You are on page 1of 30

UNIVERSIDADE PAULISTA

ACÁSSIA FERNANDA DA SILVA

O IMPACTO DA INSTITUCIONALIZAÇÃO NA CRIANÇA E NO


ADOLESCENTE:

Os danos à Saúde Mental

SÃO PAULO

2017
ACÁSSIA FERNANDA DA SILVA

O IMPACTO DA INSTITUCIONALIZAÇÃO NA CRIANÇA E NO


ADOLESCENTE:

Os danos à Saúde Mental

Trabalho de conclusão de curso para


obtenção do título de especialista em
Saúde Mental para Equipes
Multiprofissionais apresentado à
Universidade Paulista - UNIP.
Orientadores:
Profa. Ana Carolina S. de Oliveira
Prof. Hewdy L. Ribeiro

SÃO PAULO

2017
Silva, Acássia Fernanda da
O impacto da institucionalização na criança e no
adolescente: os danos à saúde mental / Acássia Fernanda
da Silva – São Paulo, 2017.
29 f.
Trabalho de conclusão de curso (especialização) –
apresentado à pós-graduação lato sensu da Universidade
Paulista, São Paulo, 2017.
Área de concentração: Saúde mental

“Orientador: Prof. Ana Carolina Schmidt de Oliveira”

1. Famílias. 2. Institucionalização. 3. Criança e adolescente.


4. Saúde mental. I. Universidade Paulista - UNIP. II. Título.
III. Silva, Acássia Fernanda da.
ACÁSSIA FERNANDA DA SILVA

O IMPACTO DA INSTITUCIONALIZAÇÃO NA CRIANÇA E NO


ADOLESCENTE:

Os danos à Saúde Mental

Trabalho de conclusão de curso para


obtenção do título de especialista em
Saúde Mental para Equipes
Multiprofissionais apresentado à
Universidade Paulista - UNIP.
Orientadores:
Profa. Ana Carolina S. de Oliveira
Prof. Hewdy L. Ribeiro

Aprovado em:

BANCA EXAMINADORA

_______________________/__/___

Prof. Hewdy Lobo Ribeiro

Universidade Paulista – UNIP

_______________________/__/___

Profa. Ana Carolina S. Oliveira


DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho a meu marido Wallace e meu filho Pietro que me
apoiaram durante todo o trajeto rumo a mais essa conquista. Minha família é
tudo para mim, é sem dúvida meu porto seguro. Meu marido e meu filho tem
sido compreensivos em minha busca constante por aprimoramento e
conhecimento. Sabem que o Serviço Social é, mais do que minha profissão,
minha essência. Certamente não é fácil conviver com alguém tão intensamente
apaixonada pelo social, a arte de olhar para o outro e ver além da figura!

Por isso, sou eternamente grata!


AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus, pela oportunidade de conhecimento e


a conquista alcançada.

Aos professores pela sabedoria e determinação com que me orientou


durante a realização deste curso.

Agradeço aos meus irmãos Rodrigo, Patrícia e Valquíria que me


apoiaram e cuidaram do meu filho Pietro enquanto eu estudava.

Agradeço a minha amiga Júlia, companheira de estudo e da vida.

Agradeço em especial a minha amiga Cristiane que me apoiou e


orientou durante este feito.

Não podemos deixar de agradecer à Casa de Passagem, local este


onde trabalhei e tive o prazer de conhecer mulheres que, despertaram em mim
o interesse e admiração pela Saúde Mental.
As falsas Recordações

“Se a gente pudesse escolher a infância que teria vivido,


com enternecimento eu não recordaria agora aquele velho
tio de perna de pau, que nunca existiu na família, e aquele
arroio que nunca passou aos fundos do quintal, e onde
íamos pescar e sestear nas tardes de verão, sob o
zumbido inquietante dos besouros...” – Mário Quintana
RESUMO

O presente trabalho apresenta como objeto de estudo o impacto da


institucionalização na criança e no adolescente e os danos à saúde
mental como resultado. Os objetivos constituem em descrever o
processo de transição da família de origem para a instituição de abrigos;
identificar os impactos à saúde mental de crianças e de adolescentes a
partir da institucionalização; apontar os desafios da atuação profissional
dos técnicos das instituições de abrigo na efetivação de acolhimento,
direitos e de fortalecimento de vínculos. Trata-se de revisão de literatura
sobre as instituições de abrigo, abordando os principais agravos à saúde
mental de crianças e de adolescentes institucionalizados. Foram
utilizados: leis, artigos acadêmicos, dissertações, monografias, para a
concretização da presente pesquisa. Puderam ser destacados nos
resultados, que muitos autores discutem a vivência institucional como
um agravo à saúde mental, enquanto outros indicam que a
institucionalização pode ser uma alternativa positiva quando a família de
origem oferece um espaço desorganizado e caótico e as instituições de
abrigo acolhem adequadamente crianças e adolescentes substituindo
provisoriamente o papel familiar. Além disso, é necessário investir neste
espaço de socialização que são as instituições de acolhimento porque
fazem parte da rede de apoio de muitas famílias brasileiras.

Palavras- chave: Famílias; Institucionalização; Crianças; Adolescentes;


Saúde Mental.
ABSTRACT

The present study presents as an object of study the impact of


institutionalization on children and adolescents and the damages to
mental health as a result. The objectives are to describe the process of
transition from the family of origin to the institution of shelters; to identify
the mental health impacts of children and adolescents from
institutionalization; to point out the challenges of the professional
performance of the technicians of the institutions of shelter in the
accomplishment of reception, rights and strengthening of bonds. It is a
review of the literature on shelter institutions addressing the main mental
health problems of children and adolescents institutionalized. We used:
laws, academic articles, dissertations, monographs, to carry out the
present research. It may be pointed out in the results that many authors
discuss institutional experience as an aggravation to mental health, while
others indicate that institutionalization can be a positive alternative when
the family of origin offers a disorganized and chaotic space and shelter
institutions adequately accommodate children and adolescents
provisionally replacing the family role. In addition, it is necessary to invest
in this space of socialization that are the host institution because they are
part of the support network of many Brazilian families.

