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de Belo Horizonte
Autoria: Ana Carolina Utsch Corrêa, Elisa Versiani Lustosa, Gustavo Batista de Medeiros, Kelly Cristina Silva
RESUMO
Este artigo se propõe a descrever o projeto do macrozoneamento da Região Metropolitana de
Belo Horizonte, enquanto uma experiência de planejamento e gestão de políticas públicas, no
formato de um arranjo compartilhado entre estado, municípios e sociedade civil. Após anos de
debate sobre o formato ideal de um arranjo metropolitano, Minas Gerais entra numa nova fase
em que o desafio é construir uma proposta de regulação do território metropolitano, expressa
no macrozoneamento. Para isto, a metodologia de trabalho adotada é fundamental, no sentido
de consolidar o pacto metropolitano e firmar uma cidadania metropolitana.
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1. INTRODUÇÃO
O arranjo metropolitano de Minas Gerais entra numa nova fase referente à execução de
políticas públicas, após anos de discussão sobre o modelo de gestão compartilhada. A
experiência do Plambel foi marcante, mas ocorreu em um contexto de ditadura militar e,
desde sua extinção, na década de 1990, ainda se buscava retomar o planejamento e gestão das
funções públicas de interesse comum. Atualmente, com um novo consenso sobre o formato
em que estado, municípios e sociedade civil colaboram para pensar politicas públicas
metropolitanas, estão em andamentos diversos projetos para a Região Metropolitana de Belo
Horizonte (RMBH), sendo que neste artigo será tratado especificamente o projeto do
Macrozoneamento Metropolitano, previsto no Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado –
PDDI da RMBH.
2. HISTÓRICO
Tendo em vista a ocorrência de tais trabalhos, observou-se uma participação de mais de 2300
pessoas ao longo de todo processo dos quais aproximadamente 46% foram de componentes
do poder público nos diferentes níveis de governo e 28% da sociedade civil. Os outros 26%
representam os participantes das equipes técnicas de supervisão e elaboração do Plano, que
abarcou um amplo escopo, como se pôde deduzir dos eixos citados acima. O PDDI foi
elaborado durante o ano de 2010 e foi entregue no ano de 2011, ou seja, na mudança de
governo estadual. Apesar de ter sido a mesma legenda eleita, houve um certo rompimento
com o processo anterior, mas que atualmente tem sido retomado no projeto do
macrozoneamento metropolitano.
No final do ano de 2012, houve um edital de chamamento público de projetos a serem
financiados com 50% dos recursos do Fundo Metropolitano, o equivalente a R$5 milhões,
dentro de três macrodiretrizes que a Agência RMBH definiu como prioridade de atuação –
ordenamento territorial, mobilidade e saneamento básico. Foi a primeira vez que se adotou
esta metodologia e o resultado foi que 20 projetos se inscreveram, principalmente para o tema
ordenamento territorial, com recurso disponível de R$ 3 milhões, tendo R$1 milhão para cada
uma das demais macrodiretrizes. Foram eleitos os seguintes projetos e suas organizações,
segundo escala de prioridade dada pelas notas recebidas pelas comissões de análise:
4. MACROZONEAMENTO METROPOLITANO
O projeto do Macrozoneamento Metropolitano é um programa previsto no PDDI, dentro da
Política Metropolitana Integrada de Regulação do Uso e da Ocupação do Solo, acrescido de
um esforço para territorializar outras políticas propostas no Plano Diretor. O projeto foi
apresentado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis
de Minas Gerais (Fundação IPEAD), da UFMG, tendo a coordenação do Cedeplar, ou seja, a
mesma equipe que coordenou o PDDI. O projeto tem custo total de R$2.997.792,21 e
previsão de execução em 18 meses.
O Termo de Referência (TR.DR N°1, 2013) que orienta a elaboração do Macrozoneamento
Metropolitano contém as seguintes diretrizes gerais:
PL 3078/2012
Talvez Minas Gerais seja o único estado em que já se tenha superado a discussão do arranjo
metropolitano mais adequado e de fato se esteja executando políticas públicas metropolitanas
Após a decisão do Supremo Tribunal Federal em 2013ix sobre a questão do saneamento básico
no Rio de Janeiro, sinalizando que o tema não é municipal ou estadual, mas que deve ser
compartilhado entre ambos, Minas Gerais confirmou estar no modelo mais adequado de
gestão. Agora o desafio é outro: verificar se tal arranjo se fortalece quando aspectos até então
tratados como exclusividade do município, serão agora definidos por este arranjo
compartilhado. Afinal, a proposta do macrozoneamento é definir zonas de interesse
metropolitano que terão seus parâmetros urbanísticos aprovados pelo Conselho Metropolitano
e que deverão ser seguidos por todos os municípios enquanto diretriz metropolitana. Ou seja,
será a primeira vez que de fato o uso do solo, enquanto função pública de interesse comum,
será gerido de modo compartilhado.
A resistência a essa proposta ficou clara durante os debates sobre o Projeto de Lei (PL)
estadual nº3078/2012, proposto pelo governador do estado à ALMG. Tal projeto “dispõe sobre
a gestão unificada da função pública de interesse comum de uso do solo metropolitano no
Estado de Minas Gerais e dá outras providências”, propondo instrumentos de gestão
urbanística em nível metropolitano, tal como o macrozoneamento da RMBH. A principal
resistência foi manifestar que o PL feria a autonomia municipal, uma vez que uso do solo se
trata de uma das prerrogativas de tal ente federativo e o zoneamento é definido nos planos
diretores municipais.
