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Novas revelacoes das Américas antes de Colombo Bx sirinicaton lenge) telcrentcntcob ets torts eae) Feet Cee im entero So eee The Miami Herald OBJETIVA ‘Copyright © 2005 by Charles C. Mann “Piulo original 1491 —Nev Revelations of the Americas Before Columbus ‘Yontos 8 diccitos desta edigio reservados & EDICORA OBJETIVA LDA, Bua Cosme Vetha, 103 Rio dle Janeiro — RJ = CEP: 22241-090 ‘Vel. (21) 2199-7824 — Fax: (21) 2199-785 wrwur aljeciva.com.br es SUMARIO © Capa Raul Fernandes Revisio. ‘Ana Kronemberger Lilia Zanceei Raquel Correia - Diagramacao Bde casa INTROBUCADO / 0 Erro de Holmberg a visio do alco PARTE UM / Numeros de lugar nenhunr? “que Billington sobreviveu i Terra dos Quatro Quadrantes ates mais freqtientes Para a mulher no escritéria ao lado sem nuvens, como todo o resto PARTE DOIS / Oper muito velhos I CATALOGACATAEOITE ( picistocénicas 5 Nac Hohat Bes BOITORES DE LIVE Fie Tins pita E (ou anchovas) ¢ milho indio ox das duas civilizagdes, Parte It - 1, Hodis ¢ brigadas do balde tee Rens Age ers: Obte 20 ad thas civilizagSes, Parte 11) ye: 14 new revelations ofthe Ametieasbefiee Columbus fallogratta WBN 978-85-9.2-49-2 1 Jalon Cy wlios- Hischria. 3. Indios - Ancighidades 4. Amérisa hie ie iRoom eeshw as Ase de dhiticaslo na America PARTE TRES / Possagem com figuras a9 ebbe070011 ToL 4039-7) 33 67 10g 149 185 Tes FABRICADO NA AMERICA adquiriram toneladas de obsidiana para laminas, pedras semipreciosas para” joalheria, cinzas vulcanicas para temperar ceramicas e, 0 mais importante, mi. tho indio. Como 0 Japao, que exparta bens de consumo eletrdnicos e importa carne dos Estados Unidos e trigo da Austrdlia, Chichén Ited aparentementé comerciou as solugdes necessdrias para atravessar as secas, O contraste entre o norte ¢ 0 sul ¢ impressionante — e instrutive. A ébvit diferenga entre eles foi o século € meio de guerra em grande escala no sul bas as porgdes do teino maia dependiam de paisagens attificiais que exigi: atengao constante. Mas somente no sul a elite maia, arrebatada por visdes ¢ sua prdpria gléria, titou as maos dos controles. A seca certamente pressios Amazénia causaram uma série de mas colheitas nos anos 1970 ¢ 1980, mas ningt argumenta que o clima tenha acabado com o dominio comunista. Da is a dignidade de atribuir-lhes a resp O QUE ORELLANA VIU maneira, dever-se-ia conferir aos m: sabilidade pelos scus fracassos, assim com por seus sucessos, Cahokia e os maias, fogo e milho indio: tudo exemplifica a nova maior dificuldade para reconstruir o passado pré-colombiano é a auséncia ® vores prepressas, Os povos mesoamericanos deixaram textos que lentamen- esto revelando os seus segredos: em. outras areas, porén, a austncia de Nas eseritas deixou um grande silencio. Com efeite, podem-se encontrar icagdes sobre acontecimentos passados nas tradigdes orais americanas na- # mas clas se preocupam mais com a interpretacao de verdades eternas do com detalhes de jornalismo ou histéria. A Biblia tem muito a ensinan a0 ensinar histésia do Oriente Médio, os professores ttn de empregé- diciosamente, suplementando-a com outras fontes. Do mesma modo, heres indios preservados profetam uma luz brilhantemente colorida mas ta sobre 0 passado, Para entender a vida das indios antigos, nfo se pode 95 relatos dos primeiros povos alfabetizados que os viram: ferrabrases, lores dle fortuna ¢ missiondrios europeus. dos impactos indigenas sobre o meio ambiente. Quando aumentaram Pi 8 primeira vea a sua estimativa do manejo ecoldgico dos fndios, os estud lerdvel resisténcia, especialmente da parte de ecologis| encontraram cor ambientalistas. O desacordo, que tem implicag6es polfticas ramificad: condensado na Amazénia, tema para o qual me voltarci agora. Nos al centes, um niimero crescente de pesquisadores tem argumentado que @ ciedades fndias tiveram lf um enorme impacto politico. Como as paisa Cahokia ¢ da regio central maia, dizem alguns antropélogos, a grande ta amazénica também ¢ um artefato cultural — isto é, um objeto artifich Como fontes histéricas, os relatos coloniais deixam muito a desejar. Seus cram freqiientemente adversdrios dos indios sobre quem escreviam, ante niio falavam as linguas necessérias, ¢ quase semprea sua priotidade i exatamente descrever empaticamente os costumes indigenas. Alguns Him pita promover as suas carreiras; outros, para marcar pontos na peli- io obstante, essay erOmicas nfio podem ser descartadas Por estas razéies, Cautclosamenite, Gay podem corroborar, até esclarece owtorda primeira descrigio escrita da loaclo, quase desde o dia da sua Nascidé por volta yoo AMAZONIA 81 — Novas revelardes sobec as Américas antes de Colombo 3o! dominicana ¢ foi para América do Sul para converter os inka. Ele chegou em 1536, quatro anos depois da queda de Ataualpa. Francisco Pizarro, entéo governador do Peru, estava aprendendo que, para evitar eclostics de violéncia itl, era preciso manter os seus hamens acupados o tempo todo. Um dos seus plores criadores de caso era o seu meig-irmao, Gonzalo Pizarro. Na ¢poca, a) nocicdade conquistadora fervilhava com histdrias de El Dorado, um rei native’ que possuiria tanto ouro que, num ritual anual, pintava o corpo com ouro em lavando depois a camada brilhante num lago especial. Depois de séculos ilesses banhos, 0 ouro em pd acarpetava o fundo do lago. Um lago de ouro! Para ouvidos do século XX, a histéria parece absurda, mas nfo para Gonzalo Mearro, que j4 havia ajudado a capturar um império abarrotado de jdias e me- ais preciosos, Quando ele decid procurar El Dorado, Francisco 0 encorajou | praticamente 0 empurrou porta afora. Em 1541, Gonzalo partiu da alta cidade andina de Quito a testa de uma expedicio de 200 a 280 soldados es- Panhdis (os relatos diferem), 2 mil porcos e 4 mil indios das montanhas, estes ‘iltimos escravos em tudo, menos no nome, Gaspar de Carvajal acompanhava “Wi ropas na condigao de capelio, A buisca de Gonzalo degenerou rapidamente, passando de quixotesca @ calamitosa, Sen: nenhuma idéia de onde encontrar El Dorado, ele errou aleas Jorlamente durante meses nos contrafortes orientais dos Andes, entéo como ‘ora uma regio de densas florestas, Como as montanhas captam toda ‘Wnidade dos veittos amaznicas, o terreno é to timido quanto é ingreme. im ¢ fervilhantemente vive: ululante de insetos, quente e imido como pedigiio ficou sem comida. A floresta em volta tinha muito alimento, mas os espanhdis nao sabiam quais plantas eram comestiveis, Em vez disso, comeram todos os porcos sobreviventes, depois os cies, ¢ depois comesaram a alancear lagartos, Cada vez mais homens cafam doentes, Tendo ouvido vagas histérias sobre uma regido tica mais adiante Napo abaixo, Francisco Orellana, segundo ho comando e primo de Gonzalo Pizarro, sugeriu dividir a expedigao para ver se conseguiam obter suprimentos. Pizarro concordou ¢ Orellana partiu no yalioso barce da expedigao em 26 de decembro de 1541, com uma equipagem de 59 membros, Carvajal entre cles. Nove dias ¢ 960 quilémetros Napo abaixo, Orellana encontrou povoa- sos com comida — uma sociedade que ele chamou de Omagua. Scus homens fartaram e depois consideraram as opgdes. Eles no gostaram da perspectiva retornar rio acima, levando suprimentos para Gonzalo Pizarro eo restante jt expedigao; remar contra a corrente seria dificil e, como estavam cansados saber, nio havia nada para comer aa longo do caminho, Em ver disso, Orellana decidiu abandonar o faminto Gonzalo A prdpria sorte ¢ rumou o yirco para a foz do rio, que corretamente ele acreditava desaguar no Atlantico mcorretamente, cle cria que o rio nfo fosse muito extenso). Sabendo que Gonzalo, no improvavel caso de que sobrevivesse, consi- fatia as ages de Orellana como traigio, Carvajal assumiu para si a tarefa forjar um testemunho justificatério: um relato “provando” que a decisio abandonar Gonzalo lhes fora imposta, Para satisfazer as exigéncias legais inholas, Orellana encenou a sua rentincia ao comando provisério para nao le omar a decisio de abandonar Gonzalo. Entao, afirmou Carvajal, os ho- nus da equipagem juraram “per Deus... pelo sinal da Cruz [e] pelos quatra angclhos sagrados” que queriam que Orellana yoltasse ao comando. Ceden 4 pressio, Orellana aceitou o posto. Entio eles construitam uma segunda barcagio ¢ partiram corrente abaixo. Os seuis temotes em relagao a uma eventual reagto de Gonzalo eram bem dados. Meio ano apés a partida de Orellana, os membros sobreviventes da ligko entraram maltrapilhos ¢ cambaleantes em Quito. Gonzalo estava cles. Fle naio perdeu tempo para pedir a prisio ¢ execuco de Orellana. fomar o barco, a maior parte das canoas ¢ algumas das armas dos seus sol- esfomeados, Orellana demonstrou, disse Gonzalo, “a maior crueldade fos. Em semanas, a maioria dos cavalos tinha morrido, seus cascos apo: jo no atoleiro, O mesmo aconteceu com a maior parte dos indios tras s ¢ equipamentos pesados até o tio Napo, um afluente a montante ido Amazonas. Enguanto isso, os soldados iam mourejando ao longo das m gens; wm curso paralclo mas mais trabalhoso. ; A floresta tornava-se cada vez mais densa, a zona rural menos habitadiy Loga eles estavam completamente 56s, “Nemhutna embarcagio ondulava Homnale torn lene! stb meteeracd,” , cacreveut William H. Prescort ein iit Hintery of the Conquest af Per { Nesse over Ornllaat eens homens tin A Ver, apenas os iaeys mide todos os momentos. E inconce- Hie. hes inapinusse temor ¢ revertncia, 8 AMAZONIA 1491 — Novas revelycScs sobre as Américasantes de Colombo 63 contém um quinto da 4gua potdvel de superficie da ‘Terra. Ele tem ilhas tamanho de paises ¢ massas de vegetagao flutuante do tamanho de ilhas. Mel diizia dos scus tributarios seriam rios mundialmente notdveis em qualq) outro lugar do planeta. A 1.600 quilémetros a partir do Atlintico, 0 rio col tinua to grande que, na maré alta, a outra margem é apenas uma ténue li no horizonte. Balsas levam meia hora para fazer a travessia, Navios ocean) pereorrem todo 0 caminho até Iquitos, no Peru, a 3.700 quilémetros