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1. INTRODUÇÃO
O tema precatório possui sérias discussões desde a Constituição de 1891, momento da transição do
Brasil Colônia à República, em que a matéria não era tratada na Constituição Federal (LGL\1988\3) até
assumir o status constitucional a partir do ano de 1934, quando o legislador ao defender a efetividade
da matéria conferiu importância maior dessas dívidas do Estado ao elevar a discussão e aplicação da
efetividade dos precatórios em disposições constitucionais.
A cada novo pacto fundamental instituído no Brasil o tema obteve várias atualizações nas Constituições
de 1937, 1946, 1967-1969 e 1988, ao incluir a possibilidade de intervenção estatal no descumprimento
de decisões judiciais, dotação orçamentária específica para o pagamento dessas dívidas, inclusão
obrigatória nos orçamentos dos entes devedores e poder liberatório aos precatórios não pagos para a
compensação com tributos federais além da possibilidade de sequestro de verbas no montante do valor
devido.
A EC 30/2000 alterou o prazo inicial de pagamento estipulado pela Constituição de 1988 que era de 8
anos para 10 anos. Posteriormente, a EC 6/2009 alterou novamente o pagamento dos precatórios ao
modificar o prazo para 15 anos.
Em 2010 os dados atualizados do Conselho Nacional de Justiça estimaram que a dívida total de
precatórios dos Estados e Municípios era de 84 bilhões de reais, sendo o maior devedor o Estado de
São Paulo e seus municípios com uma dívida estimada em aproximadamente 23 bilhões de reais. A
dívida mencionada não inclui o ente federal (União), pois os pagamentos estão praticamente em dia,
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inclusive com sistemáticas de compensação de tributos com precatórios conforme a lei recentemente
publicada.
A Lei 12.431/2011 regulamentou a prática de compensação de precatórios com tributos federais
devidos à Fazenda Pública nos moldes da determinação constitucional em seu art. 100, §§ 9.º e 10, da
CF/1988 (LGL\1988\3), alterado pela EC 62/2009. 1
Tal lei trouxe questões importantes, apesar de já estar praticamente esclarecida no próprio texto
constitucional a própria sistemática da compensação ante a auto aplicação dos supramencionados
dispositivos. Dessa forma, a Lei 12.431/2011 veio a lume para não restar dúvidas quanto ao
procedimento de abatimento de dívidas de tributos federais e créditos decorrentes de precatórios ainda
não expedidos. Interessante mencionar que, caso o precatório já esteja expedido explicaremos a
sistemática diferenciada que não fora abordado pela Lei 12.431/2011.
Ante essas razões passemos a abordar a essência da matéria que possui extrema importância no
Direito Constitucional e Direito Tributário.
2. PRECATÓRIOS
O crédito decorrente de sentença desfavorável à Fazenda Pública, já transitada em julgado é objeto da
expedição de precatório, haja vista a impossibilidade de o ente público arcar com as suas dívidas de
imediato (princípio da indisponibilidade de bens públicos), mas sim incluir no orçamento o valor devido
para posterior pagamento. Tal crédito é requerido pelo juízo da execução da sentença através de um
ofício enviado ao presidente do Tribunal respectivo à jurisdição da entidade devedora para que o valor
devido seja requisitado junto à autoridade administrativa que representa a entidade devedora. O valor
é apresentado para pagamento em uma ordem cronológica de acordo com a verba disponibilizada
obrigatoriamente pelo texto constitucional que deve ser de até dois por cento (2%) da receita corrente
líquida do Estado. 2
Importante mencionar, que a ordem desse crédito junto à entidade devedora não pode ser afetada sob
pena de sequestro de verba ou compensação de tributos com a entidade devedora, caso a ordem de
pagamento não seja mantida. 3
3. A COMPENSAÇãO CONSTITUCIONAL E INFRACONSTITUCIONAL
O instituto jurídico chamado compensação possui tratamento diverso quando analisamos o tema
precatório na esfera constitucional e na esfera infraconstitucional. A primeira esfera determinada pela
Carta Maior, que possui autoaplicação, independentemente de lei regulamentadora, em especial, com o
advento do dispositivo transitório da Constituição Federal (LGL\1988\3) acrescentado pela EC 30/2000,
permitiu o poder liberatório dos precatórios para pagamento de tributos da entidade devedora que não
arcasse com o pagamento em dia das parcelas do precatório (compensação constitucional), conforme
disposto no art. 78, § 2.º, do ADCT (LGL\1988\31). 4
De outra banda, na esfera infraconstitucional e sem auto aplicação há o art. 170 do CTN (LGL\1966\26)
que prevê a possibilidade de compensação de tributos com créditos (pode ser precatório ou não), desde
que, advenha lei regulamentadora para tanto. 5
Cumpre salientar, que a primeira compensação é decorrente de um não pagamento de parcelas dos
precatórios onde o próprio texto constitucional já autoriza a possibilidade de compensação com
tributos, ao passo que a segunda compensação é decorrente de lei que autoriza a compensação de
tributos com qualquer crédito líquido e certo.
