calçadista nas funções de gerente geral e de
custos em sua empresa. Vem desenvolvendo diversos trabalhos no cenário educacional
e de consultoria, tanto no Brasil como em outras nações. Suas pesquisas englobam as
áreas de Gestão, Economia, Estratégia, Custos, Projetos, Teorias Micro e
Macroeconômicas, Empreendedorismo e Sustentabilidade Socioambiental.

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2. Introdução e Microeconomia

A Economia pode ser definida como a ciência social que estuda como o
indivíduo e a sociedade decidem utilizar recursos produtivos escassos, na produção de
bens e serviços, de modo a distribuí-los entre as várias pessoas e grupos da sociedade,
com a finalidade de satisfazer às necessidades humanas. (VASCONCELLOS, 2002)

2.1 Economia e Microeconomia


Pontos-chave: Custo de oportunidade; Assimetria da informação, Demanda e
Oferta, Equilíbrio de mercado; Elasticidade; Funcionamento dos Mercados, Teoria dos
Jogos e Formulação de Cartel.

2.1.1 O Caso dos Mercados Competitivos


Numa definição bastante geral, o objeto da Economia são as relações materiais
entre os indivíduos, com especial atenção para aquelas que se realizam através do
mercado, ou seja, através de relações de caráter mercantil. Um elemento básico com o
qual trabalha a Ciência Econômica é o fato de que, na sociedade moderna, os desejos ou
necessidades materiais dos indivíduos são, em geral, mais amplos do que a
disponibilidade de recursos existentes. Em outros termos, podemos imaginar que não
existe um limite, a priori, para os desejos ou necessidades materiais, ao mesmo tempo
em que existem claras limitações à produção dos bens e serviços necessários ao
atendimento destes desejos ou necessidades.

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Este confronto entre desejos ilimitados e recursos limitados resulta no que se


convencionou chamar ―escassez‖. Este conceito, de caráter explicitamente relativo,
implica que a sociedade precisa encontrar meios de alocar recursos para a produção de
bens e serviços e desenvolver formas de distribuir estes sabendo que apenas uma
parcela dos desejos materiais dos indivíduos será satisfeita. Assim passamos a ter a
idéia que apenas uma parcela dos indivíduos poderá satisfazer seus desejos ou
necessidades. Quando o critério de definição de quais desejos ou necessidades será
atendido e quais não o serão passa por relações mercantis, de forma que o problema da
escassez se transforma em uma ―solução‖ estritamente de caráter econômico.
Compreendida desta forma, a escassez é o elemento central que justifica a
existência dos mercados. E os mercados são a melhor forma de ―resolver‖ este
problema econômico — ou pelo menos é o que afirmam os economistas.
Por mercado deve-se compreender tão somente um conceito abstrato que está
referido, em última análise, a relações mercantis específicas entre agentes econômicos.
Assim, quando falamos em mercado de automóveis, por exemplo, estamos nos
referindo ao conjunto de relações mercantis que têm por objeto carros, motos,
caminhões, etc. Se quisermos ser mais precisos, podemos falar no mercado brasileiro de
automóveis, restringindo geograficamente a idéia de mercado.
A relação entre a idéia de escassez e o conceito de mercado pode ser construída
de diversas formas. Uma delas é através da dicotomia tradicional entre oferta e
demanda. Em um mercado competitivo, temos sempre muitos ofertantes e demandantes,
isto é, pessoas que querem se desfazer de determinado bem e pessoas que desejam
adquiri-lo. O grande número de demandantes e ofertantes é o caso típico de mercados
que transacionam bens relativamente padronizados e em grandes quantidades. Ainda
que não seja o caso mais comum na história, o mercado competitivo é sempre a
referência de análise e estudo do economista tradicional.
A idéia de recursos escassos nos impõe o fato de que toda oferta é limitada, e se
contrapõe a uma demanda (potencialmente) ilimitada. No caso dos automóveis, existe
um claro limite para a sua produção; entre outros motivos, os recursos que são
utilizados na produção de carros podem ter diversos outros usos e, certamente, a
sociedade não estaria interessada em despender todos os seus meios produtivos
(energia, trabalho, matérias-primas) exclusivamente na produção de automóveis. Em
outras palavras, existe um ―custo de oportunidade‖ na produção de automóveis,
mensurável pelo valor de todos os outros bens e serviços que deixam de ser produzidos

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para que se possa fabricá-los. Por outro lado, o número de pessoas que gostaria de ter
um, dois ou diversos carros também é elevado.
Suponha que atualmente existe uma oferta limitada de automóveis em um
determinado país. Agora complemente com a idéia que os vendedores percebam que
existem mais compradores do que unidades para serem vendidas. Como resolver quem
poderá levar as unidades disponíveis e quem ficará insatisfeito?
Dentre todas as alternativas possíveis, a que possui maior relevância econômica
é a elevação dos preços de venda. Tal elevação irá reduzir gradualmente o número de
compradores, até que este iguale o número de unidades disponíveis para a venda.
Quando isto ocorrer, o mercado de automóveis estará em equilíbrio, ou seja, estará em
vigor um preço suficientemente alto e fará com que todos aqueles que continuem
dispostos a (ou ainda podem) comprar seu automóvel consigam adquiri-lo, sem que haja
nenhum consumidor em potencial não atendido.
Mas, e se o número de compradores fosse menor que o de unidades disponíveis
para a venda? Os vendedores estariam acumulando estoques indesejados e não estariam
satisfeitos. A forma de resolver este problema seria reduzir os preços, até que o número
de compradores se elevasse. O preço de equilíbrio seria aquele que deixasse
relativamente satisfeitos tanto compradores quanto vendedores, ou seja, àquele preço,
todos os que queriam comprar puderam fazê-lo, assim como todos os que queriam
vender.
Com esta descrição ilustrativa, o mercado aparece como uma forma de decidir
quem terá acesso de fato aos bens e serviços produzidos na economia, dada sua
escassez.
Por trás desta visão, com um apelo intuitivo claro, estão dois princípios que
fundamentam o funcionamento dos mercados, e que podem ser expressos de forma
bastante simples:

Princípio da demanda: Apresenta relação inversa entre o preço e a quantidade que os


demandantes desejam e podem comprar de um determinado bem ou serviço.

Princípio da oferta: Apresenta relação direta entre o preço e a quantidade que os ofertantes
desejam e podem produzir e vender de determinado bem ou serviço.

Ambos os princípios estão na base do funcionamento dos mais diferentes tipos


de mercados. Se estivermos pensando em mercados muito específicos, como o de

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automóveis ou, de uma forma ainda mais precisa, de automóveis populares em São
Paulo em 2004, podemos dizer que estamos tratando de um micromercado.

Custo de Oportunidade: O conceito de custo de oportunidade envolve uma avaliação das


escolhas que fazemos em tudo em nossas vidas, especialmente na esfera econômica.
Ninguém gosta de se arrepender de suas decisões. E isso é válido também em Economia. Uma
pessoa pode decidir aplicar seu dinheiro em renda fixa por receio do risco do mercado de ações.
Mas, se a bolsa subir muito, essa pessoa vai avaliar a diferença entre o que ganhou em renda fixa
e o que poderia ter ganho caso tivesse aplicado em ações. Essa diferença mede o ―tamanho‖ do
arrependimento dessa pessoa ou o custo da oportunidade perdida. Mas existem outros exemplos
de avaliação do custo de oportunidade que nada tem a ver com ganho financeiro. Comprar um
apartamento e descobrir, dias depois, um novo lançamento com mais itens de conforto ou
localização gera arrependimento. De novo, esse arrependimento é a diferença entre a satisfação
que temos pelo imóvel comprado e a satisfação que poderíamos ter se tivéssemos esperado mais
uns dias.

Assimetria da Informação: Em Economia, assimetria da informação ou informação


assimétrica é interpretada como um fenômeno que ocorre quando dois ou mais agentes
econômicos estabelecem entre si uma transação econômica com uma das partes envolvidas
detendo informações qualitativa ou quantitativamente superiores aos da outra parte. Essa
assimetria gera o que se define na microeconomia como falhas de mercado.
Esse fenômeno ocorre freqüentemente quando não se possui toda informação suficiente em uma
negociação, ou mesmo os segredos comerciais tão resguardados por inúmeras empresas, uma vez
que fará toda a diferença no processo comercial, afetando diretamente a atratividade dos bens ou
serviços, ou mesmo no auxílio da formulação estratégica empresarial.

Suponha que a curva D1 (representada na Figura 1, abaixo) representa a


demanda por determinado bem como automóveis populares. Através de sua
representação gráfica, podemos notar que, ao preço de $ 30.000 a unidade, o total de
vendas é de 2 milhões de unidades. A este preço, apenas uma pequena parcela dos
consumidores estaria disposta a abrir mão do consumo de outros bens e serviços para
adquirir um automóvel deste tipo. Caso o preço fosse reduzido para $ 20.000 a unidade,
a demanda seria ampliada para 4 milhões de unidades. A este preço, um número maior
de pessoas poderia adquirir este bem; outras pessoas acreditariam que o sacrifício (custo
de oportunidade), mensurado pelos demais bens que deixariam de ser comprados,
passaria a valer a pena ao preço unitário de $ 20.000. Finalmente, caso o preço fosse de
$ 10.000 a unidade, a demanda seria de 6 milhões de unidades, isto é, um número maior

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de consumidores estaria disposto a abrir mão do consumo de outros bens e serviços para
adquirir um automóvel popular.
Note que, para ―desenharmos‖ uma curva de demanda como D1, estamos
fazendo a hipótese de que tudo mais permanecerá constante naquela economia (coeteris
paribus, em latim). Isto significa que a relação entre preço e quantidade demandada,
expressa em D1, supõe que permaneceram inalterados elementos como as preferências
dos consumidores, o preço de todos os outros bens, a renda dos consumidores, e tudo
mais. Em outras palavras, estamos analisando, por enquanto, apenas a relação estrita
entre preço e quantidade, tanto do ponto de vista da demanda quanto da oferta.

Figura 1 - Princípio da Demanda

Preço
unitário em
R$
D2

D1

30.000

20.000

10.000

2 4 6 10 Unidades em milhões

Agora, observe a curva D2. Para cada preço constante no eixo vertical está
associada uma quantidade demandada maior em D2 relativamente a D1. Se, por
exemplo, o preço unitário dos automóveis populares fosse de $ 10.000, a quantidade
demanda seria de 10 milhões de unidades.
A curva D2 representa uma situação onde alguma das condições antes incluídas
em nossa hipótese coeteris paribus foi alterada (em geral, apenas uma das condições é
alterada de cada vez nas análises econômicas, todas as demais permanecendo,
constantes). Por exemplo, imagine que houve um aumento da renda dos consumidores
de automóveis populares. Tudo mais constante haverá um deslocamento da curva de
demanda de D1 para D2, conforme indicado pelas setas na Figura 1. Agora, com os

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consumidores possuindo mais renda, a cada preço unitário, a demanda por automóveis
será mais elevada do que na situação anterior, expressa em D1.
Agora, observe a Figura 2. Nela está representada uma expressão gráfica para o
princípio da oferta. Quanto mais alto o preço, maior o volume ofertado. Vamos nos
fixar novamente no caso dos automóveis populares. Observe a curva de oferta O1. Caso
o preço de oferta seja de $ 10.000, apenas um pequeno número de carros será ofertado,
ou seja, os fabricantes estariam dispostos a ofertar apenas 2 milhões de unidades. A este
preço relativamente baixo, os fabricantes estarão mais interessados em modelos com
preços mais elevados, e mesmo os comerciantes estarão desinteressados em oferecer
automóveis deste tipo. Se o preço for de $ 30.000 a unidade, o número de automóveis
ofertados também aumenta, passando para 6 milhões de unidades. Note que, quando o
preço é de $ 20.000, a quantidade ofertada é de 4 milhões de unidades.
Novamente, a curva O1 é construída com a tradicional hipótese de coeteris
paribus. Em termos da oferta, isto significa que elementos como a tecnologia, o número
de fabricantes, o preço dos insumos etc, são fixos e não se alteram. Mas, o que ocorreria
caso houvesse uma alteração do número de fabricantes? Suponha que algumas novas
empresas ingressam no mercado. Caso isso ocorra, é razoável supor que, a cada preço,
haverá uma oferta maior de automóveis. Isto é ilustrado na Figura 2 através do
deslocamento da curva de oferta de O1 para O2.
Figura 2 - Princípio da Oferta

Preço unitário
em R$ O3
O1
O2

30.000

20.000

10.000

2 4 6 Unidades em milhões

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Com mais fabricantes no mercado a disputa (ou concorrência) será ampliada e,


ao preço de $ 10.000, por exemplo, o volume de automóveis ofertado será de 4 milhões
de unidades, e não mais apenas 2 milhões. O mesmo ocorreria se, por exemplo, o preço
dos insumos fosse reduzido. Caso isso acontecesse, 4 milhões de automóveis populares
poderiam ser fabricados a um preço menor do que $ 20.000 a unidade (como estava
expresso na curva O1); em nosso exemplo, caso esta redução de preços de insumos
pudesse ser descrita pela curva O2, o preço unitário para uma produção de 4 milhões de
unidades passaria para $ 10.000, exatamente como no caso do ingresso de mais um
concorrente.
Situações opostas, isto é, a saída de um fabricante e/ou o encarecimento dos
insumos, levariam a uma contração da oferta. Isto significa que, para uma produção de 2
milhões de unidades, o preço unitário deveria ser de $ 20.000, tal como expresso na
curva O3.
Compreendidas as formas de representação gráfica dos princípios da oferta e da
demanda, podemos completar nosso mercado, indicando como as curvas de oferta e
demanda interage simultaneamente. Observe a Figura 3. Ela nada mais é do que a
reunião, em um só gráfico, das curvas D1 e O1. Da forma como foram construídas,
estas curvas de oferta e demanda se interceptam no ponto E, no qual os preços de oferta
e de demanda são idênticos ($ 20.000) e a quantidade transacionada é de 4 milhões de
unidades. O ponto E (break-even point) caracteriza o equilíbrio de mercado.

Figura 3 - Ponto de Equilíbrio Econômico, ou equilíbrio de Mercado

Preço unitário
em R$ O1

A B
30.000

20.000 E

C D
10.000

D1

2 4 6 Unidades em milhões

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Conceito de equilíbrio de mercado: o equilíbrio de mercado é atingido quando, a determinado


preço, todos os consumidores dispostos a comprar, bem como todos os produtores dispostos a
vender, atingem seus objetivos mercantis.

Na Figura 3, acima, ao preço de $ 20.000 a unidade, os consumidores estão


dispostos a adquirir 4 milhões de unidades do bem transacionado, quantidade que é
idêntica àquela que os produtores estão dispostos a ofertar àquele preço. Com isso, tanto
consumidores quanto produtores estão (relativamente) satisfeitos. Os consumidores
gostariam de adquirir um número maior de automóveis, mas apenas se o preço fosse
mais baixo. Isto porque, a um preço menor, o custo de oportunidade (o sacrifício de
outros bens que deixariam de ser comprados), também seria reduzido, estimulando a
compra do bem em questão - automóveis populares. Por outro lado, os produtores
somente estariam dispostos a ampliar a produção caso o preço fosse mais elevado;
apenas nestas condições, o negócio de produção e venda de carros populares seria
suficientemente atraente para fazê-los mobilizar recursos para sua produção,
abandonando outras alternativas de negócios.
Agora, suponha que houvesse um tabelamento de preços, e os automóveis
populares passassem a ter um preço máximo de $ 10.000 a unidade. A este preço, os
consumidores desejam adquirir um total de 6 milhões de unidades. Por seu turno, dada a
baixa atratividade do negócio, os produtores estão dispostos a ofertar apenas 2 milhões
de unidades. A diferença entre a quantidade demandada e a quantidade ofertada pode
ser representada graficamente através do segmento C-D. Este segmento indica o
excesso de demanda que ocorreria caso o preço fixado fosse baixo demais. Para 6
milhões de 10 unidades desejadas pelos consumidores, haveria apenas 2 milhões de
unidades disponíveis, gerando um contingente de consumidores insatisfeitos. Caso
análogo ocorreria caso o preço fosse fixado em $ 30.000. Neste caso, porém, o
segmento A-B ilustra o excesso de oferta, pois, a este preço, a quantidade ofertada (6
milhões de unidades) excederia a quantidade demanda (2 milhões).
O exemplo dos automóveis pode não parecer muito realista neste caso. Isto
porque, dada a existência de um número muito pequeno de produtores de automóveis,
estes em geral sabem qual a quantidade máxima que o mercado poderá absorver a cada
preço. Em outras palavras, cada produtor conhece a curva de demanda. Este tipo de
situação (excesso de oferta) é bastante comum quando da fixação de preços mínimos

Economia Aplicada
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para produtos agrícolas. Neste caso, como cada produtor é muito pequeno diante dos
volumes totais de produtos transacionados, tende a elevar sua oferta quanto o preço
mínimo é fixado em níveis muito elevados, apostando na possibilidade de poder vender
toda sua produção àquele preço. No entanto, quando todos os produtores agem da
mesma forma, o resultado é um excesso de oferta no mercado.
Caso o mercado com muitos ofertantes e muitos demandantes (isto é, um
mercado competitivo) fosse deixado para funcionar livremente, tanto os excessos de
oferta quanto os excessos de demanda seriam automaticamente corrigidos. Isto é que se
chama tendência automática ao equilíbrio. Situações de excesso de demanda tendem a
gerar disputas entre os consumidores, cuja manifestação mais simples é a existência de
filas. Havendo tal disputa, a tendência é de que os consumidores mais ―ávidos‖ pela
aquisição do bem façam lances mais altos, como em um leilão. O resultado é uma
elevação do preço que tende a reduzir a demanda e ampliar a oferta. Diante de lances
mais altos, uma parte dos consumidores desiste da compra, ao mesmo tempo em que um
número maior de unidades é ofertado.
Na figura acima, esta tendência ao equilíbrio é mostrada nas setas que indicam o
movimento de A e B em direção a E. Quando oferta e demanda coincidirem, não haverá
mais pressão por alterações de preço. O mesmo ocorre quando há excesso de oferta; os
ofertantes passariam a acumular estoques que não conseguem vender e tenderiam a
baixar seus preços para atrair compradores, ao mesmo tempo em que reduziriam a
produção. Diante de preços mais baixos, a própria oferta tende a reduzir-se, ao mesmo
tempo em que um número maior de consumidores passa a demandar o produto. Este
processo aconteceria até que oferta e demanda fossem coincidentes, quando então
dizemos que o mercado está em equilíbrio.
Agora, observe a Figura 4, abaixo. Ela mostra deslocamentos da curva de oferta.
No ponto E1, podemos observar o equilíbrio de mercado quando as curvas de oferta e
demanda são, respectivamente, O1 e D1, o preço de equilíbrio é $ 20.000 e a quantidade
de equilíbrio é 4 milhões. A curva O3 mostra uma contração da oferta, ou seja, para
cada preço, os ofertantes estão dispostos a colocar uma quantidade menor de produto no
mercado (o que pode ter sido causado pela saída de produtores ou por uma elevação nos
preços dos insumos, por exemplo).

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Figura 4 – Deslocamentos da Oferta

Preço unitário
em R$ O3
O1
O2

28.000 E3

20.000 E1

10.600 E2

D1

2,3 4 5,6 Unidades em milhões

Podemos notar que, toda vez que a oferta se retrai, tudo mais constante, o preço
de equilíbrio se eleva. No caso da figura acima, ele passa de $ 20.000 para $ 28.000.
Paralelamente, a quantidade de equilíbrio se reduz, passando de 4 milhões para 2,3
milhões de unidades. O ponto de equilíbrio que era representado por E1 passa agora a
ser E3. Situação inversa ocorre quando a oferta se expande, passando de O1 para O2.
Toda vez que a oferta se expande, o preço de equilíbrio se reduz e a quantidade
transacionada se eleva.
A Figura 5 mostra uma situação onde a curva de demanda é que se desloca:
ocorre uma expansão de D1 para D2 e uma contração de D1 para D3. No caso de uma
expansão de demanda, preços e quantidades transacionadas se elevam, ocorrendo o
oposto quando a demanda se contrai.

Economia Aplicada
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Figura 5 - Deslocamentos da Demanda

Preço unitário
em R$

O1

29.000

20.000

D2
10.400
D1

D3

Unidades em milhões
1,8 4 5,3

O funcionamento dos mercados competitivos, tal como descrito pela Economia,


nos permite compreender uma série de fenômenos. A relação básica, por trás dos
mecanismos que acabamos de descrever, refere-se a interação mútua entre preços e
quantidades transacionadas de determinado bem ou serviço.
Se tal bem ou serviço for descrito através de características bastante específicas
(automóveis ou, de forma ainda mais precisa, carros populares, por exemplo), estaremos
tratando de um micromercado e, portanto, estaremos no âmbito da microeconomia. No
entanto, podemos pensar em mercados cuja principal característica seja a descrição
bastante genérica do bem ou serviço transacionado. Por exemplo, quando analisamos o
mercado de trabalho, estamos em um nível muito geral, sem explicitarmos nenhuma
característica específica da ―mercadoria‖ transacionada. Afinal, estamos preocupados
como o trabalho feminino na indústria paulista, por exemplo? Ou com o trabalho de
recém formado em direito em Porto Alegre? Se estivermos pensando no mercado de
trabalho global de um país, não estaremos fazendo distinções deste tipo e, portanto, não
estaremos no âmbito da microeconomia, mas no da macroeconomia. Em outras
palavras, quando pensamos em um mercado definido de forma bastante genérica e para
um país como um todo, estamos tratando de macromercados.
Apesar de sua característica de generalidade e abrangência nacional, os
macromercados obedecem, em linhas gerais, os mesmos princípios de funcionamento

Economia Aplicada
16

de micromercados como o de carros populares, utilizado acima. Assim, é possível


pensar em oferta, demanda, preço, equilíbrio, e tudo mais que foi definido para
micromercados.

2.1.2 Elasticidade e a Curva de Demanda


O conceito de elasticidade da demanda procura mensurar a sensibilidade dos
agentes que desejam comprar algum bem a alterações em alguma das variáveis que
determinam a curva de demanda, normalmente sobre a ótica do preço. As duas
elasticidades mais importantes são a elasticidade-preço (que representaremos por Ep) e
a elasticidade-renda (representada por Er) da demanda. Genericamente, a elasticidade da
demanda é calculada da seguinte forma:

Variação percentual na quantidade demandada


Ep ou Er =
Variação percentual no preço ou na renda

(Qf – Qi) / Qi
EP =
(Pf – Pi) / Pi

Como mostra a figura abaixo, nem todas as demandas reagem do mesmo modo a
variações no preço. Quando o preço cai de P1 para P2, observe que a quantidade
demanda na curva A varia menos que na curva B. Assim, a sensibilidade (elasticidade)
preço é maior para a curva B. O valor crítico para a elasticidade-preço é 1.
Se o preço variar 10% e a quantidade demandada variar, por exemplo, 5%,
teremos uma Ep < 1 (desprezando-se o sinal). Isso significa que a demanda é pouco
sensível a preço como a demanda A da Figura 6. Se o preço variar os mesmos 10% e a
quantidade varia, por exemplo, 25%, teremos uma Ep > 1. Isso significa que a demanda
é muito sensível a preço e os impactos sofridos com qualquer elevação do mesmo será
direto na comercialização do bem ou serviço.

Economia Aplicada
17

Figura 6 – Elasticidade-preço

P2

P1

DA DB

QA1=QB1 QA2 QB2 Q

Na economia há basicamente três fatores determinantes da elasticidade-preço da


demanda, são eles:
Necessidade ou essencialidade: reagimos menos às altas no preço dos remédios
ou da energia elétrica residencial do que às altas de igual proporção nos preços de itens
como mensalidades de revistas ou viagens internacionais. Isso porque os dois primeiros
itens são considerados mais essenciais que os últimos.
Peso no orçamento: todos nós somos mais sensíveis a variações nos preços dos
itens com maior peso em nosso orçamento. Você reagiria mais a um aumento de 15%
no preço do cafezinho ou a um aumento dos mesmos 15% no preço da gasolina?
Certamente, como gastamos maiores parcelas de nosso orçamento em gasolina,
reagimos muito mais às variações de preço desse último item. Da mesma forma, pessoas
com menor renda são mais sensíveis ao preço, pois mesmo pequenas variações nos
preços acabam pesando demasiadamente em seu orçamento.
Concorrência ou existência de substitutos: se houvesse uma única marca
disputando um determinado mercado, aumentos de preço seriam seguidos de pouca
reação dos demandantes devido à falta de opções em termos de substitutos. O mesmo
ocorre quando há grande fidelidade do consumidor a determinada marca: mesmo diante
de elevações de preço, como para um consumidor fiel não há substitutos perfeitos para
sua marca preferida, a reação em termos de quantidades seria muito pequena.
Existe também a visão da Fidelidade por um bem ou serviço que impacta em
sua elasticidade, porém esse item cada vez mais está sendo difícil de se conciliar, dado o

Economia Aplicada
18

enorme volume de opções que o mercado apresenta rotineiramente, seja ele de bens ou
de serviços.
Por sua vez, a elasticidade-renda (Er) é útil para classificarmos os bens e
serviços em superiores ou normais (―tops‖ de linha) ou inferiores (―pops‖, ou
populares). O valor crítico para a elasticidade-renda é zero.
No caso dos bens ―top‖ (superiores), quando a renda aumenta, a demanda pelo
mesmo também se eleva. Com isso, na fórmula da elasticidade, teremos variações
positivas tanto no numerador quanto no denominador. Por outro lado, quando a renda
cai, a demanda também deste bem ou serviço também cai. Com isso, na mesma
fórmula, teremos variações negativas tanto no numerador quanto no denominador. Em
outras palavras, a Er dos bens superiores sempre será um número maior que zero, ou
seja, positiva.
Quando nossa renda aumenta, aumentamos a demanda por filé mignon, pulsos
de telefonia celular e sessões de cinema. Esses são bens e serviços para os quais a
demanda varia junto com a renda. Se a renda cai, a demanda por esses itens tende a cair
também pelo fato de existirem bens mais baratos que substituem os mesmos.
No caso dos bens ―pop‖ (inferiores) ocorre o inverso. Quando nossa renda cai, a
demanda por eles aumenta, pois estamos substituindo os bens ―top‖ pelos mais
populares. Mas quando a renda aumenta, fazemos o contrário. Na fórmula acima,
teremos variações positivas divididas por variações negativas e vice-versa. Em outras
palavras, a Er dos bens inferiores é sempre menor que zero, ou seja, um resultado
negativo.

2.1.3 Estruturas de Mercado


Uma hipótese básica para o funcionamento do sistema descrito nas seções
anteriores é que os mercados estejam operando com um grau elevado de concorrência.
Numa situação limite, estaríamos em concorrência perfeita. Se os mercados estiverem
funcionando com essa estrutura, as firmas não estarão em condições de realizarem
conluios ou cartéis. Isso poderia ocorrer porque, caso houvesse um cartel que tentasse
elevar preços e margens de lucro, qualquer empresa de fora poderia entrar no mercado
com preços mais baixos e ―se apossar‖ de toda a demanda.
O cartel é crime contra a ordem econômica previsto no art. 4º da Lei n.º 8.137,
de 27 de dezembro de 1990. Trata-se da formação de acordo, convênio, ajuste ou

Economia Aplicada
19

aliança entre ofertantes, visando à fixação de preços ou quantidades vendidas ou


produzidas, prevista no inciso II, "a" do dispositivo em questão. Falamos de crime
pessoal, cuja sanção consiste em pena de reclusão ou multa.
O cartel é, também, crime concorrencial e, portanto, infração econômico-penal.
Nos termos do art. 21 da Lei n.º 8.884, de 11 de junho de 1.994, trata-se de fixação de
preço e condições de venda de bens e prestação de serviços em acordo com concorrente;
obtenção de conduta comercial uniforme ou concertada entre concorrentes; divisão de
mercados de serviços ou produtos; combinar previamente preços ou vantagens em
concorrência pública. Os crimes concorrenciais, equiparados ao tort anglo-saxão, ao
serem enquadrados como infrações de cunho econômico-penal, ensejam penalização
essencialmente econômica.
Crimes contra a ordem econômica, ao serem perpetrados pela pessoa jurídica
(responsabilidade empresarial) ensejam punição econômica. O cartel, ao gerar a
generalizada perda de bem-estar econômico da sociedade e de competitividade do
próprio cartel – que assegura, ardilosamente, seu poder de mercado – deve ser
combatido com veemência. Assim se faz necessário, uma analise como o governo pode
caracterizar algumas situações da indústria como sendo um cartel.
Evidentemente que isso exigiria que o produto em questão fosse altamente
padronizado (semelhantes) e que a tecnologia1 necessária para produzi-lo fosse
totalmente acessível. Em resumo, a concorrência perfeita é uma situação onde, por
quaisquer motivos, todas as firmas têm que cobrar preços muito parecidos ou até
mesmo idênticos e não há como impedir que novas firmas entrem no mercado ofertando
o produto. Isso só seria possível se esse mercado tivesse as seguintes características:

1) Transacionasse um bem padronizado, isto é, que não apresentasse diferenças


de marca ou origem relevantes;
2) Fosse de livre entrada para firmas que quisessem passar a operar nele;
3) Tivesse um grande número de firmas operando.
Ocorre que esse tipo de mercado, muito embora seja o mais estudado, não
constitui o caso mais típico nas economias modernas. No extremo oposto da

1
Por ―tecnologia‖, os economistas entendem não somente saber como fazer, mas também como
comercializar, o que inclui o domínio de estratégias mercadológicas na definição da marca e de
distribuição do produto.

