Professional Documents
Culture Documents
A Crnica de D. Joo I foi escrita por Ferno Lopes, por volta de 1450, e constitui, aps
as crnicas de D. Pedro e de D. Fernando, a terceira e mais perfeita das trs grandes crnicas
compostas pelo primeiro cronista rgio.
Esta crnica, impressa pela primeira vez em Lisboa, em 1644, foi deixada incompleta por Ferno
Lopes, sendo de sua autoria a primeira (o interregno entre a morte de D. Fernando e a eleio
de D. Joo I) e a segunda parte (o reinado de D. Joo I at 1411), no se sabendo se ter legado
manuscritos para a terceira parte, redigida pelo seu sucessor, Gomes Eanes de Zurara, conhecida
como Crnica da Tomada de Ceuta.
no prlogo da Crnica de D. Joo I que o cronista expe o seu objetivo e mtodo de historiar
inovador. O seu desejo "em esta obra escrever verdade sem outra mistura", para o que faz
concorrer toda a gama de documentos possvel, desde narrativas a documentos oficiais,
confrontando-os entre si para assegurar a veracidade dos registos existentes. Ao mesmo tempo,
esta crnica estabelece, de certa forma, o ponto de chegada das duas crnicas precedentes, na
medida em que estas preparam os acontecimentos que culminam com a sublevao popular e
consequentemente, com a entronizao de D. Joo I.
A primeira parte da crnica descreve a insurreio de Lisboa na narrao clere dos episdios
quase simultneos do assassinato do conde Andeiro, do alvoroo da multido que acorre a
defender o Mestre e da morte do bispo de Lisboa. Ao longo dos captulos, fundamenta-se a
legitimidade da eleio do Mestre, consumada nas cortes de Coimbra, na sequncia da
argumentao do doutor Joo das Regras, enquanto desfecho inevitvel imposto pela vontade
da populao. Nesta primeira parte, o talento do cronista na animao de retratos individuais,
como os de D. Leonor Teles ou D. Joo I, excede-se na composio de uma personagem coletiva,
o povo, verdadeiro protagonista que influi sobre o devir dos acontecimentos histricos.
Na segunda parte, o ritmo narrativo diminui, tratando-se agora de reconhecer o rei sado
das cortes, e de novo pela ao do povo que a glorificao do monarca transmitida, como,
por exemplo, no modo como o acolhe a cidade do Porto. Um outro momento de maior relevo
consagrado, nesta parte, narrativa da Batalha de Aljubarrota, embora a no ecoe o mesmo
tom de exaltao com que, na primeira parte, colocara em cena o movimento da massa popular.