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Convenio FENIPE e FATEFINA Promoção dos 300.

000 Cursos
Grátis Pelo Sistema de Ensino a Distancia – SED
CNPJ º 21.221.528/0001-60
Registro Civil das Pessoas Jurídicas nº 333 do Livro A-l das Fls.
173/173 vº, Fundada em 01 de Janeiro de 1980, Registrada em
27 de Outubro de 1984
Presidente Nacional Reverendo Pr. Gilson Aristeu de Oliveira
Coordenador Geral Pr. Antony Steff Gilson de Oliveira

APOSTILA Nº. 29/300.000 MIL CURSOS GRATIS EM 156 PAGINAS.

Apostila (29)

Novo Testamento
Estudo Teológico Sobre o Novo Testamento Dividido em XXXI Parte apostila
com 160 paginas "... O ANO ACEITÁVEL DO SENHOR"
"... O ANO ACEITÁVEL DO SENHOR”
Parte I
Então, pelo poder do Espirito, voltou Jesus para a Galiléia, e sua fama correu por
todas as regiões circunvizinhas. Ele ensinava nas suas sinagogas, e por todos era
louvado. Chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou, num dia de sábado, na
sinagoga, segundo os eu costume, e levantou-se para ler. Foi-lhe dado o livro do
profeta Isaías. Ao abrir o livro, achou o lugar onde estava escrito: O Espirito do
Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar aos pobres. Enviou-
me para apregoar liberdade aos cativos, dar vistas aos cegos, por em liberdade os
oprimidos, e anunciar o ano aceitável do Senhor. Fechando o livro, devolveu-o ao
assistente, e assentou-se. Os olhos de todos na sinagoga estavam fitos nele.
Então começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos."
(Lc 4.14-21).
Começa no versículo quatorze uma das extraordinárias narrativas de todo o
evangelho. Jesus está no culto da sinagoga, onde lê Isaías 61.1,2 (acrescido de
58.6). Com essa narrativa, única nos Evangelhos, enquanto Mateus e Marcos
dizem que Jesus anuncia o reino, Lucas mostra que o reino é a Sua realidade, é o
Messias, o Cristo, o Ungido de Deus.

UMA ANÁLISE BREVE

Diferentes critérios podem ser utilizados passar estudar este trecho. Pode
acontecer que alguém tenha uma veia literária, e através dela veja apenas o
aspecto poético de Isaías 61. Observe-se o paralelismo entre os termos
apresentados, entre os versos, por exemplo:

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"Porquanto me ungiu para anunciar boas novas aos pobres", e "Restauração
de vista aos cegos".

Porque, praticamente, é a mesma coisa que está sendo dita. Quando diz:

"enviou-me para proclamar libertação aos cativos", isso é paralelo a "para


por em liberdade os oprimidos".

É a mesma idéia, portanto. E todo esse paralelismo, encontra o seu ponto


culminante na expressão final: "para proclamar o ano aceitável do Senhor",
que é o objeto da nossa reflexão.

Pode ser que alguém deixe de lado o aspecto literário, mas queira destacar o
apelo político do que Jesus afirmou, o que, aliás, tem sido bastante
explorado. Busca-se ver o lado político de expressões tão fortes como,
"anunciar boas novas aos pobres", "libertação aos cativos", "restauração de
vista aos cegos", "por em liberdade os oprimidos". O apelo político é muito
do agrado dos radicais de plantão.

Desejamos, porém, ver a extraordinária lição de apostolado que se encontra


no que Jesus Cristo disse, aplicando a Si mesmo. Enfocamos o
embasamento de um ministério que é repassado à Igreja de Jesus Cristo.
Queremos analisar a missão quer nos foi entregue pelo Senhor, porque vejo
que tudo começa com a unção, visto que nenhum empreendimento em nome
de Jesus Cristo subsiste sem a unção do Espírito Santo; nenhuma empresa
em nome do evangelho, nenhuma campanha, nada, movimento algum pode
subsistir em nome de Jesus Cristo se não tiver a unção do Espirito Santo
sobre si. Por essa razão, Jesus leu: "O Espirito do Senhor está sobre mim",
e daí em diante Ele explica para quê.

Pedro num culto de proclamação do evangelho, na casa de um militar, um


oficial do exército romano, refere-se ao ministério de Jesus Cristo, e afirma:
"Como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder, o
qual andou fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque
Deus era com ele." (At 10:38), o que vai nos conduzir às expressões que
definem a plataforma que vai ser seguida por Jesus Cristo, o Seu programa.

"O Espirito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar
aos pobres. Enviou-me para apregoar liberdade aos cativos, dar vista aos
cegos, por em liberdade os oprimidos." (Lc 4.18).

PROFUNDA CARGA EMOCIONAL

"Pobres". falar de pobreza é uma carga emocional fortíssima. O jornal A


Tarde (de Salvador) vem falando sobre a fome e a desnutrição no estado da
Bahia. Falar de pobreza traz para nós sentimentos tremendamente

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emocionais;

"Cativos". Falar de prisão é a mesma coisa. É pesado, é triste, traz mágoa.

"Opressão". Há opressão demoníaca neste mundo. O crente é oprimido, mas


não possuído.

Jesus fala de cegueira, e lê essas palavras em Isaías 61, capítulo


considerado como o cerne da mensagem desse profeta. Jesus se identifica
com o fato profético descrito, e demonstra ser Ele mesmo as boas novas; o
profeta escatológico, o proclamador do evangelho; demonstra ser Aquele
que traz libertação para os oprimidos, função eminentemente messiânica.

Para os pobres, para os cativos, para os cegos, e para os oprimidos que são,
não apenas os desafortunados deste mundo, mas todos os que têm
necessidade especial de dependência de Deus (Lc 1.53; 6.20). Ou na
expressão do comentarista de Lucas da

Bíblia do Intérprete,

"o cativeiro a que Jesus se refere (Lc 4.18, 19) é evidentemente moral e
espiritual. O pensamento não se move no plano de abrir portas físicas, para
que os presos saiam], mas livrar os homens da invisível, porém
terrivelmente real prisão de suas almas".

Na verdade essas palavras de tão forte carga emocional descrevem a


falência espiritual à qual Jesus dá especial atenção.

E no verso 19: "e para proclamar o ano aceitável do Senhor". Esse ano a ser
proclamado é a era messiânica iniciada nele mesmo, na pessoa e na obra de
Cristo.

No verso 21, verificamos: "Então começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta


Escritura em vossos ouvidos". Os contemporâneos de Jesus não duvidavam
que o reino de Deus viria algum dia. Todos criam no reino de Deus. Mas
Jesus está ensinando que Deus está agindo agora, naquele mesmo
momento, no presente, na obra dEle mesmo. E, assim, Ele se torna o centro
da História, e até a História, porque a partir dEle ela passou a ser antes de
Cristo (a. C.) e depois de Cristo (d. C.). O propósito de Deus é tudo colocar
sob a autoridade de Jesus Cristo.

E aqui O temos Senhor da História, agora com a vinda do reino, exaltado,


glorificado nos termos de Mateus 28, final do verso 18 que diz: "foi-me dado
todo o poder no céu e na terra". E porque recebemos a graça da libertação,
podemos encontrar esta expressão do apóstolo Paulo: "Seja Paulo, seja
Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, seja o presente,
seja o futuro, tudo é vosso" (1 Co 3.22), autoridade que nos é passada por

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Jesus Cristo.

AS LIÇÕES

O ser humano vive preocupado com o seu salário, com a inflação que parece
querer voltar; com os aumentos das passagens dos ônibus (verdade que
agora mais espacejados), o avanço e engodo das seitas, com o
desenvolvimento do país, com a paz mundial. Pois Jesus traz uma nova
compreensão da vida humana, por isso que, plenamente de acordo com sua
plataforma de ação, é o portador da obra redentora de Deus, e oferece Sua
palavra e Suas ações como desafio à nossa própria fé.

Muitos contemporâneos de Jesus criam que o reino de Deus era só comida e


bebida (Rm 14.12), ou libertação política (Mt 27.39-44; Jo 6.14ss; At 1.6); ou,
ainda, poder temporal (Lc 22.24-30; Mt 20.20). Até os discípulos caíram nesse
erro?! Mas Jesus diz que o reino de Deus já veio em Sua pessoa e dá prova
disso (Mt 4.17; 11.1-6; 12.28; Lc 17.20ss). Pois a fraqueza de algumas
pregações está na idéia de que o reino de Cristo ainda virá (pregação do
premilenismo e dos posmilenismo ). Não é isso o que Jesus Cristo nos
ensina, e permitam-me voltar a Lucas 17.20,21 : "Interrogado pelos fariseus
sobre quando havia de vir o reino de Deus, respondeu-lhes: O reino de Deus
não vem com aparência visível. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Ei-lo ali! Porque o
reino de Deus está dentro de vós." (Mt 12.28; 3.2). É o reino inaugurado,
apesar de que será plenamente cumprido na Parousia, na Segunda Vinda (Lc
22.18). É aquilo que C. H. Dodd chamou de "escatologia realizada", as coisas
dos últimos dias já estão acontecendo e aconteceram na Pessoa de Jesus
Cristo.

Quais são as lições que tiramos desses fatos? A primeira é que Jesus Cristo
é o cumprimento das antigas profecias. Apesar de Suas palavras fazerem
nascer opiniões diferentes ou de admiração (Lc 4.22), ou de repulsa (v. 28),
Jesus cumpre as profecias! Apesar se quererem os Seus contemporâneos
os sinais do shalom que Ele traz (v. 23), Jesus Cristo traz a salvação integral,
o verdadeiro shalom, a paz. O apóstolo Paulo diz que "Ele é a nossa paz" (Ef
2.14).

A segunda lição é que o reino de Deus é Jesus Cristo entre nós, é o


Emanuel. Emanuel é toda uma expressão hebraica, que significa "Deus entre
nós", "Deus no nosso meio", "Deus habitando no nosso meio", "Deus
conosco". Não é libertação para o futuro, para os últimos dias, mas Jesus é
hoje a boa notícia, a graça , a redenção dos homens. Jesus glorificado,
Jesus Salvador, Jesus senhor, Jesus, o Cristo, é poder renovador sobre a
terra, é salvação para a pessoa humana individual, razão porque o livro dos
Atos dos Apóstolos repete até o fim que a verdade está em Cristo Jesus, e
mostra o modelo da "Plataforma de Nazaré" na defesa/sermão de Paulo
quando fala ao rei Agripa em Atos 26.17,18 :

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"Eu te livrarei deste povo, e dos gentios, a quem agora te envio, para lhes
abrir os olhos, e das trevas os converter à luz, e do poder de Satanás a Deus,
a fim de que recebam remissão dos pecados e herança entre aqueles que
são santificados pela fé em mim". Tocado por isso, Agripa diz a Paulo, "Ora,
Paulo quase que eu viro cristão" (v. 28 BLH),

e esse foi o seu grande erro, perto do reino, mas sem salvação: "Quase
aceito o evangelho". O erro de muita gente é um "quase".

A terceira lição a destacar é que a missão da Igreja é dada por Deus. "A
missão de Cristo [é] padrão e modelo para missão de sua igreja", diz Grellert
em Os Compromissos da Missão.

"Disse-lhes Jesus de novo: Paz seja convosco! Assim como o pai me


enviou, eu vos envio." (Jo 20.21). Isso quer dizer que para igrejas que têm
como modelo a missão de Jesus, há necessidade de vidas modeladas pelo
mesmo Jesus. E assim disse João em sua Primeira Carta: "aquele que diz
que está nele, também deve andar como ele andou" (1 Jo 2.6).

"Pois quem conheceu a mente do Senhor, para que o possa instruir? Mas
nós temos a mente de Cristo" (1 Co 2.16);

"De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus,
que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas
a si mesmo se esvaziou, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante
aos homens. E, achando na forma de homem, humilhou-se a si mesmo,
sendo obediente até a morte, e morte de cruz." (Fp 2.5-8);

"Pois os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conforme


a imagem de seu filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos
irmãos" (Rm 8.29).

Assim, temos que moldar a nossa vida pela de Jesus Cristo. Então, se como
nós afirmamos, Missões é o nosso braço para alcançar este mundo para o
Senhor. Temos o fato de que o Deus vivo é um Deus que envia. Os povos
pagãos, vizinhos de Israel, não tinham deuses que enviavam a qualquer
lugar pessoas com uma mensagem. Mas o nosso Deus é um Deus que envia:
Ele enviou Seu Filho ao mundo, diz a Bíblia; enviou os apóstolos; Jesus
Cristo enviou os setenta; e envia a Igreja; ele mesmo manda o Espírito Santo
à Igreja para a unção, e a nossos corações, por isso Ele nos envia, também
ao mundo perdido. "Disse-lhes Jesus de novo: Paz seja convosco! Assim
como o pai me enviou, eu vos envio." (Jo 20.21) , "Assim como tu me
enviaste ao mundo, também eu vos enviei ao mundo." (Jo 17.18).

E aí vem, a quarta lição: é preciso redescobrir a importância da escatologia,


que é o ponto de contato entre a teologia (aquilo que nós cremos), e a
missão (aquilo que nós fazemos). É preciso centralizar tudo na escatologia,

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porque do ponto de vista da teologia, se não tivermos uma dimensão de
futuro, o evangelho deixa de ser evangelho e se torna ética: um clube ético,
e só. Se não olharmos para a Segunda Vinda de Cristo, teremos um grupo de
idealistas que toda manhã de domingo vem para cantar, orar, e pronto,
idealismo apenas e nada mais.

Agora do ponto de vista de Missões, a escatologia é a sua razão. O Povo de


Deus não pode ter crise de identidade, pois sabe quem Deus é, e sabe que é
o povo desse Deus maravilhoso, Vivo e Verdadeiro! É povo que sabe o que
faz! E sabe para que vive, porque a identidade da igreja como povo de Deus
é uma identidade missionária!

Além disso, o povo de Deus não pode perder a memória. Quanta gente
desmemoriada lá fora! De vez em quando é dito que "O Brasil está perdendo
a memória, destruindo os seus monumentos, e seu passado". A nossa
memória é o Novo Testamento, é a Escritura Sagrada! A nossa memória são
as ações apostólicas, o que eles fizeram no passado! A nossa memória são
os atos da Igreja Primitiva; como agia, assim queremos agora! O Povo de
Deus há de estar padrões acima do mundo. Que história é essa de
querermos nos igualar ao mundo?! E damos um exemplo: se o mundo vem à
Igreja e ouve sua própria música aqui sendo tocada, onde está o fermento
levedando a massa? Se nos colocamos no mesmo pé de igualdade, ou até
abaixo, como vamos elevar os padrões do mundo? Mas Jesus, o Cristo de
Deus, é decisivo e normativo para os assuntos de fé e prática.

Afunilando o assunto um pouco mais, isso vai trazer mais uma lição: é a de
que ninguém pode obedecer às ordens de "ir" ou de "servir" se não tiver
amor. Porque a obra de expansão do reino de Deus não pode ser realizada
com carência de amor. Aí Jesus perguntou a Pedro: "Simão, filho de João,
[verdadeiramente] tu me amas?" (Jo 21.16). E Jesus perguntou tantas vezes
porque Pedro nunca respondia "[verdadeiramente] eu te amo", mas tão
somente "eu te amo, eu tenho significativa amizade por ti". Que significa
isso hoje? Sem dúvida, temos três passos no compromisso nosso com
Cristo. Quando Jesus nos pergunta, "Fulano, você verdadeiramente me
ama?", temos um convite à autoconsciência. Você tem que tomar
consciência de quem é diante de Deus, e deste mundo também. Você
representa as mãos de Deus, os pés de Deus e os olhos de Deus; você é um
instrumento de Deus, um agente do reino de Deus. A segunda coisa é que
você tem um convite à consciência da Pessoa de Jesus Cristo que é o
Senhor do nosso futuro, é o Messias de Deus, é o ungido do Pai, é o Filho de
Deus, é o Senhor de nossas almas, é o Salvador de nossas vidas. Você tem,
igualmente, um compromisso. Há um hino que diz,

"Eis-me submisso pra teu serviço".

Bonito, não é? Porém, há crentes que parecem que cantam assim:

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"Eis-me sumiço...",

quer dizer, "caio fora, desapareço, não quero compromisso com a Igreja de
Cristo". Mas temos um convite ao compromisso com a Igreja de Cristo. Um
convite ao compromisso é o que precisa acontecer conosco, nos termos de
Romanos 5.8: "Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo
morreu pôr nós, sendo nós ainda pecadores". Que o Senhor nos ajude
nesses compromissos!

Parte II
PARA UMA ALMA RELIGIOSA, CURIOSA E CONFUSA
"Se alguém não tiver sabedoria suficiente, peça-a a Deus, que a dá a todos de
graça sem humilhar ninguém" (Carta de São Tiago, 1.5, Tradução
Interconfessional dos Franciscanos Capuchinhos)

Estas perguntas, nós as recebemos para que déssemos uma resposta pastoral
dentro da Palavra de Deus. Foram devidamente encaminhadas tanto ao anônimo
consulente quanto ao portal evangélico que no-las enviou. Um amigo leu as
respostas dadas, e sugeriu-nos dar publicidade para ajudar outros espíritos
religiosos, curiosos porém confusos, assim como, nossos irmãos em Jesus Cristo.
O nível é apologético.

"Meus caros irmãos das Igreja Evangélicas, eu sou da Igreja Católica e gostaria
muito que vocês me respondessem a estas perguntas":

PERGUNTA # 1

"Já que a Igreja Batista, Adventista, Pentecostal, Messiânica, Presbiteriana,


Quadrangular, Deus é Amor, Universal do Reino de Deus, etc... não têm
imagem de nenhum "demônio" como na Igreja Católica, e se vocês adoram a
Jesus Cristo, por que vocês então não se unem e formam uma única Igreja
de Cristo?"

NOSSA RESPOSTA:
Na realidade, caro consulente, só existe uma Igreja de Jesus Cristo. Ela é
formada por todos os salvos, de todos os tempos, de todos os quadrantes
da Terra, de todas as línguas, de todas as raças, de todas as condições
sociais, e não é conhecida por qualquer nome de Igreja particular, Grupo ou
Denominação. É um Corpo que reúne todos os que foram alcançados pela
Graça(1) de Deus, unido este Corpo pela fé a Jesus Cristo, o Filho de Deus, e
sem nenhuma cor sectária. A Igreja de Cristo não é qualquer organização
terrena, visível seja do movimento Ortodoxo em suas diversas formas
(Grego, Russo, Ucraniano, Igrejas Orientais, etc.), dos diversos
agrupamentos Católico-Romanos ou de quaisquer grupos Protestantes e
outros Evangélicos (2).

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Outrossim, não nos parece que qualquer grupo evangélico, para-evangélico
ou presumido-evangélico tenha acusado as imagens e outros ícones
presentes nos templos, capelas e lares católico-romanos de "demônios".
Reconhecemos, sim a absoluta falta de ensino bíblico com respeito à
veneração ou culto (mesmo que o seja de dulia ou hiperdulia, visto que na
teologia romana a latria só é devida ao Criador), razão porque o culto
anicônico das igrejas evangélicos é realizado nos moldes do ensino
neotestamentário: "em espírito e verdade" e "racional"(3).

A propósito, vamos desfazer um engano: a assim chamada Igreja Messiânica


Mundial do Brasil não é uma igreja evangélica. É um movimento não-cristão
de origem japonesa, que não tem a Bíblia Sagrada como seu livro de fé.
Portanto, convém não mais relacioná-la com as Igrejas denominadas
protestantes nem com as evangélicas.

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PERGUNTA # 2

"Já que vocês dizem que as imagens que estão na Igreja Católica são
demônios ou ídolos, dêem-me a prova de que elas realmente o são".

NOSSA RESPOSTA
Pena que sua afirmação está certa somente em parte. Não conhecemos
qualquer afirmação entre os evangélicos de serem as imagens dos templos
católicos "demônios". No entanto, quem as coloca na categoria de "ídolos" é
a própria edição católico-romana da Bíblia Sagrada num livro considerado
deuterocanônico (nós o chamamos "apócrifo") e que não se encontra no
Cânon Original, que é o Palestino (escritos os livros em hebraico e
aramaico), e conseqüentemente, também não no Cânon
Protestante/Evangélico. Trata-se do livro de Sabedoria, do qual
transcrevemos uma parte e indicamos outras. Foi utilizada para essa
transcrição a edição da Bíblia Sagrada, traduzida pelo Pe. Matos Soares (4).

Diz o capítulo 13.11ss:


Eis que um artista hábil corta do bosque um tronco direito, e destramente
lhe tira toda a casca,e, valendo-se da sua arte, faz com esmero uma peça útil
para uso da vida(5), e os restos daquela obra emprega-os para cozinhar a
comida(6). E, quanto ao resto de tudo isto, que para nenhum uso é útil, por
ser um madeiro torto e cheio de nós, vai-o esculpindo cuidadosamente nas
horas livres, e, pela perícia de sua arte dá-lhe uma figura, e configura-o à
semelhança de um homem,...

Depois prepara-lhe um nicho conveniente, pondo-o numa parede, e


segurando-o com algum ferro, usando com ele desta precaução, para que
não caia, reconhecendo que não pode ajudar-se a si mesmo, porque é uma
estátua e tem necessidade de auxílio. E, fazendo-lhe votos, consulta-o a

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 8


respeito dos seus bens, e dos seus filhos, ou de um casamento.

Não se envergonha de falar com aquele madeiro, que está sem alma; e roga
pela saúde a um inválido, e pede a vida a um morto, e invoca em seu socorro
um inútil; e, para o bom sucesso de uma jornada, recorre àquele que não
pode andar; e para as suas compras, suas empresas, e para o bom êxito de
todas as suas coisas, implora a quem é incapaz de tudo.

Continue lendo o capítulo seguinte, o 14, sobretudo os versos 7 e 8. Veja


também os versos 17 a 20.

O livro do profeta Isaías (46.7,8) tem igualmente uma palavra de condenação


quando exclama:
Levam-no às costas, colocam-no no seu nicho, e ele fica sem se mover do
seu lugar; e ainda, quando clamarem para ele, não ouvirá, nem os salvará da
tribulação Lembrai-vos disto, envergonhai-vos, entrai em vós mesmos.

É ou não, a mesmíssima forma de uma prática de religiosidade encontrada


sobretudo nos países latinos europeus e do Novo Mundo? Veja, ainda, Isaías
44.9-20.

A claríssima recomendação do Novo Testamento e que se encontra no


último versículo da Primeira Carta de São João é: "Filhinhos, guardai-vos
dos ídolos".

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PERGUNTA # 3

"Eu lhes pergunto quando Deus Todo Poderoso ordenou não fazer imagem,
proibiu se fazer imagens dos homens santos, ou de se fazer imagens de
deuses?"

NOSSA RESPOSTA
Leia o que diz a Bíblia. Vamos reproduzir as palavras da tradução do Pe.
Matos Soares em Êxodo 20.4,5:
Não farás para ti imagem de escultura, nem figura alguma do que há em cima
no céu, e do que há em baixo na terra, nem do que há nas águas debaixo da
terra. Não adorarás tais coisas, nem lhes prestarás culto.

