1) O documento resume o livro "Círculos de leitura e letramento literário" de Rildo Cosson, que discute o letramento literário como uma prática de leitura.
2) Cosson aborda conceitos como literatura, leitura, elementos de leitura e modos de leitura ao longo de sete capítulos.
3) O autor sugere que o letramento literário permite a apropriação da literatura como "construção literária de sentidos".
Original Description:
COSSON, Rildo. Círculos de leitura e letramento
literário. São Paulo: Contexto, 2014.
Original Title
RESENHA -Círculos de leitura e letramento literário
1) O documento resume o livro "Círculos de leitura e letramento literário" de Rildo Cosson, que discute o letramento literário como uma prática de leitura.
2) Cosson aborda conceitos como literatura, leitura, elementos de leitura e modos de leitura ao longo de sete capítulos.
3) O autor sugere que o letramento literário permite a apropriação da literatura como "construção literária de sentidos".
1) O documento resume o livro "Círculos de leitura e letramento literário" de Rildo Cosson, que discute o letramento literário como uma prática de leitura.
2) Cosson aborda conceitos como literatura, leitura, elementos de leitura e modos de leitura ao longo de sete capítulos.
3) O autor sugere que o letramento literário permite a apropriação da literatura como "construção literária de sentidos".
Letramento Literrio e Prticas de Leitura Lvia Mrcia Tiba Rdis Baptista*
Ao longo dos sete captulos de Crculos de leitura e letramento literrio,
Rildo Cosson trata do letramento literrio como uma prtica de leitura. Inicia com a apresentao de concepo de literatura centrada na palavra e no no impresso, por consider-la mais dilatada que a usualmente difundida nos livros escolares. No segundo e no terceiro captulos, aborda, respectivamente, os elementos e objetos de leitura para identificar o lugar do letramento literrio como prtica de leitura. No quarto captulo, sistematiza os modos de leitura da literatura culturalmente disponveis para as comunidades de leitores. No quinto captulo, associa algumas prticas de leitura literria consideradas relevantes tanto para o letramento literrio como para os crculos de leitura. J no sexto e no stimo captulos, discute o funcionamento dos vrios tipos de crculos de leitura, enriquecendo sua exposio com exemplos e apresentao de propostas concretas. Nota-se, ao longo de todos os captulos, uma organicidade interna que nos leva a (re)pensar e a (re)significar os papis de leitor, formador de leitores e, ainda, a identidade do sujeito letrado, inserido nas diversas comunidades interpretativas, nas quais os textos literrios, em sua acepo ampla, constroem e medeiam relaes de sentido. Sendo assim, o autor conduz, em um texto gil e, simultaneamente, vigoroso e fluido, reflexes
* Doutorado em Lingustica pela Universidade Estadual de Campinas (2005). Professora
associada da Universidade Federal da Bahia. Atua, tambm, na Universidade Federal do Cear. Contato: liviarad@yahoo.com
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incessantes que desestabilizam vises e concepes de texto, discurso, prticas de leitura e, obviamente, de literatura e literrio. Percebe-se em sua exposio uma preocupao constante com as potencialidades do letramento literrio, uma prtica de leitura que adquire densidade e contorno nas tramas de sentidos dos textos, contextos e intertextos, e que, inevitavelmente, afeta todos os sujeitos leitores. Alm desses aspectos, o autor reconhece a dimenso formativa do letramento literrio, ao sugerir maneiras de abordar os diversos textos que contribuem para a (trans)formao dos leitores. Chama a ateno que, no final de cada captulo, surge uma fbula, relacionada com as reflexes desenvolvidas, realimentando um ciclo de inquietaes, no qual a palavra torna-se uma bssola desejada para dar o norte, sinalizar o caminho da compreenso da temtica explorada. Teceremos, a seguir, algumas consideraes e apreciaes sobre determinados tpicos tratados nos diferentes captulos, haja vista sua relevncia para a compreenso do letramento literrio como uma efetiva prtica de leitura. Comecemos pelo primeiro captulo, no qual o autor problematiza como a literatura na atualidade parece no ter lugar no cotidiano e discute o cenrio desolador de quem se dedica a ela e ao seu ensino. Refere-se a alguns ndices do apagamento da literatura na escola (p. 14), associados com o fim de certa tradio escolar que se remonta aos gregos e na qual o uso pedaggico dos textos literrios era meio e fim de um processo educativo, instrumento de acesso ao mundo da cultura (p. 15). Entretanto, essa aliana que traspassou o ensino de lnguas clssicas para o da materna no resistiu s mudanas sociais, pedaggicas e tericas vivenciadas tanto na escola como