Enquanto o dispositivo do Código Tributário Nacional (LGL\1966\26) prevê a necessidade de criação de
uma lei que autorize a compensação de créditos junto ao ente devedor, tendo, portanto, sua eficácia
limitada, dependente de uma lei futura, o dispositivo constitucional já possui uma eficácia plena, é
dizer, basta o ente devedor orçar o valor e não pagar para que a compensação possa ocorrer.
De uma forma simples, o texto constitucional autoriza sem a necessidade de qualquer ato
regulamentador a possibilidade de pagamento de débitos fiscais ou a própria compensação quando se
trata do art. 78, § 2.º, do ADCT (LGL\1988\31).
Atualmente, a compensação constitucional está prevista no art. 97 do ADCT (LGL\1988\31) que prevê
literalmente a auto aplicação de direito líquido e certo sem a necessidade de norma regulam entadora
para o credor de precatório compensar a quantia devida pelo ente devedor com tributos, quando não
recebera a importância devida no prazo estipulado, conforme dispõe o § 10 do mencionado artigo que
foi criado com o advento da EC 62/2009.
4. A COMPENSAÇÃO DOS PRECATÓRIOS COM TRIBUTOS DA UNIÃO
A sistemática da compensação constitucional de precatórios com tributos federais já estava prevista no
art. 97 do ADCT (LGL\1988\31), em especial, o disposto no § 9.º do dispositivo da Carta que prevê a
possibilidade de abatimento do valor do precatório quando da sua expedição com débitos já líquidos e
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certos, inscritos ou não em dívida ativa com a inclusão de débitos parcelados de credores de
precatórios que terão o abatimento também de parcelas vincendas ou que irão vencer das dívidas com
o ente devedor (por exemplo Refis, Paes, Paex etc.) para o efetivo encontro de contas. Não obstante,
mister ressaltar que, as dívidas junto ao ente devedor, objeto de impugnação administrativa ou judicial
com efeito suspensivo, cujo crédito tributário encontra-se com a suspensão da exigibilidade, não
poderá ser objeto de abatimento para a expedição do precatório, nos moldes do art. 97 do ADCT
(LGL\1988\31). 6
A Lei 12.431/2011, em seu art. 30, dispõe que a Fazenda Pública, antes da requisição do precatório
será intimada no órgão responsável pela representação processual no prazo de 30 dias para se
manifestar sobre algum débito existente pelo credor do precatório para fins de compensação ou
abatimento. 7 Caso haja algum débito do credor do precatório deverá a Fazenda Pública informar dados
precisos como por exemplo devedor e valores através da contadoria judicial.