Em resposta a essa manifestação, a Agência Metropolitana organizou reuniões com o
Colegiado Metropolitano, grupo com representantes da sociedade civil organizada, formado
durante a eleição dos conselheiros na Conferência Metropolitana. O Colegiado questionou e
apresentou propostas ao Projeto de Lei nº3078/2012, de modo que, após reuniões com a
Agência RMBH, chegou-se a um consenso sobre o texto do PL. Houve ainda duas audiências
públicas na ALMG, uma delas contando com a presença do professor Edésio Fernandes,
referência em direto urbanístico e que deu apoio ao PL. O professor foi fundamental para
desfazer o argumento de que o projeto de lei fere a autonomia municipal. Vale relembrar: a
Constituição Federal estabelece no seu artigo 25, §3º que: “Os Estados poderão, mediante lei
complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões,
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constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o
planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum”. (Constituição do Brasil,
1988)
Conforme a Lei Complementar nº 89 de 2006, o estado de Minas Gerais estabeleceu no seu
artigo 8º o uso do solo como uma função pública de interesse comum. Pois bem, a
Constituição Federal, no artigo 30, define as competências municipais: “Art. 30. Compete aos
Municípios: I - legislar sobre assuntos de interesse local; (...) VIII - promover, no que couber,
adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento
e da ocupação do solo urbano” (Lei Complementar nº 89, 2006, grifo nosso)
O entendimento, portanto, é que o ordenamento e uso do solo são competências do município
no que couber, ou seja, naquilo que for um assunto de interesse local. Atento a este ponto, o
texto do PL 3078/2012 diz que:
CONCLUSÃO
A questão metropolitana foi classificada pelos estudiosos como de alta complexidade técnica
e de baixa centralidade política, pelo seu histórico de dificuldade de formação de um modelo
de gestão consensado e efetivo. Mas aos poucos, Minas Gerais têm conseguido reverter esse
quadro. À medida que o arranjo de gestão proposto em Minas foi bem aceito – o que se pode
comprovar pela adesão ao FDM, bem como pela execução de projetos concretos -, permitiu-se
que um novo passo fosse dado, no sentido de tornar real um modelo de gestão compartilhada
de políticas públicas.
A função pública de interesse comum “uso do solo metropolitano“ é o tema em questão no
projeto do macrozoneamento metropolitano, que busca uma nova regulamentação para zonas
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que comprovadamente sejam de interesse metropolitano, e não apenas local. Este tema é um
desafio, pois sempre foi compreendido como exclusivo da competência municipal, o que não
é verdade, como se demonstrou. Contudo, até que a nova regra esteja de fato em andamento,
os desafios ainda parecem enormes, pois como pano de fundo do uso do solo está a questão da
terra, um passivo antigo e de difícil solução. O trabalho participativo, de construção de um
pacto metropolitano e de uma nova cidadania metropolitana, desenvolvido desde 2010 com o
PDDI, é o grande trunfo para que Minas Gerais enfrente esse desafio, com envolvimento do
governo estadual, municipal e sociedade civil, rumo a uma nova metrópole.
BIBLIOGRAFIA
i Na LC nº14/73, a RMBH era composta inicialmente pelos seguintes municípios: Belo Horizonte,
Betim, Caeté, Contagem, Ibirité, Lagoa Santa, Nova Lima, Pedro Leopoldo, Raposos, Ribeirão das Neves, Rio
Acima, Sabará, Santa Luzia e Vespasiano.
ii Art. 5 da Lei Federal n.14 de 1973.
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iii Art 2, § 1º da Lei Federal n.14 de 1973: O Conselho Deliberativo constituir-se-á de 5 (cinco) membros
de reconhecida capacidade técnica ou administrativa, nomeados pelo Governador do Estado, sendo um deles
dentre os nomes que figurem em lista tríplice feita pelo Prefeito da Capital e outro mediante indicação dos
demais Municípios integrantes da região metropolitana.
iv A Lei estadual de Minas Gerais nº 6.303 de 1974 regulamenta a RMBH e cria sob a forma de uma
autarquia estadual, o órgão gestor de planejamento metropolitano da RMBH denominado Plambel, mas que já
desenvolvia seus trabalhos como uma equipe dentro da Fundação João Pinheiro (Queiroz,2008).
v No artigo 43 da Constituição Mineira, define-se função pública de interesse comum como a atividade ou
serviço cuja realização por parte de um Município, isoladamente, seja inviável ou cause impacto em outros
Municípios integrantes da região metropolitana.
vi A Assembleia é composta por 73 membros, sendo quatro representantes do Poder Executivo Estadual,
um representante da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, 34 Prefeitos da RMBH e 34 Presidentes das
Câmaras Municipais, conforme a Lei Complementar nº 88 de 2006.
vii A Lei Complementar nº 89 de 2006 definiu a seguinte composição para o Conselho RMBH: cinco
representantes do Poder Executivo estadual; dois representantes da Assembleia Legislativa do Estado de Minas
Gerais; dois representantes do Município de Belo Horizonte; um representante do Município de Contagem; um
representante do Município de Betim; três representantes dos demais Municípios integrantes da Região
Metropolitana de Belo Horizonte; dois representantes da sociedade civil organizada.
viii São gestores do FDM: 1 representante da Seplag; 1 representante do agente financeiro – BDMG; 1
representante da Secretaria de Estado da Fazenda (SEF); 2 representantes da região metropolitana a serem
indicados pelo respectivo Conselho Deliberativo de Desenvolvimento Metropolitano.
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