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Ume iva evall da Esso 28 subordinagéo semicolonial. partiipar significa libertar a cultura desses entraves, (infra-estrucuais)e das super-estruturas ideol6gico- culturais que cristalizaram um passado cultural imediato alheio a ralidade global (ogo, provinciano) insensivel ao dominio da natureza atingido pelo homem. maiakévsk: sem forma revoluciondria nio hd arte revoluciondtia, [Unvensdo~ Revista de ate de Vanguarda, ano 2, 3 jun. 1963, pp. 5-6; Carlos Elias Kate, Misia Viva and H.. Koellreutter, Sao Paulo: MusaiAtravez, 2001, pp. 350°53.] Vivéneia do morro do Quieto (12 deo. 1966). De repente, algo que se encontra latente em nds como que se revela—eis o que realmente houve ‘comigo em relagao as experiéncias de Antonio Dias, principalmente em relagio a uma de suas obras, que étalvez 0 ponto mais dramético, crucial, daluta entre o quadro (se bem que jéem outro sentido, pois na sua cexperincia nao se tratava mais do quado de cavalete, como veremos depois) como ge 0131ND OG OYNOW OG VINAAIA drama da “passagem”, que se veificou na experiéncia de Clarke na minha, foi de ordem mais estrutural, sendo que outros problemas vieram surgindo com o passar dos anos, durante a evolugao partida das primeitas, démarches no sentido dacriagio de uma arte ambiental. Na experiéncia de Antonio Dias todas as cevocagdes como que afloram a0 mesmo tempo: de ordem estrutural, de ordem ética, de ordem social. Nao se trata, ‘como notam varios eriticos (ameu ver superficiais), de problemas psicoldgicos de ordem individual; estes, quando afloram, estdo sempre ligados a ‘uma vontade superior de comove, lumina © beijo des repositério experimental ¢ aconcretizagio num outro cespago (que seria fatalmente ‘ambiental dessas experiéncias. Sua obra “Nota sobre a morte imprevista” (agosto 1965), realizada em 26 de agosto em meméria dos mortos de Hiroshima, é ‘como que a representagao, dessa luta, desse dilema, ¢ nesse ponto tinica na arte brasileira, ou no panorama criativo brasileiro, se assim 0 quisermos. Como jé disse, 0 afirmagao ética, que, por sua vez, procura sempre uma relagio de imediato no plano social. Esta obra, “Nota sobre a morte imprevista”, €0 retrato fel disto: uma vivéncia profanda no plano ético, que se liga a um acontecimento social rmarcante nos nossos tempos, ‘oda matanga de Hiroshima Paralelo a isso, ou melhor, simultaneamente, revela- a condenagio do quadro (como plano representative ou repositério experimental como expresso, como que a tentativa da criaglo de um antiquadro (que na verdade 0 4); hd, no fando, uma légica dentro da aparente explosio, de vivéncias, de contradigées, do drama enfim que, como uma aura, envolve essa obra tio estranha quanto 0 préptio cogumelo atémico. Um problema grupal (0 da aboligio ou desintegragio do quadro em estruturas ambientais) reposto aqui por Dias como uma questo individual da mais alta importancia. Ha como que uma transformagio literal, dir-se-ia narrativa, do losango plano em que se inscrevem, narrativamente, pouco, nao fora a intengio profunda, ou melhor, vivéncia, que a move; uma vivéncia complexa, que nfo se pode compreender pela andlise fra, esteticista, ou pela evocagio literdria de “vivéncias psicolégicas”(isto, pelo contrétio,taria para a experiéncia um lado superficial que nao €0 importante, nem essencial) ‘A mim, apesar de ter eu desde muito uma atragio muito especial por essa obra, me veio por vias bem tortuosas essa vivéncia, até chegar eu a conclusdo de que seriam cesta obra e2 experiéncia de Dias, em geral, fundament 0 préprio conceito de “Nova Objetividade” a que me propus com minha cerupgdes, nascem as pedras, de origem provével vuleanica, ce sobre as pedras, ¢ a0 redor, (0s barracos que compdem 2 favela), me veio de sibito a vivencia de génese da “Nota sobre a morte imprevista”, como se algo ficara anotado na minha mente desde muito para que, naquele momento, tivesse eu consciéneia (seria consciéncia?) daquilo. Talvez tivesse eu sofrendo uma ‘transformagio importante, tanto quanto a que se verificou no artista ao eriar aobra. O sol se punha, mas o dia estava ainda clarissimo (18 hs de verio no Rio), ea prépria topologia do morro que estava a meus és, que eu “caminhava” 20 subir, como que evocava pobses, teistes, fellizes, coracdes amantes do ness@ Brasil imagens, para uma estrutura intermedidria onde imagens de outra ordem aparecem (acentral, de uma pega cenvidracada, como que numa lamina gigantesca), até terminar na tereeira parte que se espraia sobre tum paralelogramo preto pelo espago ambiental, jé prevendo uma estrutura préxima ao “objeto”, totalmente independente do quadro. Isto tudo nada significaria, ou muito propria experiéncia, Como a exigéncia que geroua obra, também a minha vivéncia particular foi de origem ética, antes de ser estética (se bem que, aqui, uma e outra se confundam ao plasmar-se a experiéncia ~ poder-se-ia dizer que é estética a exigéncia de uma nova estruturaete.), Um dia, 40 subir ao Morro do Quieto, onde a paisagem é limpida, seca, mas 20 mesmo tempo dramnatica (da relva, como essa génese; entio cheguei a algo: essa idéia da “Nova Objetividade” como um conceito, um pensamento, info seria uma experiéncia restringida & minha, como até ento quisera eu, ou a0 menos teorizava, mas algo que acontecia num grupo, que se constatava em experiéncias independentes, individuais, que brotavam ao redor. Essa vivéncia, t30 fundamental, num lugar para mim essencial, me causou momentaneamente individuais, restard etc., no sentido filoséfico por uma vertigem (ndo das essa vivencia como algo que so conhecidos, mas num “alturas”, nem provocada por _ fundamental: adescoberta da _sentido empirico, relativo as t6xicos, mas semelhante a necessidade mais profunda experiéncias deseritas. estas) jamais, porestranho que move essa objetividade: que seja, tal me ocorrera, a anecessidade ética, Essa [Escrito em 26 de dezembro smo ser, le maneira mais obra de Dias, magnifica de 1966. Reproduzido a partir branda, quando construf em todos 0s sentidos, é de facsimile do Projeto Héio a primeira estrutura no como que pedra de toque Citicca: .] era de ordem estética, aqui de experiéneias, que si0 0 foi de ordem ética, como as tinicas significativas no ‘uma descoberta da minha nosso contexto atual. necessidade ética (como (24 jan. 67) fundamental em todas as A revivenciagio € 0 que se futuras consideragées) pode chamarde um sistema através da obra de outrem, para a compreensio de ‘no caso ade Dias. Mas, além —_certos problemas, fatos ou de uma vivéncia de ordem vivéncias, mas nunca dd 0 individual, trouxe-me ela algo sentido primeiro dessa vivéncia, denovo:aconsciénciadeum apenas anota, como um fendmeno caracteristico na lembrete, ¢ 86 por uma vivéncia arte brasileira (prefiro,aliés, nova, individual, é realmente otermo experignciadoqueo _compreendida a primeira, dearte, cheiodeconotagies __contida na revivenciagio. passadas). Em qualquer Assim, esta do Morro do Quieto, hip6tese, de qualquer modo, _para sua inteira medida, 36 onde se propuseroconceito com uma nova vivéncia pode de “Nova Objetividade” ser entendida, vivida. Nao como um fenémenoatualde quero aqui darestes termos: ‘um grupo de experiéncias, compreensio, entendimento 220 “Nova Objetividade” seria a formulacdo de um estado tipico daarte brasileira de vanguarda atual, cujas prineipais caracteristicas s40: 1. vontade construtiva sgeral; 2. tendéncia para 0 objeto 20 ser nnegado e superado 0 quadro de cavalete; 3. articipagio do espectador (corporal, ‘til, visual, seméntica etc.) 4. abordagem ¢ tomada de posigio em relagdo a problemas politicos, socais e éticos; 5. tendéncia para proposigées coletivas e conseqtiente eaEBIO OnE. 3QVGIAIL(GO VAON VO 1VuaD VWaNDS3 tipico da arte brasileira atual, oé também