Key-words: Family; Institutionalization; Children; Adolescents; Mental


Health.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO......................................................................................... 10

2 OBJETIVO............................................................................................... 12

3 METODOLOGIA...................................................................................... 13

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................... 14

5 CONCLUSÕES........................................................................................ 26

REFERÊNCIAS.......................................................................................... 28
10

1 INTRODUÇÃO
As instituições que acolhem crianças e adolescentes em condições
socioeconômicas desfavorecidas, que perderam seus vínculos familiares,
vivem uma constante evolução desde a promulgação do Estatuto da Criança e
do Adolescente, em 1990 (RIZZINI; RIZZINI 2004).
Ao longo das décadas, gerações de crianças e adolescentes passaram
suas infância e adolescência dentro de uma instituição de abrigo. Marcadas
pelo abandono, exclusão, abusos e falta de direitos, ainda hoje, mesmo após o
Estatuto da Criança e do Adolescente, essa cultura persiste em estar presente
e crianças e adolescentes, ainda crescem longe dos vínculos familiares de
origem (RIZZINI; RIZZINI 2004).

Para Rizzini e Rizzini (2004), no Brasil, ao longo de sua história, desde o


período colonial, foram criados colégios internos, seminários, asilos, escolas de
aprendizes artífices, educandários, reformatórios, casas-lares dentre outras
nomenclaturas institucionais surgidas de acordo com as tendências
educacionais e assistenciais de cada época, que atualmente chama-se de
abrigo.

Os abrigos são instituições que têm o respectivo papel de acolher


crianças e adolescentes que perderam seus vínculos familiares, recebendo a
responsabilidade de zelar pela integridade física e mental de crianças e
adolescentes, substituindo provisoriamente os cuidados necessários, até
completarem a maioridade e assim voltarem para suas famílias de origem se
for o caso (SILVA 2010).

Para a psicóloga Dra. Weber (2000) é no contexto de pobreza de parte


do Brasil que encontramos a maioria dos casos de abandono de crianças:
abandonos pela negligência, ou abandono nas ruas, nos lixos, nas
maternidades e em instituições. Para a mesma autora, o fenômeno está
fortemente associado à proibição legal do aborto, à miséria, à falta de
esclarecimento à população, à condenação pelo filho “ilegítimo”.

Desta forma, a preocupação com a temática está enraizada na vivência


no espaço sócio ocupacional de trabalho em abrigo. O questionamento acerca
dos possíveis danos à saúde mental de crianças e adolescentes associados à
11

institucionalização em abrigos impulsionou a realização da presente pesquisa,


uma revisão da literatura que aborda a temática, proporcionando a busca de
respostas a tantos questionamentos, levando-se em conta, que crianças e
adolescentes devem ser tratados como sujeitos de direito.
Segundo Tavares (2001) o Direito da Infância e Juventude no Brasil é o
sistema de métodos de estudo e aplicação dos princípios jurídicos e das
normas referentes aos sujeitos do Direito Especial de proteção integral,
pessoas de menos de 18 anos de idade, consideradas pela Constituição e Lei
em estágio peculiar de desenvolvimento biopsicossocial.
A institucionalização em abrigos não é um fato novo, porém ainda
precisa ser estudada e pesquisada para melhor entendermos o porquê de
ainda hoje crianças e adolescentes crescerem em instituições ou em famílias
substitutas.
É fundamental entender que falar sobre os possíveis danos à Saúde
Mental de crianças e de adolescentes que são institucionalizados, exige
sempre um aprofundamento teórico social crítico sobre a realidade da
institucionalização.
Por fim, apresenta-se algumas considerações finais a partir da revisão
bibliográfica, considerações, jamais definitivas, sobre as reflexões ao objeto de
estudo deste trabalho.
Trata-se de buscar respostas ao cotidiano institucional e os seus
agravos que precisam ser identificados. Espera-se que a reflexão de que a
infância e a adolescência que esses sujeitos de direito deixam de desfrutar
porque passam institucionalizados sirvam de estímulo e enriqueçam a luta em
favor de novas pesquisas, políticas públicas, acolhimento humanizado e
educação permanente.
12

2 OBJETIVOS

O presente trabalho tem por objeto de estudo, o impacto da


institucionalização na criança e no adolescente e o enfoque dos danos à saúde
mental como resultado da institucionalização, com o principal objetivo de
compreender em que medida a institucionalização em abrigos interfere na
saúde mental de crianças e de adolescentes. E desta forma os objetivos
específicos são:

• Verificar os motivos da institucionalização em crianças e adolescentes.


• Identificar os impactos à saúde mental de crianças e de adolescentes
institucionalizados em abrigos.
• Apontar os desafios da atuação profissional dos técnicos das
instituições na efetivação de acolhimento, direitos e de fortalecimento de
vínculos.
13

3 METODOLOGIA

O caminho percorrido diz respeito à uma revisão de literatura com


estratégia de busca utilizando as bases Lilacs e Google Acadêmico. Foram
selecionados materiais como: leis, artigos acadêmicos, dissertações, e
relacionados ao tema, com a preocupação de buscar autores que discorrem
sobre a temática e outros assuntos relacionados pertinentes aos abrigos.
Também foram utilizados livros da área.

