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Texto complementar Espacos de uso pubblico: ruas criadas e pracas projetadas (0514 2007 Entre 0s elementos componentes dos projetos de parcelamento do solo pode-se dizer que es- tes se divide em dois espagos: 0 privado e o publica. Nos loteamentos este tltimo constitui-se de ruas e pragas, elementos que se destinam & sociabilidade e convivéncia. E os demais elementos citados e descritos anteriormente (lotes e quacras) constituem o espaco privado, destinado 20 uso particular. No contexto da cidade, as ruas s80 caracterizadas como locas de passagem, onde as pes- soas podem se encontrar e as pracas como locais de parada,e por essa ra280 0s locals onde as pesso- as podem, além de se encontrar, conviver.Entretanto, também é verdade que as calcadas so espa- ‘50s muitas vezes utilizados paraa integragdo social Os usos dos passeios publicos podem ocorrer de diferentes formas, variando de acordo com a cultura local, bem como da existéncia ea proximidade de locais que desempenhem essa funso. ‘As ruas tém algumas de suas caracteristicas como dimenséo e largura asseguradas pela legi ‘20. Contudo, os perf transversais apresentados nos projetos nem sempre correspondem ao que & previsto em lei O artigo 25 da Lei Municipal 575, de 26/11/1957 fixa dimensées minimas para as. vias locais de menor circulagao entre 10,00 e 12,00m. Nos loteamentos as vias locais correspondem. €sruas criadas para deslocamento interno e estas podem ou néo ter conexo com a malha externa, Esse artigo ainda remete-se & dimenséo da superficie de rolamento, estabelecendo que esta ndo poderd exceder a dois tercos (2/3) da superficie total. Nos loteamentos analisados a largura das vias variava entre 6,00 e24,00m, As menores corres- ponder as vias locais e as maiores as vias primarias ou vias de acesso a0 empreendimento, ou ain- de, prolongamento de uma via existente. A maior parte das vias apresenta largura total de 12,00m ‘como previsto em el, com pista de rolamento de 8,00m e falxas de 2,00m em ambos os lados dest- nados 20s passeios publicos. O que se questiona é se essas configuracGes atendiam &s funcSes que esses espagas podiam desempenhar, em especial as calcadas, nas quais néo apenas a passagem de ppedestre ocorre, mas também a parada eo convivio dos que as utilizam. Se aarborizagéo era obriga toria‘eacalgada tina, por exemple, .5mde agua, come coneliar as demaisfungées num espaco ‘Aimportancia dessas medidas nao ¢ olhada, neste trabalho, apenas sob 0 angulo técnico, jub sgando 0 quanto de largura é necessério para o desempenho favoravel do fluxo de veicullos e de pe- destres, mas sim sob o aspecto social, o quanto desses espacos éoferecido & integragSo social e qual o verdadeiro papel desempenhado por esses espacos. Como a legislacSo assegurava a arborizagso dos logradouros, oespaco das calcadas poderia ento ainda ser partilhado com os espacos de permanén- ciaede passager, além dessa faixa destinada a equipamentos urbanos e vegetagio (figura 2). Figura 2 - Perfis transversais de vias pablicas apresentados nos projetos de loteamento Por isso enfatizamos também quanto a vida social cotidiana interiorizou-se nos espacos confinados pelos muros das casas residencial. lo porque a rua, que por certo intervalo da hist6~ ria das cidades completava a casa, sendo uma extenséo dela, onde as pessoas conviviam, passou ase contrapor a ela ~ “a casa tema funcio de preservar a individualidade, reforcando 0 privado” (FANI, 1996). A razéo de a rua se opor a casa pode ser explicada pelo aumento significative do uso da televiséo como instrumento de informagéo e divertimento, minimizando 0 contato com a vizinhanga. Da mesma forma, 0 predominio dos automéveis, que “tirou as cadeiras das calcadas* (FANI, 1996) € um dos agravantes no enfraquecimento da sociabilidade, uma vez que reduz as rela- es de vizinhanca.As atividades, antes realizadas nas ruas e nas calcadas dos bairros (quermesses, encontros nas esquinas, ensaio das escolas de samba - exemplos citados por Ana Fani no seu livro (© lugar na/do mundo) atualmente acontecem em locais fechados. E como se aos poucos fossem desaparecendo