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CCameProxro Graco: Anda Custédio ‘ce anus crm. wa FORTE WoT ACONAL Dos EDITRES DELS, RI ry ate 37 ieee pte et Stuf et 20% nase). el ie savseesanse 4 gage - a. 2 apc» Gta en 3 Ugalde LT SE, oun vee coun . Direitos reservados 3 PARABOLA EDITORIAL ua Dr, Miro Vicente, 394 | Ipiranga (4270-000 $0 Paulo, SP Fone: (11] 5081-8262 | 2589-9263 | Fx 11] 5061-8075 home page: wun parabolaeditoalcom.br ‘mall paraholngrnaholaeditorilzom.be ‘door decor revenodon Nenu pute dest obra pode ser reproduads tanto por qualqut forme e/ov qsisquer ‘eos (lewonico ou reco incund tocol e ravi] ou ‘Sauad em qusluer stems ou bana de dado em perso por eer de Prdbola Eto Uda. Isa: 978-05.0045691-4 1 edisho, 3 telmpressio: agosto de 2013 -conforme nove acordo ortogrsfico da Lingua Portuguesa © do texto: Mata rand Antunes Costa Morals, margo de 2009 © da edi: PardbolaEaltoral Sto Paulp, margo de 2008, ne ———— per SUMARIO west Apresentagao. = u Introdugao. 13 PARTE I - A LINGUA SOB NOVOS OLHARES Capiruto 1 ~A lingua e aidentidade cultural de um povo. 19 Cariruto 2 ~ Lingua e ciéadania: repercussdes para 0 ensiNOm. 33 PARTE Il - 0 TEXTO SOB NOVOS OLHARES Capiruto 3 ~ Textualidade e géneros textuais: referéncia para 0 ensino de linguas. ae) CaPfruto 4 - Ir além dos elementos linguisticos do texto: um desafio para os interlocutores.. 75 Cariruto 5 ~ Mas...e a cozréncia do texto a partir de seu material lingutstico?, 1 Capiruto 6 ~ 0s vazios neturais do texto e sua coerénci: 105 CapiruLo 7-0 que é mesmo a informatividade do texto?.. 125 Capiruto 8 ~ As fungées do Iéxico na construgao do texto cca Cariruto 9 - Da intertextualidade a ampliacao da competéncia na escrita de textos 161 Lf shy capitulo 12 AESCRITA DE TEXTOS NA ESCOLA: DE OLHO NA DIVERSIDADE 2. Lingua e variagéo ‘A questo da variacio lingufstica tem con- templado as miiltiplas possibilidades de a lingua realizar-se, atendendo e diferencas do lugar, do meio social ou da situagio sociocultural em que a atividade verbal ocorre, Tais possibilidades de va- riagaio tém sido analisadas, preferencialmente, em relagdo a oralidade, com foco maior para as especificidades dialetais. riagdes, por exemplo, do portugués falado em diferentes regides do Brasil ow entre 0 portugués de Portugal e o portugués do Brasil tém merecido a atengdo de pesquisadores aqui e Id. No entanto, a Ifngua escrita ainda nao recebeu esse “olhar” que enxerga as suas diferencas de uso; ou seja, ainda parece subsistir a impressdo de uma lingua escrita uniformemente, totalmente esté- vel, sem variagdes. Tal impressao é naturalmente reforgada pelo viés da ortografia oficial, um padrao rigido e inalterdvel, com mudangas pouco significativas em intervalos muito longos de tempo. A visao de uma escrita uniforme repercute no trabalho da escola, que, as- caplruto 22 |A ESCRITA DE TEXTOS NA ESCOLA: DE OLHO NA DIVERSIDADE 207 sim, privilegia 0 ensino de esquemas rigidos, em cujas formas todos ‘0s textos tém de se encaixar. ‘Vamos refletir um pouco sobre esse ponto. Seja em relagdo a oralidade, seja em relagao a escrita, a consideracio do fenémeno da variacZo lingu(stica implica, necessariamente, a incluso dos muitos fatores pragmaticos envolvidos na interagao. Quer dizer, se a realizagéo da lingua comporta variagbes 6, sobre- tudo, por determinagdo de elementos extrinsecos a ela, elementos constituintes da situago social em que a atividade verbal se insere, tais como 0 esta- tuto social dos interlocutores, 0 tipo de relagao que se estabelece entre eles, 05 propésitos em causa, 0 espago cultural em que acontece o evento comuni cativo, entre outros. Se tomarmos como paraimetro a lingua escrita, nodemos perceber que a existéncia de (quase) I contdveis géneros constitui um campo privilegi do para o entendimento funcional dessas possibi- lidades de variagdo da lingua. 