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NOTAS DE AULA 03 – ECONOMIA

3. AS CONTAS NACIONAIS COMO QUADRO DE REFERÊNCIA PARA ANÁLISE DE


VARIÁVEIS MACROECONÔMICAS

3.1 Introdução

A medida do valor total gerado pela economia de um país é dada pela soma de
todos os bens e serviços produzidos. Tal medida é um dos objetos da macroeconomia.
O estudo das variáveis macroeconômicas denominadas “contas nacionais” constitui
um importante instrumento para a compreensão mais aprofundada da economia e,
consequentemente, dos impactos dessas variáveis sobre as organizações de forma
individualizada.

3.2 Questões-Chave

Principais indagações:
 O que diferencia o conceito de “produção” do conceito de “produto”?
 Como é formada a “renda” do conjunto de habitantes de um país?
 Como se determina o “valor do “produto” e da “renda”?
 Por que “renda” e “produto” têm valores iguais?
 Como a “renda” é distribuída em termos setoriais?
 O que limita o valor da “renda”?

3.3 Produto e renda: uma abordagem simplificada

3.3.1 Produção

Consiste no processo responsável pela produção de bens e realização de


serviços como alimentos, transporte, habitação, roupas etc. a partir da utilização dos
fatores de produção (força de trabalho, capital, recursos naturais, tecnologia e,
segundo alguns autores, da capacidade empresarial).

 Força de trabalho: população economicamente ativa de um país.


 Capital: máquinas, equipamentos, prédios, instalações, estradas etc.,
também denominados, “meios de produção”.
 Recursos naturais: água, terra, luz solar, vento quando passíveis de
exploração econômica.
 Tecnologia: “know-how”, ou seja, o conhecimento do “saber projetar ou
fazer” que está incorporado nos bens de capital, trabalho ou nos objetos
produzidos.
 Capacidade de empresarial: conhecimento sobre como organizar os
fatores de produção de forma a atender as necessidades do mercado e,
ao mesmo tempo, obter satisfatório retorno sobre os investimentos.
As principais responsáveis pela produção são as “empresas”. Estas podem ser
privadas ou estatais (públicas)/mistas, quando seu capital é composto por
ações/quotas em poder de indivíduos ou entidades federais, estaduais ou municipais.
O Governo é, também, um produtor de serviços nas áreas de educação, saúde
segurança etc.
A quantidade de bens/serviços produzidos depende da disponibilidade dos
fatores de produção e da “eficiência” do processo produtivo.
 Quanto mais eficiente for a combinação dos “inputs” (fatores de
produção), maior será a quantidade/qualidade dos “outputs”
(bens/serviços).
 A disponibilidade dos “inputs” é condição necessária, mas não suficiente
para que haja “outputs”. Ex: desemprego, ociosidade de
máquinas/equipamentos ou instalações.

Observações:
 Bens de capital: máquinas, equipamentos, instalações, prédios.
 Bens intermediários: matérias-primas, material de higiene e limpeza,
escritório utilizados pelas empresas.
 Bens finais duráveis: carros, eletroeletrônicos.
 Bens finais não-duráveis: alimentação, vestuário.

3.3.2 Geração de Renda

Ao realizar a produção de bens/serviços, os proprietários dos bens de capital


(máquinas, equipamentos, prédios e instalações) recebem lucros, juros, aluguéis,
renda da terra ou “royalties”. Por outro lado, os trabalhadores, ao cederem sua força
de trabalho, recebem a remuneração na forma de salários. A figura a seguir sintetiza
a relação entre as empresas e os indivíduos em termos do fornecimento dos fatores
de produção e de renda. As linhas contínuas mostram os fluxos dos fatores de
produção e dos bens/serviços e as linhas pontilhadas apresentam os fluxos
monetários (rendas).

Fornecimento de fatores de
produção

Remuneração pelos fatores de


produção
Empres Indivíduo
as s
Pagamento pelos bens e serviços

Suprimento de bens e serviços

3.3.3 Medição da Renda e do produto (modelo simplificado)

Ao longo de um determinado período de tempo (ano civil) podem ser medidos


os fluxos de produção e os fluxos de renda por meio de uma soma dessas variáveis.
 Produto: somatória dos valores dos bens e serviços finais a preço de
mercado dentro do período considerado (geralmente, um ano). Obs: não
são considerados os valores de transações intermediárias para evitar
soma em duplicidade. Ex: valor do livro para o consumidor final sem poder
somar o valor do papel gasto para a sua produção, pois este já está
incluído no preço do livro.
 Renda: soma das remunerações dos habitantes do país que participaram
do processo produtivo durante o período considerado.

Importante: o valor da “renda” é igual ao valor do “produto”.