Economia Aplicada
20

concorrência perfeita, estaria o monopólio, isto é, o mercado dominado por uma única
firma. Em geral, o monopólio surge devido a três causas básicas:
1) O tamanho do mercado: imagine uma cidade pequena na qual se instala um
hipermercado. Esse estabelecimento, por operar em escala mais ampla e ter custos de
comercialização mais baixos, pode levar à falência todos os mercados tradicionais da
cidade. Mais ainda, caso outro hipermercado se instale na mesma cidade, o movimento
em cada um deles será tão pequeno que ambos passarão a operar com prejuízo.
Portanto, só há mercado para uma firma. Esse tipo de estrutura de mercado é chamado
de monopólio natural.
2) O monopólio pode ser instituído por lei, como foi o caso diversos serviços de
utilidade pública no Brasil até há alguns anos atrás. Esse é o monopólio legal.
3) Por fim, o monopólio pode ser resultado de uma inovação tecnológica
desenvolvida por uma empresa que a mantém como segredo industrial (assimetria) ou
patente. Essa inovação pode ser a descoberta de um novo produto (caso típico da
indústria farmacêutica), a descoberta de um novo tipo de empreendimento (como foi o
caso da Disneylândia que, durante muitos anos, simplesmente não teve concorrentes em
escala mundial), a conquista de uma reputação ou a ―fixação‖ de uma marca (caso típico
de produtos de perfumaria ou moda e mesmo de informática, como certas marcas de
perfume francês, ou softwares).

Economia Aplicada
21

Quadro1 - Características das estruturas de mercado

Estruturas Número de concorrentes Características básicas


Tamanho do mercado não
Natural
permite mais de uma firma.
Legislação que institui
Legal
Um único ou uma empresa monopólio.
Monopólio
muito maior que as demais Domínio de ―segredos
industriais‖ (assimetria),
Tecnológico
patentes ou marcas que
impedem a concorrência.
Produto padronizado,
barreiras à entrada de novos
concorrentes e preços
Com uniformes.
Oligopólio Poucos
combinação Produto diferenciado,
barreiras à entrada de novos
concorrentes e preços
diferenciados.
Produtos únicos, com
características semelhantes
Competição Monopolística Muitos
que atendem um mercado
específico.
Produtos padronizados, onde
Concorrência Perfeita Muitos há livre entrada de firmas e
os preços são uniformes.

Entre os dois extremos da concorrência perfeita e do monopólio, temos os


mercados que operam com poucas firmas - isto é, ao menos duas, mas não muitas estes
são os oligopólios. A característica básica dessa estrutura de mercado é a existência de
barreiras à entrada, de forma que não é fácil para uma firma nova entrar no mercado e
passar a concorrer com as já estabelecidas.
Isso pode ocorrer por razões parecidas com aquelas que explicam a existência de
monopólios. Por exemplo, na atualidade, o tamanho do mercado brasileiro não permite
que existam mais de duas empresas de telefonia fixa de longa distância. Na indústria
automobilística ou eletrônica, não é fácil dominar a tecnologia de produção. Quando o
produto ofertado pelas empresas que operam em oligopólio é muito padronizado (como
é o caso de papel para impressão ou baldes de plástico), dizemos que se trata de um
oligopólio homogêneo. Nesse caso, os preços cobrados por cada ofertante não podem
ser muito diferentes, caso contrário os consumidores simplesmente escolherão o produto
mais barato.

Economia Aplicada
22

Quando há uma clara diferenciação entre as diferentes ―marcas‖ (como é o caso


e eletroeletrônicos, automóveis ou cervejas), dizemos que se trata de um oligopólio
diferenciado.
O Quadro 1, acima, resume as principais características das estruturas de
mercado. Para entender como atuam os oligopólios vamos inicialmente estudar uma
situação muito utilizada no ensino de microeconomia. Trata-se de um acontecimento
imaginário, cujos resultados podem ser imediatamente aplicados à atuação de um
oligopólio homogêneo de duas firmas - isto é, um duopólio. Essa situação hipotética é
chamada de dilema dos prisioneiros, vinculado ao estudioso John Nash.
A Teoria dos Jogos é o estudo econômico que visa representar os padrões de
interações nos quais os resultados auferidos por qualquer participante (players) depende
das ações de alguns ou todos os integrantes deste mercado.
Suponha que duas pessoas foram presas e são acusadas de terem cometido um
crime juntas. Cada uma é colocada em uma cela separada e precisa decidir se confessa
ou não o crime, antes de saber o que o outro prisioneiro decidiu. As penas a serem
aplicadas serão as seguintes:
1) Caso ambos os suspeitos confessem o crime, serão condenados a uma pena de
2 anos na prisão;
2) Caso um confesse e o outro não, o que confessou é libertado imediatamente
por ter colaborado com a justiça e desmascarado o outro que ficou calado, mas o
suspeito que não confessou, por ter tentado obstruir a justiça, será condenado a 4 anos
(2 pelo crime e mais 2 pela tentativa de obstrução);
3) Caso nenhum dos dois confesse, eles permanecerão presos por apenas 1 ano,
durante as investigações.
O quadro abaixo resume o dilema dos prisioneiros. Os números entre parênteses
representam as penas aplicadas em cada caso (o número da esquerda é a do prisioneiro
A e o da direita é a do prisioneiro B). Note que estamos representando as penas com
sinais negativos para indicar que cada ano na prisão é um custo ou perda.

Prisioneiro B
Confessa Não confessa
Confessa (-2; -2) (0; -4)
Prisioneiro A
Não confessa (-4; 0) (-1; -1)

Economia Aplicada
23

O que você acredita que os prisioneiros fariam? Note que o melhor resultado
para ambos analisados em conjunto seria não confessarem os dois a um só tempo. Isso
resultaria em apenas 1 ano de prisão para cada um. Qualquer outro comportamento faria
com que pelo menos um deles passasse no mínimo 2 anos atrás das grades. Mas, se
você olhar atentamente para a figura acima, vai notar que a atitude de confessar é
sempre melhor que a de não confessar. Se, por exemplo, o prisioneiro A espera que o
outro vai confessar, o melhor que A tem a fazer é confessar também e, assim, pegar uma
pena de 2 anos em lugar de 4. Mas se A imagina que B não vai confessar, ele também
prefere confessar pois, nesse caso, é solto imediatamente em lugar de ficar na cadeia por
6 meses.
Observando com atenção o quadro acima, é possível notar que, qualquer que a
expectativa do prisioneiro A sobre a decisão do outro, o melhor a fazer é confessar. Isso
também vale para o prisioneiro B. Nesse caso, dizermos que confessar é a estratégia
dominante para ambos os prisioneiros (vamos passar a chamá-los de agentes, que é um
termo mais leve). A hipótese de comportamento, muito razoável e racional, é de que os
agentes escolhem sempre as estratégias dominantes, isto é, se adotar uma determinada
estratégia é sempre melhor que adotar qualquer outra, evidentemente que o agente
adotará essa estratégia.
A limitação do nosso exemplo para que possamos passar a uma aplicação
econômica do dilema dos prisioneiros é que os agentes não podem se comunicar antes
de decidir o que farão e, obviamente, as empresas que atuam em oligopólio trocam
informações, ainda que indiretamente. Assim, vamos alterar um pouco o exemplo,
permitindo aos agentes uma única comunicação prévia. Suponha que os prisioneiros
tenham feito um pacto de não confessar o crime em caso de prisão. Você acredita que
eles manteriam o pacto depois de terem sido pegos, abandonando a estratégia
dominante? Se o prisioneiro A acreditar que B vai manter a promessa, ele estará tentado
a romper o acordo. Nesse caso, A confessa e é solto imediatamente e B fica preso por 4
anos. Nesse ponto, caso B tenha receio de que A vai cair em tentação, ele prefere
confessar também, por simples medo. Se A acha que B não acredita nele, também
poderá confessar, confirmando o receito de B de que A confessaria, rompendo o acordo.
Mas se ambos confessarem, ambos terão agido como se o pacto não existisse.
Quando chegamos nesse ponto da análise do dilema dos prisioneiros, já estamos
nos encaminhando para o estudo das empresas que atuam em oligopólio. Para isso,
basta substituir a situação analisada por outra, muito parecida, mas com a mesma

Economia Aplicada
24

estrutura. Suponha que em um mercado existem apenas duas firmas: A e B. Suponha


que essas firmas atuam em uma estrutura de oligopólio homogêneo e estão decidindo
sobre que quantidades deverão ofertar de um produto padronizado. Suponha ainda que
essas firmas tenham que escolher entre dois níveis de oferta: 1 e 2. Os resultados em
termos de lucros estão resumidos no quadro a seguir.

Lucro das empresas em $ milhões.


Empresa B
Nível 1 Nível 2
Nível 1 (9; 9) (12,5; 6)
Empresa A
Nível 2 (6; 12,5) (10; 10)

Vamos admitir que o nível 1 seja uma grande oferta de produtos. Isso permitiria
$ 9 milhões de lucro para cada uma. Mas, se ambas as empresas produzirem nesse nível
alto, só conseguirão vender a produção a preços baixos, pois o mercado tenderá a ficar
saturado. Elas podem formar um cartel e combinarem de produzir ambas no nível 2
(mais baixo). Isso faria com que houvesse escassez do produto, elevando os preços e
fazendo os lucros subirem de $ 9 milhões para $ 10 milhões. Acontece que, como no
dilema dos prisioneiros, as firmas estão tentadas a desrespeitarem o cartel. Observe que,
caso a empresa A suponha que a empresa B vai honrar o acordo e produzir no nível 2,
ela (firma A) pode ter um lucro ainda maior ($ 12,5 milhões) caso produza no nível 1,
rompendo o acordo e ganhando na quantidade vendida. Com isso, os preços irão baixar
um pouco (pois o produto não será tão escasso) e a firma B terá uma redução nos seus
lucros (que passarão para $ 6 milhões quando ela esperava $ 10 milhões).

Economia Aplicada
25

3. Macroeconomia

Em uma perspectiva empresarial, o estudo da Macroeconomia se dedica à


análise de um conjunto de fenômenos, derivados da ação conjunta dos agentes
econômicos, e que determina o entorno mais amplo do ambiente de tarefa da empresa.
Muito embora cada firma esteja sempre e antes de tudo preocupada com o que ocorre
em seus próprios mercados (de bens e serviços, em um extremo, e de insumos, no
outro), cada um destes mercados é afetado diariamente pelas chamadas variáveis
macroeconômicas: taxas de câmbio, carga tributária, taxa de juros, etc. Mesmo a
empresa que não tenha nenhum tipo de relação com o exterior deve se preocupar com o
comportamento da taxa de câmbio; mesmo a empresa que não é nem credora nem
devedora líquida deve se preocupar com a taxa de juros, e assim por diante. Isto porque
as variáveis macro afetam um grande número de agentes de uma só vez. Se a empresa
não for ela própria afetada, certamente ou seus clientes, ou seus fornecedores, ou seus
trabalhadores ou todos a um só tempo o serão.
Figura 7 - Esferas que compõem o ambiente de tarefa da empresa

EMPRESARIAL SETORIAL MACROECONÔMICA

Economia Aplicada
26

É por isso que, se imaginarmos que o ambiente de tarefa da empresa é, na


verdade, representado por uma sobreposição de níveis, como na figura acima, cada um
dos quais com um determinado tipo de influência sobre suas atividades cotidianas, o
nível macroeconômico será o mais amplo de todos, no sentido de que não se refere às
variáveis diretamente controladas pela firma. Ao mesmo tempo, porém, os destinos dos
negócios da empresa a longo prazo estão intimamente relacionados às tendências das
variáveis macroeconômicas. Uma empresa jamais manterá seus preços constantes se
houver uma inflação acelerada; jamais poderá manter-se pesadamente endividada se a
taxa de juros for alta demais; jamais manterá um mesmo número de empregados caso os
salários caiam fortemente, e assim por diante.
É por razões como esta que o estudo da macroeconomia se insere na dimensão
estratégica da firma, e pode contribuir explicitamente com a manutenção de um padrão
adequado de gestão de seus negócios.
A Macroeconomia pode ser compreendida através do estudo do funcionamento e
da interação recíproca de três macromercados. Como dissemos acima, tais mercados são
definidos da forma mais genérica e abrangente possível, e estão sempre referidos ao
conjunto de uma economia nacional. Os três macromercados são:
a) Bens e serviços;
b) Moeda (e demais ativos financeiros);
c) Câmbio.
Como em todo mercado, cada um destes três macromercados possui preços e
quantidades transacionadas. No entanto, os preços e quantidades nestes mercados
possuem algumas peculiaridades. Em nosso exemplo dos automóveis populares, era
fácil mensurar as quantidades transacionadas; tais quantidades eram simplesmente o
número de unidades de automóveis vendidos em determinado período. No entanto, com
fazer para ―contar‖ unidades no macromercado de bens e serviços, por exemplo? Como
somar unidades de uma infinidade de bens e serviços, com características muitas vezes
absolutamente distintas?
Antes de tentarmos propor uma solução para este tipo de problema, vamos
apresentar o que seriam os preços e as quantidades em cada um dos macromercados (ou,
pelo menos, quais são as variáveis que fazem as vezes de preços e quantidades nestes
mercados).
Quando falamos do conjunto de todos os bens e serviços produzidos em um país,
podemos avaliar seus preços através de uma média. Esta média deve ser construída

Economia Aplicada
27

ponderando cada bem ou serviço de acordo com sua importância relativa no total de
bens e serviços produzidos. Esta média ou preço médio é o chamado Nível Geral de
Preços e pode ser compreendido como o preço vigente no macromercado de bens e
serviços. No entanto, dada a infinidade de bens e serviços produzidos em um país a cada
ano, é literalmente impossível saber com exatidão qual o nível geral de preços (ou qual
o preço médio de todos os bens e serviços). Diante desta dificuldade, costuma-se
estimar o Nível Geral de Preços através de índices, calculados por institutos de
pesquisa. No Brasil, a melhor aproximação para o Nível Geral de Preços é o Índice
Geral de Preços (IGP). As variações no IGP nos oferecem uma forma de medir a
inflação, que nada mais é do que uma elevação do Nível Geral de Preços.
No que se refere às quantidades no macromercado de bens e serviços, costuma-
se utilizar como aproximação o PIB ou Produto Interno Bruto. Voltaremos a tratar do
PIB com mais detalhes adiante. Por enquanto, podemos dizer que o PIB é a soma dos
valores de todos os bens e serviços finais, produzidos em uma economia durante certo
período de tempo. Assim, a produção de aço, utilizada na fabricação de automóveis ou
na construção de edifícios não entra no cômputo do PIB, uma vez que o aço não é um
bem final e sim um insumo. O preço do aço será computado nos preços dos automóveis
e dos edifícios, os quais já incorporam todos os custos, incluindo o preço do próprio
aço. Isto evita que se faça dupla contagem, isto é, que somemos o preço do aço duas
vezes, uma quando ele próprio é produzido e outra quando consideramos os preços dos
automóveis e dos edifícios, os quais já trazem embutidos os custos com o aço. O cálculo
do PIB nos permite somar bens e serviços com características muito diferentes, como
casas e cortes de cabelo, ponderando cada item por seu próprio preço.
Como em todo mercado, no macromercado de bens e serviços haverá uma oferta
(chamada de oferta agregada) e uma demanda (chamada de demanda agregada). Os
ofertantes são em geral empresas (também os trabalhadores autônomos) e os
demandantes são tanto consumidores quanto outras empresas. Estas últimas podem estar
interessadas, por exemplo, em adquirir automóveis para sua frota ou contatar serviços
de engenharia.
No macromercado de moeda (e outros ativos financeiros), o preço é a taxa de
juros. Isto porque a moeda pode ser emprestada, como se fosse um bem que se aluga, e
a remuneração por este aluguel é exatamente a taxa de juros. A quantidade neste
mercado é o volume de moeda em circulação, o qual pode ser avaliado pelo volume de
meios de pagamento. Este conceito também será melhor explicado adiante; por

Economia Aplicada
28

enquanto podemos definir meios de pagamento como os ativos financeiros que são
inequivocamente aceitos para o pagamento de obrigações, isto é, a moeda propriamente
dita (que está nas mãos das pessoas ou nas reservas dos bancos) e depósitos à vista.
Finalmente, no macromercado de câmbio, negocia-se moeda estrangeira,
principalmente o dólar americano. Ofertantes e demandantes são simplesmente pessoas
querendo se desfazer ou querendo adquirir dólares (ou outra moeda estrangeira). As
quantidades são simplesmente os fluxos de dólares transacionados e o preço é a taxa de
câmbio. Esta última nada mais é do que o preço em moeda nacional de cada unidade da
moeda estrangeira. Quando dizemos que US$ 1 vale R$ 2,95, estamos afirmando que o
preço do dólar é R$ 2,95.
Em toda nossa discussão macroeconômica, estaremos nos referindo sempre a um
ou mais destes macromercados uma vez que o dia-a-dia da economia de um país pode
ser descrito através do funcionamento deles. No entanto, ao contrário de alguns
micromercados, os macromercados estão fortemente relacionados entre si e o que se
passa em cada um deles tem conseqüências diretas e indiretas sobre os demais. Assim,
para compreendermos este tipo de interação, faremos um percurso mais ou menos
longo, até que, ao final desta apostila, possamos tratar novamente dos três
macromercados, interagindo mutuamente.

Figura 8 - Sistemas de Políticas Macroeconômicas

Bens e
Monetário Cambial
serviços

Política Monetária Política Fiscal e Política Cambial


Política Comercial

Os três macromercados não apenas têm relações importantes entre si como


também são influenciados pela ação da política econômica do governo. Veremos que há
três frentes principais de ação da política econômica: a política cambial, a política fiscal

Economia Aplicada
29

e a política monetária, cada uma delas atuando diretamente sobre cada um dos
macromercados e, indiretamente, sobre os demais, com reflexos sobre o ambiente de
atuação das empresas.

3.1 O Mercado de Bens e Serviços: Crescimento e


Inflação

Pontos-chave: PIB como fluxo de bens, serviços e geração de renda; Valor


agregado ou valor adicionado; PIB versus PNB; Conceitos econômicos de Poupança e
Investimento; Fluxo circular de renda.

3.1.1 PIB: Conceito e Fatores de Crescimento da Oferta Agregada


As duas variáveis centrais em qualquer exercício de cenarização
macroeconômica são crescimento e inflação. Em outras palavras, a evolução no tempo
do Produto Interno Bruto (PIB) e do Nível de Preços (mensurado estatisticamente pelo
Índice Geral de Preços - IGP). Esses são dois dos principais agregados
macroeconômicos. Como o próprio nome diz, esses agregados são mega-variáveis que
permitem acompanhar a evolução do ambiente econômico em seu nível mais geral.
Crescimento econômico e inflação representam, portanto, o ponto de partida para
qualquer construção de cenários em Macroeconomia.
Vamos começar pela definição da primeira dessas variáveis. Como o próprio
nome diz, o Produto Interno Bruto representa, em primeiro lugar, o total da produção
em um país.

Economia Aplicada
30

Principais índices de preço no Brasil


Índices Gerais de Preço: são calculados através da média ponderada de outros três índices (60%
IPA - Índice de Preços por Atacado, 30% IPC - Índice de Preços ao Consumidor e 10% - Índice
Nacional de Custos da Construção). Como Duas instituições calculam, cada uma, seu próprio
IGP:
a) IGP-DI (disponibilidade interna) evolução dos preços do dia 30 ao 30 do mês posterior (FGV -
contratado pelo governo federal)
b) IGP-M (de mercado) evolução dos preços do dia 21 ao 21 do mês posterior (FGV - contratado
pelo setor privado)

Índices de Preço ao Consumidor (IBGE): como o próprio nome diz, visa monitorar o chamado
―custo de vida‖, isto é, os preços ao consumidor tais como despesas com supermercados,
aluguéis, serviços pessoais e de utilidade pública, etc. Os dois principais índices de preço ao
consumidor divergem basicamente pela abrangência em termos da cesta de consumo que serve de
referência para o cálculo. Além disso, o IPCA ganhou notoriedade desde 1999 ao ser adotado
como meta oficial de inflação pelo Banco Central. Ambos os índices abaixo são calculados pelo
IBGE:
a) INPC (nacional) baseado no padrão de consumo de famílias com renda entre 1 e 6 Salários
Mínimos (S.Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Curitiba, Recife, Fortaleza,
Salvador, Brasília, Belém e Goiânia)
b) IPCA (amplo) baseado no padrão de consumo de famílias com renda entre 1 e 40 Salários
Mínimos, com a mesma abrangência geográfica.

Ocorre que realizar essa mensuração pode acarretar em erros grosseiros se a


metodologia não for simples e inteligente em termos contábeis. Isso sem falar nas
dificuldades estatísticas de realizar uma amostra adequada de empresas e setores.
Assim, vamos analisar a primeira e mais direta definição de PIB, abaixo.

PIB: é calculado a partir da soma dos valores de todos os bens e serviços finais produzidos
dentro das fronteiras de um país durante certo período de tempo (um ano, um semestre, um
trimestre etc.).

Vale destacar um a um os diferentes aspectos da definição acima. Antes de mais


nada, é preciso estar atento para o termo bem final (vide glossário).
Ao definirmos o PIB como o somatório de todos os bens e serviços finais
gerados em um país durante um certo período de tempo estamos evitando a chamada
dupla contagem. Imagine que em lugar dos bens e serviços finais, tentássemos mensurar
o PIB pela soma de todos os bens e serviços gerados em um país, fossem eles finais ou
não. Suponha que começássemos pela produção de cimento, aço e edifícios, como
ilustrado na figura abaixo.

Economia Aplicada
31

Figura 9 – Valor agregado

A relevância em se agregar valor


Aço = $ 4 bi Exportação
$ 1 bi
Lucro
-------- VA
Construção $ 5 bi

$ 3 bi VP
Transformação VI
$ 9 bi
$ 4 bi
$ 1 bi

Cimento = $ 1 bi VA = VP – VI
Valor Agregado = Valor do Produto – Valor dos Insumos

Prof. M.Sc. Claudio A. Garbi

O valor da produção total de cimento em um país em determinado ano teria sido,


digamos, R$ 1 bilhão. A produção de aço teria sido de R$ 4 bilhões e a de edifícios R$
9 bilhões. Se estivéssemos começando a calcular o PIB pela soma destes três setores já
teríamos um total de R$ 10 bilhões. No entanto, sabemos que o valor total de cimento
produzido foi vendido para o setor de construção civil e utilizado na construção de
edifícios como insumos naquele ano. O mesmo ocorreu com 1/4 da produção de aço (ou
seja, R$ 3 bilhões). O restante foi exportado. Isto significa que nos R$ 9 bilhões
correspondentes à produção de edifícios já estavam embutidos na forma de custos de
insumos R$ 4 bilhões correspondentes à utilização de cimento e aço. Ao somarmos o
valor da produção dos três setores em nossos primeiros cálculos para mensurarmos o
PIB, incorremos no erro de dupla contagem desse valor. É por isso que todas as vendas
de cimento e aço feitas por seus produtores aos produtores de bens finais devem ser
contabilizadas no PIB apenas de forma indireta. Assim, os R$ 9 bi já carregam em seu
valor R$ 1,0 bi de cimento (insumo) e R$ 3 bilhões de aço (outro insumo). Se
considerarmos o bem final (edifícios) no cálculo do PIB, devemos excluir do cálculo do
PIB os insumos já incorporados. Ao mesmo tempo, o valor do aço exportado deve ser
igualmente somado, pois esse aço não foi utilizado como insumo no país em questão e,

Economia Aplicada
32

por convenção, bem final é todo aquele que não é utilizado como insumo (ver
glossário). E isto explica o método de cálculo do PIB, destacado acima.

3.1.2 O Conceito de Valor Agregado


O conceito de valor agregado ou de ―agregar valor‖ possui um uso corrente
impreciso. Quando um artesão transforma argila em um vaso de barro cru e depois esse
mesmo vaso é comprado por um artista que pinta esse vaso, dizemos que o artista
―agregou valor ao vaso‖ e conseguiu vende-lo por um preço maior do que havia pago
para o artesão. Mas, e a transformação do barro em vaso? Agora, pense na atividade de
coleta. Uma pessoa entra na mata e colhe uma fruta. Leva a fruta para a beira da estrada
e a vende por determinado preço. Houve agregação de valor? Esse caso difere do artista
que decorou o vaso de barro cru, feito pelo artesão?
Para evitar imprecisões, vamos definir de forma simples e clara o conceito de
valor agregado (VA). Considere uma empresa que vende um produto por R$ 150. Esse
é o valor bruto da produção (VP). Agora, suponha que a produção desse bem exija a
compra de insumos no valor de R$ 120. Chamaremos esse valor de VI (isto é, valor dos
insumos). Vamos definir insumos como aqueles materiais que, de alguma forma, são
incorporados ao produto: matérias-primas, energia, material de acabamento ou de
embalagem. O importante é que os insumos são comprados de outras empresas e só
podem ser utilizados uma única vez, pois são incorporados ao produto final. O valor
agregado (VA) na atividade em análise será dado simplesmente pela expressão:

VA = VP - VI

No caso em questão, o valor agregado será 150 - 120 = 30. Vamos voltar aos
casos citados acima. O artesão que produziu o vaso de barro cru e o vendeu por,
digamos, R$ 30 talvez não tenha gasto um único centavo com insumos: recolheu a
argila e a água na natureza para moldar o vaso que secou ao sol. O valor agregado por
sua atividade foi de R$ 30, isto é, igual ao valor da produção. O mesmo ocorre com os
coletores de frutas que simplesmente as recolhem e colocam na beira da estrada para
venda. Essas atividades agregam valor, ou transformando o barro ou simplesmente
transportando as frutas para a beira da estrada.
Agora, vamos considerar o artista que decora o vaso. Ele comprou o vaso cru,
que é o principal insumo do vaso decorado, pagando R$ 30. Também gastou R$ 40 com

Economia Aplicada
33

as tintas e mais R$ 15 com a energia elétrica de um forno necessário para queimar o


vaso. Se esses foram todos os insumos e o vaso decorado foi vendido por R$ 200, o
valor agregado será:

VA = 200 - (30 + 40 + 15) = 115

Note que esse é o valor agregado total. Ele não é, necessariamente, o lucro do
artista. Se ele vender 1000 vasos como esse por mês, teria um ganho bruto de R$
115.000. Essa margem total também será utilizada para pagar a folha de salários dos
funcionários (que não é insumo!), os aluguéis da oficina (que também não são insumo!),
eventuais juros devidos sobre o capital de giro e, é claro, os impostos embutidos no
preço final do vaso decorado. Esses itens não são insumos, pois não estão incorporados
ao produto final. Os trabalhadores voltam a cada mês, a oficina pode ser utilizada
continuamente, os empréstimos podem ser renovados, etc.

Figura 10 – Importância do Valor agregado

Lucro do artista,
VA aluguéis, juros, salários,
$115 impostos embutidos no
preço final.