2. Lingua escrita, variagao e géneros textuais Dentro das semelkangas existentes entre as modalidades oral € es- ‘rita da lingua, uma, sem diivida, reside na constatagao de que os textos escritos também admitem variagées, de modo que, a rigor, nao existe uma escrita uniforme, inteiramente padronizada e submissa a uma tinica for- ma, Se é verdade, segundo propéem Schneuwly, Dolz et ali (2004), que nao existe “o oral", mas, “os orais”, também é verdade que o que existe sao “escritos”, como expresses da multiplicidade de contetidos e de propési- tos comunicativos dependentes das praticas socials de escrita Na mesma perspectiva de uma escrita plural, se aplicam as palavras de Dubois et alii (1989, p. 509), quando definem a varia¢ao como um fenémeno pelo qual, no cotidianoda atwagio verbal, uma lingua nunca é, “numa época, 208 IRANOE ANTUNES [LINGUA TEXTO E ENSINO hum lugar e num grupo social determinados, idéntica ao que foi em outra €poca, em outro lugare em outro grupo social” (destaque nosso). Aaceitagio desse principio implica que se esteja considerando a Iin- gua escrita para além da frase, isto é, na sua forma textual e como ativi dade interativa, a qual, por sua vex, é parte significativa da atuago social das pessoas. Ficar no exercicio de formar frases, copiar frases, analisar frases esctitas ndo permite a ninguém perceber o fendmeno da variagéo, uma vez que esta, reiteramos, decorre exatamente das diferentes circuns- tdncias em que acontece a interagao. Ou seja,a escrita, como atividade de linguagem, tem que ser percebida na sua dimensio de texto. Tanto para ‘quem escreve quanto para quem I Com efeito, escrever é, simultaneamente, inserir-se num contexto qual- quer de atuagao social e pontuar nesse contexto uma forma particular de interagao verbal: Daf que, além das determinagées do sistema lingufstico, a interagao verbal por meio da escrita esté sujeita também as determina- 66es dos contextos sociaculturais em que essa atividade acontece. Ora, sabemos que as formas de atuagaé social que as pessoas empre- endem sao miiltiplas e diferenciadas, pois resultam de situagées também miiltiplas e diferenciadas, no tempo e no espago, ou respondem a inten- s8es e objetivos varios. A prépria singularidade inscrita na determinagao da natureza humana conduz.a previsibilidade da variagao, da desseme- Ihanga, da heterogeneidade, da instabilidade. A hist6ria da humanidade se confunde com a histsria da mudanga, da ininterrupta quebra do esta- belecido pela introducao do novo, nesse contexto, j& nao inesperado. Pode-se admitir, portanto, o principio de que a lingua varia também na sua modalidade escvita, em decorréncia da imposigio de adequar-se as diferentes situagdes de uso em que se insere. As linguas existem para ‘essay situayGes, em fun;do de suas solicitagbes interacionals. Os textos estdo semare em correlagdo com os fatores contextuais pre- sentes a situagdo de comunicagio, o que, de certa forma, influencia até ‘mesmo a escolha do tipo e do género a serescrito. 