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Resumo: Este artigo tem por objetivo analisar o ensaio “A obra de arte na era de sua
reprodutibilidade técnica” de Walter Benjamin (1892-1940) considerando o
desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação de linguagem em
especial a fotografia, o cinema, o computador e o advento da rede mundial de
computadores, a internet.
Abstract: This article intends to analyze the essay “The work of art in the era of its
technical reproducibility” of Walter Benjamin (1892-1940) considering the new
information and communication technologies with special attention to the photography,
the movie, computers and the World Wide Web, the internet.
A Técnica e a Arte
As citações, no meu trabalho, são como ladrões à beira da estrada, que irrompem
armados e arrebatam o consciente do ocioso viajante. – Walter Benjamin – Rua de
Mão Única
Walter Benjamin procura determinar ao início de seu ensaio “A obra de arte na era de
sua reprodutibilidade técnica” o que significa efetivamente a reprodutibilidade da
obra de arte e ainda, a sua reprodutibilidade técnica, demonstrando que esta última é um
fenômeno mais recente da história da humanidade. Afinal, o homem sempre foi capaz
de reproduzir a ação humana de outro homem e esta atividade foi – desde os primórdios
de nossa sociedade – organizada através da transmissão do conhecimento por mestres a
seus aprendizes e discípulos. A técnica de reprodução, todavia é fenômeno mais recente
na medida em que exigiu algum desenvolvimento tecnológico para a constituição de
ferramentas ou equipamentos voltados para tanto com evidente objetivo de fazê-la
atingir a um número maior de pessoas ou consumidores das mesmas. A xilogravura,
substituída mais tarde pela litografia, bem como com o advento da imprensa que
propiciou a difusão de imagens e palavras atingiu níveis sempre crescentes de
massificação. Essa popularização trouxe como conseqüência a coexistência da obra de
arte com suas inúmeras cópias. O debate remete inevitavelmente à questão da mimeses
de Platão onde teríamos a cópia – representação artística – da cópia – a idéia ou ser
original – e neste caso a arte que imita a natureza ou os objetos não seria nada além de
um indesejável simulacro. Aqui tratamos da reprodutibilidade do que é idealizado para
ser cópia, como sobre outras manifestações que, de certa forma podem ser entendidas
como uma reprodução, e.g. a pintura ultrarealista e a fotografia clássica. Benjamin
acentua a questão da autenticidade da obra de arte e introduz a noção de aura que em
muito se reduz com a reprodutibilidade. O testemunho histórico, sua existência física e,
inclusive a localização original da obra, impactam na produção desta aura. Basta
conhecer as manifestações artísticas da cultura Egípcia no Egito – ainda que o país
esteja totalmente estabelecido nos padrões do mundo árabe – e comparar com o que
vemos no primeiro piso do Louvre, por exemplo, para percebermos esta sensação.
O refúgio derradeiro do valor de culto foi o culto da saudade, consagrada aos amores
ausentes ou defuntos. A aura acena pela última vez na expressão fugaz de um rosto, nas
antigas fotos. È o que lhes dá sua beleza melancólica e incomparável (W.Benjamin
2008:171).
Aqui ele fala de todos os homens, mas, sabemos, também fala de sua própria história de
vida… Todavia, até esta aura parece ter esvanecido com a fotografia digital e seu uso
obsessivo em milhões de sites de relacionamento que parecem servir a uma compulsão
narcísica de expressar identidades inautênticas nas redes da internet. Vemos
freqüentemente uma enxurrada de fotos de momentos de alegria cuidadosamente
“pousada”, onde pessoas que pouco se conhecem fingem amizade, e se cercam de
fragmentos de literatura que sequer foram lidos de maneira mais reflexiva. Trata-se a
meu ver de uma ferramenta de busca de identidade, reconhecimento e até por que não
dizer, notoriedade no microcosmo da escala social. É o fenômeno da micronotoriedade
antes conquistada pelo esforço na criação das pequenas mídias locais como jornais de
bairro e escola, saraus, apresentações teatrais amadoras. O texto parece antecipar em
muito o fato de termos hoje no planeta um número extraordinariamente maior de
escritores em relação ao século XIX em proporção ao número de leitores. Ele aponta
como acontecendo ao final daquele século este crescimento em razão do
desenvolvimento da imprensa, mas é com a internet que se favoreceu a criação de sites
pessoais, blogs, newsletters e twitters que geraram um aumento exponencial da situação
que Benjamin já vislumbrava no segundo quartel do século XX. O mesmo ocorre com o
fenômeno da autorepresentação crescente no youtube.
Num processo de trabalho cada vez mais especializado, cada indivíduo se torna bem ou
mal um perito em algum setor, mesmo que seja num pequeno comércio, e como tal pode
ter acesso na condição de autor. (W.Benjamin 2008:184).