no plano internacional, diferenciando- se pois das duas grandes correntes de hoje: pop e op, € também das ligadas a essas: nouveau réalisme e primary structures (hard-edge). ‘A "Nova Objetividade” sendo um estado, nao é pois um movimento dogmtico, esteticista (como por exemplo © foi o cubismo, e também outros ismos constituldos como uta “unidade de pensamento”), mas uma “chegada”, constituida de miltiplas tendéncias, onde a “falta de unidade de pensamento” & uma caracteristica importante, ITEM 1: VONTADE CONSTRU- TIVA GERAL No Brasil os movimentos inovadores apresentam, e ‘geral, esta caracteristica de modo bem especifico, ou seja, uma vontade construtiva marcante, Até mesmo no movimento de 22 poder-se-ia verificar isto, sendo, a nosso ver, a motivo que levou Osvaldo [Oswald] de Andrade conclusio de que seria nossa cultura antropofigica, ou seja, redugio imediata de todas as influéncias externas a modelos nacionais. Isto no aconteceria nao houvesse, latente na nossa maneira de aprender taisinfluéncias, bre ade wivernos aboligdo dos “ismos" caracterstcos da primeira metade do século na arte de hoje tendéncia esta que pode ser englobada no conceito de “arte pds-moderna" de Mério Pedrosa); 6. ressurgimento ¢ novas formulag@es do conceito de antiante A Nova Objetividade” sendo, pois, um estado sendo entretanto a unidade desse conceito de “Nova Objetividade” uma constatagao geral dessas tendéncias miiltiplas agrupadas em tendéncias gerais a verificadas. Um simile, se quisermos, podemos encontrar no dada, guardando as distancias ediferengas. Algo de especial, caracterfstico nosso, que seria essa vontade cconstrutiva geral Dela naseeram nossa arquitetura, e mais recentemente 0s chamados rmovimentos conereto e neoconcreto, que de certo ‘modo objetivaram de maneira definitiva tal comportamento cxiador. Além disso, queremos crer quea condigio social 2a 222 aqui einante, de certo modo ainda em formagio, haja colaborado para que este fator se objetivasse mais ainda: somos um povo & procura de uma caracterizagio cultural, no que nos diferenciamos do europeu com seu peso cultural milenar eo americano do norte com suas solicitagées superprodutivas. Ambos exportam suas culturas de modo compulsivo, necessitam mesmo que isso se d, pois ‘peso das mesmas as faz transbordar compulsivamente. Aqui, subdesenvolvimento social significa culturalmente a procura de uma caracterizagio nacional, que se traduz de modo especifico nessa primeira premissa, ou sea, nessa vontade construtiva, Nao que isso aconteca necessariamente a povos subdesenvolvidos, ‘mas seria um caso nosso, particular. A antropofagia seria a defesa que possuimos contra tal dominio exterior, ¢ a principal arma crativa, essa vontade construtiva, oque nao impediu de todo uma espécie decolonialismo cultural, que de modo objetivo queremos hoje abolir, absorvendo-o definitivamente numa superantropofigia. Por isto e paraisto, surge a primeira necessidade da “Nova experiamentall assume Objetividade”: procurar pelas caracteristicas nossas, latentes ede certo modo em desenvolvimento, objetivar um estado criador geral, a aque se chamaria de vanguarda brasileira, numa solidifcagio cultural (mesmo que para isto sejam usados métodos cespecificamente anticulturais); exguer objetivamente dos esforgos criadores individuais os itens principais desses mesmos esforgos, numa tentativa de agrupé-los culturalmente. Nesta tarefa aparece esta vontade construtiva getal como item principal, mével espiritual dela. ITEM 2: TENDENCIA PARA 0 OBJETO AO SER NEGADO E SUPERADO 0 QUADRO DE CAVALETE © fendmeno da demoligao do quadro, ou da simples negagio do quadro de cavalete, eo conseqtente processo, qual seja, 0 da criagdo sucessiva de relevos, antiquadros, até as estrururas, espaciais ou ambientais,¢ a formulagio de objetos, ou melhor, a chegada a0 objeto, data de 1954¢m diante, ese verifica de virias maneiras, ‘numa linha continua, atéa ceclosio atual. De 1954 (época da arte “concreta”) em diante, data a experiéncia longa e penosa de Lygia Clark na desintegragio do quadro tradicional, mais tarde do plano, do espago pictérico etc, No movimento neoconcreto dé-se essa formulagao pela primeira vez e também a proposigdo de poemas objetos (Gulla, Jardim, Pape), que culminam na teoria do “nd objeto” de Ferreita Gulla. Hi entdo, cronologicamente, uma sucessiva evariada formulagio do problema, que nasce como ‘uma necessidade fundamental desses artistas, obedecendo a0 seguinte processo: da démarche de Lygia Clark em diante, hd como que o estabelecimento de handicaps sucessivos, €0 processo que em Clark se deu de modo lento, abordando as estruturas primérias da “obra” {como espago, tempo ete.) para a sua resolugio, aparece nna obra de outros artistas de modo cada vez mais répido eeclosivo, Assim, na minha experiéncia (a partir de 1959) se dé de modo mais imediato, ‘mas ainda na abordagem € dissolugdo puramente estruturais, €20 se verificar mais tarde na obra de Antonio Dias e Rubens Gerchman se dé mais violentamente, de modo mais dramético, envolvendo vétios processos simultaneamente, jé néo mais ‘no campo puramente estrutural, ‘mas também envolvendo um processo dialético a que Mario Schenberg formulou como realista, Nos artistas que se poderiam chamar “estruturais”, esse proceso dialético vitia também a se processar, mas de outro modo, lentamente, Dias e Gerchman como que se defrontam com as necessidades estruturais eas dialéticas de tum s6 lance. Cabe notar aqui que esse processo “realista” caracterizado por Schenberg ié se havia manifestado no campo poético, onde Gullar, que na época neoconcreta estava absorvido em problemas de ordem estrutural ena procura de um “lugar para a palavra”, atéa formulagio do “nao- objeto”, quebra repentinamente com toda premissa de ordem transcendental para propor uma poesia participante eteorizar sobre um problema mais amplo, qual seja, 0 da eriagdo de uma cultura participante dos problemas brasileiros que nna época afloravam. Surgi ai entdo 0 seu trabalho teérico ultura posta em questo”. De certo modo a proposi¢ao realista que viria com Dias € Gerchman, ede outra forma com Pedro Escosteguy (em cujos objetos a palavra encerra sempre alguma mensagem social), foi uma conseqiiéncia MFWM dessas premissas levantadas por Gullareseu grupo, € também de outro modo pelo ‘movimento do cinema novo que estava ento no seu auge. Considero entdo o turning point decisivo desse processo ‘no campo pictérico-pléstico- estrutural a obra de Antonio Dias, Nota sobre a morte imprevista, na qual afrma ele, de supetio, problemas muito profundos de ordem ético- social ede ordem pictrico- estrutural, indicando uma nova abordagem do problema do objeto (na verdade esta obra é tum antiquadro, e também af uma revitavolta no conceito de quadro, da “passagem” para © objeto e da significacéo do proprio objeto). Daf em diante surge, no Brasil, um verdadeiro proceso de “passagens” para 0 objeto e para proposigées dialético-pictéricas, processo este que notamos e delineamos vagamente, pois que no cabe, ‘aqui, uma andlise mais profunda, apenas um esquema geral..N3o éoutra a razio da tremenda influéncia de Dias sobrea rmaioria dos artistas surgidos posteriormente. Uma andlise profinda de sua obra pretendo realizar em outra parte em detalhe, mas quero anotar aqui neste esquema questa obra é na verdade um ponto decisivo na Gem Fer ComsuMid formulagio do préprio conceito de “Nova Objetividade” que viria eu mais tarde a concretizar a profundidade e a seriedade de suas démarches ainda nao esgotaram suas conseqiiéncia esto apenas em botdo, Paralelamente as experiéncias de Dias, nascem asdeGerchman, que de sua origem expressionista plasma também de supetio problemas de ordem social, eo drama daluta entre plano e objeto se dé aqui lvremente, numa seqiiéncia