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PRCHEU, Mt. Semantic e Discurso: a crc fragt dodo. Trad. Eat Grande A. 3 Canina St Pao ors dU ‘PEQIEUX, Me BALIBAR, F.Definiges, in: PECHELX, M; FICHANT,M Sabre historia ds citcas, Colegio Teoria NS. ed, Lisboa Editorial stamps, 1977, p. 11-16. QUANDO NAO SE DIZ NADA FORA DA PALAVRAY ‘oa Lara es Pace yum do Campo Lacaniane SP / Laboratorio de Estos Uns 2A linguist un dominio malo sabre a bumo idade do que a hamonidade pana fr sabre eas” HIBERD, 2012, 45) ROSA COM JOYCE A partir dos anos setenta, com a criagdo do neologismo llan- ae lingua), Lacenatwaliza 0 debate com alinguista,sobretudo no ‘que se refere 8 concepgdo de inguagem com a qual apsicandlise ‘opera. Em “O aturdto” (1972), encontramos que: ‘olnconslente pa ser ‘estutrado come uma ing ‘gem to & coma aalingua que ele habits, etssueto Bequivcidade pea qual cada uma dass dsingve Ua ings ente otras no & nada alm ca integrl ‘dos equivocas que su0 histério debos parssivem nea. velo em que oveal~o Unica para o discuso ‘anatca, a motor seu tbulho, oe da que nie ha relacio senial~ 8 deposit 20 longo cas eras. Fm "Uturaterra* (1971), hdaafirmacio de que odiscuso anal. tico remete antes 3 homofonia ehomonimia do.que a etimologia, esta lta sendo da ordem do discurso universittio, [esse trabalho, busquei compreender melhor as (destin: lagbes possiveis entre alingua, e linguagem: e também a nogio de letrauliizada por Lacan, a partir da aproximacao com dois grandes autores contemporaneos: James Joyce - amplamente comentado por Lacan ~ a0 qual dedicou o titulo de seu Seminsrio 23 —mastam- Ibém pelos lacanianos, desde entdo, - € 0 nosso Guimardes Rosa, Parafraseando Milner quando dix que &s vezes um lingulsta encontra um poeta ¢ o escuta, eu diria que 0 mesmo pode acon: {ecer com um psicenalista, Com Rosa, als, aprendl que o rio tem us margens. E que a terceira ndo se alcanca, mesmo que os ires¢ vires dos nfo tol fagam da vids uma errénci, uma eterna viagen Tio abaixo, ro afora, ro adetro. Com Jacques Lacan, inspirado em James Joyce, aprendi que a terceira margem — que aqui articular ao registro do Real ~ no se chega. A essa margem, a tercera, se cespreita ese experimenta, é que ela se mostraem sua exsisténda, ‘algo, portanto, da ordem do acontecimento, da ocorréncia ao {ue se vive nos casos em que “nao se recusa a captura do espago do ser faante” LACAN, 1973-74). Joyce e Rosa tém em comum o clculo com fungao poética da linguagem, que opera com 0 acaso homofbnico e a contingéncla «da homonimia que sempre permitem fazer ressoar mais além das signifcagbes. Com feito, em sua apresentacio de Prineiras Esra, Paulo Rénai comenta ‘Como pertinentemente observa Cavalcanti Prong. nosso ecto uta cota no faz sano apelar fod ‘consciincaetimolégia do let neologizando voch- bles reevivndo-ibesosonifiado (obiterado ou por vezes demas esquecido pelo so corente) dando is lima recsa0 que esse mesmo so acobou por dest! ‘Uma espéciedaqualesléncio que espera os nolan ‘quando cess orlar do minha (2968/2005 33), ss ln ny Sei 2 den Dec sca xa vo 0 Nas palavras de Alberto da Costa e Siva Repito mais uma vex: JoSo Guimaries Rots escrow tum romance novelas cantos como se fiaese poesia Saberdo queaspaawasaém de signed, tam carto plumagerequeas tases io deversergila as, sim, espaco eno espa, veo. NB0 se que cect, atsuasho, gio, Pofru ser expres, perscutador lio, Perseguiy uma pros permanentamente emo rosamentefalando, apenas quando prevalece seu valor sonoro em detrimento de seu valor referencia esse ato cultutl ce criacao da escrita os extuliosos chamam de principio rebus,e ele ocoere sgragas 4 homofonia, Assim, quando o som a passa aarticularse a luma determinada grafia,¢ essa € faa, a = a, 0 que quer dizer ‘que a letra, 20 contrério do signiicante, nao significa nada, nao se desloca (éfxa}e € id&ntica a si mesma. Com essa definigio, posdemas compreender que Lacan estabelece uma homologia entre ‘6 conceito cientifico de letra com seu conceto psicanalitico, do ‘esino moxlo que o fz com o cancetalinguistico de significance. sano USE e050 MEO Se no inicio de sew ensino a letra € a materilidade do sige nificant, aos poucos essa nogio se diferencia daquela, Podeinos ‘acompanhar seu entusiasmo no Seminério 9 A ldentfcard, a0 revelar sua descoberta de que &aletura que cra a escrita,en200) contirio:"é pela inversdo dessa relacao,e dessa relagao de letra do signo, que pode nascer em seguida a escrita, uma vez que ea pode servir para conotar a fonematizacio.” (LACAN, 1962) Sim, 6 apenas quando se pode ler com o privilégio do som e fixe de ‘maclo a inscrevéo, que um tra qualquer se toma letra. Ora, vemos que a criagio da letra, a partir da “leitura sonora! possibilta, na histria da humanidade, a criaglo do que Lacan chix mma de uma superestrutura,chamada esrita,Aescrita€,portanto, ‘uma consequéncia da linguagem, uma estrutura secundéfia, comp cle resslta em vitios momentos de sea ensino. No Seminério 18 De um escurso que no fsse semsblante (1971) Lacan volta explcitamente & questio da relaglo do signficante com a letra 0 escrito no & primer, «sim segundo, em elagdo 28 toda fargo de tinguager,¢ que, no enfant, sem © escitondo ha nenhuma possiblidade de volar uestionar © que resulta, em primer lugar eet ‘de inguagem como tal ou to de outs maneia da ‘order simbolc.(.) 0 préprio exert, na mec ‘que sedting dinguogem, etal pa nos mos ‘ue, s©€ do esto que se interroga a lnguager, & justamente porque oeszto nda enguagem, mass se const se fbrica pos referénclaabnguagem, (AcAN, 19712009. 59) Durante esse mesmo semindtio, na ligho sobre Lturatero, Lacan definir a letra como o ltoral entre o gozo e 0 saber. Asin, 4 dimensdo que Lacan almeja dar letra, no & nem a experiencia corporal e real do gozo sem sentido e nao aticulado de fling, ‘nem a aparéncia forjada posteriori pela signticag fica da fancasia, masa cfra mesma dessa experiénca que fita o goz0 do sintoma, mas abre a via dos sents decifréveis do incanselente ‘estruturado como linguagem. Faamos agora, um deslocamento,ent2o, da histéra da esrita ara outra ciénca: a lingustica, Area qu, alls, Lacan frequenta ‘com intimidade, tomando jakobson come seu interlocutor até seus “ltmos seminétios. Lembremos que Lacan cta ce modo bastante preciso o texto "Linguistica e poétca", em seu Seminario 24, Para Jakobson (1960) a funcao postica se define pelo “pendor para a MENSAGEM como tal, 0 enfoque da mensagem por ela propria Assim, “qualquer Centativa de reduzir a esfera da fungio posta 4 poesia ou de confinar a poesia fungio posta seria uma sim plificago excessiva e enganadora”(p.128) Vela, portanto, ie Jakobson defende um tratamento estrutura, e no estético, para Fungo postica. hata-se de uma das faetas da inguagem. Poe- Tamos chamada assim: uma de suas margens: © pendor para @ MENSAGEM como tao enfoque ‘da mensagem por ela prpra esa fanio poeta 4a linguager. Esa fung2o ndo pode ser estudeds {e maneia provetosa, desinulace dos problemas Gerais da inguagem e, por outa lade, 0 eeentiio da linguagem exige consderacto minuciosa da suo fungi pottica. Qualquertentaina de radu a esfera da fungio potia 8 poesia ou de caninar3 poesia 3 fungi podtic seria uma smpiiacdoexcesia eer ‘ganadora” (p28), ol acrescenea A funcio postin, Projetao princi de ecuivaléncia do eka ce seleco Sobre 0 ex0 de combinagso, As slabs se convertam ‘em unidades de medida 0 mesmo acontece com ae ‘moras eacenos (2120). [Na mensagem postica ocorre uma primazia da fungao poetica ia, ens Jakobson, sobre a funclo referencial, Aqui, nove mente, figura sonora que prevalece. Mas ele adverte que isso i significa uma obiterago cla referéncia, mas sin a introdugio ‘le uma ambiguidade: "A mensagem de duplo sentido encontra correspondéncia num remetente cindido, numdestiatério cindido ce além disso, numa referencia eindida” (1960, p. 150) Mais um deslocamento, agora de Linguistica para a lia Sabemos que Lacan frequenta Frege em virlos momentos de seu ‘nso. Aqui nos interessaré pensar como Lacan uli. distingao. proposta por Frege entre o sentido (Sinn) ea referéncia - ow sige nificagdo, como as vezes &traduzido em portugues ~ (Bedeutung), sobretudo no que diz respeto is sentencas. Conforme argumentel em meu texto “0 forgamento por onde © psicanalista pode fazer ressoar outra coisa” ‘Aqui & preciso tomar corto cuidedos, 6 que em Vitos textos, sobretudo das anos cnguenta, Lacan liza. 0s eros sentido