da do rio, 0 porte oceanico mais interior do mundo. Com a perspectiva de um julgamento por motim sempre em mente, Cj vajal escreveu relativamente pouco sobre scus extraordindrios arredores, Em disso, concentrou-se em ctiar uma causa cm defesa do valor € da necessidade| jornada de Orellana, Aes olhos contemporineos, ele néo tinha muito com | trabalhar, Sua defesa articulava és elementos principais: (1) 0 fato de Orel ter sido obrigado (ver acima): (2) a devogio da equipagem a Virgem: ¢ @ quanto cles estavam sofrendo no curso da empreitada. Na verdade, este «lt argumento nfo parece ter sido fingido, No relato de Carvajal, a dorea doeng s comenclo.o couro dos assentose ternavam-se com a fome, “Nos estdvs ras de selas”, conta uma das suas tipicas reminiscéncias. “Para ndo menclg solas e até mesmo botas inteiras, [sem] tempero algun além da prépria fom Encontres com habitantes ribeirinhos cram freqiientes e amitide h Passar pelos dominios nativos enfileirados ao longo do rio era como por uma ficira de colmeiss zangadas. Avisados por tambor e mensage chegada dos visitantes, os indios os esperavam atrés de drvores e em cand Perto da foz do Tapajés, a cerca de 650 quilémetros do mar, a malta de condidas, disparavam fuziladas de flechas envenenadas, ¢ se retiravam. Dyellana se deparou com o maior assentamento {ndio até entéo — suas moradias quilémetros rio abaixo, estaria o grupo seguinte de indios, ¢ o proximo @ \jortas enfileiravam-se 4 margem do rio por mais de 160 quilémetros, “Para o Exceto quando era preciso atranjar comida, a cxpedigao navegava © efior a partir do rio, a uma distancia de uma ou duas léguas... era poss{vel ver tante possivel de cada povoado. Nao obstante, trés espanhdis morrtti mas cidades muito grandes.” Uma forga de recepgfio flutuante de mais de batatha. Uma flecha acertou Carvajal no rosto, cegando-o de um olka, jamrocentos indios — duzentas canoas de guerra, cada qual carregando vinte ou Carvajal pouco escreveu sobre os povos que gastaram tanto 0c pessoas—satidou os espanhdis. Centenas ou niilhares mais estavam esperan- tando maté-lo, Mas 0 pouco que escreveu descreve ama terra den Jo alto da ribanceisa na margem sul, acenando folhas de palmeira em sincronia ‘sta convencional da Amaz6nia: loresta viggems incerminavel, A floresta certamente exisce, nas © género humano € hi muito um dos seus eamponentes essenciais, povoada ¢ préspera, Aproximando-se do que hoje éa fronteira Brasil lh criar uma espécie de ola de futebol, o que Carvajal achou definitivamente observou que “quanto mais longe famos, mais densamente povoada'€ pho c enervante, Si jo fixou-se na cena, ¢ por uma ver ele anotou encontravamos a terra.” Uma extensito de 290 quilémetros era “intel w detalhes. Aproximanelove im suas grandes canoas, os soldados indios usa- habitada, pois no havia, de povoada em povoddo, sequer um tire Ce) mantos de penas brilhiansen Atri da armada de canoas, havia uma orquestra Os tndios seguintes rio abaxo posmalim “Gsentamentos numcroson Oe Lherrances, lawton @ comelas cue lembravamn rabecas. Quando a grandes, uma mui bela regio 6 16 i a.” I? loge depron, fe SOV, Oo sida sarpiesa cridcla polar armaw de colades um no outra = “herve \ Of for tl | oom AMAZONIA 1491. Novas revclapSice sobre as Amérieas antes de Colombo a5 ge de ser selva cterna de 1 milhao de anos retratada em calendérios, dizem clentistas, a floresta de hoje & produto de uma interacao histérica entre © ambiente ¢ seres humanos — seres humanos na forma das sociedades lis populosas ¢ duradoutas desetitas por Carvajal. Ihis alicmagées erigam os pélos de muitos conservacionistas ¢ ecologis- A AmazOnia, advertem os ativistas, resvala para a catdstrofe tio rapida- que salvé-la precisa rornar-se priotidade global. Com tratores prontos tlestruir uma das tltimas grandes dreas selvagens do planeta, dizem os cntalistas, afirmar que a bacia abrigou confortavelmente por milénios Jes ntimeros de pessoas ¢ t40 itresponsdvel que quase chega a ser imoral uivale a dar sinal verde para os fomentadores, A Amazénia ndo é selvagem, replicam os atquedlogos e antropdlogas. E fat quie seja, ind, por ignorancia, piorar as doengas ecolégicas que os pré- _ativistas gostariam de curar, Como seus confrades em outras partes das cas, as sociedades indias construfram um notavel corpo de conhecimen- bre como manejar ¢ melhorar 0 seu meio ambiente. Ao negar a prép: lidade de tais praticas, dizem esses pesquisadores, os ambientalistas po- wessar, em vez de deter, a morte da floresta, em Lima, morrendo pacificamente aos 80 anos de idade, Nem a jorna Orellana nem o relato de Carvajal receberam a atengio que mercciam @ efeito, a obra de Carvajal sé foi formalmente publicada em 1894. Patt razdo dessa indiferenga € que Orellana nio conquistou nada — apenas @ seguiu sair com vida, Mas a outra parte é que pottcas pessoas acreditarg deserigado que Carvajal fez da Amazbnia. A causa principal do ceticismo foi a sua célebre afirmagao de que, a caminho rio abaixo, os espanhdis teriam sido atacados por mulheres alt os scios de fora, que lutavam sem trégua e viviam sem homens. Quandg riam reproduzix, explicou Carvajal, essas “amazonas” capturayam ho} Depois de seus “caprichos terem sido satisfeitos”, elas voltavam ¢ de’ de satisfazer capriches atraente o bastante para visitar a Amazonia, solenemente Carvajal, “partiria rapaz ¢ voltatia um velho.” Esta histéria da foi vista como prova da falsidade de Carvajal ¢ da infidelidade de O * Mentiroso", zombou o historiador Francisco Léper Gémara logo dep Carvajal acabou 0 manuscrito, Qs cientistas naturais mostraram-se especialmente indispostos cio a sua descrigta da Amarénia, Pata.os ecologistas, a grande flosesta t na América do Sul era ¢ € a maior selva do planeta, primeva e antig regido edénica apenas levemente tocada pelo género humano, se é que Inibidas por um clima drduo, solos pobres e falta de proteinas, angi esses cientistas, sociedades de larga escala nunca existiram — ¢ jamais existir — na bacia do rio. A AmazOnia nio podia, portanto, ter sido @ racio apimhada descrita por Carvajal. Porém, & medida que aprenderam mais sobre os caprichos do trai campo, os antropélogos passaram a tratar Carvajal mais gentilme ser que ele nao tenha inventado as amazonas”, disse-me William Ba pélogo de Tulane, “E possivel que tenha visto guerreiras, ou gueri pensou que fossem mulheres. E se perguntow aos indios sobre clas, ter entendido as suas respostas dircito. Ou pode té-las entendido te, mas sem perceber que estavam brincando com ele, Hoje nds PRISAO VERDE wlista do século XIX Thomas Belt pode téLo dito mefhor. No que considerou “a methor de todas as tevistas de histéria natural”, Belt pees 0 que seria a imagem clissica da floresta tropical: uma extensio st, prolifica, de biologia indomitamente diversa, mas de outro modo nda, “Uma sucessio infinita de vida em mogdo perpétua urde o pa- florescal dos trépicos num todo mondtono”, camo ele disse, E desde tle Belt, termos como “Amaz6nia” e “bacia amazinica” so freqliente- walos como se fizessem referéncia a uma entidade nica, homogénea, pidtica icrita extremamente os geégrafos profissionais, Estritamente f termo “bacia amarénica” refere-se a area drenada pelo Amazonas demos que a etnografia ¢ complexa, e que ¢ facil enganar-sc.” Nessey alluentes, “Amazdnia”, em contraste, refere-se a regiéo mais ampla anos, aquelas recusas em bloco foram questionadas. 4s. aeste pelos Andes, 0 Escudo da Guiana ao nerve, ¢ o Esouda ‘Mais imporeante, os antropélogos, anqueblogos, etgisiou Cal #0 sul. I nenhum desses termos € coextensivo a “floresta tropical res que estayam reavafiando o impacto das culturas indigenas nas ADM ti também chamada “de chuva.” Para comegar, nem toda a floresta Norte ¢ Central volraram-se inevitavelmente para a floresta wople # Gmurbinica é chuvosa — partes dela recebem pouco mais precipitagio meros crescentes, o¢ pescyuisaclorea aacreditar que a baci Weidide de Nova York, Além disso, cerca de um tergo da Amazdnia ‘tonas também portasse as: pe dos vous hobitantes | Tid havin =o, Beil, ia Bolivia, comstiteiecke i mas musier pate yon AMAZONIA te, A planicie aluvial de rio e aquela dos seus afluentes ocupam outros de (10% da bacia, Somente cerea da metade da Amazénia € floresta plandleic: -rrepadeiras suspensas numa massa confusa semelhante a veleiros aparethad por bébados; galhos de drvores em nmiftiplas camadas; besouros do tamanh de borboletas e borboletas do tamanhe de passaros—o ecossistema que a gent de fora geralmente significa quando diz “Amaz6nia.” bidlogos, a aparente fertilidade da floresta plandltica & uma imp tura. Esta tese foi enunciada claramente no estudo classico de 1952 de P: Richards, Te Tropical Rain Forest [A Moresta tropical]. Com certeza, diz chards, a floresta amaz6nica é unicamente diversa ¢ bela, Mas a sua candpi exuberante € uma mascara que cobre uma base empobrecida. A base é 0 sol pobre da regio, Nao importa qual renha sido a sua condicao original, a ch va intensa e o calor da floresta crodiram a sua superficie, lixiviaram todos seus minerais ¢ decompuseram compostos orginicos vitals, Resulta que gta de parte do solo vetmelho da Amazdnia encontra-se desgastado, severament dcido ¢ quase totalmente desprovido de mutrientes essenciais — raxao pela qu ecologistas referemese floresta tropical como um “deserto umido.” Correspondentemente, a maior parte dos nutrientes nas florestas tropi Info estd estocada no-solo, como nas segises temperudas, mas na vegetagiio q . Quando as folhas ow galhos caem, 6 carbona € 0 nitrogénio nos resf so reabsorvidos pelos sistemas de rafzes hipereficientes das plantas tropi q madirciros ou fazendeiros derrubam esta vegetagao, também esto. 0 0 suprimento local de nutrientes, Normalmente, a floresta preen unte as Areas desmatadas, como as criadas quando grandes drvores cae! io mantidos num patamar mfnimo, Mas se a clareira for demasi 64 © solo for mantido limpo por tempo demais, o sol e a chuva dec: gjialquer matéria organica restante © assam a