impressionante de proposigdes. Seria também aqui demasiado e impossivel analisé- Ja, mas quero eter seja sua cexperiéncia também decisiva nessa transformagio dialética € na criago do conceito “realista” de Schenberg. A preocupagio principal de Gerchman ‘centra-se no contetido social (quase sempre de constatagdo ‘ou de protesto) eno de procurar novas ordens estruturais de manifestagio de modo profundo e radical (no que se aproxima das minhas, em certo sentido): a caixa-marmita, oelevador,o altar onde o espectador se ajoelha slo, cada uma delas, ao mesmo tempo ‘que manifestagdes estruturais especficas elementos onde se afirmam conceitos dialéticos, como o quer seu autor. Daf 223 surgiu a possibilidade da criagio do Parangolé social (obras em «que me propus a dar sentido social 4 minha descoberta do arangolé, se bem que este jé 0 possuisse latente desde 0 inicio, eeque foram criadas por mim ¢ Gerchman em 66, portanto mais tarde). Sua experiéncia também propagou-se neste curto perfodo numa avalanche de influéncias. Aterceira experiéncia decisiva para a afirmagao do conceitorealista schenberguiano é ade Pedro Escosteguy, poeta hé longo objeto de GullareJardim, eas de Lygia Pape (Lito da cago), onde a proposigao postica se ‘manifestava a par da lidica. Pediro,dialético ferrenho, quer que suas manifestagdes de protesto se déem de modo Iidico e até ingénuo, como se fora num parque de diversdes (para o qual possui um projeto). Bele uma espécie de anjo bom da “Nova Objetividade” pelo sentido sadio de ‘suas proposigoes. Na sua experiéncia, pelas conotages que encerra, pelo livre uso da palavra, da “mensagem”, do Bakmeacuan 224 tempo, que se revelou em obras surpreendentes pela clareza das intengdes e da espontaneidade ctiadora. Pedro propde-se ao objeto logo de safda, mas a0 objeto semantico, onde impera a lei da palavra, palavra-chave, palavra-protesto, palavra onde o lado pottico encerra sempre ‘uma mensagem social, que pode ser ou no impregnada de ingenuidade, 0 lado liico também conta como fator decisivo nas suas proposigdes ce nisso desenvolve de maneita verséti certas proposigdes que na época neoconcreta surgiram aqui, tais como as dos poemas- objeto construido, queremos vera recolocagioem termos especificos seus do problema da antiarte, que aflui simultaneamente em experiéncias paralelas, se bem que diferentes ¢ quase que opostas, quais sejam as de Lygia Clark dessa época (Caminhando) que anotaremos a seguir, as de Dias (proposigdes de fundo ético-social), as de Gerchman (estruturas também seménticas) as minhas (Parangolé). Em Sio Paulo, em outros termos nessa mesma época (4964-65), surge Waldemar Cordeiro com 0 Popcreto, proposigao na qual o lado estrutural (0 objeto) funde-se ao semantico. Para ele a desintegragdo do objeto fisico étambém desintegragio semantica, para a construgao de um novo significado. Sua experiéncia nao é fusao de op com concretismo como fo querem muitos, mas uma ttansformagio decisiva das proposigées puramente estruturais para outras de ordem semntico-estrutural, de certo modo também participantes. A forma com que se dé essa transformacio ONnNO”A @lelle é também especifica dele, Cordeiro, bem diferente dda do grupo carioca, com carter universalista, qual seja, ada tomada de consciéneia de uma civilizagio industrial ete. Segundo le, aspira& objetividade para manter-se longe de clucubragdes intimistas € naturalismos inconseqientes. Cordeiro com o Popcreto prevé de certo modo o aparecimento do conceit de “apropriagao” que formularia eu dois anos depois (1966) ao me propor a uma volta & “coisa”, a0 objeto didrio apropriado como obra. Nesse perlodo 1964-65 se processaram essas transformagdes gerais, de ‘um conceito puramente estrutural (se bem que complexo, abarcando ordens diversas e que jé se introduzira ‘no campo titi-sensorial em contraposigao ao puramente visual, nos meus Bélides vidros ce caixas, a partir de 1963), para a introdugao dialétca realista, ea aproximagio participante. Isto nao s6 se processou com Cordeiro em Sio Paulo, como de maneira fulminante nas obras de Lygia uma démarche impregnada do cconceito novo de antiarte (0 tltimo item deserito neste esquema), que culmina numa forte estruturagio ético- individual. £-nos imposstvel deserever aqui em profundidade todo 0 processo dialético deste desenvolvimento de Lygia Clark -assinalamos apenas a reviravolta dalética do mesmo, da maior importincia na nossa arte. Paralelamente, intensificando esse processo, naseem as formulagdes tebricas de Frederico Morais sobre uma “arte dos sentidos”, com a Iiidica Gogos, ambientagdes, apropriagdes) e principal motor: oda proposigo de uma “volta ao mito”. Nao descrevo aqui também esse processo (ver em breve publicagao da ‘Teoria do Parangolé). Outra etapa, ligada em raiz e que incluo ao lado dos tés primeiros realistas cariocas segundo Schenberg, seria caracterizada pelas cexperiénciasjé conhecidas eadmiradas de Roberto Magalhies, Carlos Vergara, Glauco Rodrigues e Zilio. Qual ‘principal fator que se poderia atmacumbacbé Clark e nas minhas aqui no Rio. Na de Clark, com a démarche ‘mais critica de sua obra: a da descoberta por ela de que o processo criativo se daria no sentido de uma imanéncia em oposigdo 20 antigo baseado na transcendéncia, surgindo dai oCaminhando, descoberta fundamental de onde se desenvolveu todo o atual proceso da artista que culminow numa “descoberta do corpo”, para uma “reconstituigéo do corpo”, através de estruturas supra € infra-sensoriais, edo ato na patticipaglo coletiva - €esta consciéncia, & claro, dos perigos ‘metafisicos que a ameacam. Finalmente, quero assinalar ‘a minha tomada de consciéncia, chocante para muitos, da crise das estruturas puras, com a descoberta do Parangolé em 1964 €2 formulagio tedrica aj decortente (ver escritos dde 1965). Ponto principal ‘que nos interessa citar: 0 sentido que nasceu com 0 Parangolé de uma participagdo coletiva (vestir capas e dancar), participagao dialético-social « pottica (Parangolé poético social de protesto, com Gerchman), participagio atribuiraessas experiéneias que as diferenciariam numa etapa? Seria este: so elas caracterizadas, no conflto centre representacio pictérica ea proposicio do objeto, na abordagem do problema, por uma auséncia de ramaticidade, fator positivo zo proceso, que confirma a aquisigdo de handicaps em relagio is anteriores. Esses antstas enfrentam o quadro, ‘odesenho, daf passam a0 objeto (sendo que quadro e desenho sto jé tratados como tal), de volta 2o plano, com uma liberdade e wma auséncia 2s Por detras d 226 de drama impressionantes. & porque neles 0 conflito jt se apresenta mais maduro no processo dialético geral. Seja nos desenhos e nos macro ¢ micro objetos de Magalhies, surpreendentemente sensiveis € saredsticos, ou nas experiéncias iniiltplas de Vergara, desde (0s quadros iniciais para 0 relevo ou para os antidesenhos encerrados em plistico, ou para a participagdo “partcipante” do seu happening (na G4 em 66), ou nas de Glauco Rodrigues com suas manifestagdes ambientais (balées e formas em plistico semelhantes a brinquedos gigantes), sélidos geométricos com colagens e antiquadros, ainda nas estruturas “participantes” de Zlio, em todos eles esté presente essa auséneia exemplar de drama ~afas intengdes so definidas com uma clareza matisseana, hhedonista e nova neste processo. Sao artistas que ainda esto no comeco, brilhante sem .] 