A presente pesquisa é qualitativa. Os materiais que compuseram a


amostra deste estudo contemplam os seguintes critérios de inclusão:
publicações a partir de 1990- ano de promulgação do Estatuto da Criança e do
Adolescente. A seleção dos materiais baseou-se nos seguintes critérios: 1)
abordagem de temática pertinente às questões de institucionalização; 2)
agravos à saúde mental de crianças e de adolescentes institucionalizados em
abrigos; 3) desafios da atuação profissional dos técnicos das instituições na
efetivação de acolhimento, direitos e de fortalecimento de vínculos.
14

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para organização da discussão, o material coletado está identificado


com o nome do autor, nome da obra e ano de publicação.

Foram selecionadas as autoras Rizzini e Rizzini que escreveram o


clássico: A institucionalização de crianças no Brasil: percurso histórico e
desafios do presente, publicado no ano de 2004. As autoras utilizaram como
metodologia para a realização deste livro, fazer uma análise da literatura sobre
a questão da institucionalização de crianças e de adolescentes. O estudo
propõe um debate contemporâneo sobre a renitente continuidade de uma
cultura de exclusão de crianças e adolescentes que se inicia ainda no âmago
das políticas ditas de proteção. São analisadas as tendências e perspectivas
mundiais da desinstitucionalização (no sentido de evitar a internação de
crianças), e discutidos modelos e metodologias alternativas capazes de
oferecer maior apoio às famílias na proteção de seus próprios membros, ou no
acolhimento de outros que precisam de seu carinho e cuidado.

Para as autoras a análise da literatura sobre a questão da


institucionalização de crianças e adolescentes, bem como a própria experiência
de trabalho nesta área, identifica que crescer em instituições não é bom para
as crianças. Um incontável número de estudos bem divulgados no século XX
revelou as consequências desastrosas desta prática para o desenvolvimento
humano. No entanto, o tema vem à tona no início do terceiro milênio com a
constatação de que uma parcela significativa de crianças ainda hoje vive em
instituições.

Explicam que em muitos países as principais causas da


institucionalização assemelham-se às brasileiras: ela constitui uma alternativa
às famílias pobres, que veem nas instituições a chance de que seus filhos se
alimentem, estejam seguros e tenham acesso à educação. Portanto, a situação
de pobreza continua levando às instituições crianças que não precisariam ser
afastadas de suas famílias e comunidades.

Para as autoras os motivos mais comumente apontados à


institucionalização estão ligados aos seguintes fatores:
15

(a) mudanças rápidas em diversas sociedades, conduzindo a


condições de vida adversas, com elevados índices de deslocamento
e imigração de populações. Na falta de alternativas, estas situações
acabam levando muitas crianças e adolescentes às instituições;

(b) a busca de instituições como forma de proteger os filhos da


violência, principalmente em situações de guerra, instabilidade social
e conflitos familiares;

(c) crianças com deficiências físicas ou mentais;

(d) crianças com doenças graves, como, por exemplo, a AIDS, ou


crianças que perderam os pais devido à AIDS;

(e) as instituições também são mantidas porque atraem doadores e


lhes dão visibilidade. (RIZZINI E RIZZINI, 2004, p. 78).

E nesta fração o Ministry of Foreing Affairs (2001 apud Rizzini; Rizzini,


2004) afirmam que para muitos, predomina a ideia de que as instituições
resolvem o problema de crianças com dificuldades familiares. Porém, é fato
constatado mundialmente que o atendimento institucional é, em geral, ineficaz
e caro, custando até seis vezes mais do que iniciativas que apoiem a família no
cuidado dos seus filhos.

Segundo as autoras, colocando a questão da institucionalização em seu


devido lugar, crianças não deveriam ser institucionalizadas por serem pobres,
mas ainda são, esta é uma questão da esfera das políticas públicas. Há que se
criar alternativas, respeitando-se as necessidades das crianças e seus direitos.
Outras formas de cuidado às crianças precisam ser desenvolvidas. Para os
casos em que o atendimento institucional ainda se faz necessário, em caráter
provisório, a instituição não deve privar a criança do convívio social ou tentar
ocupar o lugar da família. Sistemas alternativos aos internatos, e já
amplamente testados no país e no exterior, são preferíveis, tais como múltiplas
formas de apoio no âmbito da família e da comunidade, colocação em família
substituta, adoção, entre outros.

Os autores Bullock et al (1999 apud Rizzini; Rizzini, 2004) fazem um


alerta: o que não pode acontecer é a omissão do Estado no planejamento e
execução das políticas, deixando a situação nas mãos da ação policial, como
ocorria normalmente na passagem do século XIX para o XX, com as operações
de recolhimento de crianças nas ruas. Infelizmente, esta é ainda uma prática
corrente, pelo menos nas grandes cidades do país. O atendimento de crianças
em instituições deve ser visto como parte de uma gama de serviços que pode
16

ser oferecida a crianças e adolescentes em circunstâncias especiais. Ele não


pode ser um fim em si, mas um recurso a ser utilizado quando necessário. Esta
é uma recomendação afinada com os princípios estabelecidos pela Convenção
das Nações Unidas pelos Direitos da Criança e pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente. De acordo com esta orientação, quando o atendimento fora da
família é inevitável, medidas devem ser tomadas para assegurar que ele seja o
mais adequado possível às necessidades da criança ou do adolescente,
levando em consideração sua opinião e seus desejos.