Prova: considere-se a existência de três empresas que realizam transações entre si e


entre os consumidores finais as quais, para efeito de simplificação, vendem toda a
produção, não havendo formação de estoques. A demonstração de resultados (DRE)
de cada empresa A, B e C são apresentados nas tabelas a seguir:

Demonstrativo de resultados da empresa A (R$ milhões) – ano 20XX


Compras de Bens Intermediários Venda de Bens Intermediários
1700 1000
junto à empresa C junto à empresa B
Salários 1400
Aluguéis 400 Vendas aos consumidores 5100
Juros 600
Lucros 1500 Vendas de Bens de Capital 0
Depreciação 500
610
Total de Insumos Distribuição da produção 6100
0

Demonstrativo de resultados da empresa B (R$ milhões) – ano 20XX


Compras de Bens Intermediários Venda de Bens Intermediários
1000 3200
junto à empresa A junto à empresa C
Salários 1400
Aluguéis 800 Vendas aos consumidores 1300
Juros 1100
Lucros 600 Vendas de Bens de Capital 1000
Depreciação 600
550
Total de Insumos Distribuição da produção 5500
0

Demonstrativo de resultados da empresa C (R$ milhões) – ano 20XX


Compras de Bens Intermediários Venda de Bens Intermediários
3200 1700
junto à empresa B junto à empresa A
Salários 1800
Aluguéis 500 Vendas aos consumidores 5400
Juros 700
Lucros 1400 Vendas de Bens de Capital 1400
Depreciação 900
850
Total de Insumos Distribuição da produção 8500
0

Ao combinar os demonstrativos das três empresas de forma agregada, no sentido de


representar de forma simplificada a economia do país, chega-se aos seguintes
resultados:

Demonstrativo de resultados agregado (R$ milhões) – ano 20XX


Compras de Bens Intermediários: Venda de Bens Intermediários:
Empresa A junto à empresa C 1700 Empresa A para a empresa B 1000
Empresa B junto à empresa A 1000 Empresa B para a empresa C 3200
Empresa C junto à empresa B 3200 Empresa C para a empresa A 1700
590
Subtotal Subtotal 5900
0
Salários 4600
Aluguéis 1700 Vendas aos consumidores 11800
Juros 2400
Lucros 3500 Vendas de Bens de Capital 2400
Depreciação 2000
201
Total de Insumos Distribuição da produção 20100
00

Observa-se que as compras e vendas de bens intermediários entre as três empresas


se anulam, podendo ser desconsideradas as transações intermediárias e resultando
na seguinte situação:

Demonstrativo consolidado das empresas do país X (R$ milhões) – ano 20XX


Conta de Produção do País X
Salários 4600
Aluguéis 1700 Vendas aos consumidores 11800
Juros 2400
Lucros 3500 Vendas de Bens de Capital 2400
Depreciação 2000
142
Renda Produto 14200
00

Conclusão: O valor total da Renda é igual ao valor total do Produto de um país.

Esse resultado pode ser obtido de outra forma, a partir do “valor adicionado” pela
empresas, ou seja, pela soma das contribuições das empresas à produção global de
um país, conforme apresentado na tabela a seguir:

Cálculo do Valor Agregado pelas empresas do país X (R$ milhões) – ano 20XX
Produção Transações Valor
Firma
Total intermediárias Adicionado
A 6100 1700 4400
B 5500 1000 4500
C 8500 3200 5300
Total 20100 5900 14200

A soma dos valores adicionados das empresas corresponde ao valor das transações
finais realizadas que representa o “produto” de um país.

3.4 Quadro de Contas Nacionais de uma Economia Real

Como conseqüência das análises anteriores constata-se que o “nível de renda” de


um país depende do seu “produto”. A “renda” de um país é derivada exclusivamente
do processo produtivo e o seu valor é exatamente igual ao valor total do “produto”.

Apesar das simplificações adotadas, como por exemplo, a inexistência de “governo” e


de transações com o exterior, essas conclusões são válidas para o “mundo real”
representado pela tabela a seguir:
Conta de Produção com valores hipotéticos de um país (R$ milhões) – ano 20XX
Salários 800 Consumo das Famílias 1000
Contribuições patronais à
100 Consumo do Governo 480
Previdência
Juros 150 Investimento Bruto: 430
Formação Bruta de
Aluguéis 80 410
Capital Fixo
Lucros Totais: 300 Variação nos Estoques 20
Lucros Retidos 70
Lucros Distribuídos 140 Exportações 390
Impostos sobre o Lucro 90

Renda Interna Líquida 1430


+ Depreciação 200
+ Impostos Indiretos
250
Líquidos
Produto Interno Bruto (a
1880
preço de mercado)
Importações 420

Oferta Agregada 2300 Procura Agregada 2300

A “oferta agregada” corresponde ao valor de mercado dos bens e serviços


produzidos no país num determinado período de tempo. A “procura agregada”
representa o valor de mercado da demanda final de bens e serviços ofertados por
agentes econômicos tanto internos como externos a esse país, num determinado
período de tempo.
Observações:
 Inclusão do consumo do Governo e as exportações como demandas finais.
 Governo: poderes legislativo, executivo e judiciário da União, estados e
municípios.
 As vendas de bens de capital são representadas pelo investimento bruto.