superficie, transformant algo parecido com um tijolo, tanto na cor quanto na impermeabilidac Thentamente, a terra torna-se quase incapas de sustentar a vida. Assim, a flo opical, xpesar da sua fabulosa vitalidade, vive no fio da navalha. Essas opinides foram colhidas e ampliadas em Annazénia: A Ilusio de Pyowire, de Betty Moggers, arquedloga smithsoniana. Publicado em 1971 possivel que seja o liveo mais influente jamais escrito sobre a AmazOnii ageiculcura, salientou Meggers, depende da extragao da riqueza do- solo. G Potion riqueza para cxtrair, o: whores amazdnicos enfrentam limit ceoldgicns increntes, A dinica forma ike wgricultura que cles podem pr POO muito jempo do ogricubiare -e-queimar” ou de "e vewes t conbeckda, On Tubam pequenion Campen Fesichuon, ©) : BACIA DO AMAZONAS 1491 — Novas revelagties sobre as Américas antes de Colombo 309 sae AMAZONIA sementes. A cinza cede ao solo uma dose rdpida de nutrientes, dando u: chance a safra, Enquanto a safra cresce, a floresta retorna rapidamente — erva daninhas em primeiro, depois drvores tropicais de crescimento rapido. Ni poucos anos antes de a floresta recobrir a area, os cultivadores poderao arrat car alguma coisa da terra. “Derrubar-e-queimar”, disse-me Meggers, “é uma excelente resposta limites ecoldgicos.” Os fazendeitos retiram poucas colhcitas, mas a solo nj fica desprotegido da chuva e do sol durante tempo bastante para softer da petmanentes, Mudando de campo em campo, os agricultores de coivara vem na floresta sem destruir os ecossistemas de que dependem: uma harmo flexivel, equilibrada. Segundo esta teoria, este antigo modo de vida sobrev! hoje nas aldeias circulares dos yanomamis. (A maior parte dos yanom vive na verdade em torno de outro imenso sistema fluvial da América do odo Orinoco, mas séo vistos como igualmente emblemaéticos da Amaz6! Destizando quase nus sob as drvores, cultivando suas hortas tempordrias, se freqlicntemente que os yanomamis sao verdadeiras janclas para o p: os yanomamis sfo amitide retratados como janelas para 9 passa- Colebridades etnograficas, vo jana poi Jo, habitatites de uma floresta selvagem quasc inalterada onde vem Hotusdos recentes Langaram alguma ciivida sobre este quadzo, Com efeito, luivamente reeém chegados em sua patria, muitos deles tendo se mud. ‘XVIL, ao fagir das docngas da crueldade euzopéias mais 20 sul. Alguns estudio~ maiores ¢ materialmente mais nio danificou a floresta, disse-me Meggers, uma atestagdo da capacid: pratica de derrubar-e-queimar de manter grupos humanos sustentavel dentro dos rigidos limites ecoldgicos dos trépicos. Uma segunda razdo pela qual a coivara € necessdria, disse-me Me os yantomamissio jada para Li apenas séeu aereditam que as stas saciedades foram originalmente tao emateriaimente m pleas, que aquilo qac é amitide apeesentado como uma extsténcia idea “hatural” na dade rio passa de uma vida pobre no ext, Nifio superfortes que ocorrem a cada trezentos a quinhentos anos. No tro arqueolégico, disse ela, “ndés podemos localizar secas severas relacio a esses eventos mega-Nifio. O que clas fizeram foi reduzir o suprime: alimentos. Q El Nifio de 1998 foi um pequeno exemplo ~ eles vira incéndios Aorestais e redugao de recursos, do momento em que as 4 nao florescem.” Naquele ano, os incéndios florestais no estado setentr ivos podem produzir o excedente requeride, mas nfo sto capaues de ayem-sey a terra arada, exposta aos elementos, ¢ destruida no curtissimo Jo de wma década, Mesmo com dertubar-e-queimat, dizem os ecologis- floresta pode levar até cem anos para retornar completamente ao seu anterior, Uma agricultura ao estilo europeu nao sé cairia vitima de 1 Nios, mas arruinaria permanentemente as selos da floresta. Ivajah portanto, no compreenden 0 que cstava vendo, disse-me _ Ou enti cle simplesmente inventou sudo, € nao apenas @ amazonas. ante armadilha verde, os povoados indios nao poderiam dio tanto quanto cle relarou ~ com efeito, Meggers certa vez propés ine populacional maximo de mil habitantes. E os pevoados tampouco fer sido os lugares sofistionsdos que cle descreve. com seus chefes uspecializacios {como os muisicos mili- 8 atqquedlogas ¢ antropdlogos Unidas, No pasado, disse Meggets, “os grupos bem estabelecidos ¢ vam instalados num determinado territério ha varias centenas de 4 conseguiram sobreviver [As secas] e, por causa disso, separaram-se, isto se repetir pelo menos quatro veres nos tiltimos dois milénios palavras, quaisquer fndios que tentassem ir além do derrubar-e- quel estabelecer cultivos permancntes seria empurrade de volta ao dern mar porum mega-Nifio, Derrubiitet iit, tlisse ela, “evita, a risco do crescimento == ¢ 1 Gale] numa luxe = 1491— Novas revclagiea sobre as Anideless antes de Colontho ao encontraram ruinas de sociedades complexas em todaa Mesoamerica e nos des, mas so viram cacadores-coletores e agricultores de coivara na Amazéni “© bisico sobre a Amazénia ¢ que aquela gente teve um prazo lo para aprender, experimentar ¢ tirar proveito do seu conhecimento do i ambiente”, disse Meggers. “Qualquer grupo que explorasse excessivamer seu ambiente estaria morto. Para os que sobreviveram, o conhecimento nou-se uma parte permanente da sua ideologia e do seu comportamento, tabus ¢-outros tipos de coisa.” Tendo alcangado o nivel cultural timo p: scti meio ambiente, explicou ela, a vida do indio amazénico mudou pouc que mudou, nos tiltimos 2 mil anos. _ Este determinante opera uniformements, independente de tempo, Como prova, Meggers aponta para Marajd, uma ilha com mais de d at (no interior da floresta), psicologia ou raga. Seu efeito nivelador pa- vezes o tamanho de Nova Jersey, pousada como uma tampa na foz do An scr inescapavel. Mesmo os esforgos modernos para implantar civiliza- nas. A ilha, baixa e freqtientemente pantanosa, foi criada pela colisio do A 4 flotesta tropical sul-americana foram frusteados, ou sé sobrevivem ronas com © mar, que forga o rio a vomitar sedimentos dissolvidos. Gr «\ assisténcia externa constante. Em suma, o potencial ambiental da flo- parte da ilha fica submersa durante a estagdo chuvosa, ¢ mesino ito veri a topical é suficiente para permitir que a evolugio da cultura continue pedagos das margens sinuesas se desprendem constantemente come icel ente até o nivel representado por [cultivadores de coivara); qualquer ecaem na dgua. Contudo, apesar do cendrio inauspicioso, o matajoara €f ico indigena ulterior é impossivel, e qualquer cultura mais altamente la uma sociedade sofisticada, de cerca de 800 a 1400 d.C. ida que busque se estabelecer e mantet' 0 ambiente cla floresta trop) A ceramica da ilha, algumas das quais muito grandes, sio ha muita ic decaic inevitavelmente para 0 nivel [da coivaral. lebradas por suas representagées pintadas ¢ gravacas de animais e de pl adornadamente emaranhados, numa profusdo que lembra a prépria flor Avrefinada ceramica mostra que Marajé era uma sociedade de larga esc tinica entao conhecida em toda a Amazénia. No final dos anos 1940, } ¢ seu marido, o arquedlogo Clifford J. Evans, decidiram saber mais, A decisio era ambiciosa, Os arquedlogos evitavam tradicionalmente ae restas tropicais, pois o — exceto por cerimicas ¢ pedras, pouco resta a escavar, Ea bacia do Am em sua esséncia um vale ribeirinho extraotdinariamente grande feito de bat {ys ues anos depois, numa influence monografia, Matajé, disseram eles, positado, quase nao tem pedras, de modo que nem isso os arquedlogos ach yealimente uma sociedade amazénica. Foi, na verdade, uma muda que (Como os depésitos mais préximos de minério metdlico estavam nos ou de wna cultura mais sofisticada nos Andes, prima dos wari ou dos snilhares de quilémettos rio acima, os povos amaz6nicos nao tinham meta . Tendo chegado ao descrto timido da Amarénia, a cultura lutou para Em Marajé, Meggets ¢ Evans logo observaram uma singularidad a bases, cambaleou uns tantos passos ¢ depois morreu, gos mais primitives da cultura marajoara cram os mais elaborados. G Heda de um Paratse oi produro de mais de vinte anos de pesquisa. passar das séculos, a qualidade das ceramicas decinow inexoravelment lo foi a inica rao da influéncia do livro. A mensagem de limi- desenhos tornaram-se mais brutos, reduzi [ Mopgors, publicada menos de um ano depois do primeico Dia da a habilidade técnica. No comeso, alguns sitios rumulares cram mois cl do que outros, um tesicnmunha de esmaeificnetio social, Posteriormont, | ‘95 moctos enti tratadow dal Hoses of Drerkoees (N02) & vin. obeu- prison da litergiusa do néculo XX. O-livea conta prodiana, as No comeya danua : Faas slr. oon Face do saline Ku la on Sawin he ‘ay cia es calilalinna eusopen INL aba 1) eiras. Mas & medida que a floresta, num pracesso ao modo de Coraséio de * fol arrancando as camadas de civilizacio, eles se tornaram indistinguf- ilos seus vizinhos. Cem anos antes de Colombo, disse-me Meggers, cles arruinados por um mega-Nifio e, depois, conquistados por um dos seus fa inferiores. A histéria de Marajé foi toda de queda, sem ascensio. artigo corajosamente escrito na American Anthropologist em 1954, explicitou as implicag6er Hi wma forga em movimento a qual o homem em sua cultura tem de cur \nopossibilidade de ir além de derrubar-e-queimar, disse Meggers, ¢ nicia de uma “lei de limitacdo ambiental da cultura’ mais geral. E ela wy a lei peifando a sua importancia: “O mtved ao gual urna cultera pode se depende do potencial agricola do ambiente que ela oetupa.” mo cscapou Marajé, mesmo que temporariamente, da mao de ferro do sste? I por que nao havia indfcios da sua escalada inicial além dos limi- 20s, mas apenas do seu colapso subseqtiente? Meggers e Evans deram ya AMAZONIA ‘Terra, repercutiu nos ouwidos de lcitores recém-convertides ao movimento ecolégico. Desde entéo, inumeraveis campanhas para salvar a floresta tropi enfatizaram a ligao de Meggers: desenvolver a Horesta tropical desttdi tanto floresta quanto os seus fomentadores. Divulgado em manuais de ecologia, @ argumento de Meggers tornou-se um manancial das campanhas de salvamet to das