0 fato de que cada tipo de texto é caracterizado pela predominancia de determinadas marcas lin- guisticas de superficie (por exemplo, o emprego de certos tempos verbais ‘cartruto 22 |AESCRITA DETEXTOS NA ESCOLA: DE OLNO NA DIVERSIDADE 209 ~ oimperfeito, para o tipo descritivo;o imperativo, para o tipo instrutivo; 0 perfeito para o tipo narrativo etc) nfo deixa de ter suas raizes mais re- motas em aspectos de sta dimensdo contextual ‘também em decorréncia desse foco contextual é que um género do tipo narrativo pode requerer mais ocorréncias de marcadores temporais que deem conta do fluxo cronolégico em que as informagdes se distri- buem (anterioridade, simultaneidade, posterioridade). Um género do tipo dissertativo, a contrario, demanda outra classe de marcadores, uma ‘vez que, em geral, esto em jogo sequéncias apoiadas em evidéncias de muitas outras ordens, normalmente evidéncias atemporais. Isto 6, até ‘mesmo as determinagies lingufsticas de um texto tem raizes nas condi ‘sbes reais de sua produgao e recepsao. Dentro dessa perspectiva da variagao dos textos em fungdo dos con- textos em que circulem, a lingu(stica, sobretudo aquela de orientarao pragmética, tem proposto e desenvolvido a categoria discursiva de géne- ros textuais, na pretensao de caracterizar as especificidades das manifes- tagdes culturais concenentes a0 uso da lingua ede faciltar 0 tratamento cognitivo desse uso, seja oral, seja escrito, ‘Tais géneros tém sido definidos como constitutivos da situagdo dis- ‘cursiva e como modelos mais ou menos estdveis de textos (Bakhtin, 1995). ssa categoria soma-se & outra, jé bem mais conhecida, dos tipas textuais, porém amplia-a, no sentido de que especfica regula 0s contetidos, a es- trutura de organizagao eas préprias configuragdes dos textos, Por isso, 08 _géneros supdem regularidades que nao se limitam ao que é dito, mas que especificam um modapréprio dedizer: Sob esse ponto de vista, os géneros ditam, numa espécie de coerga0 tacita e generalizada, modos estabilizados ide dizer, Partilham, assim, caracteristicas comuns, embora sempre vulne- rveis a mudangas. Inscritos no universo cultural de cada grupo, os g&- neros fazem parte do conhecimento de mundo desse grupo e constituem, por isso, elementos de seu saber partilhado, Ninguém € totalmente “sobe- ano’ no momento de atuar verbalmente, Prevalece o imperativo maior de fazer valer nossa condigao de seres sociais, “livremente” submetidos, também, as coergdesde modos especificos de organizar nossos discursos. no IRANOE ANTUNES | LINGUA, TexTO EENSINO Uma visio, mesmo suméria, dos géneros escritos d conta desses iltiplos modos especificos de dizer, 0 que comprova a variabilidade que pretendo evidenciar com esta reflexdo. Na verdade, convivemos, no dia a dia de nossas escritas¢ leituras, com: E dificl apresentar ‘© ‘noticia, reportager, editorial, artigo de opinigo, _umalista exaustiva 7 etreista, nota de esdlareciment, carta, conv dos grosses que ciculam nos te, crcl nina, anil, publica, ai $0 bolt, folie, eda, deeb, ateado, _ altenes grupos porecer (avtooga, reguament, ego, tents cots estatuto, ata, bcletim de ocorréncia, relatério, re- ‘Strgio Roberto Costa querimento, cuniculum vitae, projeto, monogra- __Publicou recentemente ‘ tum lo ~ Dicindrio de fia, dissertacio, tese, ensaiajartigo académico, Syne onde resumo, resenha, petigao, despacho, sentenca, possivelencontrar oficio, mandade, procuragio, contrato, portaria, _umarelagSo.deum escritura, memorando, recibo, receita culinria, _gfande nero desses ‘neros, com apresentagio de 05 principais provérbio, instrugdojmodo de uso, prognéstico do tempo, hordscopo, roteiroturstco, laudo médico, tule, anedote, advnhacSo, prec, cardépic, con. Carcass além to, romance tua rénice, poema, home page, deumapreliminr