Raciocine: há cabimento para qualquer tipo de culto, seja dulia ou


hiperdulia? A proibição é TOTAL: de "homens santos" e de "deuses"
também.

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PERGUNTA # 4

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"Para vocês existem ou não os santos Ler 2 Tessalo-nicenses 1,10; Efésios
3,8.

NOSSA RESPOSTA
Do começo ao fim, a Bíblia Sagrada ensina uma Teologia da Santidade. Os
textos mencionados são dois entre centenas tanto no Antigo quanto no
Novo Testamento.

A pergunta não deve ser se "existem ou não os santos". A pergunta é "QUE


SIGNIFICA SER SANTO?" Há uma teologia popular e há uma Teologia Bíblica
sobre este assunto. A primeira é incentivada e alimentada por uma
compreensão equivocada do termo e do conceito; a segunda tem um caudal
puríssimo na Escritura Sagrada.

A idéia popular é de que "santo" é alguém que, tendo obtido um altíssimo


grau de bondade, perfeição e virtude, nem precisa passar pelo Purgatório,
onde supostamente se "purificaria" dos pecados veniais(7). Outrossim, esta
"teologia popular" da santificação avança no imaginário do povo com o
conceito de beatificação até se chegar à canonização. São mais duas idéias
não encontradas no Novo Testamento.

Graças a Deus, o ensino bíblico é suficientemente iluminado para não deixar


dúvidas: "Santo é o que está reservado para Deus". O conceito de santidade
(em hebraico kidshut) está ligado a objetos, eventos/datas, lugares e
pessoas.

A "Arca da Aliança" era chamada Aron haKodesh, ou seja, a Arca Santa,


porque era um objeto reservado, exclusivo do culto a Deus;
o Templo de Jerusalém era nomeado Beith haMikdash porque era um
edifício de uso exclusivo de Javé e Seu Culto;
o povo de Israel era Santo por ser uma nação separada para Deus;
o Shabath, um Dia Santo porque nele só uma realidade interessa: fazê-lo
diferente de todos os outros. Recorde-se do mandamento que regula:
"Lembra-te de santificar o dia de Repouso". Aproveite e leia o restante que
está em Êxodo 20.7 a 11.
Assim sendo, quem são os "santos"? A resposta da Bíblia Sagrada é que
são aqueles que pertencem a Jesus Cristo, aqueles que foram lavados e
purificados pelo sangue de Jesus (não pelo batismo, o que não é ensino
neotestamentário), aqueles que O receberam pela fé salvadora, outro nome
para a fé-adesão, fé-compromisso, fé-levada-a-sério. A Bíblia chama a estes
de "fiéis", "santos" e "santificados", entre outros significativos epítetos.
Leia: 1Coríntios 1.1,2; 2Coríntios 1.1; Efésios 1.1; Filipenses 1.1;
Colossenses 1.1,2.

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PERGUNTA # 5
]

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 10


"Pois quando Deus disse em Levítico 19,1: ‘Dirás a toda a assembléia de
Israel o seguinte: Sede santos, porque eu, o Senhor, vosso Deus sou santo’,
Deus estava mandando seu povo ser santo ou demônio?"

NOSSA RESPOSTA
Deus estava ordenando Seu povo, e, por extensão, aos salvos e fiéis da
Igreja de Jesus Cristo a serem diferentes, que é, sem dúvida, a melhor
interpretação para o conceito teológico veterotestamentário expresso pela
palavra Kadosh. Ser uma reserva especial para Deus e Jesus Cristo. A
Primeira Carta de São Pedro (2.5)esclarece:

Vós, também, como pedras vivas sede edificados sobre ele como casa
espiritual, sacerdócio santo para oferecer sacrifícios espirituais, agradáveis
a Deus por Jesus Cristo.

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PERGUNTA # 6

"Os homens que seguem a Jesus Cristo, estão ou não estão no caminho da
santidade? Ler: (I Coríntios 7,32-34)"

NOSSA RESPOSTA
Os verdadeiros discípulos já encontraram esse caminho como bênção inicial
de sua vida cristã. Caminhar por Ele é um ato de entrega e de adesão.
Ninguém é salvo por procuração ou representado por outra pessoa como se
pratica. A Bíblia registra as palavras de Jesus Cristo em João 14.6: "Eu sou
o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai a não ser por mim"
(Bíblia de Jerusalém). Os cristãos da Igreja do tempo dos apóstolos eram
chamados de "os do Caminho". Quem segue a Jesus Cristo busca a vida de
separação, vida de-fazer-diferença-neste-mundo, ou, para usar a palavra
bíblica: de santidade.

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PERGUNTA # 7

"Já que os que seguem a Jesus Cristo estão no caminho da santidade (para
serem santos), será que nenhum homem chegou a alcançar essa santidade,
chegou ou não chegou?"

NOSSA RESPOSTA
Santidade é separação deste mundo, já o vimos. Ao longo da História da
Salvação(8), milhões têm experimentado a santidade como estilo e prática de
vida. Nas ruas de qualquer cidade ou no campo, os santos estão andando e
passando por nós. Eles nos encorajam a tudo suportar pelo amor de Cristo e
de Seu reino.

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Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 11


PERGUNTA # 8
"Quantas Igrejas de Jesus Cristo existem, pois no Evangelho Jesus diz: ‘E
eu te declaro: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as
portas do inferno não prevalecerão contra ela.’ Ler: (Mateus 16,18), Jesus
Cristo não disse no plural: "as minhas igrejas", Ele disse: a minha Igreja. Por
que será então que existem tantas Igrejas?"

‘NOSSA RESPOSTA
A resposta da Pergunta # 1 cobre, de certo modo, o alcance desta questão. A
Igreja de Jesus Cristo, repetimos, não se identifica com uma Igreja nacional,
um grupo local ou organização religiosa. Não tem um nome específico
(Igreja Católica Apostólica Romana, Igreja Reformada, Igreja Evangélica de
Confissão Luterana, Igreja Presbiteriana do Brasil, Assembléia de Deus -
Ministério de Belém, Igreja Batista Sião, Jovens com uma Missão, Missão
Antioquia, etc, etc). A Igreja Cristo é supranacional, e atemporal; o Corpo
Místico de Cristo se forma de todos os fiéis sem distinção de raça, cor,
língua ou filiação cristã.

Um alerta, entanto, se faz necessário: os chamados "fiéis", "santos",


"salvos" são aquelas pessoas que, conduzidas pelo Espírito Santo ao
Salvador (Espírito que, como ensina a Bíblia na tradução do Pe. Matos
Soares, convence o mundo "quanto ao pecado, à justiça e ao juízo"(9), pela
fé receberam o perdão para os seus pecados (o Novo Testamento usa para
essa gloriosa realidade o termo justificação)(10). A Igreja Cristo, Seu Corpo
Místico, não é qualquer Igreja nominal (que tem origem e organização
humana, inclusive a Igreja Católica Apostólica Romana, cuja origem se
prende à "conversão" de Constantino, apesar de a história oficial conta-la
diferentemente.

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PERGUNTA # 9

"O que Jesus queria dizer quando disse a Pedro: "Eu te darei as chaves do
reino dos céus: tudo o que ligares na terra, será ligado no céu e tudo o que
desligares na terra, será desligado no céu" ?, e o que significa ligar e
desligar?"

NOSSA RESPOSTA
O versículo mencionado se encontra no contexto de Mateus 16.13-20 que
registra uma pesquisa conduzida por Jesus para saber qual a opinião
popular em torno de Sua Pessoa. Os discípulos respondem que algumas
pessoas entendiam que Jesus era João Batista, outros que seria Elias, o
tesbita, outros, ainda, acreditavam que seria o profeta Jeremias ou talvez um
outro dos inflamados pregadores da Antiga Aliança.
O mesmo versículo aparece em 18.15-22 num contexto de disciplina e
perdão no âmbito da igreja.
Em João 20.23 em instruções que foram dadas aos apóstolos após a

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ressurreição, o mesmo ensino aparece ligeiramente modificado.
Paulo em 1Coríntios 5.4,5 expõe um comentário sobre o mesmo tema.
Ligar e desligar são termos técnicos rabínicos que significam "permitir" e
"proibir" uma ação acerca da qual uma questão tenha sido levantada. Em
Mateus 18.18, a ação de "ligar e desligar" tem a ver com a disciplina exercida
pela igreja local, paroquial. 1Coríntios 5.4,5 reflete a excomunhão, exclusão
da igreja para mortificação da natureza carnal.

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PERGUNTA # 10

"Baseado nesta observação: Pedro negou Jesus por três vezes antes de
Jesus morrer. Porém quando Jesus ressuscitou; Jesus confirmou Pedro
como primeiro pastor das suas ovelhas, também por três vezes. Ler: (João
21,15-17), agora me responda já que Pedro iria morrer um dia, e o seu lugar
ficaria vago, o substituto de Pedro teria ou não teria o mesmo poder que
Jesus outorgou a Pedro? Ler para comparar Atos 1,15-26, e responda".

NOSSA RESPOSTA
Cremos que será conveniente fazer uma exegese de João 21.15ss para
entender porque Jesus fez por três vezes a pergunta "Simão, filho de João,
amas-me?" para não se cair no pecado de ler o que não foi dito.

O Mestre fez a indagação a Pedro utilizando um verbo e Pedro todo o tempo


com outro. Jesus lhe perguntou: "Simão, filho de João, agaposme? ("Tu me
amas de verdade?") Pedro responde: "Sim, Senhor, tu sabes que filote" (Tu
sabes que eu tenho amizade por ti). Não é isso o que Jesus Cristo quer de
Seus discípulos.

Não tendo ficado satisfeito com a resposta de Simão Pedro, Jesus repete a
pergunta. A palavra final do Mestre é "Apascenta as minhas ovelhas". Não
há qualquer indicação (nem por inferência) a um primado de Pedro. Há, sim,
uma dupla lição para os cristãos:

É preciso que cada discípulo de Jesus Cristo tenha uma PAIXÃO pelo
Senhor, pelo Seu reino, pela Sua Causa, pela Sua missão neste mundo
("agaposme?", "Amas-me verdadeiramente?");
É preciso que cada discípulo de Cristo tenha uma MISSÃO, que confiada à
Igreja é repassada a cada um individualmente ("apascenta as minhas
ovelhas").
Como louvamos a Deus por este e outros espíritos que, religiosos, porém
confusos, são curiosos a respeito de sua fé! Como pedimos que a
iluminação do Seu Santo Espírito revele a verdade eterna, salvadora,
purificadora e santificadora. Que sejam como os bereanos que "de bom
grado receberam a palavra, examinando cada dia nas escrituras se estas
coisas eram assim"(At 17.11).

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NOTAS
(1) Graça: termo da Teologia que expressa o "o amor que não merecemos da
parte de Deus ". Em Efésios 2.8, o apóstolo S. Paulo repassa o ensino vindo
do Espírito Santo de que "Com efeito, é pela graça que vós sois salvos por
meio da fé; e isto não depende de vós, é Dom de Deus. Isto não vem das
obras, para que ninguém se orgulhe" (TEB - Tradução Ecumênica da Bíblia,
SP, Edições Loyola com Recomendação de D. Luciano Mendes de Almeida,
Presidente da CNBB).
(2) Protestantes e Evangélicos são realidades distintas, como o prezado
consulente deve ter conhecimento, embora a opinião popular e a mídia os
confunda.
(3) Assim o descreveu Jesus em João 4.23,24, e Paulo, apóstolo, em
Romanos 12.1.
(4) 45a ed. SP, Edições Paulinas, 1988.
(5) Ou seja, faz algo de utilidade como um móvel ou prateleira, etc.
(6) A lenha tem utilidade no uso doméstico
(7) Ressalte-se que nem a idéia de um "purificatório" ou "purgatório" nem a
de "pecados veniais" têm substância no ensino bíblico.
(8) "História da Salvação" (Heilsgeschichte) é termo técnico para designar
desde o evento cósmico e existencial chamado A Queda até o ministério
salvador de Jesus Cristo e as conseqüentes implicações, até a Sua Parusia,
a ressurreição final e a bem-aventurança eterna.
(9) João 16.8.
(10) Leia Romanos 5.1ss.

Parte III
RELIGIÃO OU EVANGELHO?
"Pois é pela graça que sois salvos, por meio da fé - e isto não vem de vós, é Dom
de Deus - não das obras para que ninguém se glorie." Ef. 2:8,9

Desejamos refletir a respeito de algumas práticas religiosas do passado e do


presente, e compará-las com o evangelho de Jesus Cristo. Observamos que
quando abrimos qualquer livro que aborde a religião dos antigos, ele ensina que
estava essa religião muito mesclada com a superstição.

No antigo Egito, consideravam no seu panteão muitos deuses. Havia deuses para
todos os gostos; havia um centro de cultos na cidade de Heliópolis, a cidade do
Sol. O próprio deus do Sol era Rá, razão porque alguns faraós se consideram
"filho do sol", adotando o nome de Ramsés, palavra formada de Rá (sol) e Mses
(filho). Animais eram cultuados, o crocodilo (alguns podem ser vistos mumificados
em museus), que era considerado deus da água; o gato, deus da alegria e do
amor; o chacal era o guarda dos túmulos e deus dos mortos; Seu nome entre os
egípcios era Anúbis. E o touro também, o deus Ápis. Quando o povo de Israel
estava no deserto, notando a ausência de Moisés que estava no alto do monte
Sinai, o povo pediu a Arão que fizesse um bezerro de ouro, uma reprodução do
deus Ápis.

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Em outras civilizações, encontraremos o mesmo fenômeno. Na Assíria e na
Babilônia, cultuava-se a natureza. O Sol (Shamesh) era cultuado; e havia uma
deusa para a noite, a Lua (Nanna). O céu era cultuado com o nome de Ass; o
deus do ar era Enlil, da água, Enki. A Mãe-terra era chamada Ninhursg, e a rainha
do céu, Innana.

Aliás, Gênesis 1 é uma verdadeira canção marcial. Por isso, no relato da obra
criada parece no verso 11, "E disse Deus: Produza a terra relva, ervas que dêem
semente, e árvores frutíferas que dêem fruto segundo a sua espécie, cuja
semente estava nele, sobre a terra. E assim foi" (1.11). Florestas, e campos eram
cultuadas em Canaã como sendo a expressão da Mãe-natureza. O retorno à
natureza era o grande desejo dos cananeus. No entanto, o Senhor está dizendo:
"Vocês cultuam a natureza, mas Eu sou o Criador dessa natureza que vocês
admitem como deuses".

Mais adiante lemos: "Haja luminares". Eles eram cultuados, conforme vimos, no
Egito, na Assíria, na Babilônia. Seres aquáticos foram cultuados: o peixe (na
Filistia, Dagon), as aves (o íbis, no Egito). Em tudo Deus está dizendo, "Eu criei,
enquanto vocês estão se dedicando a esses falsos deuses".

Mas não é preciso ir ao passado. Hoje esse tipo de coisa acontece. Na Índia, o
Hinduísmo ensina que a salvação se obtém através das boas obras. E uma
pessoa vai realizando boas obras na sua presente vida e em outras do passado e
do futuro de maneira a alcançar a purificar-se. Naquele país, ainda hoje existe o
sistema de castas. A mais elevada é a dos brâmanes, os sacerdotes. Uma pessoa
da casta dos sacerdotes não se casa com alguém de uma casta inferior. A
seguinte é a dos militares, onde acontece o mesmo. Depois vem a dos
comerciantes, e a dos agricultores, e por fim a dos "zé-ninguém", o pária, aquele
cuja sombra tocando outra pessoa de casta acima, obriga-a a se purificar através
de um banho porque ficou maculada pela sua sombra.

No sistema hindu, se uma pessoa foi muito pecadora nesta vida, precisa cumprir a
lei do Karma, tem que sofrer muito, e vai nascer numa casta inferior. Se era da
casta militar, mas fez tanta coisa que não prestava nesta vida, tem que nascer
numa casta inferior, como agricultor pôr exemplo. Mas fez tanto nessa outra
condição que vai nascer como pária, e como pária foi tão ruim que pode nascer
como um animal inferior. Por isso não matam animais. A TV Cultura mostrou o
"Templo dos Ratos" alimentados com comida, com leite, e água levados pelas
pessoas, que depois de bebida, e pisada pelos ratos é passada no corpo dos fiéis.
Não é de admirar que na Índia haja uma explosão de epidemias por essa idéia
que têm. Isso é hoje, e nem comem carne, porque a vaca, que é um animal
sagrado, fica solta pelas ruas, atrapalhando, prejudicando o trânsito, mas ninguém
tem a ousadia de matar uma vaca porque é considerada sagrada.

Entre os nossos índios, ocorre o animismo, a idéia de que cada coisa tem o seu
espírito. Existe o espirito das árvores, o espirito das águas, e o das nuvens, o
espírito disso e daquilo. E cada pessoa que morre transforma-se num espírito

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vagante. Há uma cerimônia no Xingu chamada quarup, quando, todos os anos,
derrubam uma grande árvore na da floresta de modo a ser cortada em vários
pedaços que são pintados e enfeitados para a "dança do quarup" que, segundo
eles, faz com que o espírito daquele que morreu se incorpore naquele pedaço de
tronco. Dançam, choram e oferecem presentes pensando estar na alma do seu
parente incorporado. Essa coisa está vindo para o nosso meio. O jornal está
falando de uma psicóloga em Salvador que se intitula Xamã. E ela está trazendo o
Xamanismo como meio de terapia. Xamanismo é feitiçaria, pois em algumas tribos
o feiticeiro, o pajé é chamado xamã. Ë pajelança. Mulher preparada, ilustrada
trazendo a feitiçaria?!

UM INSTINTO RELIGIOSO

Que quer dizer tudo isso? Esses fatos nos dizem que há um instinto religioso na
pessoa humana. Da mesma maneira que você tem o instinto de segurança, e o de
alimentação, tem, igualmente, o instinto religioso que se encontra não só em cada
pessoas individualmente falando, mas também em cada página da história. Por
isso, Jesus disse: "Errais não conhecendo as Escrituras". E iam não somente
atrás do crocodilo, atrás do peixe, ou atrás do trio elétrico, mas também atrás do
xamanismo, porque pensam, sentem e querem algo que lhes satisfaça o instinto.
E a religião é a expressão organizada desse instinto, razão porque o ser humano
tem feito de tudo um deus: rãs, bois, sol, lua, árvores, etc. Isso quer dizer então,
que todas as religiões sentem a mesma coisa, ou sejam elas primitivas ou
altamente elaboradas. Todas são motivadas porque o ser humano necessita de
Deus.

O EVANGELHO

Mas há algo diferente e especial no evangelho de Jesus Cristo: enquanto as


religiões são motivadas pelo instinto religioso do ser humano o evangelho é
motivado pelo amor de Deus. Que extraordinária diferença! Voltando à Escritura,
encontramos o texto que diz "pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não
vem de vós, é dom [é presente que vem da parte] de Deus"( Ef. 2.8).

O cristianismo tem suas raízes no conceito de salvação, o que significa que nada
que você faça, nada, absolutamente nada lhe pode dar a salvação. Somente a
graça de Deus pode salvar. É o que diz aqui: "Pois é pela graça que sois salvos,
por meio da fé - e isto não vem de vós, é Dom de Deus" (Ef. 2.8).

Que ensinam os outros sistemas religiosos? Todos dizem que você precisa fazer
alguma coisa para obter a salvação. Há os que dizem que você precisa realizar
boas obras. "fora da caridade, não há salvação", dizem eles. Mas a Bíblia diz "não
vem das obras, para que ninguém se glorie" (Ef. 2.9).

Há os que dizem que vem através dos rituais, das rezas, das penitências. Está
registrado no livro dos Atos dos Apóstolos o discurso que Paulo fez diante dos
intelectuais em Atenas, afina flor dainteligentzia ateniense. No meio do discurso

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ele citou,
"Homens atenienses, em tudo vejo que sois muito religiosos. Pois passando eu e
vendo os vossos santuários, achei também um altar em que estava escrito: AO
DEUS DESCONHECIDO... Portanto, sendo nós geração de Deus, não havemos
de pensar que a divindade seja semelhante ao ouro, ou à prata, ou à pedra
esculpida pela arte e imaginação do homem. Mas Deus não levando em conta os
tempos da ignorância, manda agora que todos os homens em todos os lugares se
arrependam" (17: 22,23 a 29, 30).

Então vejam o interesse do evangelho não é que os deuses sejam aplacador, não
é que se façam doações, ou rituais pelos quais espíritos sejam tranqüilizados, mas
quer você seja salvo dos seus pecados, razão porque é perfeitamente correta a
afirmação "O Cristianismo é uma religião de redenção."

Parte IV
OS OBJETOS DA PAIXÃO
Lucas 24. 13-35
"Em seguida, os soldados do governador, conduzindo Jesus ao pretório, reuniram
em torno dele toda a corte. E despindo-o, cobriram-no com um manto escarlate, e,
tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça. Na mão direita puseram
um caniço e, ajoelhando-se diante dele, o escarneciam, dizendo: Salve, rei dos
judeus! E, cuspindo nele, tiraram-lhe o caniço, e batiam-lhe com ele na cabeça.
Depois de o haverem escarnecido, tiraram-lhe o manto, vestiram-lhe as suas
vestes. E o levaram para ser crucificado" (Mt 27.27-31).

A rotina da crucificação havia começado. O verso 26 declara que depois de todo o


sofrimento moral de Jesus, Pilatos, o Governador romano, mandara açoitá-lo.
Depois da prisão (Mt 26.47ss), depois da passagem pelo Superior Tribunal
Judaico (vv. 57ss), depois da negação de um dos Seus discípulos (26.69ss),
depois do questionamento pelo Governador (27.11ss), Jesus é entregue aos
soldados romanos (vv. 26,27; Jo 19.1-3).

Agora é a vez dos soldados. Diz a Bíblia que Jesus foi despido e chicoteado (v.
28). Na realidade, foi flagelado. O flagelo ou açoite consistia de uma tira de couro
largo com pedacinhos de osso e chumbo. Era comum o seu uso antes da
crucificação de um condenado, quando o corpo ficava reduzido a uma só chaga.
Alguns morriam durante a sessão de tortura; outros ficavam loucos, e poucos
permaneciam conscientes. Pois Jesus foi entregue aos soldados, enquanto os
últimos detalhes da malfadada pena eram preparados.

Há no relato acima transcrito (Mt 27.27-31) alguns objetos que chamam a atenção:
o manto real, a coroa real, o cetro real e a cruz.

O REI ESCARNECIDO (Mt 27.27-31)

O Manto Escarlate.

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João, em seu Evangelho, dá-nos o detalhe da flagelação, o que não é encontrado
nos Sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas). Encontra-se em 19.1-3. Após a sessão
de flagelação, foi Jesus entregue para ser cumprida a pena.