A autora Silva com sua dissertação: Acolhimento institucional: a


maioridade e o desligamento, publicado no ano de 2010, utilizou como
metodologia um Estudo de Caso, fazendo uma trajetória institucional de um
jovem, com mais de 18 anos de idade. Silva teve o objetivo de verificar na sua
pesquisa os efeitos do processo de institucionalização em abrigo, no que diz
respeito à preparação e à orientação de projetos de vida para o jovem que, ao
completar a maioridade, ou seja, 18 anos, deve ser obrigatoriamente desligado
do serviço de acolhimento.
A autora focou o modo como as ações propostas nos serviços ou a falta
dessas ações influenciaram na vida do jovem recém-egresso no lidar com o
“mundo adulto”. Silva afirma que, a família, evidentemente, é o principal lócus
de referência para jovens que estão ingressando na vida adulta. Porém, no
caso de José, em que a autora acompanhou o caso, a mesma identificou que
existiu a ausência da sua família ou de uma família substituta, o serviço de
acolhimento deveria assumir esse papel substituto na orientação e preparação
do projeto de vida futuro do jovem. Como já considerado neste estudo, o
serviço não cumpriu devidamente seu papel neste intento.
A autora Martins (2009 apud Silvia, 2010) identificou que após o
desligamento, não é mais função da equipe do abrigo lidar com a orientação do
jovem fora da instituição. Neste caso, a existência de serviços substitutos,
como repúblicas, se mostra crucial, bem como a existência de políticas
públicas para a juventude, que oferecessem condições para que o jovem
tivesse participação social mediante a garantia de seus direitos, não sendo
objeto de uma “inclusão perversa” na sociedade.
17

As autoras Siqueira e Dell’ Aglio (2006) com o Artigo: O impacto da


institucionalização na infância e na adolescência: uma revisão de Literatura,
publicado em 2006. As autoras utilizaram como metodologia fazer uma revisão
da literatura a partir da Teoria Ecológica do Desenvolvimento Humano e do
Estatuto da Criança e do Adolescente. Principais fatores identificados:
Constatar que as instituições de abrigo fazem parte da rede de apoio de muitas
famílias, investir para que as instituições de abrigo possam acolher crianças e
adolescentes e substituir provisoriamente os cuidados necessários.
As mesmas autoras Siqueira e Dell’ Aglio (2006) constataram que as
instituições de abrigo fazem parte da rede de apoio de muitas famílias
brasileiras, há muitas décadas, principalmente em decorrência de problemas
sociais, associados à situação de pobreza e ao perfil de distribuição de renda
no Brasil, elas acreditam que estes aspectos macrossistêmico precisam ser
combatidos, através de políticas públicas, visto que incrementam a
vulnerabilidade das famílias, aumentando a demanda desta população por
instituições de abrigo para assistência a seus filhos.
Da mesma forma, as autoras Siqueira e Dell’ Aglio (2006) trouxeram a
análise de estudos recentes que constatou uma melhora na qualidade da
assistência oferecida nos abrigos, melhoras essas diretamente relacionadas à
construção e à implementação do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Siqueira e Dell’ Aglio (2006) afirmam que uma vez que a instituição de
abrigo é necessária, é preciso que ela seja de pequeno porte, assegure a
individualidade de seus integrantes e possua uma estrutura material e de
funcionários adequadas. Para Yunes (2004 apud Siqueira e Dell’ Aglio 2006) é
necessário transformar a instituição de abrigo num ambiente de
desenvolvimento, capacitando e instrumentalizando, e vão sugerir ações
estratégicas como:
a) Promover um programa lúdico de atividades para as crianças e
os adolescentes abrigados junto com os funcionários, o que
incentivaria os cuidados a desenvolver brincadeiras infantis;
b) Oportunizar encontros entre os profissionais de diferentes
abrigos, a fim de criar um espaço de troca de experiência e melhorar
a comunicação interinstitucional;
c) Capacitar profissionalmente os cuidados, para que eles
possam aprender sobre desenvolvimento infantil numa visão
contextualizada, sobre as práticas educativas, sobre a violência
doméstica, sobre as medidas socioeducativas e também para que
eles possam compreender as teorias implícitas que permeiam o
18

ambiente institucional. (SIQUEIRA E DELL’ AGLIO, 2006, apud


YUNES, 2004, p.78)

Segundo Siqueira e Dell’ Aglio (2006) os profissionais das entidades que


oferecem programas de abrigo têm um importante papel de educadores, o que
requer uma profissionalização da área e uma política de recursos humanos que
envolva capacitação permanente, incentivos e valorização, incluindo uma
remuneração adequada. A formação continuada desta equipe deve buscar,
ainda, a formação de uma consciência social em prol do bem-estar desta
população, considerando que o trabalho institucional traz repercussões
diretamente relacionadas ao desenvolvimento das crianças e adolescentes
abrigados.
Para Siqueira e Dell’ Aglio (2006) precisa acrescentar um trabalho
organizacional de valorização do funcionário ou monitor dos abrigos, de forma
que não seja um ofício temporário e rotativo. A efetivação destas ações
contribuiria para uma autovalorização do funcionário ou monitor; e
consequentemente, diminuiria a possibilidade rompimento constante de
vínculos.
Segundo Siqueira e Dell’ Aglio (2006) existem agravos a saúde mental
devido à institucionalização, o que indica a necessidade de desenvolver mais
estudos sobre os processos presente neste contexto.
As autoras acreditam que se pode começar a oportunizar condições de
redução de fatores de risco já vivenciados nos seus ambientes de origem,
sistematizando uma maior integração e comunicação em via dupla dentro dos
abrigos e entre as entidades sociais e promover relações interpessoais
recíprocas, afetivas e com equilíbrio de poder.
Siqueira e Dell’ Aglio (2006) concluem dizendo que as instituições
assumem o lugar central na vida das crianças e dos adolescentes abrigados, e
em função disso, é necessário investir neste espaço de socialização
estabelecidas de forma a desestigmatizá-las, sendo necessário investir em
instituições mais estáveis e afetuosas no ambiente institucional, tanto as
relações dos funcionários com os internos quanto às relações entre os pares.
As crianças e os adolescentes institucionalizados precisam interagir
efetivamente com pessoas, objetos, símbolos e com um mundo externo
acolhedor, fazendo assim parte da rede de apoio social e afetivo, fornecendo
19

