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Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira

Instituto de Humanidades e Letras


Curso de Licenciatura em História
Tópicos em História do Brasil II

Docente: Prof. Dr. Rafael da Cunha Scheffer


Discente: Gutemberg de Queirós Lima

Avaliação II
1. O contexto da Independência do Brasil foi marcado por diferentes projetos e
interesses. A esse respeito, discuta o que foi o processo de “interiorização” da
Metrópole e como protestos como a Revolução Pernambucana de 1817
mostravam que havia outros projetos e grupos na disputa.
O processo de independência do Brasil é continuamente assinalado por Odila Dias
como uma transição permeada pela necessidade de continuidade, e assim não se
caracterizou como um evento nacionalista revolucionário.
Diante de um contexto de conflitos e inseguranças que abalavam o Reino de Portugal
em meio as guerras napoleônicas, a situação se mostrava a ser resolvida unicamente pela
conversão da colônia em metrópole. Não à toa, Dias defende que o Império se torna um
fato irremediável com a vida da Coroa em 1808.
Precisamos destacar a importância da Inglaterra em todo este processo.
Primeiramente, o início do século XVIII marca o amadurecimento do ideário capitalista
impulsionado pelo industrialismo inglês. A Inglaterra lutava por manter o Portugal sob
seu domo de influência, e tendo auxiliado na transição da Corte, seu poder sob os
portugueses se fortifica.
A abertura dos portos sob tratado com a Inglaterra favorece o Brasil, possibilitando a
diversidade do livre comércio, conforme aponta Caio Prado Junior em História
Econômica do Brasil. A prosperidade que o Brasil aparenta faz erigir no reino a ideia de
se salvar a partir do próprio Brasil.
Segundo as elites locais, para reeguer Portugal seria
preciso deter o processo de autonomia do Brasil, ao
qual atribuíam a responsabilidade pelo estado
lamentável das finanças e do comércio no reino.
(SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. 201)
A ideia era usar essa prosperidade em favor do reino. Porém, havia a pressão inglesa
para uma modernização social e econômica, afim de não sobrecarregar o Brasil em tal
tarefa.
É esse contraste social e geográfico que Dias expõe: a Corte enraizava e estreitava
laços com a região Centro-Sul, mas não hesitaria em assentar de despesas a região Norte.
O que Dias ainda ressalta é a manutenção da estrutura política e administrativa colonial
na região Norte.
Esse processo de enraizamento da Corte no Centro-Sul é o que Dias define como o
processo de interiorização da metrópole. As condições coloniais não eram propícias para
um nacionalismo burguês daquele período, sendo assim a opção para o Brasil era
converter-se em uma metrópole com as mesmas estruturas sociais e políticas.
Essa era a alternativa aceita pelas classes dominantes que temiam as problemáticas
da sociedade colonial, como autoridade fraca e dispersa, temor pela fragmentação e
instabilidade provincial.
No mais, a interiorização da metrópole evidenciou o antagonismo do absolutismo
representado pelos mercadores portugueses contra o novo liberalismo econômico dos
nativos liberais. O que percebemos com Dias é que a continuidade era a principal
preocupação durante esse processo transitório, e que nacionalidade brasileira não fora
revolucionária, mas possui sua base provavelmente no processo de interiorização da
metrópole.
Pela ótica de Dias, este processo não foi apenas um mero deslocamento político e
econômico da Corte. Mas um evento denso, influenciado pela crise europeia e também
pela pressão britânica, e que se estabeleceu como pilar para o processo de Independência
e ao mesmo tempo definiu o status de Brasil como Império. Isto é, forneceu uma
emancipação monárquica.
Porém, como já foi ressaltado a importância da influência britânica no
desencadeamento desses eventos, cabe destacar que havia grupos que contatavam a
França em auxilio de seus próprios projetos para a colônia brasileira, e este é o caso dos
Suassunas.
A diferença de projetos é posta de forma antagônica por Cabral de Mello ao afirmar
que o Sul compactuava com uma emancipação monárquica, enquanto o Norte por
influência norte-americana teve aspirações republicanas. A primeira região, por sua vez
estava mais próxima as regalias imperiais, enquanto a segunda recebia dura carga fiscal.
Diante da aliança portuguesa com os ingleses, os revoltosos buscaram apoio com a
França, que já havia consultado planos para atacar o Brasil e o comercio inglês. Na
possibilidade de impedir o Príncipe Regente vir ao Brasil, a implantação de um governo
em Pernambuco seria facilitada. Porém, a vinda da Corte obstaculiza as conspirações
emancipatórias do Norte enquanto Independência regional. Entretanto um outro projeto
surge, tendo em vista o desejo de uma emancipação unitária junto ao Sul, e aqui nos
fornece uma dupla perspectiva emancipatória pré-Independência: uma política unitária e
uma federalista.
A saída de D. João traz segurança ao estabelecimento das Lojas Maçônicas, e estas
por sua vez tiveram influência em 1817, em especifico a maçonaria pernambucana, tendo
sido constituído apenas por nativos e orientada por Londres.
A hipótese de que a Revolução Pernambucano foi, em
grande parte, uma realização maçônica parece
aceitável. Em seu favor temos as afirmações de
Muniz Tavares, revolucionário de 1817, e a opinião
de historiadores da envergadura de Varnhagen e
Oliveira Lima. (BARRETO, 2003, p. 230)
O movimento que eclode em 1817 em Pernambuco evidencia uma alternativa dada
por Mello a historiografia da Independência centrada no Rio de Janeiro. E ainda faz
perceber que a influência das ideias da Revolução Francesa (uma vez que o governo
provisório que se estabelece se assemelha ao Diretório da França de 1795), temidas e
censuradas através do controle dos livros, chegaram até o Brasil e tiveram impacto
significante, além das ideias republicanas como se percebe no dito movimento.