Mas é na questão do cinema como real produção artística que Benjamin propõe uma
crítica mais contundente – em que pese sua indagação outrora comum se a fotografia
seria uma manifestação artística – ao compará-la com a pintura, o teatro e o cinema. Ele
se prende ao fato de que como o cinema permite a edição de imagens e por força disto
uma sucessão infinita de encenações até o perfeito ato ser validado, teríamos uma
artificialização da dramatização ou mesmo das imagens urbanas ou da natureza. O tema
é absolutamente atual quando constatamos o nível de desenvolvimento dos efeitos
especiais que criam personagens ou atores virtuais, além de cenários elaborados pela
introdução da metodologia dos fractais que passam a ter um nível de perfeição que
chega à identidade do mundo. A crítica ainda hoje faz sentido em alguns casos quer
extremos em tecnologia quer na profusão de jovens atores que ascendem à profissão por
razão de estética facial ou parentesco influente, em especial na televisão, e que acabam
por gravar, na prática valendo-se da metodologia de tentativa e erro. É da mesma forma
o político que se apresenta para o povo lendo um texto em teleprompter com idéias
retiradas da pesquisa eleitoral e sistematizadas à sua revelia pela equipe de especialistas.
O sentido dessa transformação é o mesmo no ator de cinema e no político qualquer que
seja a diferença entre suas tarefas especializadas. Seu objetivo é tornar apresentável, sob
certas condições sociais, determinadas ações de modo que todos possam melhor
“absorvêlas” de forma palatável.
O filósofo alemão enxerga claramente o forte cunho ideológico que permeia o cinema
por um lado, e ao mesmo tempo admite a capacidade libertadora das massas quando
analisado sob o prisma do puro entretenimento. Não resta dúvida que a indústria do
cinema norteamericano investe em franca articulação governamental na difusão de suas
versões de fatos históricos, glamorização de personagens e do estilo de vida que
caracteriza aquela nação, além de dar forte conotação pictórica a seus valores sociais na
perspectiva de universalizá-los.
Conclusão
O escritor demonstra neste texto não apenas uma extraordinária capacidade visionária,
mas declina em mais de uma oportunidade o caráter político, histórico e ético que
caracteriza toda a sua obra. O escovar a história a contrapelo. Não se trata de
recepcionarmos os fatos e narrativas, mas o aspecto reflexivo onde ela se apresenta
como tarefa. O ensaio em tela traz muito da característica marcante em sua obra de
analisar o momento histórico, o instante e não o fluxo como tão ordinariamente fazem
os historiadores marxistas. E ele o faz na perspectiva da redenção, da abertura das
possibilidades de um novo caminhar onde os dominados e vítimas da violência possam
obter uma nova escrita ou mesmo escritura. O marxismo teológico e metafísico de
Walter Benjamin rememora os mortos, os banidos, os desgraçados, os torturados e os
famélicos que merecem a nossa memória pelo sofrimento vivido e que precisa ser
revivido, na perspectiva da justiça capaz de promover a salvação. É esse o teor de
verdade que ele demonstra em um raciocínio singular e de enorme força quando fala da
linguagem de forma paradoxal e metafísica e da mesma forma no que se refere à arte
(que é também tratada como linguagem), onde apresenta uma ruptura com a tradição
estabelecendo a noção da obra aberta que necessita de continuidade através da história.
É a estética do sublime que supera a temporalidade humana e se difere propositalmente
do discurso classicista onde a mesma se apresenta como símbolo, como se a obra de arte
tivesse uma essência decorrente da possibilidade de a mesma ser uma manifestação
sensível de um inteligível pleno, a idéia da bela aparência simbolizando uma verdade
que se encontraria fora da mesma. A obra para ele é uma fogueira em chamas sensível e
inteligível onde o que realmente é importante é a capacidade de levar o apreciador não à
totalidade harmônica, mas a faculdade de a mesma fazer sentido mesmo muito depois e
distante de nós. O que vale é a possibilidade de suscitar a experiência sensível do
tempo, o estranhamento, o enigmático da vida humana contrastando com nossas
convicções. É a autêntica e inquietante crítica de arte que promove a manutenção dessa
fogueira que pode provocar a vertigem da perda de nossas convicções diante da própria
existência. A obra é o lugar da experiência existencial que nos remete ao nosso limite
claramente fixado no tempo.
Ele tenta promover ao longo de sua obra uma articulação entre linguagem, arte e
historicismo dialético-marxista convidando a pensar na perspectiva de promoção da
ruptura com a aparentemente eterna sucessão de vitórias dos vencedores da história em
conexão espiritual com os vencidos e mortos.
Tags: A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica, arte, internet, reprodutibilidade técnica,
technical reproducibility, Walter Benjamin
Por Cláudio Mendonça, em 18/04/2010 - 12:03 am. Você pode acompanhar as respostas
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