Energia
$15
VP
$200 VI Tintas
$40
$85
Vaso cru
$30

Esquematicamente, nosso exemplo ficaria da seguinte forma:


É uma situação parecida com o exemplo da construção civil, mostrado acima,
que entrega prédios no valor de R$ 12 milhões tendo empregado insumos (cimento e
aço) no valor total de R$ 1,5 bilhão.
Para que possamos discutir quais os fatores que podem contribuir com o
crescimento do PIB ao longo do tempo será conveniente desagregar (dividir) esse
agregado econômico a fim de refinar a análise. Assim, o PIB pode ser separado em
subconjuntos de bens e serviços de diversas formas. Uma maneira seria por setor de

Economia Aplicada
34

atividade: agricultura, indústria e serviços. Para qualquer país, é possível calcular o PIB
industrial, o PIB agrícola e o PIB do setor de serviços, cuja soma corresponde ao
produto interno bruto em sua totalidade.
Outra forma é separar os bens em duas categorias básicas: os bens de consumo e
os bens de investimento. Esta separação nos permitirá analisar em mais detalhes o que
se chama de consumo agregado e investimento agregado.
Suponha inicialmente que um determinado país não possui governo, nem se
relaciona com o resto do mundo através de importações e exportações. É uma situação
meramente hipotética que se convenciona chamar de economia fechada e sem governo.
Toda a produção de bens e serviços finais só pode ser classificada em duas categorias:
bens de consumo, que se destinam a satisfazer necessidades ou desejos dos
consumidores, e bens de investimento, adquiridos pelas empresas para viabilizar a
produção de outros bens e serviços. Assim, podemos representar o PIB pela igualdade
abaixo:

PIB = consumo agregado + investimento agregado, ou


(3.1) PIB = C + I

Esta representação apresenta o PIB sob a ótica da produção. Isto é, os bens e


serviços produzidos na economia em um determinado ano são classificados ou como
bens de consumo ou como bens de investimento. No entanto, em uma economia fechada
e sem governo, as empresas acabam transformando sua produção agregada (ou produto
agregado) em renda agregada.
A ótica da renda agregada permite outra representação do PIB. Ao venderem
seus produtos aos preços de mercado, as empresas obtêm um faturamento que é
transferido às pessoas (físicas) através do pagamento de salários, juros, aluguéis, lucros
e dividendos. Isto é o que se chama remuneração dos fatores de produção. Os fatores de
produção são os elementos essenciais para que uma economia possa produzir. Em
última instância, os fatores de produção são o capital e o trabalho. A remuneração do
trabalho é feita através dos salários. Já a remuneração do capital se desdobra em várias
categorias. Aquele que aluga um escritório para instalar sua firma se utiliza dele como
capital, e tem que remunerar o dono deste capital através do pagamento de aluguéis.
Aquele que toma dinheiro emprestado para utilizar como capital de giro paga juros ao

Economia Aplicada
35

dono do dinheiro. Já o empresário, quando é dono de sua empresa, tem direito aos
lucros que a empresa gera.2
Por seu turno, a renda agregada pode ser transformada em gasto (o gasto
agregado). Em uma economia fechada e sem governo, o gasto somente pode se dar
através da aquisição de bens e serviços de consumo ou de investimento, fechando o
ciclo. Os bens de consumo são adquiridos pelas pessoas (físicas), ao gastarem parte de
sua renda. Já os bens de investimento são adquiridos pelas empresas (pessoas jurídicas).
No entanto, se a empresa transfere todo o seu ganho na forma de remuneração dos
fatores produtivos, como ela poderá adquirir bens de investimento? Na Macroeconomia,
costuma-se supor que todo o investimento é financiado com recursos de fora da
empresa. Por exemplo, se a empresa acumula lucros para financiar seus projetos de
investimento, tudo se passa como se os donos da empresa decidissem emprestar parte
do lucro a que têm direito para sua própria empresa. Por enquanto devemos lembrar que
os bens de consumo são adquiridos pelas pessoas (físicas), através do gasto de parte de
sua renda, e que os bens de investimento são adquiridos de algumas empresas que
compram de outras, e que se financiam tomando recursos emprestados.
Este movimento através do qual a produção é vendida, viabilizando a geração de
renda que, por sua vez, se transforma em gasto que nada mais é do que a compra
daquela mesma produção é o chamado fluxo circular de renda, o qual está representado
esquematicamente na figura abaixo. As setas representam fluxos financeiros.

Figura 11 – Fluxo Circular da Renda

Fluxo circular de renda


PRODUÇÃO

GASTOS RENDA

2
É interessante notar que a Economia considera fatores como terra e tecnologia como formas de capital.
A terra sendo uma espécie de ―capital natural‖ e a tecnologia como ―capital intelectual‖.

Economia Aplicada
36

Na comparação do PIB de diversos países, é usual utilizar o método chamado de


Paridade do Poder de Compra (Puchased Power Parity). Esse método consiste em
desprezar a taxa de câmbio corrente, sujeita às grandes oscilações no dia a dia, e
empregar uma taxa de câmbio alternativa para transformar o valor do PIB de um país de
sua própria moeda para dólares. Essa taxa de câmbio alternativa é calculada reunindo-se
uma cesta de bens e serviços idêntica em todos os países. Se essa cesta custa, por
exemplo, R$ 2.100 no Brasil e US$ 1.000 nos EUA, a taxa de câmbio segundo a
Paridade do Poder de Compra será R$ 2,10. Veja abaixo como ficam os valores PIBs
dos mesmos países listados anteriormente segundo a Paridade do Poder de Compra:

Valores em US$ Trilhões em 2009

1- Estados Unidos- 14,266 2- Japão- 5,048


3- China- 4,757 4- Alemanha- 3,235
5- França- 2,634 6- Reino Unido-
2,198
7- Itália- 2,089 8- Brasil- 1,481
9- Espanha- 1,438 10- Canadá- 1,319
Fonte: Fundo Monetário Internacional - World Economic Outlook Database,
2010.

Numa economia fechada, isto é, sem relações com o exterior, vale sempre a
igualdade entre produto agregado, renda agregada e gasto agregado. Mas a
representação do fluxo circular de renda, no qual a produção agregada, a renda agregada
e o gasto agregado são necessariamente iguais, nos permite representar uma outra
relação, tão importante quanto a relação (3.1), mostrada acima. Se a produção se
transforma em renda (alguns autores usam o jargão PIB => RIB, ou seja, Produto
Interno Bruto gerando a Renda Interna Bruta) a renda, por sua vez, não poderia ser
desagregada, da mesma forma que desagregamos o PIB? De que forma as pessoas em
geral alocam sua renda em uma economia fechada e sem governo?
Nesta situação hipotética, só há duas coisas que se pode fazer com a renda:
consumir ou poupar. Se o seu consumo for menor que sua renda, então sua poupança
será positiva, isto é, haverá um excedente de renda que poderá ser emprestado. Mas
emprestado para quem? Se alguém possui gastos maiores que sua renda, terá uma

Economia Aplicada
37

poupança negativa, isto é, precisará pedir emprestado (caso esta pessoa não tenha ela
mesma poupado no passado). Além disso, como vimos, as próprias empresas precisam
de recursos de terceiros para investir. Assim, neste exemplo hipotético, aqueles que têm
poupança positiva podem emprestar para aqueles que têm poupança negativa ou que
precisam investir. Ainda assim, só há duas coisas a fazer com a renda: consumir ou
poupar. E como a renda agregada é igual ao produto agregado (que nada mais é do que
o PIB), chegamos à seguinte relação:

PIB = consumo agregado + poupança agregada, ou


(3.2) PIB = C + S

Agora observe. Vamos colocar lado a lado as relações (3.1) e (3.2) apresentadas
acima3:

(3.1) PIB = C + I Produto e Gasto Agregados


(3.2) PIB = C + S Renda Agregada

Considerando estas duas igualdades (na verdade, estas duas identidades, pois
resultam de uma definição do que seja o PIB e a Renda Agregada), podemos derivar
uma segunda relação de grande importância:
PIB = C + I = PIB = C + S
C+I=C+S
(3.3)

I=S

3
Note: em Macroeconomia, investimento não é sinônimo de aplicação financeira. Neste contexto,
investimento significa a produção de bens e serviços que são utilizados na produção de outros bens e
serviços sem serem transferidos diretamente para estes novos produtos. Assim, bens de investimento são,
tipicamente, máquinas, equipamentos, instalações industriais, implementos agrícolas, automóveis que são
utilizados por empresas de transporte de passageiros (taxis, ônibus, etc). Os bens que se transferem para
os produtos (areia na construção civil, tinta nos automóveis, plástico na indústria de brinquedos) não são
bens finais, mas insumos ou matérias-primas. Do mesmo modo, como veremos adiante, poupança não é
sinônimo de caderneta de poupança, representando apenas a parcela da renda agregada não consumida no
período corrente.

Economia Aplicada
38

Poupança (=Investimento) em países selecionados como percentual do PIB:


China: 39% Índia: 30%
Coréia: 30% Espanha: 28%
Turquia: 26% Japão: 24%
Brasil: 19% Argentina: 19%
EUA: 18% Bolívia: 12%

Os dados acima mostram que os países com maior potencial de crescimento


sustentado a longo prazo são os que têm maiores taxas de investimento e poupança. Um
país com a China pode manter a taxa de crescimento do PIB perto de 10% ao ano em
média graças a um nível de investimento próximo a 40% do próprio PIB. Outros países
como Brasil e Argentina têm crescido muito pouco nos últimos dez anos (em média),
pois não investem o suficiente para sustentar o crescimento. Em algum momento, países
que se deparam com baixos níveis de investimento ou terão falta de capacidade
produtiva ou terão que importar bens e serviços em escala crescente (caso dos EUA).
A identidade (3.3) mostra que, em uma economia fechada e sem governo, o
investimento agregado é necessariamente igual à poupança agregada. Caso o país
hipotético em questão consuma demais, haverá menos recursos disponíveis para o
investimento. A capacidade produtiva estará sendo destinada prioritariamente para a
geração de bens de consumo. Agora, caso as pessoas decidam consumir menos e,
portanto, poupar mais (não há nada mais a fazer com a renda que não consumir ou
poupar), sobrarão recursos que poderão ser emprestados para as empresas que poderão
investir. Como, em geral, os projetos de investimento são feitos, mesmo que
parcialmente, com recursos tomados de empréstimo, o investimento agregado poderá
ser expandido com a ajuda do aumento da poupança.
Note um detalhe importante. Caso as firmas decidam, por exemplo, reter uma
parcela dos lucros gerados para financiar seus próprios projetos de investimento, tal
retenção de lucros também será caracterizada como poupança. Isto porque, as firmas,
por decisão de seus proprietários e/ou acionistas, não transferem os lucros, na forma de
rendas, para estes mesmos proprietários e acionistas. Assim, em última análise, foram
eles mesmos que tomaram a decisão de poupar recursos que eram seus por direito,
deixando-os acumulados na firma. Assim, é como se a firma financiasse, ainda que

Economia Aplicada
39

parcialmente, seus projetos de investimento, com recursos dos próprios donos da


empresa.
Outra observação importante é que poupança, em Macroeconomia, não é
sinônimo de caderneta de poupança. Poupança é simplesmente a parcela da renda que
não é consumida no período analisado, seja ela emprestada diretamente a algum agente
que precise de recursos, seja ela aplicada no sistema financeiro em qualquer tipo de
aplicação financeira.

3.1.3 PIB e PNB


Agora, vamos supor que nossa economia hipotética possui um único tipo de
relação com o exterior. Ainda não há importação ou exportação de bens, por exemplo,
mas suponhamos que existem empresas estrangeiras operando no país, assim como
existem empresas do país operando no exterior. Uma empresa estrangeira é aquela cujo
capital pertence a pessoas não residentes no país. Por analogia, uma empresa nacional é
aquela que pertence a pessoas que residem no país. Como as empresas têm que
remunerar os fatores de produção, as empresas estrangeiras enviam periodicamente
recursos aos respectivos donos. Isto significa que existem remessas de lucros e
dividendos para fora do país. Ao mesmo tempo, as empresas nacionais, operando no
estrangeiro, enviam lucros e dividendos ao país. Às remessas para o exterior
chamaremos de Renda Enviada ao Exterior (REE) e às remessas feitas a partir de fora
chamaremos de Renda Remetida do Exterior (RRE). À diferença entre elas,
chamaremos de Renda Líquida Enviada ao Exterior (RLEE, isto é, RLEE=REE - RRE).
Ao introduzirmos o conceito de RLEE, estamos fazendo uma distinção entre a
renda gerada dentro das fronteiras de um país (que se relaciona com o PIB) e a renda
gerada por empresas pertencentes a residentes no país. Se existirem muitas empresas
multinacionais operando em um país, e as remessas feitas às matrizes superarem as
remessas feitas pelas empresas nacionais para dentro dele, então parte do produto
agregado não se transforma em renda agregada. Os produtos são gerados, vendidos,
permitem a remuneração dos fatores de produção nacionais, mas, da mesma forma, têm
que remunerar os fatores de produção estrangeiros e, por conta disso, se transformam
em renda de pessoas residentes no exterior. Quando descontamos do PIB a RLEE,
chegamos a um novo conceito: o de Produto Nacional Bruto, isto é, a produção total,

Economia Aplicada
40

realizada em um país em determinado período de tempo, e que se transformou, de fato,


em renda nacional.
Países que enviam mais renda ao exterior do que recebem (Brasil) têm PIB >
PNB. Países com grandes volumes de capitais investidos no exterior (Holanda, Japão)
ou muitos emigrantes enviando renda para as famílias no país de origem (Portugal e
Israel) têm PNB > PIB. Em 2005, por exemplo, o PIB brasileiro foi de R$ 1,937 trilhões
e o PNB foi de R$ 1,876. Portanto, a RLEE foi de cerca de 3,2% do PIB brasileiro
naquele ano.
Como regra, comparações de ―renda per capita‖ entre diferentes países devem
considerar a variável PNB (em inglês, GNP - Gross National Product ou GNI - Gross
National Income). Caso contrário, no caso da Suíça ou da Holanda, estaríamos
excluindo os lucros das filiais de empresas como a Nestlé e a Phillips, remetidas para os
acionistas naqueles países.

Figura 12 – PIB e PNB

Análises do PIB e do PNB


SRL= Saldo de Receitas Líquidas
SRL = diferença entre RLRE e RLEE, em que:
RLRE- Receitas Líquidas Recebidas do Exterior; RLEE- Receitas Líquidas Enviadas ao Exterior
Brasil
SRL Holanda
SRL

PIB
PNB PNB
PIB

Prof. M.Sc. Claudio A. Garbi

Economia Aplicada
41

A Renda Líquida Enviada ao Exterior é um dos componentes das contas


externas dos países, mas é muito pouco citada na mídia. Juntamente com as importações
e exportações, a RLEE compõe as chamadas Transações Correntes do país.
Países onde as importações (cujo símbolo tradicional é M) somadas à RLEE são
superiores às exportações (cujo símbolo é X) têm déficit externo ou déficit em
transações correntes. Para não esgotarem suas reservas internacionais, os países que têm
déficit externo ou déficit em transações correntes devem atrair capitais estrangeiros, que
são uma fonte alternativa de dólares para abastecer as reservas internacionais do país,
administradas pelo Banco Central. Quando nem mesmo o fluxo de capitais estrangeiros
(também chamados de poupança externa ou SX) é suficiente para compensar a perda de
dólares decorrente do déficit externo, em geral os paises recorrem ao Fundo Monetário
Internacional. A figura abaixo resume essas relações.

Figura 13 – Fluxo de divisas

Exportações (X) + RLRE


BACEN Transações
Importações (M) + correntes
RLEE

Capitais estrangeiros (Sx)


+ FMI

A importância do investimento agregado em uma economia decorre do fato de


que, ao investirem, as empresas ampliam sua capacidade de produção de bens e
serviços. Seria impossível para um país fazer com que o consumo crescesse ano a ano
sem que as empresas estivessem investindo. Ao expandirem sua capacidade de
produção, as empresas adquirem novas máquinas, constroem novas instalações,
modernizam seus equipamentos (é o chamado investimento em capital físico) ou ainda
oferecem treinamento à sua mão-de-obra, promovem reordenamento nas técnicas de

Economia Aplicada
42

gestão, modificam as rotinas de trabalho (é o chamado investimento em capital


humano).
No entanto, na discussão feita até aqui, fizemos uma simplificação que já pode
ser superada. Tratamos apenas de uma forma de investimento: o investimento das
empresas. Do mesmo modo, toda a poupança era tratada simplesmente como renda não
consumida (do setor privado). Na realidade, como mostram os dados do quadro abaixo,
há duas fontes de investimento: o realizado pelas empresas (aquisição de máquinas,
equipamentos etc. pelo setor privado) e o realizado pelo governo (obras públicas,
compra de equipamentos para instituições governamentais como hospitais públicos,
escolas etc.). Continuaremos chamando o investimento privado de I e passaremos a
chamar o investimento público de IG.
Do mesmo modo, não há apenas uma fonte de poupança, mas três.
Continuaremos chamando a renda não consumida do setor privado de S. Mas o próprio
setor público pode alocar parte de suas receitas tributárias (que chamaremos de T) para
realizar investimento. Toda vez que essas receitas superam as despesas de custeio (que
chamaremos de G: salários do funcionalismo, despesas com previdência e com a
manutenção da ―máquina administrativa‖), pode haver alocação de poupança pública
(SG = T - G) para investimentos.
Por fim, todos os países podem contar com fluxos de capitais estrangeiros, isto é,
poupança externa (SX) que pode ser carreada para investimentos internamente.4
Com esses novos elementos, a expressão 3.3, acima, pode ser completada,
passando a assumir a forma da expressão 3.3a, a seguir.

(3.3a) I + IG = S + S G + S X

Temos agora, explicitamente, dois tipos (complementares) de investimento


(privado e público) e três fontes de poupança (privada interna, pública e externa). Os
dados abaixo ilustram a evolução dessas variáveis no passado recente do país,
permitindo a discussão sobre o potencial de crescimento acumulado ao longo de mais de
vinte anos.

4
Rigorosamente, a poupança externa corresponde ao déficit em transações correntes do Balanço de
Pagamentos, como demonstrado no glossário. Um país que remete.

Economia Aplicada
43

3.1.4 A Demanda Agregada em uma Economia Completa (Com


Governo e Relações com o Exterior)
Vamos agora relaxar nossas hipóteses de que o nosso país imaginário não possui
nem governo nem relações comerciais com o resto do mundo e vamos voltar a analisar
os componentes do PIB. Agora que já sabemos o que leva ao aumento da capacidade de
produção ao longo do tempo, nosso foco irá se voltar para quais bens e serviços estão
sendo demandados a cada momento e que fatores podem influenciar no nível e na
composição da demanda agregada.
Em uma economia fechada e sem governo, toda a produção em cada período de
tempo somente pode ser classificada como bens e serviços de consumo ou de
investimento do setor privado doméstico. Ao introduzirmos o governo, podemos
imaginar que parte de tudo o que se produz em um país pode, também, destinar-se ao
consumo ou ao investimento governamentais. Existirão pessoas que serão remuneradas
por prestarem serviços ao governo (funcionários públicos, empresas contratadas etc.);
parte da produção de bens (material de escritório, roupas, combustíveis etc.) será
adquirida pelo setor público, o qual também comprará parte dos bens de investimento
(caminhões, edifícios comerciais, equipamentos etc.).
Aos gastos do governo com bens e serviços de uso corrente (serviços prestados
de forma contínua, energia elétrica e combustíveis, materiais de escritório etc.),
chamaremos de consumo do governo. Já a aquisição de bens que se destinam à
viabilização do desempenho das funções atribuídas ao governo (obras de infra-estrutura,
caminhões, escolas, hospitais etc.) será chamada de investimento do governo. Note que
não há muita novidade em relação à desagregação do PIB, mostrada através da
expressão (3.1). Estamos apenas destacando, no consumo e no investimento agregados,
a parcela do governo, já que este somente foi introduzido na análise a partir de agora.
Assim, considerando o setor governamental, a expressão (3.1) passa a apresentar a
seguinte forma:

PIB = consumo privado + investimento privado + investimento do governo +


consumo do governo, ou

(3.1a) PIB = C + I + IG + G

Economia Aplicada
44

Agora, vamos admitir que o país possua relações comerciais com o resto do
mundo. Parte de tudo que se produz dentro do país se destina às exportações, ou seja,
não é consumido nem investido dentro do país, seja pelo governo, seja pelo setor
privado. Como não poderia deixar de ser, teremos que somar as exportações (gastos
realizados por não-residentes com produtos e serviços produzidos dentro de nosso país)
ao nosso PIB. Mas, por outro lado, como o país importa bens e serviços do resto do
mundo, haverá um sem número de produtos cujo valor trará embutido uma parcela de
importados (matérias-primas, componentes, serviços como fretes, seguros, etc.). Sendo
assim, o valor das importações dever ser retirado do PIB, pois a parcela de importados
presente em nossos gastos totais não foi produzida aqui. Como conseqüência, a
expressão (3.1a) passa a apresentar a seguinte forma:

(3.1b) PIB = C + I + IG + G + X - M

Note que o termo (X - M) é simplesmente o resultado da balança comercial de


um país5. Se existir um déficit comercial (isto é, X < M), o comércio externo tenderá a
reduzir o PIB. Havendo superávit comercial (X > M), o comércio externo tenderá a
aumentar o PIB.
Por fim, vamos supor que nossa economia possui um sistema financeiro. Desta
forma, as pessoas que poupam não mais emprestarão às empresas (e às pessoas que
consomem além de sua renda corrente) de forma direta. Os poupadores passarão a
aplicar seus recursos financeiros excedentes no sistema financeiro que repassará estes
recursos na forma de crédito àqueles que precisarem de empréstimo. Além das pessoas
(físicas) que consomem mais do que ganham e as empresas que desejam fazer gastos
com investimento, o governo pode, eventualmente, precisar de empréstimos. Para isto,
basta que, em algum momento, o total arrecadado com impostos (T) seja menor que o
total de gastos com consumo e investimento (isto é, T < G + IG). Se, em algum
momento, o governo arrecadar com impostos mais do que seus gastos, então ele pode se
tornar um emprestador de recursos.

5
Em termos rigorosos, X e M incluem as transações internacionais de bens e serviços não-fatores de
produção. Estes termos serão melhor explicados quando analisarmos o balanço de pagamentos, na seção
dedicada ao macromercado de câmbio.

Economia Aplicada
45

Figura 14 – Fluxo Circular da renda

Fluxo Circular de Renda


Importação
Produto
M
Exportação Consumo
Saldo
X Gasto Renda
de RL
Poupança
Investimento

Sistema
Tributos
Gastos+ Invest. do Financeiro
Governo (G+Ig)
Endividamento
público

Governo
Prof. M.Sc. Claudio A. Garbi

A figura mostra que, de tudo que é produzido dentro das fronteiras de um país
em termos brutos (isto é, desconsiderando-se a depreciação, o que significa que estamos
tratando do PIB), parte se transforma em renda dos residentes (renda nacional bruta) e
parte é remetida para fora do país (RLEE ou renda líquida enviada ao exterior, conceito
que já desconta a renda recebida do exterior). A renda nacional bruta (isto é, incluindo a
depreciação) passa a ser igual ao PNB, e se destina ao consumo, poupança e ao
pagamento de tributos. Já a poupança, transformada em crédito pelo sistema financeiro,
financia o investimento das empresas, bem como o consumo daqueles que gastam mais
do que ganham e, eventualmente, o excesso de gastos do governo sobre o total
arrecadado com tributos. No entanto, do total de gastos na economia (gasto agregado),
uma parcela é enviada ao exterior na forma de pagamento pela importação de bens e
serviços. O restante compra a produção nacional, a qual também é parcialmente
adquirida por estrangeiros que gastam comprando nossos produtos de exportação, o que
fecha o fluxo circular de renda.
A Demanda Agregada é representada na figura pela categoria GASTO e
corresponde exatamente à expressão 3.1b. Toda vez que um de seus componentes
estiver crescendo, isso deverá colaborar para a expansão do nível de atividade. Com
isso, vamos analisar os determinantes de dois dos principais componentes da Demanda

Economia Aplicada
46

Agregada: consumo e investimento. Os demais componentes, ligados ao setor


governamental e externo serão analisados nas seções seguintes.

1) A influência do nível de renda dos períodos anteriores: ciclos virtuosos ou


ciclos viciosos são comuns em Economia. Se o nível de atividade de um país já
se encontra em uma trajetória de expansão, isso significa que o nível de renda das
pessoas e o volume de lucro das empresas também devem estar em expansão. Em
economias prósperas observa-se o crescimento sustentado do consumo, com o
surgimento de novos hábitos e de novos mercados. Isso tende a estimular o crescimento
das empresas, que passam a investir na tentativa de se antecipar à demanda. Isso gera
novos empregos e novas encomendas para outras empresas, auto-sustentando o ciclo
virtuoso. É interessante notar que o crescimento da renda permite o aumento simultâneo
de consumo e de poupança (combinados em alguma proporção). Com isso, os
investimentos acabam encontrando fontes de financiamento geradas pela expansão da
atividade econômica ao longo da trajetória de prosperidade econômica. Infelizmente, o
contrário também ocorre. Quando uma economia inicia uma etapa de redução do nível
de atividade, muitas pessoas cortam o consumo preventivamente, iniciando reações em
cadeia que reforçam a trajetória de queda.
2) A influência dos impostos: a regra nesse caso é simples. O volume de renda
disponível para consumo ou poupança depende tanto da renda bruta quanto da fatia de
impostos a ser paga. Elevações de carga tributária deprimem, a um só tempo, o
consumo e a poupança do setor privado. Ao mesmo tempo, se esse aumento de carga
tributária reduzir a rentabilidade dos projetos de investimentos, muitos poderão ser
simplesmente deixados de lado, o que reduziria também os gastos das empresas na
compra de bens de capital. Em resumo, aumentos de impostos tendem a reduzir
consumo, poupança do setor privado e, eventualmente, o investimento do setor privado.
Cortes de impostos são uma medida padrão para estimular o consumo e reaquecer a
Demanda Agregada em tempos de recessão. A influência do nível de taxa de juros: o
impacto mais imediato de uma elevação dos juros é reduzir despesas de consumo. Tanto
as pessoas que compram a crédito (e que notam que o valor das prestações se eleva)
quanto as que compram à vista (mas que sacam recursos do sistema financeiro para
consumir bens de alto valor) reduzem o consumo quase que de imediato quanto os juros
se elevam. No entanto, com o encarecimento do capital de terceiros, as empresas
também reavaliam seus projetos de investimento. Caso o retorno esperado sobre um

Economia Aplicada
47

projeto seja inferior à taxa de juros (custo de capital), ele certamente será abandonado
ou adiado. Assim, as taxas de juros são um fator decisivo para influenciar o nível de
demanda agregada. Se for possível alterar separadamente os juros que incidem sobre
consumo e sobre investimento, também se pode influenciar a composição da
Demanda Agregada, estimulando um desses componentes em detrimento do outro.
3) A influência das expectativas e da aversão ao risco: ainda que cada um dos
fatores acima seja favorável, é possível imaginar que a Demanda Agregada não esteja
aquecida em função de ―meras‖ expectativas. Quando os consumidores acreditam que
ocorrerá uma recessão ou um aumento dos impostos no futuro próximo, é razoável
supor que já devam iniciar um movimento de redução do consumo e ampliação da
poupança como medida preventiva. Ao mesmo tempo, se os empresários esperam que
os juros serão elevados no curto prazo, iniciar um projeto de investimento poderá ser
uma aventura arriscada pois, ao longo das etapas do projeto, o encarecimento do custo
de capital poderá reverter as expectativas iniciais de lucro. Mas, ainda que a recessão e
o aumento de juros sejam apenas um dos cenários possíveis, sabemos que agentes
avessos ao risco não trocam o certo (recursos líquidos em caixa) pelo duvidoso (planos
de gastos futuros com retornos incertos). Assim, a ampliação da aversão ao risco pode
deprimir tanto consumo quanto investimento, provocando sérias reduções de Demanda
Agregada em cenários que se mostram, de inicio, relativamente favoráveis ao
crescimento do nível de atividade.

3.1.5 O PIB e o Ciclo de Negócios


No Fluxo Circular de Renda, apresentado na seção anterior, a Demanda
Agregada é representada pela categoria GASTO. Já a Oferta Agregada é representada
pela categoria PRODUÇÃO. Sabemos que o investimento realizado em um país, com as
três origens de poupança listadas acima, garante a expansão da capacidade de produção
ano a ano. Já na seção anterior, começamos a analisar os determinantes de alguns dos
componentes do gasto agregado: consumo e investimento.
Quando as empresas estão trabalhando no nível normal de operação, podemos
afirmar que a Demanda Agregada é igual à Oferta Agregada em condições de
crescimento equilibrado. Mas a idéia de nível normal de operação não significa
necessariamente pleno uso da capacidade instalada. Todos os empresários operam, via
de regra, com alguma ociosidade, seja para atender a encomendas inesperadas, seja por

Economia Aplicada
48

causa de variações sazonais na demanda, seja por conta de um bloco de investimentos


realizados e ainda não plenamente operacionais. Ainda assim, em muitas pesquisas de
campo feitas por órgãos de pesquisa econômica, é normal perguntar aos empresários se
suas firmas estão operando no nível considerado normal produção naquela época do
ano.
Empresas que estão operando acima do nível normal, via de regra, estão
empregando horas extras de trabalho, colocando em operação maquinário mais antigo e
costumam observar o surgimento de problemas ligados à logística de distribuição ou de
recebimento e utilização de insumos e matérias-primas. Quando o nível de Demanda
Agregada está muito elevado, é comum as empresas afirmarem que estão operando
acima do nível normal e que seus estoques estão abaixo do desejado.
Já em momentos em que a Demanda Agregada está relativamente desaquecida,
as empresas tendem a operar com mais ociosidade do que o normal, isto é, passam a
operar abaixo do nível normal. Horas extras são canceladas, o equipamento mais velho
(e menos produtivo) é desligado e os estoques muitas vezes começam a subir, ficando
além do nível considerado ideal.
Esses altos e baixos da atividade econômica permitem confrontar o ritmo da
expansão da capacidade produtiva e da Oferta Agregada (gerada pelos investimentos
feitos no passado recente) com o ritmo da Demanda Agregada ao longo do chamado
ciclo econômico ou ciclo de negócios.
Inicialmente, vamos nos concentrar em um exemplo artificial, mostrado na
figura abaixo. A linha ascendente mostra a capacidade produtiva da economia, que
cresce em função dos investimentos passados e da produtividade dos fatores
econômicos empregados na produção. Vamos chamar essa variável de nível normal de
operação ou PIB tendencial. Ela representa a expansão progressiva da Oferta Agregada.
Já a curva mostra os diferentes níveis de Demanda Agregada, muito influenciados por
fatores imediatos como os listados acima: impostos, juros, expectativas etc.