2a engajada do pais, ounda dos movimentos estudantis que apostavam em concepdes “‘nacionalista” e“revoluciondrias”™ na cultura brasileira, No mesmo festival, Gilberto Gil éeliminado, fazendo com que Caetano Veloso rompesse com o rie coma plata ‘em pleno paleo.) Ava-delka para Outro dia dizia euaum amigo: ha no ar, respira- sea repressio cultural neste pais: quem pretender eriar uma cultura de exportacio, no dizer de Haroldo de Campos, tinica maneira de engolir, deglutir que nos é bombardeado de fora e devolver em criagdo valida como coisa nossa, neutralizando 0 O1PH ONVIVa OdN¥D OG VaYYNONVA 30 OGILN3S O — 3W3¥L IND VUYIL VO VAVELY assimo colonialismo cultural a que nos querem permanentemente submeter, esti fadado a ser negado, seja pela indiferenca, seja pela sabotagem mais suja, seja pela reacao violenta, vestida esta de direita, la Corgao, ou de certo tipo de esquerda (ortodoxa ou equivocada?), que se acaba identificando também com essa diteita em determinado tipo de ago, principalmente na cultural, Verifique isso bem claro durante os debates promovidos recentemente no MAM do Rio, ¢, em quem pensei ingenuamente hhaver um paralelo com um pensamento que chamarei de vanguarda, ndo 0 havia. or que, se querem, ou dizem querer, reformar estruturalmente o Brasil ete? E essa repressio verifica- se no s6 em posigdes extremadas, como as que citei acima, mas também nas liberais, nas indecisas, nas due flutuam simpaticamente nas vérias camadas sociais, nos que “aceitam as inovagies seriamente”. E parece que o argumento de “seriedade”, “loucura” ete. éaarma mais doce com que se defendem, apelando inclusive para a emtase desmoralizagio individual, pelo disse-me-disse, visando oer por baixo a integridade de quem quer realmente “virar a mesa”. Quero chamar de um pensamento de vanguarda no o que busca a inovacio pela inovagao, na gratuidade criativa, na redundancia do artista sobre si mesmo, mas no que procura realmente 24s Contiauacdiann 246 virara mesa com o que nela std posto, ¢ aqui, jd se vé, terd que se dar de modo violento, pela condigao ta0 intelectualmente pobre fem que nos encontramos, pela indifetenca geral, pelo conformismo intelectual, pela gratuidade nas posigdes, pela conhecida falta de caréter dominante nna nossa estrutura social. Arepressio é irrespiravel, adebilmentalidade generalizada. E nao é de hoje as etapas vencidas foram a sgrossas marteladas, cujo eco parece querer perder-se no nada: 0 caso de Oswald de Andrade jd é superconhecido para que se o cite aqui; desde ‘-comeco do coneretismo eneoconetetismo todas as tentativas realmente renovadoras no sentido total parecem softer a mesma repressio generalizada uns pulam fora, outros submetem-sea toda espécie de sabotagem, de indiferenga por aqui: mais tarde o que foi feito “antes” €invocado ‘como uma qualidade perdida contra o que é proposto no ‘momento, ¢ assim por diante. Realmente a partir desses movimentos, concretismo e neoconcretismo, nfo *ismos” limitados no ‘espago eno tempo, mas, verdadeiras fontes de um novo modo de “ver" e “sentir” centre nds, éque as coisas foram retomadas em larga escala, Ndo vou tragar esse desenvolvimento, mas ‘quero assinalar que a “posta em cheque” permanente ‘aque se propuseram, do visual, da linguagem, a ctiagio de novas estruturas, proporcionou o terreno para uma posicio critica realmente universal, profandamente revolucionstia, no campo das artes, do conhecimento, in ate do comportamento. Hoje podemos dizer que essa questdo de “cultura de exportagio" (H. Campos) é uma realidadee é revolucionatia, talvez a mais de todas; éa consciéncia de quea cultura e seus produtos, por um método critico-criativo, poderd desmistificar toda tentativa de colonialismo cultural universalista, inegavelmente uum instrumento da repress ‘Mas essa cultura “nostra” ndo éuma planta isolada num deserto universal: no mundo de hoje isso ¢ estruturalmente impossivel: ha a necessidade da antropofagia e otal ato de *virara mesa” nada mais é do que a prépria criagio, or impulsos isolados ou em ‘grupo, dessa cultura. Na mtisica popular essa consciéneia ganhou hoje corpo, o que antes parecia privilégio de artistas plisticos e poetas, de cineastas ¢ teatrélogos tomou corpo de modo firme no campo da miisica popular com o grupo baiano de Caetano e Gil, Torquato e Gapinan, Tom Zé, que se aliaram a Rogétio Duprat, jie exPorta iiisico ligado ao grupo concreto de S. Paulo, e40 conjunto Os Mutantes, e hoje assume uma dramaticidade incrivel a uta desses artistas contra a repressio geral brasileira, 180 conhecida minha hé dex anos (repressdo no $6 da censura ditatorial, mas também da intelligentaia bordejante). Aqui tudo se toma mais dramatico, pois esté diretamenteligado a0 consumo de massa ou 8 cultura de massa” ete., € sujeito portanto a maior repressio. Muito se tem escrito sobre eles (refiro-me especialmente aos trabalhos de Augusto de Campos, os mais densos, onde procura ele a tinha evolutiva do grupo). Venho aqui falar no assunto para procurar aclarar certos pontos, no que me toca de perto, tentando estabelecer certas conexdes do grupo com problemas universais na arte de vanguarda. E preciso antes, de mais nada colocar os pontos claramente, neutralizando a mistificagio ‘com que os “do contra” tentam envolver o trabalho ado “macumba para turistar deles, Mas este trabalho esté ‘mesmo sujeito 20 permanente bombardeio, que agora parece ter chegado a.um climax repressivo nunca visto, Desde 0 massacre de Roda viva, num teatro em S. Paulo, tudo vem ‘num crescendo impressionante, e culmina com uma das maiores infamias a que presenciei: a vaia, o ataque brutal, mesmo fisico, profundamente reaciondrio a Caetano, a sua iiisica, a Gil, aos Mutantes. Esse ataque nio atinge sé a eles, masa todos nés que criamos: 6a reagio contra o que representa num contexto contra o que procura levantar a pele, arrancando-a posteriormente, da velha estruturaa que Oswald de Andrade denunciara, mas que ao contrétio do que se poderia supor, tomou um aspecto, desenvolveu-se e explode de modo terrivel diante do que Ihes procura alterar: eram personagens andradianos, sem diivida alguma, os que ali se encontravam: estudantes, sim, mas reaciondrios apesar de aclamarem Guevara (0 simbolo de Guevara parece ter sido absorvido pela classe dominante e passa a set também instrumento deles, numa forma qualquer de liberalismo), apesar de serem de “esquerda” ~ dizer ‘que sio revoluciondrios € ‘uma coisa, agirem como revoluciondrios ¢ outra € mais real, pois é 0 modo como se manifestam: isso no é novidade, acontece todos os dias. Nada mais, ceram do que a burguesia paulista, produtos de uma sociedade industrial em ascensio, cheios de liberalismo “bem nutrido”, € profundamente reacionarios, por isso mesmo. Mas, a meu ver, 0 que provoca essa reagdo é justamente o caréter revoluciondrio implicito nas criagGes e nas posigdes do ‘grupo baiano: Caetano e Gil, e seus cupinchas, poem 0 dedo na ferida ~ nao sto apenas revolucionarios esteticistas, nao! Aliés, porque hoje tudo o que revoluciona, o faz. de modo sgeral, estruturalmente, jamais limitado a um esteticismo, e éesse 0 sentido implicito do que se convencionou chamar de tropicalismo: no criar mais uum *ismo”, ou um movimento isolado ete., ‘como antes, mas constatar um estado geral cultural onde contribui o que poderia até parecer 0 oposto~ José Celso, Glauber, concretos de S. Paulo, Nova Objetividade (que foi uma tentativa, no Rio, de agrupar artistas plésticos numa tendéncia geral de vanguarda) etc, além do grupo baiano, 2a7 principal responsével pela chamarei de “manifestagio __os Mutantes: tudo ficou divulgagio da idéia etc. mas. ambiental”: anecessidade de _velho diante deles ~ houve que se tornou um “ismo” ‘uitarras, amplificadores, como que uma que ninguém consegue conjunto,e principalmentea _transubstanciago ambiental. “definir”, oqueneutraliza de —_roupagem, que nao so a0 mesmo tempo construida certo modo esse cardter de acessérios “aplicados” sobre _e catartica: pareceu-me, na ismo” fechado. Os baianos, __umaestrutura musical, mas _primeira apresentagio de sempre inteligentissimos, fazem parte de uma Caetano, uma cena do promoveram a maior linguagem complexa que tribunal no filme