recursos para o enfrentamento de eventos negativos advindos tanto de suas


famílias quanto do mundo externo, modelos identificatórios positivos,
segurança e proteção assim oferecerá um ambiente propício para o pleno
desenvolvimento cognitivo, social e afetivo das crianças e adolescentes
inseridos neste contexto, sendo necessária a formulação de políticas públicas
de intervenção direcionadas diretamente às instituições de abrigo,
considerando o grande número de crianças e adolescentes abrigados, de
forma que se favoreça uma melhoria das condições de atendimento a esta
população. (SIQUEIRA; DELL’ AGLIO, 2006).
A autora Moura com sua monografia: O Direito à Convivência Familiar e
Comunitária das crianças e adolescentes em medida de proteção abrigo,
publicado em 2009, como procedimentos metodológicos optou-se para a
realização de instrumentos: pesquisa bibliográfica e documental. Na obtenção
da coleta de dados nos prontuários utilizou-se da pesquisa documental, na
pesquisa documental “a fonte de coleta de dados está restrita a documentos,
constituindo o que se denomina de fontes primárias” a autora utilizou oito
prontuários das crianças e dos adolescentes abrigadas na Casa Lar Emaús,
para a realização dessa coleta a autora utilizou nomes fictícios para os
entrevistados, e na parte bibliográfica, a mesma usou como auxílio:
dissertações, livros, artigos, relativos à temática.
Segundo a autora Moura (2009), a articulação das diversas políticas se
torna fundamental para que esses planos sejam efetivados, pois os dispositivos
legais existem, mas nem sempre são efetivados na prática, e principal mais
uma vez o Plano reforça o direito a convivência familiar e comunitária como um
direito fundamental.
A autora vai identificar que apesar das mudanças ocorridas através das
legislações não podemos deixar de enfatizar que as leis são importantes, mas
que não são suficientes se elas na prática não são efetivadas por completo.
O respectivo trabalho da autora teve como principal discussão e reflexão
o direito fundamental o direito da criança e do adolescente de viver e se
desenvolver na família em especial neste na família de origem (ou natural
como preconiza o ECA). Então com esse objetivo foi priorizado a atenção nas
crianças e nos adolescentes em medida de proteção abrigo, que ao ser
aplicada para garantir um direito, se perde um direito fundamental o direito a
20

convivência familiar e comunitário. A autora afirma que é através dessa


realidade, e desses questionamentos que foi possível construir sua respectiva
monografia. No estudo utilizando os prontuários, Moura verificou que a maioria
das crianças que se encontram abrigadas tem família, mas no impedimento
desta de prover os cuidados com os filhos estes são abrigados. Após o
abrigamento, a família é avaliada por certo tempo, e após se não ocorrem
mudanças seja na sua situação financeira, no mercado de trabalho, a
destituição do poder se torna uma realidade para essas crianças. Em relação
as ações realizadas no abrigo para o fortalecimento dos vínculos isso fica ao
encargo do interesse da família em reaver a guarda do filho. Outra realidade
que a autora aponta é a separação dos irmãos, pois além de serem separados
dos seus pais, são separados dos irmãos, tornando assim impossível a
preservação dos vínculos familiares, e também um processo traumático para a
criança. A autora identifica e faz um levantamento dos dados nos prontuários
que três crianças possuem os vínculos preservados com a família de origem.
Pode-se apontar como dificuldade da preservação do vínculo a não proteção
do Estado a essas famílias, dificultando assim o retorno familiar. Pois todas as
famílias se encontram em vulnerabilidade econômica, segundo a autora, sendo
assim, não consegue proporcionar a seus filhos os direitos básicos, é nestas
situações que o estado deveria intervir. Mas percebe-se que as ações por parte
deste são fragmentadas residuais, focalistas, e que não atendem as
necessidades das famílias e com isso o retorno familiar se torna algo distante.
E quanto aos procedimentos realizados pelo abrigo em relação à convivência
familiar e comunitária, percebe-se que há certa priorização em relação ao bem
estar da criança e do adolescente quanto ao seu crescimento e
desenvolvimento, e o atendimento família fica sobre a responsabilidades dos
programas de apoio e orientação sócio-familiar do Serviço Sentinela, não há
grupos de discussão com as famílias, encaminhamento à programas de apoio
por parte do abrigo a intervenção fica restrito ao atendimento individual e sobre
o interesse de cada família. É importante acrescentar que esses programas
não se apresentam como suficientes para o fortalecimento das famílias. O
apoio psicossocial se torna um elemento importante, mas não é suficiente para
atender as necessidades apresentadas pelas famílias das crianças e dos
adolescentes em abrigamento. Estas se encontram em situação de
21

