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O Método nas Ciéncias Naturais e Sociais: Pesquisa Quantitativa e Qualitativa Alda Judith Alves-Mazzotti Fernando Gewandsznajder Ane 2 Edigao THOMSON —_. ‘pana Glades Unies Wc Reno as THOMISON, tONISON | Mavco Vout Revisso: LRM assessora Ealtorial Todos ot crits reservados, © Copyright 1998.1898 de e510, de 19 de fe 01998, Sumario Apresentagao PARTE I © METODO NaS CIENCIAS NATURAIS. Fernando Getenndsennjder CAPITULO 1 ~ Uma Visio Geral do Método nas Ciénci it de problemas 2. As hipdteses cientificas devem ser passiveis de teste 3. Os testes devem ser as mais severos possiveis 4. Leis cientfficas 5. Teorias cientificas CAPITULO 2 ~ Cigncia Natural: Os Pressupostos Filoséficos 1. O positivismo l6gi 11 Criticas 20 pi 2. As idéias de Popper 2.1 O métocio das conjecturas e refutagdes 2.2 A importncia da refutabilidade 23 Verdade e coroboragio 24 Critica das idéias de Popper 3. Afilosofia de Thomas Kuhn 3:1 O conceito de paradigma 32 Aciéncia normal 33 Crise e mudanga de paradigma 34 Atese da incomensurabilidade 35 A avaliagao das teorias 3.6 Conclusio 4. Lakatos, Feyerabend e a sociologia do conhecimento 41 As idéins de Lakatos 42 As idéias de Feyerabend 43 A sociologia do conhecimento 10 13 u 15 16 18 20 24 5 26 28 34 39 a vi [AUDA JUDITH ALVES: MAZZOTT fe FERNANDO GEWANDSZNAJDER 5, A defesa da objetividade: 0 racionalismo 5a A mudanga de significado 5.2 Verdadeiro até prova em contréio 5.3 Observacées e testes que depencem de teorias 5 Eliminando contradig6es 55 Os testes independentes 5.6 O objetivo da ciéncia ‘O empirismo de van Fraassen e a abordagem cognitiva 6.1 O empirismo de van Fraassen 62 Aabordagem cognitiva 7. Conclusio 0 hoje CAPETULO 3 ~ A Pesquisa Cientifica 1. Problemas 2. Respostas aos problemas: as explicesbies cient 2.1 Os lenémenos aleatrios ¢ as explicagbes AN oonasho de hipstenes ur espao para a tntidade do cientista 31 As qualidades de uma boa hipétese 4. Leis eteorin 441 Acomplexidade do mundo eal ea necessidade de umn modelo 5, Testando hipsteses 5:1 Os testes estatisticos 32 ‘Testes rigorosos e observagbes mais precisas ~ medidas CAPETULO 4~ A Ciéncia e Outras Formas de Conhecimento 1.4 Homeopatia Criticas & astrologia [por semelhanga ide com a ciéncia ¢ incoeréncias iciona na prética? 24 Os testes 25. Uma experiéncia controlada para testar a astrologia 43, Cigneia e senso comum PARTE IL O METODO NAS CIFNCTAS SOCIAIS Alla Ju Introdugito > CAPITULO 5 ~ As Ciéncias Sociais sio 1, Acritica radical da crenga na ciéneia: (© MitTODO AS CIENCIAS NATURAIS & SOCIAIS CAPITULO 6 ~ 0 Debate Contemporéneo Sobre os Paradigmas 1. O“paradigma qualitative” na déeada de 80" 4, Conclusao CAPITULO 7 ~ 0 Planejamento de Pesquisas Qu: 1. Focalizagao do problema 1 Introdugio 12 Objetivo e/ou questies do estudo “1.3 Quadro tedrico 24 Procedimentos e instrumentos de coleta de datos 24.1 Observagdo 242 Entrevistas 243 Documentos 25 Unidade de anslise 2.6 Anélise des dados confirmabilidade 3. Tipos de reviséo a serem evitados 4, Consideragoes finais Referéncins Apresentagdo Procuramos reunir neste livro as fundament estudante compreenda a natureza do método cie sociais, Esperamos com isso néo apenas ju pesquisas na graduacio e pés-gradu: ‘critica do método cientifico —jé que até mesmo no nivel universitério o ensino 6 feito, muitas vezes, de forma incompleta, concentrancio- necessirios para que 0 nas ciéncias naturals e teGriea sobre seus fundamentos filoséti cial, livre de preconceitos? Pod ‘uma teoria cientifica? Em que c O desconhecimento dessas: Seestas questdes precisam ser esclarecidas no 4 ‘0 problema se torna ainda mais complexo quando se trata das ci na medida em que, nestas, dliscute-se a prépria adequagio do modelo daquelas, ‘iéncias para o estudo dos fendémenos humanos e socials, Alguns autores defen- dem a utilizagio do modelo das ciéncias naturais, e mais do que isso, conside- zram que s6 neste caso as ciéncias socials podem ser propriamente chamadas de ““ciéncias". Entretanto, embora esse modelo tenha prevalecido por varias déce- das, muitos pesquisadores sociais vem questionando sua eficécia para e ‘ocomportamento humano, alegando que este deixa de lado justamente aguilo aque caracteriza as ages humanas: as intengBes, significados e finalidades que hes so inerentes. miétodo nas cigncias bisicos, como o de iscutidas as diversas ico. Esta discussao é relevante ‘A primeira parte do livzo discute te controlado. No segundo capitulo sii loséficas acerca da natureza do método cis x |ALDA JUDITH ALVESMAZZOTTI fe FERNANDO GEWANDSZNAJDER também para estudantes de cincias sociais,tuma vez que trata dos pressuposios flosdficos do método cienifico. No terceiro capitulo so discutidas as etapas da ientifica e 0s conceitos de le, teoria, medidas e testes controlados e Finalmente, no quazto capitulo a ciéncia & comparada a outras formas de conhecimento. ‘segundo capitulo ¢ umarversfo modifcaca de parte da tese ce doutora- do de um dos autores (Gewandsenajder, 1995), enquanto o primei 0 0 quarto capitulos sto versbes mocificadas do livro O que é 0 método (Gewandsznajder, 195 “A segunda parte dolivro discute a questio do método nas ciéneias socinis, focalizando especificamente a8 metodologias qualitatives, ima vez que as pes- quisas quantitativas seguer basicamente o mesmo modclo das ciéncias natu- tis, Esso opcio se justifca, ainda, pelo fato de que essas metodologias vem focupandlo espagos cada vez maiores nas pes fedueagio ¢, embora haja um niimero razodve ‘qualitativas, a analise de seus fundamentos cif © Capitulo 5 examina as raizes da chamac jcamente a discussio sobre a cientificidade das ciéncias socials. lisa o debate sobre o “paradigma qualitativo” na década de 80, pata clepois caracterizar seus prineipais desdobramentos atuais: 0 pés-positi- ‘ismo, 0 construtivismo sociale a teoria critica, O Capitulo 7 & dedicado 20 planejamento de pesquisas qualitativas. Af buscamos discutir alternatives € bferecer sugestdes, acompanhadas de exemplos, que possam ajudar o pesqui- sadoriniciante a planejar ea dese i 8 produgio de conhecimentos con revisao da bibliografis, um dos aspectos da pesquisa que al raduagao e de pés-graduagio, Cabe assinalar que 0s Capitulos 6,7 8 sho versbes ampliadas e atualizadas de artigos anteriormente puilicados nos Cademnos ce Pesquisa, da Fundagto Carlos Chagas (imeros 96, 77 ¢ 81, respectivamente). “erise dos paradigmas” para PARTE I O Método nas Ciéncias Naturais Fernando Gewandsznajder CAPITULO 1 Uma Viséo Geral do Método nas Ciéncias Naturais Em ciéncia muitas vezes construimos um modelo simplificado clo objeto dondsso estudo. Aos poucos, o modelo pode tornar-se mais complexo, passan= modelo simplificado clo métoclo cientifico. Nos capftulos seguintes, tornaremos ‘este modelo mais complexo. Veremos também que nfo hé uma concordancia completa entre 05 filésofos da ciéncia acerca des caracteristicas do método Poce-se discutir se hi uma unidade de método nas diversas ciéncias. A matemética ¢ a logica possuem certas caracteristices préprias, diferentes das aétodo que as ciéncias naturas, como a fs Um método pote ser definido como uma série d resolver iim problema. No exs0 do método cientific gerais, Nio sfo infalivels e nfo suprem o apelo d imaginacio e & Glentista, Assim, mesmo que nto haja um método para conceber idéias novas, descobrir problemas ou imagina les dependem da ctiatividade do eientista), muitos filésofos concordam que hi um método para ipoteses e teoriase é neste senticlo {estar criticamente e selecionar as melhores que poctemos dizer que hé um método cic ntifico é a tentativa de sblemas por meio de suposiebes, isto é, de hipéteses, que possam ser avés cle observagies ou experiéncias. Uma hipétese contém previ- s6es sobre o que devera acontecer em determinaclas condigies. Se 0 cientista fizer uma experiéncia, e obtiver 0s resultados previstos pela hipdtese, esta seré aceita, pelo menos provisoriamente. Se os resultados forem contrérios 20s 4 |ALDA JUDITH ALVES-MAZZOTTI ke FERNANDO GEWANDS2NAIDER previstos, ela sera consicerada ~ em principio ~falsa, ¢ outra hipétese teré dle ser buscada 1. A atividade cientifica desenvolve-se a partir de problemas Ainda € comum a crenga de que a atividade cientifica comega com uma coleta de dadios ou observagées puras, sem idéies preconcebidas por parte do cientista, "Na realidade, qualquer observagio pressupde um critério para escolher, entre as observagdes possiveis, aquelas que supostamente sejam relevantes para ‘o problema em questio. Isto quer dizer que a observaglo, a coleta de dados eas texperiéncias sto feitas de acordo com dleterminados interesses e segundo certas ‘preconcebiclas, Estas idéias e interesses correspondem, jeses ¢teorias que orientam a Observacio e 0s testes a serem do ajuda a compreender melhor este ponto. ‘Quando um médico examina um paciente, por exemplo, ele realiza certas observacdes especificas, guiadas por certos problemas, tessas idéias, o nvimero de observacbes possfveis seria pr poceria observar a cor ce cada peca de roupa do paciente, contar oniimero de fios de cabelo, perguntar o nome de toclos os seus parentes e assim por diante. Em vez disso, em fungio do probl ‘ente apresenta (a garganta déi, ‘© paciente escuta zumbido no 0 ye de acordo com as teorias da fisiologia e patologia humana, 0 médico ir4 concentrar sua investigagio em cortas observagdes ¢ exames especificos. "Ao observar ¢ escutar tm paciente, 0 médico jé est com a expectativa de encontrar um problema, Por isso, tanto na ciéncia como nas atividades do ai din, nossa atengio, curiosidade e raciocinio s20 estimulados quando algo ‘corre de acordo com nossas expectativas, quando nao sabemos explicar sum fenémeno, ou quando as explicacées tradicionais no funcionam — ou seje, ‘quando nos defrontamos com um problema, 2. As hipéteses cientificas devem ser passiveis de teste [Em ciéncia, temos de admitir, sempre, que podemos estar errados em nossos palpites. Por isso, ¢ fundamental que as hipsteses cientificas sejam testadas experimentalmente w Hipéteses s80 conjacturas, palpites, solugdes provisérias, que tentam re- solver um problema ou explicar um fato. Entetanto, 0 mesmo fato pode ser explicado por vérias hipoteses ou teorias diferentes. Do mesmo modo como ha tum sem-nuimero de expltacoes para uma simples cor de cabesa, por exemplo, (0 METODO NAS CIENCIAS NATURAIS SOCIAKS 5 a histéria da ciéncia nos mostra como os fatos foram explicados e problemas foram resolvidos de formes diferentes ao longo do tempo. ‘Uma das primeiras tentativas de explicar a evolugio dos seres vivos, por ‘exemplo, foi a feoria de Lamarck (que supunha haver uma heranga cas caracte- risticas adquiridas por um onganismo ao longo da vi iadepois pela teoria da evolugio por selegéo natural, de Darwi aracteristicas herdadas aleatoriamente so selecionadas pelo ambient planetas foi explicao inicialmente pela teoria geoc@ntrica (0s planetas e o Sol giravam ao recior de uma Terra imével), que foi depois substitufda pela teoria Hreliocéntria (a Terra eos planetas girando ao redor co Sol). Estes sf0 apenas dois exemplos, entre muitos, que mostram que uma teoria pode ser substitulda por outra que explica melhor os fats ou resolve melhor “ determinados problemas A partir das hipéteses, 0 cientista deduz uma série de conclusées ou previsdes que serao tesladas. Novamente, podemos utilizar a analogia com a pritica médica: se este paciente esta com uma infecgfo, pensa 0 médico, ele eslaré com febre. Além disso, exames de laboratério podem indicar a presenga debactérias. Eis af duas previsbes,feitas a partir da hip6tese inicial, que podem set testadas. Se os resultados dos testes forem positives, eles irdo fortalecer a hipotese de infeccao. embora 08 fatos possam apoiar uma hipétese, torna-se bastan- te problemtico afirmar de forma conclusiva que ela é verdadeira. A qualquer momento podemos descobrir novos fatos que entrem em conflito com a hipéte- se, Além disso, mesmo hip6teses falsas pociem dar origem a previsGes verda- deiras. A hipotese de infeccdo, por exemplo, prevé febre, que éconfirmada pela Teitura do termémetzo. Mas, outras causss também podem ter provocaclo a febre. Por isso, as hip6teses confirmadas experimentalmente sfo aceltas sempre com alguma reserva pelos cientistas: futuramente elas poderdo ser refutadas por novas experiéncias. Pode-se entéo dizer que uma hipétese sera aceita como possivel - ot: provisoriamente — verdadeira, ou ainds, como verdadeira até prova em contrario. © filésofo Karl Popper (1902-1994) enfatizou sempre que as hipdteses de caréter geral, como as leis cientificas, jamais podem ser comprovadas ou verifi- cadas. E facil compreender esta posicio examinando uma generalizacfo bem como “todos os cisnes sio brancos”: por mafor que seja 0 nuimero de cisnes observades, nfo pociemos demonstrar que o prximo cisne a ser obser vvado sera branco. Nossas observacées nos autorizam a afirmar apenas que totos os cisnes observados até fo io brancos, Mesmo que acreditemos que todos o so, nao conseg prové-lo, e poclemos perfeitamente estar enganacios, como, als, &0 caso ~ alguns cisnes sao negros Para Popper, no entanto, uma tinica observacao de um cisne negro pode, logicamente, refutar a hipétese de que todos os cisnes sio brancos. Assim, cembora as generalizagées cientificas ndo possam ser comprovacias, elas podem 6 [ALDA JUDITH ALVES-MAZZOTTI& FERNANDO GEWANDS2NATDER ser refutadas, Hipéteses cientificas, seriam, portanto, passveis de serem refuta- das, ou seja, seriam potencialmente falseaveis ou refutaveis. 3. Os testes devem ser_os mais severos possiveis Em ciéncia devemos procurartestar uma hipstese através dos testes mais severos possiveis Isto implica em ulilizar medidas ou testes estatisticos, se hhecesedtios e procurar, sempre que possivel, controlar 08 fatores que podem. Intervir nos resultados através de um teste controlado. Se, por exemplo, uma pessoa ingerir determinado produto e se sentir melhor de algum sintoma (dor de cabeca, dor de estémago, etc), ela pode supor ‘melhora deve-se & substincia ingerida. No entanto, & perfeitamente {que a melhora tenth ocorrido incependentemente do uso do produto, erika sido uma melhora esponténea, provocada pelas defesas do orga- rismo (em muites doengas ha sempre tum certo miimero de pessoas que ficam ‘boas sozinhas). Para eliminar a hipétese de melhora espontinea, é preciso que 6 produto passe por testes controlads. Neste caso, so utilizados dois grupos Ge doentes voluntitios: um dos dois grupos recebe o medicamento, enquanto 0 ‘utro recebe uma imitacio do remédio, chamada placebo, que é uma pilula ou preparado semelhante ao temédio, sem conter, no entanto, o medicamento em 70. Os camponentes de ambos os grupos ndo sfo informados se estavam Gu ngo tomando 0 remédio verdadero, é que o sinples fato dle uma pessoa Schar que est{ tomando o remédio pode ter um efeito psicol6gico e fazé-la ‘sentir-se melhor - mesmo que o medicamento no seja eficiente (¢ 0 chamado feito placebe). Alem disso, como a. pessoa que fornece o remédio podera, inconstientemente ou nfo, passar alguma inllugncia a quem o recebe, cla também nfo ¢ informada sobre qual dos dois grupos esté tomanclo o remédio. O mesmo se aplica aqueles que iro avaliar 0s efeitos do medicamento no ‘organismo: esta avaliaggo poder ser tencenciosa se eles souberem quem real- mente tomou o reméaio. Neste tipo de experimento, chamado duplo cego, os emédios so numerados e somente uma outra equipe de pesquisadores, nfo envalvida na aplicagao do medicamento, pode fazer a identificagio. Finalmente, nos dois grupos podem existir pessoas que melhoram da doenga, seja por efeito psicologico, seja pelas proprias defesas do organismo. ‘Mas, se um rimero significativamente maior de individuos (e aqui entram os testes estatistcos) do grupo que realmente tomou o medicamento ficar curado, podemos considerarrefutada a hipétese de que a cura deve-se exclusivamente Zo efeito placebo ou a uma melhora espontinea e supor que o medicamento fics, "Arepeticio de um teste serve para checi? se o resultado obtido pode ser repro = incase por outros pesusnores— 0 gue conta par 2 maior objetividadte do teste, na meclida em que permite que se cheque a inter- (0 METODO NAS CIENCIAS NATURAIS E SOCIAIS 7 feréncia de interesses pessoais de dleterminado cientista na avaliagio do resul- tado ~ entre outros fatores. liticada, pode-se dizer que as leis sf0 hip6teses gerais aque foram estas ereceberam apo experimental equ pretencem destrever _relagées ou regularicades encontracias em certos grupos de fendmenos. O ter gerade tima lei pode ser ilustraco por alguns exemplos. Alei da queda dhe plantas de evils amaels, cruzades entre sl podem prostate plan ee funciona para diversas outescracterstias e para aiversos outros sere vivos, permftindo previsOesinlisive para certesearateristicas humanas. A el da ica que temequnlquerreagio quimicaa massa dos prodtos tern de ser igual & massa das a que sempre que um Talo de (qualquer superice plana), luz (qualquer um) se refletir numa super co Angulo de reflexio serd igual a0 de inci ‘As explicagdes e as previsbes ci leis gerais combinadas a condigdes iniciais, que so as circunstancias particulares que acompanham 0s fatos a sei licados, Suponhamos que uum peso corresponclente A massa, de dez. quilogramas é pendurado em um fio de cobre de um milimetro de ‘espessura e 0 fio se rompe. A explicacdo para seu rompimento util ‘que permite calcular a resisténcia de qualquer fio em funglo do mi espessuira. As condigtes iniciais so 0 peso, a espessura do fio e 0 mat que ele 6 formado. Para outros tipos de fendmenos, como 0 movimento das moléculas de um. ‘84s, as proporobes relativas das caracteristicas hereditérias surgiclas nos cruza- ‘mentos ou a desintegragto radioal ‘quer modo, ha sempre a necessidade de se buscar leis para explicar 0s fatos. A ciéncia nao consiste em um mero actimulo de dads, mas sim numa busca da ordlem presente na natureza, de 5. Teorias cientificas A partir de corto estégio no desenvolvimento de uma citneia, as leis deixam de estar isoladas e passam a fazer parte ce teorias. Uma teoria 6 8 [AUDA [UDI ALVES MAZZOTTI& FERNANDO GEWANDSZNAJDER formada por uma reuniZo de leis, hipéteses, conceitos e definigées ecoerentes, As teorias tém um cardter ivo ainda mais ger ‘Ateoria da evolucio, por exemplo, explica a adaptagéo indivich Ge novas espécies, a seqiiéncia de fosseis, a semelhanga entre espécies aparen- fadas, e vale para todos os seres vivos do planeta. A mecinica newtoniana explica nio apenas o moviment5 dos planetas emt torno do Sol, ou de qualquer Dutta estrela, mas também a formacéo das marés, a queda dos corpos na superficie da Terra, as Grbitas de satélitese sspaciais, etc. (O grande poder de previsio das teorias cientificas pode ser & pela historia da descoberta do planeta Netuno, Observowse que as Gades da érbita de Uzano no podiam ser explicadas apenas pel exereida pelos outros planetas conhecidios. Levantou-se enti a hipétese de que hhaveria um outro planeta ainda nao observado, responsavel por essas izregula- ridades. Utilizando a teoria da gravitagio de Newton, os matematicos John C. ‘Adams e Urbain Le Verrier calcularam, em 1846, a massa e a posigao do suposto planeta, Um més depois da comunicagio de seu trabalho, um planeta com Jquelas caracteristicas ~ Netuno foi descoberto pelo telesedpio @ apenas um jau da posigho prevista por Le Verrier e Adams. Um processo semelhante fconteceu muitos anos depois, com a descaberta do planeta Plutio. ‘Vemos assim que a ciéncia no se contenta em formular generalizagSes como a lei da queda livre de Galileu, que se limita a descrever um fenémeno, ras procura incorporar estas generalizagbes a teorias. Esta incorporagio permi- te queasleis possam ser deduzidas e explicadas a partir da teoria. Assim, as leis de Charles e de Boyle-Mariotte (que relacionam o volume dos gases com [pressdo e a temperatura) podem ser formuladas com base na teoriacinética dos gases. A partir das teorias & possfvel inclusive deduzir novas leis a serem festadas. Além disso, enquanto as leis muitas vezes apenas descrevem uma reguleridade, as teoriascientificas procuram explicar estas regularidades, suge- indo um mecanismo oculto por tes dos fendmenos e apelando inclusive para ‘ntidedes que ngo podem ser observadas. fesse caso da teoria cindtica dos Gases, que propoe um modelo para estutura do ga (particulas muito peque- fas, moverdorse a0 acaso, etc.) “Apesar de todo &xito que a teoria possa ter em explicar a realidade,é importante reconhecer que ela 6sempre conjectural, sendo passivel de corregio uperfelgoamento, podendo ser substituida por outra teoria gue explique faulhor os fates Ft isto que ocorreu com a mecinica de Laplace — que procura~ ‘Vaexplicar os fendmenos isicos através de forgas centras atuando sobre part Lalas coma teoria de Lamarck da evolugéo, com a teoria do caldrico ee Mesmo @ teria de Darwin, embora superior & de Lamarck, continha sérias qacunas e somente a moderta teoria da evolu ~ 0 neodarwinismo ~ conse- (pal explicr satsitoriamente (através de nutag0es) o aparecimento de novi- Adis geneieas. Eni, a hstra da cncia contém um grande mimero de txemplos de teorig abandonadas e substituidas por outras (© METODO NAS CIENCIAS NATURAIS E SOCIAIS 9 A noes erin devn sr apa os de cot os fen explcos pel torn ang, co anbem de explicate novo asin tended ape dscns tase erdmonncapeaton ge tc new € sind fates see a cone ovens sere teeapordc erly cone sinclar pana cater se teeseos deans en riz quetoncvem velsidets ponies Solur thee tna probs da toa nentnen cnn clos deta coe limites. Quando trabalhamos com velocidac as comparadas coma da le meds podendo er dexprzadana pt [Gime ce lcs na mesa newoina sto mas fers oe stem estos a tora contin endo aplinges a engerbara civ ro lange mento ce foguietes e satélites, etc, cam aaa ‘Uma teorn lene fetes a bjs e mecanismos outs edesconhe a ea eee eee rn ah cna de mente, representa algo real, podemos realizar experimentos para test ee ee eee en eee a erecta ees -mesmo as teorias mais recentes devern ser encaradas como explicagdes apenas -parciais e hipotéticas da realidade. serem submetidas a criticas por parte de outtos cientistas; na disposicio de gn eet ¢ ean temple | Comte para a linha anglo-americana foi a combinacio de idéi CAPITULO 2 Ciéncia Natural: Os Pressupostos Filos6éficos ‘conhecimento cientifico. 