portal, site, exmail, blog, entre muitos, muitos ov- __discussioteérica sobre tts dices até mesmodeserem enumerados._oszinto. Eprecko reconecer to {_— — Sportma éessa Meu interesse com essa discriminagao, mesmo iiktaion, poten ‘muitissimo parcial, é,em primeira mao, tornar mi ee parcial, 6,em pr , ais professores abordem evidenteaindaquantoaescritadetextossupdeuma —Ssteorase praticas variagao de modelos ede apresentagao formal, Em socials da produgio Segundo, riar um paro de fundo para pensar mais £/eepode textos tarde a questo do ensino da lingua nas escolas. feuveme! HA um aspecto que parece contrariar esse principio da diferenga dos modos de dizer. Na verdade, a variedade de que se fala no 6 aleatéria, Acontece nos limites impostos pelas conven- ses estabelecidas nas jé mencionadas condigdes de funcionamento da atividade verbal. Ou seja, os géneros constituem modelos especificos de texto, diferentes entresi, mas essas diferencas so, umas mais, outras me- nos, controladas pelas préprias convengées socias. ‘APITULO 32] ESCRITA DETEXTOS NA ESCOLA: BE OL:NO NA IVERSIOAOE 232 ‘Assim & que as diferentes classes de @neros constituem um conjunto regular de formas e de padres de ocorréncia, le maneira que essas clas- ses sao reconhecidas cmo protétipos, convencionalmente estabelecidos e socialmente esperadcs. Constituem, assim, padrdes historicamente se dimentados e, assim, orientam e regulam a atividade verbal, pois todo texto se apresenta a um tempo, tipico e singular, como prope Bronckart, ‘em seus trabalhos sobre o interacionismo (ver indicagdes na bibliogratia). f também sob essa condigaio de tipico que se dé a demarcagio de seu arranjo sequencial, inciuindo “os elementos obrigatorios’, “os elementos ‘opcionais’,“os elementas iterativos” (segundo mostram Halliday & Hasan, 1989) ~ mais ainda a delimitagao de seu sentido global (segundo propde ‘van Dijl, 1984, Adam, 1990; entre outros). ‘Assim & que podemos, prever, por exemplo, quais elementos podem constar numa carta, num requerimento, num aviso, e em que ordem eles vvao aparecer: evidense que tals previsdes podem ser quebradas, na de- pendéncia da intengio do sujeito de, violando-as, conseguir um efeito co- municativo qualquer ° Essa condigo dos géneros, a um tempo tipicos e flexiveis, é reflexo da natureza mesma da lingua, também ela, simultaneamente, sujeita & tradi- $40 e Aagdo livre da scciedade. Se, por um lado, nas palavras de Saussure (1973, p.88-90), uma lingua é “radicalmente incapaz de se defender” dos fatores que, constantemente, a destocam, por outro, a solidariedade com ‘o passado restringe e controla esse inevitavel destocamento, Em suma, os géneros poem em evidéncia a complexidade da constitulso dos textos: so multiformes e, simultaneamente, prototipicos, em atenso mesmo & natureza convencional das instituigbes sociais em que acontecem. 3. Lingua escrita, variagao e ensino Para comego de ccnversa, temos em conta que o desempenho dos alu- nos, na escrita, ndo tem correspondido, em geral, ao dispéndio de tempo ede recursos envolvidos na atividade pedagégica do ensino da lingua. A cexperiéncia coma avaliagio de textos de alunos, mesmo no final do ensi- a2 IANO ANTUNES [LINGUA TEXTO EENSINO no médio, autoriza que tenhamos um certo “espanto” frente a certos de- sempenhos normalmente injustificaveis. Mas, esses resultados jé tm sido denunciados ecom algum destaque, ‘embora, quase sempre, eles sejam atribufdos mais aos alunos do que as inadequagées do sistema escolar; incluindo af a formago dos professores, a distribuigao do tempo