Diz a narrativa que os soldados fizeram uma paródia de um rei ao vestirem-no


com uma capa vermelha (tirada de um deles), ao colocarem na Sua cabeça uma
coroa de espinhos, e ao lhe darem um pedaço de caniço como se fosse o cetro de
um rei. Continua o texto por dizer que Pilatos chegou a ter um momento de
consciência (v. 4), para logo depois sair trazendo Jesus com a coroa de espinhos
e o manto escarlate a fim de apresentá-lo ao povo sedento de violência, de
sangue, do castigo sobre alguém.

A Coroa de Espinhos (v.29)

O próprio Jesus já havia anteriormente falado em espinhos (Mt 7.16; Mc 4.7). Os


galhos com espinhos eram largamente usados como cercas (como as nossas de
arame farpado), e como combustível (nos fogões de lenha).

Coroas, havia-as de todo tipo: de ramos de louro como símbolo de vitória entre os
gregos e os romanos; havia coroas de ouro e de pedras preciosas. De espinhos,
porém, só de brincadeira, brincadeira de mau gosto; de espinhos, só mesmo as de
uma mascarada, como é o caso no episódio da prisão de Jesus.

A coroa, o manto e caniço feito cetro eram simbólicos do reinado de Cristo, do Rei
dos reis feito Servo Sofredor. Apontavam para o futuro reino (Ap 17.4), embora o
significado óbvio e original da coroa de espinhos tivessem sido a evidência da
crueldade, brutalidade e zombaria da soldadesca. Por outro lado, o significado
figurado e profético da coroa de espinhos é o símbolo do ministério terreno de
Jesus Cristo, representando, ainda o caráter do evangelho: a humildade, a
contrição, o arrependimento e a servidão, ao tempo que de paz, vitória e poder.

O SERVO SOFREDOR: A CRUZ (Lc 23.33-46)

Relatam os historiadores que a crucificação teve sua origem entre os persas.


Destes passou aos cartagineses (povo de Norte da África de origem fenícia) e
deles para os gregos e romanos. Narra a história que Alexandre, o Grande, certa
ocasião ordenou que cerca de dois mil habitantes de Tiro, na Fenícia, fossem
crucificados. O governo romano a usava com os rebeldes, escravos fugidos e
criminosos.

O método da crucificação é retratado com clareza nos Evangelhos: o criminoso, já


uma massa sangrenta por causa dos açoites, se resistisse era colocado na cruz
para morrer de fome, sede, calor, fadiga e choque. Os que resistiam ficavam na
cruz, às vezes, por dias, sujeitos à tortura das moscas e mosquitos nas feridas
abertas e dos elementos: chuva, poeira, vento e Sol, além da dor física e moral.
Foi isso o que Jesus sofreu por nós: dor e zombaria.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 18


O criminoso era levado pelo caminho mais longo de modo a ser visto pelo maior
número de pessoas. Foi isso o que Jesus sofreu pelo ser humano. No entanto, a
cruz significa a obra salvadora de Jesus Cristo. Paulo afirma que o evangelho da
salvação é a palavra da cruz de acordo com 1Coríntios 1.18.

NO GÓLGOTA, TRÊS CRUZES (Lc 23.33-46)

A Cruz de Desprezo (v. 39). É a blasfêmia em pessoa o criminoso ao lado


esquerdo de Jesus que se reúne às autoridades, aos soldados e ao povo que
descrê de Jesus e dEle escarnece. A zombaria se centralizava nas afirmações
feitas por Jesus e Sua aparente impotência na cruz.
Usavam a glória de Cristo para fazer mofa, como já haviam zombado de Sua
realeza. O General Booth, fundador do Exército da Salvação, expressou com
muita propriedade, "é precisamente porque Cristo não quis descer que nEle
cremos".

A Cruz da Confiança (v. 42). O criminoso do Seu lado direito, o penitente, o


arrependido, após recriminar o escárnio de seu companheiro, volta-se para Jesus
numa atitude de fé, precisamente a atitude que torna possível a salvação.

A Cruz do Perdão (v. 43). É a da redenção, da libertação. Observemos que Jesus


não desceu da cruz, levando consigo o malfeitor arrependido. Não havia sentido
em fugir à morte. Pelo contrário, a morte é apresentada sob uma nova luz, visto
que é necessária para que se cumpra a promessa que fizera ao criminoso
penitente. A morte não é uma derrota, mas experiência necessária para entrar na
glória.

Oh, cruz do perdão!... O verso 34 expressa, "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem
o que fazem". O perdão cristão é assombroso. Estevão também exclamou nos
seus momentos finais, "Senhor, não lhes imputes este pecado"; Paulo instruiu os
irmãos de Éfeso, "Antes sede uns para com os outros benignos, compassivos,
perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo" (Ef
4.32). O perdão de Jesus aos Seus juízes e carrascos é, sem dúvida,
impressionante.

Ainda na cena da crucificação, a suprema lição de que nunca é demasiado tarde


para vir a Cristo exemplificado pelo criminoso em seus momentos de agonia.

Parte V
A DÚVIDA DE JOÃO
De acordo com o dicionário Caldas Aulete, dúvida significa: "Incerteza, vacilação,
hesitação da inteligência entre a afirmativa e a negativa de um fato, ou de um
asserto, como verdadeiro". Mateus relata que "Quando João ouviu, no cárcere,
falar das obras de Cristo, mandou por seus discípulos perguntar-lhe: És tu aquele
que estava para vir ou havemos de esperar outro?" (Mt 11.2,3). Alguns intérpretes
acham que não foi João Batista quem duvidou se Jesus era ou não era "aquele
que estava para vir", mas tão somente os discípulos dele (de João). Ele os enviou

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 19


a Cristo a fim de que a dúvida deles fosse dissipada. Contudo, essa não parece
ser uma interpretação segura. A afirmação de Jesus, "Ide e anunciai a João" (Mt
11.4), confirma que era João mesmo quem tinha a dúvida.

Em que consistia a dúvida de João? Os judeus tinham a idéia de que o reino


vindouro do Messias seria um reino militarista, nacionalista e materialista. Os
judeus pensavam que quando o Messias chegasse haveria de firmar-se como um
grande Monarca, o qual haveria de libertá-los de toda a sua escravidão, e que
elevaria os judeus acima de todos os demais povos, através do que se tornariam
eles a raça conquistadora e proeminente. O próprio João Batista parece ter-se
apoiado nesse conceito quando enviou seus discípulos para fazerem a Jesus a
referida pergunta. É como se ele tivesse mandado dizer: "Eu sei tudo sobre esses
milagres que tu fazes, mas quando terá lugar aquele grande acontecimento?".

Jesus respondeu a João citando as Escrituras (Mt 11.4-6), como costumeiramente


fazia. Em que sentido era alentadora esta resposta? Não é verdade que João
Batista já sabia tudo isto (cf. Mt 11.2), e que o fato de o saber havia contribuído
substancialmente para criar a dúvida? É verdade, porém, a forma de Jesus se
expressar era nova. Era nova no sentido de que os amigos que informaram João
dos milagres de Cristo não havia usado este tipo de formulação. Por outro lado, a
mensagem na forma em que Jesus a expressou tinha um som conhecido. João
devia recordar-se de certas predições proféticas; a saber, Isaías 35.5,6; 61.1. É
como se Jesus dissesse ternamente a João: "Você se lembra destas profecias?
Isto também foi predito acerca do Messias. E tudo isso está se cumprindo hoje em
mim".

A mensagem dirigida a João Batista termina com as palavras: "E bem-aventurado


é aquele que não achar em mim motivo de tropeço" (Mt 11.6). Ou seja, quem não
permite que nada do que faço ou diga lhe sirva de laço, o induza a pecar. Ainda
que seja correto o ponto de vista segundo o qual nesta admoestação Jesus
estivesse repreendendo João, a repreensão (se é que houve) era tão terna que
não eclipsava em nenhuma forma o amor do Senhor por seu discípulo
momentaneamente confuso. Na verdade, considerada corretamente, a
admoestação contém uma bem-aventurança. "Bem-aventurado é aquele que...". O
Senhor trata tão ternamente a João como o fez com o cego de nascença, a mulher
pega em adultério, Pedro, Tomé, etc. Em vista do modo em que Jesus
imediatamente procede a elogiar João publicamente, e a repreender aqueles que
vêem falta neste arauto e nAquele de quem ele deu testemunho (Mt 11.7-19),
temos como certo que a mensagem de Jesus teve o efeito desejado em João.
Porém, o que se destaca é a sabedoria e a ternura de Jesus, e isto tanto na
mensagem de alento dirigida a João como no testemunho dado acerca de João.

Parte VI
A FÉ QUE FALA (E NÃO FALA)
Tiago 3:1-12
Certa vez William Shakespeare comentou, "Quando palavras são raras, não são
gastas em vão." Outro erudito disse, "Homens sábios falam porque têm algo para

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 20


dizer; tolos, porque gostariam de dizer algo." Um ditado filipino aconselha, "Na
boca fechada, não entra mosca." Os árabes oferecem esta jóia de sabedoria:
"Tome cuidado que sua língua não corte seu pescoço."

Salomão em Provérbios nos adverte, No muito falar não falta transgressão, mas o
que modera os seus lábios é prudente (Pv. 10:19)

Capítulo 3 de Tiago nos coloca na parede e nos desafia a viver uma fé genuína,
verdadeiramente cristã. No final do cp. 2, Tiago nos mostrou como a fé verdadeira
manifesta-se inevitavelmente em obras. Agora, no cp 3, ele mostra que "obras"
não são somente o que fazemos, mas também o que falamos. E não somente o
que falamos, mas o que NÃO falamos!

A língua é um músculo com sua origem no coração. Por isso a língua talvez revele
o verdadeiro estado do nosso coração mais rápido que qualquer outra prova de fé
genuína listada por Tiago. A língua sou eu. Eu sou o que a língua fala! Às vezes,
soltamos uma palavra tão pesada, que cheira mal, e depois exclamamos, "De
onde veio aquilo?" Mas o fato é que somos assim mesmo. Abaixamos a guarda e
revelamos o verdadeiro eu, mesmo que só por um instante. Assim como Jesus
disse, a boca só fala do que o coração está cheio (Mt 12:34). A língua é o dreno
do coração! A língua serve como escape daquilo que está borbulhando no
coração. Por isso, dizemos que É impossível domar a língua

Se Jesus não domar o coração!

Essa é uma mensagem tão simples, mas que precisamos ouvir todos os dias de
nossas vidas. O propósito de Tiago é que sejamos mais sensíveis ao poder
incrível da língua, e deixemos que Jesus peneire nossas palavras, filtre nossa fala
e lacre os nossos lábios. Veja o poder da língua em Tiago 3.1-12:

I. A Língua tem Poder para Dirigir (3:1-4)

A língua é poderosa. Esse poder pode ser para o bem ou para o mal. Talvez, por
ser tão potente, Deus prendeu a língua atrás de duas fileiras de dentes e dentro
de uma caverna fechada. Tiago nos lembra que a língua tem um enorme potencial
para direcionar vidas.

A. Por quem muito é falado, muito será julgado (3:1,2)

No contexto destas palavras a Igreja primitiva lidava com a valorização e poder


dados a quem ensinava e direcionava os novos grupos de crentes que se
formavam. Mas isso representava um perigo. A nova liberdade em Cristo, que
incluía liberdade para falar em culto público, precisava ser bem manejada (1 Co
14:26-34). Assim como Tiago nos lembrou no cp 1, "Todo homem, pois, seja
pronto para ouvir, tardio para falar... "(vs 19).

Os leitores precisavam ficar cientes da seriedade de presumir falar em nome do

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 21


Senhor.
Conforme o ditado, Quem presume dizer, "Assim diz o Senhor, Deve fazê-lo com
temor e tremor."

Tiago não quis minimizar ou desencorajar os dons de falar na igreja (Hb 5:12, Ef
4:11,12; 1 Pe 4:10,11). Sua advertência é totalmente coerente com o princípio
ecoado em Mateus 12:26,27 "De toda palavra frívola que proferirem os homens,
dela darão conta no dia do juízo; porque pelas tuas palavras serás justificado, e
pelas tuas palavras serás condenado."

Há duas razões porque devemos pensar bem antes de assumir a posição de


mestre: 1) (Vs 1) O mestre, pela natureza do serviço, tem que falar muito. Por
isso, haverá mais palavras para serem pesadas, mais potencial para derramar
palavras frívolas, inúteis, pecaminosas, enganadoras.

2) (Vs 2) O mestre tem maior responsabilidade, pois influencia a muitas outras


pessoas pelo que fala, e facilmente tropeça no falar. Tem poder para dirigir,
ministrar graça, ou enganar para toda a eternidade.

O mestre que não controla sua língua acaba tropeçando sobre a mesma. No
mundo da política vemos isso. Um representante do FMI tropeça sobre sua língua
e um país inteiro é colocado em descrédito. Um político num momento de
descuido fala um anti-semitismo e perde uma eleição.

A mesma coisa pode acontecer com os mestres (professores) na igreja. Temos


que medir toda palavra quando ensinamos ou pregamos. Por isso ensinar e pregar
são tarefas tão exaustivas. As vidas de homens e mulheres estão na balança. Mas
o que ele quis dizer com "maior juízo"? (1 Co 3:10-15, 2 Co 5:10, Rm 14:10-12)-
Todos nós compareceremos diante do tribunal de Cristo. Não para sermos
condenados (Rm 8:1 diz que isso não existe mais) mas para recebermos os
prêmios de Jesus por um ministério fielmente cumprido. Haverá perda de galardão
assim como houve perda de oportunidade para ministrar graça em nome de
Jesus. Não desista! Seu trabalho não é vão. Mas leve a sério esse trabalho de
conduzir os rebanhos do Senhor para pastos verdejantes! b. A língua freada
implica em vida controlada (2b-4) Tanto no caso do "freio na boca do cavalo"
quanto a do "leme no navio", vemos que uma parte pequena mas estratégica é
capaz de direcionar algo poderoso e até grande. O freio se coloca num ponto
estratégico, na boca do cavalo. Mesmo pequeno e fraco, consegue direcionar o
cavalo com pouco esforço, até de uma criança. Também, o leme é infinitamente
menor em proporção ao navio, mas assim mesmo , por ficar num ponto
estratégico, é capaz de direcionar um transatlântico como Titanic ou um porta-
aviões conforme a vontade de um timoneiro. Assim é nossa língua, pequena
porém estratégica. Conforme vs 2b, se conseguirmos refrear a língua, somos
capazes de controlar o corpo inteiro. Mas como isso é difícil! Quantas vezes eu já
quis frear minha língua quando já era tarde demais! Tantos "foras" que já dei! A
nuvem de palavras mortíferas tende a pairar sobre nós até hoje, como uma nuvem
preta. Mas uma vez que as palavras escapam de nossa boca, é impossível

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 22


chamá-las de volta. É realmente desesperador soltar palavras e depois ficar
impotente enquanto assiste o estrago que elas fazem. Por isso temos que freá-las
o quanto antes.
Palavras como...
*Fofoca *Um "corte" no meu irmão *Ódio *Obscenidade
*Piadas sujas *Ira *Palavrão *Blasfêmia *Vingança *Inveja

Nosso desespero, é semelhante ao daquele motorista no volante de um carro que


de repente começa a derrapar, perde o controle. Ele tenta frear, mas já é tarde
demais.

II. A Língua Tem Poder para Destruir (5-8) A. Quem a língua solta causa grande
revolta. (5,6)

A Palavra de Deus nos adverte contra a destruição causada pela língua. Ao


mesmo tempo nos encoraja pelo potencial que esta mesma língua tem para
transmitir vida e graça para pessoas desanimadas.

A morte e a vida estão no poder da língua;


o que bem a utiliza come do seu fruto.
A língua serena é árvore de vida,
mas a perversa quebranta o espírito (Pv. 18:21, 15:4).

Em algumas épocas do ano encontramos ao longo das nossas rodovias incêndios


quase todos os dias. Isso devido ao descuido de alguns, que sem querer ou não
jogam seu cigarro pela janela. Uma pequena faísca acaba destruindo hectares de
floresta e terras gramadas.

Em Chicago, nos Estados Unidos, no ano de 1871, um lampião num celeiro deixou
125.000 pessoas sem-teto, destruiu 17.500 prédios e matou 300 pessoas. Já na
Coréia, em 1903, 2,6 km2 foram queimados quando algumas brasas na cozinha
causaram um incêndio que destruiu 3000 edifícios.

O poder destrutivo das palavras é visto no livro em que Hitler declarou sua filosofia
nazista, Mein Kampf. Na II Guerra Mundial, as filosofias expressas naquele livro
levaram à morte de 125 pessoas para cada palavra do livro.

Uma vez que a faísca da língua ascende o fogo, é extremamente difícil pará-la,
até que tenha destruido tudo em seu caminho. É assim com as nossas palavras.
Uma pequena palavra mal-colocada, na hora errada, pode destruir uma vida. Uma
palavra de crítica destrutiva; uma fofoca; uma colocação verídica mas cruel, sem
tato, pode desmontar uma pessoa, uma família, uma igreja. Pior, a língua alimenta
a si mesma. E assim como a língua, o fogo só precisa de oxigênio e combustível
para queimar incessantemente . Com um pouquinho de fôlego, nossa fofoca,
nossa reclamação, nossa murmuração, encontra bastante respaldo para queimar
palavras para sempre. Precisamos evitar este fogo antes que comece!

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 23


Pois este fogo, provocado pela nossa língua, começa rapidamente e quando
percebemos já se alastrou. Ela é descrita como fogo, consumindo. É um mundo
de iniqüidade, que causa a maioria dos problemas que enfrentamos na igreja hoje,
pois contamina todo o corpo, incendiando, destruindo a vida das pessoas. É
influenciada e incendiada pelo próprio inferno, porque o diabo é fofoqueiro,
mentiroso e acusador. Nenhum membro do corpo humano tem tanto potencial
para o mal!

Será que minha língua tem sido instrumento de desencorajar, desestimular,


ridicularizar, gozar, e destruir? Meu cônjuge? Meus filhos? Meus pais? Meu
pastor? Meus vizinhos? Meu patrão? Será que já incendiei vidas pelo poder
destrutivo da minha língua?

B. A língua venenosa é muito perigosa (7,8);

Viver com a língua é como dormir com uma cascavel. Pode até parecer que está
tudo sob controle, mas na hora em que você menos espera, ela dá o bote.

A natureza da língua é venenosa, mortífera, indomável. Mesmo que o homem


consiga domar animal, ave, réptil e peixe, ninguém de nós é capaz de conter
nossa língua.

Mas aqui entram as boas notícias. Jesus pode domar a língua porque Ele
transforma o coração. O mesmo Jesus, que habita em nós pelo Seu Espírito, quer
converter nossa boca! Já ouvi histórias de homens profanos, que cada palavra
que saía de seus corações eram palavrões ou piadas sujas, mas que Jesus
transformou completamente. Famílias desmontadas, foram reconstruídas por
Jesus.

Cristo vive em nós. Ele deseja usar nossa boca como um instrumento para a glória
dEle e edificação de vidas. Não para destruir, mas para edificar. Pense: "O que
Jesus falaria?"

Em seu livro, "War of Words" (Guerra de Palavras), Paul Tripp aplica essas idéias
ao contexto da família: Enquanto escrevo esse livro, fico triste pensando sobre
quanta conversa em minha família não reconhece a seriedade que [a Bíblia] dá [à
língua]. Não, não temos brigas feias, mas há muitas palavras impensadas, cruéis,
irritantes e de reclamações faladas todos os dias.

Creio que somos como muitas famílias cristãs-minimizamos esses "pequenos"


pecados da fala porque nosso lar está livre de abuso físico e verbal, e realmente
nós nos amamos. Mas... palavras que " mordem e devoram" são palavras que
destroem. Não são "tudo bem". Então precisamos fazer tudo possível para dar às
nossas palavras a importância que a Bíblia as dá, lembrando que Deus diz que
prestaremos contas de cada palavra frívola. (202)

Peça a Deus que peneire as palavras da sua família, especialmente ao redor da

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 24


mesa, no carro, naqueles momentos de confraternização. Desafio aos pais que
vigiem o que é falado em sua casa essa semana, clamando a Deus que
transforme toda fala em casa.

III. A Língua tem Poder para Dividir (9-12)

A língua dividida significa fonte corrompida, e que algo está errado com o coração!

A língua é a fonte que jorra hipocrisia e falsidade; é o auge da esquizofrenia


verbal. É incoerente, dividida, como língua de cobra. Da mesma boca podemos
cantar louvores na igreja e destruir nosso cônjuge no caminho para casa.
Podemos dar uma aula de EBD e logo em seguida detonar a vida de um filho. Isso
é errado! Mas esse tipo de incoerência é típica da língua. Não significa,
necessariamente, que não somos convertidos. Significa que a conversão do nosso
coração ainda não alcançou os lábios.

Seria impossível para uma fonte natural produzir água doce e amargosa ao
mesmo tempo (11).
Seria impensável colher azeitonas de uma figueira (12), ou fonte de água salgada
dar água doce.
Mas a língua pode. A mesma língua, como no caso de Pedro, pode declarar uma
revelação celestial para Jesus, "Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo" e na próxima
sentença ser reprovado pelo próprio Jesus por ter falado palavras do inferno,
"Arreda! Satanás" (Mt 16:17, 23).

Fico imaginando se Tiago, meio-irmão do próprio Senhor Jesus, lembrava da sua


juventude, e a maneira pela qual ele e seus outros irmãos tratavam o irmão mais
velho, Jesus. Imagine como seria ser irmão mais novo de Jesus! Quantas palavras
desgraçadas teriam escapado de sua boca, quando ainda não acreditava que
Jesus era o Cristo. Palavras venenosas, diabólicas, talvez um "dedo-duro", com
acusações falsas, ciúmes, vingança, ódio. Afinal de contas, não teria sido fácil ser
um irmão de Jesus. Imagine seus pais falando, "Tiago, por que você não pode ser
como Jesus?" Mais tarde, tudo mudou. A fonte poluída foi transformada. Água
salgada virou doce. O meio-irmão incrédulo, zombador, se tornou líder da igreja
em Jerusalém e autor dessa epístola maravilhosa. Tiago destaca que uma fé
genuína implica em mudanças radicais (literalmente) na língua! A mudança
"radical" significa uma mudança de raiz, ou seja, do coração. O coração controla a
língua. Quando Jesus transforma o coração, mudanças têm de acontecer na
língua. Às vezes, essas mudanças demoram. Significa que ainda existem sujeiras
no encanamento. Mas geralmente uma fonte cristalina tem que produzir palavras
cristalinas.

Você já reparou no poder das palavras para fazer bem ou mal? Consegue se
lembrar de uma vez em que você foi desmontado por uma palavra desgraçada?
Por outro lado, lembra-se de alguma vez em que alguém falou uma palavra de
encorajamento que mudou toda a sua perspectiva de vida?

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 25


Somos pecadores por natureza, e a tendência natural é de fofocar, resmungar,
criticar, xingar, blasfemar. Mas foi por isso que Jesus veio para este mundo-- para
resgatar a língua do homem. Para isso, precisava fazer um transplante--não da
nossa língua, mas do nosso coração, pois a língua só fala do que o coração está
cheio. A morte e a ressurreição de Jesus tiveram como alvo transformar o coração
daqueles que depositam sua confiança (fé) nele (e só nele) para a vida eterna. O
resultado deve ser uma transformação de vida, a começar com a raiz (o coração)
até o fruto (a língua)!