1. 0 positivismo légico sno vern de Comte, que considerava a cigncia como 0 © terme fa conhecimento, No entanto, mais importante do que paradigma de (Mill, Hume, Mach é Russell) com 0 trabalhos em matemdtica e légica de Hil do Tractatus Logico-Phil do também de positivismo légico ou emy “influenciado ainda pelas novas descobertas em fh quntica e a teoria da relativida idéias e do desenvolvimento do ia logica mod ipaig file jeurath, emigraram para os Estados ‘Unidos ou Inglaterra com o suxgimento do nazismo, uma vez que alguns dos (0 MET000 NAS CIENCIAS NATURAIS E SOCIASS u membros do grupo eram judeus ou tinham idéias liberais ou socialistas incom- ppativeis com 0 nazismo. Para o positivismo, a Logica ea Matemética seriam vélidas porque estabe- Jecem as regras da linguagem, constituindo-se em um conhecimento a priari, ot seja, independente da experiéncia. Em contraste com a Logica e a Matemética, porém, 0 conhecimento factual ou empirico deveria ser obtido a partir da observacio, por um método conhecido como indusio, A pattir da observacdo de um grande mimero de cisnes brancos, por exemplo, conclufmes, por indugao, que 0 préximo cisne a ser observado seré branco. Do mesmo modo, a partir da observagao de que alguns metais se dilatam quando aquecidos, concluimos que todos o8 metais se dilatam quando aquecidos e assim por diante. A indugio, portanto, é 0 processo pelo qual’, podemos obter e confirmar hipéteses e enunciados gerais a partir da observa- e de um gés em fungdo de sua pre r exemplo, concluimos que o volume do gas é inversamente proporcional 8 pressio exerci- da sobre ele (lei de Boyle). Em te 1s condigdes BY. A associacio com o que chamamos de condicées iniciais permite prever e explicar \émenos: a lei de Boyle permite prever ‘que se dobrarmos a pressio de um gés com volume de um litto,em temperatura constante (condigdes iniciais), esse volume sera recluzido & metade, Embora o termo teoria tenha virios significado: simplesmente como sinénimo de uma hipétese ou estrito as teorias fo formadas por um conjunto di diretamente observéveis, como “tomo”, etc. Esses conceitos abstratos ou teéricos relacionados por regras de nte observéveis (0 pontelro do aps- relho deslocou-se em 1 centimetro, indicando uma corrente de 1 ampere, por ‘exemplo). As teorias geralmente utilizam modelos simplificados de uma situagio ais complexa, A teoria cinética dos gases, por exemplo, supde que um gés seja formado por particulas de tamanho despreaivel (étomos on moléculas), sem forcas de atracéo ou rep' esse modelo, podem Boyle, que relaciona a pressio com o volume do gés do gas diminuir, o niimero de choquies cas molé ‘te aumenta, aumentando a pressio do gas sobre a pared?) 2 [ALDA JUDITH ALVES MAZZOVTI&e FERNANDO GEWANDSZNAIDER (Os positivistas exigiam que cada conceito presente em uma teoria tivesse ‘como referéncla algo observavel. Isto explica a oposigio & teoria atémica no Snicio do século: embora esta teoria conseguisse explicar as leis da quimica, as ropriedades dos gases e a natureza do calor, Mach e seguidores nfo a acelta- Fare, uma ver que os étomos ndo podiam ser observados com qualquer técnica imaginavel da época. “n aceitacéo de uma lei ot teoria seria decidida exclusivamente pela obser- -vagio ou experimento, Uma lel ou teoria poderia ser testada direta ou indireta- mente com auxilio de sentencas observacionais que descreveriam o que uma ‘pessoa estaria experimentando\em determinado momento (seriam sentengas do tipo "um cubo vermelho esti sobre a mesa”). Estes entunciados forneceriam ‘uma base empirica sélida, a partir da qual poderia ser construido 0 conhect- menio cientifico, garantindo, ainda a objetividade da ciéncia. ‘Para o positivism, as sentencas que néo puderem ser verificadas empiri- ‘camente estariam fora da fronteira do conhecimento: seriam sentenges sem sentido. A tarefa da filosofia seria apenas a de an jcamente os conceitos Cientificos. A verificabilidade seria, portanto, o critério de significagao de wm fenunciade: para todo enunciado com sentido deveria ser passivel decidir se ele 6 falso ou verdadeiro. “AS leis e teorias poderiam ser formuladas e verificadas pelo método indu- fiyo, um processo pelo qual, a partir de um certo néimero de observacées recolhidas de um conjunto de objetos, fatos ou acontecimentos (a observagio de alguns cisnes brances), concluimos algo aplicavel a um conjanto mais amplo (todos os cisnes so brancos) ou a casos dos quais nao tivemos experiéncia (0 proximo cisne seré branco). Mesmo que no garantisse certeza, o método indutivo poderia conferir ‘probabilidade cada ver maior ao conhecimento cientifico, que se aproximaria Cada vez mais da verdade, Haveria um progresso cumulativo em ciéneia: novas Teise teorias seriam capazes de explicar e prever um niimero catia vez maior de fenmenos. ‘Muitos fildsofos positivistas admitiam que algumas hip6teses, leis ¢ teotias no podem ser obticas por indugo, mas sim parlir da imaginagéo fe criatividade do cientista. A hipétese de que a moléeula de benzeno teria a forma de um anel hexagonal, por exemplo, surgitt na mente do quimico Frederick Kekulé — quando ele imaginou uma cobra mordendo a propria cauda. Hié aqui uma idéia importante, antecipada pelo fildsofo John Herschel (1830) e depois reatirmada por Popper (1975a) ¢ Reichenbach (1961):a diferenga entre 0 “contexto da descoberta” eo “contexto da justificagao”. Isto quer dizer que 0 procedimento para for ‘ou descobrir uma teoria é itrelevante pata sta aceitaglo. No enfant, embora nto baja regras para a invengéo ou Feacoberta de novas hipéteses, sma vez formuladas, elas teriam de ser testadas experimentalmente. «~ (© METODO NAS CIENCIAS NATURA'S & SOCIAIS B Na realidade, os positivistas nao estavam interessadios exatamente em como o cientista pensava, em suas motivagbes ou mesmo em como ele agia na pprtica: isto seria uma tarefa para a psicologia e a sociologia. O que interessava cram as relagbes logicas entre enunciados cientificos. A l6gica da ciéncia forne- ceria um critério iden! de como o cientista ow a comunidade cientifica deveriaagir ‘ou pensar, tendo, um caréter normativo em vez de descritivo. O objetivo central nio era, portanto, o de explicar como a ciéncia funciona, mas justificar ou legitimar o conhecimento cientifico, estabelecendo seus fundamen- {08 logicos e empiricos. 1.1 Criticas ao po Popper e outros fildsofos questionaram o papel atsibuido A observagéo. : ido. no postvisto lic. Aiden sue fodn a beerago centfin ov mio imersa em teorias (ou expectativas, pontos de vista, etc). Assim, quando um Glntste ede corents lca sew reastncla deur cele uu observa uma eélula com 0 microsc6pio elete um terméanato, por exempo, depended eda dati do mecirlossim come a cheng aavee de um simples mrosc6pio Optic depend ds lls da refagto ‘ts, hoje amplament sci em losis dari, de qu toda obser ago & “impregrad” de tora (Heary-lafen fl defend J no inti do sécilo pelo oso Petre Duke, Diza cl, que “um expeimento em fsa nko ¢wimplesmente a observagto eum fendmeno; abn a interpreta tein dese fendmeno” (Duke, 195, ple) Tm rerumo, do momento om que as abeervagtes inc i fal an yporam tori fl lan podem ser consieradas come fntes segura ara se contri © Conhecimentoe nfo podem serve como ina bese sida pea conhecimento tne, ca pro ovis (a dele se leo ete bservagtoe conhecmnento esto em Gregory, 1972; Hanson, 1958; Musgrave, 1993; Popper, 1975b; a a tin indus id Hume questionava a validad racial ndtv, arg indus nfo un aumento ded toe, portant no login (Hume, 1972) Alem ds, ea também Io pode ser jstiinda pela cbecrvago:o ato de que todos os Cianes ver ‘adr at ager jn cs no gq prvi dee ja brat = em qe tacos ow cisnes seam roncon. A indugho no pode, portant, st justificada ~ nem pela logica, nem pela experiéncia. pmaaaaes ory [AUDA JUDITH ALVES: MAZZOTTI 4c FERNANDO GEWANDSZNAIDER ines para asks se pssrmos de gnerlzaées supericiicomoa dos cises pares teers Problema se complica mais alndn. Apart dt oservagio 6 ors cinta, Po, pnts enti diversi ele teorias cients dem tae gadon ects eo quer dae que 2 induct, por 6 cam ean decobimos ul ds geeralizaces 62 ve melhor Alem disso, mesmo que procedimentos indutives permitam reunir um conjunto de dados ¢ formar generalizagies superficais (do tipa eels Gilatam”), eles S80 insutficientes para originar teorias profundas, que tpelam p ‘de serem percebidos por observacio direta, sno tee entra Pe soli ere ene eee Perms tite er a oa oh dl oem pein oe ea rent pn con rar GP Er Sos em computadores para gerar € avaliar hipoteses (Holland eta, 1986). Se se eo ei srigeeumets hi ek ee neo fae as tentativas de atribuir probabilidade a : itosproblemas pote terns mid bastante ctcades eapresenta mites Pro ‘ioe «or ain que se pooon stb probablidade aerunciados ge, we erdo posse «apie probeblidades 3 feoras ra eens gtr doesn no cere ee ktve ao bayeianiomo © & busca de prinspios que js errs ver: Bazan, 1982; ilies, 193; Clymous, 1980 Lakates, 1968; ‘Hou Pellok 198; Popper 1972 1974, 1752, 2973b; Watkin, 1984) ler, 2. As idéias de Popper nétodd clentifico (e também acerca do conhectinento em geral) quenéo envolva f indugdo ~ que no saa, portanto, vuinerdvel aos argumentos de Hume. A {questo 6: como é possfvel que nosso conhecimento aumente a partir de hipé- (© METODO NAS CIENCIAS NATURAIS F SOCIAIS 1B teses, les ¢teorias que no podem ser comprovadas? (Mais sobre as ids de Popper em: Andersson, 1994; Gewandsznajer, 1989; Magee, 1989; Miller, 1994; NewtonSmith, 1981; O'Hear, 1980; Popper, 1972, 1975a, 1975b, 1979, 1982; Sehilpp, 1974; Watkins, 1984, : 2.1 0 Método das conjecturas e refutacdes Popper aceita a conelusto ce Hume de que a partir de observagoes e da Logica nto podemos verificar a verdade (ou aumentar a probabilidlade) de | enunciados gerais, como as leis ¢ teorias cientificas, No entanto, diz. Popper, @ observacio e a légica podem ser usadas part(refutat esses enunciados gerais: a observagio de um tinico cisne negro (se ele de fato for negro) pode, logicamen- te,refutara generalizacio de que tocos os cisnes so brancos. Hd, portanto, uma assimetra entre a refutacio icacio. ‘A partir dat, Popper constréi sua visdo do método cientifico ~ 0 racionalis- ‘mo cxitico~e também do conhecimento em geral: ambos progridem através do, qiie ete chama de conjecturas e refutagdes, Isto significa que a busca de conhe- Cimento se inicia com a formulacio de hip6teses que procuram resolver proble- ‘mas e continua com tentativas de refutacio dessas hipdteses, através de testes que envolvem observagées ou experimentos. Se a hipétese nZo resistir aos, testes, formulam-se novas hipsteses que, por sua vez, também sero testadas. Quando uma hipétese passar pelos testes, ela seré aceita como uma solugéo provis6ria para o problema, Considera-se, entao, que a hipétese foi corroborada ‘ou adquiriu algum grau de corroboracéo. Este grau 6 fungo da severidade dos testes a que foi submetida uma hipétese ou teoria © a0 sucesso com que @ hhipétese ou teoria passou por estes testes. O termo corroboracaa é preferivel & confirmagto para nfo dar a idéia de que as hipdteses, leis ou teorias so verdar deiras ou se tomam cada vez mais provéveis medida que passam pelos testes. Acconoboragio é uma medida que avalia apenas 0 sucesso passado de uma teoria e nio diz nada acerca de seu desempenho futuro, A qualquer momento, novos testes poderio refutar uma hipétese ou uma teoria que foi berm-sucedida ro passado, isto 6, que passou com sucesso pelos testes (como aconteceu com a hipdtese de que todos os cisnes sao brancos depois da descoberta de cisnes negros na Austria) [As hipéteses, leis e teorias que resistiram aos testes até o momento sf importantes porque passam a fazer parte de nosso conhecimento de base: podem ser usadas como “verdades provisérias”, como um conhecimento ndo problemético, que, no momento, n&o esté sendo contestacio, Mas a decisio de aceitar qualquer hip6tese como parte do conhecimento de base ¢ temporéiia ¢ pode sempre ser revista e revogada a partir de novas evidéncias. 16 |ALDA JUDITS ALVESMAZZOTI de FERNANDO GEWANDS2NAIDER Por vérias veres, Popper protestou por ter sido confundido por seus por exemplo) com um "falsificacionista ingéntio” (Poppe, 1982). Para ele, isto acontece porgue esses criticos confunciem refuta- (glo em noel Ibgico com refulacEo ent noel experimental, Em nivel experimental Su empirico nunca pocemos provar conclusivamente que uma teora é false: {sto decorre do caréter conjectural’ do conhecimento. Mas a tentativa de refuta- {Gio conta com o apoio da logica dedutiva, que esté ausente na tentativa de confirmagio. “A decisdo de aceitar que uma hip6tese foi refutada é sempre conjectural: pode ter havido um erro na observacio ou no experimento que passou despet- Ecbido. No entanto, se a observacio ou 0 experimento forem bem realizacios & thao houver divides quanto a sta corresiio, podemos considerar que, em prin- pio, e provisoriamente, a hipétese foi refwlada. Quem duvidar do resultado pode “reabrir a questio", mas para isso deve apresentar evidéncias de que fouve um ero no experimento ou na observagio, No caso do cisne, isto cequivalea mostrar que o animal nao era um cisne ou que se tratava de wm cisne branco pintado de preto, par exemplo. “A refutagio conta com o apoio I6gico presente em argumentos do tipo: “Todos 0s cisnes sao brancos; este cisne é negro; logo, é falso que todos os cisnes sejam brancos”. Neste easo, estamos diante de um argumento dedutivamente valido. Este tipo apoio, porém, ndo esté presente na comprovagio indutiva. Popper use entfo a légica cedutiva nfo para provar teorias, mas para criticé-1as. Hip6tesese teorias funcionam como premissas de um argumento. A partir dessas premissas deduzimos previsbes que serdo testadas experimental- Tnente, Se uma previsdo for falsa, pelo menos uma das hip6teses ou teorias lutilizadas deve ser alsa. Desse modo, a légica dedutiva passa a ser um instru mento de critica. 2.2 A importancia da refutal Para que o conhecimento progrida através de refutagdes, é necessério que as leis eas teorias estejam abertas A refutagao, ou seja, que sejam potencialmente refutiveis, $6 assim, elas pocem ser testadas: a lei da teflexéo da luz, por ‘exemplo, que diz que 0 Angulo do rato incidente deve ser igual a0 angulo do. aio refletido em um espelho, seria refutada se observarmos Angulos de reflexzo diferentes cos angulos de incidéncia. As leis e teorias devem, portanto, “proi- bir” a ocorréncia de determinados eventos. (Os enunciados que relatam eventos quacontradizem uma let ou teoria {que Helatam acontecimentos "proibidos") sio chamados de falseadores poten ciais dalei ou teoria., (© METODO NAS CIENCIAS NATURAIS & SOCLAIS v ( conjunto de falseadores poten cempirico da teoria: quanto mais 2 mundo. Para compreender melhor de enunciados do tipo “vai chover deste tipo nio possuem fal ‘empitico ou informativo, do mand is nos dé uma medida do contetido fhe”, mais ela nos diz. acerca do colocacio, observe-se 0 caso oposto: 0 io vai chover amanha”. Enunciaclos anciais ¢, portanto, nao tem contetido is ou refutaveis ¢ nada dizem acerca contribuem para o progresso do conltecimento. Por outro lado, quanto mais geral for um enunciado ou lei, maior seu contetido empirico ou informativo (a generalizagdo "todos os metais se dilatam. uando aquceidos’ ros dz mals do qu“ chumbo se lila quando aquece io") e maior sua refutabilidade (a primeira afirmagio pode ser refutada algun metal inclusive 0 chumbo oS cnuanns copula so refutada caso o chumbo nio se di sca ver mais gels, wma ver que o rico de zefutasto 0 emativo aumentam com a amplitude da lei, aumentando assim a chance de aprendermos algo novo. " ‘Um raciocinio semethante pode ser feito com a busca de is t2m contedclo maior e arriscam-se mais A rel 6 dirotamente proporcio lade do que “os metaisse ‘ver que este tltimo enunciado somente seré refutado se on enquanto 0 primeiro enunciado seré-refut quando a dilatacio se csviar sgt tivamente dos valores previstos. A refulabilidade tamioém se aplica a busca de leis mais simples. Se medie- :mos a simplicidade de uma lei em fungao do niimero de paraiietros (0 crtério de Popper), veremos que leis mais simples sio também mais refutaveis (a hipétese de que os 6 sulares é mais simples do que a "pots de que ox planeta tm cites liptins que occu um pode elipse Partano, de acordo com Poppers ciéncia deve buscar ese tories cada ‘vez mais amples, precisas e sim; ue, desse modo, maior sexd a refutabi- Tidede ey conseqentemente, maior achat ‘c foe ‘No entanto, ndo se deve confundir refutabilidace com refutagio: a lei mais, precisa, simples ou geral pode nao ser bem-sucedida no teste terminar substi- tuida por uma Jei menos geral (ou menos simples ou precisa). A avaliagio das B importante a importante compreener, porém, dade ea corraboragaer quanto mir # rnimero de acontecimentos que € dog testes a que ela pode ser sub corroboragio adquirido sea feoria passer pelos tests. 