escolar, o ntimero de alunos por sala, a escassez a pouca qualidade do material didético disponivel etc. Neste instante, prefiro deter-me no que poderia ser feito, em termos de um ensino escolar ‘mats eficaz da lingua escrita. ‘* O ensino da lingua escrita deveria privilegiar a producdo, a leitura e aanilise dos diferentes géneros, de cuja circulagao social somos agentes e testemunhas. Os critérios de escolha desses géneros de textos, conforms cada estagio da escolaridade, poderiam advir da observasao das ocorréncias comunicativas atuais, ou seja, daquilo ue, de fato, é usado no cotidiano de nossas transagdes sociais. A diversidade de géneros requisitada pela diversificagao de seus usos, em tio diferentes dominios discursivos, e pela importancia crescen- te que se tem a:ribuido a escrita sio justificativas relevantes para buscar promover a competéncia dos alunos na produgao ena recepcdo de textos adequa- finale dose relevantes socialmente. Alids, o conhe-~ [yielded cimento da diversidade de géneros em circu- lagao, como ja referimos, também faz parte de nosso conhecimento de mundo, também constitui parcela de nossa cultura social. © A superestrutura tipica de cada género, conforme esté l2gitimada pelas convengdes sociais, constituiria um dos pontos centrais esse estuda. A cara de uma carta, de um re- latério, de um projeto, de um aviso etc. seria ‘um dos objetos de estudo. A partir da consi derago dessa cara prototipica é que seriam exploradas as possiveis variagdes que po- [fenhamaihtu dem acontecer dentro de um mesmo género, Dessa forma, aescrita de textos, sem referén- ‘caPITULO 2A ESCRITA DE TEXTOS NA ESCOLA: DE OLN NA DIVERSIDADE 233, a4 cia as suas especificidades de género, daria lugar & escrita de gé- neros espectficos,ressalto, que supéem planos de desenvolvimento, le progressio e de ordenagao diferentes. 0 foco da competéncia em escrita deixaria de ser a correcao gramatical ou a higiene ortogra- fica das palavras, Ndo que esses elementos nao sejam, em alguns contextos, imporiantes; mas ndo podem ser 0 foco, a prioridade do que se ensina. £ preciso ter olhos para enxergar a complexidade do prdprio exercfcioda linguagem ea hierarquia de importancia que os elementos desse exercicio implicam. ‘As motivagées para escrever na escola deveriam inspirar-se nas mo- tivagdes que temos para escrever fora dela, Se alguma vez. fazemos descrigées a partir de figuras, é com alguma finalidade definida; por ‘exemplo, para apresentar a alguém um objeto que esté a venda ou para fundamentar nossa discordancia frente a uma solicitagio de preso. A propésito, os téenicos em engenharia civil, muitas vezes, fazem descrigées dos iméveis que vistoriam. Ninguém, porém, faz descrigdes aleatirias, para nada, sem alguma finalidade definida. Normalmente, sobretudo, no ensino médio,o trabalho escolar tem- se fixado na produgao de um modelo de “redagao’, um texto com ‘uma cara s6, engessado em uma forma rigida de desenvolvimento; nna verdade numa “forma” igual para todos. Sem tragos da singulari- dade autoral, Nem mesmo 0 fato de alguns vestibulares terem plu- ralizado suas propostas de escrita tem sido suficiente para levar a escola a tambén: diversificar suas solicitagdes de produc escrita. A gramética da lingua ~ um quebra-cabesas (para uns, quase sem solugao!) na vida de grande parte dos professores ~ seria a gramati- ca requisitada por esses géneros, em funcao do que se poderia esta- ia, o aleance das regras e, priucipalmente, o impulso para minimizar 0 estudo das no- rmenclaturas e das irrelevancias