Napoledo, tarefa critica da nossa procura af criar uma de Abel Gance, onde o miisica popular, inclusive linguagem universal, onde cineasta distorce cabe a eles a iniciativa da oselementos nao sesomam ——_visualmentea tela desmistificagio, namisica, como 1+1=2, masse transformando o tribunal do “bom gosto” como redimensionam ‘num mar em tempestade, critério dejulgamento (hd ai mutuamente; a coisa élevada como movimento do mar tum paralelo com problemas mais adiante nas malfadadas__virtualmente transposto; enfrentados nas artes apresentagdes do ridiculo havia ali algo de herdico, de plésticas por mime festival (na verdade esses, pioneiro. Como sempre Gerchman, numa fase,eno _festivais so como os sales _taxaram tudo de loucura, 0 teatro por José Celso), a dearte moderna easbienais: que € um argumento reavaliago desta (reposigio _velhas estruturas que se profundamente reacionsrio. do que é significativo na tornam cada vez mais “8 proibido proibir", a miésica popular no pasado académicas e sufocam miisica, é sem sombra de préximo ou remoto), a ‘quaisquer inovagées), onde drivida uma das mais, absorgio geral de todas as tudo contribuiu para importantes experiéncias de manifestagdes musicais pulverizé-los. Masa Caetano, continuagio légica daquie deforaete. Mas tudo _experiéncia chegou a ser e licita da sua experiéncia, isso € feito de modo feita, ¢ 0 resultado 56 aqui aberta a um estrutural, profundo, elogo _poderia ter sido mesmo desenvolvimento que se surgea necessidade, aquele, naquele contexto, tal _torna dia a dia mais manifestada inicialmenteno a radicalidadea que se fascinante. J4 em “Enquanto sentido grupal, do que conduziram Caetano, Gil e seu lobo nao vem” e “Mamae 248 coragem”, ea estrutura anterior, que ele mesmo chamou de “colagem”, comeca a diluir-se numa outraa que eu chamaria de “aberta”: o ritmo, sui generis, ‘contrapontua palavra por palavra, frase por frase, 0 ‘que ndo querem exprimir modo seco, sintético, € sem divida fascinante. Seriam como as frases em passeatas: ca-la-bou-go, que a0 serem repetidas vio-se incorporando, ritmicamente, aos sucessivos significados, a0 coletivo eas vivéncias individuais. Lembro-me que MOF) W conceitos a priori, mesmo quando diz “é proibido proibie”, “eu digo nao 20 nfo” ete., no querem “ significar alguma coisa", mas esto abertas 208 significados: jé cantados, P.ex., por uma coletividade, esses significados vao sendo dados de modo tao ambivalente quanto as Frases originais *n3o a0 nao”, “proibido proibir”, negagio da negagio para afirmar. Caetano joga a contradigao afirmativa, mas joga-se de ‘modo aberto também na iisica (impossivel sepatar letra e misica em todas essas experiéncias), nao querendo “doutrinar”, mas dar elementos semanticos abertos &imaginacio, de durante a Passeata dos Cem Mil vinha-me a todo ‘momento, e também 2 amigos meus que conheciam a miisica, o ritmo eas frases de “Enquanto seu lobo no vern”: “vamos passear na flotesta escondida meu amor, vamos passear na avenida, vamos passear nas veredas - Houve até quem achasse mais tarde que a miisica fora um prentincio dda passeata, Talvez, quem sabe, mas 0 que acontece & ‘que Caetano constréi cestruturas cada vez mais, abertas a imaginacZo, logo, & participagao de modo cada vez mais sintético. A percepgio é uma totalidade, tratada como tal, e com isso suas experiéncias no alto... aparelham-se as que sto feitas em todos os campos na vanguarda mundial. As artes, como cram divididas, tendem a nio mais 0 serem, hf como que uma ‘globalizagao pottica geral: poesia, artes plisticas, teatro, cinema, misiea, ndo mais Alla somadas umas as outras, ‘mas sem fronteiras mesmo. Essas experiéncias tendem também a isso, o que as torna incompreensiveis para nossa erua critica local. Lembro-me muito quando, hé alguns anos, Lygia Clark comecou com seus “bichos”, causando indignagao geral, ¢ precisava ela fazer um esforgo louco para “explicar” co que fazia, Caetano, incompreendido do jeito que esté, pichado de todos os lados, vem construindo uma obra que se ergue dia a dia por sua forca criativa, sua imaginagio sem par, pela sua seriedade e pioneirismo no terreno tio pobre e t20 chato que é 0 nosso. Nessa apresentagio festivalesca 249 250 tudo funcionou no todo, complexo e cheio de implicagdes subjetivas, como sempre em Caetano: 0 arranjo belissimo de Duprat, os Mutantes, o americano, quea meu ver é mais um instrumento (como se pensou em retird-lo?, 56 uma organizagao incompetente € ignorant poderia cogitar tal coisa), as roupas de Caetano que seriam a sintese plistico- visual, em polaridade, do que era manifestado na agdo ‘eral. Foi uma das mais ambiciosas tentativas do Os b grupo baiano, nao porque houvesse “aparato superposto & mmisica, desnecessirio, mas porque o que os menos avisados consideram aparato é “elemento” intrinseco na obra, nada é gratuito ou “efeito” ~ efeito gratuito é, sim, a charmosa banda de Dixie usada pelo talentoso ‘Maranho em sua misica: ali © compositor teve a brilhante idéia de *vestit” sua obra com a banda, o que Ihe dew _graga, € foi realmente bonito, mas transformagio. estrutural ndo houve nenhuma: era mais uma miisica, como tantas outras do autor ou dos festivais, apenas mais bem vestida, mas ainda “bem comportada”. Aié que esté a profunda diferenca, queridos criticéides, nao vista por vocés: Caetano, Gil, (0s Mutantes, Duprat, Tom 26 modificam estruturas, criam novas estruturas, sua cexperiéncia é calcada numa modifica ni se reduz a apresentagGes de chegar, cantar, e pronto, voltar pra casa e dormir io a longo prazo, sossegado depois de tomar uns whiskys. Mais incompreendido ainda foi Gil, pois teve sua misica desclassificada pelo uri, € importantissima como elemento na sua evolugdo: “Questo de ordem” reduz-se, numa severidade impressionante, a sons, guinchos, ruidos, avoz do cantor e do conjunto que 0 acompanhou (Os Bichos) passam a ser pura miisica, as palavras que apareciam 0 fazem “flutuando” na estrutura geval. Gil parece Wells cantar € compor com todo seu corpo, sua garganta e ée fera, num cantoforte que se relaciona com o dos cantadores nordestinos, incisivo, sem meios tons: sua apresentagio foi um momento de gléria, contide sem herofsmo aparente. certo do que fazia, enquante avaia fascista comia, A obra de Gil merece, urgentemente um estudo detalhado, profundo (alo! ald! irmaos Campos), pois realiza nela uma sintese de praticamente todos os ritmos universais. fallii¢ como que os arrancando pela raiz de suas origens, do fundo dos sons, da terra, do suor dos rtos. A meu ver sua desclassificagio se deu por esta bobagem de contar pontos por misicae letra, critério super académico, ue jd nao servia nem para a smiisiea tradicional, quanto mais para experiéncias dessa envergadura. Essa experiéncia de Gil, se bem que ainda no comeco, fax-nos esperar coisas bem ambiciosas em termos rmusicais, lives e profundamente inovadoras. podendo levar o compositor um campo totalmente ‘novo, 0 que justifica 0 caminho em que se vem conduzindo magnificamente: os saudosistas ficardo a amentar eternamente 0 Gil de“Louvagao”, que era grande, sim, mas que teve a coragem de romper com tudo e desenvolver sua obra para o descomhecido, para onde ninguém “bem comportadamente” ousaria ele ousa e sei que vencerd, ¢ ‘no me venham falar em (nM “blefe", porque sei que Gil nunca foi tio preciso, tfo veemente tio certo do que quer como agora: agora sim, ‘0s que entendem realmente ‘que querem esses artistas terdo que se definir: desclassifiar “Questio de ordem” mostra profunda ignorancia,incapacidade total de julgar, revelaa estrutura académica desse festival: pergunto eu, como julgariam com esse critério (embrem-se, 0s crtérios si0 universais! ou nao?) nesse festival, certas obras jazaisticas ou mesmo certos blues em que a voz do cantor nao emite sequer uma