4.1 A resposta do credor do precatório após a intimação para impugnação
O credor do precatório que teve a indicação de valores devidos pela Fazenda Pública a título de
compensação para a expedição do precatório poderá no prazo de 15 dias (depois que o juiz recebeu a
informação da Fazenda Pública e intimou o credor) se manifestar sobre a indicação de valores para
abatimento. Nesse momento, o credor do precatório poderá impugnar matéria específica como erro
aritmético, débitos suspensos ou extintos e efeito suspensivo de ações judiciais. Caso o credor do
precatório tenha a opção de discutir qualquer outra matéria que não as anteriormente mencionadas
deverá se insurgir por intermédio de uma ação autônoma.
Após a impugnação do credor do precatório deve o juiz intimar a Fazenda Pública cujo débito foi
descontado a título de compensação para que esta se manifeste em 30 dias.
4.2 A decisão do juiz sobre a compensação e o recurso cabível
O juiz da execução poderá enviar o ofício de requisição da parte incontroversa (que não há discussão)
do precatório, sendo certo que, antes de enviar o ofício ao presidente do Tribunal para a requisição do
precatório da parte controversa proferirá decisão em 10 dias sobre a possibilidade ou não de
compensação de débitos, o montante desse valor submetido à compensação e o valor líquido do
precatório, conforme art. 33 da Lei 12.431/2011. Interessante mencionar que, do cálculo efetivado pelo
juízo já haverá a dedução tributária que será retida pela instituição financeira.
Apesar de resolver uma questão voltada à compensação, o recurso cabível da mesma será o agravo de
instrumento, conforme disposto do art. 34 da Lei 12.431/2011. É certo, que tal recurso terá o efeito
suspensivo, suficiente, portanto, para não permitir a requisição do precatório ao Tribunal até que haja o
trânsito em julgado da decisão.
Da mesma forma tratada no art. 526 do CPC (LGL\1973\5), 8 o agravante deverá requerer a juntada de
cópia da petição do agravo com o comprovante de sua interposição, bem como a relação de
documentos que instruíram o recurso no prazo de três dias, sob pena de inadmissibilidade do agravo,
conforme dispõe os §§ 2.º e 3.º do art. 34 da Lei 12.431/2011.
4.3 O momento da compensação do precatório com os tributos devidos
Com o julgamento do agravo de instrumento sobre as questões controversas haverá se transcorrido o
prazo para qualquer outro recurso, o trânsito em julgado da decisão que determinou a compensação de
valores de precatórios com tributos devidos. Assim, nesse momento haverá a consumação da
compensação, sendo certo, que, a condição resolutória dessa compensação será a disponibilização
financeira do precatório.
A Fazenda Pública será intimada, com remessa dos autos, para fins de registro acerca da decisão da
compensação que transitou em julgado, já que no prazo de 30 dias deverá devolver os autos com
dados para preenchimento de documentos de arrecadação referentes aos débitos compensados. O juízo
após recebimento desses dados informará o credor do precatório no tocante à compensação efetivada.
Ainda, caso haja parcelamento em andamento (Refis, Paes, Paex, Parcelamento Ordinário etc.) e o
valor do precatório do credor seja inferior ao débito para com a Fazenda Pública haverá a compensação
parcial das parcelas já vencidas de maneira crescente, ou seja, da primeira parcela vencida até a última
parcela vencida, diferentemente da compensação de parcelas vincendas, em que haverá a
compensação decrescente da última parcela até a primeira parcela que irá vencer.
4.4 A compensação de precatórios federais com tributos estaduais ou municipais e débitos
em face de autarquias federais
A compensação de precatórios com tributos federais como verificamos é possível, todavia, resta uma
dúvida quanto à possibilidade de compensação desses precatórios decorrentes de sentenças judiciais
transitadas em julgado em face da União com débitos dos entes federativos ou mesmo uma autarquia
federal.
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Em um primeiro momento, os créditos tributários constituídos por outros entes federativos que não a
União (Estados, Distrito Federal e Municípios) não poderão ser compensados com precatórios federais,
haja vista a autonomia e independência de cada ente federativo e a sua sistemática própria de
cobrança de tributos. Logo, não haveria nesse momento, primeiro, tal possibilidade de abatimento de
tributos de entes autônomos com o precatório advindo da União.