Como, então, desativar esta bomba entre nossos lábios? A resposta bíblica é de
pesar, pensar e peneirar nossas palavras. Em outras palavras, falar pouco e falar
bem o que falamos.

É impossível domar a língua, se Jesus não domar o coração.

Parte VIII
A FÉ É QUE ENFRENTA PROVAÇÕES
Tiago 1:2-12
Certa vez um grupo de mulheres queria saber como eram confeccionadas as jóias
que elas tanto apreciavam. Foram, então, visitar um ourives. Chegando ao local
onde o ourives trabalhava, puderam observar como ele queimava a prata no fogo
cuidadosamente a fim de torná-la pura.

Depois de um tempo observando seu trabalho, ficaram admiradas com a precisão


com que ele lidava com o metal precioso, tirando-o no momento exato de sua boa
têmpera. Elas lhe perguntaram como ele podia saber quando chegava a hora
certa de retirar a prata do fogo, visto que ele já lhes tinha dito que se deixasse a
prata tempo demais no fogo ela seria destruída. Ele disse que era bem simples,
que havia um "macete" para descobrir a hora certa. Era quando ele podia ver a
sua própria imagem refletida na prata, isto, então, indicava que já era hora de tirá-
la. A imagem do ourives refletida na prata indica que ela já está purificada. Da
mesma maneira a Palavra de Deus nos sugere que o Senhor quer ver sua
imagem refletida em nós (Rm 8.29). E por coincidência ele também nos purifica
com o "fogo das provações" para atingir seu propósito. O "fogo das provações"
vem das mais diversas áreas de nossa vida: finanças, saúde, problemas
familiares, vizinhos, trabalho e escola.

Porém, se sabemos que o fogo das provações nos purifica, como devemos reagir
a ele? Será que há alguma porção das Escrituras que nos ajude a reagir
positivamente diante das provações a fim de que Deus complete sua obra em
nós? Sim, existe. Na verdade existe um livro que pode nos ajudar muito.

O livro chama-se Tiago, e mesmo pequeno, é um gigante em termos da sua


mensagem para a vida e ética cristã hoje. Tiago apresenta para nós provas de
uma fé genuína, testes que vão tirar a escória da nossa fé e fazer com que a
imagem de Cristo Jesus seja cada vez mais nítida em nós. Tiago dispensa das

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 26


saudações preliminares e vai direto ao assunto:

Meus irmãos, tende por motivo de toda a alegria o passardes por várias provações
(1.2)

Como, porém, Tiago pode nos dizer imperativamente que devemos ter alegria em
meio à provação, se ela é tão ruim para nós? É porque ele sabe que o verdadeiro
crente crê que Deus torna isto possível. Fé é um verbo ativo que está no tempo
presente! Mas Tiago não pára por aí. Ele também nos ajuda de forma prática para
enfrentarmos as provações. Ele nos dá cinco passos pelos quais enfrentaremos a
refinação da nossa fé pelo fogo da provação.

1. Primeiro Passo: A Fé Verdadeira Enfrenta Provações com Alegria (1:2,3)

A primeira prova talvez seja a mais difícil. Uma fé pura consegue enxergar a mão
invisível de Deus tirando o máximo proveito do fogo das provações. A fé se alegra
porque sabe que a provação tira as imperfeições da nossa fé. Confia única e
exclusivamente em Deus e pede sabedoria dEle para poder tirar o mesmo proveito
das tribulações da vida. Fica resoluta, sem vacilar, em meio às dificuldades. Ter
alegria quando chega os momentos difíceis não significa que provações são
divertidas ou engraçadas. Não significa que temos algum complexo de martírio ou
somos sado-masoquistas. A idéia é de uma avaliação cuidadosa, racional,
pensada, madura, que vê a longo prazo e reconhece o benefício que as provações
trazem consigo. Por exemplo, a mulher que está para dar a luz sabe muito bem
que deve suportar a dor do parto para ter a alegria de ver seu filho nascer; o atleta
sabe que tem de treinar muitas horas por dia para ter a alegria de vencer a
maratona. Na verdade, precisamos aprender a suportar as dores da provação hoje
para termos a alegria de colhermos seus doces frutos amanhã. Esta deve ser a
razão principal por que provações são motivo de alegria. Reconhecemos que a
mão de Deus está sobre nós, que Ele é maior que a provação, que não escapa
nada de seu controle, que Ele é capaz de produzir um bem muito maior (cp. José
Gn 50:20).

2. Segundo Passo: A Fé Verdadeira Enfrenta Provação com Perseverança


(1:4)

Podemos definir alguém perseverante como uma pessoa disposta a ficar


"debaixo" até o fim.

Provações somente são motivos de alegria se continuarmos firmes até ao fim.


Temos que permitir que Deus faça a obra completa pelo fogo da provação.

Não significa que não vamos tentar sair do sofrimento, pois não somos mártires.
Assim como a mulher pode fazer tudo para aliviar a dor do seu parto, nós também
podemos fazer tudo para aliviar a dor, mas sem pecado.

Precisamos entender que as provações que vêm da parte de Deus têm o objetivo

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 27


de desenvolver a nossa fé. Por exemplo, quando passamos por problemas
financeiros, Deus quer nos ensinar a ser bons mordomos daquilo que Ele mesmo
tem confiado a nós. Mas é verdade também que o diabo se aproveita de situações
como esta e vem nos tentar, para sacrificarmos alguns princípios éticos e dessa
maneira desagradarmos ao Senhor.

Os atletas são o melhor exemplo de perseverança para nós. Eles treinam muitas
horas para alcançarem seu prêmio. São perseverantes em repetir todos os dias
aqueles exercícios físicos que os condicionam para a vitória. O treinamento em si
com certeza não é muito agradável, pois consome muito tempo de sua semana e
também traz consigo dores para o corpo. Porém, no dia da vitória eles nem se
lembram mais destas dores de que foram "obrigados" a suportar. A perseverança
produz uma fé vibrante, forte, completa e íntegra.

3. Terceiro Passo: A Fé Verdadeira Enfrenta Provação com Súplica (1:5)

Quando enfrentamos provação, normalmente vamos descobrir que nos falta algo .
Ela revela impaciência, incredulidade, fraqueza, ira e desânimo. Porém o que mais
nos falta é sabedoria-não necessariamente para saber a razão pelo sofrimento
(quase nunca descobrimos isso) mas para saber como responder quando
percebemos as falhas do nosso coração. E o que fazer nesta situação? Orar!
Suplicar a Deus por sabedoria para poder lidar com a provação da forma correta.

É comum ouvirmos este versículo fora de seu contexto sendo usado como um
pedido generalizado por sabedoria. Acredito que isto seja válido, pois Deus
sempre se agrada de pedidos por sabedoria, porém, a ênfase do texto está no
pedido por sabedoria em meio a tribulação. A nossa primeira opção em tempos
difíceis é voltarmos nossa face para Deus, confiante de que Ele há de responder
com liberalidade.

Aprendemos algo importante sobre nosso Deus-Sua natureza é generosa! O texto


grego literalmente diz "o dando-Deus". Ele não fica incomodado, irritado ou bravo
quando clamamos, suplicamos e o importunamos dia após dia por sabedoria para
enfrentar uma situação insuportável. Ele se agrada de filhos que O procuram
dessa maneira.

4. Quarto Passo: A Fé Verdadeira Enfrenta Provação com Fé (1:6-8)

Mas existe um "porém" no texto. Podemos pedir, mas o pré-requisito é a FÉ. Não
é uma fé cega, mas que tem olhos espirituais abertos para compreender e confiar
na natureza de Deus. O ponto da provação é para desenvolver nossa fé. Então o
que adianta suplicar a Deus mas sem fé de que Ele se importa e de fato responde
às orações que lhe fazemos?

O ponto da provação é estabilidade, firmeza, convicção e maturidade. Mas a


dúvida leva para instabilidade, agitação, inconstância-assim como as ondas
dirigidas pelo vento. Essa pessoa já começa derrotada.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 28


5. Quinto Passo: A Fé Verdadeira Enfrenta Provação com Esperança (1:9-12)

Os últimos versos deste parágrafo parecem fora do lugar, mas de fato fazem parte
do argumento. Por que Tiago começa falando sobre o pobre e o rico? O que tem a
ver?

Os leitores, na grande maioria, eram pessoas pobres. Precisavam reconhecer que


a provação era algo temporário, transitório e superficial. Mesmo em condições
humildes, tinham uma posição em Cristo de dignidade. Em outras palavras, havia
esperança para os pobres. Essa vida não é o fim!

O rico, por outro lado, precisava compreender que suas riquezas eram
insignificantes à luz do grande esquema do universo. Não garantiam nada em
termos da eternidade. De fato, suas riquezas eram superficiais, instáveis e
superficiais. Quem depende de posses e bens para seu "estatus" diante de Deus
está em sérios apuros.

O último versículo conclui essa parte sobre a prova da provação, mostrando que
havia, sim, possibilidade para o futuro. Quem persevera em Cristo em meio as
provações revela uma fé vibrante, viva e eficaz. No final do processo, terá o
galardão chamado "a coroa da vida".

Entendo que o galardão é a vida, ou seja, que essa pessoa terá o alívio final de
todos os seus sofrimentos numa vida sem fim.

Conclusão:

Sei que muitos estão sentindo o fogo do ourives em suas vidas. Mas todo esse
processo significa que Deus encontra em nós uma fé como brilhante, que vale a
pena trabalhar. Será que você e eu estamos permitindo que Deus trabalhe, mas
trabalhe mesmo, a nossa fé? Estamos dispostos, ao encontrarmos o ensino do
livro de Tiago, a deixarmos que o Ourives termine seu trabalho em nós?

"Aumenta minha fé!

Revele Seu Filho em mim."

As provas de uma fé genuína são oportunidades para aqueles que realmente são
filhos de Deus desenvolverem sua vida cristã. São oportunidades para dizer "SIM"
ao Espírito Santo, movidos pela Palavra de Deus.

Lembre-se:
Fé é um verbo ativo... no tempo presente.

Parte VIII

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 29


A GUERRA POR DENTRO
Tiago 4:1-6
Conforme o relato bíblico, o mundo começou em paz, e terminará do mesmo jeito.
Mas, se existe uma característica que define a raça humana entre o começo e fim,
é a palavra “CONFLITO”. Desde o momento da primeira briga conjugal, quando
Adão gritou “Foi a mulher que Tu me deste”; desde a rivalidade entre os irmãos
gêmeos, Caim e Abel, que culminou no primeiro assassinato; incluindo guerras
praticamente ininterruptas durante milhares de anos. São conflitos causados pela
natureza humana. Essa natureza faria qualquer coisa para conseguir o que quer,
inclusive eliminar qualquer um que bloqueie seus sonhos e ideais.

É isso que Tiago 4.1-6 nos ensina:

1 De onde procedem guerras e contendas que há entre vós? De onde, senão


dos prazeres que militam na vossa carne?

2 Cobiçais e nada tendes; matais, e invejais, e nada podeis obter; viveis a


lutar e a fazer guerras. Nada tendes, porque não pedis;

3 pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos


prazeres. 4 Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de
Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de
Deus.

5 Ou supondes que em vão afirma a Escritura: É com ciúme que por nós
anseia o Espírito, que ele fez habitar em nós?

6 Antes, ele dá maior graça; pelo que diz: Deus resiste aos soberbos, mas dá
graça aos humildes.

Infelizmente, algumas pessoas são infiéis a Deus quando flertam com o


mundo, quando paqueram valores terrenos, quando dão a mão para a
ambição, quando abraçam a cobiça. Mas nosso Deus não aceita
concorrentes. Sua aliança com Seu povo exige EXCLUSIVIDADE!

Versículo 4 começa chamando os leitores de “infiéis”. A palavra é


“adúlteros”, uma palavra forte e inesperada, mas que tem raízes fortes no
Velho Testamento. O povo de Israel foi acusado de adultério espiritual pelo
fato de ter abandonado o Deus da aliança. Era uma “esposa” que dividia sua
atenção entre dois amores.

Deus não aceita uma esposa de tempo parcial. Seu senhorio é total. Deus
não quer um pedaço, mas tudo. O amigo do mundo não pode ser amigo de
Deus.

No parágrafo que começa no v. 1, Tiago traça para nós o fruto ruim de


guerras, brigas e conflitos até a raiz podre de egoísmo desenfreado, cobiça,

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 30


inveja, mundanismo. Ele nos mostra que nossa atitude para com o mundo
revela nosso coração.

A fé verdadeira manifesta-se numa vida transformada, de forma presente e


ativa. Esse texto nos desafia a rejeitar a cultura desse mundo e abraçar os
valores de Deus. Vamos traçar a patologia de conflitos entre nós: A causa,
as conseqüências, e a cura para conflitos humanos . . .

I. A Causa de Conflito Humano: Cobiça (1-2)

O texto começa com uma pergunta retórica que expõe nosso coração, e
provoca uma reflexão mais filosófica. De onde vem as guerras, os conflitos,
as conflagrações entre homens?

Seja uma briga de duas crianças que querem o mesmo brinquedo, seja no
serviço, entre funcionário e patrão, ou entre motoristas no meio do trânsito;
sejam batalhas travadas entre pais e filhos, marido e esposa, ou, entre
nações as guerras e invasões—qual a raiz desses conflitos?

O mundo oferece muitas respostas. Alguns diriam que o problema está no


ambiente. Que temos que modificar o comportamento do ser humano
proporcionando-lhe um ambiente mais ameno.

Outros como Marx diriam que todos os conflitos vêm por causa de opressão
econômica. Talvez Freud diria que conflito é o resultado de inibições sexuais
e repressão religiosa. Mas Deus deixa muito claro que o problema vem de
outra fonte. Vem do coração humano. Vem da cobiça.

Vss 1 e 2 dizem que o conflito humano vem dos prazeres carnais dentro de
nós (1), da inveja que temos. Há três termos nesses versículos que
descrevem essa idéia de cobiça:

1. A palavra “prazeres” é a mesma que nos deu palavras como “hedonismo”


ou “hedonista”.

Identifica pessoas que vivem pelo prazer. Os prazeres em nossos corações


tornam-se ídolos que dominam nosso pensamento, nossos sonhos.
Conflitos surgem quando um interfere com o belo prazer do outro.

2. A palavra “cobiça” representa desejo forte. Normalmente tem uma


conotação negativa, um desejo tão forte que domina toda nossa vida, todo
nosso pensamento. Ficamos com uma obsessão ou fixação por aquilo que
desejamos.

Cobiça é um pecado tão malvado quanto o diabo, cuja cobiça custou-lhe o


céu. É um pecado tão velho quanto a raça humana, pois foi no Jardim do
Éden que o primeiro casal, num ambiente perfeito-- em perfeita comunhão

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 31


com Deus, sem inflação, sem poluição, sem impostos, sem pedágios, sem
IPTU--mesmo assim queria mais.

“Quanto você precisa para realmente ficar contente?” alguém perguntou


certa vez para o homem mais rico no mundo. “Somente mais um dólar” foi
sua resposta.

Uma interpretação meramente superficial dos primeiros 9 dos 10


mandamentos talvez levaria alguém a pensar que fosse capaz de cumpri-los.
“Não furtarás, não mentirás, não matarás . . .” Mas quando chegamos ao
décimo mandamento, Deus deixa claro que Sua vontade vai foi muito além
do superficial. Deus quer nosso coração. O décimo mandamento diz, “Não
cobiçarás.” Esse mandamento expõe nosso coração como realmente é: sujo,
enganoso, cobiçoso, invejoso. Essa é a função da Lei. A Lei mostra minha
incapacidade de obedecer a Deus. Expõe a natureza humana, e me
impulsiona até a Cruz.

Por isso, para viver em paz, preciso deixar que Deus arranque meu velho
coração, que me faz pecar, e que troque-o por outro.

3. A palavra “invejais” (“invejais, e nada podeis obter”) é a mesma usada em


3:14 (inveja amargurada), e vem de uma palavra que fez surgir nossa palavra
“zelo”. A idéia é que temos zelo (ambição), por nós mesmos, e faremos o
que julgamos necessário para conseguir o que queremos, quando queremos
e como queremos.

Cobiça e inveja sempre são pecados cometidos de forma vertical, de baixo


para cima. São pecados de comparação em que olhamos sempre para o que
os outros “acima” de nós têm, e que desejamos. Poucas vezes fazemos o
contrário, olhando para baixo e reconhecendo como somos bem-
aventurados. Por isso precisamos sondar e guardar nosso coração, que é
altamente enganoso. Precisamos descobrir se porventura estamos sendo
seduzidos pelas cobiças, pelos desejos, pela inveja, levando-nos a
comprometer valores bíblicos. Quando Deus, em Sua infinita graça, revela-
nos nosso coração, quando percebemos que boa parte da causa dos
conflitos está dentro em mim, então já estamos andando em direção da cruz
de Cristo. Só Ele pode nos libertar de nós mesmos.

II. As Conseqüências do Conflito Humano (2-3)

Há pelo menos duas conseqüências que o texto aponta como resultado da


nossa cobiça

1. Mãos vazias (2,3)

Cobiça nunca é o caminho correto para satisfazer nossos desejos. O


caminho mais garantido para NÃO receber o que tanto deseja é egoísmo,

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 32


brigas, contendas, conflitos, cobiça e inveja. Quando crianças brigam por
um brinquedo, muitas vezes ambas acabam perdendo o direito de usá-lo.
Quando adultos processam um ao outro, muitas vezes o único que ganha é
o advogado deles! Quando nações se enfrentam em guerra civil, todos
perdem. Pessoas cobiçosas muitas vezes acabam com as mãos vazias!

Depois das nossas brigas, mesmo quando saímos vitoriosos, o que


ganhamos? Valeu a pena mesmo? Será que valeu ter relacionamento
quebrados, uma úlcera criada, noites sem sono? Será que o caminho de
contendas e cobiça trazem algum fruto bom? Ganhamos a batalha mas
perdemos a guerra!

Conflito humano também é caracterizado pela independência de Deus. A


pessoa quer conseguir o que quer do SEU jeito. Manipula, prepara o
esquema, orquestra todos os detalhes. Mas esquece do mais básico: pedir a
Deus. “Nada tendes, porque não pedis; pedis e não recebeis, porque pedis
mal, para esbanjardes em vossos prazeres” (4.2,3; veja 1:5)!

E quando pede, é de forma egoísta. Nenhuma oração egoísta pode ser feita
“em nome de Jesus”. Oração “em nome de Jesus” é oração feita conforme
Jesus faria. E Jesus vivia sua vida para servir aos outros, não para satisfazer
seus próprios desejos!

Na igreja, vemos os resultados de conflitos em divisões, facções e irmãos


que nada têm a ver um com o outro. Talvez ganhemos uma discussão, uma
posição, uma opinião, mas perdemos o irmão.

No mundo, um país ganha um pouco mais de território, um pouco mais de


dinheiro, mas a que custo? Quantas pessoas morrem para assegurar esses
benefícios? Quantas mães perdem seus filhos? Quantas mulheres ficam
viúvas? Quantas crianças órfãs? Significa que guerra sempre é errada? Não,
há ocasiões em que guerra se torna necessária para proteger vidas. Mas
muitas vezes, sua raiz é cobiça humana que resulta em mãos e corações
vazios.

Isso nos leva para a segunda conseqüência de conflito humano:

2. Morte

Quando a cobiça individual junta-se a outros pecados, o resultado é guerra.


Guerra leva para morte. Morte enche o inferno. E o inimigo fica contente. Sua
rebelião, sua causa, avança. A guerra mais sangrenta, na história, foi a II
Guerra Mundial: 56,4 milhões de pessoas morreram para satisfazer a cobiça
de um grupo de homens que queriam controlar o mundo Para que?

Mas guerra civil é pior ainda. A Rebelião de Taiping na China, matou 20


milhões de compatriotas! A Guerra Civil dos Estados Unidos foi a mais triste

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 33


em toda a sua história.

O DIABO ESTÁ ENCHENDO O INFERNO COM AS ALMAS DE PESSOAS


VÍTIMAS DE SUAS PRÓPRIAS COBIÇAS.

Talvez você pense que sua cobiça nunca matou ninguém. Mas Jesus disse
que cada um que se irar contra seu irmão, já matou-o em seu coração (Mt
5:21,22). A diferença entre Guerra Mundial e meus conflitos é que eu tenho
uma língua e não uma bomba nuclear como arma principal.

Matamos o caráter de outras pessoas. Matamos sua reputação. Por que?


Porque queremos o que elas tem. Ou porque bloquearam nossos sonhos.

III. A Cura para Conflito Humano (4-6)

A cura para conflito humano tem que ser aplicado onde reside o problema:
no coração. Somente um espírito dependente e humilde, que busca em Deus
tudo que precisa para vida, é capaz de resolver os conflitos humanos.

Tiago aponta as atitudes necessárias para contrariarmos a tendência


humana de cobiçar e brigar:

1. Lealdade (4,5)

Conflitos naturalmente se levantam quando a nossa lealdade fica dividida.


Adúlterio talvez seja a maior ameaça que um casal pode enfrentar. A pior
praga que uma nação pode experimentar é guerra civil. É como um
organismo cujo sistema imunológico começa a atacar seus próprios órgãos
até matar o corpo. Uma casa dividida contra si mesma não pode permanecer.

Por isso, nossa lealdade a Deus, nossa amizade com Ele, toma precedência
sobre tudo. Amizade com o mundo requer inimizade com Deus (vs. 4).

O V. 5 é de difícil interpretação: “Ou supondes que em vão afirma a


Escritura: É com ciúme que por nós anseia o Espírito, que ele fez habitar em
nós?”

À luz do contexto imediato, que fala de adultério espiritual, parece que a


idéia é mais ou menos assim: Deus colocou em nós o Espírito Santo, pelo
qual temos a adoção como filhos de Deus. É um espírito filial, que clama
“Abba, Pai”. É um Espírito de relacionamento, que se entristece quando nós
nos distanciamos de Deus e dos irmãos. É um Espírito que provoca em nós
uma inquietação quando deixamos nosso primeiro amor, e seguimos a
outras paixões que não sejam Deus.

Nesse sentido o Espírito fica com ciúmes do nosso primeiro amor.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 34


2. Humildade/Graça

O parágrafo termina destacando o dom gratuito de Deus para com aqueles


que buscam nEle o que precisam. Não precisamos lutar. Não precisamos
manipular. Não precisamos assassinar o caráter daqueles ao nosso redor.
Não precisamos fazer um show. Não precisamos usar máscara. Precisamos
ser humildes. Dependentes. Precisamos clamar ao Senhor com nossas
necessidades. Precisamos pedir “em nome de Jesus”— conforme Seu
desejo, sempre dentro da ética bíblica que exalta o outro acima de nós
mesmos. Precisamos clamar pela graça dEle, seu amor não merecido.