Economia Aplicada
49

Figura 15 - Ciclos Econômicos

Estruturação do PIB e o ciclo do negócio


PIB PIB TENDENCIAL

PIB OBSERVADO

Tempo
Expansão Contração Recuperação Contração
Recessão Expansão

“Auge” “Fundo do poço” “Novo auge”


Prof. M.Sc. Claudio A. Garbi

Um típico ciclo econômico apresenta 4 fases sucessivas:


a) Na primeira fase, o PIB se eleva acima de sua tendência, mostrando um forte
aquecimento da Demanda Agregada acima do crescimento potencial da Oferta
Agregada. Esta fase é chamada de expansão. Nessa fase, as empresas estão contratando
mais mão-de-obra, seus estoques estão se reduzindo e muitas começam a atingir a plena
capacidade instalada.
b) Quando o PIB atinge o máximo distanciamento em relação à tendência após
uma fase de expansão, dizemos que foi atingido o auge (ou pico) do ciclo de negócios.
A partir daí, o crescimento do PIB diminui e pode se tornar negativo, iniciando a fase de
contração. Nessa fase, o nível de operação das empresas ainda está acima do normal,
mas o ritmo de crescimento da Demanda Agregada é cada vez menor e a redução de
estoques começa a dar sinais de reversão.
c) Quando o PIB se torna menor que sua tendência, dizemos que se inicia a fase
de recessão. As empresas passam a informar que estão operando abaixo do nível
normal, a ociosidade torna-se crescente, mão-de-obra extra é demitida e os estoques
começam a subir além do desejado. Recessões muito prolongadas tendem a gerar a
demissão de parte da mão-de-obra permanente da empresa e podem iniciar um ciclo
vicioso de queda no consumo e no investimento. O ponto em que o PIB se encontra
mais distanciado de sua tendência após uma recessão é chamado de ―fundo do poço‖.

Economia Aplicada
50

d) A partir daí, inicia-se a fase de recuperação (ou retomada), quando o PIB


começa a aproximar-se novamente de sua tendência. O movimento de ampliação da
capacidade ociosa começa a diminuir e a Demanda Agregada começa a aquecer-se
novamente. Quando o PIB ultrapassa novamente sua tendência, inicia-se uma nova fase
de expansão, completando o ciclo.
As flutuações da Demanda Agregada em torno da trajetória de evolução da
Oferta Agregada podem ser afetadas tanto por variáveis internas, incluindo a política
econômica, quanto por variáveis externas, como crises internacionais ou choques nos
fluxos de capital. A importância de se manter o monitoramento contínuo do ciclo
econômico refere-se, antes de mais nada, à sua influência sobre as oportunidades de
negócio para as empresas dos diferentes segmentos da economia.
As empresas que não antecipam corretamente o início de uma etapa recessiva
podem estar superestimando seus lucros futuros e iniciando projetos de investimento
que não poderão ter continuidade mais à frente. Do mesmo modo, empresas que
primeiro detectam que a economia está no ―fundo do poço‖ poderão iniciar captações de
recursos em condições mais favoráveis, saindo na frente de concorrentes na etapa de
retomada do ciclo. Análise semelhante vale para a política de estoques. As empresas
que detectam primeiro o fim da etapa de recessão começam ampliar primeiro seus
estoques e isso pode significar a compra de matéria-prima com preços ainda
deprimidos. E isso certamente ampliará os ganhos nas etapas de retomada e expansão.
O grande drama é que as estatísticas sobre o desempenho do PIB são divulgadas
com certa demora, tanto no Brasil quanto nos países desenvolvidos. Assim, o fator
estratégico passa a ser a correta ―leitura‖ de indicadores antecedentes. Como o próprio
nome diz, esses indicadores revelam, com certa margem de erro, qual comportamento
contemporâneo da Demanda Agregada, antecedendo o anúncio dos números oficiais.

Alguns indicadores antecedentes:

Nos EUA (melhor fonte: imprensa brasileira):


a) Pedidos de seguro desemprego;
b) Índice de confiança dos consumidores;
c) Indicador de variação nos estoques industriais.

Economia Aplicada
51

No Brasil:
a) Índices de expectativas dos consumidores (fonte: Federação do Comércio de
São Paulo);
b) Nível de ocupação da capacidade instalada na indústria (fonte: Confederação
Nacional da Indústria);
c) Índice de confiança do empresário (fonte: idem a anterior);
d) Avaliação sobre os níveis de operação e de estoques na indústria (fonte:
Sondagem Conjuntural da FGV);
e) Consultas aos cadastros de consumidores inadimplentes (fontes: Serasa e
SBPC).

A figura abaixo mostra o comportamento cíclico do PIB brasileiro como ele


realmente foi observado no período 1990-96. Nesta figura, podemos observar que o país
apresentou fortes flutuações do PIB em torno da tendência que, como dissemos, foi de
um crescimento de 2,8% a.a. nesse período. Ao longo do ano de 1990, por exemplo, o
PIB desviou-se fortemente de sua tendência entre o primeiro e o segundo trimestres;
novo auge foi observado por volta de setembro e, no primeiro trimestre de 1991, novo
fundo do poço. Depois de novo auge no final de 1991, a economia rapidamente entrou
em contração e depois em recessão, a qual se aprofundou em 1992.

3.2 Finanças Públicas


Pontos-chave: Conceitos de déficit público: primário e nominal; Relações entre
dívida e déficit públicos; Fatores determinantes do crescimento da dívida pública;
Relação dívida / PIB.

3.2.1 Dívida e Déficits Públicos


A condução da política fiscal envolve tanto a administração dos gastos públicos
com salários e custeio (G) e investimento (IG) quanto o gerenciamento das receitas
tributárias (T). Através das categorias G e IG, o setor público participa do gasto
agregado no fluxo circular de renda e, portanto, pode interferir na demanda agregada
por bens e serviços, intensificando ou desacelerando o nível de atividade. Nesse sentido,
o excesso de gastos públicos pode ser um fator de inflação de demanda, como veremos

Economia Aplicada
52

à frente. Ao mesmo tempo, pode servir como um freio à recessão em momentos de


desaquecimento. Por fim, a arrecadação tributária afeta indiretamente o gasto privado.
Elevações de impostos podem reduzir tanto o consumo privado (C) quanto o
investimento privado (I).
Por conta disso, a condução da política fiscal muitas vezes se confunde com a
administração simultânea desses três elementos: G, IG e T. E o conceito mais importante
que os associa de uma só vez é o de déficit público. Mas é preciso estar atento, pois há
mais e um conceito de déficit público.
Toda vez que o total de gastos não financeiros do setor público (G+IG) supera a
arrecadação tributária (T) dizemos que o governo encontra-se em uma situação de
déficit primário. Caso (G+IG) < T teremos um superávit primário6.
Ocorre que, toda vez que (G+IG) > T, o governo não pode simplesmente deixar
de pagar seus compromissos com a justificativa de que não dispõe de arrecadação
suficiente. Nesse caso, o governo lança títulos públicos no mercado, pedindo recursos
emprestados. Com isso, cria-se (ou amplia-se) a dívida pública que chamaremos de D
daqui em diante. Note que, através do Fluxo Circular de Renda, é possível notar que o
desequilíbrio das contas públicas faz com que o setor governamental passe a disputar a
poupança disponível no sistema financeiro. Como o governo em geral representa um
nível de risco para os poupadores menor que as empresas do setor privado, em situações
de grande aversão ao risco os títulos públicos podem representar um sério concorrente
para as empresas que necessitam captar recursos de terceiros para levar adiante seus
projetos de investimento.
A literatura de Macroeconomia costuma chamar esse fenômeno de ―efeito
deslocamento‖: esse efeito ocorre quando o aumento de gastos públicos gera escassez
de crédito para o setor privado e acaba reduzindo indiretamente o investimento das
empresas. Tudo se passa como se o gasto público tivesse ―deslocado‖ o investimento
privado.
Mas, uma vez que haja títulos públicos emitidos (isto é, haja dívida pública na
praça), no período seguinte, além das despesas não financeiras já mencionadas, haverá a
necessidade de contabilizar o pagamento de juros devidos sobre essa dívida, cujo
montante passaremos a chamar de J. Por simplicidade, vamos supor que J inclui todas

6
Também é comum dizer-se: ―o resultado primário foi negativo‖ quando há déficit, e ―o resultado
primário foi positivo‖ quando há superávit.

Economia Aplicada
53

as despesas financeiras, sejam elas juros, comissões, correções ou qualquer outro item
de natureza financeira nas despesas do setor público.
Surge assim um segundo e importante conceito de déficit público: o déficit
nominal. Ele corresponde à soma do déficit primário (isto é, aquele que não considera
as despesas financeiras) com o montante de juros nominais e demais encargos
incidentes sobre a dívida pública.
O quadro a seguir resume as relações entre esses todos esses conceitos.

Quadro 2 – Conceitos básicos de Finanças Públicas

Déficit Primário = (IG + G) – T Onde: IG = investimento do governo


G = despesas de custeio
T = arrecadação tributária
Déficit Nominal = Déficit primário + J Onde: J = juros nominais da dívida pública
Dívida Pública = passivo total do setor público junto aos credores internos e externos. Ela
evolui de acordo com o resultado apurado através do Déficit Nominal

O déficit nominal é uma representação global do resultado das contas públicas.


Nesse conceito estão incluídas todas as despesas e todas as receitas do setor público.
Uma confusão comum em Finanças Públicas é supor que os conceitos de Dívida
Pública e Dívida Externa são sinônimos. Isso é incorreto! A Dívida Pública, como dito
acima, é o total de passivos do setor público, é seu endividamento junto aos credores. E
esses credores podem estar dentro do país (Dívida Pública Interna) ou fora do país
(Dívida Pública Externa). Por sua vez, as empresas também têm dívidas (passivos),
tanto junto a credores dentro do país (Dívida Privada Interna) quanto fora do país
(Dívida Privada Externa). Como mostrado no quadro abaixo, a Dívida Externa Total é a
soma da Dívida Pública Externa com a Dívida Privada Externa.

Dívida Pública Interna


Dívida Pública Externa
Dívida Externa Total
Dívida Privada Externa
Dívida Privada Interna

Como a taxa de juros que incide sobre a Dívida Pública Interna é determinada,
em parte, pela atuação do Banco Central com vistas a controlar a inflação (como

Economia Aplicada
54

detalhado a seguir), alguns economistas argumentam que a preocupação essencial da


política fiscal deve ser o controle do déficit primário e, através dele, do déficit nominal.
Havendo um estoque de dívida pública sobre o qual incidem juros mês a mês,
mesmo que o déficit primário esteja zerado, como o valor J será positivo, isso implicará
um déficit nominal positivo e na necessidade de colocação de mais dívida pública no
mercado para que se possa arrecadar os recursos necessários ao pagamento dos próprios
juros. Isso poderia dar a impressão de que o endividamento público pode assumir um
comportamento tipo ―bola de neve‖ que só seria detido zerando-se o déficit nominal.
Caso isso ocorra, todos os pagamentos do setor público (G+IG+Juros) seriam cobertos
com a arrecadação tributária (T). No entanto, países como os integrantes da União
Européia toleram déficits nominais de até 3% dos respectivos PIBs. Por quê?
Existe um consenso entre os economistas modernamente no sentido de que o
setor público deve demonstrar que está solvente, isto é, que será capaz de administrar
seus compromissos ao longo do tempo como qualquer empresa. E as empresas,
tipicamente, têm dívidas com terceiros.
O indicador mais aceito de solvência do setor público é a relação entre a dívida
pública (D) e o PIB. Aceita-se que, caso a razão D/PIB seja estável ao longo do tempo,
o setor público (que arrecada tributos a partir do PIB) poderá manter-se solvente.
Assim, os países da União Européia concluíram que, caso o déficit nominal dos países
membros mantenha-se em 3% dos respectivos PIBs, as dívidas públicas estarão
crescendo, mas de forma a acompanhar a expansão do PIB da região de modo a manter
em equilíbrio a relação D/PIB.
Em países como o Brasil, que possuem taxas de juros muito altas (as quais
tendem a fazer com que a dívida cresça muito rapidamente), utilizou-se o recurso da
privatização como forma de abater o valor da dívida e frear seu crescimento. Esse foi o
motivo essencial do uso que se deu aos recursos de privatização: contribuir com a
constituição e um quadro de solvência para o setor público. Quando os recursos de
privatização começaram a se tornar escassos, a única forma de a política fiscal
contribuir com esse quadro de solvência foi a geração de superávits primários que
forçassem a redução (indireta) do déficit nominal.
Uma forma perversa de gasto público é aquele que excede a arrecadação e é
financiado diretamente através da emissão de moeda. O governo ―toma emprestados‖
recursos junto ao Banco Central, que retém os títulos públicos. Isto equivale à mera
fabricação de dinheiro. Este fato fará com que haja mais dinheiro em circulação e,

Economia Aplicada
55

portanto, que a demanda agregada se eleve continuamente, causando um aumento do


nível de preços. Ao perceberem o aquecimento da demanda, os produtores logo
aumentarão seus preços, o que pode fazer com que o resultado seja apenas inflação, sem
nenhuma conseqüência sobre o nível da atividade.

3.3 O MACROMERCADO MONETÁRIO: A Atuação


do Banco Central e as Metas de Inflação

3.3.1 O Processo Inflacionário


Pontos-chave: O Regime de Metas de Inflação; Componentes da inflação;
Inflação de demanda e ciclo econômico; A influência das taxas de juros no
comportamento da inflação.
Na atualidade, diversos países do mundo adotam o chamado Regime de Metas
de inflação. Esse regime é caracterizado por 3 elementos:

1) O gestor: o Banco Central, principal agente do sistema financeiro, é o


responsável pela gestão do regime. A ele cabe manter a inflação sob controle (isto é,
dentro das metas estabelecidas).
2) A meta: o próprio Banco Central ou o governo estabelecem com
antecedência as metas de inflação para os anos à frente. Em geral, são fixadas faixas de
tolerância para a inflação, um intervalo com valores máximos e mínimos entre os quais
está o ―alvo‖ ou centro da meta. No Brasil, as metas são definidas pelo CMN -
Conselho Monetário Nacional, composto pelo próprio presidente do Banco
Central, o Ministro do Planejamento e o Ministro da Fazenda (presidente do
Conselho). No Brasil, o índice escolhido para a definição da meta inflacionária é o
IPCA - Índice de Preços ao Consumidor Amplo, do IBGE.
3) O instrumento: o Banco Central utiliza a taxa de juros básica (no Brasil, a
Selic) para manterá inflação no limite das metas.
A lógica é simples: havendo ameaça de descumprimento da meta inflacionária, o
BACEN eleva os juros. Com isso, visa reduzir a demanda por bens e serviços e criar um
ambiente desfavorável à alta de preços. Se a meta está para ser cumprida com certa

Economia Aplicada
56

folga, o BACEN pode reduzir os juros. Isso contribui para a retomada do consumo e
pode provocar nova pressão inflacionária. Desde que isso não leve novamente ao
descumprimento da meta, os juros podem ser mantidos em baixa.
Ocorre que a inflação é um fenômeno complexo que pode estar associado a
diversos fatores; nem todos eles muito sensíveis aos juros fixados pelo BACEN. De
todo modo, desde a Grande Depressão, os países desenvolvidos perceberam que é
melhor conviver com uma taxa de inflação baixa e constante do que com um processo
deflacionário. Atualmente, todos os países desenvolvidos têm metas de inflação
(explícitas ou implícitas) em torno dos 2% anuais. Com essa taxa de inflação, os preços
em geral dobrariam a cada 35 anos, o que deixa para as empresas um horizonte de
planejamento bastante longo, especialmente se essas taxas forem bastante estáveis ao
longo do tempo. Em geral, as metas de inflação visam mantê-la o mais próximo
possível desse percentual.
De um modo geral, há três componentes típicos para a determinação da taxa de
inflação, os quais explicam tanto as altas quanto as baixas dos índices:
1) Componente de demanda: ao longo do ciclo econômico, momentos de
expansão contínua podem levar ao superaquecimento da Demanda Agregada. As
empresas, operando acima do nível normal, podem ver sua capacidade ociosa e seus
estoques caindo. Via de regra, em momentos de superaquecimento, os empresários
elevam preços e margens de lucro até mesmo antes que a plena capacidade seja
alcançada. O gráfico abaixo ilustra essa região de excesso de Demanda Agregada.
2) Componente temporal (inércia e expectativas): como vários outros
processos em Economia, a inflação também possui elementos de realimentação. A alta
dos preços em períodos passados pode gerar a expectativa de novas altas no período
corrente. Quando essas expectativas se generalizam, muitas empresas se preparam para
enfrentar altas nos custos de reposição de seus estoques. Quando as expectativas de
inflação são desse tipo, elas tendem a se confirmar pelo simples comportamento
defensivo dos agentes econômicos, o que realimenta o processo gerando a inércia
inflacionária. Outro fator causador de inércia são contratos que determinam a alta de
preços com base na inflação passada. Enquanto houver inflação, continuará havendo
alta desses preços, propagando o processo7.

7
Até 1994, com o advento do Plano Real, parte significativa da inflação no Brasil era explicada pelo
componente temporal da inflação, tanto as expectativas quanto os contratos de indexação perpetuavam a
inflação.

Economia Aplicada
57

3) Componente de custos: após os choques do petróleo dos anos 70, esse


elemento foi incorporado ao estudo da inflação. Quando um determinante importante do
custo das empresas sofre um choque abruto de alta, observa-se uma tendência à
elevação em cadeia dos preços. O mesmo ocorre diante de quebras de safras agrícolas
ou diante de elevações muito intensas da taxa de câmbio.
A moderna atuação dos Bancos Centrais nas principais economias do mundo
parte do suposto de que não lhes cabe controlar o comportamento dos custos das
empresas. Mesmo os mecanismos de controle da taxa de câmbio são vistos como um
instrumento inadequado para o controle da inflação. Assim, dos três componentes
listados acima, o Banco Central pode influenciar dois: o nível de Demanda Agregada e
as expectativas inflacionárias.
Monitorando o ciclo econômico, o Banco Central preocupa-se continuamente
em saber se o PIB não está muito distante de seu nível tendencial. Desvios (também
chamados de gaps) muito grandes na fase de expansão geram pressões inflacionárias
(inflação de demanda) e recomendam a elevação das taxas de juros para reduzir o nível
excessivo de atividade. É interessante notar que, na fase recessiva, não há quedas de
preço como regra geral. Como dissemos, a deflação é considerada um grande mal desde
a Grande Depressão. Assim, o baixo nível de atividade traz, normalmente, pressões por
maior desemprego. Esse seria um indicador de que o excesso de Demanda Agregada
teria sido revertido e que, portanto, a taxa de juros poderia cair.
Já as expectativas inflacionárias só podem ser influenciadas indiretamente. Um
Banco Central que se mostre continuamente intolerante com a inflação durante longos
períodos de tempo cria uma reputação que pode gerar expectativas favoráveis. Nesse
sentido, a chamada ―autonomia‖ ou ―independência‖ do Banco Central em relação ao
governo poderia contribuir para fazer convergirem as expectativas para níveis mais
baixos de inflação. Nesse sentido, imagine que o Banco Central observe que a inflação
está em alta devido a um choque de custos. Caso ele adote uma postura de acomodação
e não eleve as taxas de juros, isso pode provocar um processo de deterioração do
componente de expectativas, fazendo com que a alta de preços tenha uma segunda
―rodada‖ e seja realimentada. Assim, alguns Bancos Centrais costumam manter juros
altos mesmos em períodos de recessão caso a inflação esteja acima das metas
estabelecidas.

Economia Aplicada
58

3.3.2 A Oferta de Moeda e a Determinação da Taxa de Juros de


Mercado
Pontos-chave: Taxa de juros básica e taxa de juros de mercado; Papel dos
títulos públicos na regulação da oferta monetária; Diferentes conceitos de moeda: Meios
de Pagamento e Base Monetária; Depósitos compulsórios e multiplicador monetário.

A ―Lei da Oferta e da Demanda‖ tem uma forma simples de analisar a formação


dos preços na economia. A escassez eleva o preço, seja por causa de uma demanda
elevada, seja por causa de uma oferta reduzida. No sentido contrário, preços em baixa
são causados por uma abundância relativa, seja esta devido à falta de demanda ou à
oferta muito grande.
Com a moeda, ocorre coisa semelhante. Basta fazermos uma pequena adaptação
e passarmos a compreender a taxa de juros como um preço e o Banco Central como um
grande agente no mercado monetário, capaz de gerar escassez ou abundância de moeda
no sistema financeiro.
Para analisarmos com mais detalhes os mecanismos através dos quais o BACEN
atua, devemos lembrar que ele é um agente privilegiado no tratamento com o sistema
bancário. Quando o BACEN estabelece a taxa de juros com a qual opera, essa taxa
passa a ser um parâmetro para as demais operações do sistema financeiro. E como o
risco imposto pelo BACEN é nulo (afinal, ele jamais será insolvente, dada a
possibilidade de emitir moeda para honrar seus compromissos), a taxa à qual o Banco
Central toma recursos emprestados é sempre a menor taxa do mercado.
Quando dizemos que o Banco Central ―toma recursos‖ de empréstimo no
sistema financeiro, isso pode parecer inicialmente contraditório. Afinal, ele não
necessitaria pedir emprestado se tem o poder legal de emitir moeda. Via de regra, o
BACEN tomar recursos junto às instituições financeiras com dois objetivos:
1) Financiar os déficits do Tesouro Nacional, dado que ele é o agente financeiro
do Tesouro e realiza operações em seu nome, repassando os recursos captados; e,
2) Controlar o volume de moeda em circulação, garantindo que a taxa de juros
de mercado esteja no nível adequado para o controle da inflação (e, eventualmente, para
influenciar outras variáveis de interesse macroeconômico, como os fluxos
internacionais de capital).
O primeiro objetivo é, na verdade, um tema fiscal e nos remete de volta à seção
acima.

Economia Aplicada
59

Já o segundo objetivo é propriamente monetário e define de maneira sucinta a


racionalidade da política monetária:

O objetivo da política monetária é manter a inflação no limite das metas. Para isso, o Banco
Central deve controlar a oferta de moeda e influenciar a taxa de juros de mercado.

Quando o BACEN anuncia que está operando com taxas de juros mais elevadas
em suas operações com títulos públicos, ele deseja atrair um volume maior de
poupança, depositado na forma de passivos junto às instituições financeiras. Esses
recursos são progressivamente desviados dos empréstimos ao setor privado para as
operações com títulos públicos, o que acaba por gerar escassez de crédito para os
tomadores privados (muitos deles, empresas que têm projetos de investimento).
Captando esses recursos, o BACEN não os devolve na forma de novos empréstimos,
afinal, o Banco Central não realiza empréstimos para o setor privado, via de regra8.
Contabilmente, uma emissão de títulos públicos pode ser resumida através dos
balancetes abaixo, apresentados em uma versão bastante simplificada.

ANTES DO AUMENTO DOS JUROS BÁSICOS (sobre os títulos públicos).

BANCO CENTRAL BANCO COMERCIAL


Empréstimos ao setor
Caixa = $ 200 privado = $ 400
Passivo total = $ 1200 Depósitos = $ 700
Títulos públicos em Títulos públicos =
carteira = $ 1000 $ 200
Reservas = $ 100

DEPOIS DO AUMENTO DOS JUROS BÁSICOS (sobre os títulos públicos).

BANCO CENTRAL BANCO COMERCIAL


Empréstimos ao setor
privado = $ 200
Caixa = $ 400
Passivo total = $ 1200 Títulos públicos = Depósitos = $ 700
Títulos públicos em
$ 400
carteira = $ 800
Reservas = $ 100

8
A exceção a essa regra são os chamados ―redescontos‖, operações nas quais o BACEN empresta
recursos a bancos ameaçados por corridas bancárias. Mas, como dito, essa é a exceção e não a regra.

Economia Aplicada
60

Em resumo, a elevação das taxas de juros por parte do BACEN induz o sistema
financeiro a reduzir o volume de empréstimos ao setor privado, remanejando seu ativo.
Isso faz com que o BACEN reduza a oferta de moeda no mercado, uma vez que ele
próprio acaba com mais recursos em caixa. E moeda em caixa do Banco Central não é
moeda circulante. Para todos os efeitos, quando o Banco Central amplia seu caixa em
moeda nacional, tudo se passa como se esses recursos tivessem desaparecido
temporariamente.
Mas os efeitos da elevação dos juros não param por aí. A elevação das taxas de
juros básicas deve levar os agentes financeiros a ajustarem tanto suas taxas ativas
(cobradas dos empréstimos) quanto as passivas (oferecidas aos aplicadores). Como o
Banco Central passou a operar com taxas mais altas, o setor privado deverá pagar mais
ou menos o mesmo prêmio de risco cobrado antes dessa mudança. Assim, a elevação
dos juros básicos encarece toda a oferta de crédito. Ao mesmo tempo, diante de maiores
oportunidades de lucro, o sistema financeiro procurará atrair mais recursos dos
poupadores e, para isso, eleva também suas taxas de captação.
Como já havíamos visto acima, de maneira mais intuitiva, a elevação dos juros
básicos pelo Banco Central desestimula o gasto dos agentes econômicos, tanto em
investimento quanto em consumo. Essa medida tem sempre o efeito de reduzir a
Demanda Agregada e é uma forma muito ágil de tentar influenciar a trajetória da
inflação.
Até aqui estávamos supondo que o Banco Central consegue controlar o volume
de moeda no mercado monetário através de operações com títulos públicos. Ocorre,
porém, que o mecanismo através do qual o BACEN interfere na oferta de moeda e no
custo do crédito para o setor pode ser mais indireto. Para compreender melhor este
mecanismo, precisamos definir dois diferentes conceitos de moeda: Meios de
Pagamento e Base Monetária.

Meios de pagamento: moeda manual + depósitos à vista ou M = MM + DV.


Como o próprio nome diz, Meios de Pagamento é tudo aquilo que é aceito como pagamento, e
que pode ser reduzido a dois itens: moeda manual (MM) mais depósitos à vista (DV). A fim de
liquidar qualquer dívida, somente podemos fazê-lo com um destes dois itens.

Base Monetária: moeda manual + reservas bancárias ou B = MM + RB


É um conceito físico. Corresponde ao papel moeda (ou moeda manual) em poder do público,
mais as reservas em moeda (físicas) que os bancos mantêm em caixa ou depositadas no Banco
Central (RB).

Economia Aplicada
61

Note que o conceito de Meios de Pagamento possui um componente contábil: os


depósitos à vista. Isto porque as transferências entre contas correntes não exigem uma
operação física, bastando que sejam feitos lançamentos contábeis. Mas, o mais
importante, é que os meios de pagamento representam sempre um volume maior de
―dinheiro‖ do que a Base Monetária. Isto porque os bancos são capazes de gerar
empréstimos, a partir de uma certa disponibilidade física de moeda, que acaba por
multiplicar os meios de pagamento.
Para compreender como isto ocorre, suponha que, em uma economia, exista
apenas um banco e que um cliente qualquer possui R$ 1.000 de renda monetária. Agora
suponha que este agente, como todos os agentes nesta economia, possui o hábito de
manter 30% de sua renda monetária na forma de cédulas e moedas em sua carteira (a
chamada ―moeda manual‖). Todo o restante é depositado no banco por algum tempo.
Assim, em um primeiro momento, existe neste banco um depósito de R$ 700 (R$ 1.000
de renda monetária menos os 30% retidos pelo agente).
O banco, por sua vez, devido às suas necessidades de relacionamento com o
público e também por conta da regulamentação baixada pelo Banco Central, mantém
reservas de 10% do valor dos depósitos, realizando empréstimos com os outros 90%.
Mas, por que motivos o banco pode emprestar um valor que está depositado em conta
corrente? Simplesmente por saber, pela experiência, que seus clientes em geral deixam
dinheiro ocioso em conta durante alguns dias, o que lhe permite fazer o empréstimo. Por
precaução, o banco mantém reservas. Em geral, quando um cliente faz um saque, ou o
dinheiro vem destas reservas ou de empréstimos que foram resgatados naquela data.
Contabilmente, essas operações estão registradas no balanço simplificado abaixo
(Balanço 1). Agora, suponha que, ao realizar o primeiro empréstimo no valor de $ 630,
o banco abra, imediatamente, uma conta de depósito para o tomador. Suponha ainda que
este, assim como o primeiro depositante, tenha o hábito de manter no bolso 30% de suas
disponibilidades, mantendo em depósito os outros 70%. Com isso, esse tomador irá
sacar imediatamente $ 189 (30% do empréstimo de $ 630) e terá registrado em seu
nome um depósito (Depósito 2) de $ 441.