Ademais, a Lei 12.431/2011, em seu art. 30, § 6.º veda tal possibilidade ao mencionar que os débitos
e créditos compensados serão aqueles decorrentes de uma mesma pessoa jurídica que é devedora do
precatório. 9
Todavia, como alertamos esse é um primeiro momento, uma vez que o próprio texto constitucional ao
acrescentar alguns parágrafos no art. 100 da CF (LGL\1988\3) permitiu a União a possibilidade de
assumir débitos oriundos dos entes federativos, tais como Estados, Distrito Federal e Municípios. 10
Nessa ótica, segunda, com o advento de lei específica, acreditamos que a União Federal pode efetivar o
encontro de contas de créditos tributários de outros entes federativos com precatórios federais, desde
que, tenha assumido a dívida destes entes e, posteriormente, permita o abatimento dos tributos desses
entes federativos com os mencionados precatórios da União. Essa visão permite, s.m.j., a efetividade
do texto constitucional, uma vez que, como levantamento já mencionado de mais de 84 bilhões de
precatórios devidos até 2010 pelos entes federativos, excluída a União, dificilmente os Estados de São
Paulo, Paraná e Espírito Santo, os maiores devedores de precatórios estaduais conseguirão pagar suas
dívidas de precatórios em 15 anos, conforme o novo texto constitucional sem o auxílio da União
Federal.
No que toca os débitos de credores de precatórios com autarquias entendemos que pela aproximação
desse ente que é um “braço” do Estado no exercício de suas atividades existe a possibilidade de
compensação de precatórios federais com a autarquia federal, uma vez que todos possuem uma
administração da mesma Fazenda Pública, a Federal, razão pela qual invocamos, inclusive, decisão
monocrática do ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal para avalizar tal premissa de acordo
com o julgado em RE 550.400/RS. 11
4.5 A compensação das requisições de pequeno valor com tributos federais
Uma questão interessante que deve ser abordada é a atinente à possibilidade ou não de compensação
das chamadas RPV'S ou requisições de pequeno valor com os tributos do mesmo ente federal devedor
do precatório. Como sabemos as requisições possuem tratamento especial no texto constitucional,
inclusive com prioridade de pagamentos em comparação com os precatórios, conforme dispõe o art.
100, § 3.º, da CF/1988 (LGL\1988\3). 12
Não é necessária, assim, a expedição de precatório de valores devidos pelos municípios em até trinta
salários mínimos, pelos Estados e Distrito Federal em até quarenta salários mínimos e pela União em
valores devidos até sessenta salários mínimos.
Com isso, o art. 44 da Lei 12.431/2001 define que a sistemática dos precatórios no que toca à
compensação não é a mesma da requisição de pequeno valor, que deve seguir os dispositivos aplicados
pelo Código de Processo Civil (LGL\1973\5), em especial, os arts. 730 e 731, que trata da execução
contra a Fazenda Pública. 13
Acreditamos que mesmo com a disposição legal desfavorável à compensação de RPV com tributos
existiria tal possibilidade se aplicássemos uma interpretação sistemática do ordenamento jurídico, em
especial, a celeridade processual, que permitiria o encontro de contas entre o ente federativo e o credor
de RPV de imediato, sem maiores complicações burocráticas, uma vez que, em muitas das vezes o
credor de pequenos valores demora mais de um ano para receber a mencionada quantia.