pelo alunado no que se refere ao conhecimento de literatura. Ora, esse modelo no condiz com uma prtica significativa que contribua para o letramento literrio do aluno. Entendemos, consequentemente, que a questo principal consiste em como lidar com esse descompasso, ou seja, como dar uma direo diferenciada leitura dos textos literrios, de forma que no nos aprisionemos em modelos anacrnicos. O autor segue suas reflexes acerca do lcus da literatura, problematiza a associao literatura, escrita e livro e sugere recuperar uma concepo bsica: a da literatura como palavra. Segundo essa concepo, h distintas formas de difuso da literatura, como mostram os diferentes formatos e veculos, seus avatares: a cano popular, o filme, as histrias em quadrinho, a literatura
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eletrnica, as sries televisivas, telenovelas, jogos eletrnicos, propagandas. Dadas as diversas possibilidades para a existncia do literrio, a literatura atravessa vrias manifestaes que nos circundam discursivamente. Da a escolha acertada de avatar, termo que sugere e evoca essa permanncia fluida, hbrida e polissmica. Em todos os exemplos citados, o trnsito se d por um terreno comum, qual seja, o do espao literrio. Ora, o autor (des)territorializa a literatura e, simultaneamente, valoriza o que denomina a palavra feita literria (p. 19) e sua expanso, reforando sua presena no nosso cotidiano. Tema que o leva ao debate sobre a circulao e a permanncia da literatura, cujo ponto central o conceito de literatura e, especialmente, a contribuio de Even-Zohar em sua teoria dos polissistemas (1990) para a compreenso dos seus modos de existncia. Retoma a dicotomia cultura como bens ou produto e cultura como instrumento (p. 24), trasladando-a para a literatura. Para a concepo da literatura como bem ou produto interessa a percepo desse objeto pelo valor, prestgio e status que esse encarna. J a literatura como instrumento no supe o conjunto das obras e suas funes sociais inerentes a um dado objeto como o literrio, mas o emprego desse conjunto em toda a sua complexidade. De acordo com essa concepo, a literatura uma atividade que produz textos (p. 24) bem como produtores desses textos para elaborar novos produtos e novas formas de fazer literrio. Implica um mercado para tais textos, instituies que o mantm, consumidores que os legitimem como texto e, por fim, um repertrio que alimenta todos com palavras, imagens e modos de viver e interpretar o mundo e o vivido (p. 25). Como observa Cosson (2014, p. 25), o letramento literrio permite a apropriao da literatura como construo literria de sentidos; dessa forma, esse repertrio construdo, transformado, negociado e preservado tanto individual como socialmente atravs desse letramento. No segundo captulo, o autor se debrua sobre a leitura e seus elementos. Observa que, entre as diversas concepes de leitura, escolher a da leitura como dilogo, fundamentada no dialogismo bakhtiniano. Coerente com essa concepo, ler produzir sentidos por meio do dilogo, da conversa; um dilogo com o passado e por meio do qual se criam vnculos entre o leitor, o mundo e os outros leitores. Ao ler acedemos a outras comunidades, ou ainda, a vrias comunidades de leitores, o que acentua a natureza da
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leitura como uma prtica social e historicamente situada. Assim, como afirma o autor, ler consiste em uma competncia individual e social, um processo de produo de sentidos que compreende o leitor, o autor, o texto e o contexto. Esse olhar pressupe o engajamento do leitor em uma rede de sentidos, ao integrar esse circuito de leitura, e sumamente til para compreendermos a proposio da leitura como dilogo e os crculos de leitura. No terceiro captulo, o autor trata da leitura e seus objetos. Uma questo crucial diz respeito ao lugar da literatura na formao do leitor e srie de questionamentos que suscita. Retoma-se a discusso sobre a escola e a leitura dos textos literrios alertando-se para o fato de que esse no o nico espao de formao. Sugere-se, assim, uma dessacralizao com respeito s prticas de leitura e formao de leitores, o que valida a concepo de letramento literrio como uma prtica social e a da leitura como dilogo, e evidencia, mais uma vez, que a literatura est em toda parte. Ainda nesse captulo, o autor trata de diversas questes, como a problemtica em torno da definio de texto, da delimitao do texto e do discurso literrio, e, alm disso, a existncia das mltiplas manifestaes do texto literrio. Destacamos o papel que cumpre o leitor na construo do literrio, questo examinada a partir do cotejo de duas posies: a de Rosenblat (1994) e a de Miall e Kuiken (1999). A primeira, relacionada com a teoria transacional da obra