palavra: por exemplo, “Pinky”, cantado por Sarah Vaughan: como daria o ji notas para miisicae letra: serd que ninguém vé que esse critério €0 mais académico possivel, tio infame quanto os que se uusam para artes plisticas, ‘como o de separar dialeticamente formae contesido. E ainda dizem que o festival é classe A. $6 se for em matéria de incompeténcia e burrice - teas sim, burrice mesmo, no hé outra explicagio. Bos Mutantes (que maravitha de trabalho!), Tom 26, relegado a indiferenga, e Jorge Ben?? Sao todos mil pontos acima do resto, essa éaverdade. Seria urgente e necessério 20 grupo a criagio de um teatro experimental, ou simplesmente um recinto onde pudessem fazer ‘experiéncias com o piiblico, como se fazem pelo mundo afora, principalmente a experiéncia interior grupal “consigo mesmo”, dig in ‘como designa Bob Dylan segundo me conta Luis, Carlos Saldanha: é quase suicida procurar romper 0 ‘que i estd pode, inclusive muito do que poderia ser comunicado perde-se: a solugio que é ainda a mais eficaz € essa espécie de nucleizagio organizada, se bem que expostas sempre sabotagem, poderio assumir uum cardter proprio e tera0 mais forga do que os atos de heroismo isolados. Como dizia-me José Celso, hoje em dia fazer teatro no Brasil é arsiscar diariamente avida, heroicamente, E nas artes plisticas? Creio que se fize, hoje, as experiéncias 2 que me venho conduzindo, em pablico, sereilinchado. Dai anecessidade de grupos, a ‘que denomino “comunidades sgerminativas", de certo modo segregadas “dentro” da sociedade (dentro e ndo fora, a espera de dias melhores), dispostas a “virar amesa” a qualquer custo. (© grupo baiano propde- se, evem levando a cabo, uma das mais importantes revolugSes justamente 251 porque estéligado & “cultura de massas” (sobre cuja natureza hé problemas mais, sérios a serem discutidos), digamos, ¢ inclusive com a interessantissima experiéncia em televisdo, mais difiil, quase impossivel, mas que foi feita, se bem que uma tinica vez, no programa ‘Tropica, ou Panis et Circenses, gravado em tape num cabaré paulista, Ali, odo 0 caréter ambiental pode ser explicito, surgindo o “calor ambiente” como elemento totalizante: a meu ver é algo jd além do simples happening organizado: a estrutura é mais aberta, hd nela maior dose do imponderivel, seria aparentado a uma experineia que levamos a cabo hé dois meses no aterro: a “Apocalipopétese” (termo inventado por Rogério Duarte para designar detetminado tipo de experiéncia ligada a0 conceito, também dele, de “probjeto”, onde a “obra acabada” no existe como tal esim estruturas abertas ou puramente “estruturas ‘germinativas”, nas quais a participacéo individual é propria eriagio,seja ela imediata ou pela imaginagao que sobre ela se cria ea modifica). Mério Pedrosa, ao chegar da Europa, tomando eonhecimento da “apocalipopétese”,assinalou- re logo essa diferenga que Z jd suspeitava existir nos prometeu desenvolveralgo sobre isso (estou cobrando isso, hein, Mério!). A meu ver, a experincia do programa de-Tv, que possui longa histéria e acabou por sair bem diferente e muito menos ambicioso em relagio 20 que se propuna, mas mesmo assim é importante para, 20 menos, mostrar 0 que poderd ser feito pelo ‘grupo proximamente: 0 proprio fato de existir um contexto ambiental no qual acho se dé (0 cabaré.ea filmagem in foc) e ser esta ago “filmada” e depois “levada a 1V", jd inelui, na experincia, uma série de “categorias transformadoras” ~cada face-fase de agao é revelada, é dada a percepgio de um modo: a ago local, e filmada, elevada a1v etc, A totalidade ai no se reduz a um happening isolado, a algo que acontece como se fora uma obra polidimensional —era, sim, Z uma totalidade que existia existe na medida em que évivida” nas suas miltiplas aparéncias, ou vivaparéncias nela mesma, no filme, na transmissio de Tv, e quantas coutras fossem possiveis, tais como as relagdes poetizadas ou setoriadas de cada vivéncia individual dat geradas, como um cosmos ‘enedimensional: estruturas abertas transforméveis pela participacao. (Os argumentos depreciativos contra esse tipo de experiéncia, ou seja, os que as rotulam de “loucura proposital”, de fundo reaciondrio e para © consumo, a redugao de todas as tentativas de criagdo as de propaganda, cultura de dominacio etc., soam logo falsas se examinarmos na origem aevolugio do processo, como é encaminhado nas tendéncias a que denomino vanguardas. H4 0 uso dos elementos ligados a essa LZ C cultura de massa, sim, como 4 propaganda, mas sio eles usados como veiculo tinico de comunicagto global para exprimir “processos criativos abertos”, onde se procuram exeteicios experimentais ‘num campo onde esses exercicios slo estranhos ou aparecem ao acaso, sem intengio predeterminada Aauséncia de uma ideologia rigida, longe de ser algo reaciondrio, ou uma forma de liberalismo, liga-se mais um processo andrquico que visa desintegrar certas estruturas ou anular 0 que se convencionou como sendo (0 “belo”, o “bom gosto”, a “moral”, a “obra acabada” de artes ete. O argumento de loucura, sim, é reacionrio, porque na verdade para quem cria, ele nao existe: ‘como jé disse uma vez, Toucura é0 conformismo de “ndo experimencar”, a vivéncia morta, porque no levada a cabo, castrada « priori, por que motivo repressivo for: ideol6gico, moral, sexual etc. A quebra dos condicionamentos ea tentativa de “nao formular” conceitos rigidos, diregdes ou programas, visa as transformages continuas no pracesso sob o perigo de criar ‘um novo condicionamento, como sempre acontece. Anecessidade desse “exercicio experimental da liberdade” (M. Pedrosa) é permanente hoje nessas vanguardas, ¢ este s6 se pode dar por experiéncias em que a participacio criadora em estruturas abertas seja possivel, em que sejam propostas niio “solugées” mas “invengGes criativas” que ndo se relativizem em pequenos atos de liberdade, inconseqiientes dentro do conformismo social, instrumento de dominago, mas que atuem ‘no comportamento individual de modo profundo. Caetano veste-se como quer, no por loucura premeditada para L C ganhar dinheiro, vendendo disco (e nio faz mal que isso acontega), sua intenglo fundamental quando diz que deseja “quebrar estrucuras” é cexatamente abrir-se a todas as demandas de sua imaginagio criadora, como um exereicio owum ritual, mas ritual que se transfere continuamente, eria condigSes para sua propagagdo ou germinagio: se quero fcar nu, fico; se quero usar colares, roupa de plistico, uso ~0 mesmo que dizer: faca isso vocé também, se oquiser, ou fica 0 que aquiser, como eu o fag0. Dizer Mea 254 que isso sejaacessério A sua isica, algo desnecessétio, imposto pelo comércio de Idolos, pelos meios de comunicagio de massa, & pura mé vontade de nao {querer ir ao fundo das coisas, explicando-as entio de ‘modo superficial. 0 proceso musical em sua origem, em Caetano e seu grupo, € ‘exatamente o que se leva a cada etapa, as sucessivas transformagées imagéticas, A criagio ambiental, 8 necessidade de propagar 0 que pensam e querem pelos quatro ventos, que nada mais ¢ do que a necessidade GE de criar essas condigdes experimentais necessérias as transformagGes. Mas tudo isso 0s conduz 20 centro mais importante dessa atitude experimental, que 0 atuar sobre o comportamento diretamente, no num puro processo de relaxamento dessublimatério, mas no de estruturago criativa, convocagdo as transformagdes e nio submissto conformista. E como uma trama que se faze cxesce etapa por etapa: a tramavivéncia (Contio da Manhi, Rio de Janeiro, 1968, Reproduzido a pantirde fac-simile do Projeto Hélio Oiticica: commu taucultura.org. briaplicextemasienciclopediaihoi hhomeldsp_home.cfm>.) =~ SS =o (alr © So 1-Meu filme é um Jarwest sobre o 1 Mundo. Isto 6, fusio e mixagem de vatios sgéneros. Fiz um filme soma; um forest mas também musica documentirio, polical, comédia (ouchanchada?) e fiegi0 cientifica. Do documentitio, a sinceridade (Rossellini); éo policial, a violencia (Fuller: da comédia, ritmo andrquico (Sennett, Keaton); do western a simplificaglo brutal dos conflitos (Mann). 