O filósofo Epicuro disse, “Para fazer um homem alegre, não aumente suas
posses, mas limite seus desejos. A cura para conflito humano está aqui, em
humildade e dependência do Senhor. “Os humildes recebem o que os
arrogantes cobiçam.”

A cura para cobiça e conflitos humanos não é conseguir mais, é desejar


menos; não é achar sua satisfação em coisas, mas no Criador. Não é lutar
para vencer pelo esforço, mas depender para vencer pela graça.

Amizade com o mundo é inimizade com Deus!

Parte IX
A LEI DO ESPÍRITO DA VIDA
Tiago 4:1-6
"Portanto, não existe mais condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus. A
Lei do Espírito da vida em Cristo Jesus te libertou da lei do pecado e da morte. De
fato -- coisa impossível à Lei, porque enfraquecida pela carne -- Deus, enviando o
seu próprio Filho numa carne semelhante à do pecado e em vista do pecado,
condenou o pecado na carne, a fim de que o preceito da Lei se cumprisse em nós
que não vivemos segundo a carne, mas segundo o espírito. Com efeito, os que
vivem segundo a carne desejam as coisas da carne, e os que vivem segundo o
espírito, as coisas que são do espírito".

Romanos 8:1-5

ÍNDICE ANALÍTICO

Capítulo 1 - A Liberdade Cristã


Capítulo 2 - Não Há Nenhuma Condenação
Capítulo 3 - Paulo, Servo de Jesus
Capítulo 4 - O Coração das Escrituras
Capítulo 5 - Pela Graça, Dom de Deus

CAPÍTULO 1: A LIBERDADE CRISTÃ

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 35


Tecnicamente, temos aqui dois blocos de textos: um maior, que é o capítulo 8
inteiro, cuja temática é a da vida cristã sob a lei do Espírito; e um bloco menor,
que vai do versículo 1 ao 11, e que trata especificamente da vida emancipada por
esta lei do Espírito.
O texto em análise está dentro desses dois blocos, que nos dão a linha de
pensamento do autor: uma seqüência de análises sobre a vida emancipada (vs.1-
11); a vida exaltada (12-17); a vida esperançosa (18-30); e a vida exultante (31-
39). Dessa maneira, "neste capítulo, o apóstolo traça o curso da vida cristã, na
qual a graça triunfa sobre a lei, e os crentes experimentam livramento do
pecado".1
A epístola de Paulo, como um todo, enfoca três blocos temáticos: do capítulo 1 ao
8, fala da justificação pela fé; do capítulo 9 ao 11, discute a exclusão temporal dos
judeus e a inclusão dos gentios ao povo de Deus; e do capítulo 12 ao 16,
exortações práticas.
Ao analisar a justificação, mostra que a salvação do homem repousa
fundamentalmente sobre a fé, proveniente da graça de Cristo e não na lei de
Moisés. Essa misericórdia de Deus não depende da lei, porque o homem, em sua
natureza pecaminosa, não tem como responder efetivamente às exigências da lei,
que expressa a santidade de Deus. Assim, a graça provem de Cristo, que no seu
amor e sacrifício, perdoa os pecados dos homens. A liberdade da vida cristã,
liberdade diante da lei, não depende do próprio homem, nem do que ele possa
fazer, mas daquilo que Cristo já fez por ele.
Há uma outra epístola de Paulo, que também trata dessa relação lei versus graça,
que é a carta escrita aos Gálatas, onde o capítulo correlato a Romanos 8 é
Gálatas 5. Ali, o apóstolo escreve sobre a justificação pela fé, falando da liberdade
cristã.
Sem dúvida, a análise de Paulo parte de elementos vetero-testamentários, que
descreve no capítulo 4 de Romanos, ao explicar que a promessa feita a Abraão
teve por base a fé, já que ainda era incircunciso e não tinha a lei, enquanto
formalização apresentada a Moisés.
A passagem analisada encaixa-se perfeitamente não somente na linha geral de
pensamento do autor, mas dentro do ensinamento bíblico como um todo.

CAPÍTULO 2: NÃO HÁ NENHUMA CONDENAÇÃO

O texto que estamos analisando está inserido numa epístola, forma literária
específica, amplamente utilizada pelos apóstolos e pela igreja primitiva. No
capítulo que segue, analisaremos com mais detalhes esta forma literária,
inserindo-a no contexto histórico de gregos e romanos durante o primeiro século
da era cristã.
A epístola aos Romanos é uma carta de difícil compreensão. Isto porque Paulo
tinha o costume de escrever intercalando um pensamento central com várias
digressões, tornando complexa a conexão das idéias expostas. Outra dificuldade é
o próprio tema, já que o apóstolo estava tratando de um assunto eletrizante para a
época, mas hoje aceito pela totalidade cristã: os gentios podem ou não tornarem-
se cristãos sem serem prosélitos dos judeus?
Em Romanos 8:1-5, encontramos cinco verbos fundamentais para a compreensão

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 36


do que o autor está expondo. São eles:
(1) o oposto ao estado de escravidão, receber alforria, não estar sujeito a uma
obrigação, livrar, libertar. "Te libertou", variantes: "me libertou", "nos libertou". É
um aoristo passado, isto significa que a ação foi plenamente realizada, mas segue
vigente no presente.
(2) penalidade imposta por condenação judicial, servidão penal, condenar.
Também é um aoristo passado.
(3) encho, aterro, encho a ponto de transbordar, dou plenitude, cumpro.2
(4) ando, vivo, dirijo minha vida.
(5) penso, ter a mente controlada por, ter como hábito de pensamento, inclinar-se.
Desses verbos, dois são antônimos (receber alforria versus condenado
judicialmente) e levam à oposição que o autor quer mostrar entre a lei do Espírito
da vida e a lei do pecado e da morte. Assim, ao regime do pecado, Paulo opõe o
novo regime do Espírito (cf. 3:27+), e diz que em nós transborda o espírito da lei.
Esse preceito da lei (que pode ser traduzido como "o que é justo/o que é bom na
lei"), cujo cumprimento só é possível pela união com Cristo através da fé, tem sua
tradução no mandamento do amor (cf. 13:10, Gl 5:14 e Mt 22:40). Isto porque, não
vivemos segundo a carne, mas andamos no Espírito, ou seja, temos a mente
controlada pelo Espírito.
É interessante notar que a palavra lei aparece 70 vezes no texto de Romanos e
sempre tem uma das três conotações: (a) revelação de Deus e de sua santidade,
(b) foi dada para esclarecer o que é pecado, e (c) existe para orientar a vida
daquele que crê.
Da mesma maneira, a palavra carne é sempre utilizada em Romanos com um dos
quatro sentidos: (a) natureza humana fraca (6:19), (b) natureza velha do cristão
(7:18), (c) natureza humana de Cristo (8:3), (d) e natureza humana não
regenerada (8:8).
O capítulo 8 de Romanos nos apresenta a operação do Espírito Santo, entendida
nos versículos 4, 5, 6 e 10, como aquele que comunica a vida. No versículo 2,
como aquele que dá liberdade. E no versículo 26, como aquele que intercede
pelos crentes junto ao Pai.
É interessante notar que o texto original de Romanos 8, em grego, começa com
dois advérbios intercalados por uma partícula ilativa, que poderíamos traduzir
assim: "Atualmente, por isso, nada em absoluto..." pode condenar aqueles que
estão em Cristo Jesus
Essa partícula ilativa, que é um conectivo, nos leva ao capítulo 7, onde o Paulo
mostra que lei e pecado não são sinônimos. E que há uma grande diferença entre
a natureza da lei e a natureza humana. Entre o que é Espírito e o que é carnal. O
corpo, com os membros que o compõem (7:24) interessa a Paulo enquanto
instrumento da vida moral. Submetido à tirania da carne (7:5), ao pecado e à
morte (6:12+; 7:23), Paulo clama: quem me livrará? E dá "graças a Deus, por
Jesus Cristo, nosso Senhor" (7:25). É a partir desse clímax, que o apóstolo dá
seqüência ao texto, informando que "por isso", "hoje", "nada em absoluto" pode
condenar os que estão em Jesus Cristo.

CAPÍTULO 3: PAULO, SERVO DE JESUS

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 37


No mundo de gregos e romanos, as cartas particulares tinham em média, cerca de
noventa palavras. Já os textos literários, como os de Sêneca, por exemplo, tinham
em média duzentas palavras3. As epístolas de Paulo, no entanto, eram bem
maiores. A menor delas, dirigida a Filemon, tem 335 palavras, e a maior, enviada
a igreja de Roma, 7.101 palavras. Assim, podemos dizer que o apóstolo Paulo
criou um novo gênero literário, a epístola, maior que as cartas e os textos literários
comuns à época, de conteúdo teológico explícito, e dirigida a comunidade
específica.
Quase sempre, as cartas eram ditadas a um escriba profissional, chamado
amanuense, que usava uma espécie de taquigrafia durante o ditado rápido.
Depois, o amanuense burilava o texto, e o autor, finalmente, editava a carta. Na
carta de Paulo aos Romanos seu amanuense foi Tércio (Rm. 16:22).
Quando escreveu sua epístola aos Romanos, Paulo era um cristão maduro. Tinha
mais de cinqüenta anos e 25 anos de conversão. Estava ansioso para ministrar
nessa igreja, que já era conhecida no mundo cristão (1:8), e por isso escreveu a
carta que deveria preparar sua futura visita (15:14-17). Foi escrita em Corinto,
possivelmente no ano 58 d.C., quando Paulo estava levantando um coleta para os
irmãos da Palestina. Partiu, então, para Jerusalém para entregar o dinheiro. Lá é
preso, e acabará sendo levado à Roma, mas como prisioneiro.

CAPÍTULO 4: O CORAÇÃO DAS ESCRITURAS

Para muitos teólogos, que vão de Orígenes a Barth, a carta do apóstolo Paulo aos
Romanos é o ponto alto das Escrituras. Ela sedimentou a fé de Agostinho e a
Reforma de Lutero. Calvino, por exemplo, considerava que quem entendesse
Romanos estaria com a porta aberta para a compreensão de toda a Bíblia. E
Tyndale também diz algo parecido, ao afirmar que Romanos é "a parte principal e
mais excelente do Novo Testamento, e o mais puro Evangelion, isto é, as boas
novas a que chamamos Evangelho, e também uma luz e um caminho para
penetrar em toda a Escritura"4.
Em termos de doutrina, Paulo em Romanos mostra que a Lei de Moisés, em si
boa e santa (7:12), fez o homem conhecer a vontade de Deus, mas não lhe
transmitiu a força para cumpri-la. Deu-lhe consciência de seu pecado e da
necessidade que tem de socorro (3:20, 7:7-13). Esse socorro, inteiramente
gratuito, chegou através de Jesus. E a humanidade, morta no pecado, é recriada
em Cristo (5:12-21), podendo agora viver em liberdade e justiça, segundo a
vontade de Deus (8:1-4).
Romanos tem como tema central a revelação da justiça de Deus e a
universalidade da obra de Cristo. E, se Romanos é o centro nevrálgico das
Escrituras, o capítulo 8 é o coração de Romanos.

CAPÍTULO 5: PELA GRAÇA, DOM DE DEUS

O capítulo 8 de Romanos mostra que a lei foi, através do sacrifício de Cristo,


dominada pela graça. Como vimos neste estudo, a epístola de Romanos é
fundamental no processo vivenciado pela Reforma. A igreja que rompe com o
catolicismo romano, quer a reformada de Lutero, Calvino e Zwinglio, quer a

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 38


revolucionária de anabatistas e inspiracionistas, entende que o apóstolo Paulo
traça na epístola aos Romanos o curso da vida cristã, mostrando que através da
graça há vitória plena sobre o pecado.
Paulo queria deixar claro que as propostas judaizantes não tinham razão de ser,
pois a obediência à lei nunca logrou êxito. Através de Cristo, unido a Cristo pelo
Espírito, aquele que crê está absolvido de seus pecados e pode iniciar uma vida
de liberdade, dentro de uma nova lei, a lei do Espírito da vida em Jesus Cristo.
O que os cristãos do século XVI entendiam, contextualizando os ensinamentos de
Paulo, é de não havia mais necessidades de obras e penitências para se alcançar
a salvação. O que a Igreja Católica Romana proclamava, tanto no que concerne
às indulgências, como às obrigações de caridade, estava fora da doutrina cristã
pregada por Paulo nas epístolas aos Romanos e Gálatas, assim como no restante
das Escrituras.
Ainda hoje Romanos apresenta ensinamentos fundamentais para a igreja de
Cristo: a pecaminosidade do homem (1:18-3:30); sua desesperada luta interior
(7:14-25), a gratuidade da salvação (3:21-24), a eficácia da morte e ressurreição
de Cristo (4:23-25, 5:6-11, 6:3-11), a justificação pela fé (5:1-2) e nossa adoção
como filhos (8:14-17).
É a partir desta hermenêutica, delineada nos vários passos apresentados neste
trabalho, que o trecho de Romanos 8:1-5 deve ser interpretado. Teremos, então,
uma melhor compreensão daquilo que o apóstolo Paulo chama de "a lei do
Espírito da vida em Jesus Cristo" e de sua importância no caminhar do cristão.
Pr. Jorge Pinheiro

BIBLIOGRAFIA Recomendada
Dobson, John H., Aprenda o Grego do Novo Testamento, CPAD, Rio de Janeiro,
1994.
Gundry, Robert H., Panorama do Novo Testamento, Edições Vida Nova, São
Paulo, 1991.
Halley, H. H., Manual Bíblico, Edições Vida Nova, São Paulo, 1993.
Rega, Lourenço Stelio, Noções do Grego Bíblico, Edições Vida Nova, São Paulo,
1993.
Taylor, W.C., Dicionário do Novo Testamento Grego, JUERP, Rio de Janeiro,
1991.
The Greek New Testament, United Bible Societies, USA, 1994.
Virkler, Henry A., Hermenêutica - Princípios e Processos de Interpretação Bíblica,
Vida, São Paulo, 1994.

1 Davidson, F., "O Novo Comentário da Bíblia", Edições Vida Nova, São Paulo,
1994, pág. 1167.
2 "Cumprir, isto é, fazer que a vontade de Deus (revelada na Lei) seja obedecida
como deve ser, e as promessas de Deus (dadas pelos profetas) recebam seu
cumprimento". Taylor, W.C., Dicionário do Novo Testamento Grego, JUERP, São
Paulo, 1991, pág. 177, verbete plhrow, in citação de Thayer.
3 "A usual folha de papiro media cerca de 34 cm x 28 cm (...), podendo acomodar
entre 150 e 250 palavras (...), e a maioria das cartas antigas não ocupava mais
que uma página de papiro". Gundry, Robert H., Panorama do Novo Testamento,

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 39


pág. 287. Ed. Vida Nova - São Paulo.
4 Packer, James I. in O Conhecimento de Deus, pág. 235. Editora Mundo Cristão,
São Paulo.

Parte X
A SERVIÇO DE DEUS
TEXTO BÍBLICO: Atos 20 : 24
Introdução

Desculpas para os incrédulos não aceitarem o Evangelho


Desculpas para os crentes não se engajarem no serviço.

A Serviço de Deus

1. Em um Ministério
1.1 - A Determinação do Apóstolo
1.2 - A Vocação do Crente - 1 Tm 12 : 13

2. Com um Dom
2.1 - Servindo uns aos outros - 1Pe 4 : 10
2.2 - Em um só corpo - Ilust. Sintonia / Rm 12 : 3 - 6a

3. Na Igreja
3.1 - A Vocação da Igreja - Mt 4 : 18
3.2 - A Rede Ministerial - Ilustração Rede

Conclusão - Cl 4 : 17

O SERMÃO

Precisamos lembrar a todo momento do compromisso que temos como igreja,


com o "Ide de Jesus", portanto devemos ter presente em nossas mentes e em
nossos corações o constante propósito de evangelizar.

Refletindo sobre esta premissa, podemos enumeras as desculpas clássicas que


os incrédulos nos dão para não aceitar o Evangelho da Salvação. E quais são
elas?

Não sou Pecador


É tarde demais para mim
Ainda sou jovem, quem sabe ...
A vida do crente é muito exigente
Não tenho tempo

Mas, pior do que estas desculpas são as que encontramos entre os próprios
crentes, no seio da igreja, para não se comprometerem no serviço cristão. E pode,
os novamente enumerá-las:

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 40


Não tenho tempo
Não sei o que fazer
Não me dou com o fulano
Ninguém me chamou

Focado neste segundo grupo é que estaremos refletindo sobre quando estamos A
Serviço de Deus.

Leitura Bíblica

1. A SERVIÇO DE DEUS EM UM MINISTÉRIO

No texto que lemos na palavra de Deus, encontramos o apóstolo Paulo


enfatizando aos líderes da igreja de Éfeso que mito mais do que a sua própria vida
o importante seria que ele concluísse o ministério que havia recebido de Jesus, a
saber, o testemunho, isto é anunciar o Evangelho da graça de Deus.

Encontramos aí um exemplo de determinação e compromisso a ser seguido por


quem quiser estar a serviço de Deus. Nenhuma das dificuldades que poderiam
estar à sua espera, e no verso anterior Paulo afirma que "...o Espírito o havia
assegurado que lhe esperavam cadeias e tribulações" , poderiam mudar o seu
objetivo, até que completasse a sua carreira.

Do mesmo modo que o apóstolo, o crente que tem o compromisso de servir a


Deus deve abraçar o seu ministério e em qualquer circunstancia deve perseverar
em seu caminho, despojando-se de desculpas banais como as que vimos à
pouco. Ah! Mas não sei onde devo servir na igreja!

Na Primeira Epístola de Paulo à Timóteo capítulo 1 versos 12 a 14 lemos:

"Sou grato para com aquele que me fortaleceu, a Cristo Jesus, nosso Senhor, que
me considerou fiel, designando-me para o ministério, a mim que noutro tempo era
blasfemo e perseguidor e insolente. Mas obtive misericórdia, pois o fiz na
ignorância, na incredulidade. Transbordou, porém, a graça de nosso Senhor com
a fé e o amor que há em Cristo Jesus."

Todo aquele que buscar a Deus através de Jesus Cristo, será designado a um
ministério. Será capacitado pelo Espírito Santo e nele transbordará a Graça do
Senhor.

Aparentemente simples, não é?

Mas é simples mesmo, desde que cada um de per si tome a decisão de servir a
Deus. E o salmista diz mais:"Servi ao Senhor com alegria e apresentai-vos diante
dele com cânticos.", O crente abraçando um ministério que irá exercer com
compromisso e alegria.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 41


2. A SERVIÇO DE DEUS COM UM DOM

Ainda assim restará a pergunta: Mas servir à Deus de que maneira? Conforme
uma daquela desculpas já citada. A Palavra de Deus nos assegura que a todos
Deus concede graciosamente pelo menos um dom, com o qual podemos servi-lo.

O apóstolo Pedro em sua Primeira Epístola capítulo 4 verso 10 e 11, nos diz a
respeito disto:

"Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons
despenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém fala, fale de acordo com os
oráculos de Deus, se alguém serve faça-o na força que Deus supre, para que em
todas as coisas seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence
a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém."

Pois aí está amados irmãos, não só recebemos o dom, mas quando nos
colocamos a serviço de Deus, somos supridos por Ele em força e capacitação.

Devemos estar em constante sintonia com Deus E o que isto significa


exatamente? Em termos técnicos estar em sintonia é "Oscilar na mesma
freqüência"- Quando temos um emissor pulsando em uma determinada
freqüência, só podemos captar estes sinais se nosso receptor estiver pulsando na
mesma freqüência, ou seja em sintonia.

Um exemplo prático disto é o nosso rádio, quando a estação emite o seu sinal, isto
quer dizer que suas ondas pulsam e o meu radio só conseguirá captar esta onda
se seu receptor oscilar na mesma freqüência. Rádios à parte, assim também
devemos ser com Deus, ou seja, oscilarmos na mesma freqüência que Ele para
podermos ouvir a sua voz, ou repetindo em uma visão mais antiga esta
explicação: "Falarmos de acordo com os oráculos de Deus."

Voltemos então nossas atenções para a questão do "servi uns aos outros
conforme o dom que recebemos de Deus." No momento em estivermos servindo
uns aos outros e aplicando nossos dons ao serviço de Deus, estaremos então
agindo como a igreja que Jesus Cristo nos legou.

Na Epístola aos Romanos no capítulo 12, verso de 3 a 6a, Paulo disserta sobre as
nossas responsabilidades dizendo:

"Porque pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não pense de
si mesmo além do que convém, antes, pense com moderação segundo a medida
da fé que Deus repartiu a cada um. Porque, assim como num só corpo temos
muitos membros, mas nem todos os membros tem a mesma função, assim
também nós, conquanto muitos, somos um só corpo em Cristo e membros uns
dos outros, tendo, porém, diferentes dons segundo a graça que nos foi dada."

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 42


Em busca de definirmos um padrão para estarmos a serviço de Deus, já falamos
sobre a determinação e o compromisso em abraçarmos um ministério, falamos
também sobre o uso dos dons que recebemos graciosamente de Deus e esse
texto que acabamos de ler nos coloca último aspecto desta reflexão.

3. A SERVIÇO DE DEUS NA IGREJA

Para podermos compreender melhor como devemos estar a serviço de Deus na


Igreja, precisamos ter certeza de qual a verdadeira vocação da igreja, e nós
encontramos Jesus explicando a Pedro e André, no início de seu ministério, com
palavras que aqueles homens só entenderiam algum tempo depois.

No Evangelho segundo Mateus no capítulo 4 verso 19, são estas as palavras de


Jesus:

"Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens."

E esta é a nossa chave. Devemos ser pescadores de homens, pois esta é a


vocação da Igreja de Jesus Cristo. Precisamos como igreja estar sempre lançando
nossas redes para pescarmos mais e mais almas para Jesus.

Imaginemos a malha de uma rede de pesca, onde cada nó, ou seja, aquele ponto
onde as linhas se unem seja um membro da nossa igreja. Que aquele ponto seja
você, eu, enfim todos nós. Cada um representado por um nó.

Imagine também que ao invés da linha de nylon, fazendo aquela união estejam
nossos braços abertos, sustentando, assim, o irmão da direita e o da esquerda. Ao
mesmo tempo que somos alcançados e sustentados pelos braços fortes de dois
outros irmãos. Pronto estará formada a redada Igreja de Jesus Cristo, pronta para
ser lançada, com um único objetivo, o de pescar almas, composta com homens
usando seus dons e comprometidos em seus ministérios

CONCLUSÃO

Esteja atento para o seu momento. Ore desde agora por este alvo, e mais ainda
ore por voce neste alvo, pelo momento em que for chamado para compor esta
rede de pescar homens.

Por fim, devemos ouvir o conselho que Paulo deu a Arquipo, líder da igreja de
Colossos, que se encontra em Colossenses capítulo 4 verso 17.

"Atenta para o ministério que recebeste no Senhor, para o cumprires."