18 [ALDA JUDITES ALVESMAZZOTTI & FERNANDO GEWANDS2NAIER ‘A conclusio 6 que teorins mais refutéveis possuem maior potencial de corroboracio ~ embora uma teoria $6 alcance de fato um alto grau de corrobo- fagho se, além de altamente refutével, ela também passar com sucesso por testes ade nos dé, entio, um crtéro ¢ priori para a evaliagdo de ts 0 progresid do conhecimeato, devemos buscar teorias eehn vee anal efutaveis (gers, preisas e simples) A seguir, devemos subme- {Elles ace testes mais rigorosos possiveis. Temos assim um cltério de pro- tress” tots mais reftvels representa um avango sobre teorias mens Srrauivels desde que as primeiras sejam corroboradas e no refutadas, Popper est na realidade, propondo um objetivo para cignci:a busca de seorias He maior refutabiidade e, consegjientemente, de maior contesdo empr- see Sats infosmativas e mais testaveis. Estas sfo, também, as teorias mais ‘eras, simples, precisas, com maior pcr explicativo e preditivo e, ainda, com Srtor potenelal de corroboragio.& através dessa busca que iremos aumentar & chance de aprendermos com nossos eros. Tinalmente, 0 conceite de refutabilidade pode ser usado também para resolver 0 problema da demarcasio, isto €, 0 problema de como potemos distinguizhipOteses clenificas de hipéteses nao cientiicas. ‘Eien o positvismo, uma hipstee seria cienifica se ela pudesse ser verifi cada experimentalmente. No entanto, as crftieas & inducRo mostram que essa Comprovagio ¢ problemtica, Popper sugere entio que tia hipotese ou teria Gir zonsiderade eientifica quando puder sex refutads. Teorias que podem se icare prover eventos ooservveis sto refutavels: se 0 evento ndo ocorze, 8 eels fake. Js teorasierefutaveis (do tipo “vai chover ou nfo aman”) nllo tea qualquer carder centico, uma ver que néo fazem previsOes, no tm poder explanatsrio, nem podem ser testadas experimentalmente. 2.3 Verdade e corroboracao sdadie tem, para Popper, um papel importante em sua meto~ pesquisa cienti- Logis, an vverdade objetiva fica, jé que “a propria idéia de erz0 que podemos deixar de alcangar” (Poppet, 1972, p. 252). "A definicao de verdade wsada por Popper € a de correspondéncia com os fatos, Este seria o sentido de vercade para o senso comum, para a ciéncia ou para um julgamento em um tibunal: quando uma testemunha jure que fala a Palade no ter visto 0 7éu cometer o crime, por exemplo, expera-se que ela tenkha, de fato, visto o rex cometer o crime. S ‘Nao se deve confundir, porém, a idéia ou a definicao de verdade com um citéro de verdade,Jettosidéla do que significa dizer que “é verdade que = (© METODO NAS CIENCIAS NATURAIS SOCtAIS 1» sacarina provoca cincer", embora os testes para determinar se isto de fato acontece (08 eritérios de verdacle) nto sejam conclusivos. "Em certos casos ¢ até possivel compreender a idiéia de verdade sem que seja possivel xealizar testes que funcionem como critérios de verdade. Pode-se compreender o enunciado "E verdace que exatamente oito mil anos atrés chovia sobre o local onde era a cidade do Rio de Janeiro”, embora mio seja possivel imaginar um teste ou observagio para descobrir se este enunciado é verdadeiro, ‘ss0 quer dizer que néo dispomos de um eritério para reconhecer a verda- de quando a encontramos, embora algumas de nossas teorias possam ser vverdadciras ~ no sentido cle correspondéncia com os fatos. Portanto, embora ‘uma teoria cientifica possa ter passado por testes severos cam sucesso, nao podemos descobrir se ela é veriadeira e, mesmo que ela ose, no temos como saber isso com certeza. ‘No entanto, segundo Popper (1972), na hist6ria da ciéncia hé varias situa «80s em que uma teoria parece se aproximar mais da verdade de que outta. Isto acontece quando uma teoria faz afirmacoes mais precisas (que sZ0 corrobors- das); Guando explica mais fatos; quando explica fatos com mais detalhes; quando resiste a testes que refutaram a outra teoria: quando sugere testes rRovos, nfo sugeridos pela outra teoria (e passa com sucesso por estes testes) ¢ quando permite relacionar problemas que antes estavam isoladios. Assim, mes- mo que consideremos a dindmica cle Newton refutada, ela permanece superior as tearias de Kepler ede Galileu, uma vez que a teoria le Newton explica mais fatos que as de Galilew e Kepler, além de ter maior preciso e de unir problemas (mecinica celeste e terreste) que antes eram tratados isoladamente. (© mesmo acontece quando comparamos a teoria da relatividade de Bins- tein com a dindmica de Newton; ou a teoria da combustio de Lavoisier ¢ a do flogisto; ou quando comparamos as diversas teorias atOmicas que se sucederam ao longo da historia da ciéncia o1, ainda, quando comparamos a sequiéncia de teorias propostas para explicara evolugio dis seres viv Em todos esses casos, 0 gra de corroboracio a ‘mos das teorias mais antigas para as mais recentes. ‘gra de corroboracZo poderia indicar que uma teoria se aproxima mais da verdade que outra ~ mesmo que amibas as teorins sejam falsas. Isto acontece ‘quando o contetico-verdace de uma teoria (a classe das conseqiiéncias légicas ‘everdadeiras da teoria) for maior que o da outra sem que o mesmo ocorza com o-cantetido falso (a classe de conseqiiéncias falsas de uma teoria). Isto € possivel, Isa podemos dediizir tanto enunciados falsos todos 0s cisnes so brancos" é falso, mas a snes clo 200l6gico do Rio de Janeiro sao bran- ima teoria falsa pode conter maior ntimero de afirmagbes verdadeir tea 20 [ALDA JUDITH ALVES MAZZOTTL & FERNANDO GEWANDS2NAIDER Se isto for possivel, a corroboragio passa a ser um indicador para uma aproximacio da verdade, ¢0 objetivo da ciéncia passa a ser o de buscar teorias ‘cada vez mais proximas & verciade ou, como diz, Popper, com um grau cada vez maior de verossimilhanga ou veross le (veri leou, truthlikeness,em inglés). 2.4 Critica das idéias de Popper Boa parte das fies tas idéas de Popper foram feitas pelos repre sentanes No que pode ser chamado de "A nova filosofia da egnea”: Kuhn, Lakatos e Feyerabend. Para Andersson (1994), estas erfticas apGiam-se princi- palmente em dois problemas metodolégicos: o primeiro é que os enunciados Felatando 0s resiliados dos testes esto impregnados de teorias, O segundo, é {que usualmente testamos sistemas tedricos complexos e nao hip6teses soladas, lo tipo “todos os cisnes sao brancos”. ‘Suponhamos que queremos testar a teoria de Newton, formada pelas trés leis do movimento e pela lei da gravidade. Para deduzic uma conseqiéncia observavel da teoria (uma p wecisamos acrescentar& teoria uma série de hipéteses auxiliares, a respel smplo, da estrutura do sisterna solar € dle outros corpos celestes. Assim, para fazet a previsio a respeito da volta do Yamoso cometa ~ depois chamado cometa de Halley ~, Halley nao utilizow apenas as leis de Newton, mas também a posiglo e a velocidade do cometa, caleuladas quando de sua aparicéo no ano de 1682 (as chamadas condigGes {niciais). Além disso, ele desprezou certos dados considerados irrelevantes (a influéncia de |piter foi considerada pequena demais para influenciar de forma sensivel 0 movimento do cometa). Por iss0, sea previsio de Halley nfo tivesse Sido cumprida (0 cometa voltow no més e ano previsto), no se poceria afirmar que a tearia de Newton foi refuta: ter havido um erro nas condigdes {niciais ou nas chamadas big fs. Isto significa que, quando uma ‘provisio feita @ partir de uma teoria fracassa, podemos dizer apenas que pelo enos uma das hipéteses do conjunté formado pelas leis de Newton, condigoes iniciaise hipoteses auxiliares ¢falsa ~ mas ndo podemos apontar qual delas foi responsive pelo fracasso da previsto: pode ter havido um erro nas medidas ca Grbita do cometa ou entao a ifluéncia de Jipiter néo poderia ser desprezada. Feta critica também foi formulada pela primeira vez por Pierre Duhem, que diz: © fsico nanea pod sulbmeter ms hipotece isolada a um teste experimental, mas somente todo um conjuta de hipsteses. Quando 0 experimento se colocs em desecordo com a peodigf, o que ele arene € que pelo menos ima das hipsteses do grupo éinacltivel © Fem ce ser mexlfictda aso experimentondo indica qual delas deve ser mudada (1954, p.l8n. s (© METODO NAS CIENCIAS NATURAIS E SOCIAIS a Duhem resume entio 0 que € hoje esignado como tese de Duhem: “Um experimento em Fisica no pode nunca condenar uma hipétese isolada mas apenas todo um conjunto tebrico” (1954, p. 183) Na realidade, mais de uma teoria ~ até todo um sistema de teorias ~ pode estar envolvico no teste ce uma previséo. Isto porque, teorias cienificas gerais, com grancle amplitude, como a teoria de Newton, s6 podem ser testadas com auxilio de teor ‘As quatro leis de New! teoria (massa, graviade etc) formam o que se pode chamar de nicleo central ‘ou suposigGes fundamentais da teoria. Este ntcleo precisa ser enriquecido com ‘um conjunto de “miniteorias” acerca da estrutura do sistema solar. Este conjun- to constitui um modelo simplificado do sistema solar, onde se considera, por ‘exemplo, que somente forcas gravitacionais sio relevantes e que a atracio entre planetas é muito pequena comparada com a atracao do Sol Se levarmos em conta que os dadios cientificos so registrados com instru- rmentos construidos a partir de teorias, podemos compreender que o qu‘ fondo testa 6a ealidade uma tea complexe de teoras ehipoteses a res ¢ 4 refutagio pode indicar apenas que algo esti errado em todo esse conjunio, Isto significa que a teoria principal (no caso a teorin de Newton) nto precisa ser modificada, Podemos, em ver, disso, modificar uma das hipdteses _auxiliares. Um exemplo cléssico dessa situacio ocorreéu quando astronoros ealcularam a érbita do planeta Urano com auxilio da teoria de Newton descobriram que esta érbita néo concordlava com a Grbita observada. Havia, portanto, o que chamamos em filosofia a ciéncia, le uma anomalla, observacio que contradiz: uma previsao. _ ‘Como vimos, dois astrinomos, Adams e Le Verrier, maginaram, entéo, que poderia haver um planeta desconhecido que estivesse alterando a érbita de Urano. Eles modificaram, porta hipétese auxiliar—a de que Urano era o iltimo planeta do sistema solar, Calcularam entao a masta e a posigo que o planeta desconhecido ceveria ter para provocar as discrepancias entre a érbita prevista ea drbita observada. Um més depois da comunicagio de seu trabalho, em 23 de setembro de 1846, um planeta com as caracteristicas previstas ~ ‘mesma estratégia, postulando a existéncia de um planeta, Vuleano, mais proxi- ‘mo do Sol do que Meresirio. Mas nenhuum planeta com es caracteristicas previs: tas foi encontrado. Neste caso, 0 problema somente péde ser resolvicio com a | substtuigdo da teoria de Newton pela teoria da relatividede ~ nenhuma mu- dang mas hips aur fl capaz de resolver o problem, explicado x 2 |ALDA JUDITH ALVESMAZZOTT!& FERNANDO GEWANDSZNATDER ‘A pattie dai, véris filésofos da ciéncia ~ principalmente Kuhn, Lakatos Feyerabend ~ consideram que nem Popper nem os indutivistas resolveram _ adequadamente o problema de como testa um sistema complexo de teorias, fornado pela teoria principal e pelas teoriase hipéteses aunxiiares envolvidas, no teste, Para esses filésofos, é sempre possivel fazer alteragBes nas hipéteses & teorias auniliares quando uma previsio nao se realiza. Desse modo, podemos ‘sempre reconciliar uma teoria com a observagio, evitando assim que la seja refutada. Fica i car, dentro da metodologia falsificacionista de Popper quando uma teoria deve ser considerada refutada e substitulda por outra. Para apoiar essas criticas, Kuhn, Lakatos historia da cigncia, que, segundo eles, demonstrat idonam teorias relutadas, Em vez disso, eles modificam as hipdteses ¢ teorias auxiliares de forma a proteger a teoria principal contra refutagGes. “Outta exitica parte da idéia de que os enunciacios de testes (que selatam resuilados d¢ uma observacio ou experiéncia), estdo impregnados de teorias auniliares e, por isso, no podem servic como apoio para a para refutagio da teoria que est sendo testada, Se os testes dependem de teoria, eles sto faliveis fe sempre podem ser revistos ~ nfo conslituindo, portanto, uma base empirica s6lida para apoiar confirmagoes ou refutaces. Embora Popper admita a falibilidade cos re ‘nos diz quando um teste deve ser aceito como uma refutagao da t go teria resolvido, na prética, o chamado “problema da base empirica”: & ico, mas nao teria qualquer srabend buscam apoio na ue os cientistas nao aban- olugao de Popper seria valida apenas no nivel iilidade no nivel metodol6gico ‘Out tipo de cxtca envolve a ligagio entre as idéias de cortoboracto € verossiiltude. Para Popper, a corroboragio seria 0 indicador (conjectural) ‘da verossimilitude: teorias mais corroboradas seriam também mais proximas da_ verdade © problema éque a corrobaragio indica apenas o sucesso passado de uma teoria, enquanto a avaliacfo da verossimilhanca de duas teorias implica uma jrovisio aerea co sucesso futuro da teria se uma teoria esté mais préxima da Pendade do que vutra ea seria também mais confidvel, funcionando como wm. ula melhor para nosses previses. Nest cso, porémy a ligagio entre corrabo- Bicdo e veroseimilitude parece depender de um raciocinioincutivo:a partir do ‘Shkesco passado de uma teria estimamos seu sucesso futuro (Lakatos, 1970; Watkins’ 1984). Sendo assim, os argumentos ce Popper estariam sujeitos a cefticas 4 indugdo feitas por Hume. “além disso, para que uma teoria tena maior verossimilitude que outra, & snecessario que haja um aumento no conteiclo de verdade (0 conjunto de pre- Ticbes no vefutads), sem que haja também um aumento de contetido de Jalsidde (o conjunto de previsdes refutadas) No entanto, Miller (19748; 1974b) O hchy 1974) demongiraram que quando duas teotias sio falsas, tanto o (© METODO NAS CIENCIAS NATURAIS SOCIAIS 23 conteo de verdad como ode falsiade rescem com o conti ds tora (oo cae mm qu nen come cao cao er que deo Gus teovias€ verdad) Sensis impossve compar quanto verossin tang das eons que poem sr false ira slug pare eteprolena consis em proprio de de toring que nfo lependan da vercsinulhang, com fez Wah outta slug ¢ cori eveformulr o cnet ce verussimlnanga, de todo fur dlesirvacomoun ojatve ra clnia como pcr ar toe sor (brink rieicem, 1967, Barger eldetna, 1096; Kuiper, 1987, Nuit 1984, 1987; Oddie, 1986; para criticas a essa tentativa, ver Miller, 1994). " 3. A filosofia de Thomas Kuhn _ Ema Estrutura das Revougdes Ciena, publicado originalmente em 1962) 2 a visio da ciéncia proposta tanto pelos positivist logcos como pelo facionalism exticopoppeteno, demons frandg que o estudo da histria da cigncia dé uma visio da ciéneia e do seu :método diferente da que foi proposta por essas escolas. ‘Logo apés a primeira edigio de seu livro, Kuhn foi criticado por te dofendido uma visto relativista da ciénti i objetivos para a avaliagfo de teories e ao defender uma forte influéncia de Fatores pslcolbgicos e sociais nessa avaliagio. Na segunda edigéo do livro (19706) ~ no posfécio - eem outros trabalhos 1977, 197, 1987, 1990), Kuhn delentese das eens, fimando sus eitcos respondem as minhas opini6es com acusagbes de irracionalidadee elativisin [..] Todos sé0rétulos que rejeito categoricamente [..)”(1970a,p.234) 'Noentanto, medida que procurava se explicar melhor, Kubn foi também reformulando muitas de suas posicdes originais, Para alguns fild - co substituiu o sistema geacéntrico cle Ptolomeu. Para Kuhn, 0 fato de que teorias apazentemente bem confirmacias so periodicamente substitufdas por’ utras refuta a tese positivista de um desenvolvimento indutivo e cumulativo 6—e nfo poderia ser - t somo a légica fal porque uma observacio nunca € absolutamente incompativel com uma teoria. | 20 negar a existéncia de critérios 4 |ALDA JUDITES ALVES-MAZZOTN & FERNANDO GEWANDSZNAIDER jficada” no precisa ser abandonada, mas pode ‘ser modificacla de forma a se reconciliar com a suposta refutagio. Mas, neste caso, por que 05 cientistas As vezes tentam modificar a teoria e, outras vezes, Comoro caso de Copérico, introduzem uma nova teoria completamente dife- fente? © objetivo central de Kuhn é, portanto, 0 de explicar por que “os Glantistas mantém teorias apesat-das discrepancias e, tendo aderido a ela, por que eles as abandonam?" (Kuhn, 1957, p. 76). Em outras palavras, Kuhn vai tentar explicar como a comunidade cientifica chega a tm consenso e como esse consenso pore ser quebrado. (Além de livros e artigos do préprio Kuhn, podem Ser consultados, entre muitos outros, os seguintes trabalhos: Andersson, 1994; Chalmers, 1982; Gutting, 1980; Hoyningen-Huene, 1995; Kitcher, 1993; Lakatos & Musgrave, 1970; Laudan, 1984, 1990; Newton-Smith, 1981; Oldroyd, 1986; Scheffler, 1967; Siegel, 1987; Stegmiiller, 1983; Watkins, 1984.) Na realidade, w 3.1 0 conceito de paradigma Para Kuhn, a pesqitsa cientifica ¢ orientacla no apenas por teorias, no sentido tradicional deste termo (o de uma colegio de leis e conceitos), mas por algo mais amplo, o paradigr Tels, conceitos, modelos, analogias, valores, regras para @ formaulagio de problemas, principios metafisicos (sobre a natureza xitima dos verdadeiros constituintes do universo, por exemplo) e ainda pelo queele chara de “exemplares", que sio “solucdes concreias de problemas que os estudantes tencontram desde 0 infcio cle sua educacéo cientifica, seja nos labor “ gxames ou no fim dos capitulos dos manuais cientiicos” (Kuhn, 1970b, ‘Kuhn cita como exemplos de paradigmas, a mecinica newtoniana, que cexplica #attagao e o movimento dos corpos pelas leis de Newton, a astronomia pptolomaica e copernicana, com seus modelos de planetas girando em tozno da Terra ou doSol eas teorias do flogisto e do oxigénio, qu sma combustio ea calcinagio de substincias pela eliminagao de um principio inflamével ~ 0 flogisto — ou pela absorgio de oxigénio, respectivamente. Todas essas realiza- ‘bes cientificas serviram como modelos para a pesquisa cientitice ce sua época, funcionando também, como uma espécie de “visio do mundo” para a comuni- dade cientifica, determinando que tipo de leis sio validas; que tipo de questoes devem ser levantadas e investigadas; que tipos de solugdes devem ser propos- fas; que métodos de pesquisa devem ser usaclos e que tipo de constituintes formam o mundo (étomos, elétrons,flogisto ete). ‘queele eterminaria até mesmo como um fendmeno é percebido pelos: quando Lavoisier descobriu 0 oxigénio, cle passou a "ver" oxigénio once, nos mesmog experimentos, Priestley e outros Gientistas defensores da teoria do flogisto viam “ar deflogistado”. Enquanto ‘Arist6teles olhava para wma pedra balancando amazrada ez um fioe “via” um (0 METODO NAS CIENCIAS NATURAIS E SOCLAIS 25 corpo pesado tentando alcangar seu lugar natural, Galileu “via” um movimento pendular (Kuhn, 1970b). Para Kulm, forga de um paracligma viria mais de seus exemplares do que de suas leis e conceitos. Isto porque 0s exemplares influenciam fortemente 0 ensino da ciéncia arecem nos livros-texto de cada disciplina como “exercicios resolvidos’, ilustrando como a teoria porte ser aplicada para resol- ver problemas (mostrando, por exemplo, como as leis de Newton so usadas para calcular a atracio gravitacional que a Terra exerce sobre um corpo em sua superficie). S80, comumente, as_primeiras aplicagSes desenvolvidas a partit dla teoria, passando a servir entao como modelos para a aplicagio e o desen- volvimento da pesquisa cientffica. Os estudiantes sfo estimuladtos a aplieflos na solucio de problemas ¢ também a modificar ¢ estender 0s modelos para a solugio de novos problemas, ‘Os exemplares sao, portanto, a parte mais importante de um paradi paras aprecnsio dos concoscentficose para extabelecer que problemas 80 relevantes e de que modo cievem ser resolvido: ‘modo, eles determinam © que pode ser considerado uma solugéo cientificamente aceitével de um problema, ajudancdo ainda a estabelecer um consenso entre os cientistas e servindo como guias para a pesquise. ‘Ap6s ter sido eriticado por usar o termo paracligma democdo bastante vago (Masterman, 1970), Kuln afirmou, no posficio de A Estrutura das Revolugdes ientfficas (1970b), que ele preferia usar o termo paradigma nos sentido mais, estrto, de