vulnerabilidade social, tendo necessidades como: moradia, alimentação,


acesso a saúde, saneamento básico e educação. Assim observa-se que
apesar do ECA preconizar que a carência material não é motivo da aplicação
da medida, de fato é o que acontece. Ainda em relação aos programas de
apoio a família pode-se perceber que na sua maioria. (MOURA 2009)
A autora Cavalcante, com sua Dissertação: Relações interpessoais na
atenção à saúde mental de crianças residentes em lares substituídos.
Dissertação, publicado no ano de 2006. A autora utilizou como metodologia a
realização de grupo focal com as mães acolhedoras, que foi complementado
pela técnica de desenho com as crianças/adolescentes. O trabalho de campo
teve duração de quatro meses incluindo as sessões de grupo focal e visitas às
casas para realização dos desenhos com as crianças/adolescentes. Para
análise dos discursos provenientes do grupo focal e dos desenhos foi utilizada
a hermenêutica fenomenológica de Paul Ricouer. Do processo de análise e
interpretação surgiu a compreensão de o vínculo estabelecido entre a mãe
acolhedora e a criança cuidada é fundamentado em sentimentos afetuosos e é
gerador de vínculo.
Cavalcante (2006) afirma ter construído um novo saber a partir das falas
das mães acolhedoras, através dos desenhos das crianças que sofrem por não
terem um vínculo permanente e seus significados, e das conclusões de autores
reconhecidos que fundamentam teoricamente os achados desse estudo. A
autora vai apontar que a partir dessa construção foi se formando um novo
conhecimento sobre esse assunto que, no intuito de compreender a saúde
mental fundamentada na formação de vínculos, reconhece outra forma de lidar
com a situação de perda. Como consequência, aponta um novo fazer político,
mais efetivo que o atual, para os que se encontram nessa situação, e assim,
para a sociedade. A autora completa que durante esse percurso de construção
do saber foi possível ter a compreensão que não acontece vínculo sem
afetividade. E mostra sua inquietação: quando se fala em uma “mãe” que
recebe dinheiro pelos cuidados prestados. “Não fica uma relação mecânica, só
pelo dinheiro?” A autora, responde que não, porque os discursos das mães em
relação às crianças são ressaltados de emoção e afetividade. O cuidado gera
afeto, e assim elas sempre falam de crianças que cuidaram e do grande amor
22

que essa relação despertou nelas, levando algumas à adoção, como é o caso
de Isabella. A autora lembra que ainda sem adotar judicialmente, todas contam
histórias de crianças que ficam ou ficaram com elas além das fronteiras da lei.
Pois, apesar do dinheiro ser muito importante para complementar a renda
delas, chegam a ficar com as crianças em casa mesmo depois delas serem
desligadas do programa, como é o caso dos adolescentes com necessidades
especiais cuidados por Isabella e Regina (entrevistadas). As crianças que
chegam necessitadas de cuidado intenso recebem dedicação e afeto, e isso vai
além do que é pago a elas. E nesse sentido as crianças correspondem e
reconhecem o cuidado dispensado ressaltando a importância das mães
acolhedoras nas suas vidas chamando-as de “minha mãe”. Porém, a autora vai
dizer que mesmo fundamentada em sentimentos de afetos, como toda relação,
a relação mãe-filho substituta enfrenta dificuldades. E o tema da adoção é uma
das dificuldades mais comuns, pois a criança que deseja uma relação estável e
vive com a mãe acolhedora um vínculo afetivo tende a esperar que e essa o
adote.
A autora vai identificar como uma questão de extrema importância neste
tipo de relação é o como lidar com as consequências do abandono e os
comportamentos advindos da adolescência, assim, a autora percebe que há
uma dificuldade de colocar limites devido a um entendimento de que porque a
criança já sofreu muito não se pode ser muito enérgico ao chamar a atenção
quando se faz algo errado porque pode gerar problemas. Assim, compreende-
se que o modo de lidar deve ser diferente do empregado a uma criança que
não sofreu rejeição e/ou maus tratos, e por isso elas percebem a necessidade
de um acompanhamento psicológico não somente no início, quando a relação
se estabelece, mas durante alguns períodos mais críticos como a
adolescência. Agregado a psicoterapia, parece ser importante atividades
lúdicas e/ou de aprendizagem como cursos profissionalizantes para ocupar
melhor o tempo do adolescente.
Para Cavalcante (2006), a relação com a instituição deveria ser algo
que fundamentasse o trabalho da mãe acolhedora e da relação estabelecida
com a criança. Fazendo da mãe sua aliada, a instituição teria um serviço mais
responsável e motivado. No entanto, a autora percebe que algumas atitudes da
23

instituição em relação ao tratamento dispensado às famílias acolhedoras têm


dificultado o trabalho e interferido na relação da criança com a família.
Diante de tudo isso, a autora identifica os benefícios que esse sistema
propicia àqueles que dele participa. Ao mesmo tempo, esse programa
responde a princípios fundamentais do Estatuto da Criança e do Adolescente,
de forma especial ao direito à convivência familiar e comunitária. Porém, hoje
no Ceará onde a autora fez à respectiva, essa modalidade de cuidado tem
perdido o vigor. O que foi um dia foi considerado uma das três experiências
mais exitosas do país com mais de 20 mães acolhedoras, parece hoje repensar
seu sentido. Não é um problema legal, pois a lei foi criada e o ECA é um
verdadeiro avanço em termos jurídicos (CAVALCANTE 2006)

As autoras Silva e Silva, com o respectivo Artigo intitulado: De menor em


situação irregular a sujeitos de direitos – histórico da assistência à criança no
Brasil, publicado no ano de 2011, utilizaram como metodologia a revisão de
literatura de materiais produzidos acerca do tema como livros, artigos e
legislações existentes. Seguindo este pensamento, buscaram pontuar como a
busca da efetivação destes conceitos nos diversos contextos onde este público
é atendido ainda nos dias atuais é um desafio.
Segundo as autoras Silva e Silva (2011) dentro destas mesmas famílias,
grande parte das crianças brasileiras começa a serem vitimizadas desde o
processo de gestação, pois na maioria das vezes em especial as gestantes de
baixa renda, não têm acesso à saúde, condições dignas de vida, nutrição e
proteção contra todo tido tipo de violência. Quando sobrevivem às doenças da
infância. Para as autoras, a situação de vulnerabilidade a que a família está
exposta, associada à ausência de políticas públicas efetivas capazes de
atender as demandas destas famílias, representa uma condição que favorece
situações de risco que podem atingir todos os seus membros, em especial a
camada mais vulnerável: crianças, adolescentes, idosos. O contexto familiar
que deveria ser o espaço privilegiado de atenção das políticas públicas de
proteção e fortalecimento dos vínculos, com a finalidade de buscar alternativas
de superação frente às situações de vulnerabilidade e risco social e pessoal,
está cada vez mais fragilizado expondo seus membros a situações de risco
iminentes. A atenção à família por meio de políticas públicas eficazes constitui
24