literria, distingue a experincia da leitura baseada na maneira como o leitor processa o texto e prope a leitura eferente e a esttica. J a segunda, com a concepo de literariedade, oriunda do formalismo russo, refere-se ao conjunto de elementos estilsticos e lingusticos que caracterizam o texto literrio frente ao no literrio recentemente retomada como produto de um modo distinto de ler (p. 55), que consiste no modo de ler da literatura. Em ambas as concepes o leitor cumpre um papel relevante na construo do literrio, mas esse no est desvinculado dos elementos textuais. No captulo quarto, o autor centra-se nos modos de ler o texto literrio no interior e fora da escola, examinando essa questo a partir dos quatro elementos do circuito de leitura: leitor, autor, texto e contexto. Retoma a viso tridica contexto-com-o texto, ao redor-do-texto e alm-do-texto, por meio da qual apresenta diversas possibilidades de leitura e de explorao de leitura do
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texto literrio que, entendemos, convergem para a ampliao do letramento literrio e para a formao do leitor, apesar de certos reducionismos a que esto sujeitas, como pondera o autor. No captulo quinto, aps revisar algumas dessas prticas, o autor destaca como podem contribuir para o letramento literrio no ambiente escolar. Esse olhar para a educao e, em concreto, para o contexto escolar situa o letramento literrio como um dos diversos letramentos que precisam ser considerados na formao dos sujeitos. De acordo com essa viso, o letramento literrio, bem como os demais, integra as diversas prticas de leitura e sua especificidade reside na forma como a palavra tratada, como serve para a construo de sentidos esteticamente elaborados. Nos captulos sexto e stimo, o autor explicita em que consiste uma comunidade de leitores e ressalta o papel das regras interpretativas da comunidade qual pertence o leitor convenes, contextos e instituies , que predeterminam o que o texto e como deve ser lido. Observa no haver texto ou leitores isolados e, assim, os processos de interpretao e, por conseguinte, a construo dos sentidos so marcados indelevelmente por uma dinmica relao entre autor, obra e leitor, na qual esto presentes as instituies, o mercado e o repertrio que do suporte e sustentao em grande parte s prticas de leitura de uma comunidade. Esse aspecto decisivo, pois evidencia como os sujeitos se posicionam ao ler e como esses posicionamentos implicam sua inscrio em uma dada comunidade de prtica. Na concluso do livro, o autor nota que um crculo de leitura uma prtica de letramento literrio que repercute intensamente tanto em quem participa como no espao em que essa ocorre. Na escola, essa prtica contribui para a aprendizagem atravs da reflexo coletiva, amplia a capacidade de leitura e desenvolve a competncia literria, bem como as diversas habilidades sociais e competncias lingusticas. Contudo, observa o autor, no devemos considerar os crculos de leitura uma panaceia para a aprendizagem da escrita e formao do leitor na escola (p. 177). O crculo de leitura no deve funcionar isoladamente, mas integrar um programa de leitura que abranja outras atividades que favoream a leitura, a formao do leitor e a leitura literria. Como nota o autor, h duas questes fundamentais para que pensemos o letramento literrio e os crculos de leitura. A primeira refere-se ao fato de
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que os passos propostos para o crculo de leitura no constituem mera prescrio, j que nossa capacidade de aprender vai alm de qualquer estratgia ou mtodo didtico. A maior prova disso que o propositor de uma nova metodologia aprendeu certamente dentro dos limites da metodologia anterior que ele critica (p. 178). A segunda alude concepo de que os crculos de leitura podem incorporar diversos modos de ler e meios de circulao da literatura. Assim, podem incorporar outras formas de manifestao literria, uma vez que os crculos de leitura so espaos de compartilhamento, o que evidencia a natureza dialgica da leitura e sua relevncia como uma prtica social e historicamente situada de construo de sentidos uma construo humana, j que ler no tem contraindicao, porque o que nos faz humanos (p. 179). Em face do exposto, o autor conclui que no existe a melhor ou a pior leitura. Assim, em conformidade com esse olhar, todas as prticas de leitura nos humanizam e, humanizando-nos, nos tornam mais prximos e abertos ao dilogo. Portanto, todas essas prticas de leitura do texto literrio, como precisamente sugere o autor, so dilogos entre o passado e o presente, atravs dos quais compartilhamos saberes, experincias e vises de mundo e de vida.
Recebido em: 02/06/2015
Aceito: 22/11/2015
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