Economia Aplicada
62

BANCO COMERCIAL BANCO COMERCIAL


(Balanço 1) (Balanço 2)
Empréstimo 1 =
$ 630
Empréstimo 1 =
$ 630 Depósito 1 = $ 700
Depósito 1 = $ 700 Empréstimo 2 =
Depósito 2 = $ 441
$ 396,90
Reserva 1 = $ 70
Reservas 1 = $ 70
Reserva 2 = $ 44,10
Ativo = $ 700 Passivo = $700 Ativo = $ 1.141 Passivo = $ 1.141

Ao registrar o segundo depósito de $ 441, o banco fará o mesmo que já havia


feito antes: irá compor reservas de 10% sobre esse valor (Reserva 2 = $ 44,10) e poderá
emprestar os restantes $ 396,90 (Empréstimo 2).
Observe desde já que o banco que realiza um empréstimo decide simplesmente
sobre uma alocação de ativos. No entanto, ao depositar o valor emprestado em uma
conta corrente do cliente que está tomando esses recursos, o banco está criando um
novo passivo para si mesmo. Ainda assim, o valor físico circulando em nossa economia
hipotética equivale apenas aos $ 1.000 do agente que realizou o primeiro depósito!
A primeira linha do quadro abaixo resume este comportamento do público e do
setor bancário diante do primeiro depósito, da primeira reserva e do primeiro
empréstimo.
Como vimos, ao fazer aquele primeiro empréstimo no valor de $ 630, o banco
abre uma conta corrente para o tomador do dinheiro. Este, por sua vez, possui o mesmo
comportamento que o agente anterior, isto é, mantém como moeda manual 30% deste
valor e o restante em conta corrente, que passará a movimentar. Diante deste novo
―depósito‖, o banco volta a manter 10% na forma de reservas e a emprestar os outros
90%. Este processo se estende no tempo. Ao final de algumas etapas, temos um total de
depósitos de quase $1.900, muito embora fisicamente só existam, neste nosso exemplo,
$1.000. As pessoas detêm cerca de $808 na forma de moeda manual e o banco tem em
seus caixas (ou depositados compulsoriamente no Banco Central) cerca de $ 189,
havendo ainda $ 3,91 que não foram emprestados.

Economia Aplicada
63

Tabela 1- Base Monetária com Reservas bancárias de 10%

Moeda manual Depósitos à Reserva


Valor inicial Empréstimos
(MM = 30% de vista (DV = bancária (RB =
(VI) (90% de DV)
VI) 70% de VI) 10% de DV)
1.000,00 300,00 700,00 70,00 630,00
630,00 189,00 441,00 44,10 396,90
396,90 119,07 277,83 27,78 250,05
250,05 75,01 175,03 17,50 157,53
157,53 47,26 110,27 11,03 99,24
99,24 29,77 69,47 6,95 62,52
62,52 18,76 43,77 4,38 39,39
39,39 11,82 27,57 2,76 24,82
24,82 7,44 17,37 1,74 15,63
15,63 4,69 10,94 1,09 9,85
9,85 2,95 6,89 0,69 6,21
6,21 1,86 4,34 0,43 3,91
Somatório 807,64 1.884,50 188,45 1.696,05

Neste nosso exemplo, supondo que todo o dinheiro que existe na economia seja
o que consta no quadro acima, a Base Monetária seria a soma da moeda manual ($
807,64) mais as reservas bancárias ($ 188,45) mais os $ 3,91 que permanecem por
emprestar. Como não poderia deixar de ser, o total corresponde ao valor original de $
1.000. No entanto, os agentes envolvidos neste nosso exemplo estão realizando
transações contando tanto com os valores que mantêm na forma de moeda manual ($
807,64) quanto com seus depósitos em conta corrente ($ 1.884,50), cuja soma
corresponde aos meios de pagamento. Se dividirmos os meios de pagamento pela Base
Monetária, notaremos que, em nosso exemplo, esta relação é de pouco mais de 2,7, ou
seja, os meios de pagamento correspondem a 270% da Base Monetária. O valor de 2,7 é
o chamado multiplicador dos meios de pagamento, uma vez que, chamando a base de B
e os meios de pagamento de M, podemos deduzir o multiplicador (m) da seguinte
forma9:
m=M/B →
(6) M=m.B

Observe que a Base Monetária é igual à moeda manual (que chamaremos de


MM) mais as reservas bancárias (que chamaremos de RB). Por sua vez, os meios de
pagamento são iguais aos depósitos à vista (que chamaremos DV) mais a moeda

9
Não confundir M como meios de pagamento com M como importações.

Economia Aplicada
64

manual. Sendo assim, a partir da expressão (6), o multiplicador (m) pode ser reescrito
da seguinte forma:

m=MM+DV/MM+RB →

Dividindo-se todos os membros por DV, teremos:

m = {[(MM / DV) + (DV / DV)] / [(MM / DV) + (RB / DV)]}

Chamando MM / DV de md e RB / DV de rd, teremos:

(7) m = (md + 1) / (md + rd)

Note que md é a relação entre moeda manual e depósitos à vista (MM / DV), a
qual é decidida pelo público que aloca seus recursos financeiros entre estas duas
finalidades. Por seu turno, rd é a relação entre reservas e depósitos à vista (RV / DV), a
qual é decidida tanto pelos bancos diretamente quanto pela regulamentação do Banco
Central. Quanto maior a parcela de recursos que o público decidir depositar nos bancos,
maior será a capacidade destes de realizar empréstimos e, portanto, maior a
multiplicação de meios de pagamento (maior será, portanto, m). Por outro lado, quanto
maiores as reservas bancárias, menores as condições de os bancos realizarem
empréstimos, dados os depósitos e, portanto, menor será m. Mas, quanto mais depósitos
o público fizer nos bancos, menor será md (a razão moeda manual / depósitos). Por
outro lado, quanto maiores as reservas bancárias, maior será rd (a razão reservas /
depósitos).
Para ilustrar as alterações no multiplicador, decorrentes de mudanças no
comportamento do setor bancário, observe o quadro baixo. Ele é idêntico ao quadro
anterior, com a única diferença de que as reservas bancárias são agora equivalentes a
15% dos depósitos. Esta elevação de 5% poderia ser fruto de uma medida do Banco
Central tentando reduzir a oferta de meios de pagamento. Observe o que ocorre.
Com uma capacidade menor de realizar empréstimos a partir de um dado
volume de depósitos (a chamada capacidade de alavancagem), os bancos não
conseguem multiplicar os meios de pagamento com a mesma intensidade de antes. A
cada etapa, o volume de empréstimos somente pode chegar a 85% do volume de

Economia Aplicada
65

depósitos, e não a 90%, como antes. Neste caso, o multiplicador monetário que era
pouco superior a 2,7 passa a mais ou menos 2,5, e os meios de pagamento se reduzem
de cerca de $ 2.700 para menos de $ 2.500. Algo semelhante ocorreria caso o público
retivesse na forma de moeda manual mais de 30% de suas disponibilidades.
Tabela 2- Base Monetária com Reservas bancárias de 15%

Moeda manual Depósitos à Reserva


Valor inicial Empréstimos
(MM = 30% de vista (DV = bancária (RB =
(VI) (90% de DV)
VI) 70% de VI) 15% de DV)
1.000,00 300,00 700,00 105,00 595,00
595,00 178,50 416,50 62,48 354,03
354,03 106,21 247,82 37,17 210,64
210,64 63,19 147,45 22,12 125,33
125,33 37,60 87,73 13,16 74,57
74,57 22,37 52,20 7,83 44,37
44,37 13,31 31,06 4,66 26,40
26,40 7,92 18,48 2,77 15,71
15,71 4,71 11,00 1,65 9,35
9,35 2,80 6,54 0,98 5,56
5,56 1,67 3,89 0,58 3,31
3,31 0,99 2,32 0,35 1,97
Somatório 739,28 1.724,99 258,75 1.466,24

Em resumo: dois instrumentos de política monetária


Expressão-chave: M=m.B
Alterações nos compulsórios alteram o multiplicador.
Operações com títulos públicos afetam a Base Monetária.
Esses são os dois instrumentos para controlar a oferta de Meios de Pagamento e
afetar as taxas de juros cobradas no mercado financeiro.

De que depende o Multiplicador Monetário?


O multiplicador monetário depende exclusivamente de dois parâmetros:
O percentual de compulsório (quanto maior, menor a multiplicação).
As preferências do público entre o uso de papel moeda e depósitos à vista
(quanto maior o uso dos depósitos, maior a multiplicação).

Em períodos em que o governo opta por realizar uma política monetária rígida,
procurando conter a oferta de moeda, o Banco Central obriga os bancos privados a
aumentarem suas reservas compulsoriamente. Nos primeiros meses depois da
implementação do Plano Real, por exemplo, a relação entre reservas e depósitos à vista

Economia Aplicada
66

era da ordem de 0,7, mais que o dobro daquela observada em final de 1997. Mais
recentemente, no início de 2003, os compulsórios foram elevados para 60% dos
depósitos à vista, um dos valores mais elevados desde o início do Plano Real. Em 2004,
os compulsórios foram reduzidos para 45% dos depósitos à vista.
Em resumo, sempre que deseja alterar a oferta monetária e elevar as taxas de
juros de mercado, o Banco Central pode alterar o percentual de reservas que os bancos
são obrigados a manter. Maiores reservas significam menor oferta de crédito e, como
vimos, redução no volume de Meios de Pagamento, mesmo que a Base Monetária
(dinheiro físico emitido e circulando) permaneça constante.
Outra forma de alterar a oferta de moeda é tentar interferir diretamente na Base
Monetária. Uma das formas de fazer isso é vendendo títulos públicos, como visto
acima. Ao adquirir esses títulos, o público entrega ao Banco Central dinheiro que não
voltará a circular (isto é, caso o Banco Central não faça empréstimos com esses
recursos). Mesmo que o multiplicador permaneça constante, reduzindo-se a Base
Monetária, haverá uma contração da oferta de meios de pagamento. Caso o BC não
deseje que a taxa de juros se eleve, terá que tomar medidas compensatórias como, por
exemplo, reduzir as reservas compulsórias dos bancos.

3.4 O Macromercado de Câmbio


3.4.1 Regimes Cambiais
Pontos-chave: O papel do Banco Central nos diferentes regimes cambiais; O
regime cambial brasileiro; Vantagens e desvantagens dos diferentes regimes cambiais;
O papel das reservas internacionais.
As relações econômicas de um país com o resto do mundo dependem
crucialmente da forma como funciona o mercado de moeda estrangeira. A taxa de
câmbio nominal é uma variável que converte preços em moeda estrangeira em preços
em moeda nacional. Mas a taxa de câmbio também pode ser entendida (de forma ainda
mais simples) como o preço em moeda nacional de uma unidade de moeda estrangeira.
Em nossos exemplos acima, o preço de 1 dólar poderia ser R$ 2,00 ou R$ 2,20. Por se
tratar de um preço, a taxa de câmbio nominal entre duas moedas é determinada pelos
mecanismos de oferta e demanda - já estudados em capítulos anteriores - aplicados ao
mercado cambial ou mercado de divisas.

Economia Aplicada
67

No mercado cambial, pessoas que possuem moeda estrangeira e desejam trocar


por moeda nacional são os ofertantes desse mercado. Contrariamente, pessoas que
desejam adquirir moeda estrangeira, comprando-a com moeda nacional, são os
demandantes. Isto significa que a ―mercadoria‖ transacionada neste mercado são as
divisas, isto é, qualquer moeda estrangeira utilizável em transações econômicas
internacionais as quais envolvem, em geral, residentes no país e residentes no exterior.
Para se entender bem o funcionamento desse mercado, é importante deixar claro quem
são os potenciais compradores e vendedores de divisas.
No grupo dos ofertantes de moeda estrangeira estão:
1) Exportadores, que vendem suas mercadorias ao exterior e são remunerados
em moeda estrangeira (em geral o dólar americano);
2) Turistas estrangeiros, que trazem moeda estrangeira e a trocam no país (ou,
por vezes, a gastam diretamente);
3) Investidores internacionais, que trazem divisas para aplicar no país, seja no
mercado financeiro, seja em atividades produtivas;
4) Agentes econômicos (em geral, bancos, mas também empresas e o próprio
governo) que captam recursos no exterior (emissão de títulos, obtenção de empréstimos
e financiamentos etc), os quais entram no país como valores em moeda estrangeira.

No grupo dos demandantes de moeda estrangeira estão:


1) Importadores, que precisam comprar moeda estrangeira para remeter a seus
fornecedores no exterior;
2) Turistas brasileiros que se dirigem ao exterior e precisam comprar moeda
estrangeira antes da viagem;
3) Agentes econômicos que investem no ou enviam renda para o exterior;
4) Agentes econômicos (pessoas, empresas e o governo) que possuem
compromissos a pagar no exterior (amortizações e juros referentes a empréstimos, por
exemplo) e que precisam enviar valores em moeda estrangeira para efetivar o
pagamento.

Como na Microeconomia, a oferta e a demanda de moeda estrangeira estão


diretamente relacionadas com seu preço, isto é, com a taxa de câmbio. Para ver de que
forma isso acontece, deve-se focar inicialmente as relações comerciais e de turismo.

Economia Aplicada
68

Coloque-se no lugar do exportador, por exemplo. Se ele vende para clientes no


exterior um produto que é cotado internacionalmente a US$ 100, quando a taxa de
câmbio é R$ 2,50 por dólar, sua receita em moeda nacional seria de R$ 250 a unidade.
Se a taxa de câmbio subisse para R$ 2,90, sua receita se elevaria para R$ 290 a unidade.
Se tudo mais permanece constante (os custos de produção sendo os mesmos, por
exemplo), isso seria um estímulo para que ele ofertasse mais desse produto no exterior e
também incentivaria todos os demais exportadores a fazerem o mesmo. O aumento das
exportações geraria uma maior oferta de dólares no mercado brasileiro. Da mesma
forma, o turista estrangeiro que tivesse que pagar por uma diária de hotel no Brasil o
valor de R$ 200 teria que desembolsar US$ 80 se a taxa de câmbio fosse R$ 2,50 por
dólar. Mas essa diária representaria menos de US$ 69 caso a taxa de câmbio passasse
para R$ 2,90 por dólar. Isso atrairia mais turistas estrangeiros para o Brasil, elevando a
oferta de dólares.
No caso dos importadores e dos turistas brasileiros que vão ao exterior, o
comportamento seria simetricamente oposto. Quanto mais alta a taxa de câmbio, mais
caros os produtos estrangeiros e maiores os gastos (em reais) dos turistas que saíssem
do país. Isso desestimularia ambos os tipos de transação e reduziria a demanda por
dólares.
Já os fluxos financeiros (movimentos de capitais e rendas externos) são
diretamente influenciados por fatores como taxas de juros e pelas oportunidades
lucrativas de investimento nos vários países. O nível de risco oferecido pelas aplicações
financeiras em cada país é outro elemento decisivo. Se um país oferece juros atraentes e
o risco é baixo, em geral acabará atraindo investimentos de pessoas que residem no
exterior. Isso eleva a oferta de divisas. Do mesmo modo, se os juros são mais altos
dentro do país do que no exterior, as empresas que atuam nesse país preferirão tomar
empréstimos fora, pagando menos juros. O ponto a reter aqui é a idéia de que a taxa de
câmbio é um preço, determinado no mercado de divisas pelas condições de oferta e
demanda por moeda estrangeira.
Mas, uma característica importante do mercado de câmbio é a existência de um
agente com uma capacidade muito grande de comprar e vender divisas: o Banco
Central. É ele quem administra as reservas internacionais do país e, por isso, pode atuar
no mercado comprando ou vendendo grandes valores em moeda estrangeira, alterando
as condições de oferta e demanda e, portanto, interferindo no nível da taxa de câmbio. O

Economia Aplicada
69

padrão típico de atuação do Banco Central no mercado de câmbio determina o regime


cambial. De forma mais resumida, podemos dizer que:

Regime cambial é regra de funcionamento do mercado cambial, estabelecendo o papel do Banco


Central nesse mercado.

Numa primeira aproximação, pode-se dizer que existem dois regimes cambiais
polares:
a) Câmbio fixo: nesse regime, a taxa de câmbio é mantida constante. Se as
condições de oferta e demanda mudarem e a taxa de câmbio (como qualquer preço)
tende a se alterar, o Banco Central intervém de forma a manter a paridade fixada. Pode-
se observar que o Banco Central tem uma regra clara: não permitir a flutuação da taxa
de câmbio e, para isso, ele compra e vende dólares diretamente no mercado cambial.
Nesse regime a necessidade de intervenção do Banco Central no mercado de câmbio é
máxima, exatamente para evitar a flutuação.
b) Câmbio flutuante (livre flutuação): nesse regime, a taxa de câmbio pode
variar (flutuar) continuamente, inclusive no intervalo de um único dia. A necessidade de
intervenção do Banco Central é nula e o Banco Central permanece totalmente ausente
do mercado de câmbio e a taxa passa a ser comandada exclusivamente pelas forças de
mercado.

Entre esses dois extremos existem regimes mistos, mais próximos do câmbio
fixo ou da livre flutuação. No primeiro caso, uma forma mais mitigada de câmbio fixo
corresponde ao regime de bandas cambiais. Nesse regime, o Banco Central também está
bastante presente no mercado de câmbio, mas apenas para evitar flutuações excessivas
que ultrapassem limites claramente definidos e publicamente divulgados. Ele venderá
dólares no mercado cambial caso a taxa atinja um teto e comprará dólares caso a taxa
atinja um piso. No Brasil, entre março de 1995 e janeiro de 1999, adotou-se um regime
de bandas cambais móveis, isto é, os limites de flutuação eram revistos periodicamente
a fim de administrar a progressiva elevação da taxa de câmbio.

Economia Aplicada
70

Figura 16 – Regimes Cambiais

Câmbio Fixo
Bandas cambiais

Câmbio Administrado

―Flutuação Suja‖
(intervenções esporádicas)
Câmbio Flutuante

A partir de janeiro de 1999, o Banco Central do Brasil adotou o regime de


―flutuação suja‖. Nesse regime, as intervenções no mercado de câmbio são esporádicas
e sem uma regra claramente anunciada. O Banco Central procura evitar que a taxa de
câmbio flutue excessivamente, mas não anuncia claramente quais os limites mínimo e
máximo que ele se dispõe a tolerar a cada momento do tempo.
É importante notar que, em um regime de câmbio fixo, o Banco Central deve
estar continuamente presente no mercado de câmbio a fim de evitar flutuações no preço
da moeda estrangeira (taxa de câmbio nominal). Não basta anunciar ou colocar em lei
que a taxa de câmbio é fixa, pois caso o Banco Central se ausente do mercado,
movimentos de oferta e demanda poderão fazer surgir ágios ou deságios em relação à
cotação fixada. Já no regime de câmbio flutuante puro, o Banco Central pode
permanecer totalmente ausente do mercado, permitindo que o preço da moeda
estrangeira (taxa de câmbio nominal) flutue livremente, sendo determinado
exclusivamente pelas forças tradicionais de oferta e demanda.

3.4.2 As Contas do Balanço de Pagamentos


Pontos-chave: Balanço de Pagamentos como instrumento de monitoramento do
mercado cambial; Comportamento das transações correntes e dos fluxos de capitais no
Brasil nos últimos anos; Relevância das diferentes contas no caso brasileiro;
Expectativas sobre a taxa de câmbio com base na análise do Balanço de Pagamentos.
As relações econômicas de um país com o resto do mundo são complexas, pois
envolvem um conjunto muito grande de transações. O estudo dessas relações exige um

Economia Aplicada
71

tratamento sistemático e deve ser feito através de uma das mais importantes ferramentas
contábeis utilizadas em economia: o Balanço de Pagamentos.

Balanço de Pagamentos é o registro contábil sistemático de todas as transações econômicas de


um país com o exterior, sejam elas comerciais, financeiras ou de qualquer outra natureza.

Isto significa que todas as transações envolvendo agentes econômicos que atuam
no país (chamados residentes) e agentes que atuam fora do país (chamados não-
residentes) são registradas de forma organizada no Balanço de Pagamentos. Em linhas
gerais, o Balanço de Pagamentos se divide em dois grandes blocos: a conta de
transações correntes e a conta de capitais, como mostrado no quadro abaixo. Os
próprios nomes desses dois blocos já fornecem uma boa idéia da lógica dessa separação.
Em conta corrente são registrados os pagamentos e recebimentos relativos a
todas as transações realizadas com bens e serviços (inclusive fatores) entre um país e o
exterior. Quando um país exporta, envia mercadorias para o exterior e recebe um
pagamento que é registrado positivamente em sua conta corrente. Quando uma empresa
estrangeira situado no país remete lucro para o exterior, isso é registrado como sendo
um pagamento de serviços empresariais sendo contabilizado negativamente na conta
corrente.
A conta de capitais registra fluxos de natureza financeira, tais como empréstimos
(e as amortizações correspondentes) envolvendo transações entre residentes no país e
não residentes. Quando uma empresa estrangeira decide instalar uma filial no país, esse
investimento é registrado positivamente na conta de capitais. Quando um banco
estrangeiro não renova créditos aos exportadores do país, isso é registrado
negativamente na conta de capitais.
Os fluxos financeiros em conta corrente (como remessas de lucros) tendem a ser
mais estáveis os da conta de capitais.
Entendida a lógica básica da organização do balanço de pagamentos, vamos
detalhar um pouco mais os itens que devem ser registrados em cada bloco. Na balança
comercial registra-se, período a período, os valores em moeda estrangeira relativos às
exportações e importações de bens ocorridas em um determinado país. Note que
somente o valor dos bens importados e exportados deve ser contabilizado na balança
comercial. Nenhum tipo de serviço (tais como fretes marítimos) deve ser colocado lado

Economia Aplicada
72

a lado com as transações de bens. Esse é o chamado conceito FOB de balança comercial
(iniciais da expressão ―free on board‖).
Em seguida, tem-se a balança de serviços. Nela estão incluídos itens como fretes
e seguros internacionais (que são chamados de serviços não-fatores de produção, pois
não são utilizados diretamente nas atividades produtivas). Este tipo de serviço em geral
é prestado por grandes companhias internacionais, como as seguradoras inglesas de
fretes.
A seguir tem-se a conta de rendas. Nela são registrados itens como juros e lucros
enviados para fora do país no pagamento de empréstimos e como remuneração pelo
capital estrangeiro aplicado no país. Se houver empresas nacionais atuando no exterior
que estejam enviando lucros para matrizes no país, esse recebimento também será
registrado na conta de rendas como um recebimento. Nessa conta também são incluídos
(como saídas) pagamentos relativos a direitos sobre propriedade intelectual, salários de
executivos que estejam no país por um período curto de tempo etc. Estes itens
constituem a remuneração pela utilização de capitais financeiros, capitais produtivos,
patentes e capital humano, respectivamente, todos diretamente associados às atividades
produtivas.

Quadro 3- Estrutura Sintética do Balanço de Pagamentos

Exportações de bens
Balança (Importações de bens)
Comercial (FOB) 1a Resultado (saldo) Comercial
(ou “Conta de Transações Correntes)

Exportações de serviços
Balança de (Importações de serviços
serviços 1b Resultado (saldo) de Serviços
Conta corrente

Saldo =
Receitas
Renda
(Despesas)
Rendas Líquida
1c Resultado (saldo) de Rendas
Recebida
do Exterior
ou
Transferências recebidas do exterior (-) Renda
Transferências
(Transferências enviadas para o exterior Líquida
Unilaterais
1d Resultado (saldo) de Transferências Unilaterais Enviada ao
Exterior
1 Resultado (saldo) em Conta Corrente
(1=1a+1b+1c+1d)

Economia Aplicada
73

2a Investimentos Estrangeiros Direto


2b Empréstimos
Conta Capital 2c Financimentos
2d Capitais de Portfólio
(Obs: Entradas líquidas)
2 Resultado (saldo) da Conta Capital
(2=2a+2b+2c+2d)

3Erros, informalidade existentes no


Erros e omissões
processo

Resultado (saldo) do Balanço de Pagamentos 4=1+2+3

As transferências unilaterais são o último item da conta corrente. Nesse item


estão incluídos os recursos a fundo perdidos doados por entidades estrangeiras, em geral
na forma de ajuda humanitária, como também os recursos que os emigrantes costumam
remeter para suas famílias no país (ambos são registrados como entradas de recursos).
A soma destes três itens nos fornece o resultado (ou saldo) em conta corrente.
Um país que apresenta déficit em conta corrente está recebendo poupança externa,
como visto anteriormente. Esse ponto merece atenção especial. Se um país deseja
investir para poder crescer, precisa poupar e, para isso, deve reduzir seu nível de
consumo agregado. Menos bens de consumo serão produzidos para que a produção de
bens de capital seja aumentada. Mas, se um país deseja manter seus níveis de consumo e
ainda assim quer aumentar o investimento, poderia fazê-lo com um nível maior de
importações seja de bens de consumo ou de bens de capital, não importa. O déficit
comercial permitiria manter os mesmos níveis de consumo e poupança e, ainda assim,
aumentar o investimento e o crescimento. Como a poupança total é sempre igual ao
investimento total, tudo se passa como se no exterior os estrangeiros estivessem
consumindo menos e transferindo essa ―sobra‖ de bens e serviços para nosso país. Essa
é a poupança externa: um excedente de produção no exterior que é utilizado em nosso
país, o qual, para se beneficiar disso, apresenta déficit em transações correntes. Em
resumo, um país que pode manter-se em déficit em transações correntes consegue
crescer, investindo mais, sem sacrificar excessivamente seu próprio consumo interno.
A conta capital, como o próprio nome diz, nos fornece o registro das transações
de caráter financeiro ocorridas em um determinado país, período a período. Por esta
conta devem ser registrados como entradas os valores de empréstimos obtidos pelos
residentes no país (governos, empresas e bancos) no exterior. Quando as amortizações

Economia Aplicada
74

são pagas, registra-se como saída (mas os juros são registrados em transações
correntes). Também são registrados os financiamentos obtidos ou ofertados nas
transações comerciais, os quais representam créditos ou dívidas, respectivamente, dos
agentes econômicos do país com algum outro agente no exterior. Pela conta capital
ingressa ainda o investimento estrangeiro direto, que são recursos que se destinam à
aplicação nas atividades produtivas, e os chamados capitais de carteira ou de portfólio,
que se destinam à aplicação no mercado financeiro (bolsas de valores, CDBs, etc.).
Repatriações de capital são sempre registradas como saídas. Assim como a conta
corrente, a conta de capital pode apresentar déficit ou superávit. Um país que esteja
amortizando grandes volumes de dólares devido ao vencimento de empréstimos
contraídos no passado e não esteja atraindo outras modalidades de fluxos de capital
apresentará um saldo negativo na conta de capitais (isto é, um déficit).
Quando consolidamos as contas correntes e de capital, temos o resultado do
balanço de pagamentos. Se o balanço de pagamentos for deficitário, o país tende a
perder reservas internacionais que estavam à disposição de seu banco central. Isto
porque, caso um país tenha, por exemplo, déficit em conta corrente e superávit na conta
de capital, sendo ambos exatamente iguais, isto significa que as divisas que saíram por
uma das contas ingressaram pela outra. Mas, caso o déficit em conta corrente seja maior
que a entrada de divisas através da conta de capital, então o país terá que desembolsar
parte das reservas que tiver para honrar os compromissos de seus residentes.