Parte XI
A VIDA ETERNA
Segundo o Evangelho de João

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 43


Nenhum outro escritor do Novo Testamento utiliza tanto a expressão vida eterna
como o apóstolo João. Enquanto nos evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e
Lucas) vida eterna aparece 6 vezes, em João temos nada menos que 17
ocorrências. Isto não significa que nos evangelhos sinóticos o tema da vida eterna
seja ignorado, pelo contrário, os três primeiros evangelhos tratam do mesmo tema
quando falam do reino de Deus. Ambos (vida eterna e reino de Deus) pertencem à
mesma categoria teológica, e são sinônimos.

Segundo C. K. Barret, vida eterna em João "substitui o reino de Deus dos


evangelhos sinóticos". E mais: "Aquilo que é, propriamente, uma bênção futura
torna-se um fato presente em virtude do futuro em Cristo".

A NATUREZA DA VIDA ETERNA

O substantivo "vida" em grego pode ser bíos ou zoê. Bíos significa a vida física,
biológica e zoê aquela qualidade espiritual de vida eterna que só Jesus é capaz de
oferecer. Em João zoê pode vir ou não acompanhado do adjetivo "eterno", que em
grego é aiõnios. Na maioria das vezes temos zoê aiõnios (vida eterna), e mesmo
quando zoê está sozinho, em João sempre significa vida eterna.

A vida eterna é uma obra da livre graça de Deus. A salvação em sua maior
expressão. Nem mesmo a morte física serve de obstáculo para a vida eterna; pelo
contrário, a morte, para os crentes, é "uma libertação do pecado e um passo para
a vida eterna" (Catecismo de Heidelberg). Disse Jesus: "Eu sou a ressurreição e a
vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim,
não morrerá, eternamente" (Jo 11.25,26). Ter a vida eterna é o mesmo que estar
salvo num processo irreversível (cf. Jo 5.24; 6.47; 10.27,28). Como o próprio nome
indica, vida eterna não é uma coisa que temos hoje e perdemos amanhã. Neste
caso seria vida temporária e passageira, jamais eterna!

A natureza essencial da vida eterna foi descrita pelo Senhor Jesus assim: "E a
vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus
Cristo a quem enviaste" (Jo 17.3). Esta passagem "não define vida eterna, mas
mostra como se manifesta e quão maravilhosa é" (William Hendriksen). E de que
forma ela se manifesta? Hendriksen explica: "A vida eterna por meio da qual tanto
o Pai como o Filho são glorificados se manifesta no verdadeiro conhecimento do
que envia e do enviado". Segundo George Ladd, "Em João, o conhecimento é
uma relação com base na experiência. Existe uma relação íntima, mútua, entre o
Pai e o Filho; por sua vez, Jesus conhece seus discípulos e por eles é conhecido;
e, em conhecê-lO, eles também conhecem a Deus". Disse Jesus: "Eu sou o bom
pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim, assim como o
Pai me conhece a mim e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas" (Jo
10.14,15).

Em se tratando de nossa relação com Jesus, é preciso entender que este


conhecimento, longe de ser uma simples questão de compreensão intelectual,
envolve sempre um relacionamento pessoal de íntima comunhão com nosso

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 44


Senhor. Este é o significado básico do verbo conhecer em João.

Conhecer a Deus é conhecer a verdade libertadora. "Disse, pois, Jesus aos


judeus que haviam crido nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, sois
verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade e a verdade vos
libertará" (Jo 8.32). Conhecer a verdade "significa chegar a compreender o
propósito salvador de Deus, incorporado em Cristo, e a liberdade prometida é a
liberdade do pecado (Jo 8.34), liberdade essa que não poderia ser realizada sob
as condições da antiga aliança, mas somente através do Filho [Jo 8.36]" (Ladd). E
ainda: "A verdade de Deus não está apenas incorporada em Cristo, mas é
também manifesta em Sua palavra, pois Ele fala a verdade (Jo 8.40,45) e veio
para dar testemunho da verdade (Jo 18.37). Esta verdade não é simplesmente a
revelação daquilo que Deus é, mas a manifestação da presença salvadora de
Deus no mundo. Portanto, tudo o que Jesus fez e oferece é verdadeiro (Jo 7.18;
8.16), isto é, está de acordo com a Sua natureza e com o plano de Deus. Este
propósito redentor é a palavra de Deus (Jo 17.6,14) é a própria verdade (Jo
17.17), a qual é uma com a pessoa do próprio Jesus (Jo 1.1)".

O ASPECTO PRESENTE DA VIDA ETERNA

Que a vida eterna já é uma realidade na vida de todo aquele que crê em Jesus, é
facilmente percebido em João 6.47, onde o verbo ter está no presente do
indicativo. Disse Jesus: "Em verdade, em verdade vos digo: Quem crê, tem a vida
eterna" (cf. I Jo 5.13). "A vida que pertence ao futuro, ao reino da glória", diz
Hendriksen, "passa a ser possessão do crente aqui e agora (...). Esta vida é
salvação e se manifesta na comunhão com Deus em Cristo (Jo 17.3); na
participação do amor de Deus (Jo 5.42), de sua paz (Jo 16.33), e de seu gozo (Jo
17.13)".

John MacArthur complementa: "Biblicamente, a vida eterna não é apenas a


promessa da vida na eternidade, mas é também a qualidade de vida característica
das pessoas que vivem na eternidade. Tem a ver com qualidade tanto quanto
duração (Jo 17.3). Não é apenas viver para sempre. A vida eterna é ser
participante do reino onde habita Deus. É andar com o Deus vivo, em comunhão
infindável".

A ênfase central do evangelho de João é levar homens e mulheres a terem uma


experiência presente de vida eterna. O aspecto presente, bem como o futuro da
vida eterna, é mediado pela pessoa de Cristo. Desse modo, não é difícil
compreender porque as suas palavras são vida (Jo 6.63), visto que elas procedem
do Pai, que lhe ordenou o que deveria dizer. E o mandamento de Deus é vida
eterna (Jo 12.49,50). Mas a vida eterna não é apenas mediada por Cristo e Sua
palavra. Ela habita na própria pessoa de Jesus (Jo 1.4; 5.26; 14.19). Ele é o pão
da vida (Jo 6.48). Ele é a água vida (Jo 4.10,14). Conseqüentemente, Jesus podia
dizer: "Eu sou a vida" (Jo 11.25; 14.6), e vida em abundância (cf. Jo 10.10).

Para que a vida eterna seja uma realidade presente na vida de alguém, é

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 45


necessário receber a Jesus Cristo e confiar somente nEle para a vida eterna (cf Jo
3.16). "A falta de vida eterna é equiparada com o estado de perdição, de estar
condenado ou perdido, em contraste com aqueles que têm a vida eterna, que são
declarados salvos e que recebem a promessa de que nunca perecerão [Jo
3.15,16,18,36; 10.9]" (John Walvoord).

Uma vez adquirida, é necessário que a vida eterna se expresse através da


obediência e prática do evangelho (Jo 12.50; 13.17). A salvação em Cristo exige
mudança de vida, aqui e agora. Além disso, a vida eterna deve ser uma realidade
tão presente em nossa vida, a ponto de podermos cantar assim:

Depois que Cristo me salvou,


Em céu o mundo se tornou;
Até no meio do sofrer
Eu tenho paz no meu viver.

O ASPECTO FUTURO DA VIDA ETERNA

A vida eterna é qualidade e duração. Ter uma vida que não acaba jamais é o
grande anseio do ser humano. Haja vista a atitude da mulher samaritana quando
ouviu de Jesus: "Aquele, porém, que beber da água da vida que eu lhe der, nunca
terá sede, para sempre; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte
a jorrar para a vida eterna. Disse-lhe a mulher: Senhor, dá-me dessa água para
que eu não mais tenha sede, nem precise vir aqui buscá-la" (Jo 4.14,15). Ou dos
judeus quando ouviram Jesus dizer: "Porque o pão de Deus é o que desce do céu
e dá vida ao mundo. Então lhe disseram: Senhor, dá-nos sempre desse pão" (Jo
6.33,34). Infelizmente nem a mulher samaritana nem os judeus entenderam, a
princípio, o significado da vida eterna que Jesus lhes oferecia.

Em João a expressão vida eterna contém, além de seu significado presente, um


aspecto futuro ou escatológico, como por exemplo em 12.25: "Quem ama a sua
vida, perde-a; mas aquele que odeia a sua vida neste mundo, preservá-la-á para a
vida eterna".

Quem beber da água viva descobrirá que ela também é uma fonte a jorrar para a
vida eterna (Jo 4.14); e aquela comida que Cristo oferece também produz vida
para o futuro (Jo 6.27).

A vida eterna, no aspecto escatológico, será experimentada quando o justo passar


pela "ressurreição da vida" (Jo 5.29). Esta declaração é bem parecida com aquela
de Daniel 12.2: "Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a
vida eterna, e outros para vergonha e horror eterno".

O princípio da vida eterna que habita o corpo mortal do crente se estende para a
ressurreição do mesmo. Aquele a quem Jesus concedeu vida eterna será
ressuscitado no último dia (Jo 6.40,54). Jesus é a ressurreição e a vida. Quem
nEle crê poderá morrer fisicamente, mas viverá novamente (Jo 11.25,26), isto é, o

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 46


corpo ressuscitará para uma alma que nunca morreu, a fim de, juntos, desfrutarem
eternamente da presença de Deus.

Caberia aqui uma ligeira observação acerca do castigo eterno. Não trataremos do
assunto propriamente dito, visto que este não é o tema do nosso estudo. Por isso,
mencionaremos o castigo eterno apenas como auxílio para uma compreensão
melhor da vida eterna.

Hoje em dia, não são poucos os que negam a condenação eterna. Igrejas, num
passado recente, se dividiram por causa desta questão. Os universalistas e os
aniquilacionistas de nossos dias rejeitam definitivamente a idéia de um inferno
onde pessoas sofrerão por toda a eternidade. Ambos argumentam que Deus é
muito bom e misericordioso para condenar qualquer pessoa por toda a eternidade.
Alguns universalistas defendem que as pessoas que viveram pecando deverão ser
castigadas durante certo tempo após a morte, mas depois todo mundo será salvo.
Os aniquilacionistas, por sua vez, entendem que os ímpios serão, como o próprio
nome diz, aniquilados. Alguns aniquilacionistas também crêem que depois da
morte um sofrimento temporário precederá o aniquilamento final e definitivo dos
ímpios.

Ora, seja Deus verdadeiro e todo homem mentiroso. Deus é amor mas também é
justiça! Nosso Senhor Jesus foi claro quando disse: "Por isso quem crê no Filho
tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a
vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus" (Jo 3.36; cf. Dn 12.2; Mt 25.46).
Quando Jesus diz que aquele que "se mantém rebelde contra o Filho não verá a
vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus" (Jo 3.36), Ele está se referindo ao
destino final dos ímpios. O inferno é a manifestação permanente e eterna da ira de
Deus contra os pecadores impenitentes. O castigo que os ímpios sofrerão depois
desta vida será de igual maneira sem fim, como sem fim será a bem-aventurança
futura do povo de Deus.

Sendo assim, as ovelhas de Jesus podem descansar nas promessas


consoladoras do Supremo Pastor: "Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão,
eternamente, e ninguém as arrebatará da minha mão" (Jo 10.28). Por outro lado,
como bem observou Antony Hoekema, "O ensinamento bíblico com respeito ao
inferno deve acrescentar uma nota de profunda seriedade em nossa pregação e
ensino bíblico. Devemos falar do inferno com tristeza, com dor, talvez até com
lágrimas – mas devemos falar a respeito". E mais: "Em nosso empreendimento
missionário, a doutrina do inferno deve incitar-nos a um maior zelo e urgência. Se
é certo que muita gente vai em direção de uma eternidade sem Cristo, a menos
que ouçam o evangelho, quão ansiosos deveríamos estar para levar-lhes o
evangelho!" . (Tradução livre).

AS IMPLICAÇÕES DA VIDA ETERNA PARA O POVO DE DEUS

Quais as implicações práticas da vida eterna para a igreja evangélica


brasileira do novo milênio? Consideremos três aspectos:

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 47


Em primeiro lugar, é preciso uma reflexão séria e responsável do papel da
igreja na sociedade. Somos salvos para fazer a diferença através de uma
postura ética, de valores que manifestem nitidamente a diferença que a vida
eterna faz no meio e através do povo de Deus. A natureza da vida eterna,
expressa no conhecimento de Deus e de Sua verdade, deve levar a igreja a
experimentar a renovação de vida que começa aqui e agora. A vida só tem
sentido quando é vivida na presença de Deus com responsabilidade. Por
isso, a igreja precisa parar de brincar com coisa séria e viver o evangelho
integral de nosso Senhor Jesus Cristo.

Em segundo lugar, a vida eterna deve nos levar a uma atitude prática em
relação ao destino futuro dos justos e dos injustos. O que significa o céu
para os crentes? O que quer dizer viver para sempre? Estamos preparados?
A igreja do Senhor está pronta? Você está preparado para se encontrar com
Deus? Está certo que tem a vida eterna? E o que dizer daqueles que estão
indo para o inferno? Até onde somos culpados pelo destino eterno dos
pecadores? Essas indagações não devem ser menosprezadas. São
necessárias uma reavaliação de conceitos e uma ação salvífica urgente da
igreja no mundo.

Em terceiro lugar, temos que levar em muita consideração a razão de ser da


própria vida eterna. De um lado temos o propósito imediato, isto é, somos
salvos porque Deus nos ama e quer nos ajudar. Do outro lado há o propósito
final da vida eterna: a glória de Deus. Glorificar a Deus deveria ser o maior
desejo do cristão. Viver como Deus quer é viver para a sua honra e glória.
Infelizmente, muitas vezes a glória de Deus não tem sido, na prática, a maior
preocupação do povo de Deus. A busca do bem-estar tem ocupado com
muita freqüência o lugar de uma vida obediente e submissa à vontade de
Deus. Certamente Deus abençoa o Seu povo e se deleita nisso, porém,
somente quando Ele ocupa o primeiro lugar em nosso coração. Se
agradarmos a Deus, não como pessoas interesseiras, mas como verdadeiros
crentes interessados em Sua pessoa, e se o amarmos nem tanto por aquilo
que Ele vai nos dar, mas principalmente por aquilo que Ele é, com certeza a
vida eterna que de Deus recebemos será a expressão de louvor no dia-a-dia
de pessoas que verdadeiramente amam e glorificam a Deus.

Parte XII
ANÁLISE SEMÂNTICA
De I Pedo 2:4-10
Vers. 04 - Chegando-vos a ele, a pedra viva, rejeitada é verdade pelos homens,
mas diante de Deus eleita e preciosa.

O 1º verso merece atenção especial, a partir da palavra giqon (pedra). É de uso


figurativo1 pois designa o caráter inflexível ou de sentimentos duros (Cf.
CULLMANN, 1965:324). Ao dizer que devemos chegar a Cristo, o apóstolo faz uso

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da palavra pedra como algo vivente. Essa declaração permite compreender o
caráter de Cristo, ou seja : Deus vivente. Com certeza, o uso do substantivo pedra
é mais um recurso literário e lingüístico do que propriamente teológico. Ao
apropriar-se da linguagem simples para referendar o caráter de Cristo, o autor é
sábio, pois considera a estrutura da “teologia da pedra” como indicativo da
superioridade das demais compreensões teológicas a respeito da salvação. Sendo
assim, a pedra é símbolo figurativo do Cristo que, por sua vez, é símbolo figurativo
de salvação. Dessa forma, pedra em 2:4 é vocábulo substituto da salvação.

Está clara a indicação de que Cristo é a pedra viva, pois o verbo zwnta (particípio
presente) denota a qualidade verbal 2 do substantivo giq on (pedra).
Essa qualificação é própria nos escritos petrinos e paulinos, pois além da ênfase
no Cristo, enquanto Salvador, é também ao aspecto sustentador da salvação - a
pedra é viva (Cf. I Cor 10:4; Rm 9:33, 10:11).

Interessante notar é que o autor também argumenta o aspecto do adjetivo


negativo dessa pedra, ou seja, é rejeitada. O que o autor quer dizer, na verdade, é
uma releitura de Is. 28:16, cujo contexto lembra-nos do povo que não depositou
confiança no Senhor Iahweh. Da mesma forma, a pedra é rejeitada por não
depositarem à ela o crédito de confiança merecido. O autor releva-nos
paradoxalmente a qualificação da pedra, ou seja, é viva, pois é a salvação; é
rejeitada, pois não há mérito de fé alguma. Sendo assim, rejeitada é sinônimo de
falta de fé, e, consequentemente anti-sinônimo de salvação.

Todavia, a linguagem do autor é explicativa ao exemplificar os dois aspectos da


pedra na perspectiva divina : eleita e preciosa. A combinação grega de eklekton
(eleita) e entimon (preciosa) quanto à pedra é máxima, por partir de (segundo
Deus). Isso denota a exposição divina da eleição de Jesus-pedra (salvação) e da
preciosidade que este representa aos olhos de Deus. dir-se-ia que tais adjetivos
são conseqüências da ação divina sobre a pedra (Jesus). Tais qualidades são
somente compreendidas por aqueles que obedecem o (chegando-vos) a Cristo.
Concluindo, pedra viva é Cristo que salva mediante os que crêem Nele, e, para os
que não crêem, ele é a pedra rejeitada.

Vers. 05 - Do mesmo modo, também vós, como pedras vivas, constituí-vos em um


edifício espiritual, dedicai-vos a um sacerdócio santo, a fim de oferecerdes
sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo.

Comecemos a análise pela expressão giq on zwnteV (pedras vivas). embora seja
a mesma expressão dada a Cristo, a diferença se faz pelo verbo constituí-vos.
Essa constituição é mister por causa da ação prática de Deus na vida daqueles
que crêem. Trata-se mais de uma exigência, um dever a ser cumprido. Os que
crêem são chamados a se tornarem oikoV pnenmatikoV (edifícios espirituais).
Trata-se de termos pertinentes à posição dos que aceitam a pedra viva. de certa
forma, os “edifícios espirituais” são : o crer, o aceita, o confiar, o receber a pedra,
o adorar a Deus, etc. Esse edifício não tem uma característica física, isto é, não é
determinado por medidas conhecidas na arquitetura, mas sim, por características

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 49


espirituais, “a do Espírito”,3 ou seja, a exigência que o Espírito faz é o de crer na
giq on zwnta (pedra viva).
Uma outra exigência feita nesse verso é que devemos nos dedicar a um
sacerdócio santo. (eiV ierateuma). Essa exigência é feita apenas no sentido
funcional, isto é, a nós é dado o ofício de sacerdotes. Não há intermediários entre
aqueles que crêem e Deus. Ser sacerdote é uma designação de forma constitutiva
por parte de Deus, mas não institucional (por parte dos homens). Essa nova
designação, só é compreendida à luz da fé em Cristo, haja vista que tais
implicações somente são encontradas no Novo Testamento.4 A posição que o
indivíduo assume em Cristo é a de ser sacerdote, pois pode oferecer sacrifícios
movidos pela fé e não pelo pecado. Sendo assim, os sacrifícios espirituais são
provas de fé (crer, obedecer, adorar, profetizar, etc.), apresentados em momentos
doxológicos pelo que aceita a vontade de Deus.

Vers. 06 - Com efeito, nas Escrituras se lê : Eis que ponho em Sião uma pedra
angular, eleita e preciosa, quem nela confia não será confundido.

Este versículo é uma rememoração de Isaías 28:16. O uso das Escrituras denota
a autoridade do Antigo Testamento na releitura dos apóstolos. Para o autor da
carta, a “pedra angular” é Cristo por estar sustentando Sião (o povo que nele crê).
No contexto vétero-testamentário, Isaías 28 comenta o juízo de Deus sobre
Efraim, ao mesmo tempo que o profetiza com uma promessa (Vers. 16 : “quem
nela (pedra) crer não será confundido “. É uma releitura muito apropriada para o
contexto neo-testamentário, pois é Deus quem, através de Cristo, elege e torna
“essa pedra” preciosa.
Os apóstolos e discípulos da época neo-testamentária dão ênfase ao A.T por
questões de estilo literário : paralelismo, releitura e narrativa divina.5 Dessa forma,
entende-se as referências do A.T apenas como re-interpretação e ênfase teológica
por parte do apóstolo. Pedro, ao associar o contexto de Isaías com o da
comunidade de sua época, estaria atualizando a teologia (fé e prática) de Isaías
28:16. Certamente, as nuances da nova vida em Cristo extrapolaria os conceitos
de “pedra angular” de Isaías. Enquanto o “crer “de Isaías 28:16 é a sujeição dos
líderes à vontade de Deus, o “crer “ de I Pedro é a Fé depositada em Cristo.

Vers. 07 - Isto é, para vós que credes ela será um tesouro precioso, mas para os
que não crêem, a pedra que os edificadores rejeitaram, essa tornou-se pedra
angular.
Vers. 08 - Uma pedra de tropeço e uma rocha que faz cair. Eles tropeçam na
Palavra, para o que também foram destinados.

Esses versículos devem ser entendidos como uma conclusão dos argumentos
apresentados anteriormente. É como se o autor estivesse finalizando sua
exposição, mas dando ênfase nos aspectos positivos e negativos dessa
conclusão, por exemplo :

CRER (+) NÃO-CRER (-)

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Tesouro Precioso Rejeitada

Eleita Tropeço

Faz Cair

A linguagem usada é a da figura de um construtor. A “pedra angular” é a principal


da construção. Poderíamos dizer que essa pedra é a que sustentará as demais.
Sendo assim, as demais colunas, paredes, aberturas, etc; devem estar ligadas à
ela. Na analogia petrina, essa pedra angular é a que representa a sustentação da
fé, da esperança, das vitórias dos que crêem. O “crer “nesse texto é a exigência
clara para os que querem ter uma construção forte. A construção que representa a
“pedra principal “ é a feita pela fé em Cristo. Quando Pedro diz “isto é para vós
que credes“, está fazendo referência à comunidade dos cristãos dispersa na Ásia
Menor : (Ponto, Bitínia, Galácia e Capadócia). Com certeza, essa comunidade
“creu “ na pedra preciosa e por isso está tendo uma boa construção.
O autor reafirma a experiência cristã da comunidade a partir da fé depositada na
Pedra (Cristo). Mas para os que não crêem é a pedra de tropeço, a rocha que faz
cair. a referência “que não crêem “ é específica para os judeus. Podemos chegar a
essa conclusão por causa do final do versículo “para os que também foram
destinados” (Is. 8:14).
Ao rejeitar Cristo, os que não crêem estão rejeitando a pedra que Deus elegeu
como fundamental para a salvação/eleição. Não considerar essa “forma divina “ de
“crer “ na pedra é o mesmo que incredulidade. A fé em Cristo é, então, escândalo,
pois não crêem; ao mesmo tempo que a conseqüência é “cair “. Podemos
entender que a incredulidade é a rejeição de Cristo. Os judeus não aceitaram a fé
como forma divina da eleição. Eles a rejeitaram e ao mesmo tempo
escandalizaram-se. A “rocha” só faz “cair “ porque não aceita a incredulidade.

