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Il A HISTORICIDADE | DAS CIENCIAS REPRESENTAR, CONHECER, SABER ipo “animal” sto caracterizados pela poss Wu seja, de terem estados internos em fungéi relagdes com o ambiente. Dentre aquilo que os afeta, e impresses que possuem a propriedade de ser automatic: nadas/relacionaveis aos objetos e a0s sujeitos do mundo simplesmente como causas, mas como algo que pode eventualmente valet em seu lugar. Sto as representagdes. As representagdes humanas, a sua natureza e as suas utilizagdes constituem um dos objetos mais importan- tes da filosofia trad como pelas ciéncias da informagao ¢ a comunicacao, pela filosofia das ciéncias ou a historia das mentalidades. Geralmente, pode-se considerar ‘que estes estudos referem-se a cinco operagées princip: An Transmissio/Divulgagdo, Mudanga, ‘ linguagens, sistemas grificos e, de forma_geral, ).A representaca0 humana é, com efeito, ca racterizada pela importancia das externalidades cognitivas (0s livros, as tecas, as calculadoras, etc.) que levam a ultrapassar as capacidades iduais por meio de instrumentos técnicos e significantes. Pode-se mesmo dizer que so estas externalidades que explicam a natureza € os ‘desempenios das representagdes mais caracteristicas da humanidade, como so as que cons . Emo jicar em, procurar na sua ‘comportar elem ), dever geragaio apés geragiio, de objetos extemnos (sistemas de notagdes, protocolos grificos, instrumentos como redes de pesca, dbacos, ctc.). Tenho imediatamente contato com objetos hist6ricos. ‘A relagao do ser humano com o seu ambiente (sobrevivéncia, producao de bens, organizagio) passa, entio, necessariamente, pela colocagao em funcionamento de elementos cuja construgiio e conservagao dependem 197. Pode-se encontrar em Auroux (1993) uma da representagio, bem como uma cartesianos e neo-cartesianos (teria das ids). to geral &teoria dos elementos teoria moderna, a dos flésofos 125 de externalidades e/ou so externalidades; tanto quanto estes elementos referem-se & representagao, trata-se do que se chama “conhecimento”™ ou saber’ Nem todo “saber mente representad ‘nas nossas pr ‘transmissio) representados, taco € reflexiva. represent saber tacito, -m mesmo & necessarite ivel (nfo hd saber sem 10 conhecimentos no los por aprendizagem e imitagao, Uma represen- se sabe, Evidente, as vezes nao é absurdo dizer que se sabia, mas que nfo se sabia o que se sabia, Pode-se tratar das conseqiiéncias no encaradas de um saber do qual se é perfeitamente consciente. De modo geral, nem todas, as representagdes estilo presentes em qualquer momento no meu campo. de consciéneia; posso mesmo ter algumas dificuldades para mobilizar algumas; no que as tena esquecido (elas teriam desaparecido), mi foram colocadas em suspenso. O fato da representagao ser r contrariamente ao que st fia clissica, Isso tem a ver com o fato das representagdes serem realidades materiais. A propriedade clissica da reflexividade retorna de modo que, para que algo seja uma representagdo, é necessario que sejamos capazes de reconstruir a sua significagéo. culturas e/ou diferentes épocas por uma espécie de afi- “semintica”. Sabe-se reconhecer a descri¢ao de um eclipse do 108 Maias, naquilo que para nés aparece como um contexto Independentemente do ambiente cultural onde pode apare= reconhecer a raiz. quadrada de dois. As representagdes siio idéia de que sdo (por diferentes razdes as quais lo que ha de melhor entre o que apreendemos, que concebemos como o mundo, em outros termos, elas tém um, valor intelectual € moral na nossa relacao com 0 mundo. Trata-se das representagdes ou conhecimentos “cientificos”. Nem toda representagdio pertence ao dominio da “ciéncia”. 126 THO OS PARADOXOS DO “CONHECIMENTO” |, desde Plato, 0 conhecimento (ou into de opinides verdadeiras de certo Jo que enten- tipo. A nogdo de opiniao pode ela mesma ser identificada pelo q ddemos hoje por modalidade epistémica, Seja uma proposigdo ps uma ‘modalidade epistémica é da seguinte forma: creio que p ii) sei que p Desde Wittgenstein, distinguimos (i) ¢ (i), admitindo a transparéncia da modalidade (ii; em outros termos, o valor de verdade de (ii) continua idéntico a0 valor de verdade de p. Esta definigio, que capta diversas pro- priedades do que entendemos por “conhecimento” (e, por conseguinte, por “conhecimento cientifico”),ndo esta isenta de paradoxos. Todos eles tém a ver com a definigdo de proposigao e a de verdade. De acordo com a definiglo, “sei que p” = "p" aquilo que se pode interpretar como significando a subjetividade (ou, se quisermos, a instincia de enunciag2o) nfo tem nenhuma importincia na definigio do conhecimento. E 0 que se entende por “objetivi mento; entendem-se igualmente trés outras caracteristicas: primeito, & 0 mesmo para todos (universalidade); segundo, possui um modo de existéncia “real”, o sentido juridico do termo (¢ us de que é, por nature: jossivel mo, é “intangivel” (aquilo que ¢ verdadeiro de ser ensinado; ¢ por € sempre verdadeiro). ‘Todas estas propriedades sto elas mesmas paradoxais. ‘Tomemos a transparncia. Se “ereio que p” ¢ verdad, penso 0 i é io sei nada. Por ‘mesmo para “sei que p”; mas se p ¢ falso, ento eu ni ‘conseguinte, também nada sei a respeito de toda resposta sobre a verdade 198, Podemos “roubar” um conhecimento; nfo “n jpodemos roubar muitas outras coisas de ordem “ideal”: por exempl {ima manifesto ou de uma organizagto. E este estatulo do conhect tomou possivel a existéncia complexa do dieito de patents. de p. Nao se pode dizer que ela propria seja necessaria ranspa- hora para outra, é a fronteira entre conseqiientemente, a favorecida. Se ela tem por \¢do torna-se meramente evo- que recusariam simplesmente reconhecer um ‘conhecimento como tal. Os sujeitos nao podem alterar em nada a verdade; vida, Mas quem pode reconhecé-la? objetivo recorrer & referenciagdo propria a toda representagao, € dizer “o real esta bem aqui”; se vocés esto cegos, pior para vocés. Se a sua representago nfo tem objeto, nao representa ’o é um conhecimento. Mas ainda, pode-se receber um ‘outro golpe, pode-se defrontar com um adversério que responde: “sto ‘vocés que dizem isso”. A tinica resposta: esperem, e vocés verio. vveres, vé-se; 0 real esti ld para dividir: vocés pensam que é de maneira equivocada que se afixou esta ponte que nao suporta mais do que trés, toneladas? Tentem passar com o seu caminhio de doze toneladas. Nem todas as experiéncias cruciais sdo perigosas. A universalidade sofre ainda do paradoxo da expresso. O conheci- mento passa necessariamente pela expressio lingitistica, dado que deve ser comunicavel. Ora, desde o Renascimer \cias constroem-se ‘em linguas nacionais; ha “tradigdes cien conhecimentos namento de cad no fiuncio- ua conhecida. A tradugao é possivel, mas neces- De um lado, o encerramento na tradiglo peca lade; por outro lado, a redugao da diversidade numa lingua de referéncia provoca uma perda de conhecimentos. jentos.que descrevemos e que constituem o conceito de ciéncia, nem sempre é evidente saber aquilo que seja 0 conhecimento na pr 128 CIENCIAS E COMUNIDADES DE CONHECIMENTO mento afetam fortemente 0 que chamamos que tradicionalmente esta €assimilada simplesmente a um conjunto ou sistema de proposigdes verdadeiras (a nogio de sistema introduz um critério de coeréneia, que pode ser tocado. doxos do conhecimento). No entanto, a ciéncia “funcio ue, de certa maneira, ela supera os paradoxos do c olhar concretamente este funcionamento, sem mui Como dado perceptivel, uma cigncia nfo é esse de propostas verdadeiras. E um fendmeno social (coletivo) ao qual se pode atribuir trés componentes: um componente tebrico: evidentemente ele mesmo ¢ composto de repre- sentagdes, mas mais ainda dados empiricos selecionados (exemplares), protocolos para selecionar estes dados e construir as representagdes; - um componente pritico: composto essencialmente de valores ou normas; assim € necessério compreender a concepeo tradicional da ciéncia, mas igualmente outros valores como o carater desinteressado da (pelo qual é necessério hoje compreender nao que a ciéncia no busque alguma utilidade, mas antes que o seu componente teérico no sera construido e determinado de maneira ad hoc por esta utilida- de). Ha igualmente os interesses do conhecimento, a investigagao do ‘conhecimento pode tomar-se um dos objetivos mais ou menos definidos que se prope atingir numa sociedade dada. - um componente conhecimento cienti siveis, sociedades dout: igdes, universidades, revistas, etc.) De certa maneira, pode-se dizer que o sistema cientifico respondeu aos paradoxos do conhecimento pela organizagio de comunidades de conhecimento. Estas so normativas e funcionam com a ajuda do reco- 129 acessivel a todos (forte codificacao e dificuldades de aprendizagem). Resulta inevitavelmente que o seu funcionamento harmonioso numa re 0 fato de que o conjunto da popula- ente, a justificativa da existéncia cas tratassem de valores mais evi ‘em que a democracia cor de cada um; em nome de quer pretexto que seriam falsas ou c se diversos problemas: em atribuir um valor idéntico a opiniao opinides sob .,acrescentam- -fracionamento das comunidades de conhecimento ¢“esfumagamento” do efeito de avaliagao pela diversidade e contrariedade das opiniées de especialistas; = dissidéncias: um “especialista” qualificado (“professor da Uni dade x"; “membro do Instituto y”) pode muito efetivamente utilizar © reconhecimento do qual se beneficia para d ‘opinides contrarias ao da sua comunidade de origem (0 bidlogo pode ser “criacionista”); = disfuncionamentos da comunidade: avali descuidadas ou ausentes, grupos de pressao, funcionamentos podem igdes cientificas (por exemplo, o sistema universitario de recrutamento); correspondem as ‘vezes a entrada em circulagdo de pseudo-conhecimentos (“a meméria da 4gua”); - suspeita social com relagdo di comunidade cientifica: sistema cientifico jd existiu em ia) e necessita de investimentos considerdveis; 1 sua opacidade (a sua “codificagao”) toma suspeitas a finalidade e as, modalidades de um funcionamento que corresponde necessariamente a ‘um “complexo militar-industrial”, o qual pode apenas recorrer a mobi- lizagdes mult is de capitais enormes. 130 tam os pesquisadores, as iedades doutas ir que aquilo do que tratam & endo a “ciéncia”. Se esta claro que a ciéncia nao saberia se reduzir a um de representagdes verdadeiras, ela nao pode mais se reduzir a cétedras € 08 paradoxos da nogio de verdade, nao se pode afasté-la da definicao da ciéncia sem destruir 0 conceito. falamos de

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