sem dúvida um dos fatores condicionantes para se chegar às transformações


as quais a sociedade brasileira aspira e um dos eixos fundamentais da política
para proteção das crianças e dos adolescentes assim como a efetivação dos
preceitos contidos no Estatuto da Criança e Adolescente, a mais avançada
legislação existente no que tange à proteção à infância e juventude. (SILVA E
SILVA 2011)
A regulamentação do Estatuto da Criança e do Adolescente possibilitou
crianças e adolescentes a serem vistos como sujeitos de direito. Direitos
individuais, sociais, políticos, passam a nortear a ser atribuídos sendo
assegurados pela família, sociedade e Estado.

Para Rizzini e Rizzini (2004) essa cultura de existir crianças em situação


de rua, abandono de bebes rejeitados pelos pais, a vida em abrigos e as
violências no seio familiar que violam os direitos de crianças e de adolescentes
mesmo com a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, ainda é
forte no Brasil.

Em concordância, para Siqueira e Dell´Aglio (2006) o Estatuto da


Criança e do Adolescente “deixou a desejar’’ porque para as autoras, existe a
necessidade de ações direcionadas às equipes das instituições, a fim de
oportunizar melhores condições de trabalho e diminuição da rotatividade,
sendo necessário também entender a instituição como parte de apoio social
afetivo, que também pode oferecer um espaço para o desenvolvimento
saudável de crianças e adolescentes.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) veio dois anos depois da


Constituição Federal de 1988, se apresentando como um sistema legislativo
inovador, avançando nos direitos de crianças e adolescentes, em especial a
proteção integral da infância e da juventude.

Os motivos da institucionalização: Para Silva (2010), o motivo de


institucionalização está ligado à pobreza.

Em concordância, para Silva e Silva (2011) também está relacionado a


pobreza
25

A relação entre a pobreza e o processo de vitimização que vivem


grande parte das crianças e adolescentes brasileiras é estritamente
próxima, pois a pobreza ao potencializar a vulnerabilidade social das
famílias, aumenta fatores de risco possibilitando que essas famílias
tenham mais chances de ter em suas histórias de vida situações de
abandono, violência e negligência. As crianças e adolescentes das
camadas pobres do Brasil vivenciam cotidianamente esta situação,
fazendo com que, na maioria das vezes, ao se encontrarem em
situação de risco, os órgãos de defesa da criança e adolescente
optem por retirá-las de suas famílias. (SILVA E SILVA, 2011, p.10).

E nesta fração, em concordância, Rizzini e Rizzini (2004) afirmam que


crianças não deveriam ser institucionalizadas por serem pobres, mas ainda
são. Esta é uma questão da esfera das políticas públicas. Há que se criar
alternativas, respeitando-se as necessidades das crianças e seus direitos.
Outras formas de cuidado às crianças precisam ser desenvolvidas. E
completam: Para os casos em que o atendimento institucional ainda se faz
necessário, em caráter provisório, a instituição não deve privar a criança do
convívio social ou tentar ocupar o lugar da família. Sistemas alternativos aos
internatos, e já amplamente testados no país e no exterior, são preferíveis, tais
como múltiplas formas de apoio no âmbito da família e da comunidade,
colocação em família substituta, adoção, entre outros. O que não pode
acontecer é a omissão do Estado no planejamento e execução das políticas.

E afirmam Rizzini e Rizzini (2004) “Isso nos leva a pensar porque o


abrigo acaba sendo entendido como muro que isola e não como um teto que
protege.”
26

5 CONCLUSÕES
Esta pesquisa objetivou identificar os possíveis danos à saúde mental de
crianças e adolescentes devido à institucionalização em instituição de abrigo.
As respostas para os objetivos específicos foram possivelmente construídas na
medida em que os autores do referencial teórico apontaram os motivos que
levam a institucionalização e os danos que a vivência dentro da instituição de
abrigo resulta em crianças e em adolescentes que passam suas infância e
adolescência institucionalizados.
Para tanto, os motivos que levam crianças e adolescentes a serem
institucionalizados, estão ligados à pobreza e à falta de políticas públicas.
Abandonos, rejeição, abusos físicos e sexuais, marcaram e marcam gerações
de crianças e adolescentes antes da institucionalização, e em muitos casos até
mesmo durante a institucionalização, crianças e adolescentes sofrem maus
tratos. Crianças e adolescentes são institucionalizados com vínculos familiares
fragilizados e crescem institucionalizados com algum tipo de déficit. A rotina
institucional vai contribuir para os danos à saúde mental uma vez que os
técnicos da instituição de abrigo não acolher devidamente essa demanda social
e/ou reproduzir algum tipo de negligência dentro desse espaço sócio-
ocupacional; não oferecer atividades voltadas à educação e entretenimento.
Em contrapartida, os técnicos das instituições se deparam com um leque
de armadilhas em seu cotidiano: salário baixo, alta rotatividade, falta de cursos
voltados ao desenvolvimento infantil, falta de políticas públicas, dentre outros.
O Estatuto da Criança e do Adolescente criado em 1990, dois anos
depois da Constituição Federal de 1988, avançou nos direitos legitimando
crianças e adolescentes. Direitos individuais, sociais e políticos ganharam
espaço no cotidiano desses sujeitos. Entretanto, 27 anos após sua
promulgação, esses avanços ainda são lentos.
Pode-se dizer que a caminhada está apenas no início, mais estudos
precisam ser feitos e propostos abordando a temática, construindo um olhar
reflexivo de que crianças e adolescentes passam suas infância e juventude
institucionalizados em instituição de abrigo, e que ao completar a maioridade
27