Já o art. 87 do ADCT (LGL\1988\31) prevê no parágrafo único que, o credor poderá renunciar os
valores maiores que as requisições de pequeno valor para que receba seu crédito de imediato sem a
abordagem dos precatórios. 14 Ocorre, nessa oportunidade a possibilidade por exemplo de um credor
de precatório federal de 130 salários mínimos renunciar 70 salários mínimos para que possa receber 60
salários mínimos em requisição de pequeno valor. Nessa ocasião, entendemos que o valor “renunciado”
deverá ser limitado, nos moldes do art. 28 da Res. CNJ 115/2010, a um deságio de 50% do valor total
do precatório. 15
Dessa forma, o valor remanescente do exemplo de 130 salários mínimos seria oferecido ao credor do
precatório para a compensação de tributos, sob pena de ofensa ao direito fundamental de propriedade,
pois se adotamos a sistemática de parâmetros para limitar o deságio em 50% nos leilões dos
precatórios, sistemática diferente não poderá ser aplicada no caso de “renúncia” para o recebimento de
uma quantia em requisição de pequeno valor.
O credor do precatório de 130 salários mínimos mencionado no nosso exemplo, com isso ficaria com
um bônus de 10 salários mínimos para utilizar em compensações futuras de tributos, como
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explicaremos no próximo tópico, 60 salários de fato renunciados para receber outros 60 salários
mínimos em dinheiro.
4.6 A compensação de precatórios já expedidos com tributos a vencer
Outro tema interessante é a compensação de tributos vincendos com precatórios já expedidos em que
a sistemática é diferente da Lei 12.431/2011. A referida lei trata de débitos ou tributos para
compensação com precatórios, mas com uma exposição antes da expedição do precatório ao
beneficiário. Ocorre que, em algumas ocasiões haverá a expedição do precatório e o atraso no
pagamento, uma vez que os entes federativos não pagam as suas dívidas em dia, momento este, que
ocasionará a possibilidade de encontro de contas de tributos a vencer de um beneficiário de precatório.
A mera leitura do art. 97, § 10, II, do ADCT (LGL\1988\31), expõe a autoaplicabilidade do dispositivo
constitucional sem a necessidade da regulamentação posterior com a edição de alguma lei.
Nesse diapasão, o direito líquido e certo do credor do precatório poderá ser utilizado sem a adoção de
maiores burocracias, já que existe um crédito e um débito em face de uma determinada pessoa, sendo
necessário, somente, o encontro de contas.
O credor de precatório não pago poderá, caso tenha uma maior diligência pedir a habilitação do crédito
junto à Receita Federal para um encontro de contas eletrônico através do sistema PER/DCOMP (Pedido
Eletrônico de Restituição, Ressarcimento ou Reembolso e Declaração de Compensação). No entanto,
caso assim não o fizer acreditamos que o direito líquido e certo conferido pela Constituição Federal
(LGL\1988\3) não pode causar qualquer ônus ao credor de precatório que compensou o tributo sem a
referida habilitação.
5. A EMISSÃO DA CPD-EN E A DISPONIBILIZAÇÃO DOS VALORES DO PRECATÓRIO
Uma vez transitada em julgado a decisão que resolveu a compensação de precatórios com tributos
federais não poderão estes ser cobrados até que haja a disponibilização financeira do precatório. É
certo, ainda, que enquanto os valores do precatório não forem depositados é possível o credor do
precatório exigir a certidão positiva com efeitos de negativa atinente aos créditos tributários objeto da
compensação com precatórios, conforme art. 36, § 5.º, da Lei 12.431/2011.
Já a compensação no que toca os efeitos financeiros do repasse de verba determinada pela
Constituição Federal (LGL\1988\3) somente se operacionalizará no momento em que os valores do
pagamento do precatório estiverem disponíveis nos cofres da União.
6. A REQUISIÇÃO DO PRECATÓRIO E A ATUALIZAÇÃO DOS VALORES
A requisição do precatório, conforme dispõe o art. 37 da Lei 12.431/2011 deverá ocorrer pelo juiz ao
enviar as informações para o Tribunal correspondente ao valor integral do crédito tributário ou o débito
da Fazenda Pública, assim como, o valor que foi deferido para a compensação, além dos dados para
preenchimento dos documentos de arrecadação e valor líquido a ser pago ao credor do precatório,
sempre com a observação das deduções tributárias (por exemplo imposto de renda) que devem ser
retidas pela instituição financeira.