Vers. 09 - Mas vós sois uma raça eleita, um sacerdócio real, uma nação santa, o
povo de sua particular propriedade, a fim de que proclameis as excelências
daquele que vos chamou das trevas para a sua luz maravilhosa.
Vers. 10 - Vós que outrora não éreis povo, mas agora sois povo de Deus, que não
tínheis alcançado misericórdia, mas agora alcançastes misericórdia.

Os versículos 9 e 10 representam os resultados da fé em Cristo. Tratam-se de


nomeações referentes à nação de Israel, mas que na visão petrina correspodem à
nova identidade a partir da fé em Cristo. Essa identidade é pertinente aos que
crêem, tanto judeus como gregos. A nova realidade dos que crêem corresponde à
função que deverão cumprir. Isso comprova pelos adjetivos dados, por exemplo :

Raça Eleita: Aqueles que são chamados para a grande construção. Essa eleição
desempenha a função dos responsáveis pela construção. São somente eleitos por
Deus porque crêem.

Sacerdócio Real: É o ofício exercido pelos que crêem. É uma função religiosa
identificada pela categoria dos responsáveis pela adoração a Deus. Crer é exercer

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 51


a função sacerdotal para adorar a Deus. Não é mais exigida a representação
visível e única do sacerdote, mas, agora pela fé em Cristo, todos são eleitos
enquanto sacerdotes e possuidores do sacerdócio, isto é, o ofício de endereçar a
Deus a fé que adora.

Nação Santa: A santidade é pertinente à nova realidade da fé em Cristo. É a


qualidade dos que são separados para exercer uma nova função : ser santo. Não
se trata de uma qualidade extra-dimensional ou invisível, mas representativa do
ponto de vista da fé em Cristo. A santidade é, portanto, o momento em que a ação
de crer separa o povo para uma nova realidade : a de servir a Deus. Poderíamos
considerar o alcance geográfico da santidade de Deus: todos os que crêem em
Cristo em qualquer lugar da terra.

Povo de sua Propriedade Particular : É a consideração que o autor faz àqueles


que crêem na pedra e que, automaticamente, são feitos propriedades de Deus.
Essa menção que o autor faz é ainda qualificada como “particular“, “exclusiva”,
tudo indica a nova concepção da soberania de Deus sobre nós, ou seja, somos
exclusivos para o uso divino. Essa exclusividade é quanto ao serviço exigido por
Deus : proclamar as excelências divinas. Daí, entende-se que Deus é soberano
sobre o seu povo de propriedade exclusiva.

Todas as qualidades relacionadas à eleição dos que crêem, referem-se à


exigência do serviço : proclamar. Essa ação só pode ser executada pelo povo
eleito por Deus. A eleição para o serviço é mediante a fé : Poderíamos afirmar,
nas palavras de Pedro, que a fé em Cristo elege a comunidade para o serviço.
Contextualmente, esse serviço seria a apresentação do Cristo kerigmático,
representado figuradamente pelos termos “luz”(comp. Jo 1:1:10) Ainda outros
textos afirmam que a passagem para a fé cristã é uma passagem das trevas para
a luz (Jo12:46, II Cor 4:6, Ef. 5:8).
A referência às “excelências de Deus” referem-se às novas realidades
abençoadoras de Deus : ser eleito, precioso e responsável pela adoração a Deus.
Tais bênçãos são frutos da fé. É ela que nos eleva à categoria de proclamadores.
O reforço que o apóstolo faz para que “proclameis” é um imperativo kerigmático da
experiência e vivência da fé cristã.
O verso 10 é uma confirmação dos resultados da fé cristã. Essa confirmação é
caracterizada pelos adjetivos “sois povo de Deus “ e “alcançastes misericórdia “.
esses adjetivos representam a elevação dos que crêem na Pedra Eleita, Viva, pois
são “da misericórdia de Deus“. Diríamos que a convicção da fé em Cristo,
experimentada pela comunidade, é tão enfática que alcança o favor imerecido de
Deus. A misericórdia, atributo de Deus, era caracterizado na literatura vétero-
testamentária como inalcançável, mas na visão petrina, é dada àqueles que
crêem. Essa misericórdia é, então, a nova identidade que o “povo” alcançou “de
Deus”.

1 Para um estudo mais detalhado sobre figuras a respeito de Cristo veja :


MATEOS, Juan e CAMACHO, Fernando. Evangelho : Figuras & Símbolos, Editora
Paulinas, São Paulo, 1991.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 52


2 LASOR, Wilhan S. Gramática Sintatica do Grego no Novo Testamento. Editora
Vida Nova, 1986

3 RIENECKER, F e ROGERS, C. Chave Linguística do Novo Testamento. Editora


Vida Nova. São Paulo, 1995, pp 556

4 O sumo-sacerdote no VT é figura também constituída por Deus, mas este


apenas apresentava sacrifícios “visíveis “ a Deus ( animais, oblação, libação,
expiação, etc ), e responsável por representar o pecado do povo perante Deus. Os
auxiliares ( sacerdotes ) não detinham posição de sumo-sacerdote, daí apenas um
ser o responsável pelos atos litúrgicos.

5 GABEL, John B. et al. A Bíblia como Literatura. Edições Loyola. São Paulo,
1993, pp 27 - 48.

Parte XIII
CHOQUE CULTURAL: O MUNDO E O CÉU
Tiago 3:13-18
Você já experimentou choque cultural? Choque cultural acontece quando
enfrentamos estilos de vida, língua, roupa, moeda, religião, valores, perspectivas,
totalmente diferentes dos nossos.

Com certeza você já enfrentou algum tipo de choque cultural. Quando mudou para
uma outra cidade ... Quando mudou de escola ou emprego, onde tudo é diferente:
Horários, serviços, o "jeitão" de fazer as coisas... quando mudou de igreja. Às
vezes enfrentamos choque cultural quando casamos. Os costumes, as tradições
familiares, as maneiras de celebrar aniversários, feriados, são todos diferentes.

Como as pessoas reagem ao choque cultural? Quando falamos do cristão em


relação à cultura do mundo, Jesus disse que teríamos que "estar NO mundo, sem
ser DO mundo." Paulo falou para não sermos "conformados com esse mundo,
mas transformados pela renovação da nossa mente". João disse, "Não ameis o
mundo, nem as coisas que estão no mundo" Pedro nos lembra de que tudo que
vemos no mundo há de derreter e ser reduzido a nada. O autor de Hebreus nos
chama de "peregrinos" em busca de uma cidade celeste.

Todos esses autores bíblicos identificam uma guerra entre culturas, um choque
cultural entre o mundo em que vivemos e o céu de onde vem nossa cidadania. O
livro de Tiago vai ainda mais longe. Ele não deixa dúvidas sobre os traços que
identificam um cidadão do mundo e um cidadão do céu.

Tiago 3:13-18 aborda as características que definem a cultura do mundo e a do


céu. A fé verdadeira manifesta-se numa vida transformada, de forma presente e
ativa. O texto nos desafia a rejeitar uma cultura e abraçar outra. A sabedoria (ou
cultura) do mundo é diabólica, egocêntrica, ambiciosa, contenciosa e vem direto
do inferno. Sempre quer levar vantagem. Entretanto a sabedoria (ou cultura) do

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 53


céu vem de Jesus, é pacífica e bondosa, sempre pensa nos outros primeiro, é
cheia de amor. Essa cultura celestial quer compartilhar a vantagem que tem em
Cristo.

O texto começa com uma pergunta: "Quem entre vocês é sábio e entendido?"
Muitos entre os leitores talvez pensavam que eram sábios, a ponto de quererem
ser mestres (vs 1). Mas será que eram sábios MESMO? Ou será que tinham
adotado a cultura do mundo e sua definição de sabedoria?

Definição do Mundo. O mundo define sabedoria como "esperteza". É levar


vantagem, explorar, avançar, manipular. Subir a escada mais rápido que o outro.
Enganar antes de ser enganado. Matar antes de ser morto.

Definição Bíblica. Sabedoria bíblica significa adquirir a perspectiva de Deus sobre


tudo que acontece no mundo. É subir a escada da Palavra para adquirir a ótica
divina sobre valores, vida, ministério e família. No Velho Testamento significava ter
"jeitão" para viver. Cultura é "jeitão". E o "jeitão do céu não é levar vantagem sobre
os outros, mas compartilhar a vantagem que tem em Cristo! É a ética de Jesus,
que é amar a Deus e ao próximo como a si mesmo. Não é ser servido, mas servir,
é dar a sua vida (Mc 10:45).

Sabedoria bíblica significa investir sua vida para sempre. Viver na presença de
Deus em todos os momentos. Sabedoria bíblica não pisa nos outros para subir
mais alto, mas dá uma mão para ajudar os outros a subirem. Não vem
geneticamente, mas pela Palavra de Deus, aplicada ao meu coração pelo Espírito
de Deus, pela obediência e pela graça. Por isso o salmista declarou "Os teus
mandamentos me fazem mais sábio que os meus inimigos; porque aqueles eu os
tenho sempre comigo. Compreendo mais do que todos os meus mestres, porque
medito nos teus testemunhos. Sou mais entendido que os idosos, porque guardo
os teus preceitos."(Sl 119:98-100).

Sabedoria bíblica significa viver a vida de Jesus na terra, uma vida dedicada a
outras pessoas. É reconhecer que somos abençoados para sermos uma bênção,
não para acumular mais bênçãos para nós mesmos. É mansa, humilde, digna,
cheia de boas obras, focalizada no outro e não em si mesma. "Mostre em
mansidão de sabedoria, mediante condigno proceder, as suas boas obras."

Em nosso mundo, viver esse padrão divino realmente é contra-cultura. Significa


remar contra a maré! Será que eu e você estamos praticando a sabedoria divina,
remando contra a maré? Ou será que nos nossos negócios, na escola, no serviço,
já somos idênticos ao mundo? Será que nós também adotamos o padrão de
esperteza, de querer levar vantagem em tudo?

I. A Cultura (Sabedoria) do Inferno: Ambiciosa e Contenciosa (14-16)

Cada cultura no mundo tem seus costumes, suas marcas peculiares. Vemos isso
especialmente nas formas de se vestir de cada grupo étnico. A cultura do inferno

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também usa uma roupa típica. Não é vermelha, com chifres e tridente, mas tem
um traje facilmente identificável. É o vestuário do diabo e tem cheiro de enxofre!

A cultura do mundo (inferno) em relação à cultura do céu diz:

"Somente o forte sobrevive" (Deus diz que os mansos herdarão a terra) "Você é
mestre do seu destino." (Mas o céu sabe que Deus é soberano) "Usa pessoas,
ama coisas." (Deus diz, "Usa coisas, ama pessoas") "Comamos, bebemos,
amanhã morreremos" (Deus diz, "Comam e bebam, mas lembrem-se de que tudo
que você faz será lembrado para sempre) "Eu sou número um, e não existe
número dois!" (Deus diz, "Amarás o teu próximo como a ti mesmo."

Nos versículos de 14 a 16 há duas descrições principais da cultura infernal:


ambiciosa e contenciosa. ESSA CULTURA É ESPERTA E QUER LEVAR
VANTAGEM EM TUDO. A idéia é de ambição e arrogância na vida, com um único
propósito: satisfazer seus próprios desejos, viver para si, custe o que custar para
os outros. E ai de quem ficar na frente dessa pessoa. Faria qualquer coisa para
avançar.

1. Inveja amargurada -- a palavra "inveja" literalmente diz "zelo". Zelo pode ser
bom ou ruim. Mas esse é ruim. É interesse demasiado em mim mesmo, um zelo
por mim mesmo. EU cuido de mim. EU me protejo. EU faço tudo em meu próprio
interesse. E quando não tenho meus desejos satisfeitos, fico magoado. Mas esse
zelo desorientado e diabólico também é vázio, e nunca pode ser satisfeito. Quanto
mais o ego se alimenta, tanto mais quer. Por isso é amargurado.

A ética do mundo está totalmente centrada no eu. Temos que tomar cuidado, pois
existe uma doutrina de amor próprio que passa mascarada como sabedoria
biblica, quando de fato é característica da cultura do inferno. Alguns afirmam que o
homem precisa amar a si mesmo para poder amar ao seu próximo. Mas
confundem o ensino biblico. A Palavra de Deus nunca nos manda amar a nós
mesmos - muito pelo contrário, usa o amor natural que as pessoas tem como o
padrão da medida de amor que devem ter para com os outros. A ética bíblica é
uma ética OUTRO-cêntrica. Essa é a vida de Jesus em nós. Está mais
preocupado com o bem-estar do outro do que consigo mesmo. Declarações sobre
"baixa auto-estima", "falta de amor próprio", "complexo de inferioridade" revelam
preocupações da cultura mundial. Pessoas deprimidas, vázias, em parafuso, às
vezes (nem sempre) passam pelas nuvens pretas pois vivem em torno de si
mesmas. Precisam elevar os olhos e ver outras pessoas ao seu redor, pessoas
com necessidades e dificuldades maiores que as suas. Quando nosso mundo gira
em torno de nós mesmos, quando defendemos os direitos de "numero 1"
seguimos a sabedoria desse mundo e do seu principe. Mas o fruto que colhemos
é muito amargo.

2. Sentimento faccioso. "ambição egoísta" A idéia é de contendas entre pessoas,


causadas justamente pela competição, pela cobiça, por partidarismo e divisão. A
Biblia é muito clara quando diz que "Deus ODEIA quem semeia contendas entre

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irmãos" (Pv 6:19). Mas essa é a cultura do inferno.

3. Terrena. "Não é a sabedoria que desce lá do alto", então deve ser de baixo!
Sabedoria do inferno é o padrão entre os homens. É "da terra". Uma terra em que
os mais fortes devoram os mais fracos. Cada um por si e que os demais que se
danem. Contudo, esses não são os padrões de Deus. Ele disse que "os mansos
herdarão a terra!", "Quem perder sua vida no serviço a outros, achá-la-á."

4. Animal (não espiritual). A palavra descreve o homem "natural" ou seja, o homen


não regenerado, que não consegue viver um padrão sobrenatural e voltado para o
bem do outro. É material e sensual, portanto sub-natural, pois não foi assim que
Deus fez o homen. Vemos essa característica animal logo depois do primeiro
pecado, no Jardim do Éden. Adão parece um animal com suas costas na parede
quando confrontado por Deus. E em resposta, ele vai ao ataque, culpando a
mulher e depois a Deus pelo seu pecado.

Vemos isso o tempo todo. É só reparar, filas de banco, engarrafamento de


trânsito, disputas pelas últimas vagas em estacionamentos, lutas desesperadas
pela vantagem que queremos ter sobre todos.

5. Demoníaca. Aqui descobrimos a verdadeira origem dessa sabedoria. É a


cultura do inferno! É assim que os demônios vivem. Quando adotamos o padrão
de ambição, amor próprio, divisão e contendas nos revelamos como cidadãos de
uma sociedade totalmente possessa pelo culto de si mesmo, em que cada um
devora o outro, falando mal, acusando, criticando, xingando. Cria pessoas nunca
satisfeitas, descontentes, ou acomodadas. Sempre exigindo mais e mais, mais
conquistas, mais honras, mais dinheiro, mais posses, mais glória. Que maneira
horrível de se viver!

Sl 131 "Não é ambiciosa minha alma. Não anda a procura de grandes coisas, de
coisas maravilhosas demais para mim..."

6. Confusão e toda espécie de coisas ruins. Quais os resultados esperados da


cultura do inferno, em que é cada um por si? O primeiro é confusão. A palavra fala
de desordem. Encrencas. Esse zelo amargurado é o que causa brigas em nossos
casamentos, entre irmãos, nos esportes. Leva para úlceras, hipertensão, enfartos,
brigas, familias desfeitas, separação, divórcio, lágrimas, ressentimento, mágoas,
igrejas dividas, um testemunho perdido.

Jesus disse "Vinde a mim... aprendei de mim, pois sou MANSO E HUMILDE DE
CORAÇÃO e achareis descanso para vossas almas!" Jesus ofereceu vida por
meio da morte--morte para si, para sua ambição, para sua fama, para a defesa
dos seus direitos, para a promoção dos seus interesses. Quando você não se
importa com quem recebe a gloria, fica livre para amar!

II. A Cultura do Céu: Pacífica e Bondosa (16-18)

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A cultura do céu compartilha a vantagem em vez de levar vantagem. Se for
necessário, leva desvantagem. Isso não significa ser "capachão", mas cristão. O
"jeitão" do céu é pensar nos outros antes de mim mesmo.

Assim como a cultura e sabedoria do inferno tem sua roupa típica, a sabedoria do
alto também se veste de forma única. Essa sabedoria manifesta-se numa vida
transformada-- coração, cabeça e conduta. (13). Sabedoria diante de Deus, não é
tanto uma questão intelectual, mas moral.

1. Pura -- Pureza de mente, pureza de vida, são ridicularizados em nossos dias. A


sabedoria do inferno é suja, esperta, cheia de gracinhas que gozam da santidade
da pureza moral. Essa sabedoria do inferno já contaminou a terra. Dizem que a
indústria da pornografia nos EUA gera mais de 10 bilhões de dólares por ano. Dez
mil novos filmes pornográficos são produzidos, e mais de 700 milhões de vídeos
são emprestados. A corrupção mundial devora o dinheiro do povo.

Criticamos a corrupção dos grandes, mas um dia eles eram pequenos como nós.
E a infidelidade nessas coisas pequenas transformou-se nessa grande corrupção
que nos deixa indignados.

2. Pacífica--não causa, mas cura conflitos! Um pacificador está sempre pronto


para paz! Quer resolver conflitos a qualquer custo! Não guarda mágoas! Nao
permite que haja barreiras entre os irmãos.

Porque sabe viver pela graça, pela aceitação incondicional de Deus, não tem nada
a perder. Nada para defender. Não precisa proteger seus próprios interesses a
qualquer custo. Quando errado, é capaz de pedir perdão. Quando certo, não
precisa brigar até humilhar os outros. Para esse indivíduo, pessoas são mais
importantes que posições.

3. Indulgente (amável)--moderado, cortês, gentil, tolerante, manso. Não arrogante,


não é sábio aos seus próprios olhos, tem "poder sob controle". É um fruto do
Espírito. É uma maneira de ver e tratar as pessoas, que não as usa, mas as ama.

4. Tratável (compreensiva) - A cultura do céu é ensinável, acessível, ouve, se


submete, não rancoroso, não cria motivos para discutir... disposto. Essa pessoa
ouve críticas com humildade e cresce.
5. Plena de Misericórdia e Fruto da Justíça (Gl 5:22) - Cidadãos do céus mostram
compaixão, mesmo que o outro não tenha razão. Interesse genuíno pelo outro que
leva a abrir mão dos meus interesses, meus direitos, e tratar o outro com
misericórdia. Firmeza com compaixão. "Plena de misericórdia" significa "ser
controlado" pela misericórdia, assim como "cheio do Espírito" significa ser
controlado pelo Espírito. Mas como? Uma pessoa controlada pela misericórdia
sempre deixa que a misericórdia ganhe quando há um conflito em seu espírito.

6. Imparcial. Não olha somente para si mesmo e seus interesses (2:1-11). Não
julga as pessoas pelo que tem, pelo que sabem, pelo que podem fazer por ela.

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Tem a perspectiva de Deus sobre as pessoas.

7. Sem fingimento -- Não faz da vida um "show". Não usa máscaras, nem finge ser
o que não é. Pois na verdade é transparente. Quem é assim? Mais uma vez,
descobrimos que não somos nós, mas Cristo. Ele é a sabedoria de Deus que se
tornou sabedoria para nós. E hoje quer viver Sua vida em nós.

Qual é a sua cultura? Você semeia a paz, procurando sempre levar vantagem? Ou
compartilha as vantagens que já recebeu em Cristo Jesus (v. 18)?

A CULTURA DO CÉU NÃO PROCURA LEVAR VANTAGEM; MAS


COMPARTILHA A VANTAGEM QUE JÁ TEM EM CRISTO.

Parte XV
CRISTÃO TAMBÉM FAZ DIETA!
Tiago 1:22-25
Certa vez um pastor bem conhecido em sua cidade estava comendo peixe num
restaurante, quando o ateu mais arrogante da cidade entrou e sentou-se ao lado
dele. O ateu logo começou a zombar do pastor, e perguntou-lhe, “Pois é, pastor, a
Bíblia está cheia de contradições. O que você faz quando encontrar uma delas?”

“Simples” respondeu o pastor. “Há muito que ainda não entendo na Bíblia, mas
faço igual o que estou fazendo com esse peixe que estou comendo. Tiro os
espinhos, coloco-os de lado, e deixo qualquer tolo que quiser, engasgar-se neles.”

Tiago 2.14-26 é um que tem sido como espinho na garganta de alguns. Inclusive,
o grande Reformador, Martinho Lutero, quase engasgou neste mesmo texto. Ele
chamou o livro de Tiago uma “Epóstola de Palha”, pelo simples fato de que não
conseguia engolir o ensino de Tiago sobre Fé e Obras. O problema centraliza-se
em textos que parecem contraditórios:

Rm 4:5 Mas ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica ao ímpio, a sua
fé lhe é atribuída como justiça.” Rm 3.28 “Concluímos, pois, que o homem é
justificado pela fé, independemente das obras da lei.”

Tg 2:24 “Verificais que uma pessoa é justificada por obras, e não por fé somente.”

E agora? Quem tem razão--Paulo ou Tiago? A Bíblia se contradiz? Somos salvos


pela fé somente, ou pelas obras? Qual a importância de obras na vida cristã?
Antes de analisarmos o texto versículo por versículo (próximo artigo), precisamos
tratar dessa questão.

O problema não é tão difícil como parece, especialmente quando entendemos


bem o CONTEXTO dos textos em questão. Para descobrirmos a resposta à nossa
pergunta, devemos voltar ao que a Escritura declara em claro e alto som. Partindo
do que sabemos com certeza, podemos interpretar os textos mais difíceis, dentro
de seus respectivos contextos. Vamos descobrir dois princípios fundamentais, o

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primeiro, a perspectiva de Paulo, o segundo, a perspectiva de Tiago.

1. Só fé em Jesus Cristo salva, sem o acréscimo de obras (a perspectiva de


Paulo).

O texto bíblico é unânime, de começo ao fim . . . Não há nada em nós capaz de


merecer a vida eterna.

Rm 3:10-12 “não há justo, nem sequer um; não há quem entenda, não há quem
busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça
o bem, não há nem um sequer.

Is 64:6 Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como
trapo da imundícia

Ef 2:8,9—Porque pela graça sois salvos mediate a fé, e isto não vem de vós, é
dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.

Tt 3:5—não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua
misericórdia, ele nos salvou.

2 Tm 1:9—nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas
obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em
Cristo Jesus antes dos tempos eternos.

Rm 3:20-28 “visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei . . .
Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos
profetas, justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos os que
crêem . . . sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção
que há em Cristo Jesus; . . . Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé,
independentemente das obras da lei.

