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Ja no fareis docemente
Em rosas tornar abrolhos
Na ribeira florecente;
Nem poreis freio corrente,
E mais se for dos meus olhos.
No movereis a espessura,
Nem podereis ja trazer
Atraz vs a fonte pura;
Pois no pudestes mover
Desconcertos da ventura.
Ficareis offerecida
Fama, que sempre vela,
Frauta de mi to querida;
Porque mudando-se a vida,
Se mudo os gostos della.
Acha a tenra mocidade
Prazeres accommodados;
E logo a maior idade
Ja sente por pouquidade
Aquelles gostos passados.
Terra bem-aventurada,
Se por algum movimento
D'alma me fores tirada,
Minha penna seja dada
A perptuo esquecimento.
A pena deste destrro,
Qu'eu mais desejo esculpida
Em pedra, ou em duro ferro,
Essa nunca seja ouvida,
Em castigo de meu rro.
E se eu cantar quizer
Em Babylonia sujeito,
Hierusalem, sem te ver,
A voz, quando a mover,
Se me congele no peito;
A minha lingua se apegue
s fauces, pois te perdi,
S'em quanto viver assi
Houver tempo, em que te negue,
Ou que m'esquea de ti.
No he logo a saudade
Das terras onde nasceo
A carne, mas he do Ceo,
Daquella santa Cidade,
Donde est'alma descendeo.
E aquella humana figura,
Que c me pde alterar,
No he quem se ha de buscar;
He raio da formosura,
Que s se deve d'amar.
De confuses e d'espanto
Como hei de cantar o canto,
Que s se deve ao Senhor?
Do alicerce derribar-me;
Derribae-os, fiquem ss,
De fras fracos, imbelles;
Porque no podemos ns,
Nem com elles ir a vs,
Nem sem vs tirar-nos delles.
No basta minha fraqueza
Para me dar defenso,
Se vs, santo Capito,
Nesta minha Fortaleza
No puzerdes guarnio.