florestas tropicais, uma das poucas vezes na histéria recente em que humanidade realmente tentou tirar ligdes do passado, Contudo, mesmo que os temas de A Husto de wm Paratso tenhar se disseminado nos mundos da ciéncia natural ¢ do ativismo politica) as idéias de Meggers exerceram uma influéncia sempre decrescente campo da arqueologia ela mesma. De seu distinto posto na Institui¢ Smithsoniana, ela lutou em prol da Ici da limitagao ambiental. Mas a su principal realizagao pode ter sido, inadvertidamente, e vas sobre a histéria da AmazOnia chegassem ao conhecimento do publi — idéias sobre o passado da Amazdnia que podem, segundo seus defens) res, desempenhar um papel na salvaguarda do seu futuro, CAVERNA DA PEDRA PINTADA “Ao revés da admiragio ou do entusiasmo”, escreveu o grande esctitor brasil Euclides da Cunha no final do século XIX, “o que nos sobressalta geral diante do Amazonas... € antes um desapontamento.” Como as brochur ecoturismo hoje, os relatos sobre a grande bacia fluvial na época de Ey da Cunha celebravam a imensidio, mas raramente se estendiam sobre @ exttema insipidez — nos primeiros 4.700 quilémetros do Amazonas, a q vertical ¢ de apenas 150 metros. “Em poucas horas 0 observador cede gas de monotonia inaturavel.” Todo ano o rio enche — no é um d mas uma estagio. Um canal com 1,600 metros de largura na estagia tcansforma num rio de 50 quilémetros de largura. Apés cinco niesess recuam, deixando para tris uma camada de ticos sedimentos, Visto o rio parece escoar lentamente como metal impuro através de uma & de verde inteiramente desprovida dos romAnticos penhascos, ravinas que; para a maioria das pessoas de descencla selvagem ¢ o espeticulo natural. A drea em torno da cidade de Santarém, no babe excegio, A oeste da cidade, 6 Thpajds desigun ne Amanenay vin criando uma bala inverior que Herm na amare alia, 160 i i europél $451 — Novas revelapdes sobre ai Aniétices antesde Colombo ya has baixas com Agua’ altura do joelho, deixando suas ryores a projetarem- se como milagres no meio do leito, Os pescadores da cidade levam as suas bicicletas nos seus pequenos botes, estacionando-as enquante crabalham penduradas nas atvores longe da margem. A baia é rodeada por ribanceiras com altura suficiente para projetar Longas sombras. Quase quinhentes anos atrés, os {ndios se alinharam no cimo, zombando de Orellana, acenando folhas de palmeira. No lado oposto, na margem setentrional do rio, h4 uma série de espi- sshagos calcatios que descem do Escudo da Guiana ao notte, parando perea da beira d’égua, Com 150 metros ou sais, eles se clevam acima da candpia como, velhas ldpides. Muttas das cavernas nas colinas rochosas isoladas sao salpicadas de pictogramas antigos ~ pinturas tupestres de mos, esteelas, sapos figuras humanas, todas reminiseentes de Joan Mird, em vermelho, amatelo ¢ marrom jobrepostos. Nos anos 1990, uma dessas cavernas, a Caverna da Pedra Pintada, chamou consideravelmente a atengao nos clrculos arqueolégicos. Ampla, rasa ¢ bem iluminada, a Caverna da Pedra Fintada ¢ menos api- Iphada de morcegos do que algumas das outras cavernas, A entrada em arco m 6 metros de altura e é vibrante de imagens espalhafarosas, Na frente, ha in patio natural ensolarado, préprio para piqueniques, defimitado por umas sucas rochas, Durante a minha visita, eu comi um sanduiche no alto de uma Ira particularmente convidativa, olhanda através de um grupo de pupu- 1as que se elevava acima do alto das drvores paraa agua a 11 quilémetros de stincia. As pessoas que ctiaram aqueles petroglifos devem ter feito a mesma isa, pensei eu cam meus botdes, ‘A Caverna da Pedra Pintada atraiu cientistas desde meados do século . quando Alfred Russel Wallace a visitou, Wallace, um naturalista, estava is interessado nas palmeiras fora da cavetna do que nas pessoas que viveram yiro dela. Estas Ultimas foram deixadas para uma arquedloga, Anna C, Roo- Jr, entdo no Field Museum. Para sua exasperacio, os relatos de imprensa trabalho de Roosevelt freqiientemente destacavam a sua descendéncia de ‘odore Roosevelt (ela ¢ sua bisneta), como se sua linhagem Fosse mais digna hota clo que as suas realizagées, Na verdade, contudo, ela demonsttou ter sendo algo da chama de sew ancestral pelo drama e a controvérsia. Roosevelt chamou pela primeira vez.a atengia quando reescavou Marajé wnos 1980, Usanea wma bateria de novas técnicas de sensorlamento re- p= inclusive ndo estagiio total, radar de variagdes na forga do campo eldtricn = ela foi capax. cle. coms a AMAZONIA ¢ Evans puderam farer nas décadas de 1940 e 1950, quando trabalharam li. Mais detalhado — ¢ diferente, Publicado em 1991, o relatério inicial de Roosevelt sobre Marajé foi como uma espécie de versio antimaréria de A Justo de um Paraiso. Poucos cientistas tinham questionado as id¢ias de Meggers; Roosevelt as atacou as- peramente, de alto a baixo, Longe de ser uma ramificagio fracassada de outra cultura mais clevada, concluiu cla, Marajé foi “uma das notaveis realizages culturais do Novo Mundo”, um centro de poder que durou mais de mil anos, “cinha possivelmente mais de 100 mil habitantes’, e cobria milhares de qui- lémettos quadrados, Em vez de danificarem a floresta, a “grande populagao [de Marajd], a subsisténcia alramente intensiva, [c] os importantes sistemas de obras piiblicas” a melhonanamy os lugares antigos ocupados pelos marajoaras mostram os florescimentos mais diversos ¢ luxuriantes. “Se vacé for pela teoria de Meggets, esses lugares deveriam estar arruinados”, disse-me Roosevelt. Em vez de exercer pressio sobre Marajd, disse cla, 0 rio ¢ a floresta abriam, possibilidades. Nas montanhas do México, “nao era facil escapar de outros gru- pos. Com toclas aqueles declives rochosos ¢ desertos, nio era nada facil comegar outra vez. Mas na Amazonia, vocé podia fugir ~ pegat a sua canoa, ¢ pronto.” Como em Huckleberry Fin, perguntei eu, “Voce & quem diz”, disse ela. “Wocé podia ir [a0 longo do rio] aonde quie sesse ¢ estabelecer-se — a loresta dé todo tipo de frutas ¢ animais, 0 rio dé peix eplantas, Isto era muito importante para sociedades como Marajé. Eles tinhat de ser muito menos coercivos, muito mais tranqtiilos e despreocupados, mui mais socialmente fluidos, ou entio nfo poderiam permanecer |4,” Comparad com boa parte do munde ia épaca, 0 pove da Amazinia “era mais live, el eram mais saudaveis ¢ estavam vivendo numa sociedade realmente admiravel,’ Marajé nunca teve os monumentos ptiblicos grandiosos de uma Teotihuac ou uma Qosqo, observou Roesevelr, porque seus Lideres “néo podiam imp o trabalho.” Nao obstante, disse cla, a sociedade era “igualmente ordeita, bel ¢ complexa, A grande revelagdo foi que ndo era preciso um imenso aparato controle do Estado para ter tudo aquilo. E isto absolutamente nao foi percel do por Meggers, que nao conseguit enxergar além das stias teorias ambient deterministas, E ¢ isso que eu digo em meu livro.” Meggers reagiu as criticas de Roosevelt zambando da seu “tom pold co” e “afirmag6es extravagantes.” Ao concluir que extensas dreas de Ma foram habitadas continuamente, Roosevelt teria cometio (segundo Mey um erro de principiante, confundir wm sitio que fort ocupoue mucus por grupos pequicnos instivels com Umum seciedalé Winer, chanmclannt Ok Higios culturais, expliconsme Meyers: “esther ibisreitolilins 1491 — Novas revelagiies sobre as Améneas antes de Colombo a5 menos meio quilémetro, pois [os geupos indios em deslocamento] nfo param exatamente no mesmo panto. Os tipos decorados de ceramica nao mudam muito com o tempo, enti ¢ ficil voeé pegar um punhado de fragmentos e di- zer: ‘Clem s6, tudo isto aqui é um grande sitio!’ A nio ser, & claro, que saiba fo que esti fazendo.” Do ponto de vista de Mepgers, afirmar que as saciedades amazénicas podiam escapar das suas restrigGes ambientais cra um pouco mais do que uma exibigio de ignorincia cientifica, a versio arqueolégica da tenta- tiva de inventar mecanismos de moto-perpétuo. Para os eriticos de Meggers, o argumento da linaitagao ecolégica nao era apenas ertado, era também ffrmiliar—e familiar num sentido desconfortavel. Desde os primeiros dias de contato, os europeus perceberam os indios dos trépicos como se vivessem numa eterna estase. Michel de Montaigne afir- mou admiravelmente em 1580 que os habitantes da Amazénia nao possufam “nenhum conhecimento de ntimeros, nenkum termo para governador ou su- perior politico, nenhuma prética de subordinasiio ou de ricos e pobres... ne- phuma roupa, nenhuma agricultura, nenhuns metais.” Eles subsistiam, disse ele, “sem labuta ou trabalho” numa floresta “prédiga” que “Lhes fornece abun- dantemente tudo o que necessitam... Eles ainda estio neste estado abengoado de nada desejar além do que é ordenado por suas necessidades naturais: para cles, todo 0 mais é supérfluo.” Os sucessores de Montaigne lago viraram a opiniso dele de cabeca para bhaixo, Como ele, eles também consideravam que os amazonienses vivessem fora da histdria, s6 que agota encaravam isto como uma coisa ruim, O his- voriador natural francés Charles Marie de la Condamine refez a jornada de esti lecomeuciia bascada na concepcia da arquedloga Anna Roosevelt da sociedade Tea, noridias ageupam-se sobre plataformas artificiais acima de solo iimido, ao fie 0 GurnHO ile extlebvi steno ae pratt o nveriee da ila, 116 i AMAZONIA 1401 — Novas revslagdes sobre as Américas antes de Colombo: a9 jac 1743. Ele acabou com grande respeito pela Aoresta — mas ne- por seus habitantes. Os poves da AmarSnia peruana nada mais eam tiwe “animais da Roresta’, disse ele, “Antes de torndlos cristios, eles devem pir sex transformados em humanos.” De forma suavizada, S 9 Condamine Persistiram século XX adentro. “Onde o homem permaneceu Irépicos, com poucas excesses, soften intetrupedo de desenvolvimento” vou a destacada geégrafa Ellen Churchill Semple em 1911. “Seu bere, 0 manteve crianga.” Com efeito, os defensores das fimitagoes ambientais to endossam hoje as opiniées racistas do pasado, mas ainda encatam habitantes originais da Amazénia como