Economia Aplicada
75

Tabela 3 - O Balanço de Pagamento brasileiro (2004 -2008)

O balanço de pagamentos
US$ milhões
2004 2005 2006 2007 2008 2009
Balança Comercial (FOB) 33.641 44.703 46.457 40.032 24.836 25.290
Balança de Serviços -4.678 -8.309 -9.640 -13.219 -16.690 -19.245
Balança de Rendas -20.520 -25.967 -27.480 -29.291 -40.562 -33.684
Transferências Unilaterais 3.236 3.558 4.306 4.029 4.224 3.338
Saldo em Transações
11.679 13.985 13.643 1.551 -28.192 -24.302
Correntes
Investimento Direto 8.339 12.550 -9.380 27.518 24.601 36.033
Investimentos em Carteira -4.750 4.885 9.081 48.390 1.133 50.283
Derivativos -677 -40 41 -710 -312 156
Outros investimentos -10.806 -27.521 15.688 13.131 2.875 -16.300
Saldo da Conta Capital -7.523 -9.464 16.299 89.086 29.352 71.301
Erros e Omissões -1.912 -201 628 -3.152 1.809 -347
Resultado do B. Pagamentos 2.244 4.319 30.569 87.484 2.969 46.651
Fonte: Banco Central do Brasil - 2010
Prof. M.Sc. Claudio A. Garbi

Países que não disponham de reservas para ―fechar‖ o Balanço de Pagamentos


ou que não desejam lançar mão de suas reservas podem recorrer a organismos
internacionais como o FMI. Os aportes desses organismos são, por convenção,
registrados fora da conta de capitais em contas que aparecem lado a lado com a conta de
reservas. Caso esses aportes fossem registrados na conta de capitais, poderíamos ter a
impressão (errada) de que o Balanço de Pagamentos está em equilíbrio.
Se o país não obtém apoio dos organismos internacionais para ―fechar‖ o
Balanço de Pagamentos e as reservas internacionais atinjam um nível reduzido, pode
entrar em moratória. Neste caso, os pagamentos a não-residentes que forem postergados
devem ser registrados na conta de ―atrasados‖, indicando uma espécie de endividamento
forçado que o país realiza às custas de credores externos os quais deixam de receber
seus pagamentos involuntariamente.
Agora que já se tem uma idéia da organização das contas externas de um país
através da estrutura do Balanço de Pagamentos, é necessário dedicar mais atenção aos
determinantes de algumas das principais relações econômicas internacionais. Nas
seções seguintes desse capítulo, analisam-se em detalhes as relações comerciais e
financeiras.

Economia Aplicada
76

4. Pequeno Glossário de Termos


Econômicos

Arbitragem: Quando os agentes econômicos detectam diferenciais de preços de um determinado ativo


entre dois mercados e identificam a possibilidade de simplesmente comprar barato e vender caro diz-se
que este agente detectou uma possibilidade de arbitragem. Um exemplo hipotético típico seria a compra
de ações de uma mesma empresa no mercado do Rio de Janeiro por um preço inferior para a venda em
S.Paulo a um preço superior. Como os agentes estão sempre atentos às possibilidades de ganhos de
arbitragem, os preços tendem a se igualar entre os mercados.

Auge: Fase do ciclo de negócios que marca a passagem da etapa de expansão para a de contração.

Balança Comercial: Relação entre os valores de todas as exportações e importações de bens de um país
em uma determinada unidade de tempo. O resultado da balança comercial também é chamado de saldo
comercial. Resultados negativos (maiores importações que exportações) são chamados de déficits
comerciais; resultados positivos (maiores exportações que importações) são chamados de superávits
comerciais. Ao longo da década de 80, o Brasil obteve saldos comerciais positivos muito elevados, os
quais atingiram US$ 19 bilhões em 1988. Tais superávits são muitas vezes chamados de ―os mega-
superávits comerciais dos anos 80‖.

Balanço de Pagamentos: Esquema contábil que apresenta as relações comerciais e financeiras mantidas
por um determinado país com o resto do mundo. As duas principais contas do balanço de pagamentos são
a conta de transações correntes (exportações e importações de bens e serviços e transferências unilaterais)
e a conta de capital. Esta última apresenta os fluxos de capitais entre o país e o exterior, tais como entrada
e saída de investimentos diretos, empréstimos, financiamentos, etc.

Base Monetária: Soma de toda a moeda física em circulação em um país. Corresponde ao total das
reservas bancárias mais a moeda retida pelo público (não-bancário), também chamada de ―moeda
manual‖.

Bem de Capital: Bem utilizado em processo produtivos mas que não é incorporado ao produto destes
mesmos processos. Exemplo: máquinas, instalações fabris, tesoura de cortar cabelo, etc.

Bem de Consumo: Bem destinado a satisfazer diretamente uma necessidade ou um desejo dos
consumidores. Os bens de consumo imediato (ou não-duráveis) têm pouca duração (física), como os
alimentos. Uma seção de cinema pode ser considerada como um serviço de consumo imediato. Os bens
de consumo duráveis são úteis por um tempo mais prolongado, como é o caso dos eletrodomésticos e
automóveis.

Bem Final: Todo bem que não é incorporado ao processo produtivo na forma de matérias primas
(algodão na tecelagem, minério na metalurgia) ou insumos (energia elétrica), destinando-se ou ao
consumo (bens de consumo) ou ao investimento (bens de capital).

Bem Inferior: Quando a renda dos consumidores se eleva e a demanda por um determinado bem se eleva
menos que proporcionalmente ou diminui, diz-se que este é um bem inferior.

Economia Aplicada
77

Bem Intermediário: Bem que se destina à incorporação em processos produtivos de outros bens
(matérias-primas e insumos). Uma categoria importante de bens intermediários são os chamados semi-
elaborados: ferro gusa, utilizado como matéria-prima da metalurgia, vidro, utilizado na construção civil e
na automobilística, farelo de soja, utilizado na engorda de gado, café torrado, utilizado na moagem, etc.

Bem normal: Quando a renda dos consumidores se eleva e a demanda por um determinado bem se eleva
na mesma proporção, diz que este é um bem normal.

Bem público: É um tipo de bem cujo consumo pode se dar por mais de uma pessoa ao mesmo tempo e
que, uma vez produzido, não pode ser negado a quem o queira consumir. Exemplos: logradouros
públicos, espetáculos realizados em locais públicos, etc.

Bem superior: Quando a renda dos consumidores se eleva e a demanda por um determinado bem se
eleva mais que proporcionalmente, diz que este é um bem superior.

Bens complementares: Quando a satisfação ou a utilidade do uso ou consumo de um bem pode ser
ampliada pelo uso ou consumo de outro bem, diz-se que são bens complementares. Exemplo: vinagre e
azeite, tintas e solventes, cimento e cal, capital e trabalho, etc.
Bens substitutos: Quando dois bens são rivais no consumo, isto é, possuem características ou finalidades
semelhantes, diz-se que são bens substitutos. Exemplo: carne bovina e frango; manteiga e margarina,
refrigerante e suco de frutas. A substituição é sempre relativa; consumidores que não aceitam, por
exemplo, trocar manteiga por margarina não assumem que estes bens sejam substitutos.

Câmbio (taxa de câmbio): Preço de uma unidade de moeda estrangeira em moeda nacional. Quando se
diz que a taxa de câmbio entre o real e o dólar norte-americano é de 1,20, estamos dizendo que o preço de
1 dólar é de R$ 1,20. Este é o conceito de taxa de câmbio bilateral nominal, pois considera a relação entre
duas moedas e não inclui a inflação em nenhum dos dois países. O conceito que considera ambas as taxas
de inflação é o de taxa de câmbio bilateral real. Se calcularmos uma média ponderada das taxas de
câmbio reais de um país, atribuindo a cada taxa de câmbio bilateral real um peso proporcional à
importância de cada parceiro comercial nas exportações desse país, estaremos calculando o conceito de
taxa de câmbio efetiva real.

Choques: Impactos bruscos sofridos por algum mercado. São exemplos uma elevação abrupta de preços
de determinado bem (choque de preços), causado por uma decisão dos produtores que atuam em forma de
cartel ou por problemas com os processos produtivos (como quebras de safras, por exemplo), bem como
uma queda abrupta nas transações financeiras (choque financeiro), motivada por quebras de instituições
financeiras ou alterações de política econômica. Quando originados no exterior, estes choques são
chamados de ―choques externos‖.

Ciclo de negócios: Também chamado de ciclo econômico, ciclo conjuntural e ciclo de curto prazo. É a
alternância de períodos de expansão, contração, recessão e recuperação da atividade econômica.

Consumo: Gasto realizado em bens e serviços que se destinam à satisfação de desejos ou necessidades de
caráter relativamente imediato, e que não são utilizados na produção de outros bens e serviços. O
consumo privado é aquele realizado pelas famílias. O consumo público é realizado pelas várias esferas de
governo e envolve o pagamento de salários e demais despesas de custeio (energia elétrica, aluguéis,
pagamento de empresas prestadoras de serviços, compra de material de escritório, etc.).

Contração: Período que sucede à expansão no ciclo de negócios e no qual o PIB, muito embora esteja
acima de sua tendência, tende a aproximar-se dela.

Crescimento Econômico: Ampliação da capacidade de geração de bens e serviços. O indicador mais


usual de crescimento econômico é o comportamento do PIB ao longo do tempo.

Custo de Oportunidade: As decisões econômicas envolvem sempre a escolha de uma entre diversas
alternativas. Quando um agente compra um determinado bem ou serviço, ele estará sempre deixando de
comprar uma infinidade de outros bens e serviços que poderiam ter sido escolhidos como alternativa. Em
geral, o custo de oportunidade é mensurado pelo valor ou pela satisfação da qual abrimos mão ao decidir
tomar uma certa atitude econômica. Por exemplo, quando poupamos, devemos mensurar o custo de
oportunidade deste ato pelos bens ou serviços que deixaremos de consumir. Ainda assim, ao decidirmos

Economia Aplicada
78

por determinada aplicação que nos proporciona certo rendimento, o custo de oportunidade também pode
ser avaliado pelo rendimento que deixaremos de ganhar na melhor dentre as aplicações não realizadas.

Deflação Processo de queda continuada do nível de preços, isto é, processo oposto ao de inflação.

Depreciação: Processo de desgaste do capital pelo uso. Também ocorre depreciação quando o capital se
torna tecnologicamente obsoleto. A reposição do capital desgastado ou ultrapassado é o chamado
investimento de reposição.

Desemprego: Considera-se desempregado o trabalhador que deseja trabalhar às taxas de salário vigentes
e não encontra emprego.

Desemprego Voluntário: Considera-se voluntariamente desempregado aquele que, em geral, não aceita
ofertas de emprego devido às condições oferecidas, por exemplo, salários excessivamente baixos.

Desenvolvimento Econômico: Conceito mais abrangente que o de crescimento econômico. Ocorre


desenvolvimento quando se observa uma melhora na qualidade de vida média da população, com uma
redução dos níveis de disparidade entre os mais pobres e os mais ricos. O desenvolvimento econômico
em geral ocorre conjuntamente com um processo de crescimento, mas o crescimento por si só não garante
o desenvolvimento.

Depressão: Processo de queda continuada do nível de preços e do PIB.


Desindexação: Ver indexação.

Desinflação: Processo de redução paulatina dos índices de inflação, tal como ocorreu no Brasil, por
exemplo, entre 1994 e 1998.

Dívida Externa: Valor dos títulos do governo e privados em mãos de pessoas físicas ou jurídicas que
estão fora das fronteiras nacionais.

Dívida Interna: Valor dos títulos do governo em mão do público dentro das fronteiras nacionais.

Dívida Pública (endividamento público): Valor dos títulos do governo em mãos do público interno e
estrangeiro. Os diferentes critérios de dívida pública (ou endividamento público) decorrem de diferentes
definições de ―governo‖. Assim, podemos analisar apenas a dívida do governo federal, das três esferas de
governo, das três esferas de governo mais o Banco Central e assim por diante.

Divisas Estrangeiras: Moedas estrangeiras negociadas amplamente no mercado internacional e


utilizadas nas relações econômicas internacionais. As principais divisas internacionais são hoje o dólar
norte-americano, o euro, a libra esterlina e o iene.

Economias de Escala: Ocorrem economias de escala quando os custos médios de produção se reduzem
quando a produção aumenta.

Equilíbrio: Em economia, uma situação é considerada de equilíbrio quando não há motivos econômicos
que estejam pressionando no sentido de qualquer mudança.

Equilíbrio de Mercado: Situação em que, em determinado mercado, todos os ofertantes e todos os


demandantes atingem seus objetivos (de compra e venda, respectivamente) aos preços vigentes.

Equilíbrio Macroeconômico: Corresponde ao equilíbrio no macromercado de bens e serviços.


Significa que não existe excesso nem de oferta agregada nem de demanda agregada, o que se traduz na
ausência de pressões inflacionárias.

Estabilização, Programa de Estabilização, Processo de Estabilização: Uma das principais metas da


condução da política econômica é gerar a estabilidade das principais variáveis macroeconômicas. Sempre
que tal estabilidade deixa de existir inicia-se a discussão sobre as medidas (ou o programa) necessárias
para a recuperação da estabilidade. Tais medidas podem visar estabilizar o PIB, impedindo flutuações
excessivas, o nível de preços, reduzindo a inflação (programas de combate à inflação), a taxa de câmbio,
etc. Os programas de estabilização mais comuns referem-se ao combate à alta de preços (instabilidade do

Economia Aplicada
79

nível de preços) e, por conta disso, muitas vezes os planos de combate à inflação são chamados
simplesmente de programas de estabilização. Durante o período em que tais programas estão sendo
operacionalizados, costuma-se dizer que o país atravessa um processo de estabilização.

Estagflação: Ocorrência simultânea de recessão e inflação elevada.

Expansão Fase do ciclo de negócios na qual o PIB supera crescentemente sua tendência.

Flutuação “Suja”: Nome muitas vezes dado ao regime de câmbio administrado com pisos e tetos
informais. Nesse regime cambial o governo (em geral através do Banco Central) intervém no mercado de
moeda estrangeira de forma a impedir uma flutuação excessiva das taxas de câmbio. Em geral, neste tipo
de regime, o governo permite uma flutuação livre dentro de determinado intervalo, intervindo em seus
limites máximo e mínimo ou em momentos de grande variação das taxas.

Fundo do Poço: Fase do ciclo de negócios que marca a passagem da recessão para a recuperação.

Hiperinflação: Manifestação mais intensa do processo inflacionário. Ocorre hiperinflação quando os


agentes passam tentar se desfazer instantaneamente da moeda nacional, trocando-a por outros ativos
considerados como uma reserva de valor mais segura (ouro, títulos, bens duráveis, etc.). Durante a
hiperinfação dos anos 20, na Alemanha, uma pessoa foi assaltada enquanto carregava um carrinho de mão
cheio de notas para fazer compras numa mercearia. Para poder fugir com mais rapidez, o assaltante jogou
fora imediatamente o carregamento de dinheiro, optando por ficar com o carrinho...

Ilusão Monetária: Muitas vezes os agentes se iludem com a elevação absoluta de alguns preços. Por
exemplo: se o preço da margarina subisse 10%, poderíamos imaginar que o consumo de margarina
deveria cair. Se as pessoas se utilizassem apenas dessa informação, concluiriam que a margarina ficou
mais cara; e de fato foi isso que ocorreu em termos nominais. No entanto, suponha que, ao mesmo tempo
em que a margarina ficou mais cara em 10%, todos os outros preços e também o salário subiram 20%.
Neste caso, em relação à manteiga, por exemplo, a margarina ficou mais barata. Ao mesmo tempo, o
consumo de margarina representará uma parcela menor do gasto dos assalariados. Da mesma forma, se
uma aplicação financeira render 10% em termos nominais (isto é, sem descontar a inflação), poderemos
acreditar que foi um ganho expressivo. Mas, se os preços em geral subiram 20%, então teremos tido uma
perda real. Os agentes que se guiam, mesmo que momentaneamente, seguindo apenas as variações
nominais de preços têm a chamada ilusão monetária.

Indexação: Utilização de um índice de preços como forma de corrigir o valor de compromisso financeiro
(ou mesmo do preço de um bem específico), repondo as perdas reais decorrentes da inflação. A
desindexação consiste na tentativa de eliminar a prática da indexação, a qual tende a perpetuar a inflação,
pois apenas porque os preços subiram no passado, acabam por se elevar novamente se estiverem
indexados.

Inércia Inflacionária: Quando os preços em geral são reajustados de acordo com a inflação passada, o
simples fato de ter havido inflação no passado faz com que haja inflação no presente e o fato de haver
inflação no presente levará à ocorrência de inflação no futuro. Quando este processo se torna
generalilzado, dizemos que ocorre inflação inercial ou inércia inflacionária.

Inflação: Processo de elevação do nível geral de preços. Chama-se de inflação de custos a alta dos preços
causada por elevação dos custos das empresas (por exemplo, devido ao choque dos preços do petróleo,
como ocorreu nos anos 70, ou devido a uma alta de juros). Chama-se inflação de demanda a alta de
preços que é provocada por um aumento excessivo na procura, o qual leva os produtores a elevarem seus
preços, ainda que aumentem, simultaneamente, a produção.

Insumos: Bens e serviços utilizados direta ou indiretamente na produção de outros bens e serviços e que
estão univocamente associados a esses bens e serviços. Os insumos diretos correspondem em geral às
matérias-primas empregadas diretamente na produção. Os insumos indiretos correspondem em geral ao
transporte e à energia não-diretamente empregada na produção. Em resumo, insumo é tudo aquilo que
insome no processo produtivo.

Investimento: Em economia, investimento não é sinônimo de aplicação financeira. O investimento


consiste na ampliação da capacidade de produção de bens e serviços de um país. O investimento pode ser

Economia Aplicada
80

físico (máquinas, instalações, infra-estrutura, etc.) ou humano (treinamento de mão-de-obra, educação,


etc.). Parte do investimento destina-se simplesmente a repor o capital depreciado (inutilizado pelo
desgaste natural ou devido à obsolescência tecnológica); este é o chamado investimento de reposição (no
caso do desgaste natural) ou de modernização (no caso de atualização tecnológica). Toda a parcela do
investimento que supera a depreciação (o chamado investimento líquido) permite a expansão do estoque
total de capital em uma economia.

Lastro: Na atualidade, termo essencialmente náutico. No passado, correspondia ao valor em ouro ou


prata depositado nos bancos e que servia como garantia do valor do papel moeda. Desde o início dos anos
70, o papel moeda deixou de ser lastreado e tornou-se apenas uma convenção. O papel moeda é aceito por
cada pessoa enquanto for aceito pelas demais.

Liquidez: Capacidade de transforma um determinado ativo em moeda, minimizando as perdas. Pode-se


dizer que um automóvel tem mais liquidez do que um torno mecânico, uma vez que existe um mercado
desenvolvido para automóveis usados, permitindo ―transformá-lo‖ em dinheiro com certa rapidez, ainda
que com alguma perda; no caso do torno usado, seria necessário oferecer um preço muito atraente para
convencer um comprador a adquiri-lo. Por sua vez, o dólar possui uma liquidez mais elevada que os
carros usados, uma vez que é muito mais fácil vender dólares (―transformá-los‖ em dinheiro) com um
mínimo de perda.

Mefistofélico: [Do antropônimo Mefistófeles + -ico2.] Adj. 1. Relativo a, ou próprio de Mefistófeles,


demônio intelectual das lendas germânicas, e personagem do Fausto, drama de Goethe (v. goethiano). 2.
Pérfido, maldoso, sarcástico: Tem um ar mefistofélico. 3. Diabólico, infernal. Fonte: Dicionário Aurélio.

Meta(s) de Inflação: Níveis máximos e mínimos para a alta de preços tolerados por certos Bancos
Centrais. Ao divulgar suas metas de inflação, esses Bancos Centrais sinalizam a intenção de elevar os
juros caso a inflação exceda as metas e deixam claro que poderão baixar os juros quando a inflação
estiver convergindo para as metas.

Monetarismo: Escola de pensamento em Economia que vincula as flutuações das principais variáveis
macroeconômicas às oscilações na oferta monetária. Além disso, segundo os monetaristas, a inflação será
sempre causada por um aumento prévio e excessivo da quantidade de moeda em circulação (ver também
Teoria Quantitativa da Moeda). A abordagem monetarista foi superada por outras escolas de pensamento
(igualmente conservadoras) e hoje é uma corrente teórica em extinção.

Multiplicador monetário (ou multiplicador da Base Monetária): Fator que expressa a relação entre a
Base Monetária e os Meios de Pagamentos. Indica quantas vezes os Meios de Pagamentos são maiores
que a Base Monetária. Sintetiza o poder de "alavancagem" do sistema bancário, originado no fato de que
os depósitos bancários podem ser emprestados (parcialmente), gerando novos depósitos e assim por
diante. O multiplicador monetário é afetado pelos percentuais de depósitos compulsórios (de forma
inversamente proporcional) e pelas preferências do público entre utilizar papel moeda ou depósitos
bancários (quanto maior o uso dos depósitos, maior o multiplicador). Matematicamente é representado
por m = md + 1 / md + rd, onde md é a fração papel moeda / depósitos (expressando as preferências do
público) e rd é a fração reservas / depósitos (afetada pelos compulsórios). (Veja também o verbete
depósitos compulsórios.)

Nível Geral de Preços: Indicador que procura refletir o preço médio de todos os bens e serviços
transacionados em uma economia. Dada a impossibilidade de se saber exatamente qual este preço médio,
os institutos de pesquisa econômica calculam, por amostragem, índices de preço que procuram refletir as
alterações no nível geral de preços. A Fundação Getúlio Vargas, por exemplo, divulga o IGP - Índice
Geral de Preços, considerado um bom indicativo dos preços médios na economia brasileira. Toda vez que
o nível geral de preços se eleva, o aumento médio dos preços é captado pelo IGP. A variação percentual
deste índice é a chamada inflação captada pelo IGP.

Poupança Parcela da renda não consumida.

Poupança Externa: A poupança externa absorvida por um país corresponde ao déficit em transações
correntes, isto é, o déficit nas balanças de bens e de serviços não-fatores, somado à Renda Líquida
Enviada ao exterior (RLE). A prova é simples. Suponha que só existem dois países: A e B. Para

Economia Aplicada
81

simplificar, vamos ignorar o setor governamental em ambos. Assim, as exportações do país A são iguais
às importações do país B e a RLE de A é igual a (-) RLE de B. Para A, teríamos as seguintes relações:
PIBA =CA+IA+XA-MA
PIBA=CA+SA+RLEEA
→ CA+IA+XA-MA = CA+SA+RLEEA → IA = SA+ (MA+RLEEA -XA)
A expressão acima mostra como o investimento de A é financiado: parte com a poupança do próprio país
(SA), parte com déficit externo (MA+RLEEA -XA). Por analogia, podemos concluir que o mesmo ocorre
em B, isto é:
→ IB = SB+ (MB+RLEEB -XB)
Rearranjando os termos da expressão acima, e lembrando que X A=MB, MA=XB e que RLEEA=(-)RLEEB,
temos:
→ SB = IB + (MA +RLEEA - XA)
O que prova que o investimento em A é financiado com parte da poupança de B, equivalente ao déficit
externo de A, isto é, (MA+RLEEA - XA).

Proxy: Palavra inglesa. É utilizada em Economia quando não é possível identificar na prática algum
conceito teórico. O Índice Geral de Preços, por exemplo, é utilizado como proxy do Nível Geral de
Preços, dada a impossibilidade de se acompanhar com certeza a média de todos os preços de bens e
serviços.

Recessão: Fase do ciclo de negócios onde o PIB se encontra abaixo de sua tendência e se distancia
crescentemente dela.

Recuperação: Fase do ciclo de negócios na qual o PIB, muito embora encontre-se abaixo de sua
tendência, aproxima-se continuamente dela.

Saldo Comercial: veja Balança Comercial.

Senhoriagem, Senhoragem ou seignorage: Lucro obtido pelo governo ao emitir moeda. Tem este nome
devido ao fato de que os senhores feudais muitas vezes promoviam o recolhimento de moedas de ouro e
prata e as refundiam, emitindo um número maior de moedas, cada qual com um conteúdo menor de metal
precioso. Logo que o público notava a redução do valor em ouro das moedas emitidas, passava a exigir
maior número delas por suas mercadorias, gerando inflação. Como o senhor era o primeiro a se utilizar
das ―novas moedas‖, obtinha lucro na transação.

SELIC: Sistema Especial de Liquidação e Custódia de Títulos Públicos Federais. Sistema baseado em
Tecnologia da Informação através do qual o Banco Central administra um computador de grande porte
em rede com instituições financeiras que operam na compra e venda direta de títulos públicos federais
brasileiros. Graças a esse sistema, os títulos públicos no Brasil não têm existência física: são meros
lançamentos na rede administrada pelo BACEN. Ao fixar a taxa de juros Selic, o Banco Central anuncia
que taxa de juros equivalente anual pretende aceitar nas operações com títulos federais.

Tarifa: Em geral, chamamos de tarifa duas coisas bastante distintas: o imposto aplicado sobre os bens
importados e o preço cobrado pelos serviços públicos. Assim, toda vez que ouvimos falar de ―barreiras
tarifárias à importações‖, sabemos que se trata de medidas que visam dificultar a compra de produtos
estrangeiros através da imposição de tributos para sua aquisição. Já as barreiras não tarifárias referem-se a
proibições puras e simples de se importar
determinados bens. Por outro lado, quando ouvimos falar de ―reajuste de tarifas públicas‖, sabemos que
se trata de aumento nos preços cobrados na prestação de serviços de utilidade pública. Com a
privatização, estas tarifas tendem a se tornar cada vez mais privadas, ainda que sejam controladas pelos
órgãos reguladores.

Taxa de Câmbio: Preço em moeda nacional de uma moeda estrangeira ou de uma cesta de moedas
estrangeiras.

Taxa de Juros: Percentual pago a cada período de tempo pela utilização de dinheiro de terceiros.

Teoria Quantitativa da Moeda: Esta teoria defende a idéia de que existe uma relação direta e
proporcional entre o volume de moeda em circulação e o nível de preços. Como conseqüência, quanto
mais moeda, maior o nível de preços e, portanto, o aumento do volume de moeda em circulação causa

Economia Aplicada
82

inflação. Expressando sua crença nesta teoria, os monetaristas afirmam que ―a inflação é, sempre e em
toda parte, um fenômeno monetário‖.

Termos de Troca ou Termos de Intercâmbio: Relação entre os preços dos bens exportados e dos bens
importados por determinado país. Se os produtos exportados estão subindo de preço mais do que os
importados, dizemos que está havendo um melhora dos termos de troca.
Quando os preços dos importados sobem mais do que os dos exportados, dizemos que há uma piora dos
termos de troca.

Valor Adicionado ou Valor Agregado: Diferença entre o valor da produção (faturamento) de uma firma
ou conjunto de firmas e os custos incorridos na forma de pagamentos a outras firmas. Corresponde à
soma dos pagamentos brutos feitos a trabalhadores e empresários (incluindo impostos indiretos embutidos
no faturamento bruto e que serão repassados ao governo posteriormente).

Valor de Face: Suponhamos que um agente emita uma nota promissória no valor de R$ 1.000. Ela trará
estampado este valor em sua face. Isto significa que o devedor promete pagar ao portador da nota aquela
quantia na data de vencimento do título. Não importa quanto o devedor recebeu em dinheiro na data em
que emitiu a nota, seu valor de face será R$ 1.000. O portador deste título poderá até negociá-lo no
mercado secundário, ―passando para frente‖ esta nota por, digamos R$ 800. Aconteça o que acontecer
com a nota, seu valor de face não se altera, pois refere-se à ―promessa‖ feita inicialmente de que, na data
de seu vencimento, ela será resgatada por R$ 1.000. Em princípio, o termo valor de face pode aplicar-se a
qualquer título de crédito, desde que seu valor de resgate seja pré-fixado, isto é, combinado a priori.

Economia Aplicada
83

5. Textos de Apoio

1- Paraninfo - ÚLTIMA AULA (Economia)


Weber Figueiredo fala sobre a construção do Brasil.
Fonte: Revista Consultor Jurídico, 29 de agosto de 2003.

O professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Weber Figueiredo, deu uma


última aula para seus ex-alunos. Diante de uma platéia de formandos, acompanhados de seus
pais, o professor paraninfo da turma discursou sobre o Brasil.

A aula dada no dia 13 de agosto, no auditório da Uerj, está sendo repassada pela Internet
para engenheiros e estudantes por causa de sua qualidade. Leia o que disse Weber Figueiredo:

"Ilustríssimos colegas da mesa, senhor presidente, meus queridos alunos, senhoras e


senhores, para mim é um privilégio ter sido escolhido paraninfo desta turma. Esta é como se
fora a última aula do curso. O último encontro, que já deixa saudades. Um momento festivo,
mas também de reflexão. Se eu fosse escolhido paraninfo de uma turma de direito, talvez eu
falasse da importância do advogado que defende a justiça e não apenas o réu. Se eu fosse
escolhido paraninfo de uma turma de medicina, talvez eu falasse da importância do médico que
coloca o amor ao próximo acima dos seus lucros profissionais. Mas, como sou paraninfo de uma
turma de engenheiros, vou falar da importância do engenheiro para o desenvolvimento do
Brasil.