os lugares, os pontos de encontro. *..Mas de “lugar do estar” as ruas das metrépoles definitivamente se transformaram em lugar de passagem. Mas no perdeu para sempre o seu sentido de lugar do encontro, bem como de reuniéo, por mais que hoje se tenham tornado esporédicos. Quantos pés jé no deixaram ai suas pegadas?” (FANI, 1996). ‘Além das ruas, as éreas destinadas 8 sociabilidade podem estar localizadas ao centro, como se a estas fosse empregada funcio de centralidade do loteamento. Em outros, esses espacos loca- lizam-se na periferia do terreno, como se objetivassem a beleza estética do loteamento. Indepen- dente de sua localizacio e de sua dimens8o, os espacos de uso pubblico podem ou néo responder 20 Isso porque a realidade social e de convivéncia da localidade & capaz de fazer usos distintos de um mesmo espaco: tanto podem utilizé-lo para uma aproximagao, quanto fazer deles o limite entre seus mundos privados. ‘Aeexisténcia desses espagos nos loteamentos é percebida de forma muito reduzida - a maior parte dos projetos néo apresenta as pracas como elemento constituinte. A caracterizaco desses es- 'Pacos no segue uma uniformidade quanto ao tamanho e qualidade. Em alguns projetos as pracas ‘ou as éreas verdes correspondem a terrenos intersticiais, ou seja,terrenos que ndo tém caracteris- ticas fisicas favordveis & comercializacéo como lote. Alguns autores de projetos ainda afirmam que essas éreas deveriam ser projetadas para serem pontos centrais dos loteamentos e que para elas. convergissem as demais ruas, funcionando como um grande centro verde. Contudo, essa realidade 1ndo € constatada nos projetos analisados: grande parte dos empreendimentos que apresentam. reas destinadas ao uso pablico destina para esse fim 0s espacos que sobram da divisio da gleba, rnormalmente na periferia do loteamento. Alguns projetos, em especial os de maior dimenséo, demonstram um maior cuidado na distri- bbuigdo dos elementos e configuracéo formal resultante - oferecimento de um lugar onde as pes- sas tenham a possibilidade de viver e se encontrar j6 que & na cidade onde se expressam as ne- cessidades mituas de cada individuo e impele, na produgo da vida urbana, “uma série de "atos” e “encontros” que ocorrem permanentemente e simuultaneamente no espaco urbano” (GRAEFF apud CAUHMAN, 1975). Isso pode ser observado na maior quantidade de cruzamentos, as esquinas, onde as pessoas se encontram, cruzam seus caminhos , tomando a decisdo por onde seguir, continuam seu trajeto. Como também na maior quantidade de espacos de uso pilblico,refletida nfo apenas nas pracas e reas verdes, mas também nas éreas destinadas ao passelo publico - as calcadas e vias. Entretanto, cada grupo, cada formacéo pessoal pode-se utilizar de forma diferente dessa realidad -entendé-la como uma possibilidade maior de se encontrar com o préximo, ou utiliz-la como fronteira entre os cespacos privados. [Alguns loteamentos podem gerar também um espitito de cooperacdo entre 0s moradores, refletido na criagdo de associacbes que buscam, em unio com todos os habitantes da localidade, primar pela qualidade do loteamento, e que normalmente concentram essa melhoria nos espacos {que possam atender a todos de forma iqualitéria,e esses espacos s80 0s espacos de uso piblico. Nas pequenas glebas, onde justamente por acomodar um nimero menor de moradores pode ria ser facilitada a sociabilidade entre eles, quase nao sio oferecidas éreas para uso piblic, apenas as ruas e cacadas. Talvez as calcadas sejam suficientes para estabelecer uma ligaglo entre os mora- dores pela pequena dimenséo da via,o que faz com que eles estejam mais perto uns dos outros. Cada projeto de parcelamento do solo, inserido, criado no seio citadino, pode fazer surgir uma ova forma de sociabilidade urbana, dando continuidade ou ndo ao que jé existe. Entretanto a existéncia de espacos que podem proporcionar a aproximagéo entre os mora dores nem sempre é olhada sob ngulo positive. O afastamento provocado pela maior e continua distancia entre 0s espagos piiblicos e privados pode ser traduzida como fronteira capaz de ser ultra-

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