2. No manifesto, que motivos Bento Gonçalves aponta para a revolta? Como ele
desenha a situação e o tratamento do Rio Grande do Sul antes da rebelião? Sobre
a revolta em si, como Marcello Basile classifica esse movimento e como ele se
destaca de outros?
Basile destaca uma percepção comum da historiografia em entender o período
regencial como um período anárquico, constituído por diversas e intensas revoltas. E por
sua vez estas eram importantes mecanismos de ações políticas nesse momento em que a
população ganhava voz. A vacância do trono permitiu a percepção de diferentes projetos
para a nação, bem como evidenciou conflitos dos sujeitos e seus desejos nesse contexto.
O 7 de abril desencadeou este período de experimentação política de forma revoltosa por
conta da frustração e desentendimento com o governo do Primeiro Reinado.
Basile encaixa a Revolução Farroupilha em um segundo ciclo de revoltas
consequentes a aprovação do ato adicional que fortaleceu os poderes provinciais
desalinhados com o governo central, sendo um movimento distinto por sua longevidade
e por ter estabelecido um plano nítido de reivindicações posteriormente aceitas pelo
Império, além da proposta de república proclamada, sendo este um ponto de destaque
para o movimento. A proclamação de uma república, a República do Piratini, é elemento
que diferencia a Guerra dos Farrapos dos demais movimentos revoltosos da Regência.
Em seu quadro acerca das revoltas do período, Basile assina a Revolução Farroupilha
como de tendência “exaltada”.
Segundo Cardoso não fora um movimento separatista, uma vez que “a revolta
exprimiu uma tentativa extrema para reorientar, nos quadros da política imperial, as
relações entre o Poder Centra e a Província.” (CARDOSO, 1972, p. 502). Opinião que
Basile acorda, afirmando que “salvo raríssimas e pontuais exceções, não havia ideias
separatistas presentes nos projetos políticos das facções regências, nela incluídos os
liberais exaltados, que capitanearam tais levantes.” (BASILE, 2009, p. 71).
O manifesto de Bento Gonçalves expressa um sentimento de frustração para com o
governo imperial. Primeiramente, acusando o Imperador de inferiorizar os interesses da
província perante os acordos internacionais, sendo parcial na administração provincial e
incapaz de uma formulação legislativa proveitosa para o país.
Gonçalves defende que o povo Rio-grandense era o maior defensor do Império, e
que, no entanto, não era justamente remunerado diante de tal função. Gonçalves acusa o
governo mais de uma vez de parcialidade, além de desprezar e ignorar a dita província.
Cabe destaque que o autor do manifesto acusa o próprio governo imperial de segregar,
separar a região do resto do país, mas o argumento constante no texto diz respeito as
despesas e impostos.

REFERÊNCIAL BIBLIOGRÁFICO
BARRETO, Célia de Barros. Ação das sociedades secretas. In: HOLANDA, Sérgio
Buarque de. Brasil Monárquico I: O processo de emancipação. 9. ed. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2003. p. 217-234. (História Geral da Civilização Brasileira).
BASILE, Marcello. O laboratório da nação: a era regencial (1831-1840). In: GRINBERG,
Keila e SALLES, Ricardo (Org.). O Brasil Imperial, vol. II – 1831-1870. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2009, pp. 53-120.
CARDOSO, Fernando Henrique. Rio Grande do Sul e Santa Catarina. In: HOLANDA,
Sérgio Buarque de (Org.). Brasil Monárquico II: Dispersão e Unidade. 3. ed. São Paulo:
Difusão Europeia do Livro, 1972. p. 473-505. (História Geral da Civilização Brasileira).
DIAS, Maria Odila. A interiorização da Metrópole (1808-1853). In: MOTA, Carlos
Guilherme. 1822 Dimensões. São Paulo: Perspectiva, 1986, pp.160-184.
MELLO, Evaldo Cabral de. Dezessete. A outra Independência: o federalismo
pernambucano de 1817 a 1824, São Paulo, Editora 34, 2004, pp. 25-64.
SCHWARCZ, Lilia M.; STARLING, Heloisa M.. Brasil: Uma biografia. São Paulo:
Companhia das Letras, 2015. 694 p.

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