Fato notório é o índice da taxa Selic utilizado pela Fazenda Pública, quando da atualização dos valores
devidos a título de tributo pelo credor do precatório, pois os valores do crédito tributário que serão
compensados com os precatórios até a data do trânsito em julgado da decisão judicial que determina a
compensação serão atualizados de forma desproporcional à atualização dos precatórios, conforme
disposto no art. 36 da Lei 12.431/2011. 16
A atualização do precatório, enquanto não houver o trânsito em julgado da decisão que determina a
compensação entre o crédito tributário e o precatório será nos moldes do § 12 do art. 100 da CF/1988
(LGL\1988\3) que determina a atualização do precatório com a remuneração do índice da caderneta de
poupança, quando assim o juiz determinar. Isso porque a verba do precatório tem disposição
constitucional para uma atualização após o período de inclusão no orçamento do ente devedor e seu
efetivo pagamento de um índice aplicado à caderneta de poupança. Dessa maneira, vários magistrados
antes da requisição do precatório, é dizer, quando da determinação em sentença do pagamento do ente
devedor, já especifica que, o índice para reajuste de valores até a inclusão no orçamento do ente
devedor e posterior ao efetivo pagamento (período antes e depois dos 18 meses) deve ser o índice da
poupança. 17
Enquanto, portanto, não se expedir o precatório, a atualização será efetivada com índice inferior ao da
atualização do débito tributário do credor do precatório para com a Fazenda Pública, já que, somente
aplicar-se-á o mesmo índice da caderneta de poupança para a atualização do crédito tributário, após o
trânsito em julgado da decisão de compensação, 18 mas nesse ínterim as atualizações serão
diferenciadas.
A título de exemplo, o índice da taxa Selic utilizado para cobrança dos créditos da Fazenda Pública
Federal no mês de julho de 2010 foi de 0,97%, ao passo que no mesmo período o índice da caderneta
de poupança fora de 0,61%.
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cada vez mais com Resoluções como a Res. CNJ 115/2010 e a Lei 12.431/2011 o Estado ofereça meios
de fazer valer o crédito do cidadão que durante um século praticamente se tornou refém de um Estado
que legisla e não faz aplicar as suas leis que, por corolário impede a efetividade do direito
constitucional.
12. BIBLIOGRAFIA
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Actualizado por Pablo L. Manili. Buenos Aires: Ediar, 2010.
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Vaz, José Otavio de Vianna. O pagamento de tributos por meio de precatórios. Belo Horizonte: Del Rey,
2007.
§ 3.º Entende-se como receita corrente líquida, para os fins de que trata este artigo, o somatório das
receitas tributárias, patrimoniais, industriais, agropecuárias, de contribuições e de serviços,
transferências correntes e outras receitas correntes, incluindo as oriundas do § 1.º do art. 20 da
Constituição Federal (LGL\1988\3), verificado no período compreendido pelo mês de referência e os 11
(onze) meses anteriores, excluídas as duplicidades, e deduzidas:
(…).”
4 Art. 78, § 2.º, ADCT (LGL\1988\31): “As prestações anuais a que se refere o caput deste artigo
terão, se não liquidadas até o final do exercício a que se referem, poder liberatório do pagamento de
tributos da entidade devedora.”
5 Art. 170, CTN (LGL\1966\26): “A lei pode, nas condições e sob as garantias que estipular, ou cuja
estipulação em cada caso atribuir à autoridade administrativa, autorizar a compensação de créditos
tributários com créditos líquidos e certos, vencidos ou vincendos, do sujeito passivo contra a Fazenda
Pública.”
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18 “Art. 39. O precatório será corrigido na forma prevista no § 12 do art. 100 da CF/1988
(LGL\1988\3). § 1.º A partir do trânsito em julgado da decisão judicial que determinar a compensação,
os débitos compensados serão atualizados na forma do caput.
(…).”
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