exemplares. Apesar disso, 0 termo paradigma continuou a ser usado tem sentido amplo pela maioria dos flésofos da citncia e o proprio Kuhn reconhecet ter perclico o controle sobre este termo. ‘Além disso, como durante as mudangas de paradigma (otermo sera usado aqui em sentido amplo, salvo observacio em contratio) hé também mucanges jgma, Kuhn muitas vezes fala indistintamente em 3.2 A ciéncia normal A forga de um paradigma explicaria por que as revolugSes cientificas so rrarasi em vez de abandonar tearias refuitadas, os cientistas se ocupam, na mator pparte do fempo, com o que Kuhn chama “cigncia normal”, que & a pesquisa iene orfentaa por um paradigmae basen em um corsenso entre espe Nos periods de ciéncia not 1dos os problemas e solucdes encontra- das tém de estar contidos dentro do paradigma adotado. Os cientistas se Este termo é usado para indicar que, na resultados discrepantes) que surgem na pes- ‘ou quebra-cabecas (puzzles), do tipo encontra- quisa sio tratados como enig 26 AUDA JUDITH ALVES MAZZOTT de FERNANDO GEWANDSZNAIDER ddo°nos jogos de encaixar figuras ou nas palavras cruzadas: a diffculdade de char ® palavra ou a pegt certa devese & nossa falta de habilidade e nfo {Grovavelmente) ¢ um ervo na construgfo ou mas regras do jogo. Do mesmo (TEGO, 0s problemas nao resolvidos eos resultados discrepantes nfo ameacam 2B ora ou paredigme: o maximo que o cientista poderé fazer & contest e { Inodifcaralguma hipétese auxin, mas nioateora principal ou o paradi Na ciéncia normal néo hi, portanto, experiéncias r nem grandes mudangas no paredigma. Bsa adesio 20 ‘nfo impede que haja descoberts importantes na ciéncia mentos quimicos previstos pela porém, que deixa as regres Essa adesao set ‘paradigma fosse abandonado rapidamente, na primeira experiencia refutadora, pPerderfamos a chance de explorar todas as sugestées que ele abre para desen Volver a pesquisa. Uma forte adesio ao paradigma permite a pratica de uma ‘pesquisa detalhada, eficiente e cooperativa, 3.3 Crise e mudanga de paradigma rocios na histéria da ciéncia em que teorias cientificas de grande ampli ‘ubstituidas por outras, com ocorreu na passagem da teoria do flogisto para a teoria do oxigénio de Lavoisier, do sistema de Ptolomeu para 0 de Copémi a fisica de Aristételes para a de Galil s", ocorre uma mu- danga de pari ‘onhecimentos antigos “$o abandonados e ha uma mucianca radical na pratica cientifica ena “visto de Yembora o mundo nfo mucle com a ita passa a trabalhar em um mundo diferente” (1970b, p. 121). ara Kubin, a ciéncia s6 tem acesso a um mundo interpretado por uma linguagem ou por paradigmas: nada podemos saber a respeito do mundo independentemente de nossas teorias. Ele rejeita a idéia de que possamos ssmo cada vez mais préximas & verdade 97). tivo, seria impossivel estabelecer uma distingto entre conceitas observaveis — que se fenomenos observaveis, nao influen- iados por teorias ~ © conceitos , que se referem a fendmenos nto observaveis (como campo ou el trufdos com auxilio de teorias. ‘Kuhn compara as mudangas no modo de observar um fenémeno durante as revolucées cientificas a muclangas de Geslalt, que ocorrem holisticamente: por exemplo, quando egrias figuras ambiguas podem ser vistas de modos ‘© METODO NAS CIENCIAS NATURA'S & SOCIAS 27 diferentes, como um coelho ou um pato (fi do cientista antes da revolugéo passam a p- int). Figura 1. Cosiho ou pate? Como nenhuma teoria ou paradigma resolve todos os problemas, ha sempre anomalias que, aparentemente, poceriam ser solucionacias pelo para- dligma, mas que nenhum cientista consegue resol ‘Um exemplo cle anomalia ocorreut quando He ¢ melhor telesc6pio, observou que Urano ~ con: untiforme, como uma e longo do dia entre ackou que Urano de resolver seus 1979). problema Igo mais do que um novo quebra-cabecas da ciéncia normal” (1970b, p. 81) 28 [AUDA JUDITH ALVESMAZZOTTI& FERNANDO GEWANDS2NAIDEit Tudo o que Kuhn apresenta (1970b, 1977, 1978), porém, sto indicios de alguns fatores que poderiam estimular os cientistas a considerar uma ou mais, Gromalias como significativas: uma discrepincia quantitativamente significati- ‘va entre o previsto eo esperado; um actimulo de anomalias sem resolugSo; uma fanomalia que, apesar de parecer sem importancia, impeca uma aplicagio préti- ‘ca (a elaboracio de tum calenclatio, por exemplo, no caso da astronomin ptolo~ naica); uma anomalia que resiste por muito tempo, mesmo quando atacada ‘pelos melhores especalistas da érea (como as anomalias na rbita de Urano, {que levaram & descoberta de Netuno ou as discrepancias residuais na astrono™ ania de Ptolomeu); ou ainda um tipo de anomalia que aparece repetidas vezes em varios tipos de teste. ‘Do momento em que a ciéncia normal produziu uma ou mais anomalias significativas, alguns cientistas podem comegar a questionar os faundamentos a teoria aceita no momento. Eles comegam a achar que “algo esta exrado com fo conhecimento e as crengas existentes” (1977, p. 235), Surge uma desconfianga nas técnicas utilizadas e uma sensacio cl ‘ofissional. Neste pon- ‘Acrtise € gerada se 0 ci ‘paradi ra Kuhn, a revolugdo copernicana aconteceu porque problemas ‘alvidos levaram Copérnico a perder a fé na teoria ptolomaica (Kuhn, “Actise pode ser resolvida de tr@s formas: as anomalias sio resolvidas sem grandes alteragées na teoria ou no paradigma; as anomalies néo interferem na Tesoluggo de outros problemas e, por isso, podem sex deixadas de lado; ateoria ‘oto paradigma em crise é substituido por outro capaz de resolver as anomalias ‘A tinica explicagdo para 0 que ira acontecer parece ser psicol6gica: se 0 cientista acredlita no paradigma, ele tenta resolver a anomalia sem alteré-lo, ima hipétese auxiliar. Se “perden a fé" no para- jutro paradigma capaz de resolver a anomalia. ions, Kuhn parece defender a tese de que impossivel justificar racionalmente nossa preferéneia por uma entre ‘varias teorias: éa tese da incomensurabilidade. ‘A incomensurabilidade decorre das muclangas radicais que ocorrem dut- ‘ante uma revolugio cientffica: mudanges no significado do conceito; de ver o mundo ou de interpretar os fenémepos e nos critérios para ‘os problemas relevantes, nas téenicas para resolvé-los e nos critérios para avaliar teorias. © |S (© METODO NAS CIENCIAS NATURAIS& SOCtAIS 29 Assim, como comparar teorias ou paradigmas, se os cientistas que aderem 1 paradigmas ou teorias diferentes tém vis6es diferentes clo mesmo fen6meno (oncie um vé 0 flogisto 0 outro vé oxiga colocando de forma ainda mais radical, se o mundo muda com o paradigma (antes da descoberta de Herschel havia uma estrela onde agora hé um planeta)? (Qutra questa, é que os problemas que exigiam solugses dentro de um pparacligma podem ser abandonados como obsoletos na viséo de outro paradig- ‘ma~o mesmo acontecendo com o tipo de solugdo escolhida. Conseqiientemen- te, durante uma revolugio cientifica ha, ganhos mas também ha perdas na ‘eapacicade de explicagio e previsio: & teoria nova explica alguns fatos que a teorla antiga no explica, mas esta continua a explicar fatos que a teoria nova no é capaz de explicar: Nesta situacio, tora-se problemstico afirmar que uma é 3 a outra, Esta tese & conhecida como "a perda de Kuhn” também devido a uma dificuldade de + ados de paradigmas diferentes. Nas revo- iicas ocorrem mudangas no significado de alguns conceitos funda- de modo que cacn cominidacle cientiica passa a usar concetos dife- rentes ~ mesmo que as palaveassejam as mesma. Isto quer dizer que, embora os conceitos do paradligma antigo contintem ‘adquirem um significado diferente: 0 conceito cle massa na {tracgo entre 05 co jana. O mesmo acontece com o conceito de planeta na teoria de Ptolomeu e na teoria de Copéznico. (Os enunciados (leis e hip6teses) teriam entao de ser traduzidos de um ma para outro, Mas, na auséncia de uma linguagem neutra (inde- - te de teorias ou paradligmas) a tradugio nao pode ser feita sem perda de Finalmente, como veremos dep bbém do fato de que cada cientista pod cxitérios para a avaliagho de toorias (poder preditivo, te) Ou entdo interpreté-os de forma diferente ~ sem que se possa dizer qual 0 peso ot interpretacio correta. Além disso, a propria ex 850s critérios ‘io pode ser justificaca objetivamente ~ por algum algoritmo I6gico ou mate- mético, por exemple Diante da dificuldade ~ ou mesmo da impossibilidade ~ de uma escolha entre teorias ou paradigmas, nfo é de estranhar que Kuhn dé a entender que a aceitacio do novo paradigma niose deva—ou, pelo menos, nfo se deva apenas, ~a recursos ldgicos ou a evidéncias experimentais, mas capacicade de persua- sio ow a “propagand sndem o novo paradigma, Nafalta de argumentos e citérios objetivos de avaliacio esta aceitagao ocorreria através de uma espécie de “conversio” de novos adeptos ~ ou entiio A medida ‘cada umdos lade, amplitude 30 [ALDA JUDITH ALVES-MAZZOTTI fe FERNANDO GEWANDSZNAJDER que aqueles que se recusam & aceitar 0 novo patsdigma fossem morrendo 9706 (097 cor posterior, port, (3970, 1977 1988) eno poficio 3 obra original (19700), ele passou a afirmar que nem todos os conceitos mudam de Sentido durante as muciangas de teorias ou paradigmas: hé apenas uma “inco- nensutabilidade local”, em qué mucianca de seitido afeta “apenas um peque- rho subgrupo de termos” (1983, pp. 670-671). ‘Neste caso, haveria uma incomunicabilidade apenas parcial entre os de- fensores de paradigmas diferentes e 0 potencial empirico de teorias “incomen- “ poderia ser comparado, uma vez que essas teories tim interseccoes empiticas que podem ser mutuamente incompativeis, Asim, embora o.concei- fo dle planeta fenha mudado na passagem da teoria de Ptolomet para a de Copéchigo, as previsdes de cada teoria sobre as posicdes planetéries podem ser felts com insteurnentos apropriados, que medem os Angulos entre os planetas as esttelas fixas. O resultado dessas mectidas pode se revelar incompativel ‘Com alguma dessas previsdes. Neste caso, a comparagio entre teorias pode ser felta porque algumas das previsbes empiricas nfo se valem dos conceitos incomensurveis. 3.5 A avaliagao das teorlas [As razbes fornecidas por Kulhn para escolher a melhor entre dus teorias rio diferem, segurido ele proprio, cns linhastradicionais da filosofia da ciéncia. Sem pretender dar uma linha completa, Kuhn seleciona “cinco caractristicas ‘dentifica[.]: exatiddo, conssténcia,alcance,simplicidade e fecundidade” (1977, p.32)). ‘pata Kuhn, significa que as previs6es deduzidas da teoria Riva e quantitativamente exatas, isto 6, as “conseqtiéncias da feoria devem estar em concordincia demonstrada com os resultados das expe- Himentagbes e observagies existentes” (1977, p. 32), "A exigencia de consisténcia significa que a teoria deve estar Lie de contradigbes internas e ser considerada compativel com outras teorias aceitas hho momento, ‘Quanto ao alcance, édlesejavel que ela fenha um amplo dominio de gées, isto €, que sues conseqtléncias estendamse “além das observa Subtecrias et . 321), Isso significa que uma teoria deve explicar fatos ou les diferentes aqueles para os quais oi construfda “Asimplicdade pode ser caracterizada como a capacidace que a teria tem dle unificar fenémenos que, aparentemente, nfo tinham relaglo entre si. Uma bos teoria deve ser capaz. le organizar fendmenos que, sem ela, permaneceriam isolados uns dos outro3> (0 METODO NAS CIENCIAS NATURAIS F SOCIAIS a1 A fecundidacle implica que a teoria deve “desvendar novos fendmenos ou relagbes anteriormente nko verificadas entre fendmenos jé conhecidos” (1977, 1p-322). Hla deve ser uma fonte de novas descobertas; deve ser capaz de orientar 4 pesquisa clentfica de forma produtiva! ‘Além dessas raz8es, Kuhn cita, ocasionalmente, 0 poder explanatério (outro conceito comumna filosofia tr |, plausibilidade ea capacidace da teoria de definire resolver 0 maior ntimero possivel de problemas fedricos e experimentas, especialmente do tipo quantitativo (1977) ~*" Aplausibilidade significa, para Kuhn, que as teorias devem ser “compat » veis com outras teorias disseminadas no momento” (1970b, . 185). ‘é Em relacio A capacidade de resolver problemas, Kuhn é mais explicit: além de resolver os problemas que deflagraram a crise com mais preciso que 6 paradigma anterior, “o novo paradigma deve garantir a preservagio de uma parte selativamente grande da eapacidace objetiva de resolver problemas con- uistacla pela cigneia com o audio dos paradigmas anteriores” (Kuhn, 19706, 169) ‘Além disso, Kun inclu também na capacitlade de resolver problemas, a hhubilidade de uma teoria de prover fendmenos que, da perspectiva da teoria antiga, sfo inesperacos (Kuhn, 1970b, 1977). “Kuhn reconhece que o poder explanat6rio, a plausibilidade e, principal- mente, a capacidade de resolver problemas, podem ser deduzidos dos valores aiteriores. Mas ndo tem a preocupagao de avaliar a coeréncia ou a redundancia esses critéios, uma ver que atribui um peso muito menor a eles do que os fil6sofos tradicionais. ara Kuhn, esses critérios nio so conclusivos, para forcar uma decisfo undnime por parte da como 6 nio sto suficientes lace cientfica, Por isso, tle prefere usar otermo “valores em vez de “crtérios”.Is0 acontece por vérios rmolivos. Em primeiro lugar, valores como a simplicidade, por exempio, podem Ser interpretados de formas diferentes, provocando uma discardancia entre {ual cas feorias 6 de fato mais simples. Além disso, um valor pode se opor a utr: tuma teoria pode ser superior em relagso a determinado valot, mas inferior em relagdo'a outro: “uma teoria pode ser mais simples ¢ outra mais precisa” (Kulu, 1970a,p, 258) Neste caso seria necessrioatibuir pesos relati- ‘Vos enda valor ~ mas esta atribuigto nso fez parte dos valores compartilhados pela comunidade, Na relidade, cada cietista pode atsbuir um peso diferente ‘cada valor. ‘Alem disso, emibora esses valores possam servir para persuadir a comuni- dade cietfica a acetar wm paradigms, eles néo serve para justificar a teoria~ no sentido de que ela serin mais verdacieira que outra. Para Kuhn, n8o hf Tigacio entre os valores ea verdade de uma teoria (ou de sus verossimilitude). Finalmente, Kufinnio vé como justficar estes valores, ni ser pelo fato die que esses sto of valores compartithados pela comunidade cientifica: “Que melhor eritéio podria exstir do que a desiaio de.um grupo de cientistas?” 32 |ALDA JUDITH ALVES: MAZZOTTI de FERNANDO GEWANDSZNATDER (2970, p. 170). A justificativa para a accitaglo desses eritrios passa a Ser portant, a opinido da comunicee centifca que rabalha como paradigms em esto. # ‘Kuhn sustenta que, do momento em que a escolha de teorias nao é com- pletamente leterminada pelos valores compartilhados da comunidede cientif- ee Ginplicidade, precisio ete.)-hem pode ser determinada (provada ou refuta- sha base empicica, outros fatores, que variam de individuo para uo influem nessa escolha: experiéncia profissional, convicgbes religio= “ifs, ceztos rages da personalidade (\imidez, espirito de aventura ote) (19708, 1970, 1977). Para Kuhn esta indeterminagio é util para o desenvolvimento da déncias como nenluuma teoria é comprovada ou refutada conclusivamente, Gqualguer decsio de escolha implica umm sco. Por iss, essante que Site centistas no abandonassem una teoria prematuramente. B impor qante que alguns escolham a feoria nova e outros mantenham a adesfo 3 teoria stig somente assim o potencal das das teorins poderé ser desenvotvido & exaustio, “Apartr dossasconclusBes, Kuhn ataa outa teseadmitca por postvistas rogicos¢ acionalistas eriticos —a de que hé uma diferenca entre o contexto da seccberta eo da justificativa de uma teoria, Para Kuhn, uma vez que fatores RSividuais« paicol6gicos ~ que poderiam participar apenas do contexto da escoberta pata 08 filésofos tradicionais ~ podem edevem participar da avalis- (Go de teorias, a diferenga entre os dois contextos se dissolve. ‘No eatanto, ao mesmo tempo que chama a atengfo para fatores subjetivos de avaliagio, Kuhn acha que na “cotversto” de toda uma comunidade aonovo paracigma 9s argumentos baseados na caprcidade da nova teoria de resolver Pfoblemas sto decsivos, Assim, anova teota somente seré aceita pela comuni- ead, se ela for capaz de resolver as anomaliassignificativas que levaram crise Gav forcapaz, também, de resolver uma grande parte dos problemas esolvides pla teoria antiga (19702). ‘A medida que os cientistas trabslham para corrigic e desenvolver a8 Jas empitiease argumentos tedricos em favor de progressivamente, a ponto deconvencer umatimero até que, eventaimente, toda a comunidade passa aradigma: 0 Novo consenso restabelece ento @ wworas,omimero de ev tia tora pode aumen cada ver mnor de ie S ncellar uma nia eo ‘oF volta de uma ciéncia nor 1, 1970b). NS enont Kalu arpumenta que, embora em alguns esos a resistencia & mud panto para ezaavel, no se “encontrar um ponto onde a resisténci rear e gna cigene] teres gia ou nto conte” (170b, p. 159) Paar pote cloca novamnteem questo a objetvidade dae se poe vance um cents por argumentos que sa resist sere ca, ent, pra que eaclher entre das ox mais teoras? Porque nfo | i (© MIETODO NAS CIENCIAS NATURAIS SOCtAIS 33 ficar com todas elas ~ possibilitanclo o desenvolvimento & exaustio de todos os paradigmas? 