3.4.1 Conta Famílias


Na análise macroeconômica entende-se por “famílias” o conjunto de pessoas físicas
do país que exercem papel ativo como agentes econômicos desse país. O “resto do
mundo” são as empresas, famílias e governo de outros países. No mercado
macroeconômico de bens e serviços, em termos de contas nacionais, a participação
das famílias, do governo e do resto do mundo são representadas na tabela a seguir:
Contas Famílias (R$ milhões) – ano 20XX
Despesas e poupança Receitas
Consumo das famílias * 1000 Salários* 800
Contribuições pessoais à Prev.
60 Juros* 150
Social
Impostos pessoais 120 Aluguéis* 80
Renda líquida enviada ao
10 Lucros distribuídos* 140
exterior
Transferências
Poupança das famílias 110 130
governamentais
Soma 1300 Soma 1300

 Valores obtidos da tabela de “conta de produção”.


 Transferências governamentais: aposentadorias, pensões, seguro
desemprego, donativos/doações etc.
 Impostos pessoais: IPTU, IPVA, IRPF etc.

3.4.2 Conta Governo

Contas Governo (R$ milhões) – ano 20XX


Gastos e poupança Receitas
Contrib. Patrim. à Prev.
Consumo do Governo * 480 100
Social*
Transferências governamentais 130 Impostos sobre lucros* 90
Poupança do Governo 10 Impostos indiretos liquidos* 250
Contrib. Pessoais à Prev.
60
Social
Impostos pessoais 120
Soma 620 Soma 620

 * valores obtidos da “conta produção”.

3.4.3 Conta resto do mundo

Contas resto do Mundo (R$ milhões) – ano 20XX


Gastos e poupança Receitas
Exportação de mercadoria e Importação de mercadorias e
390 420
serviços* serviços
Renda liquida enviada ao
Poupança do resto do mundo 40 10
exterior
Soma 430 Soma 430

 * valores extraídos da “conta produção”.


 Poupança do resto do mundo: valores de agentes econômicos
estrangeiros investidos na produção interna + renda líquida enviada ao
exterior + contribuições à produção de outros países.
3.4.4 Conta Acumulação

Contas Acumulação (R$ milhões) – ano 20XX


Investimentos Poupança
Formação bruta de capital fixo 410 Lucros retidos 70
Variação nos estoques 20 Depreciação 200
Poupança das famílias 110
Poupança do Governo 10
Poupança do resto do mundo 40
Investimento Bruto 430 Poupança Total 430

 Visa destacar o processo de acumulação do país como um todo,


independentemente dos agentes responsáveis (famílias, empresas,
governo ou instituições do resto do mundo).
 Os investimentos são de fundamental importância para os níveis de
atividade econômica de um país.

3.5 Distribuição Setorial da Renda: introdução

Para o estudo macroeconômico é importante analisar como se dá a


distribuição de renda gerada pelos processos produtivos dentre os setores
macroeconômicos representados pelas empresas, famílias, governo e resto do
mundo. Tomando como base os valores das tabelas anteriores, pode-se mostrar a
seguinte divisão do PIBpm (Produto Interno Bruto a preço de mercado):

Empresas 270
Lucros retidos 70
Depreciação 200
Famílias 1110
Salários, juros, lucros distribuídos, aluguéis e transferências 1300
governamentais
(-) Impostos e contribuições previdenciárias (180)
(-) Renda líquida enviada (10)
Governo 490
Impostos e contribuições previdenciárias 620
(-) Transferências governamentais (130)
Resto do Mundo 10
Renda líquida enviada ao exterior 10
Total - PIBmp 1880

 A soma das rendas dos diversos setores é exatamente igual ao valor da


produção do país, independentemente dos pagamentos que possam
existir entre esses setores.
 O aumento da renda de um determinado setor só poderá existir se este
retirar renda de outro setor ou se o PIBpm aumentar.
 Se for desconsiderado o “resto do mundo” pode-se observar que a renda
está dividida entre o setor privado (empresas e famílias) e o público
(governo). Isto explica porque todos nós gostaríamos de pagar menos
impostos e o governo quer arrecadar mais.

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