se estivessem presos em seu ambienee como moscas no Ambar, A “lei de limitagdo ambiental da cultura” de Me; : dizem seus erticos, nao passa de uma variante lo Erea de Holmberg, Com o tempo, a disputa Meggers-Roosevelt tornou-se mais Aspera e pes wal; inevitdvel num contexto académico contemporaneo, ela trouxe a ‘s il ages de colonialisme, elitismo ¢ ligagdes com a CIA, Partic 1 ie gtackivel para Meggers, } peter losament A Caverna da Pedra Pintada tornou-se habitada outra vez por volta de 6000 a.C, E provivel que nao fosse mais do que abrigo temporario, um te- figio para quando as éguas da cheia subiam demais. As pessoas podem ter trazido montes de tartarugas e de moluscos para dentro, feito uma fogueira ao abrigo da caverna, e desfrutado 0 conforto da terra seca, Em todo caso, esse povo — Roosevelt os chamou de cultura Paituna, segundo o nome de um po- voado préximo ~ tinh tigelas de cerdimica que iam da vermelho ao marrom- acinzentado. A cerimica mais antiga conhecida das Américas foi encontrada na Caverna da Pedra Pintada e em outtos locais na drea. ‘Assim, havia duas ocupag6es: uma muito antiga, com ceramicas; a outra mais antiga ainda, sem clas. Para Roosevelt, 0 primeiro assentamen- to da Caverna da Pedra Pintada demonstrava que a Roresta da Amazénia no fora colonizada por uma cépia ou ramificagao clovis. A cultura primi- tiva cm questfio era uma entidade separada — mais um prego no caixéo da teoria Clovis-como-modelo, no seu modo de pensar. A segunda ocupagio, com o seu desenvolvimento primitivo aparentemente independence da ce- ramica, demonstrava algo igualmente vital: a Amaz6nia nfo cra um beco sem saida em que o ambiente inelutavelmente estrangulava culturas nos seus bergos. Era uma fonte de inovagio social e cecnelégica de importan- Bem que um psicélogo podia dar uma olhada cia continental. HA cerea de 4 mil anos, os indios da Baixa Amazénia cultivavam saftas - pelo menos 138 delas, segundo uma contagem recente. O principal produto cra a mandioca (ou tapioca, conforme as veves € chamada), «uma raiz robusta que os brasileiros assam, picam, fritam e moem pata fazer uma extraordindria variedade de pratos. Até hoje, nenhuma mesa ribeirinha esta completa sem jum prato de farofa, Para os agricultores, a mandioca oferece uma vantagem potivel: pode ser cultivada praticamente em todo lugar, em qualquer condi- pio. Eu conheci uma mulher em Santarém que me disse que a rua de asfalto frente A sua casa tinha acabado de ser removida pelas autoridades munici- algumas das mesmas pessoas que exigitam ptovas } te detalhacas para os sitios pré-Clovis aceitaram jovialmente 0 pnismo de Roosevelt sobre Marajé. Uma cidade grande ¢ préspera io-se por seus prdprios meios na floresta amazbitica? fad ef a sua incredulidade, “| ia’, disse-me ela, Interim, Roosevelt foi em frente vi de ocupagao humana, eles continuaram a cavar. (“A gel | metro além do estéril”, disse-me cla.) Poucos centi¢ettos Pensou que sei t na camada de habitaggo humana, | Br ama cultura, disse-me Roosevelt depois, que supostame| estar M4. Tinha 13 mil anos de idade. ne diver, gencralizando, que Caverna da Pedra Pi paca em que a culeu di Amazinia nao viv Gee tada foi acup mandioca. Clovis florescia ao norte. Porém, om A mandioca sempre foi o prato principal da Amaz6nia. Até hoje, € ubi- i pu A ue mesmo modo que os seus corre, nas extenses de coivara que cercam todas as aldicias ribeirinhas. Essas Hla prasile: porvc ie 0 ae Pontes clovis, Noo wenas fazendas itinerantes parece remanescentes inalterados do passado. Pte us, na ho ee henhum na Armaedita), i aparentemente esta idéia esti errada. Em vex de tratar-se da eterna adap- Fee Ae Moteats pittavam marcas de’ milan nas dos {ndios retratada nos manuais de ecologia, muitos arquedlogos hoje icles da pel enim que a agricultura de derrubar-e-queimar seja uma técnica relatt- moderna, cuja disseminagéo tera sido impulsionada pela tecnologia ate reacea| imperial Ue peice aM AMAZONIA 1491 — Novas revelacSes sobre as Arnéricar antes de Colombo ate | menos permanentes. Os machados europeus tornaram-se to preciosos du- ate essa época, segundo Brian Ferguson, antropdloga na Rutgers University, ¢ quando surgia uma fonte, os yanomamtis mudavam todo am poveade de ar para ficar perto dela. Utensflios de ago, disse-me cle, “tiveram um efeito issformador essencial sobre todas as relagdes de comércio ¢ de casamento toda a drea, Levaram A ctiacdo de nevas redes de comeércio, fevaram a novas ingas politicas, ¢ levaram até & guerra.” Pesquisadores amiide descreveram yanomamis como “selvagens”, tipos agressivos cujos povoados esto cons- jomente as turras uns com os outros. Na estimativa de Ferguson, uma das gas do conflito endémico observado pot antroplogos e missionarios oc {ais eram os préptios anteopéloges ¢ missionatios. De repente, « povoado dando ocidentais brilharia de riquezas os seus vizinhos procurariam ob- wma parte da imerecida dadiva; conflitos eclodiriam. “Para os yanomamis, ep cra como 0 ouro para os espanhdis”, disse Ferguson. “Podia levar pessoas wns a fazerem coisas em que nem pensariam em outras circunstancias.” antropdlogos e missiondrios presentes negaram yeementemente as afirma- de Ferguson, Mas até onde sei, nao disseram que © enredo proposto por ‘era impossivel. Em vea disso, disseram que, para evitar conseqllénclas infe- buscavam controlar cuidadosamente o montante de presentes dados.) Os utensilios de metal criaram a agricultuta de coivara, disse-me William | Denevan, gedgrafo de Wisconsin. “Este quadro da coivara como pratica 4 através da qual os fndios se mantinham num equilibria fora do tempo Natureza — é em grande parte ou inteiramente um mito, acredito eu, Vivendo na floresta mais densa do mundo, os habitantes da bacia do Amazonas tinham de remover muitas arvores se quiisessem realizar praticas mente qualquer coisa, Para esta tarefa, o machado de pedta foi a sua ferra: menta basica. Infelizmente, machados de pedra sio utensilios de qualidade realmente inferior. Com um machado de pedta, corta-se menos a arvore day que se usa o instrumento para esmagar um trecho do tronco até virar polps enfraquecendo a base até a drvore no conseguir mais sustentar-se, Nas cer nias da cidade amazénica central de Manaus, um pesquisador me deixou gol pear uma grande nogucira-brasileira com uma réplica local de um machad de pedra tradicional. Apés varios go!pes, eu tinha feito apenas uma pequel mossa na patede cilindrica do tronco. Era como atacar um continente, “ trogo nfio presta”, disse o pesquisador, balangando a cabega. Na década de 1970, Robert Carneiro, do Museu Americano de Histérl ‘Natural, mediu a trabalho necessério para desmatar um campo antes do advei to do ago, Ele colocou pessoas para trabalhar com machades de pedra em dt as densamente arborizadas do Peru, Brasil ¢ Venezuela, Muitas drvores tinhas 1,20 metro de diimetco ou mais. Nas experiéncias de Carneiro, derrubar tinica drvore de 1,20 metro de didmetto com um machado de pedra indige tomava 115 horas ~ quase erés semanas de ito horas de trabalho por dia. um machado de ago, as seus trabalhadores tombavam uma drvore de tama pedra para desmatar cerca de 0,6 hectare, tamanho tipico de um canteiro coivara, no equivalente a 153 dias de oito horas por dia. Machados de ago ram o trabalho no equivalente a cito dias — quase vinte veces mais ripido, § Jynenos néo hé provas disso, e hé um montante razoavel de indicios con- gundo pesquisas de Stephen Beckerman, anteopdlogo na Universidade Estad inclusive a evidéncia da simples Logica.” Derrubar-e-queimar, suposta- da Pensilvania, os agricultores de coivara amazonienses sfo capazes de traba so um trago quintessencial amazoniense, “é uma intrusaa moderna,” seus canteitos por uma media de trés anos antes de eles ficarem sobrecarr Un fendmeno semefhante parece ter ocortido na América do Norte, onde « amplamente que os indios teriam praticado a coivara como parte do seu dle viver sem pressionar a terra. Descartando os dados que suportam ¢ssas 4 como “frivolos", o gedgrafo William E. Doolittle, da Universidade a4, observou, no ano 2000, que a maior parte das relatos coloniais mos- ‘94 Indios limpando scus campos permanentemente, até mesmo artancan- jpuc impedir que lorescessem, "Uma vez que es campos eran limpos, fa era cultival-los permanentemente, ou pelo menos por periodo muito * Como crescimento das populagées, “os cultivadores fimpavam novos jays. florestas remanescentes.” Derrubar-e-queimar foi produto de ma- opens = ¢ de docngas curopdias, que diminufram tio drasticamente fndliog quic ches adoraram esse método menos traballosa, mas cam bein casas e picadas, manter suas hortas de subsisténcia¢ realizar uma centena de 0 tarefas, Carneiro se pergunta como pedem ter sido capazes de passar meses fina batendo em arvores para desmatar novos campos de cultive a cada tres Nio ¢ de surpreender, pessoas que usavam artefatos de pedra passa a querer utensilios de ferro assim quie os viam ~ a perspectiva de reduglld carga de trabalho era formidivel. Segundo William Balée, quanda Coles aportou, os yanomamis viviam em povoados estabelecidos ma bacia de ato AMAZONIA Na Amazénia, a virada para a coivara foi desastrosa, © cultivo de derrus bar-e-queimar tornou-se uma das forgas motoras por tris das perdas da flores fa to) »pical. Embora a coivara de fato permita que a floresta cresca novamente, € muito ineficaz ¢ ambientalmente malsa. A queima transforma em famaga a maior parte dos nutrientes na vegetagio — quase tado o nitrogénio ¢ met do fésforo € do potissio, Ao mesmo tempo, despeja grandes quantidades d didxido de carbono na atmosfera, um fator do aquecimento global. (As gran, des fazendas cle gado sto a5 maiotes transgressoras, mas pequenos Hercule sio responsaveis por até um tergo da derrubada,) Felizmente, é uma préti relativamente recente, 0 que significa que ainda nfo teve muito tempo p causar estragos. Mais importante, a propria existéncia de tanta floresta sa davel apds 12 mil anos de uso por grandes populagées sugere que