3.6 Conclusio Para Kuhn, o progresso em ciéncia consiste, principalmente, na maion. capacidade de resol sorias apresentam em relagio as antigas teorias i precisas e maior ntimero de“ pravisdes de dacios empiticos. Kuhn parece de objetivo de progresso, Ao mesmo tempo, porém, afirma que, durante uma mudanga de paradigma, hé perdas na capacidade de explicar certos fenémenos e na capaci- dade de reconhecer certas problemas como legitimos—além le um estreitamen- tomo campo da pesquisa (Kuhn, 1977). Mas, se hd percias e ganhos, como aferir ‘o progresso? O conceito de progresso pode ser avaliado de forma objetiva, se aceitarmos dda verdade. Mas Kuhn considera essa snclo no apenas aquele que defende 0, 3 clentificas, mas também uma visio, Faia inaceltivele desneceisia, aumento da verossimilitude das relist da cel. “Kuhn defence agua posgio ndo-ealista de que & sem sentido falar de ima ver que nfo fers acesso nessa realdede. Ee considera que esta supongio nto € necessria pare explcar sucesso da cléncia. * parson! ‘A posigio de Kuhn & instrumentalista: uma teoria é apenas precisas, nio tendo qualquer relagao de, Teorias nfo sio verdadeiras nem falsas, mas eficientes ou nfo eficientes. E dentro desta visio que Kuhn concebe 0 progresso cientifico. Restam ainda duas questies importantes: Kuhn apresenta boas razGes pasa avaliagio de torts? Ald que onto a ils de Kuhn podem ser Em sentido amp! iviemo € a tese de que a verdade ou a avaliagio de uma teorie, de uma hipétese ou de algo mais amplo (paradigm, sistema conceitual ow mesmo todo a canhecimento) é determinada por (ou é fungao de) _ dos seguintes fatores ou variAveis: petiodo hist6rico, interesse de classe, linguagem, rac2, sexo, nacionalidade, cultura, conviegbes pessoais, para- digma, pontos de vista~ enfim, por qualquer fator psicossocial, cultural ou pelo sistema de conceitos utilizacios. Para o relativismo, todos esses fatores seriam. ‘uma barreira intrans} #8 a abjetivicacle. No caso especifico da filosofia, dda ciéncia, a tese relativista afirma que nio ha critérios ou padsdes objetivos para avaliar as teorias, uma vez que esses critérios dependem de um ou mais, dos fatores acima, 34 [ALDA JUDITH ALVES: MAZZOTTE de FERNANDO GEWANDSZNATDER Se a tese for verdadeira, nés estamos, de certa maneita, aprisionados dentro de nosso sistema de concsitas (ou dentro cle paradigmas, classes sociais, Epocas histércas, inguagem etc) e,simplesmente, nfo ha um sistema superior objedvo ou neutro para avaliar nossas idéias. Neste caso, fica comprometida ‘nao apenas a possibilidade de avaliagio de teorias, mas também a propria idéia fe progresso do conhecimento'Gu da cineis final, que extéro texfamos para afirmar que uma teoria é melhor que oultra ou que hé progress0 ao longo de ‘uma seqiléncia de teorias? Emtbora Kuhn tenha rejeitado o rétulo de relativista, virios fil6sofos con- sideram que ele nao consegue apresentar boas raz0es p (Andersson, 1994 Bunge, 1985a, 1985b; Lakatos, 1970, 1978; Laudan, 1990; Popper, 1979; Shapere, 1984; Scheffler, 1967; Siegel, 1987; Thagard, 1992; Tou! ‘min, 1970; Thigg, 1980, entre muitos outro: ‘Como pode, por exemplo, haver progresso, do momento em que a capaci- dade de resolver problemas é avaliada de forma diferente pelos defensores do paradligma antigo e do nove (para os primeiros pode ter havido mais perclas do {gue ganhos, enquanto os itimos fazem a avaliagio inversa) eclo momento em. due fatores psicol6gicos esociais necessariamente infuenciam essa escolha ~ 0 que vem ser justamente a tese relativista? VAs teses de Kuhn, principalmente na interpretagéo mais radical estimula- ramum intenso debate. Os flésofos que acreditam que os critérios de avaliagto de teorias devem sero} ‘sto 6 devem ser independentes das crengas dos Cientistas ou das circunstincias sociais do momento, procuraram rebater stas feses relativistas, de forma a defender 0 uso de critérios objetivos para a avaliagio das teorias, como fizeram, os seguidares do racionalismo crtico (Andersson, 1994; Bartley, 1984; Milles, 1994; Musgrave, 1993; Radnitzky, 1976, 1987; Watkins, 1984) ‘Outro grupo patte para a posic%o oposta, levando as teses relativistas As \dltimas conseqiiéncias, como fizeram Paul Feyerabend (1978, 1988) ¢ a Escola de Edimburgo (Barnes, 1974; Bloor, 1976; Collins, 1982; Latous & Woolgas, 1986). ‘Finalmente, hé aqueles que, como Imre Lakatos e Larry Laudan, incorpo- ramem sua filosofia algumas idéias de Kuhn, procurando, no entanto, construit ‘ritérios abjetivos para a avaliacio de teorias (Lakatos, 1970, 1978; Laudan, 1977, 1981, 1984, 1990) 4. Lakatos, Feyerabend e a sociologia do conhecimento ‘Do mesmo moto que Kuhn, Imre Lakatos (1922-1974) acha que é sempre possvel eviter que-uma feoria sia refitada fazendorse mocificagbes nas hipo- feaes auniliares. A partir dai, Lakatos proctra reformulas a metodologia de Pogper de forma a preservar aidéia de objetvidade e racionalidade da ciéncie Ja boul Byerdbench(1924-1994) segue uma inka ainda mais radical do que a de (0 METODO NAS CIENCIAS NATURAIS SOCIAIS 35 Kuhn, ao afirmar que néo existem normas que garantam o progresso da ciéncia, ‘ot que a diferenciem de outras formas de conhecimento. Finalmente, a sociolo- gin do conhecimento procura demonstrar que a avalingao das teorias cientificas 6determinada por fatores sociais. 4.1 As idéias de Lakatos Para ilustrar a tese de que & sempre possive refutada fazendo modificagdes nas hipéteses au planeta hipotético que se desvia da érbita calculada pela teoria de Newton. De ‘um ponto de vista l6gico, isso seria uma falsficacao da teoria, Mas em vez de abandonar a teoria, o cientista pocle imaginar que um planeta desconhecido esteja causando o desvio. Mesmo que este planeta nfo seja encontrado, a teoria de Newton nfo precisa ser rejeitada. Podlemos supor, por exemplo, que 0 planeta é muito pequeno e nfo pode ser observado com os telesc6pios utiliza os. Mas vamos supor que o planeta niio seja observado com telesc6pios muito poterites, Podemos supor que uma nuvem de poeira césmica tenha impediido ‘sua observagio. E mesmo que sejam enviacos satélites e que estes nao consigam i lum campo magnético esse modo, sempre se jo a teoria da refutacdo, racias em anomalias, atribuidas a hipsteses auxiliares incorretas (Lakatos, 1970) Com exemplos como esse, Lakatos mostra também que, contra Poppers teorias cientfcassfo irefutaves: xm proibir qualquer estado abservavel de coisas” (Laketos, 1970, p. 100), ara Lakatos, a histéria da citncia demonstra a tese de que as so abandonaclas, mesmo quando cincosanos ae passaram entrea aceitacao do pe ‘sua aceitagdo como falseamento da teoria de Newton" (1970, p. 115). ‘Além disso, para Lakatos as teorias nao s80 modifcadas ao longo do tempo de forma completamente livre: certas leis e p: resistem por muito tempo 48 modificagées (como aconteceu com as leis de Newton, por exemplo). Por isso cle acha que deve haver regras com poder heuristco, que orientain as modificagdes e servem de guia para a pesquisa cientifica, Se for assim, « pesquisa cientifca poderia ser melhor explicade através de uma sucessio de teorias com sm comum: o cientista trabalha fazendo pequenas comesdes na teoriaesubstituindova por outrateoria ligeiramente mocdificadn. Esta sucess30 de teorias 6 chamada por Lakatos de * programa de pesquisa cientitic”. 36 [ALDA JUDITH ALVES-MAZZOTTT de FERNANDO GEWANDSZNAIDER parte quenfo muda em um programa de pesquisa échamada de “miileo, rigido do. programa” (Lakatos, 1970). O nscleo rigitlo é formado por um con- junto de leis consideradas ierefutiveis por uma deciséo metodol6gice, uma vonvensio compartilhada por todos os cientistas que trabalham no programa, \fiste decisto metodoldgica € necesséria devido ao problema de Duhem: a falsificagao atinge o sistema de Ripéteses como um todo, sem indicar qual delas deve set substtaida, Logo, € necessério estabelecer por convengéo que certas feis ndo podem ser mudadas em face de uma anomali. Bsta conven impede também que os pesquisadores fiquem confusos,“submersos em um oceano de anomalias” (Lakatos, 1970, p. 133). ‘No caso da meednica newtoniana,o niicleorigido é formado pelas tes Leis de Newton ¢ pela let da gravitagio’ universal; na genética de populagdes, Gnconiramos no nucleo a afirmagio de que a evolugio é uma alteracto na ffoquncia dos genes de uma poptilagao; na teoria do logsto a tese de que a corsbustio envolve sempre a liberagio de flogisto; na astronomia copernicana Gnieleo é formaclo pelas hipsteses de que a Terra € os planetas giramem torn Ge um Sol estacionario, com a Terra girando em torno de seu eixo no perfodlo de tum dia (Lakatos, 1970, 1978). ‘O ncleo rigido & formado, portanto, pelos principios fundamentais de ‘uma teoia, Fle que se mantém constant em todo o programa de pesquisa, & Jnedida que as teorias s40 modificadas e substitufdas por outras. Se houver Tnudangas no miceo, estaremos, automaticamente, diante de um novo progra- tna de pesquisa, Foi sso que ocorreu, por exemplo, na pessagem da astronomia Dlolomaica para a copernicana ou na mudarga da teoria do flogisto para a feoria da combustio pelo oxigénio. ara resolver as anomalis, isto é, as inadequagdes entre as previsbes da teoria eas observacdes ou experimentos,o pesquisadortenta sempre modificat tima hipétese aunciiar ou uma condicéo iniial, em lugar de promover altera- ges no nicleo, As hipéteses auxiliares ¢ as 5 iniciais formam 0 que Tankatos chama de “einto de protegio” (1970, p. 139), j4 que elas funcionam pprotegendo o nicleo contra refutagbes. Quando alguma anomalia era observa- Ep no sistema de Plolomeu, por exemplo, procurava-se construir um novo tpiciclo para explicar a anomalia, O mesmo teria ocorrido emrelagio & suposi- Gho da existencia de um novo planeta (Netuno), com o fim dle proteger 05, rincipios bésicos da teoria newtoniana “A regra metodolégica de manter istacto 0 nicleo rigido é chamada “heu- sfatica negativa” do programa. [a “heuritica positiva” constitui oconjunto de * sugestdes ou palpites sobre como [..] modificare sofisticar 0 cinto de protegio refutével” (1970, p. 135). Na heuristica positiva estariam, por exemplo, as técnicas matemétieas para a construgto clos epiciclos ptolomaicos, as técnicas die observagdo astrondmicas ea construcio dé modelos, cada vex mais compli- adios, que simula a realidade” (1970, p. 135) Todos esses recursos orientam a pesquisa cienifica, fomécendo sugestbes sobre como mudar as hipoteses auxi- (© METODO NAS CIENCIAS NATURASS & SOCIAIS 37 linzes, até que a observacko esteja em concordancia com 0 niicleo rigido do programa. ‘Para explicar as mudangas mais radicais, que ocorrem nas revolugbes cientificas, Lakatos prope critéios pars avaliar todo um programa de pesquisa, (Lakatos, 1970, 1978). Para ele, um programa pode ser progressivo ow degene- sativo. O programa de pesquisa ¢ progressivo, se: (1) usa sua heuristica positiva para mudar as hipéteses auxiliares de modo a gerar provistes novas e inespe- radas; (2) se pelo menos algumas destas previsbes sfo corroboradas. Se somente 1 primeira exigéncia for atendida, ele € teoricamente progressivo; se a segunda também for satisfeta, cle sera empiricamente progressive. ‘Um programa sera degenerativo se as modificagées das hipéteses auxilia- resstorealizndas apenas par xl endmenos|t confecids ou desoberon ppor outros programas de pesquisa. As modificacbes ficam sempre “a reboque” dos fatos, servindo apenas para preservar o nicleo rigido do programa, em vez de prever fatos novos. Neste caso, 0 programa degenerativo poderé ser aban- dnado por um programa progresivo (ona progres) gue etiver ipo vel __ Lakatos concorda aqui com Popper em dois pontos: © primeiro 6 que a porque ndo vé meios de aprimoré-ta mais” (Watkins, 1964, p. 157) 7 __cientista pode entéo pensar (© METODO NAS CIENCIAS NATURAIS E SOCIAIS 49 trabalhar mais nele” (1978, cientista continua a trabathar em uma tebria que faz parte cle um programa de pesquisa é porque ele nao leva a sério a refutagao, uma vez que continua a accitar a teoria mesmo que ela seja inconsistente com os Feyerabend tambéan ac seu “anarquismo epistemol rem conflito maciga com, xoter ¢ elaborar um ponto d (1988, p. 183), ‘Mas se aceitarmos a distingfo de Watkins, podemos reformular a alegagao de Lakatos e Feyerabend, mostrando que a atitude que eles consideram oposta a0 racionalisma critico é, na realidad, coerente com esta linha filoséfica. Um is ou menos assim: “Esta teoria me agrada, mas ela entra em conflito com ios experimentals e tém inconsisténcias inter- nas, Por isso, decido trabalhar na teoria para corrigi-la e tomé-la uma teoria melhor, isto é, uma teoria compativel com os resultados experimentais e sem inconsisténcias internas. Desse modo, posso contribuir para o crescimento do, conhecimento”. Para Watkins, nfo cabe ao fildsofo da ciéncia dizer em qual das teorias 0 cientista deve trabaihar ou deixar de trabalhar e sim procurar critérios para elas, até o momento, é a melhor. tica de Lakatos contra Popper é a de que todas as teorias cientifi- cas sto irrefutéveis, no sentido de que "sao exatamente as teorias cienticas mais aclmiradas (como a teoria de Newt jimplesmente, falham em. proibir qualquer estado observvel de coisas” (1970, p. 16) Noentanto, a tese de Lakatos é verdadeira apenas para o que cle chama de niicleo rigido de um programa de pesquisa, que corresponde aos princfpios fundamentais da teoria. No caso da teoria dé 1 onticleo é formado pelas leis do movimento e pela lei da gravitago universal. No entanto, como sabe- ‘mos, uma teoria ndo é testada isoladamente e sim através de hipateses a res, Uma vez enriquecica por essas hipéteses, a teoria torna-se refu capaz de proibir determinaco estado cle coisas. A teoria de Newton, acoplada a hipéteses acerca da estrutura do sistema solar, pode ser refutada pelas irregula- ridades na érbita do planeta Mercitio, por exemplo (Watkins, 1984). 5.5 Os testes independentes Como vimos, para o filésofo Pierre Duhem (1954), uma hipétese ou teoria | nunca é testada isoladamente (é sempre um conjunto ce hipéteses que compa- | receim a0 “tribunal” da experiés ‘uma das hipéteses do sistema ‘A primeira questio que precisa se 50 probleméticos (Andersson, (0 uso le testes independen foram suficientemente testados e corr é desenvolvido, por exemplo, ele pode ser testado em sintomas da Aids e é usado inicialmente sempre junto ‘Acresposta € que, em varios casos, is modo que-a solugio do problema da circularidade, consiste em submeter 05 to é, a testes que mio tenham testi sendo testada e que dependam de enuncia- Glaze Horias suficientemente testados e considerados, até o momento, comonso 194; Bunge, 1973; Papper, 1975b; Watkins, 1984). es é uma prética rotineira em ciéncia onde juma mesma hipotese & testada através de téenicas distintes, que envolvern Bla importante também quando se usa uma hove tonica ou um novo instrumento considerados probleméticos (que nao ‘oborados). Quando umnovo teste de Aids individuos gy ‘a outros testes consicde- [ALDA JUDITEE ALVESMAZOTTI & FERNANDO GEWANDS2NAIDER testes independent rados néo problematicos cessas observagies ain fs primeiros observadores nfo finham tembora as observacdes 20 defensores de Ptolomeut continwavam a olho nu era confiavel. Para Feyerabend (1988), G ao telescépio apenas para defend son (1994), porém, Gali a testes cuja validade ni Ptolomeu, observando, por exempl ‘na qual todos os argumentos ipétese aun como ocorzeut com a hipdtes Outro exemplo do uso de tes ‘Como vimos no iter anterior, introduzir uma hipotese auxiliar para impes dle uma teoria sejam substtuides ou, Oo meleo rigido de um programa de pesquise. Se fo { partir de citérios,objtivos, as revolugdes cient a refuttagio apenas mostra que pelomenos io éfalsa mas no nos diz qual delas 0 é. spondida, é se & posstvel descobrir (conjeckuralmente, € clafo) a hipétese falsa no meio da teia de hipéteses auxiliares. 50 & possivel e a solucio, do mesmo es independentes ocorreu quando Galilew _usou observagées a0 telesc6pio para refutar a teoria de Ptolomeu. Nesta ida eram problemiticas: os telescépios eram primitives © ida prética em seu uso. Por isso, ‘se6pio apoiassem a tearin de Copémnico, 08 firmando que somente a observacio a sa assumiua fidedignidade das observacbes teoria copernicana, Como mostra Anders 1 submeteu a hipétese de que o telesc6pio ¢ contiével Wo dependem da validade da teoria de Copémico ou lo, objetos distantes na propria Terra ~como juma torre de igreja ao Tonge. (Para uma discussio extensa do caso de Galles, de Feyerabend sio rebatidos, veja-se Andersson, loncluir entio que nao hé naca de errado em se introduzir uma w dentro de uma sistema te6rico para explicar uma anomalia, fe de que havia outro planeta pertusbando a érbita de Urano ~ desde que essas hipéteses sejam independentemente testéveis. ‘porém, Lakatos acha que é sempre Poss sdir que 0s prinefpios funcamentais ‘na linguagem de Lakatos, para preservar ica dificil justificar, {que os princfpios (© METODO NAS CIENCIAS NATURAIS E SOCIAIS 51 fundamentais do flogisto foram abandonados? Por tandamena 40 Hoge fe ? Por que nto mudar apenas Para justificar sua tese, Lakatos se vs como vimos, de um exemplo a de um planeta que néo sa precra um pln prinelpios beicos de Newton, No Inde Lakatos os centstas bocoanguem deci como es Net Apetr dio eles nto abandonam a tora nowtoniana aegumentando quo planeta & pequeno demas pan Sr chservae como felestpo wiz: E, 0 planta no or observa com um teescepio mais potent, podese dizer ainda que una ruven de pei cams imped oberg do plane, Asin acaarove eto ume ia mal 6 apresentada, preservandose sempre os “Argumentos desse tipg, mostram q) ; n que, em principio, & sempre posstve! mets con i a ae onhecimento (Quine 1961) - mosifcandoslguma outa parte do sistema, No entanto, como mostra Andersson (1994), esse proceciimento émaito mais di do que se pensa, Vejamos por que ® ae pare que a anomal tim planeta em determined restrigBes ou pardmetros qu funcione, isto é, para que hipétese da navem poderia ser 1 so mais féceis de serem observa- com suxdio da hipslese da exten de um ‘Valeano: * “ 52 [AUDA JUDITH ALVES MAZZOTTI de FERNANDO GEWANDSZNAIDES Portanto, pra Andersson (1994), se exigirmos que as hipéteses auxiieres sejon ndependentementetestadas ou que novosistems teric, forma com seer attiglo das hipéteses auxiiares, sea testado, torna-se muito dif] encon- daaa pie na hipétese auxiliar que resolva o problema, Neste caso, se alguém Sterosentat ima nova teoria capaz de passr pelo testes que refulam a feoria antiga, ela passaré a ser a melhor No entanto, para Feyerabend (1988) ¢ outros relatvista ¢ possivel salvar uma teonn da tefetagdo com aul de wm tipo especial de hipétese, a hipotese aThoe, Hi vérios signifcacos para essa expresso que, ex atm, significa “para Seer rohna este caso", Podese considerar como a Hoc, qualquer hipotese ‘sigerida apenas com a finalidade deexplica um fato depois desua descobera Note sentido, a hipétese da exisiéncia de Netuno seria ad fac. Neste 280, Dong, nfo € necesséra nenkma repra conta este tipo de hipétese, como Benbamos de ver ‘Pode-se consicerar também que uma hipétese aoe €aquela exiada para explicar um fto, mas que nfo pode ser testa, independentemente dos fatos paraos quais foi criada (Popper, 1974) Jona como exemplo de hip6tese hoc existencia dos co Wolfgang, Pauli em 1961, pare explicar um Tenbsrone tadintvo (0 decaimento beta) onde a energia total no fra da trans- (enemncte é menor do que a iniial ~o que vai contra « fei da conservagio da tenga. Paull sugeriu entfo, que a energiaperdida seria conduzida para fora {fo dtomo por uma partcula mito pequena (que ele cas {naase ou quase sem massa) e eleteicarnenteneutra,sendo por iss0 di detectada. Nao exe possivel, na 6poca, realizar um teste independente que corrobo~ esse ousténcia de neutrinos. Neste ca80, teriamos ce considerar que a hip6- teve de Pauli eraad hoe e devia ter sido evitada ‘No entanto, em toda essa discussfo, é importante estabelecer uma grada- fone carsterad hee deuma hipotese, Uma hipotese completamentea hoe seria siecle quese vale de um argument falaciosoe cieular, dando como provedo justamenteo que se quer provar. ‘Mas hi também hipOteses que podem ser consideradas ad oc envolvem circularidade, Una dessashipOteses fo usacla contra Eluobservou montanhas na Lua, o que contariow a idéia ar oxpos ceestes eram perfeltamente esfrcos elisos, Neste cxso, os defensores SearistGteles dissevam que os espagos entre as montanhas ¢ 0 solo eam freenchidos por uma substincis invisivel, que nfo podia ser detectad Eheervagdes fell nu ou pelo telescépio (Chalmers, 1982). Como nko outro meio de detectar essa su ‘ hipétese era irefutavel.O argumento Se Gale foi afiemar entéo que concordava.gom a existéncia dessa substancia, serum ver de preencher os espagos entve 0 solo e as montankas, ela se eaimuava em grandoxsuantidade no topo das montanhas, © que tornava 8 de neutrino), sem deser fe que no ‘© METODO NAS CIENCIAS NATURAS & SOCIAS 53 superfde da Lua ainda mals iregular, Galleu mostrou assim que, atzavés Ser aana ‘hipétete nd hac, podeae Feovar qualquer Ripchse inca Ripe. iis cotati He eperav, com no que seu ios pceesson 0 Poscoetrase ene po dagen fm para prver eae quer bservese, porém, que a hipstese da substincia i “entiquecida”, especificando-se outras de suas prop que, cmborainvisfve, ela inha mason (como o ar) © vee foasemos La, poderiamos sentir (pelo tato ou por instrumentos) seu deslocamento. Neste favo, estariamos diate de una hipotes que podria er tesla futuro, eso conseguissemos chegar & Lua, Quanto maior o nsimero de propriedades que se atribulose A substance, maior oconteddo emptico eo nkimero de testes dife- renfes que poderiam ser ealizados, menor o carter a fe da Iipotese e maior 6 niimero de parimetros ou restrigdes que teriam de sersatisfltos pelo test, como ocorreu no exemplo de Lakatos. A opgio contratia consiste em aumentar © cardter ad hee da hipotese,afrmando, por exemplo, que ela nfo pode set detectada por nenhum orgao do sentido nem por qualguer instrument. ‘No easo do neutrino, Paull nto selimitow a afirmar que exstem partculas que nfo poder ser delelades O nesting nfo €smplesment ume partesla {fisted mas tom uma série de propriedades que potiem ser deduzida tor camente e que otornam diferente das outras patictlas conheldas: no poss carga elérica, sua massa é nln (ou quase ula) ¢ seu apin (ama medida do movimento de rotago de uma partcul)€ igual ago eletron. Essa carctert- fens eriam uma serif de restnoes aos resultados dem possvel teste inde pendente para detect neutrinos. ‘Alem de explicaradiferenca de energia observada, a hipstese do neutino expliava também por que os ektrons emis possufam varios nives difeen- ie deere vam associados a neutrinos mals rpidos e vice versa) e por que havia uma diferenga de 1/2 spin no decaim Tai Res oplicnpa fou coroboradasponetomere “Ahipstese ce Pali nfo portant, tao hoc como akipotese da substin- 7 isso, os clentistas tenham se esforgado para ar © neating, mas, provavelmente, Soria para desea uma subenanIvigvel naa Tim restmo, uma nova hipStes introduzida no sistema precisa softer sees ndapendentes, Cas nose Posvel devese bree © 800. sistema a novos testes. Se nenhuma dessas opgbes for possvel,o sistema nfo + pode ser considerado supetior ao antigo. Hs vse colin que pose ar de to es cuz at 0 “Aprimeira conclusio que apossibilidade de seconseguirenunciados no | problemitices e de se testar independentemente as hipoteses stxillares de- ‘monsira que as revolugées cientificas nao precisam ser vistas como converses.) ivel poderia ter sido ies. Poceria se dizer 54 [AUDA JUDITH ALVES-MAZZOTTL fe FERNANDO GEWANDSZNAIDER jmracionais, instantaneas (gestélticas). Contrariamente a Kuhn, elas podem ‘corer em pequenas etapas, pela substituicéo de hipétesesrefutadas “A substituigao da teoria ou paradigma do flogisto pela quimiea de Lavoi- sier, por exemplo, cortex em peguenas etapas, ao longo dos anos de 1772, 1774 ©1777, chegando a sua forma madura em 1789 (Thagard, 1992), Neste ano, @ {rancle maioria dos quimicositha aderido&teofa de Lavoisier e abandonado # teoria do flogisto. Seis anos depois, praticamente toda a comunidade apoiava Lavoisier (Anica excegio foi Priestley, que defence o flogistoatéa sua morte, ‘En 1804, Resta saber, no entanto, se, luz da diferenga entre aceitar uma teoria fomoa melhor e trabalharna teoria para corrgi-la,aatitude de Priestley foi, de fato, rracional) Outra conclusto 6 que embora sea fil introduzir hipéteses francamente ad hos para salvar urna teoria da refutago, este procedimento deve ser evitado, “Gmia vez que néo permite uma discussdo critica de qualquer hipotes Jnostrou Galileu. Jaa introdugio de hipéteses como do neutrino no Ca restigio no deve ser to séria, uma vez que essas hipoteses tém algum Conteddoempiticoe, quanto maior este contesido, mais rfutével seréo sistema Como uum todo, isto 6, o sistema formado pela teoriae pela hipétese ad hee. “Vimos também que é perfeitamente aceitivel introctuzir no sistema hipé- ses auniliares independentemente testéveis para salvar uma teoria da refuta- Géo, mas nom sempre se consegue fazer isso, como sugeriu Lakatos, uma vez Suwa nova hipétese tem de ser coerente com uma série de restricbese paréie- tos. 5.6 O objetivo da ciéncia ‘Uma das formas de resolver o problema da avaliagdo das teorias é consi derar que a melhor teoria é aquela que atende aos objetivos da ciéncia. Mas qual esse objetivo? (© objetivo dos defensores do racionalismo crftico ¢ conseguir enuunciados verdadeiros através de um método que néo esté sujeito as eriticas de Hume. Para isso, deve-se fazer uma concesséo a Hume, admitindo que nao é possivel conseguir conhecimento certo Isto significa que mesmo que consigamos desco- brir uma teoria verdadeira, nunca poderemos ter certeza disso. Como as criticns de Hume néo valem para a refutagio (embora a refutago seja sempre inconclusiva, é logicamente posstvel provar que uma hipétese € falsa), 0 método para conseguir hipéteses vercadeiras consiste em prapor hhipdteses refutiveis e tentar eliminar aquelas que sio falsas. Desse modo, ‘podemos conseguir enunciados verdadeitos (no sentido conjectural) por um método nfo vulnersvehis erticas de Hume. (© MErODO NAS CIENCIAS NATURAIS E SOCIAIS 55 [No entanto, se admitirmos que sempre podemos estar erradios, temos de submeter qualquer enunciado aos testes mais severos possiveis, separando-0s, por eliminagio, dos erunciados falsos. (Se for posstvel aplicar um teste duplo- ‘cego para um medicamente este teste nab for feito, estamos perdendo a chance de eliminar duas hipéteses: a primeifa hipétese é a de que a melhora do paciente é produto de um efeito psicoldgico; a outra,hipétese é a de que os resultados do teste devemn-se a parcialidade de quem avaliow a melhora.) ‘O processo ¢ resumico por Miller e Watkins do seguinte modo: ye canjectras que podem ser verdadeirs[o}. entre osisterna ea evidéncia qu ‘atkins (1984) procura demonstra também que a toria que passou por testes mais severos que autres e que, por iss0, pode ser considerada mais cortoborada, sens também a teoria com maior poder preitivo ou entéo com taior capacidade de wnifcar os fatos. Neste caso, pare Wins, deverfaos ‘busearteorias possivelmente verdadeiras e com poder preitivo e capacidade de unificago cada vez maiores (© objetivo de maior poder preditivo inclu néo apenas o de buscar teores sais amplas, que cobrem um maior ndmezo de ferémenos, como também o de tbusearteorias mais precsas ou exatas: em ambos 08 ca805, 8s teoriasterdo maior conteddo empirico sio também mais efutiveis, que sigifica que sf0 mais féceis, em principio, de serem refutadas. Com a refutagto,temos a chance de aprender algo novo, isto é, de crrigir noss0serros. "Acapacidade de unificasio ¢ conseguida, muitas vezes através do uso de teorias mais profundas, que se mos nao observacionas, que repre- sentam entidades fedricas invisiveis (tomo, energia, selecio natural, onda eletromagneética etc Para Watkins, 6 possvel escolher a teorn que, além de ser possivelmente verdadeira isto de ni ter sido rfutada também a ce maior eapacidade de Unificagio ox com maior poder preditvo, usando como critérioexclusivamente © grau de corroboragfo, Com iss, ele estaria usando um crtério xinico de avalingdo evitando assim, oproblema ca avaliacfo multidimensional de teries ros possiveis casos em que uma teaia é melhor que outra om alguns aspectos ¢ inferior em outros ~ uina stuaglo que teoricamente pode ocorrer, mas néo ‘corre necessariamente sempre 56 |ALDA JUDITH ALVES-MAZZOTTI fe FERNANDO GEWANDSZNAJDER Para Deborah Mayo 0 fato ce uma hipotese ter passado por um teste severo é uma boa indicagio de que hip tese€correta e, para cla, € possivel dar te severo com aunilio das téenias estatisticas de Neyman- Pearson (Mayo, 1996), Outta estratégia para evita o problema de uma possivel ambigiidade nas avaliagSes multidimensianais consiste em usar programas de computador que aveliam globaliente uma teoria ém relagKo a outta teria rival (Thagard, 1992). Pode-se argumentar ainda que em muitas revolugges cientificas 0 micleo tedrico da teoria antiga & completamente repudiaclo pela teoria nova, Mas iss0 info tem importancia para a avaliagio de teorias, porque o importante é que a hrova teoria preserve 0 sucesso empirico da teoria antiga e, além disso, seja ‘capaz de novas previsoes, Por isso, mesmo que em certas revolugées haja pera de algumas previsdes feitas pela teoria antiga (que foram considieradas refuta- ddas pela nova), o que interessa é que o conteido empirico total aumenta, permitindo assim a comparagio objetiva das teories. ~ ‘O objetivo mais ambicioso posstvel, no passado, ft o de se conseguir um. conhecimento empirico certo, provado e com o maior niimero possivel de enunciados verdadeiros acerca co munclo (Watkins, 1984), Este objetivo, berm como o de aumentar a probabilidade da verdade de uma teoria através de uma Tgica indutiva, sto consideredos pelos racionalistascriticos epor boa parte dos filésofos como impraticveis. Para Watkins, 0 objetivo mais ambicioso possivel passa a er entio o de se conseguir teoras possivelmente verdadeiras e com ‘maior eapacidade de unificagfo ou com maior poder preditivo. ‘Para Watkins, qualquer objetivo proposto leve obedecer «alguns requis tos:ele deve ser cogrente e praticével, deve poder servir de guia na escolhaent teorias ou hipotesesrivais, deve serimparcal (em relagio a propostas metafisi- cas diferentes) e deve também envolver a ida ce verdade. Watkins supe que esses requisitos devam parecer razodves a filésofos e cientistas, embora reco- tnheca le nem todos os filésofos concordam com o requisito da verdade. Ha vérias teorias sobre o que vem a ser a verdade (Bonjour, 1985; Haack, 1978), Filésofos realistas, como Popper, defendem que um enunciado é verds- dleiro se. somente se corresponde 20s fatos(teoria da correspondéncia), ‘Outros, porém, acham que um enunciado é verdadeiro se e somente se ele é coerente com outros entunclados acitos (teoria da coeréncia) ou ent, se for Stl (tearia pragma ‘Para Popper (1975b),a teoria da correspondéncia 6a mais adequada para compreender 4 atividade cientifica e seu sentido é perfeitamente claro: pode- mos compreender, por exemplo, perfeitamente o que uma testemunha quer ddizer quando afirma que o acusado estava no,ocal do crime em tal hora. Este ‘nunelado seré verdadeiro, see sornente seo acusado realmente tivesse estado no local do crime Aquelathora. ‘© METODO NAS CIENCIAS NATURAIS £ SOCINS 7 Para Watkins, 0 conceito semantico de verdade (Tarski, 1956) é suficiente para que se possa falar sem contradigdes da idéia de verdade e tem a vanta- gem de ser neutro em relacio as diversas teorias de verdade, uma vez que procura fornecer apenas as condigdes formais para a aplicagio desse conceito Ceara Watts avant da tevin deve ser neutra em reas a prinpios 08) No entanto, filésofos como Kuhn (1970b) ¢ Lauidan (1977) no acham a ideia de verciade necesséria para a avaliagio das teorias. Para eles, a ci@ncia se preocupa apenas em resolver problemas. Mas, como mostra Newton-Smith (1981), a0 resolver problemas temos de eliminar hipéteses que contradizem ‘outras hipéteses. Temos também de eliminar teorias inconsistentes ~ se no, ‘como uma contradic#o implica qualquer enunciado, para resolver um proble de que “Aenso-A it queo problema est de verdade. (Quando Kuhn fala de verdade, referir sempre a idéia de verdade como correspondéncia e, como ndo é umn realista, nfo vé necessidade de usar essa idéia.) cn de vrdade &necesiia pina celogio dos problemas gue eno, porque do Drocucar ssolver problemas dof tera epee a mail 08 Jor que todos ox Cane sto ver sera, €ato, porque ees efncladoe foram refuted 08 ‘Um realista dra que a verdade como correcpordénca com os fats é fundamental para dar sto hatividade conten eso progieto da Gils Se nfo, qual cferenga ent a cienaa eo jogo de vatres? Porque el pode ser apliada na prt? Como explcar 6 stcesso quantlativo deceias preigoes, ta? Para um ilofo realise somentea dé ce que nse tris pron, mesino que de moro conjectural, compreender tim rand que existe inde. Penderfemente de como pensamos que sl 6, pode expen dequadamente fssas quests , No enfant, para Watkins, avalagio das teoras deve ser impala quanto A posi metafsea do cenit. nso nfo quer dizer que cients € tori incorpozen aenhsm principio metas, nem que esses prinelpos ‘Ho desempenhen nenhuma funglo no trabalho do clatisa (insti por trem, era um realist prefers tories deterministas get do undo) os gue alo Sram de inpiragio pars seu table sm que eles nfo dover ‘Resterrnaaveliagio ds eos, vo cbt dere camsnguir toring oasveiente vetdadatas fou capaidade de unica, “presenta ima porpectiva magica do que qualquer cuts ilosofia da inca contemporinen de oferecet” (1591, p. 37) Haveria outa modo de justi estes objetivo? 58 |ALDA JUETH ALVES-MAZZOTTI te FERNANDO GEWANDSZNAIDER! idéia de justficar tudo leva a um regresso infinito ow a alguma parada arbitraria, que no pode ser justificada racionalmente. Uma opcio é adotar 0 chamado racionalismo critico abrangente, defendido por Miller (1994) e Bartley (1984): "Uma posigao pode ser adotada racionalmente sem que haja necessida- de de qualquer ragio ~ desde que ela possa ser ¢ esteja aberta h eritica © sobreviva a um exame severo” (Bartley, 1984, p. 119). Para Bartley, essa aborda- ‘gem permite considerar como um racionalista critico abrangente aquele que “mantém todas as suas posicées, inclusive seus padrées mais fundamentais, objetivos, decisdes e sua propria posicio filoséfica abertos & critica; alguém que indo protege coisa alguma contra a critica através de justficativas irracionais” (1984, p. 1 ‘Em outras palavras, Bartley se propée a aplicar aos préprios prinefpios do racionalismo etitico as recomendagSes le Popper, para quema atitude racional consiste na disposigéo para ouvir argumentos e criticas, de aprender com 0 ‘experiéncia e de admitir que sempre podemos estar exrados (nfo hi certezas) ‘Outros racionalistas crticos, porém, nao acham a solugéo de Bartley ade- quada, criticando-a, por exemplo, por ser circular (para defesas e criticas desta posicao, ver Bartley, 1984; Miller, 1994; Racnitzky & Bartley, 1987), ‘Outra opgao 6 adotar uma posigao pragmética em relagdo a objetivos e critétios, como faz 0 filésofo Larry Laudan (que nfo é um racionalista critico), ‘20 argumentar que "sendoas criaturas que somos, nés conferimos um alto valor a capacidade de controlar, prever e manipular nosso ambiente” (1990, p. 103). Para Laudan, interesses desse tipo esto presentes em todas as sociedades: & Hi certs inteeases que so comparilhadas. Safe, longevldade, acess a um suprimento ras devastoydes dos elementos. universsidade ‘quendoiga nels questi grivid te &pecelamente ger 'quea primeira (1990 p. 110) ‘Em resuimo, Laudan sustenta que “seguindo os métoclos da ciéncia produ iabilidades- habiliiades para controlar, prever , cientistas ou niio, podem ver que so de seus interes: 7 ‘Embora Laudan possa ser acusado de circularidade (explicar por que a ciéncia funciona através da prépria ciéncia) e de se valer de argumentos ind tivos (quando fala em “resposta confidvel”), algm de se valer de uma idéia que cle préprio acha desnecesséria, a idéia de verdade (“que nao diga que ela esté (gravida quando néo esté), encontramos ai alguns desafios para o relativismo, (© METODO NAS CIENCIAS NATURAIS E SOCIA'S 59 que defende a idéia de que objetivos, regras, visbes de mundo etc. variam de ‘uma cultura para outta. (O desafio é maior para aqueles que defencem o chamado programa forte da sociologia do conhecimento, que assume que todo 0 conhecimento cientifico nada mais é do que um construto social (Latour & Woolgar, 1986). No entant ‘mesmo dentro dessa linha de pesquisa hé aqueles, como Helen Longino, procuram reconciliar a objetividade da ciéncia com stua construgdo social © cultural: walmente, mesmo assumindo a impossi justifieativa tiltima, podemos mostrar algumas conseqtién rar do uso de argumentos, de uma atitude critica, do reconhecimento de que sempre pode- ‘mos estar errados, cle procurar critérios objetivos para avaliar opinibies c teorias. Abdicar de tudo isso, implica admitir que tudo nao passa de manipulagao ou. propaganda, E 0 clesprezo pela razio humana e pela necessidade de argumen- tos “deve conduzir ao emprego da violéncia e da forga bruta como Arbitros definitivas de qualquer disputa” (Popper, 1974, pp. 242-243). 6. © empirismo de van Fraassen e a abordagem cognitiva Nao se pode dizer que haja atualmente um da citncia. Longe de es} multifacetado da fil ‘duas abordagens: 0 empirismo de van Fraassen e a abordagem cognitiva dominante em filosofia lo de ilustrar 0 cardter 6.1.0 empirismo de van Fraassen ‘Uma versio a ial da abordagem empirista do positivismo I6gico é 6 “empirismo construtivo” de Bas C, van Fraassen (1980). Van Fraassen critica a posicdo realista de que o objetivo da ciéncia é produzir teorias verdadeiras. O “que importa, é que as teorias sojam empiricamente adequadas, no sentido de serem capazes de explicar os fendmenos observaveis, isto é, de “salvar os Fendmenos”. Conceitos nio observaveis, como elétron, campo, ‘apenas para explicar os fenémenos, sem qualquer pretensio de tama estrutura real. Para van Fraassen (1980), nés podemos ter tt 60 [ALDA JUDITH ALVES MAZZ07 le FERNANDO GEWANDSZNAJDER (0 METODO NAS CIENCIAS NATURAIS E SOCIAS 1 queremos da ciéncin sem precisarmos nos incomodar coma verdad ou falsida~ Embora se possa dizer q teoria ¢ formada por um conjunto de Ge de nossas hipéteses a respeito do que nio € observa, ‘modelos semelhantes, no hi tim cxitrio para determinar o grau desemelhangs ‘Para van Fraassen e outros filésofos (Giere, 1979, 1988; Suppe, 1977), uma suficiente que permita decidir se um modelo particular, como 0 do péndulo, teoria nao é uum conjunto de enunciados (les) interpretados empiricamente © pertence A ieoria newtoniana. Como prépsio Giere admite, esta questio {tie podem ser verdadeiros ou flsos, como quer © positivismo, Contra eta cervronte pode ser decidida pelo julgamento dos membros da comunidade oncep¢tio, chamada concepga sentencial das teorias, van Fraassen clentfica da época”(1986, p. 86). Neste sentido, diz Giere, defence aidéia de que as teorias so ‘caracterizadas como um conjunto seems constrfias mas também socialmente constr ide madelas (visto semantica das teor ‘veremos adiante, 20 colocar como tinico cx é 0 simplificada de_um sistema natural f deci do atomo etc) amos 0 con 5 teorias 80 nao 988, p. 96). Como ara questtes epistemal6gicas ‘9 da comunidade cientific, perde-se a objetividade da avaliagio ¢ fentrése em um citculo vicioso: como determinar qual é a comunidade cienttfi- 2 ‘a, sem pressupor, de antemio, uma concepgio acerca do que éa metodologia Joo slates natures para os qual a tora 6 valde Ce cue poererconserdts ceca? ton nfo é verdadeira nem falsa: ela serve apenss pare “Apesar disso, a visto semAntica tem sido desenvolvida e utiizada por defini um tipo de sistema que pode existir ou nfo na natureza, Um sistema seré ea on 7 ait ae ‘newtoniano, por exemplo, se e somente se ele satisfizer as leis do movimento e 3 ilgsofos (Giere, 197, 1988; Suppe, 1977) além do prsprio van Fraassen dia gravitagdo universal de Newton. A anamalia de Merciio, por exemplo, nfo refuta as leis de Newton, ela apenas mostra que o sistema solar nao é um modelo newtoniano, eoita nao pode ser explicada pelas eis de Newton. ‘objetivo da cienca, pasa van Fraassen, éconstrir modelos etestar esses saracit — ~~ modsioe partir de fendmenos observveis para julgar se sio empiricamente _Usaraciéncin para compreenier a prdpria céncia: este projele charade Toquados, Aidéia de verdade ea concepcio ealista ‘daciéaca, que afima que de “naturalizagio da epistemologia” (a epistemologia é a parte da flosofia que aoncaitos como elétrons e leis como as leis de Newton corresponclem a algo que estuda o conhecimento, incluindorse a, 0 corkesimento ‘ientifico) rejeita 0 existe realmente na natureza, so descartados. ‘A relaco do modelo com um. carter « priori da filosofia. __, Sistema real seria uma relagdo de similaridade e ndo de verdade ou falsidade, ‘Uma das linhas mais idade lingtistca. modelos das ciéncias cogritives para © rdagem de van Fraassen (Churchland & 8 aparece em Kun, quando de si seméntica nao difere muito, de um Iha-se a uma mudanga de ges! ara explicar um aspecto do porém, a abordagem vale das ciéneies cognitivas para elaborar moxielos que expliquem tanto o conhedimento comum como o conhecimento centiico, ‘moclelos que satisfazem ‘O termo “elgncias cognitives” engloba uma série de. nnio se aplica. dam os fenémenos mentais eo comportamento. Entre elas pes universals nao desempenham ne- artifical (que é um ramo das cigncias da computagto) 10 de modelos a que @ 6.2 A abordagem cognitiva abordagem consiste no uso de wahecimento. Esta tendéncia ‘a mudange de paradigma este caso, a psicologia da ‘Hooker, 1985). Uma del pponto dle vista l6gico, da visio positivista das teo .e aum conjunto finito Fe modelos corresponde um conjunto de sentencas ¢ vice-versa (Worral, 1984). Ontra criticagé que na visso semantica a amy it | reduziclay uma vez que ela é aplicada somente ac a teoria, deixando de fora