Para começar, vamos falar de bananas e do doce de banana, que eu vou chamar de
bananada especial, inventada (ou projetada) pela nossa vovozinha lá em casa, depois que várias
receitas prontas não deram certo. É isso mesmo. Para entendermos a importância do engenheiro
vamos falar de bananas, bananadas e vovó. A banana é um recurso natural, que não sofreu
nenhuma transformação. A bananada é = a banana + outros ingredientes + a energia térmica
fornecida pelo fogão + o trabalho da vovó e + o conhecimento, ou tecnologia da vovó. A
bananada é um produto pronto, que eu vou chamar de riqueza. E a vovó? Bem a vovó é a dona
do conhecimento, uma espécie de engenheira da culinária. Agora, vamos supor que a banana e a
bananada sejam vendidas. Um quilo de banana custa um real. Já um quilo da bananada custa
cinco reais. Por que essa diferença de preços? Porque quando nós colhemos um cacho de
bananas na bananeira, criamos apenas um emprego: o de colhedor de bananas. Agora, quando a
vovó, ou a indústria, faz a bananada, ela cria empregos na indústria do açúcar, da cana-de-
açúcar, do gás de cozinha, na indústria de fogões, de panelas, de colheres e até na de
embalagens, porque tudo isto é necessário para se fabricar a bananada. Resumindo, 1kg de
bananada é mais caro do que 1kg de banana porque a bananada é igual banana mais tecnologia
agregada, e a sua fabricação criaram mais empregos do que simplesmente colher o cacho de
bananas da bananeira.

Economia Aplicada
84

Agora vamos falar de outro exemplo que acontece no dia-a-dia no comércio mundial de
mercadorias. Em média: 1kg de soja custa US$0,10 (dez centavos de dólar), 1kg de automóvel
custa US$ 10, isto é, 100 vezes mais, 1kg de aparelho eletrônico custa US$ 100, 1kg de avião
custa US$1.000 (10 mil quilos de soja) e 1kg de satélite custa US$ 50.000. Vejam, quanto mais
tecnologia agregada tem um produto, maior é o seu preço, mais empregos foram gerados na sua
fabricação. Os países ricos sabem disso muito bem. Eles investem na pesquisa científica e
tecnológica. Por exemplo: eles nos vendem uma placa de computador que pesa 100g por US$
250. Para pagarmos esta plaquinha eletrônica, o Brasil precisa exportar 20 toneladas de minério
de ferro. A fabricação de placas de computador criou milhares de bons empregos lá no
estrangeiro, enquanto que a extração do minério de ferro, cria pouquíssimos e péssimos
empregos aqui no Brasil. O Japão é pobre em recursos naturais, mas é um país rico. O Brasil é
rico em energia e recursos naturais, mas é um país pobre. Os países ricos são ricos
materialmente porque eles produzem riquezas. Riqueza vem de rico. Pobreza vem de pobre.
País pobre é aquele que não consegue produzir riquezas para o seu povo. Se conseguisse, não
seria pobre, seria país rico.

Gostaria de deixar bem claro três coisas: 1º) quando me refiro à palavra riqueza, não
estou me referindo a jóias nem a supérfluos. Estou me referindo àqueles bens necessários para
que o ser humano viva com um mínimo de dignidade e conforto; 2º) não estou defendendo o
consumismo materialista como uma forma de vida, muito pelo contrário; e 3º) acho abominável
aqueles que colocam os valores das riquezas materiais acima dos valores da riqueza interior do
ser humano. Existem nações que são ricas, mas que agem de forma extremamente pobre e
desumana em relação a outros povos. Creio que agora posso falar do ponto principal. Para que o
nosso Brasil torne-se um País rico, com o seu povo vivendo com dignidade, temos que produzir
mais riquezas. Para tal, precisamos de conhecimento, ou tecnologia, já que temos abundância de
recursos naturais e energia. E quem desenvolve tecnologias são os cientistas e os engenheiros,
como estes jovens que estão se formando hoje. Infelizmente, o Brasil é muito dependente da
tecnologia externa.

Quando fabricamos bens com alta tecnologia, fazemos apenas a parte final a produção.
Por exemplo: o Brasil produz 5 milhões de televisores por ano e nenhum brasileiro projeta
televisor. O miolo da TV, do telefone celular e de todos os aparelhos eletrônicos, é todo
importado. Somos meros montadores de kits eletrônicos. Casos semelhantes também acontecem
na indústria mecânica, de remédios e, incrível, até na de alimentos. O Brasil entra com a mão-
de-obra barata e os recursos naturais. Os projetos, a tecnologia, o chamado pulo do gato, ficam
no estrangeiro, com os verdadeiros donos do negócio. Resta ao Brasil lidar com as chamadas
caixas pretas. É importante compreendermos que os donos dos projetos tecnológicos são os
donos das decisões econômicas, são os donos do dinheiro, são os donos das riquezas do mundo.
Assim como as águas dos rios correm para o mar, as riquezas do mundo correm em direção aos
países detentores das tecnologias avançadas. A dependência científica e tecnológica acarretou
para nós brasileiros a dependência econômica, política e cultural. Não podemos admitir a
continuação da situação esdrúxula, onde 70% do PIB brasileiro é controlado por não residentes.
Ninguém pode progredir entregando o seu talão de cheques e a chave de sua casa para o vizinho
fazer o que bem entender.

Eu tenho a convicção que desenvolvimento científico e tecnológico aqui no Brasil


garantirá aos brasileiros a soberania das decisões econômicas, políticas e culturais. Garantirá
trocas mais justas no comércio exterior. Garantirá a criação de mais e melhores empregos. E, se
toda a produção de riquezas for bem distribuída, teremos a erradicação dos graves problemas
sociais.

O curso de engenharia da UERJ, com todas as suas possíveis deficiências, visa a formar
engenheiros capazes de desenvolver tecnologias. É o chamado engenheiro de concepção, ou
engenheiro de projetos. Infelizmente, o mercado desnacionalizado nem sempre aproveita todo

Economia Aplicada
85

este potencial científico dos nossos engenheiros. Nós, professores, não podemos nos curvar às
deformações do mercado.

Temos que continuar formando engenheiros com conhecimentos iguais aos melhores do
mundo. Eu posso garantir a todos os presentes, principalmente aos pais, que qualquer um destes
formandos é tão ou mais inteligente do que qualquer engenheiro americano, japonês ou alemão.
Os meus trinta anos de magistério, lecionando desde o antigo ginásio até a universidade, me
dão autoridade para afirmar que o brasileiro não é inferior a ninguém, pelo contrário, dizem até
que somos muito mais criativos do que os habitantes do chamado primeiro mundo.

O que me revolta, como professor cidadão, é ver que as decisões políticas tomadas por
pessoas despreparadas ou corruptas são responsáveis pela queima e destruição de inteligências
brasileiras que poderiam, com o conhecimento apropriado, transformar o nosso Brasil num país
florescente, próspero e socialmente justo.

Acredito que o mundo ideal seja aquele totalmente globalizado, mas uma globalização
que inclua a democratização das decisões e a distribuição justa do trabalho e das riquezas.
Infelizmente, isto ainda está longe de acontecer, até por limitações físicas da própria natureza.
Assim, quem pensa que a solução para os nossos problemas virá lá de fora, está muito
enganado. O dia que um presidente da República, ao invés de ficar passeando como um dândi
pelos palácios do primeiro mundo, resolver liderar um autêntico projeto de desenvolvimento
nacional, certamente o Brasil vai precisar, em todas as áreas, de pessoas bem preparadas. Só
assim seremos capazes de caminhar com autonomia e tomar decisões que beneficiem
verdadeiramente a sociedade brasileira. Será a construção de um Brasil realmente moderno,
mais justo, inserido de forma soberana na economia mundial e não como um reles fornecedor de
recursos naturais e mão-de-obra aviltada.

Quando isto ocorrer, e eu espero que seja em breve, o nosso País poderá aproveitar de
forma muito mais eficaz a inteligência e o preparo intelectual dos brasileiros e, em particular, de
todos vocês, meus queridos alunos, porque vocês já foram testados e aprovados. Finalmente,
gostaria de parabenizar a todos os pais pela contribuição positiva que deram à nossa sociedade
possibilitando a formação dos seus filhos no curso de engenharia da UERJ. A alegria dos
senhores, também é a nossa alegria.

Muito obrigado."

2- China supera Estados Unidos e torna-se maior parceiro


comercial do Brasil

04/05/2009 - 23h00 - Stênio Ribeiro Da Agência Brasil – Em Brasília


Fonte: economia.uol.com.br

O mês de abril marcou uma mudança histórica nas relações comerciais do Brasil. Pela
primeira vez, a China se consolidou como maior parceiro comercial do país. Neste ano, os
chineses foram responsáveis pelo volume mais alto de comércio (soma de exportações e
importações) com os brasileiros. O Brasil manteve os Estados Unidos como principal parceiro a
partir de 1930, quando os norte-americanos desbancaram a Inglaterra do pódio do comércio
mundial.

Economia Aplicada
86

"Não quer dizer que isso vá se estabilizar a médio prazo dessa forma, e esperamos que os
Estados Unidos se recuperem a partir de 2010, disse o secretário de Comércio Exterior do
Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral.

Ele lembrou que as vendas brasileiras caíram, em média, 30% para os EUA, Europa, e
América Latina. Mantiveram-se estáveis para o Oriente Médio e África. Mas cresceram 28,2%
para a Ásia, com a China sendo responsável por dois terços das compras asiáticas de produtos
do Brasil.

A China importou US$ 5,627 bilhões em produtos brasileiros no primeiro quadrimestre


deste ano, com expansão de 64,7% comparado a igual período de 2008. Já os EUA compraram
US$ 4,925 bilhões e caíram 35,3% na mesma base de comparação.

De janeiro a abril, o Brasil ainda comprou mais dos EUA (US$ 6,841 bilhões) que da
China (US$ 4,616 bilhões), mas a corrente de comércio (exportações mais importações) é
favorável ao país asiático em US$ 1,523 bilhão.

O secretário ressaltou que "a Ásia como um todo passa a ser o centro dinâmico ao qual os
exportadores brasileiros terão que dar crescente atenção". É uma tendência que vinha se
verificando mesmo antes da crise internacional, com importações crescentes também de
Taiwan, Coreia do Sul, Indonésia e Índia, dentre outros.

Em abril, a balança comercial brasileira teve boa recuperação e manteve a tendência de


menor queda nas exportações que nas importações. As vendas nacionais recuaram 8% em
relação a abril do ano passado, mas cresceram 14,8% na comparação com o mês anterior, ao
passo que as importações se retraíram 26,6% ante abril de 2008 e caíram 5,6% em relação a
março.

O saldo comercial (exportações menos importações), no valor de US$ 3,712 bilhões,


aumentou 109,5% na comparação com os US$ 1,772 bilhão de superávit em março,
constituindo-se no melhor saldo mensal desde maio do ano passado. Com isso, o saldo
acumulado no ano saltou para US$ 6,772 bilhões, com aumento de 49,4% sobre o saldo do
mesmo período de 2008.

Segundo Barral, as exportações continuam menores que no período anterior à crise


financeira, iniciada em setembro do ano passado, "mas mostram tendência de recuperação
enquanto no caso das importações a tendência é de queda".

Ele afirmou que os preços internacionais se retraíram um pouco, depois da crise


financeira internacional, mas salientou que o Brasil está compensando isso com a exportação de
maiores volumes, principalmente de produtos agrícolas, com a safra iniciada em março.

Na relação abril/março o Brasil exportou mais açúcar (10,2%), café em grão (10,8%),
couro (19,3%), carne bovina (14%), carne de frango (21,5%), carne suína (18%), petróleo
(42,5%), automóveis (23,8%), autopeças (18,4%), minério de ferro (16,6%), celulose (55,3%),
produtos químicos (22,9%), semimanufaturados de ferro e aço (53,1%), laminados planos
(25,6%), fio-máquina e barra de ferro/aço (15,2%) e alumínio em bruto (50,7%).

Em comparação com abril de 2008, os maiores aumentos foram de suco de laranja


(259,6%), óleos brutos de petróleo (229,6%), minério de ferro (115,7%), óxidos e hidróxidos de
alumínio (106,3%), açúcar em bruto (97%), celulose (68,6%) e farelo de soja (54,4%).

Houve queda, porém, nas vendas de óleos combustíveis (-75,1%), aparelhos


transmissores e/ou receptores (-39,9%), autopeças (-33,4%), pneumáticos (-31,7%), calçados e

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partes (-30,6%), etanol (-28,7%), automóveis (-22,9%), laminados planos (-21,7%), aviões (-
16,3%), couros e peles (-53,8%), ferro-ligas (-14,8%) e óleo de soja em bruto (-97,7%).

3- Cade aplica multa recorde de R$ 352 milhões a AmBev

22/07/2009 - 14h03- Lorenna Rodrigues, da Folha Online, em Brasília.


Fonte: www.folha.com.br

O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) condenou por unanimidade


nesta quarta-feira a AmBev a pagar multa de R$ 352,6 milhões por prejudicar a concorrência no
mercado de cerveja. A multa é a maior da história do conselho --até agora a maior multa havia
sido aplicada contra a Gerdau, de R$ 156 milhões por formação de cartel na venda de aço.

A AmBev foi condenada por exigir exclusividade dos seus produtos em pontos de venda
e inibir a venda de outras marcas. O Cade entendeu que isso prejudicou as outras marcas de
cerveja e o consumidor. O valor corresponde a 2% do faturamento bruto da empresa no ano de
2003, anterior à instauração do processo.

"Os consumidores são os mais prejudicados. Não terão eles nem a variedade nem os
preços desejados", afirmou o relator do processo, Fernando de Magalhães Furlan.

Furlan criticou ainda a AmBev dizendo que ela, como líder, tem responsabilidade sobre
atos que repercutem em todo o mercado. A empresa tem mais de 70% do mercado de cerveja e
produz, entre outras, Skol, Brahma e Antarctica.

"A representada sempre atuou no limite da legalidade", completou Furlan.

O conselho determinou ainda que a AmBev pare com os programas de fidelidade que
exigem exclusividade, sob pena de multa diária de R$ 53,2 mil.

Reportagem da Folha desta quarta-feira informa que a empresa só se livraria da


condenação se algum integrante do conselho pedisse vistas ao processo.

Processo
O processo contra a AmBev foi aberto em 2004 depois de denúncia da concorrente
Schincariol contra os programas de fidelização de pontos de vendas "Tô Contigo" e "Festeja". A
Schincariol acusava a Ambev de oferecer a bares, mercearias e supermercados acordos de
exclusividade, descontos e bonificações para que os pontos de venda comercializassem as
bebidas da empresa, prejudicando, assim, a venda das marcas concorrentes.

Segundo a Schincariol, os programas da AmBev reduziram a participação de mercado das


cervejas Nova Schin e Kaiser em 20% cada, elevando a participação da marcas da Ambev em
8,5%, tendo a Antarctica aumentado sua participação em 56,37%.

Segundo relatório da SDE (Secretaria de Direito Econômico), do Ministério da Justiça,


responsável pela instrução do processo, os programas de fidelização podem prejudicar a
concorrência, fechar mercados e elevar os custos das marcas rivais. A secretária diz que há
fortes indícios de que os programas prejudicam a concorrência, "dificultando o acesso de novas
cervejarias ao mercado e criando dificuldade ao funcionamento dos concorrentes já
estabelecidos por meio da exclusividade dos pontos de vendas".

Economia Aplicada
88

A SDE fez várias inspeções e até uma pesquisa elaborada pelo Ibope com pontos de
vendas para levantar irregularidades. Para o órgão, haveria a imposição de exclusividade aos
vendedores que entrassem no programa ou a limitação na comercialização de marcas
concorrentes. Em troca, os vendedores poderiam comprar as cervejas AmBev por preços mais
baixos. De acordo com o relatório, a empresa chegava a fiscalizar os freezers dos pontos de
venda para checar se não havia marcas concorrentes.

Segundo a secretaria, o programa "Festeja" determinava que os pontos de venda


reduzissem o preço das cervejas da AmBev em pelo menos R$ 0,11 durante a semana e R$ 0,21
nos fins de semana, impondo aos vendedores margens de lucros menores.

A secretaria, assim como a Seae (Secretaria de Acompanhamento Econômico), do


Ministério da Fazenda, e a procuradoria do Cade recomendaram ao conselho a condenação da
AmBev. A multa poderia chegar a 30% do faturamento da companhia.

Defesa
A AmBev alegou que os programas de fidelização eram legais e que beneficiavam o
consumidor e ao ponto de venda. "Ao primeiro, porque poderia adquirir produtos com desconto,
e, ao segundo, por receber material publicitário específico que lhe permitiria alavancar suas
vendas", afirmou a empresa.

Segundo a AmBev, não houve nenhum tipo de sanção aos pontos de vendas que aderiram
aos programas e continuaram vendendo outras marcas. A empresa admitiu, porém, que, na
primeira fase do programa "Tô Contigo", se algum ponto de venda comercializasse outras
marcas, "era desligado porque não mais se enquadrava no perfil.

Ontem, a AmBev ofereceu ao Cade a assinatura de um TCC (Termo de Compromisso de


Cessação de Prática), mas o conselho se recusou a assinar o acordo.

4- A lição econômica trazida com o filme "Os Falsários".

17/07/2009 - Marcelo Henriques de Brito


Fonte: Jornal Valor Econômico

Laureado com o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2008, o filme "Os Falsários" ("Die
Fälscher"), de Stefan Ruzowitzky (Áustria e Alemanha, 2007), também tem o mérito de lembrar
que a emissão descontrolada de moeda pode prejudicar um país. O filme mostra que durante a
Segunda Guerra Mundial os nazistas forçaram prisioneiros selecionados em campos de
concentração a falsificarem libras sem, contudo, explicar como aquela falsificação poderia
debilitar a economia britânica.

Se não é evidente detectar - e imediatamente evitar - a perda do poder de compra diante


de um processo inflacionário, isto é, um aumento generalizado dos preços num período, é ainda
mais complexo (quiçá impossível) quantificar mentalmente e lidar com a evolução da inflação.
Assim, se houver um crescimento da oferta monetária, que seja imprevisível, avassalador e,
sobretudo, não condizente com o aumento das transações que requeiram a moeda, a inflação
decorrente acarretará a perda da habilidade para definir e avaliar preços. Isso desestruturará as
transações monetárias e, assim, abalará as relações sociopolíticas.

Por isso, a contínua e pujante introdução das libras falsas produzidas pelos falsários do
filme acabaria subvertendo a estrutura de preços existente na Inglaterra, ou seja, destruiria um

Economia Aplicada
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conjunto de informações estabelecido pela circulação da moeda, que é vital para a estabilidade
de um país. Adicionalmente, uma inflação britânica descontrolada acirraria a desvalorização da
libra, prejudicando as transações internacionais do Reino Unido.

Ao priorizar a falsificação da libra, os nazistas desejavam desestabilizar o notável


adversário comercial. Ademais, libras falsas teriam sido usadas para pagar importações e honrar
outras obrigações internacionais, favorecendo o balanço de pagamentos da Alemanha sob o jugo
dos nazistas. Diante desse êxito, eles ordenaram a falsificação do dólar, possivelmente prevendo
que os EUA poderiam ter uma moeda muito poderosa, como acabou ocorrendo na Conferência
de Bretton Woods em 1944.

Talvez a história tivesse sido outra, se "Os Falsários" não tivessem postergado e
restringido ao máximo a produção de dólares falsos. Coube, entretanto, ao governo dos Estados
Unidos emitir dólares de forma excessiva, até para arcar os gastos com a Guerra do Vietnã na
década de 1960. Tal procedimento elevou a inflação do país, além de inviabilizar no início da
década de 1970 o regime cambial de Bretton Woods, que fora favorável aos EUA e restringira
os riscos cambiais no mundo.

Uma notável expansão monetária também ocorreu no Brasil na década de 1980, quando a
taxa de inflação tendia a crescer a cada mês. A ameaça da hiperinflação era contornada com
pacotes econômicos que, em geral, trocavam o nome da moeda. No início de sua circulação, o
cruzado (1986), o cruzado novo (1989) e o cruzeiro (1990) geravam uma ilusória perspectiva de
estabilidade, que não se sustentava pela falta de austeridade monetária e fiscal. Era igualmente
grave quando os governantes conclamavam o povo para fiscalizar os preços, atiçando na
população a ideia de os empresários eram os responsáveis pelo descontrole inflacionário.

A inflação alta e variável beneficiava o governo, pois gastos e investimentos públicos


elevados não eram sempre adequadamente corrigidos. Porém, as receitas com tributos eram
indexadas por índices de preços estabelecidos pelo governo. Quando havia inflação crescente, o
governo arrecadava o que queria e cobrava da sociedade de forma sorrateira o chamado imposto
inflacionário.

Esta forma de tributar dificultava a formação de preços de ativos, produtos e serviços até
pela expectativa de inflação ser uma profecia autorrealizável. Era uma especulação alheia às
iniciativas empresariais a escolha do índice a aplicar nos reajustes, que exigiam um
processamento extra. Isso prejudicava a agilidade empresarial que poderia ampliar as transações
em quantidade e variedade e até arrefecer os impactos daquela expansão monetária descabida do
governo, que agia sem responsabilidade fiscal e monetária.

A história demonstra, portanto, que há governos capazes de abalar o poder de compra da


moeda e, assim, prejudicar uma população. Felizmente para o Brasil, os idealizadores e
executores do Plano Real miraram o desenvolvimento pacífico com inflação baixa e controlada.
Essa conquista não pode sucumbir. Esperemos que o país não venha a ter inimigos que
recorrerão às ações de falsários.

Marcelo Henriques de Brito é sócio da Probatus Consultoria, diretor da Associação


Comercial do Rio de Janeiro e possui a certificação Certified Financial Planner (CFP®),
probatus@probatus.com.br.

Este texto foi originalmente publicado na edição eletrônica e também impressa de sexta-
feira, 17 de julho de 2009 do jornal Valor Econômico, na coluna "Palavra do Gestor" na página
D2 do Caderno Investimentos.

Economia Aplicada
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5-Breves Considerações sobre Desenvolvimento Econômico


28/07/2009 - Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor universitário. Mestre
pela USP em Integração da América Latina e Especialista em Política Internacional. Autor do
livro ―Conversando sobre Economia‖ (Ed. Alínea).

Se existe uma receita específica nos manuais de Introdução à Economia capaz de levar ao
desenvolvimento econômico, certamente alguns dos ingredientes responsáveis por isso e que, de
certa forma, ajudam a entender o presente termo, conceituado aqui como melhoria substancial
na qualidade de vida das pessoas de forma a se adquirir bem-estar material, indiscutivelmente
esses ingredientes são a acumulação de capital (constante e variável), o progresso tecnológico
de forma expansiva incorporado ao processo produtivo e ao próprio capital, a ampliação de
todos os tipos de conhecimentos, o aumento da produtividade e da renda per capita, o
crescimento do produto adicionado por habitante, a estabilidade política via sistema
democrático capaz de promover transformações sociais e políticas, a produção de serviços e
bens mais sofisticados e a existência de instituições específicas no ambiente econômico
equilibradas, dinâmicas e competitivas, em especial, a principal delas – o mercado.

Se entendermos, grosso modo, o desenvolvimento econômico como um fenômeno


histórico, verificaremos que ao longo dos últimos 233 anos, desde a obra seminal do professor
Adam Smith (A Riqueza das Nações), a busca desse desenvolvimento se deu de diversas
maneiras e em diferentes lugares e épocas. Assim, inicialmente devemos considerar que o
desenvolvimento econômico guarda uma idiossincrasia própria.

Algumas sociedades obtiveram desenvolvimento econômico em grau e especificidade


elevados (industrializando a economia, por exemplo); outras sociedades pararam no meio do
caminho (desenvolveram apenas partes da estrutura econômica), e outras ainda nem iniciaram a
caminhada (pois ainda encontram-se presos à pobreza extrema com níveis sociais de
desigualdades agudos). O fato é que todas as sociedades modernas querem rumar para uma
melhoria do padrão de vida das pessoas com a modificação substancial da estrutura econômica
entendida como a conquista definitiva daquilo que os economistas convencionarm chamar de
desenvolvimento econômico.

Percebe-se, assim, que todos querem, mas não são todas as sociedades que conquistam o
tão almejado desenvolvimento econômico; muitas param apenas no estágio conhecido como
crescimento econômico, quando apenas ocorre aumento da renda per capita e não chegam assim
ao desenvolvimento propriamente dito.

Certamente, o desenvolvimento econômico, ao lado da segurança, da liberdade pessoal,


da estabilidade democrática e da justiça social, são as metas principais objetivadas pelas
sociedades modernas. No entanto, foi somente a partir do pós-Segunda Guerra, fim da década
de 1940, que a importância teórica do desenvolvimento econômico passou a fazer parte integral
do receituário acadêmico de alguns brilhantes economistas.

Alguns teóricos das ciências econômicas e suas receitas


Entretanto, se foi somente em 1911 a primeira vez que o termo desenvolvimento
econômico ocupou o título de uma obra acadêmica – Teoria do Desenvolvimento Econômico –
de Joseph Schumpeter (1883-1950), o clássico Adam Smith (1723-1790), já mencionava esse
conceito, embora usando para tal o termo ―progresso material‖.

Da inovação tecnológica ao ato empreendredor schumpeteriano, os anos 50-60 do século


XX viu nas obras de Arthr Lewis (1915-1990) um defensor assíduo da relação crucial entre a
poupança, o investimento e o desenvolvimento, como maneiras de alcançar uma expansão
econômica. Foi nessa mesma época que Hans Singer (1910-2006) cunhou a idéia de

Economia Aplicada
91

crescimento equilibrado (balanced growth) onde propôs a intervenção do Estado como a melhor
forma de quebrar o círculo vicioso de baixa poupança e fraco crescimento para entrar no círculo
virtuoso da alta poupança e forte crescimento da economia.

Com Gunnar Myrdal (1898-1987) os jovens economistas aprenderam que o


subdesenvolvimento – a pedra no caminho do desenvolvimento econômico - só poderia ser
solucionado a partir da igualdade de oportunidades e do aprofundamento de regimes
democráticos, condições essenciais para a expansão de qualquer economia. Myrdal alegava que
o grau de desenvolvimento econômico das nações ricas não seriam os mesmos das nações
debilitadas economicamente, tendo em vista que as economias mais pobres estavam condenadas
à reproduzirem padrões de produção de bens primários com baixo valor agregado, enquanto as
economias mais vistosas aproveitavam os lucros associados à economia de escala e promoviam
rápidas expansões no parque industrial.

No entanto, a teoria econômica não parava de ganhar novas interpretações de como se


obter desenvolvimento. Com a obra teórica de Theodore Schultz (1902-1998) ganhou relevância
a formação do capital humano, distanciando-se da necessidade da formação do capital físico.
Com isso, as atenções se voltaram para um requisito fundamental de qualquer sociedade que
desejasse ser moderna: investimentos em educação, ciência, pesquisa.

Pelos escritos de Walt Rostow (1916-2003) os economistas passaram a entender o


desenvolvimento econômico a partir de cinco estágios básicos que levariam a modernização
econômica. Coube a Paul Rosenstein-Rodan (1902-1985) ser partidário da idéia de que para
tirar uma economia da estagnação e promover o seu desenvolvimento era necessário a
realização de um conjunto de investimentos em uma gama variada de indústrias promovendo
aquilo que Rodan denominou de grande impulso (big push).

Robert Solow (1924), uma das figuras principais da Economia do Desenvolvimento,


descreveu que a fonte do crescimento de uma economia estava centrado na acumulação de
capital, no crescimento da força de trabalho e nas alterações tecnológicas. Ragnar Nurkse
(1907-1959), economista nascido na Estônia, seguidor de Rosenstein-Rodan, entendia que uma
economia não se expandiria cultural e economicamente enquanto não eliminasse por completo o
que chamou de ―círculo vicioso do subdesenvolvimento‖ que passava pelas questões: cultural
(falta de informações e de conhecimento), demográfica (alta taxa de natalidade) e econômica
(baixos salários, baixa produtividade, baixa renda do trabalho).

Como mensurar o desenvolvimento?


Uma vez que definimos desenvolvimento econômico e apontamos algumas interessantes
―receitas‖ assinadas por conceituados pensadores da teoria econômica, resta saber agora como
mensurar o desenvolvimento. Isso não é tarefa fácil. Os ―ingredientes‖ dessa ―receita‖ passam
pelo índice de mortalidade infantil, condições sanitárias, expectativa de vida média, níveis
educacionais e tecnológicos, nível de endividamento econômico, renda de cada habitante, grau
de dependência ao comércio exterior, e pelas condições gerais de vida da maioria da população.
A esses ―ingredientes‖ encontrados nos bons manuais de teoria econômica, eu acrescentaria a
qualidade e a condição do trabalho e a expectativa futura dos trabalhadores em relação ao local
em que estão alocados, a situação da criança e do adolescente, o respeito e a preservação ao
meio ambiente e a obediência as leis e códigos jurídicos.