o que q que os indies tenham feito ances da eoivara, tem de ter sido ecologicame mais sustentivel, A FISICA DO PINGO DE CHUVA A plantagdo de mamfo era tao vigosa ¢ sauddvel que mais parecia coisa d propaganda — a imagem por was de uma celebridade a endossar uma na bebida, Suando ao sol equatorial, admirados, alguns dos pesquisadores apa param o fruto verde, oblongo e pendular, cada um do tamanho da cabe 4 um beb@, estreitamente agrupados em tarna dos troncos vigorosos. Ou cientistas abaixaram-se e com igual aprovagio tecollieram punhados de tet Accsttada até a plantacio fora aberta no solo celebremente pobre da Amaz0\l ~ 0 latanja-avermethado berrante da maquiagem barata, quase sutrealmél brilhante em contraste com as grandes folhas verde-escuras da floresta. Mi sombra dos mamoeiras, 0 solo era marrom, com a impressio timida, fri que os jardineéros buscam, A primeira vista, 0 solo pazecia semelhante aos encontrados, diga nos cinturdes verdes da América do Norte ou da Europa. A uma ins mais cuidadosa, porém, sua aparéncia era inteiramente outra, pois a trava-se cheio de fragmentos de cerimi ey. A combinagio de a : ago dle solo deh qualidade, agricultura hem-sucedida e evidéncias de habitagto, incl pregressa foi o que trouxera os cientistas dquela facencda, Hu fora i oe qucla fazenca, Hu fora convi © pomar ficava a cerca de 1,600 qudldmer ron Armienor horas de balsa ¢ Onibus de Manaus, a maior chelsea li SMSO HN TR KOH pra it 1491 — Novas revelagSies tobre as Americas antes de Colombo aur Negro, um afluente principal.” Entre os dois rios, ha uma lingua de terra que, dependendo do ponto de vista em que a encatamos, ou bem foi quase destruf- da pelo desenvolvimento, ou entéo encontra-se celativamente pouco povoada, considerando a sua proximidade com a cidade de 1 milhao de habitantes. Per~ to da ponta da lingua, situa-se o pequeno povoado de Iranduba: um aeroporto pata avides de pequeno porte, meia duizia de lojas totalmente apaticas, alguns bares com viteala automatica tocando alto a ponto de espantar os passaros das Arvores, e docas para carregar a produgio dos cultivadores locais. A plantagde dle mamibes situava-se a poucos quilémetros fora de Iranduba, numa riban- ccira sobre o Amazonas, Bra uma das muitas pequenas fazendas ribeirinhas peridas por descendentes de imigrantes japoneses. Em 1994, Michael Heckenberger, hoje na Universidade da Florida em Gainesville, ¢ James B, Petersen, hoje na Universidade de Vermont em Burlington, \Jecidiram examinar sitios arqueoldgicos potenciais na Amaz6nia central. Com uma equipe de cientistas brasileiros, Meggers tinha pesquisado boa parte do rio seus tributirios na déeada de 1970, concluinde que a drea era de pouca rele- ncia — provas adicionais da inescapabilidade das restrigdes ecoldgicas. Acredi- lando quea pesquisa de Mepgers fora demasiado tosca, Heckenberger ¢ Petersen lecidiram pesquisar uma tinica drea intensivamente. Acompanhados por Edu- wido Goés Neves, da Universidade de Sao Paulo, varias diizins de estudantes de loves ¢, posteriormente, por Robert N, Bartone, da Universidade do Maine em ingvon, cles encontraram mais de trinta sitios na confluéncia Amazonas-Ne- {yro, quatro deles por cles plenamente escavados, A fazenda de mamio era um dos \atro sitios, Agora, Neves, Petersen ¢ Bartoneestavam conduzindo um grupo de -yquisadores visitantes ¢ um jornalista numa visita ao sitio. Da sombra de uma porta, o pai da familia nos observava zanzar de um ado para outro com um sorriso tolerante. Uma adolescente estava ao at livre, virrendo languidamente perto de uma nuvem de borboletas amatelas, Através s tAbuas frouxamente artanjadas da parede propagava-se o alarde c tagatelice uum progtama de rédio sobre a tiltima perfidia futebolistica da Argentina, a wal odiada do Brasil. Embora fosse inverno, o sol do meio-dia estava quente bastante para fazer o suor comegar a porejar, A margem «lo pomar de mamio havia dez montes de terra baixos que cquipe havia identificado como feitos pelo homem. A datagéo por carbono Jadicava que tinham sido construfdos por volta de 1000 dC. Os arquedlogos », Majpas enn Tinga inglesa pexalmenie stsinn Manas ywalando de nome ¢ volando a chamal-ne Am@snnat 4 A conjnngiia der Nagin wai SHOR aa AMAZONIA comegaram a explorar o monte maior. Eles ja haviam descoberto nove sepulra- mentos, um corpo colocado numa grande urna funerdria, todos aparentemen- te da mesma época. Como fosse improvével que os cientistas tivessem desco- berto a tinica concentragdo de restas humanos da drea logo em seu primeiro teste de exploragao, acreditaram que provavelmente 0 monte inteiro estivesse cheio de sepulturas — com centenas delas, “Issa sugere que milhares de pessoas viviam aqui”, disse Neves. “Em 1000 d.C., trata-se de um lugar grande.” Empurrando o scu boné de beisebol para trés, Neves apoiou-se descendo ao sitio de escavagao, um buraco retangular de 1,80 metro, os ca reto ¢ as patedes precisamente verticais que s40 a marca registrada da investiga- gio arqueolégica, Um dos pesquisadores visitantes estendea um mapa «le solos segundo o sistema colorimétrico de Munsell. Semelhantes a tiras de amostra de cor de tinta, esses mapas sio usados por peddlogos (cientistas do solo) pat classificar solos, Neves raspou levemente a parede, expondo terra fresca, ondé prendeu o mapa com um prego de cabega grande. Da borda da escavagao, ele fea pender uma fita métrica— alternando faixas de 10 centimetros de vermelha, branco ¢ verde — para medir a profundidade. Cameras digitais dispararam. Fol uma versao de bolso da inspegio de Folsom pelos velhos respeitiveis. Neves teve uma certa dificuldade para pendurar a fita, pois nao const guia achar um lugar em que cla no se prendesse aos fragmentos de ceran que protuberavam nas paredes. Eles brotavam das laterais da escavagéo 1) ptofusio que me lembrou dos montes do Beni, algumas centenas de qu metros rio acima. Algumas das pegas pareciam formar camadas horizont Como no Beni, apatentemente as cerdmicas tinham sido quebradas de fort deliberada, talvez para erigir a superficie. Eu perguntei a Petersen, especialista em ceramicas, quantos pratos, (I las e xicaras havia nos montes, Ele tirou do bolso um pedago de papel ¢ caneta e rabiscou alguns ntimeros. “E uma estimativa aproximada, feita papel de embrulho”, avisou ele, mostrando o resultado: aquele tinico onde estévamos poderia conter mais de 14 milhées de fragmentos. “Pen indhistria necessdria para produzir tamanha quantidade de cerimica’, Neves. “Depois, cra sé eles quebratem. Veja como amontoaram toda essa boa (para fazer o monte tumular] — ¢ uma atitude esbanjadora, Nato acl escassez fosse um problema por aqu As restrigdes ccoldgicas nos solos tropicais sio em grande parte gravitacional des pingos de chava, Percutinde todos on ins, a ntos em Angulo ener 1451 — Novas revelagéics sobre as Américas antes de Colomiba 33 o impacto fisico da sua queda das nuvens. A dgua se detrama finalmente das follas, mas atinge o chao menos violentamente, Quando fazendeitos ou ma- deireiros limpam a cobertura de drvores, os mais que dobrada. Derrubar-e-queimar minimiza 0 tempo que o solo fica desprotegido. A agricultura intensiva ¢ muito mais produtiva, mas maximiza a exposiciio da tetra, E por causa deste doloroso compromisso que os ecologistas argumen- tam que qualquer tentativa de sociedades da floresta tropical de crescer além de pequenos povoados estard sempre fadada a0 fracasso. Contudo, segundo Charles R, Clement, pesquisador titular no Ins- tituto de Pesquisas da Amazénia (INPA) em Manaus, os primeiros ama- xonienses evitaram o Dilema da Fisica do Pingo de Chuva. Falando em tcrmos gerais, a sua solugao nao foi desmatara floresta, mas stebstitud-la por uma adaprada ao uso humano, Estabeleceram-se nas ribanceiras & marca da alvura das aguas na cheia— perto o bastante do rio para pescar, longe o bas- ante para evitar a enchente, Entéo, em vez de centrar a sua agricultura em culturas anuais, concentraram-se no sortimento tremendamente diverso de drvores da Amazénia. Na opinifo dele, os primeiros habitantes da Amazdnia desmataram pe- quenos pedagas de terra penosamente com seus machados de pedra. Mas em de simplesmente plantar mandiocac outras saftas anuais em suas hortas até uc a floresta as retomasse, eles plantaram espécies arbdreas selecionadas junto dom a mandioca, e administratam a transigao. Das 138 espécies domesticadas shecidas de plantas na Amazinia, mais da metade sic drvores, (Dependen- ip da definicio de “domesticacao”, este volume pode chegar a 80%.) Sapoti, aga e tucuma; babagu, agai ¢ anands-do-matos coqueiro, jaci ¢ bombonaga ‘riqueza da AmazOnia em frutos, nozes e palmeiras cons justiga é eelebrada. 