classificat6rias. Seria uma gramatica dos géneros, voltada para os diferentes dominios sociais de ocorrén- cia desses géneros, ugar onde. lingua, de fato, cobra inteirarelevan- cia. Seria uma gramética mais préxima das operagbes que as pessoas realizam quando usam a lingua em situagdes concretas de comuni- cagio, Pareceriaassim irrelevante, inécua, inalcangavel? Despertaria belecer; com ma's preciso e muito mais consistén ‘Rane ANTUNES [UNGUA,TEXTO E ENSINO tanta averséo entre os alunos? Reforgaria a crenga de muitos de que nao sabem portugues, claro!, uma lingua muito dificil? Explorar os _géneros seria uma forma de explorar a lingua acontecendo; uma lin- gua Aaltura das capacidades cognitivas de qualquer um. ¢ Na prética do ensino dos géneros, devia-se destacar e explicitar a complexidade da variabilidade e da tipicidade dos textos, pondo-se em correlagao a tensdo natural entre o poder de escolha do sujeito © as injungdes sociais que regulam o uso da lingua. Dessa forma, 0 sujeito se via como alguém que pode decidir, frente & sua criagio individual e, ao mesmo tempo, como alguém que pertence a uma comunidade onde se vivencia a solidariedade lingu(stica. Ou, ainda, como autor singular do seu texto e participante da ampla e irrestri- ta intertextualidade dos usos sociais da lingua. # Ainda, pela concentracdo nos géneros, se poderia, com pertinén- cla, Identificar 0 destinatario do texto (ou os destinatérios, se fos- se 0 caso), em sett papel social particular, para levé-lo em conta na dosagem da informagao veiculada, na antecipagao das posigdes contririas e, mais pontualmente,'na escolha sintitico-seméntica das unidades linguisticas. Outro aspecto favorecido seria a identi- ficagao do lugar e do momento institucional em que o texto seria lido. Essa previsdo constitui um dos parametros de selegio dos ele- mentos disponiveis nos paradigmas da textualidade. Quem escreve deve empenhar-se em assegurar, a seu leitor, as pistas necessdrias, ‘em cada contesto, para que ele possa reconhecer os sentidos e as, intengdes pretendidos, sem dificuldade. Em sfntese, 0 mits da uniformidade linguistica ea compreensio in- génua de uma escrite tinica, inalteravelmente padronizada, tao comum ao simplismo abusive da pratica escolar, seriam radicalmente abalados pelo confronto com a diversidade dos diferentes géneros de textos. Se a predomi a idela de uma lingua oral inalteravel, muito mais ainda aconteceu em relagao A lingua escrita, vista, quase sempre, na sua realizacéo formal ‘ou, pior ainda, como exercicio de uma *redago" sem intengao, sem fi- nalidade comunicativa, sem leitor, sem contexto, Exaurindo-se apenas na finalidade do treino. incia de um ensino da metalinguagem gramatical deixou ‘caPITULO.12|A ESCRITA DETEXTOS NA ESCOLA: DE OLONA DIVERSIOADE 215, Que cheguemos, jé, a um ensino de Iinguas que, em cada momento, estimule a compreensaé, afluéncia, o intercambio, a atuagao verbal como forma de participagao nossa na construcao de um mundo, inclusive lin- guisticamente, mals solidério e mais libertadot. Ou seja, privilegiemos ‘ensino de uma escrita socialmente relevante, nao excludente, encorajado- ra, centrada em tudo que dé sentido & grandiosa aventura da vida humana, Ser que o exercicic de formar frases, aleatorias esoltas, pode promo- ver a competéncia das pessoas para realizarem a complexa atividade da interagdo verbal? EU BEM QUE MOSTREI A ELA, O TEMPO PASSOU NA JANELA E SO CAROLINA NAO VIU. (Chico BuARQUE) a6 RANO€ ANTUNES [ LINGUA, TEXTOE ENSINO

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