deverão obrigatoriamente ser desligados, levando consigo danos em sua


saúde mental e lacunas dentro de si.
Precisa-se ir à busca de aperfeiçoamento e o estabelecimento de redes
para que as iniciativas da presente pesquisa não se tornem propostas
fragmentadas, isoladas, fadadas ao fracasso e sim, respostas efetivas às
demandas sociais acolhidas na instituição de abrigo.
Não se desresponsabiliza o papel significativo da família como
importante fonte de desenvolvimento para as crianças e para os adolescentes.
Crianças e adolescentes devem ser tratadas como sujeitos de direito,
constituídos, formados. Se assim não o fizermos, a tendência é que a
institucionalização e os danos à saúde mental continuem crescendo.
Esta pesquisa deixa em aberto inúmeras questões, mas são os
possíveis danos à saúde mental de crianças e adolescentes os resultados da
institucionalização em instituição de abrigo, e como seres dialéticos, a vida
pauta-se no processo de construção que se dá no cotidiano.
28

REFERÊNCIAS

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. DEPARTAMENTO DE ATENÇÃO BÁSICA.


Saúde mental, Cadernos de atenção básica, nº 34. Departamento de ações
Programáticas. Estratégicas. – Brasília: Ministério da Saúde, 2013.
CAVALCANTE, Cinthia Mendonça. Relações interpessoais na atenção à
saúde mental de crianças residentes em lares substituídos. Dissertação
(Mestrado Acadêmico em Saúde Pública) – Centro de Ciências da Saúde.
Universidade Estadual do Ceará. Fortaleza, 2006.
Estatuto da criança e do adolescente (1990). Diário Oficial da União. Lei nº
8069, de 13 de julho de 1990. Brasília. DF: Palácio do Planalto.
______.LEI nº 8069 Estatuto da criança e do adolescente. 1990. 13 de
julho. Recuperado de www.planalto.gov.br/ccivil/leis/18069.html/.
______.LEI nº8742 Lei Orgânica da Assistência Social. (1993, 7 de
dezembro). Dispõe sobre a organização da Assistência Social e dá outras
providencias. Recuperado de
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8742.htm.
______.LEI nº11.129.(2005 30 de junho). Institui o Programa Nacional de
Inclusão de Jovens- ProJovem; cria o Conselho Nacional da Juventude-CNJ e
a secretaria Nacional da Juventude; altera as Leis 10.683 de 28 de maio de
2003, e 10.429, de 24 de abril de 2002; e dá outras providencias. Recuperado
de http://www.planalto.gov.br/ccivil/_Ato 2004-2006/2005/Lei/.
______.LEI nº 12.435, de 6 de julho de 2011. Altera a Lei nº 8.742, de
dezembro de 1993, que dispõe sobre a organização da Assistência Social.
DOU, Brasília, 2011ª.
LIBERATI, D.(2006). Comentários ao Estatuto da criança e do adolescente.
São Paulo: Maleiros Editores.
______. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Reforma Psiquiátrica e política de saúde
mental no Brasil. Documento apresentado à Conferência Regional de
Reforma dos Serviços de Saúde Mental: 15 anos depois de Caracas. OPAS.
Brasília, novembro de 2005.
______. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE A
FOME. Secretaria de Assistência Social. Norma Operacional Básica de
Recursos Humanos do SUAS-NOB-RH SUAS. Brasília, 2007.
MOURA, Nelza de. O Direito à Convivência Familiar e Comunitária das
crianças e adolescentes em medida de proteção abrigo. Trabalho de
Conclusão de Curso em Serviço Social. Departamento de Serviço Social.
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2009.
RIZZINI, Irene e RIZZINI, Irma. A institucionalização de crianças no Brasil:
percurso histórico e desafios do presente. Rio de Janeiro: Ed. PUC - Rio. São
Paulo: Loyola, 2004.
29

SILVA, Graziela Eliana Costa e SILVA, Márcia Cristina Freitas. De menor em


situação irregular a sujeitos de direitos – histórico da assistência a
criança no Brasil. Artigo. Rehutec Revista de Humanidade, Tecnologia e
Cultura. Faculdade de Tecnologia de Bauru, 2011.
SILVA, Martha Emanuela Soares da. Acolhimento institucional: a
maioridade e o desligamento. Dissertação (Mestrado em Psicologia).
Universidade do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e
Artes. Programa de Pós- Graduação em Psicologia, Natal, 2010.
SIQUEIRA, Aline Cardoso e DELL’ AGLIO, Débora Dalbosco. O impacto na
infância e na adolescência: uma revisão de Literatura. Artigo. Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, 2006.
SOUSA, Cristiana Andréia Rodrigues de. Um lar, uma família: a voz das
instituições que acolhem crianças e jovens. 2 º ciclo de Estudos em Sociologia.
Faculdades de Letras Universidade do Porto. Dissertação, 2013
TAVARES, José de Farias. Direito da infância e juventude. Belo Horizonte:
Ed. Del Rey, 2001.
TAVARES, José de Farias. Comentários do Estatuto da Criança e do
Adolescente. Rio de Janeiro: Forense, 2002.
WEBER, Lidia Natalia Dobrianskyj. Os Filhos de ninguém abandono e
Institucionalização de Crianças no Brasil. Artigo publicado na Revista
CONJUNTURA SOCIAL. Rio de Janeiro, julho, 2000.

You might also like