signfcagioe signcado de ‘modo poucerigoroso. Em pelo mencs duas acai, fenetanto, antes dos anos seteta ee parece ular © termo Bedeutung de modo forte: a primers & 10 testo A significado Bedeutung do flo (2958), que db ‘nome a0 texto. A segunda & quando define 2 fata sla, no tento Subverso do syeta ediltca oo deseo (4960) como o “indice de uma signficacio absolut Als aindicacio de Frege de que eeréncs de ura roposiio su valorde verdage& bastante coererte om a posiiosustentada por Lacan quanto 8 Iégia do fantasma A grt de O Atco, enrtant, Lacan ‘st bastante advert do fata de que a sancti a margem da inguagem que dz respeto a fungto referencia, demos afumar que o que ests em jogo na nocio de reference enquantsgnfcaio €nads mas nada menos, que o debate sobre a lag com a realidae, em Frege econo Rea er Laci Nao estou, evdentemente, sugerinde que a intr pretacio deveria vsar o sentido, mas, 20 contin, Bpontando que afungSo potica, por preg va relacdo muito especlfeaenve 0 sm a0 seni, 9 ‘que possibta fazer ressoar outa cosa Digamos que i Dec rac: hl 99 ‘oanatsta, quando fora adimensto da funcso potica al via a nerpretagio, est usando o sentido antes {ome mea, do que came fim. Parzesdlarecer esse pono, crucillem mevargunento, retomemes ad mencionada interpreta plo eq veco, que privilege a homofenis ojos com ai ‘503 savinda-e los quan can, como advert aca se acresentormos a ess ist a homoninis & ge interingas o texto de Joyce tora se pad mato, (RATES PACHECO, 201, p16) > ALETRA RISCA A TERCEIRA R assim queopsicanalist se utiliza do poeta que cle & para et o discurso do analisante coma escuta da ung poéticaestrura, tuna das margens da palava. Nao para fazé-to gozar com o duplo sentido, ou mesmo os mip que possam suri Mas sim, para om suslimina cortante, operat oevzamento do toro neuritic, ddemodo que algo do quarto n6, lea risque terceiremargem. ‘Como arma Lacan no Semindtio 23 Joye o Sinhoma:“Euni- ‘camente pelo equivoco que aincerpretagao fz lberar sinthoma"™ {p18} E.como isso se faz? Usa-se até gastar "até ating seu real, até se fart" (p16). A lelura do som operada pelo psicanaista ‘em sua interpretagdo poética & uma foreagem, um ato que Lacan nomein com o neologismo nada inocente poudte que une © poe ‘alo, "O analista se serve, assim, da Fungo poetica da Jinguagem como the convém, deslocando-a do plano estético para © tico para fazer ressoar outra cosa, jé que a poesia tem efeito de sentido, mas também de furo” (PRATES PACHECO, 2013, p18). ‘Acrescento, aqui, uma passagem do Seminirio 20 Encore quando, Jogo apés citar Joyce, Lacan arma que estamos no discurso anal. tico quando estamos na dimensdo do letse. No discurso analitico © sujeito do insciente pode aprender a ler a partir de wma gratia ‘que nao sea ert. E-essa a ligio que Lacan extrai de Joyce e que extra de Rost, or Veloso: a fungdo postica, que faz ressoar outa coisa a arma {que o analista usa para risca a terceira margem, mais além do en- velopamento da fungao referencia. $6 assim a letra do sinthoma se libeta para escrevero quarto nd, mas além da escrita do impossivel da fantasia, Retomando a cango dle Caetano Veloso: Morgen do paoira Ene asexcues dus Margens da polra Corer, uz mocure ose da palo Puro seni, rosso pa REFERENCIAS JAKOBSON, R. Linguistica e pte (1960) In Ungustiee comune So Paul: EaitoraCulrix, 1969, JOYCE, . (1922) Ubsses. adigdo de Caetano Galindo. S30 Paulo, Companhia das Letras 2012, IBERD,D. 2012 nog nova edico de Uses 1922) com eradcio ara‘ portuzués de Caetano Galindo. S30 Paul, Companhia ds tesa, 2012. LACAN, (1971 trate. In: Outros crits, Thad, De Vera Ribeiro. Rio de Janet: jorge Zaha Ea, 2003, 448-497 paw {1973} 0 Atul. in: OvtesEsrtos: Op Ci THEA, J 1961-62) 4 lenfeeeo Semintio nao estaelecido ‘oficnimente LACAN, J. (1969 7). 0 Semin, vo 17:0 avs dpc. Ta ‘Ar oitman, Rio de ane, Zaha, 1992, 1971.0 Semin, fir 1 Deum dics gu fis do Tanblne, ‘a Vera ii, de no, Zea, 009, (15731873) Osmo tls tom. Semindtio nao ediada iment {15751350 Seino 20 Sinn. De Sg aa ie ci ge aha E207, 209. RATES PACHECD AL“ forgunent onde o salsa pode ier Tesou outa sé Sys 2) Rl de ale, 013 ve2080,€.1 vee ag do, ban Ce, 1951

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