E por que algumas sociedades ainda não atingiram o desenvolvimento econômico?


Dentre as várias possibilidades citadas acima, destacam-se, ainda, nesse pormenor, a existência
de aspectos culturais falhos (basicamente em função de poucos anos de estudo de determinadas
sociedades), de infra-estrutura incompleta e carente de novos investimentos, da existência dos
―bolsões de pobreza‖, típicos de sociedades atrasadas que isolam a população impedindo-a de se
integrarem na economia nacional, dos desperdícios de recursos, da escassez de mão-de-obra

Economia Aplicada
92

qualificada e de um mercado interno fraco e incompleto no que toca ao atendimento das


necessidades básicas de sua população.

Superados esses obstáculos, o caminho rumo à melhoria da qualidade de vida das pessoas
se aproxima. Obstáculos são superados mediante transformações. Por sinal, é para isso que a
ciência econômica surgiu – para promover verdadeiras e produndas transformações - desde os
trabalhos iniciais dos fisiocratas que inspiraram a Enciclopédia de Diderot e aspectos
importantes da Revolução Francesa. É nesse intuito de transformações sociais, políticas e
econômicas que os agentes econômicos devem ser inseridos. Em sociedades atrasadas que se
encontram nos estágios iniciais da busca do desenvolvimento, a macroeconomia precisa girar
em torno das condições propícias a expansão da atividade produtiva promovendo a mais radical
transformação sonhada pelos ideais democráticos: promover e assegurar o desenvolvimento da
economia e melhorar a vida de todos.

6- Lula afirma que Brasil será 5ª maior economia do mundo


05/11/2009 - 10h19- Fonte: EFE- Londres, UK..

O Brasil se transformará "entre 2016 e 2020", no máximo, "na quinta economia do


mundo", segundo as previsões do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O país terá uma economia forte, muito mais desenvolvida do ponto de vista tecnológico e
do ensino, e também "ainda mais democrática que a atual", afirma Lula, em entrevista ao jornal
britânico "Financial Times".

O presidente prevê um crescimento econômico de 5% ou mais em 2010 e diz que o país


continuará crescendo "de modo sustentável" nos próximos anos.

"É um momento glorioso, quase mágico da história do Brasil", afirma Lula, após explicar
que o país terá que realizar um grande programa de investimentos diante da Copa do Mundo de
2014 e dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro em 2016.

Lula participa hoje, em Londres, de um seminário sobre investimentos no Brasil


organizado pelo "Financial Times" e pelo jornal brasileiro "Valor Econômico" e, após uma
audiência com a rainha Elizabeth II da Inglaterra, receberá o prêmio do instituto Chatham
House, que reconhece anualmente "a contribuição mais significativa à melhoria das relações
internacionais no ano anterior".

Lula afirma que sua presença nesta capital, como as viagens que realizará à Alemanha e,
no próximo ano, à Espanha, tem como objetivo justamente atrair investimentos privados ao
Brasil em benefício de setores como o petrolífero, a construção e os trens de alta velocidade.

Em sua entrevista ao jornal britânico, Lula afirma que, embora o Brasil tenha que "fazer
ajustes", "não há nenhum outro país que tenha atualmente uma posição fiscal tão saudável" e
declara, a respeito, que há um projeto de lei de reforma tributária no Congresso.

Sobre como o Brasil enfrentou a crise econômica, Lula diz que seu governo começou a
adotar uma série de medidas em 2007, "sem saber que haveria crise"

Quando a crise explodiu, foram tomadas medidas contracíclicas, que facilitaram os


créditos e o financiamento de setores concretos da economia, houve uma redução dos impostos
sobre automóveis, eletrodomésticos da linha branca, maquinaria agrícola e material de
construção.

Economia Aplicada
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Segundo Lula, seu governo não trabalha com a ideia de que a crise terminou, mas sim que
"pode ser superada" e se propõe, para isso, a continuar impulsionando os investimentos em uma
economia diversificada.

Em relação à cúpula sobre a mudança climática em Copenhague, Lula manifesta o


compromisso de seu país de reduzir em 80%, até 2020, o desmatamento na Amazônia.

O Brasil quer contribuir para o combate ao aquecimento do planeta, diz Lula,


acrescentando que apresentará em Copenhague uma proposta formal, que não tem por que ser
aceita por todos, mas que seu país se comprometerá a cumprir.

O presidente afirma que não faz sentido buscar um acordo que depois os países não
poderão cumprir, uma proposta que seja inviável.

Em relação ao estado das relações entre o Brasil e outros países da América Latina,
afirma que são "as melhores possíveis" e acrescenta que a democracia é "extraordinária, porque
permite viver democraticamente na diversidade".

Lula coloca como exemplo para a região a unificação da Europa, que considera a "melhor
demonstração de que, com vontade política, é possível superar qualquer tipo de obstáculos".

"O Brasil está desenvolvendo alianças com todos os países, dentro do respeito à soberania
de cada um", afirma.

7- Cosan e Shell anunciam aliança de US$ 12 bilhões


01/02/2010 - 15h21- SÃO PAULO (Reuters)

A Cosan, maior empresa do setor sucroalcooleiro no Brasil, anunciou nesta segunda-feira


negociações com a Shell para a formação de uma joint-venture avaliada em US$ 12 bilhões que
vai reunir sob um mesmo teto operações de açúcar, etanol, distribuição de combustíveis e
pesquisa.

O negócio, anunciado na segunda-feira após a assinatura de um memorando na véspera,


confirma a tendência de crescimento de investimentos estrangeiros na indústria de
biocombustíveis do Brasil.

Em 2008, a britânica BP adquiriu uma fatia de 50% na Tropical Bioenergia. A Bunge fez
acordo em dezembro para comprar a Moema, por US$ 452 milhões, enquanto em 2009 a
francesa Louis Dreyfus ampliou sua participação no setor ao assumir a Santelisa Vale.

"A visão da Cosan é se tornar uma líder global em energia limpa e renovável. O nosso
tamanho, grau de sofisticação e estágio de desenvolvimento recomenda um parceiro que não
apenas compartilhe estes objetivos, mas também tenha acesso a mercados internacionais...",
afirmou Rubens Ometto Silveira Mello, presidente do Conselho de Administração da Cosan, em
comunicado nesta segunda-feira.

Por volta das 13h20 (horário de Brasília), as ações da Cosan saltavam cerca de 12%,
enquanto as da Shell operavam em alta de 1,3%.

O memorando assinado pela Cosan prevê negociações exclusivas por 180 dias para a
formação da joint-venture que vai unir os negócios da Cosan de açúcar e etanol, incluindo co-
geração de energia, com ativos de distribuição e comercialização de combustíveis da Shell no

Economia Aplicada
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Brasil, além da participação da petrolífera em empresas de pesquisa e desenvolvimento a partir


da biomassa.

Segundo o diretor financeiro da Cosan, Marcelo Martins, a joint-venture deve ter uma
receita bruta anual estimada em 40 bilhões de reais.

Divisão da nova empresa


Pelo acordo anunciado, o valor dos ativos a serem transferidos pela Cosan à associação
soma US$ 4,925 bilhões. A companhia ainda vai migrar dívidas líquidas de cerca de US$ 2,524
bilhões.

Enquanto isso, a Shell vai fazer em até dois anos aporte em dinheiro na joint-venture de
cerca de US$ 1,625 bilhão e valor "contingente" estimado em 300 milhões de dólares ao longo
de cinco anos, "a título de contribuição adicional baseada em ganhos futuros da estrutura
conjugada".

Não foram divulgadas estimativas do valor da rede de distribuição da Shell no Brasil.

Segundo a Cosan, a associação será "possivelmente" implementada por meio da criação


de duas companhias. Uma ficaria a cargo de açúcar, etanol e co-geração de energia. A outra
ficaria com os ativos de distribuição de combustíveis, que será a terceira maior do setor do país,
com 4.500 postos de combustíveis no Brasil.

A Cosan já atua no setor de distribuição de combustíveis por meio da Esso, cujas


operações brasileiras foram adquiridas em 2008 por aproximadamente 1 bilhão de dólares.

Em dezembro, a empresa anunciou a compra da rede de distribuição da Petrosul, com


mais 83 postos.

Distribuição nacional
Segundo Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, com o negócio, a
distribuição deve ficar "cada vez mais nacionalizada no Brasil".

Ele lembrou que agora o forte da distribuição está com grupos brasileiros: BR
Distribuidora, Ipiranga (Grupo Ultra), Cosan/Shell e Ale.

A líder em distribuição de combustíveis no país é a BR Distribuidora, da Petrobras,


seguida pela Ipiranga, de acordo com dados do Sindicomb, o sindicado do setor.

"Isso (a notícia) reforça os argumentos da decisão da Petrobras de entrar no negócio de


etanol", acrescentou Pires, destacando que a consolidação traz a profissionalização para o setor
sucroalcooleiro. "Não vai ter mais aquelas 400 usinas, vão ser menos empresas, mas mais
fortes."

A Petrobras teria dado "mandato" a um banco para negociar eventuais aquisições de até
oito usinas, segundo Pires. Nelson Matos, do BB Investimentos, considerou que o negócio "é
positivo para as empresas, que ganham escala, mas em distribuição ainda ficam aquém da
Petrobras".

Para Matos, após a formação da joint-venture, será a Ale que ficará "na mira de compra".

A Cosan vai dar mais esclarecimentos sobre a operação ainda nesta segunda-feira. A
companhia vai deixar de fora da associação suas atividades com produção e venda de

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lubrificantes, atividades logísticas da Rumo Logística, propriedades agrícolas e marcas de


alimentos, como "Da Barra" e "União".

(Com reportagem adicional de Denise Luna, no Rio, e Roberto Samora, em São Paulo;
edição de Marcelo Teixeira)

8- Investidor estrangeiro derruba a Bolsa; entenda o motivo


09/04/2010 - 16h35- Anne Dias – BM&F/Bovespa

O sobe-e-desce da Bolsa de Valores faz parte deste tipo de investimento. Neste ano,
porém, o ―desce‖ vem surpreendendo os investidores além da conta. E o motivo da queda vem,
basicamente, da saída dos investidores estrangeiros da Bovespa. Só para se ter uma ideia, desde
o começo do ano até a semana passada, eles tiraram do Brasil R$ 2,549 bilhões.

Segundo dados da BM&F/Bovespa, a participação dos estrangeiros na Bolsa já foi maior.


Em junho de 2008, período pré-crise financeira mundial, eles representavam 37,2% dos
investidores em ações. No dia 4 de fevereiro de 2009, eles respondiam por 26,4%. No mesmo
período, as pessoas físicas pularam de 24,4% para 33,9% e assumiram a liderança como
principais investidores (veja quadro abaixo).

―Eles ainda são um peso-pesado na Bolsa‖, diz o diretor geral da Enfoque Informações
Financeiras, Fausto de Arruda Botelho. Ele explica que o perfil dos investidores de fora é
mesclado. ―São árabes, franceses, americanos. Eles estão em grandes fundos de investimentos
que buscam as melhores rentabilidades‖, afirma.

E, como esses fundos estão nas mãos de gestores profissionais, eles tendem a ser mais
racionais. Vendem seus papéis quando precisam tapar um buraco em outro mercado ou quando
acreditam que aquela economia dá sinais de alerta.

Aí mora o problema. Como os estrangeiros seguem as estratégias de olho no mercado


mundial, e, normalmente, os minoritários brasileiros pensam mais localmente, eles podem
derrubar a Bolsa, como vem acontecendo. Os investidores minoritários brasileiros, então,
percebem uma fuga de capital da Bolsa e decidem vender suas ações também, mesmo sem
entender claramente o que está provocando a saída. ―O estrangeiro é um grande influenciador de
opiniões‖, diz Botelho.

Grau de investimento
A chegada de estrangeiros na Bovespa se intensificou em 2008, quando o Brasil atingiu
três graus de investimento, status concedido por agências internacionais de análise de risco
(Standard & Poor’s, Moody’s e Fitch). A nota indica para o investidor o risco de tomar o calote
de uma empresa ou um país (quanto melhor a nota, menor o risco). ―A qualquer sinal de
estresse, o investidor vai embora‖, diz Manuel Lois, diretor da corretora Spinelli.

E há alguns estresses no momento: o alto índice de pedidos de seguro-desemprego nos


Estados Unidos, a restrição ao crédito na China e o nível de endividamento de alguns países
europeus, como Grécia, Espanha e Portugal, são alguns exemplos.

―Assim como os estrangeiros vão embora, eles voltam‖, afirma Lois. Quais papéis eles
buscam? ―Sempre as blue chips, as ações mais negociadas da Bolsa, que fazem parte do
Ibovespa.‖

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E o que o minoritário deve fazer quando os estrangeiros deixam o Brasil e puxam a Bolsa
para baixo? ―Comprar. As ações ficam mais baratas, e é hora de abrir a carteira‖, diz Lois.

Participação de investidores na Bovespa


Pessoa Instituições
Data Estrangeiros Institucionais Empresas Outros
física financeiras
junho/08 37,2% 24,4% 26,3% 3,2% 8,8% 0,1%
junho/09 36,5% 28,7% 25,7% 3,1% 6,1% 0,1%
janeiro/10 28% 31,4% 29,4% 2,3% 8,8% 0,1%
abril/10 26,4% 33,9% 29,1% 1,8% 8,9% 0

9- O dilema do prisioneiro e a ineficiência dos métodos de opções


reais
O Dilema do Prisioneiro é um exemplo de jogo largamente difundido nos manuais de
microeconomia e teoria dos jogos, como exemplo de jogo estático de informação completa.
Nele, dois suspeitos são presos pela polícia; esta não possui evidências suficientes para
condená-los, a menos que um deles confesse o crime.

Os suspeitos são então mantidos em celas separadas e a polícia lhes explica as


conseqüências das ações que eles podem tomar que, juntas, representam os perfis de estratégias
do jogo. O ato de explicar as conseqüências são as regras do jogo. Caso nenhum dos suspeitos
confesse, ambos serão sentenciados a um crime de pouca gravidade e pegarão um ano de cadeia.
Se ambos confessam, serão sentenciados a dois anos de cadeia. Porém, se somente um deles
confessar, este será imediatamente liberado e o outro será sentenciado a três anos de cadeia,
sendo dois pelo crime e mais um por obstruir a justiça. Os prisioneiros decidem o que fazer
separadamente, sem saber da decisão do outro; daí o caráter estático do jogo. Também é um
jogo de informação completa, porque ambos conhecem a punição (ou pagamento) que cada um
receberá com base no perfil de estratégias que for selecionado. O jogo Dilema do Prisioneiro,
com base nessas propriedades, pode ser representado na sua forma normal pela seguinte matriz
de pagamentos:

Na matriz acima, os pagamentos de cada jogador (prisioneiro) são representados pelo


número de anos de sentença. O equilíbrio de Nash do jogo é o perfil de estratégias (Confessar;

Confessar), porém, pode ser observado que (Não Confessar; Não Confessar) conduz a um
resultado, onde os pagamentos individuais são simultaneamente mais eficientes para ambos os
jogadores. O fato é que a estratégia Não Confessar é estritamente dominada pela estratégia
Confessar, de modo que ela não é jogada. Na figura anterior, com os valores representados na
matriz de pagamentos, isso fica claro, uma vez que nenhum dos prisioneiros irá arriscar-se a
escolher a estratégia Não Confessar, porque eles não têm nenhuma garantia ou informação de
que o outro fará o mesmo. Caso o outro prisioneiro escolha Confessar, o prisioneiro que não
confessou acabará numa situação de prejuízo superior àquela correspondente ao equilíbrio de
Nash do jogo.

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Quando, nas aplicações financeiras da teoria dos jogos, duas empresas fazem o papel dos
prisioneiros, para sair da situação do Dilema do Prisioneiro, seria necessário que ambas
formassem um acordo de cooperação no sentido de selecionarem o perfil de estratégias mais
eficiente para ambas simultaneamente em termos de geração de lucros. Ainda em relação à
matriz de pagamentos da figura anterior, caso os valores 0, -1, -2 e -3 fossem substituídos por A,
B, C e D, respectivamente, qualquer jogo em que A > B > C > D representaria uma situação de
Dilema do Prisioneiro.

Fonte: ROCHA, André Barreira da Silva. O dilema do prisioneiro e a ineficiência dos


métodos de opções reais. RAC. Curitiba, v.12, n.2, Abr./Jun. 2008. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rac/ v12n2/a10v12n2.pdf>. Acesso em: 30 dez. 2008.

10- Ford fecha venda da Volvo à chinesa Geely


28/03/2010 - 10h59 - Da Redação, com agências

Foi anunciada oficialmente neste domingo (28) a venda da Volvo, fabricante sueca de
veículos, à Geely, a maior montadora privada da China. A formalização do negócio acontecerá
ao longo dos próximos meses, informa o boletim Automotive News Europe. A Ford receberá
US$ 1,8 bilhão, mas pagou pela Volvo cerca de US$ 6,4 bilhões em 1999. Na ponta do lápis, a
perda é de US$ 4,6 bilhões.

A Volvo fazia parte do -- agora fechado -- leque de marcas premium do grupo norte-
americano Ford, que já incluiu Aston Martin, Land Rover e Jaguar, estas duas últimas vendidas
para o grupo indiano Tata. A venda da marca sueca -- que tem obtido bons resultados com seus
modelos no Brasil -- aos chineses vinha sendo negociada desde outubro de 2009.

Com o negócio, a Ford pretende focar energias (e dinheiro, obviamente) em seu


negócio principal -- os carros, picapes e caminhões da própria marca Ford. Entre os três grandes
grupos automotivos dos Estados Unidos (os outros dois são General Motors e Chrysler), a Ford
foi o que menos sofreu com a crise global de 2008-2009. Não pegou dinheiro emprestado do
governo (ao contrário da GM, que hoje, na prática, é uma estatal) nem foi absorvida por um
rival europeu (como a Chrysler, nas mãos da Fiat).

A política de livrar-se de marcas deficitárias e/ou internacionais ajudou nisso: restaram à


Ford apenas a Lincoln e a Mercury, ambas voltadas aos mercados da América do Norte. Nos
últimos anos, por exemplo, a Ford desfez-se de seus ramos britânico (as já citadas Land Rover e
Jaguar) e japonês (Mazda, na qual passou a ter participação minoritária).

Por sua vez, a chinesa Geely, uma montadora de veículos que nasceu como fábrica de
geladeiras em 1986, seis anos depois passou a fabricar motocicletas, e em 1998 lançou seu
primeiro carro, consolida-se como player no mercado automotivo mundial. No ano passado, a
Geely fabricou cerca de 329 mil veículos. Por ora, não vende seus produtos no Brasil.

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11- Preço do Viagra deve cair até 50% com fim da patente
29/04/2010 - 11h06 – Agência Estado

São Paulo - O medicamento genérico com o mesmo princípio ativo do Viagra já deverá
estar disponível para os consumidores a partir do dia 21 de junho. Pelo menos essa é a
expectativa da Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (Pró
Genéricos). Ontem, por cinco votos contra um, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) acabou com
a exclusividade do laboratório Pfizer na produção do medicamento. O prazo da empresa termina
em 20 de junho.

Com o fim da patente, a expectativa é de que o preço do remédio, que é o mais usado para
disfunção erétil no Brasil, fique de 35% a 50% mais baixo. A decisão também abre caminho
para o fim da patente de outros medicamentos.

Estudos da Universidade de São Paulo (USP) apontam que 40% dos homens no País têm
algum tipo de disfunção erétil. Especialistas acreditam que, com o custo mais baixo, um maior
número de médicos irá prescrever o medicamento. Atualmente, uma caixa com dois
comprimidos de 50 mg de Viagra custa em torno de R$ 60, ou seja, R$ 30 por comprimido. Na
Argentina, onde a patente não é reconhecida, o preço é R$ 2.

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), cinco empresas já


entraram com pedidos para produzir o medicamento, cujo princípio ativo é o citrato de
sildenafil. A agência já havia se manifestado informando que tem equipes preparadas para
analisar esses pedidos o mais rápido possível, justamente para garantir agilidade na entrada do
genérico no mercado.

12- USP é a primeira em produção científica entre universidades


ibero-americanas, diz pesquisa.
Da Redação- www.uol.com.br - 16/06/2010 - 17h30

Um ranking divulgado pela SIR (SCImago Institutions Ranking) mostra que, entre as
universidades ibero-americanas, a USP (Universidade de São Paulo) foi a primeira entre 607
instituições em produção científica entre 2003 e 2008. A Unicamp (Universidade Estadual de
Campinas), a Unesp (Universidade Estadual Paulista) e a UFRJ (Universidade Federal do Rio
de Janeiro) também aparecem no top 10.

De acordo com o ranking, divulgado no final de meio e baseado no cadastro de produções


do sistema Scopus, a USP teve 37.952 publicações científicas no período. A segunda colocada é
a Unam (Universidad Nacional Autónoma de México), com 17.395. A Unicamp vem em
terceiro, com 14.913. Na quarta e na quinta posições, duas universidades espanholas: a
Universitat de Barcelona e a Universidad Computelense de Madrid. A Unesp está em sexto,
com 12.270 publicações, e a UFRJ, em sétimo, com 12.133.

A USP também lidera nas listagens feitas por área: em ciências sociais, ciências físicas,
ciências da vida e ciências da saúde. No ranking mundial, a universidade é a 19ª, segundo o
SIR.

Entraram na listagem todas as universidades latino-americanas que produziram alguma


comunicação científica em 2008. O Brasil é o país com o maior número de instituições que

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participaram da pesquisa (109), seguido por Colômbia (89) e Espanha (85). Este último foi o
país com o maior número de produções (208.078). Os brasileiros são os segundos colocados
(178.765) e os portugueses, os terceiros (49.541).

13- Drogaria SP compra Drogão e cria maior rede farmacêutica


do país.
Reuters- (Vivian Pereira) - 22/06/2010 - 15h45

A Drogaria São Paulo anunciou nesta terça-feira a aquisição da rede Drogão, que conta
com 72 lojas no Estado de São Paulo e tem forte presença em shopping centers. O acordo,
realizado por meio de troca de ações, dará origem à maior rede farmacêutica paulista e nacional,
conforme comunicado enviado ao mercado pela Drogaria São Paulo.

De acordo com o documento, as lojas da rede Drogão passarão a contar, gradativamente,


com a bandeira da compradora. A Drogaria São Paulo informou ainda que prevê a abertura de
40 novas lojas este ano no Brasil.Com o negócio anunciado nesta terça-feira, a empresa espera
encerrar 2010 com mais de 360 lojas e faturamento de cerca de R$ 2,5 bilhões.

14- CMN define meta de inflação para 2012 em 4,5%. Decisão do


CMN foi anunciada nesta terça-feira; tendência até o fim do ano é de
convergência do índice para a meta
AE - 22/06/2010 - 14:25 – www.economia.ig.com.br

O Conselho Monetário Nacional (CMN) decidiu fixar em 4,5% o centro da meta de


inflação para 2012. Segundo o secretário-adjunto de Política Econômica do Ministério da
Fazenda, Gilson Bittencourt, a margem de variação da meta de inflação de 2012 é de dois ponto
porcentuais para cima ou para baixo. O CMN também confirmou em 4,5% o centro da meta de
inflação para 2011.

O secretário-adjunto de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Gilson Bittencourt,


explicou hoje que o Conselho Monetário Nacional (CMN) entendeu que, embora a inflação
deste ano esteja um pouco acima do centro da meta, a tendência é de baixa e, por isso, ela deve
convergir até o final do ano. "O Conselho Monetário Nacional entendeu que daria para manter a
meta de inflação (2012) no mesmo patamar atual", afirmou o secretário.

Segundo ele, a decisão foi tomada com o foco na inflação. O secretário evitou fazer uma
avaliação mais ampla, considerando o ritmo de crescimento econômico. Bittencourt informou
também que o CMN confirmou o centro da meta de inflação para 2011 em 4,5%, com uma
variação de dois pontos porcentuais para baixo ou para cima.

Bittencourt disse que o CMN considerou a meta de inflação de 4,5% e o risco país de 150
pontos-base para manter em 6% ao ano a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) para o terceiro

Economia Aplicada
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trimestre de 2010. "Por ser uma taxa de longo prazo, não consideramos apenas a expectativa do
momento", disse o secretário.

Segundo ele, o risco país é um mix da média dos últimos meses, com a expectativa
futura. Ele disse também que para fixar a TJLP o governo trabalha com o horizonte de um a 10
anos, que corresponde ao período da maior parte dos financiamentos do BNDES. A TJLP é a
taxa utilizada pelo BNDES para corrigir os financiamentos do banco e é fixada a cada três
meses pelo CNM.

15- Economia deve registrar em 2010 maior crescimento em 24


anos, diz Mantega
GIULIANA VALLONE 03/09/2010 - 13h34 DE SÃO PAULO

O crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) tende a desacelerar no segundo semestre,


na avaliação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, mas, com o crescimento registrado na
primeira metade do ano, já é possível "assegurar pelo menos 7% de expansão em 2010.

"Podendo ser até maior. Com essa variação, teríamos o maior crescimento do PIB em 24
anos", afirmou o titular da pasta nesta sexta-feira ao comentar o desempenho da economia
brasileira.

Para Mantega, o segundo semestre deve ter um aumento menor, entre 5% e 5,5%,
expansão que, fez questão de ressaltar, não gera inflação. "No ano, será um resultado excelente,
com crescimento maior e inflação menor", disse.

O PIB, que mostra o comportamento de uma economia, é a soma de todos os bens e


serviços produzidos no país em um certo período --é formado pela indústria, agropecuária e
serviços. O PIB também pode ser analisado a partir do consumo, ou seja, pelo ponto de vista de
quem se apropriou do que foi produzido. Neste caso, é dividido pelo consumo das famílias, pelo
consumo do governo, pelos investimentos feitos pelo governo e empresas privadas e pelas
exportações.

PÉ NO ACELERADOR

Depois de forte expansão no primeiro trimestre, a economia brasileira tirou o pé do


acelerador e cresceu 1,2% no segundo trimestre, na comparação com os três meses
imediatamente anteriores, de acordo com dados relativos ao PIB.

No primeiro trimestre, o PIB havia apresentado incremento de 2,7% em relação ao quarto


trimestre de 2009, impulsionado principalmente pelo desempenho da indústria e investimentos.
Em relação a igual período em 2009, a economia avançou 8,8%.

Ao todo, a economia movimentou R$ 900,7 bilhões no segundo trimestre. No acumulado


dos últimos 12 meses, a economia teve expansão de 5,1%, em relação a igual período
imediatamente anterior.

ESTIMATIVA

O crescimento do PIB no segundo trimestre, de 1,2%, superou as estimativas do governo.


O ministro da Fazenda, Guido Mantega, havia afirmado que acreditava em uma alta entre 0,5%
a 1%.

O resultado do trimestre passado ficou mais próximo do que havia indicado o Banco
Central no IBC-Br (Índice de Atividade do BC), divulgado no início do mês, quando estimou

Economia Aplicada
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que a atividade econômica havia crescido 1,32% no segundo trimestre de 2010 em relação ao
trimestre anterior, no segundo trimestre seguido de desaceleração.

INVESTIMENTOS

O investimento, medido pela chamada FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo), subiu 26,2% de
janeiro a junho frente os seis primeiros meses de 2009. No segundo trimestre, se comparado aos
três meses imediatamente anteriores, houve crescimento de 2,4%; Em relação a igual trimestre
em 2009, o IBGE aponta alta de 26,5%, a maior alta desde o início da série histórica em 1996.
A taxa de investimento representou 17,9% da formação do PIB no segundo trimestre.

SETORES

O setor industrial teve avanço de 14,2% no primeiro semestre. No segundo trimestre, apresentou
aumento de 1,9% frente ao primeiro trimestre; na comparação com igual período em 2009,
houve avanço de 13,8%.

Já o setor de serviços registrou incremento de 5,7% sobre o primeiro semestre de 2009. Em


relação ao primeiro trimestre, o PIB dos serviços aumentou 1,2%; em relação ao segundo
trimestre de 2009, observou-se incremento de 5,6%.

O setor agropecuário teve desempenho 8,6% superior nos primeiros seis meses deste ano, em
relação a período correspondente no ano passado. No segundo trimestre, a elevação perante ao
trimestre anterior foi de 2,1%; em relação ao período de abril a junho de 2009, a agropecuária
teve alta de 11,4%.

O consumo das famílias registrou incremento de 8% no primeiro semestre. No segundo


trimestre, quando confrontado com os três meses imediatamente anteriores, nota-se alta de
0,8%; na comparação com o mesmo intervalo no ano passado, foi verificada alta de 6,7%.

O consumo do governo cresceu 3,6% no primeiro semestre, segundo o IBGE. No segundo


trimestre, foi notado avanço de 2,1% frente aos três meses imediatamente anteriores; na
comparação com o mesmo intervalo no ano passado, houve alta de 5,1%.

Economia Aplicada

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