2-0 Bandido da Luz Veretha persegue, ele 4 policia, enquanto os tiras Joma fazem reflendes metafisicas, ‘meditando sobre a solidio ea incomunicabilidade. Quando um personagem nao pode fazer nada, ele avacalha, 3~ Orson Welles ‘me ensinou a nao separar a politica do crime. 4Jean- Lc Godard me ensinow a filmar tudo pela metade do prego. 5 ~ Em Glauber Rocha conheci o cinema de guertilha feito & base de planos gerais, 6 Fuller foi quem me mostrou como desmontar 0 cinema tradicional através da montagem, 7-Cineasta epozueds oup8oy 131-V0-VuOd VWANID do excesso e do crime, José Mojica Marins me apontou a poesia furiosa dos atores do Brés, das cortinas e ruinas cafajestes e dos seus didlogos aparentemente banais. Mojica eo cinema japonés me ensinaram a saber ser livre e~ ‘20 mesmo tempo ~académico. 8-Ossolitério Murnau me ensinou a amar plano fixo acima de todos 0s travllings. 9~£ preciso descobrir 0 segredo do cinema de Luis poeta e agitador Bufiuel, anjo exterminador. 1o Nunca se esquecendo de Hitchcock, Eisenstein e Nicholas Ray 11 Porque 0 que eu queria wdiileln, ‘mesmo era fazer um filme magico ¢ cafajeste cujos personagens fossem sublimes bocais, onde a estupidez ~acima de tudo— revelasse as leis secretas da alma e do corpo subdesenvolvido. Quis fazer um painel sobre a sociedade delirante, ameagada por um criminoso solitério. Quis dar esse salto porque entendi que tinha que filmar © possivel eo impossivel ‘num pais subdesenvolvido. ‘Meus personagens sio, todos eles, inutilmente bogais ~aliés como 80% do cinema brasil s desde a estupidez trdgica do Corisco & bobagem de Boca de Ouro, passando por Zé do Caixo e pelos périas de Barravento, 12 - Estou filmando a vida do Bandido da Luz Vermelha como poderia estar contando os milagres de so Joao Batista, ajuventude de Marx ou as aventuras de Chateaubriand. £ um bom pretexto para reffetir sobre 0 Brasil da década de 60. Nesse painel, a politica e o crime identificam personagens do alto € do baixo mundo. 13 —Tive de fazer cinema fora da lei aqui em Sao Paulo porque quis dar um esforgo total em U iregao ao filme brasileiro liberador, revolucionétio também nas panorimicas, na mata fixa e nos cortes secos. © ponto de partida de nossos filmes deve sera instabilidade do cinema - como também da nossa sociedade, da nossa estética, dos nossos amores edo nosso sono, Porisso, a camara ¢ indecisa; 0 som, fugidio; os petsonagens, medrosos. Neste pafs tudo é S possivel ¢ por isso o filme pode explodir a qualquer momento. {Publicado na revista Covalo Azul, dirigida por Dora e Vicente Ferreira a Siva (c. 1964) Ver chttp:www, contracampo.he.com.br imagens llinha_purp-gif-) 5e@ Supecllite 255 Paris, 31 de maio de 1969 O significado do quechamo de Sintese da Tropiedlia chegoua mim em etapas, nveis de signiticagdes, que foram evoluindo. A idéia de uma “imagética brasileira” elementos da imagem para tal ~era importante, mas muito mais importante era superi-los: a informa brasileira no cotidiano é muito DAO ONPH ASALNJS VW 30 VW3180¥d 013d Oavaaans WIOVNI VG VWFTEOUd 0 ‘VITYIIdOUL 4o visual para compensar as dificuldades téeniicas rica: invenglo-comunicagao- visual muito desenvolvida, como ‘americana numa escala maior, claro. Entdo, para mim, como ‘urgéncia cultural, era da maior importincia pegar todas as zaizes brasileiras na imagem, compari-la com a influéncia americana e subverter o dominio dessa influéncia absorvendo-a dentro de siassim, a imagetica Carmem Miranda foi repensada, por exemplo: todas as coisas que tinham sido deixadas de lado pela ostentagio burguesa brasileira, que suspirava pela elegincia ceuropéia: abacaxis, flores de pléstico, papagaios, araras, os aderegos do samba et. (eno 86 i880 ~ esas eram as mais superfciais—mas elas dio nova forma a coisas mais profundas: pesquisa das razdes de tamanha riqueza visual, as relagdes com os processos de formagio cultural, a redescoberta da Antropofigia de Oswald de Andrade, aconscféncia critica & politica que surgi com laa manifestagdes estudantis, que aumentavam (antes da feroz repressdo de dezembro): para mim, o limite dessa sintese é varidvel: a consciéncia dela no pode fcar presa dentro de fronteiras estéticas), endo s6 para mim: 2 Tropicdlia nto é ‘um movimento artistico, esima constatagio de uma sintese onde se redinem propésitos gerais: cinema, teatro, ates plasticas, isica popular, porque as fronteiras entre essas divisdes formais tendem ase dissolver dentro de algo maior (écom isso que a vanguarda no Brasil, principalmente Sio Paulo ¢ Rio, sempre se preocupou). ssa etapa da imagem foia primeira, e podemos prever infinitas etapas; infinitas no sentido de que ela esté aberta a todas as propostas individuais « possibilidades impondersves. 0 falso argumento queaacusa de ser um “retorno ao folclore” cai totalmente por terra: 0 folelore para todos os criadores, a Tropicdlia €reacionério mas isso nao significa que todos os elementos folelricos sejam reaciondrios: depende por que, por quem ou para que esse elemento evocado. Os elementos que eu ponho nas idéias dos Parangolés, que Glauber Rocha pde em seus filmes, que José Celso Cortéa ‘pGe no Rei da Vela, que Gilberto Gil poe na sua misica ete., que podem ter relaydo com raizes populates brasileiras,tém essa relagdo de uma nova maneira, porque éa maneira de dar forma uma idéia criativa que dé uina nova forma cena geral. 0 cexato contririo do conformismo foleldtico reacionétio estitico, ce qualquer argumento que possa sugeriressa atitude deve ser considerado unilateral, preconceituoso, tentando intencionalmente desacreditar a eficécia revoluciondria dessas : portanto, é reaciondrio por ser uma desinformagio. {Escrito em inglés em 1969. Traduzido por Denise Bottmann a paride fc-simile do Projet Hélio Oiticica: ewmn.taueulturaLorg. briapliceterastencclopedialho) hhomefdsp_home.fn> 309 Quando inventei, no verdo de 1966-67 (werdo brasileiro), 0 conceito de Tropicilia (apalavra-conceito), no podia imaginar toda a sua extensio, cembora quisesse dizer com ele, implicitamente, 0 que afinal ele acabou sendo: a definigio de um novo tipo de sentimento no panorama cultural geral, ou a sintese de ‘uma visto cultural especifca, de diferentes campos de formas artisticas em sua manifestacio, interrelacionados em suas metas especificas: 0 teatro, a imiisiea popular, o cinema, além das artes plasticas em todas as suas experiéncias de vanguarda no Brasil (principalmente Rio eS. Paulo), de repente cencontraram no conceito de P>pBO oH MYD1dOwL > Zz g $ z > & z dizer, buscando um modelo definido de agdo em termos internacionais, algo mais que a pop ou.a op e seus desdobramentos, cujas imagens podiam ter uma certa telagio com as nossas, mas cujos propésitos eram muito diferentes, principalmente nna imagem, ou nas relages imageticas e nas implicagdes sécio-politicas. Artistas, importantes como Rubens Gerchman ¢ Antonio Dias (os dois partciparam da exposigd0 Nova Objetividade em marco de 1967, no stant do Rio) puderam ser reavaliados de um novo onto de vista e mostrados no como frutos da pop ou op internacional, mas como um desenvolvimento especifico das idéias vanguardistas brasileiras, nas quais contribuiram com novos passos importantes. O ‘mesmo aconteceu comigo ou com Lygia Pape (para mim, ela uma grande quantidade de experimentalistas muito novos (em Sio Paulo, prinipalmente ‘Tozzi e Marcelo Nietsche, €0 ‘grupo de Nelson Leiene) Outros artistas, jé importantes na construglo das experiéncias vanguardistas brasileiras, desenvolveram suas experiéncias pessoais com muita forga, como os poetas concretistas de