os outros sistemas a que Giere, na visio semantica “gener lagia cognitiva e num papel [na mecanica eld 98, p. 108). gs neurociéncias. Trata-se, portanto, de uma abordagem interdisciplinar, que Outra conseqiénecia indesejével da visio semanticasé que as teorias pas- intliza nogbes de psicologia, da informatica e da neurofisiologia do sistema sama cer entidatles “que ndo sto bem definidas" (Giere, 1988, p-86) Neste caso, nervoso. teuna-se dificil dizer se um modelo de péndulo, por exemplo, faz parte da teoria orias cientificas si tratecas aqui, por exemplo, no como enticndes Ga mectinica cléssica, Se uma teoria ndo for bem definida, podemos fazer o que lingisticas, mas como “modelos mentais” ou “representacoes mentais”. Al-/ Se pode chamar de “marobra de Feyerabend, que consiste em aumentar ama sje representantes dessa linha valemse de models psical6gicos da percep serie cefatada ou diminuir a teoria corroborada, de modo a torné-las incornen- tro, formacso de imagens, meméria, etc. (Nersessian, 1984, 1992); outros, como SGavels - uma vez que desse modo, qualquer suma das teorias explicara fend- ‘Thagard (1985, 1992), defendem uma “filosofia computacional da ciéncia”, ‘menos que a outra nadrexplice. cempregando programas de computador para avaliar teorias;finalmente, Ré os a [AUDA JUDITH ALVES MAZZ0TT1 fe FERNANDO GEWANDSZNAJDER {qlie usam nossos conhecimentos acerca da fisiologia do cérebro para estudar rnossas representagées mentais (Churchland, 1989). AOA abordagem cognitiva preocupa-se enlZo em como o cientista labora modelos mentais dos fenémenos e como ele avalia e juga essas representacbes. “Uma das criticas feitas a essa abordagem é seu caréter circular: como -validar a filosofia através de principios cienttlicos que por sua vez teriam de ser Validados pela filosofia? Uma resposta a esta questo é que os defensores da lutea dificuldade ‘nfo se preocupa ‘Géneia no € questionado (pelo menos na cultura ocident a de explicar o caréter normativo da filosofia da ciénci jentista age, mas em como ele deverin agi ‘Um dos representantes mais importantes da abordagem cognitiva em filosofia da ciéncia, Paul Thagara (1992), elaborou um programa de computa dor (ECHO) que avalia t2 sas em fungo da chamada coerénei explanatéria. A busca do culpado por um crime, por exemplo, pode ser consi- Gerada um exercicio de coeréncia explanatéria: a hipétese de que determinada ‘pessoa cometet: um crime tem de ser coerente com uma série de evidénciase de ‘ulzas hipéteses (Thagard, 1992). Algo semeliuante ocorre na avaliagao clas teorias cientificas: a teoria da combustio suplantou a teoria do flogisto por ter maior cocréncia explanatéria, “Aidéia de coeréncia explanatéria, por sua vez, leva em conta a capacidade {que cada hipdtese da teoria tem de explicnr maior nuimero de evidéncias, de tunificar os fatos, de seu carter nfo ‘te, Hi, portanto, algo em comum ‘coms qualidades de uma boa teoria de Kuhn e com 0s objetivos propostos por Watkins e outros fi ‘A diferenga é que Thagard procara realizar uma tica da teoria, j que, para ele, a rejeigao em ciéncia é envolvendo a coeréncia explanatsria de uma teoria formada por uma série de hipdteses: algumas clessas hipoteses podem entrar em conflito com algumas evidéncias, mas se explicarem outras evidéncias nio ‘gatoriamente abandonadas (ou desativadas no programa de compu- ). O que vai interessar é a coeréncia expl da teoria, que 56 pode ser obtida através de modelos computacionais. (Mais sobre a abordagem Cognitiva em Abrantes, 1993; Giere, 1988, 1992; Thagard, 1988, 1992.) 7. Concluséo CCoexistem hoje linhas filosoficas diferentes acerca da natureza do método "cientifico, principalmente em relagio aos critérios para a avaliagio das teorias { SienifiensEnquanto 0 bayesianismo (Howson &e Urbach, 1989) c 08 defensozes doricionalismo critico (Andersson, 1984; Bartley, 1984; Miller, 194; Racnitaky, \ {597k Watkins, 1984) prdcuram eitros obetivose racionais para avaliagio (0 MEETODO WAS CIENCIAS NATURAIS E SOCIAIS 6 ds teorias cientifcas, 08 relativistas (Brown, 1985; Knort-Cetina, 1981; Picke-! ring, 1984), acham que easas escolhas sio determinadas unicamente por erité- rigoroso para resolver problemas como o da. ea lista ainda poderia continuar por mais algumas linhas. Apesar de todas as divergéncias, porém, alguns principios metodolégicos de caréter geral sio aceitos pela maioria d rneos (excetuando-se relativistas extremadi fica, Em linhas gerais, é bastante d ¢ uma atividade critica ~ embora a cri losofos de ciéncia contempora- E jsso vale inclusive para a ciéncia normal ce Kuhn: neste caso, emibora 0 paracligma nio esteja sendo contestado, uma hipétese somente sera aceita se resistir a testes severos: somente desse modo, o cientista pode exercer sua atividade de resolver “enigmas” (puzzles) e de “articular” 0 paradigma, de- acimitir a possibilidade de erro, procurando: acerca dos fatos - embora o que seja consice a0 longo da hist6ria. Procurar evidéncias significa nao apenas criticar uma teoria com auxilio de um teste, mas também criticar o préprio teste, procuranclo testes cada vez mais severos~ndo faz sentido, por exemplo, abdicar de um teste duplo-cego para um meclicamento em fungao de outro teste menos critico, que que nfo procure minimizar a tendenciosidade lo pesquisador. Nesta p xem o teste nem a teoria podem dar a tltima palavra ~ nao hé bases sli ‘busea do conhecimento. Isto nio qu ‘no entanto, que ndo pos descobris e superar contradigées entre a teoriae o experimento ou entre duas teorias afinal, problemas e anomalias podem ser tolerados provisoriamente, mas no devem ser ignorados (mesmo para um relativista moderaco, como Kuhn,oactimulo de anomalias pode vira provocar a substituiglo de uma teoria por ontra) Embora haja discordncia sobre critérios de avaliacdo de teorias, mesmo Kuhn admite que "qualidades” como o poder preditivo, a exaticao (que pode ser englobada pelo poder preditivo), a consisténcia, a capacidade de resolver problemas, etc. s4o importantes para a avaliagio de teorias e so aceitas ~ em versdes modificadas ou no ~ por praticamente todas as linhas filos6ficas. ot [ALDA JUDITH ALVES MAZZI te FERNANDO CEWANDSZNAIDER {preciso lembrar, também, que a decisio de adotar uma postura critica, de procurn a verdade (mesmo sem nunca tera certeza de que ela foi encontrada), de valorizar a objetividade, € uma decisfo livre. No entant podemos mostrar que determinadas escolhas geram certas conseqiéncias que odergo ser consideradas indesejaveis pelo incividuo ou pela comunidade. "As conseqiéncias de nose invests no rigot da critica podem ser melhor -visualizadas se analisarmos um caso extremo. Suponhamos, por exemplo, que be decida “afrouxar” os padrdes de critica a ponto de abandonar o uso de inrgumentos ea possibilidade de corrigi nossos erros com a experiencia, abdi- Cando assim de toda a discusio ertica. Que conseqiiéncias este tipo de atitude poderia ter? Se discussbes crticas néo tém valor entio no hé mas diferenga entze uma opinifo recional ~ fruto de ponderagbes,critcas e discussdes que levam em conta outros pontos de vista ~e um mero pr ttiizados para julgar pessoas através do grupo a que pertencer Giscriminagoes. No a mais diferenca entre conhecimento geri ftuténtices¢ ideologia ~no sentido de falsa consciéncis, ito é, no sentido de umn conjanto dé erengasfalses acerca das selagSes socias, que servem apenas para dlefender os interesses de certos grupos. Nao ha mais diferenca, enfim, entre Giéncia e charlatanismo - qualquer pocéo milagrosa, por mais absurda que sea, festaria em pé de igualdacie com o mais testado dos medicamentos. Finalmente, como diz Poppet, se admitirmos nao ser poss(vel chegar um consenso através de argumentos, s6 resta 0 convencimento pela autoridade. Portanto, a falta de discussio critica sera substitulda por decisées autoritarins, solugdes avbitrdrias e dogméticas ~ e até violentas ~, para se decidir uma dispute "A partir desse caso extremo, pode-seinferir que quanto rnossos padres de ertica, mais iremos contribuir para nos situacib extrema, Repetindo: a decsio final seré no entanto, pode ser esclarecida pelo pensamen Sseqiléncias possiveis de determinada decisio, frouxarmos jimarmos desta ‘umato de valor, que, .vés da andlise das con- CAPITULO 3 A Pesquisa Cientifica [Neste capitulo sero discuticios mais extensamente alguns conceitos rele- vantes para a prética da pesquisa cientifica. O objetive néo 6, no entanto, fornecer uma série de regeas prontas, e simestimular uma reflexdo critica acerca dla natureza dos procedimentos utilizacios na pesquisa cientfica, 1. Problemas A percepgio de um problema deflagra oraciocinio e a pesquisa, levando- nos a formulae hipSteses¢ realizar observacbes. pes Em elag80 a0 conhesimento cientifico, os problemas podem surgir do confi toentre os resultados de observagdes ou experimentos a previsdies de teotias; Einstein percebeu, por exempl ‘mecinica de Newton e 2 eletrodindmica d espécies de aves muito parecidas, no arq confianca de Darwin na teoria fixista, que di ‘Uma vez que a maioria dos problemas estucacios pelos cien partir de um conjunto de teorias cientificas que funciona como um conhecimen- to de base, a formulagio e a resolugso de problemas cientificos s6 podem ser feitas por quiem tem um bom conhecimento das teorias cientificas de sua érea. Por isso, ¢ importante familiarizar-se com as pesquisas mais recentes de deter- minada érea do conhecimento através de pesquisa bibliografica HE sempre problemas novos em qualquer campo da ciéncia. Mesmo fené- _menos bastante estudados ~ como o funcionamento da membrana da célula, 0 mecanismo da evolugéo, a origem da vida e a evolugio do homem ow a 66 [AUDA JUDITH ALVES MAZZOTTL & FERNANDO GEWANDSZNAIDER estrutura das particulas que formam o nicleo do étomo ~ possuem ainda muitos pontosignorades, ik gatos ensoy,o que se busca € wma nova teria capaz de fornecer uma nova visto dos fenéments, como 60 caso da tentative de uniicago, em uma ‘olen tela da quatro forces fundamentals da natureza forga eletromagnét- ten gravidade eforgs muclaresfrte 0c) Tem certs Ares nosso conhecimento ainda é bastante pobre, e nena dias corns aunts force uma explicag satinfatéia, Bo caso das bases neuto- fisioldgicas da meméria ou do papel da bereditariedade e do ambiente na inteligenca. ‘im bom cientista nfo se limita aresolver problemas, mas também formula ( perguntas originais e descobre problemas onde outros viam apenas fatos ba~ hnais, como ocorteu. com a descoberta da penicilina. Antes de Fleming, 05 ‘pesquisadores simplesmente jogavam fora meios ce cultura de bactérias, quan Go estas tinham sido invadidas por mofo, fato que acontece com certa freqiién- Ga em leboratdrio. Fleming, entretanto, observou que em volta do mofo havia tuma regio onde nfo cresciam bactérias. Ele supds que alguma substincia estava sendo produzida pelo mofo e que esta substincia poderia inibir 0 ‘crescimento de bactérias. Posteriormente foi iniciada uma série de pesquisas que culminaram com o aparecimento do primeiro antibistico, a penicilina, extraida do fungo do género Peni ‘A descoberta de Fleming nfo fol totalmente casual, nem sua observacso passiva, Ele vinha pesquisando substincias antibacterianas ha algum tempo, fendo dlescoberto inclusive a lisozima ~ uma enzima presente nas lagrimas — com atividade contra algumas bactérias. Entretanto, esta substncia era contra a maioria das bactérias causadoras de doengas. Fleming, portanto, pprocurava algo para matar bactérias (Beveridge, 1981). Com efeito, os ventos s6 ajudam aos navegadores que tém um objetivo definido, ‘Caso semelhante ocorreu tamlxém com Pasteut, ao perceber que as bactérias presentes em uma gota de um liquido deixaram de se mover quando se aproxi- mavam de suas bordas. Supés, entéo, que isto acontecia por causa da maior quantidade de oxigénio do arnas bordas da gota, e que essas bactérias no eram. capazes de viver em presenca de oxigénio: uma hipétese ousada para a época, {quando todos acreditavam ser impossivel viver sem oxigénio (Beverilge, 1957). ‘Alguns problemas tm uma importancia pratica clara, como a descoberta de novos tratamentos do cancer ou 0 uso da engenharia genética para produzir rnovas variedades de culturas agricolas. Mas mesmo as solucoes de problemas urgidos dentro da pesquisa bésica e que nao tém, de imediato, uma aplicagao do ponto de Sbvia podem, no futuro, revelar-se extremamente import 1. vista prético: as equagSes do Maxwell, que resolviam um problema teérico de uunificagio da eletricidade e do magnetismo, permitiram a construgéo de apare- Thos de rédio, por exentplo, (0 METODO NAS CIENCIAS NATURAIS E SOCIAIS o Maitas vezes, 0 problema consiste em testar relagies entre fendmenos: ha uma relagio entre a hereditariedade e a obesidade? Ha uma relacio temperatura ea dilatagio dos metais? Neste caso é importante definir com 0 significado dos termos, de modo que possamos formular hipéteses tes 2. Respostas aos problemas: as explicagées cientificas Emcinciaprocuamnos extabelcer generaizabes quesirvain como promise de agumentos gic, a partir dos uss possamos thienr a ocorrecia de determinacosfencmenos. So argumentos deste tipo que Constitven as expicagies cetfcas ‘Ao responder que a caus de deterinada doengs fol uma infect, por exemplo,orélic lag, implictrnente, umn argumentodedativo, que pode fide forma simp maiz do seglnte modo lerdbis lnvadem nosso corpo, provocam doen nvediram este onganisma, ‘As duas primeiras sentengas que explicam 0 fendmeno (a doenga) so (do latim, “aquilo que explica”). A conclusio ‘aquilo que tem de ser explicado”) Aprimeira sentenca ¢ um enunciado geral ou wma generalizagio. Asegun- dg relata um fato que antecedieu e provecou 0 fato a ser explicado e que & chamadlo de causa, circunstancia condigdo inicial. Em ciéncia, usamos sum tipo de generalizacio conhecido como lei geral e como, as vezes, precisamos de mais de uma lei geral, aliads a um conjunto de condigdes iniciais para explicar o fendmeno, poclemos esquematizar 0 argumento da seguinte maneira {ats gerls,condiz6esinicias} KExpl ou ainda ote ou se segue logicamente das condi- a acarreta. Este tipo de explicagio chama-se dedutivo-nomol6gica (do grego romos, lei) porque o fendmeno a ser explicaco ¢ deduzico das leis gerais e das condi ‘$0es iniciais. Assim, quando dizemos que um fio metélico se dilatou porque foi aquecido, amitimos a generalizacdo de que os metais se dilatam quando aque- 68 ALDA JUDITH ALVES:MAZZOTTI de FERNANDO GEWANDSZNAJOER cides. Com 0 auxilio desta premissa adicional, a explicagéo adquire a forma de ‘um argumento logicamente vélido. ‘Quando perguntamos “por qué?”, queremos saber, &s vezes, a causa do fendmeno. Foi o que ocozreu no caso do médico que procurou descobrit a causa da doenga. Qutras vezes, quando perguntamos pelo porqué dos fenémenos, queremos conhecer as leis gerais e no as condig6es iniciais. Provavelmente zmiuitas pessoas jé perceberam que o arco-iris surge em dias em que ha Sol & chuva simultaneamente (condig6es iniciais). Aexplicagdo, neste caso, sera dada pelas leis da refragiio e dispersao da luz. ‘© fenémeno a ser explicado nao precisa ser necessariamente um fato pparticular que ocorre em certo local e numa certa Spoca. Ela pode ser também. juma generalizacio ou regularidade, comoa de que o gelo flutua na agua, Neste ‘exemplo, a explicacio seré dada pela lei de Arquimedes ("todo corpo mergu- Thado em um liquido sofre urn impulso de baixo para cima igual ao peso do volume de liquico deslocado"), assaciada a lei de equilibrio dos corpos e densidade do gelo e da Sgua. ‘Como veremos adiante, mesmo as leis gerais podem ser ex} leis ou por um sistema de leis ~ as teorias ~, que tentam por exemplo, pode ser deduzida a partir d da gravitagio de Newton, e as leis da ética geométrica a partir da teoria ondulat6ria da luz. 2.1 Os fendmenos aleatérios e as explicagdes estatisticas resultado do langamento de uma moeda, 0s movimentos das moléculas, de um gés, os fen6menos estucados pela mecénica quantica, a desintegragio, radioativa de certos tomas, a combinagdo genética resultante ce varias fecun- dagBes possiveis eas mutagdes sio alguns exemplos de fendmenos que parecem Para Bunge, fend menos deste tipo néo podem ser explicados apenas por leis causais. Entretanto, isto nao quer dizer que os fendmenos aleatérios ndo obedecam a lei alguma, isto é, que eles sejam conipletamente imprevisiveis. Para estes casos dispomos de leis probabilistices. Assim, “no jogscmos na motda nfo blemos cata outias vere elafantes, oma, sondos ou ‘outros cbjetos em ura fora abitedriae sem leis, ser qualquer conexao com as condigses lniscedentes" (Bunge, 1979, p. 13). No caso do langamento de moedas, porexemplo, embora nao possamos prever o resultado de um determinado lance, podemos dizer que apés um. grande niimero de lances freqiiéncia de caras sera aproximadamente igual & (© METODO NAS CIENCIAS NATURAIS E SOCIAIS 6 reqiiéncia ce coroas, com uma margem de erro que climinuira & mectida que o niimero de lances aumente. estatfsticas posstiem, no entanto, uma limitagio importante: elas spenas para todo um conjunto formado por um grande singulares aleat6rios. A lei da desintegragao radio~ 1a que cada elemento radioativo tem uma meia-vide (0 ativa, por exemplo, af ‘que é sempre a mesma para cada isétopo radioativo do elemento. ‘embora possamos prever que apos 1.600 anos a metacle dos atomas de rédio de transformado em outro dtomo, o radénio, nfo podemos prever quais os atomos que se dlesintegrardo neste perfodo. Se pudéssemos apontar para um Stomo e perguntar ao fisico se este dtomo vai ou nio se dlesintegrar ao final de uma meia-vida, ele nao poderia nos responder. ‘© mesma tipo de explanacio ¢ utilizado para explicar 0 comportamento de um gis ea passagem de calor de um corpo mais quente para um corpo mais frio. Para a fisica atual, quando um fenémeno macroseépico resultar de um {grande ntimera de eventos microscépicos de caréter indeterminad, ele poders ser explicaco por leis estatisticas. ‘Em biologia, essas explicagdes.sfo também muito importantes, principalmen- te no estudo da hereditariedace e da evoluséo. Sao as explicagdes estatisticas que ‘nos permitem prever que, em um grande niimero de nascimentos, aproximada- mente a metace clos filhos ser do sexo masculino e a outra metade do sexo feminino. Em todos esses casos, poslemos prever 0 comportament tiddo de individuos, mas néo de cada individuo em uma multidao. (Mais sobre cexplicagées cientificas em Achinstein, 1983; Braithwhaite, 1960; Bunge, 1979, 1981; David-Hillel, 1990; Kitcher & Salmon, 1989; Salmon, 1984; Watkins, 1984.) 3. A formacao de ses - um espago para a criatividade do cientista ‘Ao tentar descobrir hip6teses ~ quer sejam leis gerais, quer sejam condli- es iniciais — 0 cientista pode dar vazat imaginacio e aproximando a atividade cientifica de uma obra de arte A formulagio de hipsteses pode parecer em certos casos pouco criative, como na inferéncia por analogis, quando percebemos algumas semelhangas entre coisas ou processos diferentes, Assim, quando se descobre que um tipo de cancer é provocado por um virus em I, pode-se sugerit a hipétese de due alguns tipos de céncer no homem também sejam provocados por virus. “Mas, mesmo nesse caso, a cratividade do cientista se faz necesséria, pois ‘hg um numero imenso de analogias possiveis,e nfo podemos saber ce antemio se uma analogia resist’ aos testes. A analogia, assim como outros processos de criagio de hipéteses, nfo constitul um argumento logic. 70 |ALDA JUDITH ALVES: MAZZOTTI de FERNANDO GEWANDSZNAJDER 3.1 As qualidades de uma boa hipétese ‘Uma hipétese nao deve apenas ser passivel de teste. As hip6teses devem ‘também ser compativeis com pelo menos uma parte clo conhecimento cientifi- co, Entre outros motivos, porque, como qualquer experiéncia cientifica presst- ‘poe uma série de conhecimentosp: sma hipétese que no tenha qualquer relagio com estes conhecimentos dificilmente podera ser testada. 