4 visitantes sempre fear inspressionados porque aqui voce pode andar na »sta e colher frutos constantemente nas drvores”, disse Clement. “E assim que as pessoas as plantaram. Eles esto andando em antigos pomares.” ‘As pupunthas — as drvores através das quais eu fiquei olhando para o wonas da Caverna da Pedra Pintada - io 0 exemplar favorito de Cle- wt. Vertiginosamente altas ¢ retas, elas rem até uma dhizia de talos, com um. ve protetor de espinhos ao pé da drvore. A protegio é pouco necessaria; lcira da pupunha é tao dura que no Beni cra usada para fazer laminas, Joos de frutos laranjas ou vermelhos pendem como cachos de bolas de bo- A hase da fothagem. O fruto é saturado de dlea ¢ rico em betacarateno, pina © o; surpreendensemente, proveina, Quando seca, a polpa branca ou fia: wena Tarietha, AL ROE finos semelhantes A rortitha; quande gos atingem o solo com forca at AMAZONIA 1491 — Novas revelagdes sobre as Américas antes de Colombo a5 fervida e defumada, torna-se hors doenvres, quando cozida e fermentada, faz.” cerveja. {A sciva também faz uma espécie de vinho.) Nao é incomum produ. zirem duas safras por ano; em sermos de produgéo por hectare, a pupunha & tipicamente muito mais produtiva do que o arroz, o feijao ¢ o milho indie, Arvores comegam a produzir frutos apds trés a cinco anos, e podem conti= nuar a fazé-lo por mais setenta anos. Como os moranguciros, as pupunhas: dao brotos adventicios, Com pouco cuidada, eles podem ser colhidos para palmito —palmitos muéto saborosos, na minha expetiéncia. A Bactris gst paes, como os cientistas. a chamam, tem mais de duzentos nomes comun: pupunha, cahipay, tembe, pejibaye, chontaduro, pijuayo. Para Clement, proliferacao de nomes sugere que a planta tenha sido usada para muitos propésit por muitas culturas. cia da canépia, havia o mesmo cheiro refi Na década de 1980 ¢ no comego dos anos 1990, Clement mediu pupil nhas em toda a bacia amazénica. Ele descobriu que varias caracteristicas em solo bem drenado) por pesquisadores ocidentais’, escreveu Balée em 2003. Mas elas “no existiriam” sem “atividades agricolas humanas.” Com efeito, os amazonienses tipicamente nao fazem a distingdo entre paisagens “cultivadas” e “selvagens” comum no Ocidente; em vez disso, eles simplesmente classificam as paisagens num grande mtimero de variedades, dependendo dos tipos de especies em cada uma delas, Depois de termas conversado um pouco, Clement me levou para fora do seu escritério, para um passeio na floresta experimental do INPA, Para meus olhos destreinados, ela pareceu nu sas fora de Manaus que atracm ecoturistas, exccto que funciondrios do INPA mantinham vegeragao rasteira capinada, A mesma luz branda esverdeada des- gente, o mesmo sentido majesto- jo de variedade, A atmosfera vibrava com a mesma algazarra harménica de pissaros guinchando, gorgolejando, grasnando e pipilando. Escorrendo pelo yonco de algumas drvores, havia o que parecia ser uma canaleta de sciva seca. uma visita anterior 4 Amazénia, eu tinha visto canaletas como aquelas numa vore-da-borracha numa plantagio abandonada, Pensando que era latex ¢s- porrendo, pus o dedo numa delas. Tratava-se da cobertura de uma auto-estra- a de cupins. Os cupins fervilharam para fora do tinel e por toda a minha jo. Cupins mordem, Sacudindo a mio furiosamente, cu pulei afastando-me drvore. De sanddlia, meu pé caiu bem em cima de um ninho subterraneo » yespas. Foi assim que aprendi por que alguns amazonienses tém uma certa A vontade contra a biodiversidade. No passeio com Clement, eu tratei de ear com as maos bem quietinhas. Fstévamos no més de julho — 0 inverno na Amardnia, a pior época do para frutas, Nao obstante, Clement foi capaz de encontrar bacuris ama- 8 ¢ agais roxas, Ele puxou de um galho o que me pareceu ser uma versio 1,20 metro de uma vagem, abriu-a longitudinalmente ¢ mostrou-me as nentes chatas ¢ brilhantes, dispostas em comprimento como denres numa dibula, Cada semente era do tamanho de um osso polegar e aninhava-se m tegumento branco penuginose. “Experimente”, disse ele. “E vagem em i we.” Ku pus uma semente na boca e chupei, O tegumento realmente cia gorvete de baunilha, ¢ era igualmente reftescante. Em seguida vieram ou quatro fruras, cada qual igualmente estranha para mim, (E disso Ju pessoas gostam quanto a biodiversidade.) Nao era estagio da pupunha, ele encomtrou um outro membro do mesmo género. O fruto, quando de histérica; clas sobrevivertin poreyie 0 “selva” era composts em , nile cra apetitaso — na cor, kextura e sabor, era igual a papelio em- pelos pomares dos scus ancestral, “Tess Henestas intigas, Clement eypremeu um pouco de polpa, Um éleo escorreu entre seus ves foram ‘osdiconalewnan camila sme. Daseta , calmle na chit, "Iaso. Ihe dani wm pouce cle cnlorina”, disse. ‘o semelhante as florestas em torno das ca- aparentemente mais proximas do estado selvagem na AmazOnia cide perto do Beni: a implicacio é que essa drvore pode rer sido cultivada prime ld. Empregande um método diferente, Jorge Mora-Urpi, um dos colabo dores de Clement, concluiu que indios devem ter ctiado a palmeira moderh hibridizando palmas de varlas areas, inclusive a Amazdnia peruana. Qualg que seja a origem, pessoas domesticaram as espécies hd milhares de ai depois as difundiram rapidamente, primeito attavés da Amazbnia e depois o Caribe ca America Central. A Bactris gasipaer estava na Costa Rica ha 1,7 a 2.300 anos, ¢ provavelmente antes. Na época de Colombo, escrevew | observador do século XVII, os americanos nativos davam tanto valor A “que somente as suas espasas e filhos etam tidos em maior considera¢ao, A diferenga do milho {ndio ou da mandioca, a pupunha pode p: rar sem qualquer atengao humana. Tragicamente, esta qualidade mostra enormemente util, Nos séculos XVII e XVIIL, muitos indios amazonie! ©s yanomamis entre eles, abandonaram os seus povoados agricolas, tornayam alvos faiceis para as doencas européias ¢ 0 comeércio de escravo esconderam-se na floresta, preservando a sua liberdace deslocando- rari no que Balée chama de “regressto agricola’, ess necessariamente de cultivar ¢ conservaram 0 corpo ea alma juntos fo do As “tribos da Idade da Pedra na selva amazdnica” que captucarae imaginagdes curopdias fore em gounde parte criagho europea, ¢ wna $ povos cacucdos de ike ARNT 1491 ~ Novas revelagdes sobre as Américas antes de Colombo 7 Em toda a parte na Amazénia, os agricultores louvam a terra preta por sua grande produtividade; alguns a tém trabalhado durante anos com um minimo de fertilizagdo. Entre eles esto os proprietarios da plantagdo de mamao que visitei, que cultivam felizmente as suas saftas na terra preta hd duas décadas, Ainda mais surpreendente, as cerdmicas na terra preea das fizendas indicam que o sola reteve os sets nutrientes por pelo menos um milénio, No lugar, a terra prota tem valor suficiente para os locais a cavarem e venderem como terra para vaso, atividade que, infeliamente, jd destruiu imimeros artefatos. Para a consternagao dos arquedlogos, longas jardineiras cheias dle terra preta antiga, completas com fragmentos pré-co- lombianos, satidam os visitantes no actopotto de Santarém, Como a terra preta & submetida as mesmas condig6es degradantes que as terras ruins circundantes, “a sua mera existncia & surpreendente”, seguindo Bruno Glaser, quimico do Instituto de Cidncia de Solos e de Geografia de Solos da Universidade de Bayreuth, na Ale- nanha. “Se consultar os manuiais, verd que ela no devia estar 1.”* Como pesqitisas cuidadosas do solo da Amaz6nia nunca foram realiza- das, ninguém conhece os monsantes existentes ¢ a distribuigao da terra preta. 1 palpite de Woods é de que a terra preta possa chegar a representar 10% da hacia do Amazonas, uma 4rea do tamanho da Franga. Uma estimativa recente © muito mais conservadora ¢ de que cla cubra de 0,1 a 0,3% da bacia, uns oucos milhares de quilémetros quadrados, A grande diferenga entre esses simeros interessa menos do que se poderia esperar: uns poucos milhares de ‘quilémetros quadrados de certas cultivaveis foi o bastante para alimentar mi- es na regio central maia. ‘Os maiores sitios de terra preta esto em ribanceiras baixas a beira da pla- cle aluvial. Tipicamente, eles cobrem de 2 a 6 hectares, mas alguns chegam pbranger 280 ou mais, A camada de solo negro tem geralmente de 30 a 60 yptimetros, mas pode chegar a mais de 1,80 metro. Segundo um estudo re- onte ditigido por Dirse Kern, do Museu Goeldi em Belém, a terra preta “nfo ywociada com um tipo particular de sole ou condigao ambiental ancestral”, “que sugere que nfo foi produirida por processas naturais, Outta indicagdo da vm humana da terra preta so os fragmentos aos quais geralmente ela std Jurada, “Eles praticaram agricultura aqui durante séculos”, disse-me Glaser las crm vea de destruir 0 solo, eles medberanam, ¢ isto € uma coisa que até nds niio sabemos como fazer” em solos tropicais. Plantando seys pomares durante milénios, os primeiros amazonienses transformaram lentamente grandes faixas da bacia ribeirinha em algo mais agtadavel para o ser humano. Na regido habitada pelos ka'apor, no sudeste continental de Marajé, séculos de emendas mudaram profundamente a comunidade da floresta. Nas florestas manejadas pelos ka'apor, segundo os inventarios vegetais de Balée, quase a metade das espécies ecologica- mente importantes sio aquelas usadas por humanos como alimento, Em florestas semelhantes que nao foram manejadas recentemente, este volume éde apenas 20%, Balde estimou cautclosamente, num artigo amplamente citado publicado em 1989, que pelo menos 11,8%, cerca de um aitavo, da Aloresta amazénica no inundada cra “antropogénica” — direta ou indireta+ mente criaca por humanos. Hoje, alguns pesquisadores consideram este miimero conservador. “Bast sicamente, eu actedito que tudo seja criagio humana”, disse-me Clement. O mesmo diz Erickson, 0 arquedlogo da Universidade da Pensilvinia que me disse na Bolivia que as florestas tropicais das terras baixas da América do Si esto entre as mais belas obras de arte do planeta. “Alguns dos meus coleg; diriam que isso ¢ bastante radical”, comentou ele. Segundo Peter Stahl, at tropdlogo na Universidade Estadual de Nova York em Binghamton, “muito pesquisadores acreditam que “aquila que a ecoinngeria gostaria de pintar con um Unwelt [mundo primeva) pristino intocado, na verdade foi manejado p pessoas durante milénios.” A expressdo “ambiente construido”, argumento| Erickson, “se aplica & maioria, senfio a todas as paisagens neottopicais.” DADIVA DO PASSADO “Paisagem’, neste caso, quer dizer exatamente paisagem — os indios amg nienses criaram lireralmente © chao sob seus pés. Segundo Susanna Hi gedgrafa na Universidade da Califérnia em Los Angeles, os pesquisadores. Amaz6nia plandltica recolheram a maior parte das suas amostras de sola longo das estradas da regiéio, que com efeita passavam por dreas com sole. rivel — algumas tao saturadas de aluminio téxico que hoje silo exploracag | busca de bauxita, Uns poucos cientistas, contudo, encontraran pedi terra um pouco melhores, “Por causa cm parte do modela de vazio demo fico da Amazbnia ' disse-me Hecht, esses pedacos de terra “foram vistas 60 Jie psa evine ein duas formas: a terra preta cla mesma, um solo negra espesso com cerkmica, €a terra anémalos ¢ insignificantes," Pordm, nox anow 1990, ox pesquisadores co i Hit Hole) woarrom