So Paulo (Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Décio Pignatari— Augusto é responsével por muitos artigos importantes sobre os misicos pop baianos, principalmente Caetano e Gil, eacompanhou 0 desenvolvimento da misica popular brasileira desde as experineias da bossa nova, ‘numa analise muito bem feita, em sua obra Balango da tsa), ou Lygia Clark, eujo trabalho foi de importéncia capital nesses desdobramentos, Coram fugitives de uma civilizagée que estamos cornu ‘Tropicélia uma identificagao de seus escopos. De fato, quando eu criei esse conceito, foi pretendendo relacioné-lo com minhas novas experiéncias na época, € com cle eu queria relacionar essas experincias com todos os desdobramentos especificos das experiéncias vanguardistas brasileiras, muito ricas, devo € uma das experimentalistas importantes que escapam a definigdes como “pintora”, “escultora", “autora” ete.) em 1nossos trabalhos. Muitos artistas encontraram seu caminho e se separaram, outros cevoluiram rapidamente para sinteses muito pessoais, como Pedro Escosteguy, Roberto Lanari, Antonio Manuel, e de 1954 em diante, e hoje é ‘muito conhecida na Europa (exposicao Sinais em Londres, Bienais de Veneza, Galeria Thelen na Alemanha etc.) € que ultimamente vem fazendo as experiéncias mais densas e fascinantes (ver Rhobo n. 4). Desde o concretismo eo neoconcretismo, esses padres internacionais so muito levados em conta, e surgitam vvdrios elementos antecipando muitas das idéias, proto-idéias, dealguns desenvolvimentos intemacionais. Alguns resultados podem ser considerados vanguardistas até hoje, A teoria ea obra se ‘uniram intimamente: os poetas paulistas eriaram 0 grupo Noigandres; do movimento neoconecreto sajtam artistas como Lygia Clark e teorias comoa Teoria do Nao-Objeto, de Ferreira Gullar (1959). Dissolvidos esses movimentos, surgicam evolugdes individuais cespecificas, entre elas a minha. De 1959 até hoje, meu trabalho tomou virios rumos; inventei os Bilateris e Relevos espaciais (1959), 08 Penetrdveis € 05 Niles (1960), os Boles (1963), Capas e Tendas Parangolé (também teoria) (1964), as, idldias de Tropicdia (1966-67), Supra-sensorial (2967) e den EO, POMQVE FOMMOS (1967), além da sintese da Nova Objetividade numa grande exposigo no mam co Rio, conde apareceu pela primeira vez ‘ambiente da Tropicdlia (margo- abril 1967), e onde foram revelados muitos artistas novos, com a ajuda de um jovem critico de arte, Frederico Morais Nessa mesma exposicio, Lygia Clark mostrou pela primeira vez sa série “roupa-corpo-roupa”; Lygia Pape, suas caixas- ppoema com formigas vivas; muitos eventos realizados na instalago da Tropiclia, 0 que para mim foi um comego para a teoria do “erelazer” (passistas da Mangueira ficavam o dia todo jogando baralho -as idéias nasciam da atividade “de lazer”). A partir dessa exposigo, foram realizadas vérias manifestagoes com Participagao do piblico, cculminando com 2 experiéncia a Apoclipopéese(descrita mais adiante), em agosto de 1968 no Parque do Aterro no Rio. Durante toda essa evolugdo, devo dizer que consciéncia critica dos artistas foi um elemento muito importante, pois essas manifestagdes de vanguard eram sempre tratadas com indiferenga ou sofriam ataques furiosos dos eritcos de arte do sistema, Mas fortes e vingatives come o Jabuti cumpre abrir excegio e prestar homenagem a alguns deles, prineipalmente Métio Pedrosa, ue influenciou muito essas obras e sempre apoiou todas as, idéias de vanguarda, algumas das quais comegaram com ele. Recentemente, Frederico Morais e Mario Schenberg também tém se dedicado muito a desenvolver algumas idéias, Da idéia do Bien, expresso num novo ambiente (planejado desde o final de 1967 e construido primero 1na Whitechapel Gallery, Londres, desde fevereiro de 1969), vieram conceitos te6ricos como “crelazer” (1968) € “hermafrodipstese” (1969), muito mais complexos em seus objetivos, ea idéia do Bartactio. (descrita mais adiante) AS{NTESE DATROPICALIA =O conceito de Tropicélia, de inicio referente a uma idéia puramente tebrica, de repente se estendeu além do meu campo especifico, num acontecimento que quero descrever aqui: a musica popular de Caetano Veloso e Gilberto Gil (compositores e cantores), Torquato Neto ce Capinan (letra), Tom Zé (compositor e cantor), Gal Gosta (cantora). De repente, Caetano Veloso tornou possivel e feza sintese: uma misica muito estranha e inesperada que ee tinha feito ainda no tinha nome; alguém chamou de Tropical, o nomee o conceito que melhor cabiam ela (Caetano sabia que eu tinha criado o termo edeu os créditos, embora a gente nao se conhecesse naquela época). Aquilo se encaixou muito au bem de todas as maneiras uit sobre uma coisa muito. @ 2B —_Nopapoeumesafo. imagindveis: foi um marco em —_importante quanto a essa FO Mimo, reminto, todosordesiobamentos dos sntseda Tropics nio€ «3 rematosmato, moro, campos riativos no Brasil,e _um“movimento" dearte, mas & me entrego, me tomo CactanoeGillconseguiram _uma intese mesmo, & qual % todoea ola sempre fazera mais extrzordinae se pode somar (no como acaba no fundo das revolugio na misica popular 1-+1= 2, mas somar por cima, @__redes. Marco meu brasileira, dando-Ihe a ‘como uma vivéncia) qualquer il gol. Como Garrincha, importincia de uma experiéncia _experiénciarelacionada com B sem saber como, de vanguarda, e20 mesmo essa constelagio; no Brasil, a 8 guiado pelo lego, tempo estabeleceram uma pr6pria palavra hoje éusada 3 pelosopro, pela relagio, intencional ou por __para definiralguma coisa muito ‘grandeza escondida acaso, comesperiénciasem _caracteristia, no coletvo; da inteligéncia pobre, outros campos de eriagio, cla virou um agjtivo, uma smagea, marginal—de um comoas produgées teatris __-moda, cobrindoas éreas mais __universo paralelo ao da cultura, deJosé Celso Martinez Corréa_superficiais, mas tambéma ‘No papo eu me safo. A fada (Rei da Vela, pega de Oswald de _reflexdo mais profunda em a fala. & como se nao fosse Andrade, um poeta brasileiro nosso contexto. Embora as minha. £ santo baixado, xaxado. que, desde 1920, infuencion _forgas fascistas brasileeas Agente tirade letra, decor e todos os rumos davanguarda_tentem maté-la estd cada salteado, Escrever é diferente. brasileira com poesiase pegas vez mais claro que algo que _Acaneta na mao me dé outro teatras importantes ~ esse vairesistr,amenosqueelas _babado. Responsabilidade espeticulofoiapresentado _—realmenteconsigammatar_ ~~ comoo fim de um circuito em Nancy, em 1968). Outras_ todas os intuitoscriativos cuidadosamente montado, produgdes de extrordindria __naquelas paragens. Em sofisticado, resultante de uma importancia de José Celso todo caso, a sementeestdse __conscineia poderosa, central foram Reda viva eGalileu de espalhando pelos quatro cantos de energia que guia as idéias Brecht. Ocinema de Glauber da Europa; vamos aguardar os para que elas se escrevam, Rocha Deuseodiabonatena —_—_—Estados Unidos. sejam inseritas, registrem, do soe Tera em trans) pode invistam, capitalizem, reinem, serincludo entre muitas {Escrito em inglés em 1965. cescravizem, imperem. Bscrever produgSes do cinema novo _—Traduzido porDenise Botimann's pra mim & como submeter noBrsileanova divulgagio _partirdefae-similedo PojetoHélio minha cuca a uma disciplina de filmes underground; as Oivcca: cwwwtaueulturalorg. militar. Eu detesto isso, ésem artes plisticas (Gerchman, briapliceterasiencclopediayho! swing, o fim da picada, Detesto. Pape, Manuel, Lanarietc.)€a _homeldsp_home.fm> Pois, um golfinho de poesia ea literatura (iemos mares eariocas resolve iar Campos, Pignatar etc.) ‘o meu sossego ajudado pela também. Haroldo de Campos ingenuidade ou pela burtice escreveu ends conversamos de meia diaia de pessoas que Agredi« © mundo pacato do cidadao apaier a

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