'As hipoteses cientificas geralmente procuram estabelecer relagBes entre fenomenos: "ha uma tendéncia genética para a obesidade”, “o aumento de temperatura provoca a dilatacio dos metais", ete. Os conceitos emprogados para definir os fendmenos precisam, no entanto, receber uma definigao mais, precisa, ustalmente chamada de definicao operacional. Esta definigéo facilita a elaboracio de experimentos que procuram alterar determinadas situagbes para observar 08 resultados, Assim, a obesidade & um conceito vago que pode tornar-se operacional se estabelecermos que um obeso é aquele que esta acima de 20% de sen peso normal. Podemos agora comparar pessoas da mesma familia quanto a obesidade, de modo a testar a hip6tese de influéncia genética. Do mesmo modo, estabelecemos um padrao para medirmos a temperatura e 0 comprimento de tim metal cle modo a descobrir uma relagio entre a variagao de ‘temperatura ea variagio do comprimento. Em outras palavras, transformamos ‘08 conceitos inicialmente vagos em algo que pode ser modificado, isto é, em ‘uma vatisvel, que pode ser medida ou, pelo menos, classificad ou ordenada. ‘A hipétese pode ser compreendida agora como uma relagio hipotética entre duas variéveis: "se aquecermos uum fio metélico, ele aumentaré de com- primento”, “filhos de pais obesos tém tendéncia a serem obesos". Em termos ‘gerais, podemos dizer que as hi io relagbes lo tipo “se A, entao B”, isto €, se ocorrerem certos fendmenos do tipo A, entao Gcorrerdo fendmenos clo tipo B. A hipétese pode entio ser testada: se o fendmeno B nfo ocorrer (¢ se 0 experimento tiver sido adequadamente realizado, isto é, se nfo forem levanta- das nenhuma objesio concreta as condigSes experimentais), entéo poclemos dizer que a hipétese foi refutada (até prova em contrério). 4. Leis e teorias © Uma lei pade ser considerada como uma classe especial de hipéteses que tém a forma de enunciados gerais, do tipo “em todos os casos em que se realizam condigdes cla espécie F, realizamse também condicdes da espécie G’” ‘Assim, sempre que aumentarmos a presséo de um gas em temperatura constan- te (F), seu volume ciminuixa (G); sempre que um corpo cair em queda = desde que seja no vacuo e de alturas nao gnuito grandes ~ sua velocidade aumentard proporcionalmente ao tempo (G); quando as substincias reagem para formar outras (F), elas sempre o fazem nas mesmas proporgées em massa (© METODO NAS CIENCIAS NATURA E SOCiA nm (C). As vezes esta forma pode estar impl and afirmamos que toda ser amos afirmando que se algo é 0G). is das ciéncias naturais sto expressas matematicamente. Se win objeto se movimenta em linha rela com velocidade constante (8), por exemplo, sua posigio (6) ap6s ter decorrido um certo tempo (t) pode ser caleulada pela equagior s = 3g +o! (onde so 6 a posicio inicial do mével a partir de wm ponto de partida convencional). Esta lei afirma que o deslocamento do mével varia proporcionalmente ao tempo, isto é, que é funzo direta do tempo deconido. O tempo é chamacio variavel independiente e 6 espaco percorrico de variével deenwcent. Apis i do move e ua velo qu, ete ct, sfo constantes (no variam em fungio do tempo), sdo 0s parametros da equacio. Portanto, podemnos dizer tabi que wa lel expeesa una rag constants entre duas ou mais varisveis. ‘Ale anterior incica nfo apenas os movimentos que sto fisicamente possf- veis como também “proibe" outros tipas le movimentes. Assim, se um objeto se movimenta de acordo com esta le, ele nio pociera percorrer determinada distancia em menos tempo que o previst. ‘Asleis quantitaivas limitam muito o nimero de ocorréncias possiveis, ou seja, profbem mais do que as leis qualitativas. Justamente por isso, elas corzem scos maiores de refutacio e nos do mais informagies sobre o mundo. dda matéria e a mecénica estatistica. A partir das leis mais ger por ex de Gal dlivergéncias entre os resultados calculados por elas € os efetvamente ‘A partir da teoria da. gravitagto de Newton, poslemos caller nfo somente §nfuéncia clo Sol, mas também a dos cemais planetns no movimento ce deter- rinado planeta ém toro do Sol, explicando assim certos esvios nas leis de Kepler Podemos prever também que a lei de queda livre vale apenas para dlistancias pequenas em relagao ao raio da Tera, sma vez que gravicade varia fem fangéo da distancia do centro ia Tera, 0 que era ignorado por Galile. {As teotias podem ser nfo apenas mais gerais, mas também mais profun- dias visto que tentam penetrar (sempre hipoteticamente,é claro) em niveis mais dlistantes donivel da dbservagfo. por isso que, para Bunge 1581), a explicagao n [ALDA JUDIE ALVES MAZZOTH & FERNANDO GEWANDS2NAJDER de que o volume de um gés se reduz metade quando a pressio duplica por causa da lei de Boyle (0 volume de um gas ¢ inversamente proporcional 4 sua ppressfo em temperatuza constante), embora correta, nao ¢ satisfat6ria. Isso porque a ciéneia busea explicagées, que procuram desvendar os mecanismos internos dos fendmenos. A partir da teoria cinética, que afirma, entre outras coisas, que as gases sio formaclos por part{culas muito pequenas que se mover. ‘a0 acaso, podemos deduzir que, quando estas particulas se chocam contra as paredes do recipiente, produzem uma pressio que aumentaré se 0 espaco disponivel diminuir, Iso ocorze porque, em um volume menor, as moléculas colidem com mais freq{iéneia contra as paredes do recipiente, produzindo uma [pressio maior. Jé no aquecermos o gs, a energia cinética das moléculas aumen- fa, aumentando com isso a freqtiéncia dos choques ¢ a pressio. do ordenado, suas para ax ‘mas ou postulados ~a partir das quais podemos deduizir outras leis e hipéteses. A primeira tentativa de axiomatizar uma teotia cient ‘quando elaborou seus cinco postulados a parti dos quais se pode deduzir os demais teoremas da geometria. Do mesmo modo, na mecanica de Newton utiliza-se velocidade, forga, etc. como conceitos primitives, ¢ as tr8s leis de Newton como axiomas. Para as ciéncias factuais, entretanto, o processo de axiomatizagio no é muito fécil e geralmente s6 pode ser conseguido muito tempo apés a formula- fo intuitiva da teoria. Ainca hoje séo poucas as teorias que podem ser consi- deradas axiomatizadas. Além disso, novos dados surgidos a partic da experién- cia podem levar ao orescimento da teoria ou mesmo & sua reformulagio ou transformagio em outa teoria. Levando isso em conta, Bunge (1981) afirma que as teorias devem estar abertas & experiéncia e, por isso, s6 uma parte ow um niicleo em cada teoria € axiomatizavel. ‘A axiomatizagio, mesmo parcial, além de facilitar o exame critico dos pressupostos, ajuda-nos a descobrir possiveis contradig6es centro da teoria e incoeréncias entre teorias diferentes Se uma teoria é interna ou externamente incoerente, algo est errado ~ e a partir dai seré iniciado um novo ciclo de pesquisa, visando eliminar o erro ea incoeréncia, 4.1 A complexidade do mundo real e a necessidade de um modelo Se tentéssemos analisar todas as propriedades e todos os acontecimentos que interagem com um objeto, ficariamos perdidos no meio de tanta variedade. PPor isso, na tentativa de apreendermos o real, selecionamos certes aspectos da realidade e construimog, um modelo do objeto que pretendemos estudar. O (0 METODO NAS CIENCIAS NATURAIS E SOCLAIS 3 cientstatrabalha com uum modelo de gés perteito ~ embora, na realidade, renhum gas sea perfeto com modelos de stomos, de membranes da cla tte Tabalha, portanto, com imagens parca, simbélicas eabstratas de ura parcela da realidade. Mas, qual éautlldade destes modelos? Segundo Bunge, rodlelos mais realists” (1974, . 1615) Quando Gatitew analisou a queda dos corpos, substitu o fendmeno real por uma situagio idealizada e simplificada. Em primeiro lugar, levou em conta risticas que pudessem ser medidas, como distancia percort- xt pesoe lamanho, etc. Em seguida, considerou, hipotetica- hipotética porque a experi nal. No caso da queda livre, do corpo e sua massa: o bjeto foi substituido por uma particula caindo no véeuo (Lucie, 1979). Temos aqui um modelo de um objetoe de wma situacao, ou ‘seja,um objeto-modelo, Galileu supds entao que, nestas condigées,a velocidade do corpo em queda livre cresceria proporcionalmente ao tempo. A seguir, testou ‘sua hipétese crianco uma situacéo que se aproximasse 0 mais possivel das is, Tendo resistido aos testes, a hipétese foi consiclerada uma lat iio basta elaborar um modelo: é preciso enuinciar leis que descrevam seu comportamento. O conjunto formado pela reunite do modelo com as leis e as hipéteses constitui a teoria cientific. ‘Algumas vezes 0 modelo ¢ formado por diagramas, figures, objetos mate- riais elaborados por analogia com outros objetos, etc. Para explicar a agio de uma enzima sobre uma reacio quimica utilizamos 0 modelo da chave ¢ da echadura, onde a enzima encaixa nos reagentes como uma chave na fechadura, aumentando a velocidade da reagao. Na teoria cinstica, as particulas cos gases, so representadas por pequenas esferas. Devido as idealizacdes e simplificacbesfeitas na construgo do modelo, os resultados obtidos no teste apresentarso certos cesvios em relagio ao que foi previsto, mas, embora 0 modelo represente uma imagem simplificada clos fatos, ele pode ser complicado de forma a aproximé-lo cada vez mais claquilo que realmente ocorre na natureza. m ALDA JUDITH ALVES MAZZOTT & FERNANDO GEWANDSZNAJDER 5 podemos estudar as alteragbes que a velocidade sofre em fungao ia doar, desprezada na construcio do modelo inicial, de forma a sofisticar um pouco mais este modelo. Amesma coisa pode ser feita em relagio teoriacinética:substituimos particulas pontuais por esferas dotadas de certo volume, com uma forca de atracio fraca entre elas. A partir deste novo modelo, podemes compreender por que o comportamento {dos gases reas se afasta muito, em cerlas condigdes, do modelo anterior. ‘modelo, podemas cortigir uma lei e enunciar g¢, 1974, 1979, 1981; Hesse, 1963; Kitcher & Salmon, 1979; ‘1984; Stegmiiller, 1979, 1983; Supe, 197) 5, Testando hipétesos A teoria do flogisto foi amplament 60 século XVII Segundo esta teorla, quanclo se queimava agua coisa, ela perdia um fluido,o flogistico, que era 0 “elemento produtor do fogo". A fungio do ar na combustéo era absorver ‘este elemento ¢, por iss0, 0 fogo em uum recipiente apagava-se apés algum tempo, uma vez que 0 ar terminava saturado de flogistic. ‘Durante mais ce cem ans a teoria do flogistico foi utilizada com sucesso para explicar diversos fendmenos. Em 1775, porém, o quimico Antoine Lavoi- sier (1743-1794) aqueceu, até caleinar, um peso conhecido de merctirio no interior de um recipiente fechado. Embora 0 peso total do meretirio e do recipiente nio se tivesse alterado, 0 mercirio calcinado tinha aumentado de peso, contrariando, assim, a expectativa de que seu peso diminuisse, em virtucle da perda de flogfstico. ‘Lavoisier observou também que o aumento de peso era praticamente igual 40 peso do ar que entrava no recipiente quancio este era aberto. Supondo que este aumento poderia ser explicado pela combinacio do metal com 0 ar ~ mais exatamente, como depois descobriu, cam 0 oxigénio, formandovse dxido de ‘merctirio -, Lavoisier aqueceu 0 éxido em um vidro hermeticamente fechado, obtendo novamente 0 mesmo peso de mereiirio puro. Ele observou ainda a formacio de um gés que, adicionado ao residuo gasoso da experiéncia anterior, resultou novamente numa mistura idéntica & do ar comum. Lavoisier tinha conseguido decompor o éxido de merciirio, libertando o oxigénio. Este proces- so pode ser representado quimicamente inte forma: Gxido —> metal + ‘oxiggnio. No primeiro experimento, ocorreu 0 processo inverso: metal + oxigé- nio > 6xido. ~ “Lavoisier realizou ainda diversos experimentos com outros metais, de- _monstrando que a masse total do sistema néo se altera em uma reacko quimica (0 MBrODO NAS CIENCIAS NATURAIS & SOCIAIS 78 (lei da conservagéo da massa). Nascia assim a teoria atual da combustio pelo ‘oxigénio e se estabeleciam os alicerces da quimica moderna, ‘Vemos entao que Lavoisier provocou a combustao, em vez de esperar que la ocorresse espontaneamente. Mais importante ainda, ele controlou determi- nados fatores ou varidveis: inha relevantes, medindo 0 peso co metal e co peso do ar antes e depois do experimento, fechando o recipiente de modo a Jmpediir que recebesse matéria de fora etc. ‘Aformacio de grupos de controle é bastante utilizada para testar a effcdcia de medicamentos, como vimos no Capitulo 1. Neste caso, utlizamos técnicas aleatérias, escolhendo ao acaso as pessoas que formarao cada grupo (sorteando seus nomes, por exemplo). Assim, as pessoas mais resistentes tém a mesma chance de serem colocadas no grupo de controle ou no experimental e, se 08 grupos forem suficientemente grancles, haveré uma distrbuigéo mais ou menos homogénea em relagdo a estas ¢ outras caracteristicas, ow seja, 08 dois grupos sero aproximadamente iguais. Esta é uma das varias técnicas estatisticas que ‘nos ajuddam a controlar as variaveis em um experimento. ‘Assim, para testar a hipétese de que um medicamento éa causa da cura de ‘uma doenga, selecionamos um grupo representativo de doentes e o dividimos ‘em dois subgrupos, 0 experimental, que receberé o agente causal e o grupo de controle, que ficara sem o medicamento, mas seré, em relagdo a0s outros fatores j@ntico ao grupo experimental. O agente causal suspeito (0 reste caso}, pode ser chamado de variével independente e 0 ‘feito (a cura, neste caso), de varidvel depencente. Mas hi ainda um outro procedimento muito importante que tem de ser feito nestes casos. Como vimos no Capitulo 1, énecessirio fornecer a0 grupo de controle um placebo, isto é, wm comprimico ou liquido inativo, desprovido do ine sabor do medicamento real, de forma mando 011 néo o medicamento, isto é, se ele pertence 20 grupo de controle ou ao experimental. Desta forma, podemos compensar efeitos psicol6gices, uma vez que alguns pacientes podem se sentir realmente melhor se acharem que esto tomando algum medicamento. ‘Vimos também que atualmente se realize um controle ainda mais rigoras0, combecido como teste duplo-cego. Nele, até mesmo os cientistas que participam do experimento, ignoram quais os individuios que realmente tomam o meclica- mento, O cédigo que identifica 0 grupo a que cada individuo pertence fica de posse de outro cientista, que néo participa diretamente do experiment. Isto porque os participantes da pesquisa podem, inconscientemente, avaliar de ‘modo mais favoravel um paciente, se souberem que ele recebeu o medlicamento real, e vice-versa, sobretuco em casos-limite, quando é dificil dizer se houve ou 1ndo melhora. Por isso, a identifiagdo de cada individuo 36 é feita apés esta avaliagio. 76 |ALDA JUDITH ALVES MAZOTI& FERNANDO GEWANDSZNAJDER ‘A-experiéncia controlada, com seus grupos cle controle e testes duplo-ce- gos, revela como o experimento cientilico procura diminair a influéncia dos {stores nfo relevantes,incluindo-se ai os interesses pessoas (c io) do cientista nos resultados do teste. Portanto, a obje! ‘deeorre da falta de interesse, desejos ox ideologia do cientistae sim das “regras Go jogo”, isto &, do método cientlico. E claro que nenhuin teste & perfeito: 0 objetividacte & um ideal a ser perseguido e nunca completamente alcancadto. ‘As vozes 0 efeito observado ¢ limitado: no exemplo acima, pace ocorter que nem todos os individwos do grupo experimental melhorem da doenga ou, ppelo menos, que nio melhorem com a mesma rapidez. Isto pode acontecer porque determinado efeito podenfo estar associado a um tinico fator causal: nO Enso, os mecanismos naturais de defesa contra determinada doenga também influenciam a cura, ea selecio cos grupos pode nfo ger fo mesmo rnimero de individuos com o mesmo nivel de resisténc ros dois grupos. Ha necessidade, portanto, de analisar os dados com aundlio de testes €statisticos, como veremos adiante ‘No caso de testes de medicamentos, este é aplicado inicialmente em ani- ais, que recebem doses muito maiores do que as que serdo usadas em seres hhumanos. O objetivo nesta primeira fase é descobrir se hi efeitos téxicos & também como a droga atua no organismo. Apés esta etapa, a droga é aplicada tem um pequeno niimero de voluntérios sob constante observagéo. Somente pds este estigio 6 que a droga seré aplicada em um niimero progressivamente maior de voluntérios com a doenga em questo. Freqlientemente, o novo medi- ccamento é comparado com o antigo, de modo a termos uma idéia da eficécia relativa dos dois medicamentos. CO tipo de teste controlado visto acima, em que os individuos sfo aleatoria- mente divididos em grupo de controle e grupo experimental pocie, em muitos feasos, Ser caro e constimic muito tempo. Além disso, nem sempre ele pode ser Jo podemos submeter um grupo de pessoas a uma dieta rica em coleste- ra Gescobrir se niveis elevados de colesterol aumentam a chance de 3s cardiacas ‘Neste caso, podemos realizar outro tipo de teste selecionamos individuos {que jf estio sob efeito da causa e comparamos com um grupo de controle. Podemos comparar, por exemplo, um grupo de fumantes com outro de nko fumantes ou um grupo que ter naturalmente uma dieta rica em colesterol com outro que tem uma dieta pobre em colesterol, Ao longo do tempo, registramos a freqiiéncia relativa de doencas nos dois grupos. Neste caso, ¢ preciso estar ‘para possiveis diferengas entze os membros dos dois grupos: pode ser necessério excluir alguns membros de determinedo grupo de modo a conseguir amosttas semelhantes em relagio a determinado fator ~ como a idade, por exemplo. ‘ (© METODO NAS CIENCIAS NATURA E SOCIAIS 7 Finalmente, podemos formar um grupo que jé tenha o efeito em questo (enfisema ou doencas cardiovasculares, por exemple) e comparé-lo com outro que nio tenha o efeito, procurando descobrir em que outras caracteriticas relevantes esses dois grupos diferem (no grupo com enfiseme, por exemplo, 2 raioria 6 fumante). Este tipo dees sn ndo fornece urna evidéncia forte a favor de que é dificil controlar os diferentes fatores que podem estar iniluindo no efeito em questéo. Aqui também podemos exclair alguns individuos de modo a tomar os dois grupos mais homogéneos em relagdo a fatores que supomos ser relevantes, como a idade, a vida sedentéia, ete Tuco oqueoestucionos dra, po twos comdeterminadla caracteristica(enfi ft fumo) ocorre com mais freqiien- cia do que no gra eto. (Mais sobre experiéncias em Bunge, 1981; Davi Giere, 1979; Hacki 5.1 Os testes estatisticos G fumo causa incr? A vitamina protege contr gripe? Se saiem 12 cares consecutivas em 12 langamentos de moedas pocemos coeluir que cla est hoje una fotromenta importants em cénciasnaturis rg aplicagioTnmbém ean egos, Pesquisas de opinifo se de eros de media, ele. Nan expences contoladas, pot pregenos técnica estalsteas pata formar moses entries ¢ garantie a hoteogeneldate do grupo de contolee do grapo experiment vitnos anteriormente, Agu sea cist brevemente o papel da estatsten na tvaliagio de hipotesescctcns, Suponfaanos que nut este de medicament, umn percentagem maior de queomedi diferenca meramente cas exemplo, ao fato de que niimero maior de curas espt dos grupos, provocada pela presenca de in mais resistentes A doence neste grupo? id duas hipoteses opostas em jogo. Uma delas, chamada hipétese zero ou hipétese nula, ai to, o medlicame sobre a doenga. A outra, chamada hipotese experimé iema que esta diferenca deve-se & acf0 do medicamento. O que o cientista quer cescobrir é se podemos consicerar refntada a hipétese nula, assim que a diferenca entre os grupos deve ser considerad: probabilidade de est i ter ocorrido devido a erros de amostragem,

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