mais levo © com presenga muita menos densa de cerémica, Diverses pesquisadores ur de 8 tinction terem: feito ambas, cles x criaram deliberadamene a terra mulara. A terra fai a estuclar essas regidiey Incomune de terra pret dé finelia = wma Herr TE som, tocnn ai Nnela hax carte, le onli «rlogs Sha isla Feruil que on ancropdloge acreditam ver vida constratdla para ‘ aT AMAZONIA 1491 — Novas revelagdes sobre as Américas antes de Colombo vy Os indios continuam a fazer terra preta desse modo, segundo Hecht, a geégrafa da UCLA. Hecht passou anos com os caiapés, na AmazOnia central, slices vaido-o cular hapanuas de “(ic bigunssdh. meaeradas oleallante bars andar por cima” de ervas arrancadas, resto de comida, refuge de colheita, fo- thas de palmeira e cupinzeiro. A queima ¢ constante, escreveu ela; “Viver entre os caiapés é viver num lugar em que partes da paisagem esta em combustéo sem chamas,” Hecht considera que as fogueiras indias so uma parte essencial da paisagen amasdnica, como o foram mas farstas oricntals de América da Norte. “Nés temos de superar toda essa sindrome de Bambi”, disse-me ela, referindo-se 4 cena de incéndio florestal no filme, que ensinou geragdes ae criangas que queimar tecras selvagens & ima coisa mé, “Deixemos os exiapés queimarem a floresta tropical — cles sabem 0 que esto fazendo,” Num teste preliminar sobre a criagaa de terra preta, Steiner, Wenceslaur eixcia, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecusia, ¢ Wolfang Zech, da Inivetsidade de Bayteuth, aplicaram uma variedade de tratamentos envol- ndo carvao vegetal e fertilizantes durante trés anos em canteiros de arroz € biomassa microbial seja maior na terra preta do que em outros solos da Alorestil ¢ sorgo nas cercanias de Manaus. No primeiro ano, registrou-se pouca dife- disse-me ela, 0 que sugere a possibilidade de que cientistas pudessem criar nga entre os tratamentos (exceto nos canteiros de controle, nos quais nada pacore” de earvio vegetal, mutzienes e microfauna passivel de ser uilizado py sceu). No segundo ano, disse Steiner, “o carvao vegetal fer de fato a dife~ Se ne coe mocrean de wal qualidade ten peta nga.” Os canteiros s6 com carvéo vegetal eresceram pouco, mas aqueles com ‘Apesar do carvao vegetal, a tetra preta nao é um subpreduto da ag 1a combinagao de carvao vegetal ¢ fertilizante produziram até 880% mais tura de derrubar-e-queimar, Para comegan a coivara simplesmente nao pi que os canteiros somente com fertilizante. A “terra preta” dele ti ria: war fo vege bastante para far certa prota ~ & maior parte do carbon produtiva, disse-me Steiner, apesar de no cerem feito nenhuma tentativa para a atmosfera sob a forma de diéxido de carbono. Em vez disso, os i recriar o antigo equilfbrio microbiano. aparentemente faziam terra preta através de um processo que Christop! A comegar hd pouce mais de 2 mil anos, as Amaz6nias central ¢ baixa ner, cientista de solos da Universidade de Bayreuth, apelidou de “dent » sacudidas por mudangas culturais extremas. Grupos falantes de arauaque carbonizar.” Em vez de queimar completamente a matéria orgdnica (i aram para essas regi6es a partir do sul ¢ de este, algumas vezes ee mando-a em citizas, os agticultores antiges a queimavam incompleti inte empurrando grupos falantes de tupi para o norte ¢ o leste. Surgiram para fazer carvéo vegetal, que depois misturavam ao solo. Além dos los sedentarias, E também a terra preta, Ninguém sabe se ou como esses peficion para o solo, derrubar-e-carboniar libera muito menos cath imentos esto ligados, Mais ou menos na época de Cristo, a Amaz6nia cimosfera do que a coivara, que tem grandes implicagées potencials BE ee els rend alelinis rinides povnadoscatabielecidos Neves, Petersen dangas de clima. As drvores estocam grande quantidade de carbone ne escavaram um deles numa ribanceira alta a cerca de 50 ggdlomnetios troncos, galhos folhas. Quando clas morrem ou as pessoas as ern go acima. A julgar pela datagio por carbono e pela seqiiéncia de cerdmi- carbono geralmente € liberado na atmosfera, impulsionande @ esacreditam que 0 sitio foi habitado em duas ondas, de cerca de 360 a.C. ee mcrtc de Makoto Optvas do Cena de Engen # eomecow a, forinaea ea terra preca, aré a avangada dara de 1440 d.C. tal de Kansai, perto de Quioto no Japio, demonstninim. que @ 6 nie cabin et #8 parece que het ld uma praga central ¢ al gus setéin o seu carbono. no sold por até 15 mil anes, “LDerraaars ilefensivos”, Hina pelo menos panies de muito intelligence”, Lines me, res eyuid cu Coveney nto; O Ke ‘comprimento, 6 de largura e 2 de Em regra, a terra preta tem mais f6sforo, calcio, enxofre ¢ nitrogénio “dis- pontvel para plantas” do que € comum nas florestas tropicais; ela também tem muito mais matéria organica, retém melhor a untidade ¢ nutrientes, ¢ © uso agcicola nao a exaure rapidamente quando bem manejada. A chave para a fer- tilidade a longo prazo da tetra preva, diz Glaser, € © carvao vegetal: a terra preta contém até 64 veres mais carvéo vegetal do que a terra vermelha ciscundante. ‘A matéria orginica “gruda” no carvao vegetal, em vex de ser lixiviada ou vin- cular-se com outros compostas nao disponiveis. “Com 0 tempo, ela se oxida parcialmente, © que mantém o fornecimento de nutrientes com os quals 0 sitio poderd combinar-se.” Mas apenas misturar carvao vegetal no solo nfo basta para ctiar terra preta. Como 0 carvao vegetal contém pouces nutrientes, argument Claser, “é necessitio introduzir insumos altamente nuttientes — excremento € refugos como ossos de tartarugas, peixes ¢ animais.” Na opinio de Janice Thies, ecologista de solo que faz parte de uma equipe da Universidade de Cornell qui cstuda a terra preta, € provivel que microrganismos especiais de solo deseni penhem um papel na persisténcia da sua fertilidade. “Ha indicagdes de qu 7 Jagdes sobre as Américas antes de Colombo: 1491 — Novas 33° ‘ilecido Wim Sombroek, ditetor do Centro Internacional de Refereiie magilo sobre Solas, em Wageningen, Holanda, a zona de terra pretil § quilémetros de comprimento ¢ 600 metros de largura, sugerindo mana disseminada — exatamente @ que viu Orellana. O platé nunch, dadosamente escavado, mas observag6es feitas pelos gedgrafos Woods ¢ Jail McCann, da New Schooll na Cidade de Nova York, indicam que est repil de pecas ¢ fragmentos de cerdimica, Se a agticulrura praticada no baixo Tapa fosse tio intensiva quanto aquelas praticadas na maioria das culturas comple da América do Norte pré-contato, disse-me Woods, “nés estarlamos falando de algo capaz, de sustentar entre cerca de 200 a 400 mil pessoas” — 0 que tornd lugar um dos mais densamente povoados do mundo na época, Woods fazia parte do consércio internacional de cientistas que estutlae yama terra preta, Se seus sepredos pudessem ser revelados, disse ele, poderiam “nelhorar as extensdes de terra inféctil que incapacitam a agricultura africana uma dédiva final dos povos que nos trouxeram o tomate, 0 milho fncio, a ‘mandioca e mil maneiras diferentes de sermos humanos. q “Betty Meggers morteria se me ouvisse dizendo isto”, disse-me Wood A terra preta aparece no plantio do mamfo entre 620 720 dC. Ni eae cae es ve Te ates ee oon BiUiaed. dlntiellniqule eva soli sovandae| calhadar’en! OL eS im 2001, num artigo cm fata American Antiquity, Meggers denunciou q wer Vili cent iam le amos poles ciaChezouae ule sho jprstexsto de alguns arquedlogos de quea Amazénia podia sstentat ang WAdeaie Hb aise roaaeeuaras as 3 et ‘ ings GA pyltura ingensiva na verdade dizia aos forentadores [gue eles] tinham iret Roe aoe as suas origens adentradas no Brasil meridiog s atuar sem restrigées.” Assim, esses pesquisadores teriam virado “camphie aeugisn eae on oe do Xingu por longo tempos mas: por avoluntérios} da aceleragio do ritmo da degradagio ambiental.” Sécuilos d.C., parece que povos falantes de arauaque tiveram qué pois dos conquistadores, lamentou-se cla, “o mito do Fl Dorado esti deslocar para a regido, entrando em friogio com aqueles que falavam a ing Bssuscitado pelos arquedlogos.” ° tupi-guarani. Em 2003, Heckenberger, que trabalhara com Petersen ¢ @ Sem drivida, as ansiedades politicas de Meggers nao sto injustific Noves aimee na Science que ele e seus coleges tinham descoberto nag hota — coma ebservaram alguns dos seus colegas oponcntes ~ soft tik de ee oe nected # amplas ea aginar plutocratas gamanciosos “examinando atentamente as paginas day ’ Bovautlccy uel er abate el abele flag entuclantetiraad e bed a American Antiquity anves de decidir aumentar giro das suas motomennt ALG, Ss atiguahoe cofstrultain "posted Had soles a h D novo quadro, contudo, nao legitima automaticamente a queimada dil Ae Hoveaminting elevaigeccanil ‘ ques artHniCiaaa a, Em ver disso, sugere que por longa tempo pessoas inreligentes GE & s, canais © outras estrucuras... tim ambiente consi ‘iam truques que nés ainda temos de aprender usaram grandes pedagons altamente elaborado, rivalizando com o de muitas sociedades complexas & sonia nfo descrucivamente, Confrontados a um problema ecolégicn, & temporineas das Américas ¢ dle outras partes.” Os primeiros habitat orc meente Ran omnnaliag:« nacarcen, cles viene, Ce oa deisaram tragos de terra prets: oF nevor poroalos logo, formarnm | FE meio da sua verral cma Colombo a areccu tarred Cai depésitos. “Para mim’, disse Woods, “parece que abjgudm a inventou, 4 ‘ ee s técnica espalhousse panto vieinheg” j 7 ol ee ; a Como a Amazinia nie dispie de pedras nem de metais, ¢ como 6 sex clima imide destrdi rapidamente madeizas ¢ tecidos, € dificil encontrar vestigios materiais de sacicdades do passado. A principal excegio a cerlmica, com exemplares sobreviventes admisaveis, como. 08 vasos altamente decorativos da regio de Santarém (direita, este provavelmente confee= cionado no séeulo XWil), Sendo rara, a pedra servia para Fazer itens especiais, come 0 almofariz (esquleeda) usado para triturar sobstincias. ‘ att Historia da Associacao Atlética Ponte Preta Volume VI - 1984 a 1993

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