Quando lemos esses textos, só podemos concluir que a salvação é obra de Deus,
independente das obras, para que somente Deus receba toda a glória. A fé não é
uma obra, mas uma resposta à obra prévia de Deus no coração humano. Significa
receber um presente dado por Deus. Ninguém se vangloria por estender a mão
para receber um presente. A glória pertence àquele que o doou.
Inclusive, à luz desse presente de valor inestimável, qualquer tentativa de comprá-
lo diminui tamanho sacrifício feito por Cristo para torná-lo possível. Por exemplo,
digamos que um dia você descobre que precisa de um transplante de rim. A única
pessoa no mundo que tem um órgão compatível com seu corpo é sua própria
mãe. Quando ela fica sabendo da sua necessidade, no mesmo instante oferece
doar o rim dela. Depois da cirurgia, você chega para sua mãe e diz, “Mãe, a
senhora me deu vida quando entrei nesse mundo; agora a senhora salvou a
minha vida. Sou muito grato. Quero fazer alguma coisa para pagar a senhora pelo
que fez por mim. Quanto posso te dar pelo seu rim? Será que R$7 seria bom?

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Essa é a diferença entre todas as religiões do mundo e o verdadeiro cristianismo.
As religiões ensinam que o homem faz boas obras PARA SER SALVO, enquanto
a Bíblia ensina que fazemos boas obras POR QUE JÁ SOMOS SALVOS. A
religião exalta ao homem, e diminui tamanho sacrifício de Cristo na cruz, pois acha
que pode merecer a salvação. Mas o cristianismo exalta a Deus, pois reconhece
que seria impossível pagar o que foi comprado por Cristo na cruz. Religião é
motivada pela culpa, mas cristianismo pela graça. Religião leva à escravidão,
dúvida e insegurança, enquanto cristianismo verdadeiro leva à segurança de um
relacionamento filial com Deus.

Então, qual o lugar de obras na vida cristã? Obras são muito importantes, mas
como resposta de gratidão pelo que Deus já fez por nós em Cristo.

Paulo e Tiago estão falando em dois contextos diferentes. Paulo combate a idéia
de que um relacionamento com Deus pode ser “comprado” por boas obras,
enquanto Tiago luta contra aqueles que dizem que a salvação não precisa fazer
nenhuma diferença na maneira de se viver a vida. É como se os dois estivessem
de costas um para o outro, unidos, mas combatendo inimigos diferentes. Para
ambos, a fé em Cristo Jesus é o meio da salvação. Mas Paulo combate o
LEGALISMO enquanto Tiago combate a LIBERTINAGEM.

2. A verdadeira fé em Jesus nunca fica só, mas rompe-se em obras (a


perspectiva de Tiago).

Se somos salvos somente pela fé, o que acontece depois? Voltemos para a
história do transplante de rim, doado pela sua mãe. Se você realmente se viu
como condenado à morte, sem esperança; se você recebeu um presente de valor
inestimável, um rim da sua própria mãe, sua vida depois será diferente! Você vai
amar sua mãe como nunca amava antes. Você faria de tudo para agradá-la—ela é
a sua vida! Você vai querer servi-la—lavar louça, levá-la para comer fora, enviar o
melhor cartão para o Dia das Mães, etc. Não para ganhar a salvação—você já a
tem! Mas porque você foi salvo, pela graça e pelo amor dela!

Tiago combate a idéia de que uma pessoa genuinamente convertida a Deus possa
continuar sua vida como se nada tivesse acontecido. A salvação verdadeira não
inclui nenhum requisito além da fé—a mão do mendigo esticado para receber a
esmola do céu. Mas implica em mudança radical de vida depois, pela obra do
Espírito Santo que habita no cristão, pela compreensão de tudo que Cristo fez por
nós na cruz.

Tiago não nos chama para “fabricar” obras, acrescentar ítens na nossa lista de
afazeres espirituais. O ponto é que uma fé verdadeira, que vem de Deus, que
trouxe nova vida pelo Espírito Santo, naturalmente produz o fruto de boas obras.
Temos parte no processo, sim. Cooperamos com a graça de Deus na produção de
boas obras. Caso contrário Tiago não teria razão de escrever.

Paulo diz a mesma coisa em 2Co 5:17 Se alguém está em Cristo, nova criatura é;

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as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas. Gl 2:20 Sou crucificado
com Cristo, logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim.

Num certo sentido, Paulo descreve como o homem é justificado diante de Deus,
enquanto Tiago descreve como o homem demonstra sua justificação diante dos
homens. Um fala da perspectiva vertical enquanto o outro, da horizontal.

Tg 2:24 “Verificais que uma pessoa é justificada por obras, e não por fé somente.

Recebemos a vida, e depois revelamos a vida (de Jesus). Na justificação divina,


somos DECLARADOS justos. Na justificação diante dos homens, somos
DEMONSTRADOS justos. A fé falsa baseia-se em PROFISSÃO, mas a fé
verdadeira baseia-se em POSSESSÃO. Em outras palavras, a fé que salva
rompe-se em obras.

Esse é o ensino unânime das Escrituas: Primeiro fé, depois obras. Mas as obras
não nos santificam. Mesmo depois da salvação, a vida cristã se vive pela fé, e não
pelas obras. As obras são resposta de gratidão produzidas em nossas vidas pelo
Espírito Santo (Gal 3.1-3). Vejo como Paulo concorda com Tiago quanto à
importância de obras como resultado (sobre-natural) da salvação pela fé:

Ef 2:10—Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as
quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.

Tito 1:16—No tocante a Deus professam conhecê-lo, entretanto o negam por suas
obras, por isso que são abomináveis, desobedientes e reprovados para toda boa
obra.

Tiago nos lembra de que a fé verdadeira, que abraça Jesus e Sua obra na cruz
como a única esperança de vida eterna, não pode ficar só. Infelizmente, algumas
pessoas afirmavam fé em Jesus, mas era uma fé que desejava muito a desejar.
Era uma fé como os demônios têm (Tg 2.19). Eles crêem no único Deus. Crêem
que Jesus é o Filho de Deus; sabem que Jesus morreu na cruz pelos pecados. E
além disso, sua “fé” os faz tremer! Eles têm uma resposta emocional. Mas nem
por isso são salvos!

Historicamente, a fé evangélica tem entendido que a fé que salva envolve três


elementos: 1) Conhecimento dos fatos do Evangelho 2) Afirmação dos fatos do
Evangelho 3) CONFIANÇA PESSOAL nos fatos do Evangelho para MINHA
salvação.

Muitos hoje possuem itens um e dois acima. Mas não chegam à fé verdadeira, que
exige apropriação pessoal do Evangelho. Não lançam o peso da sua esperança
de vida eterna sobre o Jesus e somente Jesus. Afirmam os fatos do Evangelho,
mas não confiam unica e exclusivamente neles para vida eterna. Esse passo
“radical” só vem quando Deus converte a alma de alguém. E quando esse “novo
nascimento” acontecer, há mudanças radicais na vida da pessoa. É isso que

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 61


Paulo e Tiago afirmam juntos.

Um outro Reformador do XVI século, João Calvino, conseguiu reconciliar o ensino


de Paulo e Tiago quando declarou, Só fé em Jesus Cristo é que salva, mas fé em
Jesus Cristo nunca fica só.

XV
FÉ QUE FUNCIONA
Tiago 2:14-26 (Parte II)

Autor(a): PR. DAVI MERKH

Casado com sua esposa Carol a 22 anos e têm 6 filhos. Leciona no Seminário
Bíblico Palavra da Vida, ministra como pastor auxiliar de exposição bíblica na
Primeira Igreja Batista de Atibaia, e é autor de 14 livros. E-Mail:
pr_dmerkh@piba.org.br

Como criança, eu gostava muito de brincar dom dominós, montando fileiras


sinuosas e derrubando o primeiro na esperança de que todos caíssem. Se por
acaso houve uma interrupção do “efeito dominó”, eu sabia que algo estava errado
—um dominó fora do lugar, um desnível na superfície, algum outro defeito.

O livro de Tiago mostra o “efeito dominó” na vida cristã. A fé genuína em Cristo


Jesus inevitavelmente leva para uma vida de boas obras. Se porventura isso não
acontecer, existe ampla evidência de que algo está errado. Ou a pessoa nunca
“entrou na linha” (não aceitou Jesus de verdade) ou está com algum defeito sério
em sua vida (está desalinhado ou desajustado).

Já descobrimos no primeiro estudo desse texto que não existe nenhuma


contradição entre Paulo e Tiago quando se trata da fé e das boas obras na vida
cristã. Descobrimos dois princípios fundamentais:

1. Só fé em Jesus Cristo é que salva, nunca obras. Obras não são uma condição
de salvação, nem da santificação, que acontece pela fé em Cristo (Ef 2.8,9).

2. A verdadeira fé em Jesus nunca fica só, mas rompe-se em obras. Obras


acompanham a verdadeira fé, como expressão da vida de Cristo em nós. São
produzidas por um coração cheio de graça, não culpa.

Recebemos a vida, e depois revelamos a vida (de Jesus). Na justificação divina,


somos DECLARADOS justos. Na justificação diante dos homens, somos
DEMONSTRADOS justos. A fé falsa baseia-se em PROFISSÃO só, mas a fé
verdadeira baseia-se em POSSESSÃO. Em outras palavras, a fé que salva
rompe-se em obras.

Só fé em Jesus Cristo é que salva, Mas fé em Jesus Cristo nunca é só.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 62


Jesus nos disse que “pelos frutos os conhecereis”. Se alguém professa ser crente
em Cristo mas sua vida não mudou em nada, será que realmente é salvo?
Embora não possamos julgar aos outros, segundo 2 Coríntios 13.5, devemos
julgar a nós mesmos: Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé;
provai-vos a vós mesmos. Por isso, Tiago sugere provas concretas de uma fé
genuína em seu livro. Para ele “’Crer’ é um verbo ativo e presente”.

Em Tiago 2.14-16 vamos descobrir pelo menos três características de uma fé “de
boca pra fora”, e não “de coração para dentro”. Essa fé sem o efeito dominó de
obras é inútil, inválida e morta.

I. Fé sem Obras é Inútil (14-16)

Tiago pergunta, “qual o proveito” de uma fé sem obras (vss. 14,16). Tal fé sem
obras é inoperante (vs. 20). O que ele está dizendo? Uma fé verdadeira é como
uma semente plantada no solo fértil da vida de Jesus, que tem todas as condições
possíveis para gerar fruto. Se uma semente não der fruto, só existem duas opções
—ou o solo é ruim, ou a semente está morta. Sabemos que em Cristo o “Solo” é
perfeito. Então o problema deve estar na semente.

A. Fé Falsa é uma Fantasia! Fé sem obras, nas palavras de Jesus, é como sal
insípido, sem sabor, que não presta para nada. É um ramo não ligado à videira,
que só presta para ser podado e queimado.

Na época em que Tiago escreveu havia muita empolgação, até mesmo


“intoxicação” com a graça. No contexto judaico de legalismo opressivo, em que o
povo carregava fardos enormes de “performance” da lei, de repente, a verdade de
Cristo os libertou. Mas existia um perigo, perigo que Paulo também atacava em
suas cartas. “Pequemos, para que a graça super abunde?”

“De jeito nenhum!”, vem a resposta tanto de Paulo como de Tiago. Quem tem
essa perspectiva nunca compreendeu a graça do Senhor! É a prova mais clara de
que nunca fora regenerado.

Fomos salvos com propósito. Salvação em Cristo é muito mais que um apólice de
seguros de vida, que alguém compra e coloca numa gaveta e esquece! A
salvação genuína significa uma vida “em Cristo” com “Cristo em nós”.
As perguntas no vs. 14 é retórica; os leitores já sabiam a resposta: “Qual é o
proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso,
semelhante fé salvá-lo?” Entende-se que existem vários tipos de “fé”. Existe uma
fé verdadeira e uma fé falsa. A primeira é uma possessão, a outra é mera
profissão. Por isso a pergunta, “pode, acaso ‘semelhante’ fé salvá-lo?” Esse tipo
de fé falsa é inútil.

B. Fé Falsa é Insensível.

Vss 15 e 16 ilustram a insensibilidade (inutilidade) de tal fé. Por ser uma fé morta,

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 63


não responde. Não faz nada. Não reage. Não sente. Não faz bem para ninguém,
muito menos a pessoa que diz que a possui. Seria o auge de auto-engano e
crueldade imaginar que meras palavras de consolo tomariam o lugar de obras de
consolo. “Aquela” fé é “de boca pra fora”. As palavras de quem diz “Ide em paz,
aquecei-vos e fartai-vos” caem para terra. É uma fé falada, não uma vida vivida. É
uma falsa compaixão, sem coração, sem realidade, uma fantasia

Temos que questionar a nós mesmos se temos criado calos na nossa fé. Se
estamos ficando endurecidos pelas necessidades que encontramos ao nosso
redor. Se não somos mais chocados pela miséria que o pecado tem produzido em
nosso mundo... crianças com defeitos físicos... mendigos ... bêbedos... aidéticos...
ovelhas sem pastor.

Será que somos compassivos diante de por atores e atrizes em filmes e novelas,
mas endurecidos diante de tragédias na vida real? De que vale nossa ortodoxia se
não resulta em ortopraxia?

Quantas vezes nossa fé não passa de hipocrisia, palavras vazias que soam
bonitas mas que fazem absolutamente nada? Quantas vezes caímos numa rotina
de chavões evangélicas, mas que não fazem bem para ninguém! Há pessoas que
conseguem farejar falsa doutrina de 50 km, mas não conseguem dar um copo de
água fria para uma pessoa sedenta. Tiago, falando em nome de Deus, não tem
paciência para esse tipo de fé cerebral e hipócrita.

Fé sem obras é hipocrisa.

Obras sem fé é religiosidade.

Fé que rompe-se em obras é espiritualidade.

II. Fé sem obras não se valida (18-25) A palavra “justificação” admite de mais de
um significado no Novo Testamento. Quando Paulo fala em “justificação” do
crente, normalmente descreve um ato judicial do Supremo Juíz, em que Ele
declara alguém não somente livre do pecado, mas coberto da justiça de Jesus (2
Co 5:21). Ser “declarado justo” é o significado básico de “justificação”. Nesse
caso, essa “transação” acontece entre Deus e o homem só, e é invisível por outros
homens. Então, como saber se é verdadeira?

A única maneira de tornar fé visível é pelas obras.

A fé invisível torna-se visível quando veste-se em obras.

Assim como existem dois tipos de fé (profissão e possessão), também existem


dois tipos de justificação. Existe um outro significado, o uso de Tiago aqui, que
significa “mostrar-se justo” ou “validar”(cp. Rm 3:4,1 Tm 3:16, Lc 7:35).

Por exemplo, quando falamos em “justificar um voto”, queremos dizer “validar

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 64


nossa ausência na votação”. Quando Tiago fala em justificação, tem em mente
essa idéia de “validar”a fé. É a idéia de ter o “reconhecimento de firma” da nossa
fé. No cartório humano nossas obras validam a fé que dizemos que temos.

Paulo diz, “Deus justifica quem crê em Jesus, sem obras da lei.” Tiago acrescenta,
“O homem tem sua fé validada pelo fruto que produz.” Em ambos os casos,
salvação é sempre pela fé, sem obras, sem condição, a não ser fé em Cristo
Jesus. Mas essa fé é “radical”—produz mudanças na “raíz” do coração, que com o
passar do tempo, produzem fruto.

A. Fé Verdadeira exige Mais que Conhecimento e Emoção (18-19).

Tiago usa o efeito “choque” para defender sua tese. Distingue entre dois tipos de
fé—uma fé falsa, invisível, ou pelo menos incompleta, que até os demônios tem, e
uma fé verdadeira, visível, que manifesta-se pelas obras.

Segundo vs. 19, os demônios são ortodoxos! Monoteístas, trinitarianos, crêem na


divindade e humanidade de Jesus, crêem que Jesus morreu na cruz pelos
pecados, crêem que ressuscitou ao terceiro dia! Além disso, eles têm uma reação
emocional a esses fatos (tremem). Mas não são salvos. Falta-lhes um ingrediente
essencial, que transforma fé falsa em fé genuína: CONFIANÇA.

B. Fé Verdadeira Justifica-se Pelas Obras (20-23). Abraão foi DEMONSTRADO


justo 30 a 40 anos depois que foi DECLARADO justo, quando ofereceu Isaque no
altar (Gn 22). Leia bem o texto.

Tiago afirma a salvação pela fé somente . . . vs. 23 deixa isso muito claro, citando
Gn 15:6.

“Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça”. Mas veja bem: O
processo que se iniciou depois que ele creu em Deus--a semente da sua fé--
brotou, e 40 anos depois, justificou-se diante de Deus e do mundo. Sua fé na
realidade de Deus, na obra de Deus em sua vida, na promessa de Deus, era tão
grande, que ele podia colocar TUDO no altar de Deus, seu único filho, o filho da
promessa, sua esperança do futuro, sua alegria. Somente uma fé madura,
arraigada na soberania e no amor de Deus, é capaz disso.

Conforme vss 22 e 23, “foi pelas obras que a fé se consumou”, ou seja “se
aperfeiçoou”, se fez “perfeita”, completa. Em outras palavras, o fruto da fé é obras.

Às vezes, teremos que esperar muito tempo, como Abraão, para ver que tipo de
fruto a fé a de produzir. Mas certamente será produzido. E se não existe, temos
toda razão para questionar se a fé existe também.

Por isso vs. 24 diz que somos justificados—no sentido de sermos demonstrados
como pessoas de fé—pelo fruto da nossa fé. A pessoa é DEMONSTRADA justa
pelas obras baseadas em fé.,

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 65


Um segundo exemplo é Raabe. Ela começou do outro lado do espectro da
humanidade que Abraão—prostituta, cananita, mulher mentirosa. Mas ela também
foi aceita por Deus, baseada numa fé inabalável em Deus e Sua Palavra, e
depois, manifestada diante de todos por obras de fé, obras arriscadas. Ela colocou
tudo no altar também, e assim sua fé foi validada.

III. Fé sem obras é morta (17, 20, 26)

O grande clímax do texto está no vs. 26. De fato, começa no vs. 17: A fé invisível
—fé “de boca pra fora”—não é uma fé viva, não é uma fé verdadeira, mas morta.
A ordem é simples: Recebemos a vida, e depois revelamos a vida (de Jesus).

Assim como um corpo sem o espírito não tem força, nem vida, assim uma “fé” que
não rompe-se em obras é morta. Fica totalmente insensível, fria, dura. Não reage.
Não sente. Não mexe. Não cresce.

O que fazemos revela quem somos. Se não fazemos nada, somos mortos. Se a
árvore só produz fruto podre, a árvore está podre:

Mt 7:16-20 Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos


espinheiros ou figos dos abrolhos? Assim toda árvore boa produz bons frutos,
porém a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa produzir frutos
maus, nem a árvore má produzir frutos bons. Toda árvore que não produz bom
fruto é cortada e lançada ao fogo. Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis.

1 Jo 3:7-10 Filhinhos, não vos deixeis enganar por ninguém; aquele que pratica a
justiça é justo, assim como ele é justo. Aquele que pratica o pecado procede do
diabro, porque o diabo vive pecando desde o princípio. Para isto se manifestou o
Filho de Deus, para destruir as obras do diabo. Todo aquele que é nascido de
Deus não vive na prática de pecado; pois o que permanece nele é a divina
semente; ora, esse não pode viver pecadno, porque é nascido de Deus. Nisto são
manifestos os filhos de Deus e os filhos do diabo: todo aquele que não pratica
justiça não procede de Deus, também aquele que não ama a seu irmão.

Não podemos “fabricar” boas obras. São o produto natural de quem tem vida em
si, a vida de Jesus, cultivada e demonstrada pelo Espírito Santo, que nos “cutuca”
em direção a um caráter aprovado por Deus. Tiago escreve por esse mesmo
Espírito para nos “cutucar” em direção às obras que revelam uma fé verdadeira.
Podemos recapitular as “obras” que ele mesmo já mencionou até esse ponto no
livro como provas de uma fé genuúina, uma fé presente e ativo:

1. Reage as provações com alegria (1.2-12)

2. Resiste tentação, CRENDO que Deus é bom e que não tenta a ninguém, mas
que a culpa pelo pecado vem de mim mesmo (1.13-18)

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 66


3. Recebe a Palavra, como praticante e não somente ouvinte. Quem foi
regenerador pela Palavra da verdade não consegue mais viver sem ela. Deve sua
vida a Ela! (1.19-25).

4. Reflete sua religião em generosidade, santidade e palavras peneiradas


(1.26,27).

5. Rejeita favoritismo (2.1-13).

Mais tarde na carta, Tiago dará outras obras que são fruto natural de quem
realmente crê em Jesus. Mas por ora, cabe a nós fazermos o que Paulo sugere
em 2 Co 13:5, e examinar-nos a nós mesmos, para ver se realmente estamos na
fé. Se confiamos, mas confiamos mesmo em Cristo Jesus e somente Cristo, então
é hora de deixar que a vida dEle seja vivida em nós, em nosso caráter,
transformado diariamente, de glória a glória, à imagem de Cristo.

Só fé em Jesus Cristo é que salva, Mas fé em Jesus Cristo nunca fica só.

Parte XVI
FÉ QUE FUNCIONA
Tiago 2:14-26 (Parte II)
Como criança, eu gostava muito de brincar dom dominós, montando fileiras
sinuosas e derrubando o primeiro na esperança de que todos caíssem. Se por
acaso houve uma interrupção do “efeito dominó”, eu sabia que algo estava errado
—um dominó fora do lugar, um desnível na superfície, algum outro defeito.

O livro de Tiago mostra o “efeito dominó” na vida cristã. A fé genuína em Cristo


Jesus inevitavelmente leva para uma vida de boas obras. Se porventura isso não
acontecer, existe ampla evidência de que algo está errado. Ou a pessoa nunca
“entrou na linha” (não aceitou Jesus de verdade) ou está com algum defeito sério
em sua vida (está desalinhado ou desajustado).

Já descobrimos no primeiro estudo desse texto que não existe nenhuma


contradição entre Paulo e Tiago quando se trata da fé e das boas obras na vida
cristã. Descobrimos dois princípios fundamentais:

1. Só fé em Jesus Cristo é que salva, nunca obras. Obras não são uma condição
de salvação, nem da santificação, que acontece pela fé em Cristo (Ef 2.8,9).

2. A verdadeira fé em Jesus nunca fica só, mas rompe-se em obras. Obras


acompanham a verdadeira fé, como expressão da vida de Cristo em nós. São
produzidas por um coração cheio de graça, não culpa.

Recebemos a vida, e depois revelamos a vida (de Jesus). Na justificação divina,


somos DECLARADOS justos. Na justificação diante dos homens, somos
DEMONSTRADOS justos. A fé falsa baseia-se em PROFISSÃO só, mas a fé
verdadeira baseia-se em POSSESSÃO. Em outras palavras, a fé que salva

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 67


rompe-se em obras.

Só fé em Jesus Cristo é que salva, Mas fé em Jesus Cristo nunca é só.

Jesus nos disse que “pelos frutos os conhecereis”. Se alguém professa ser crente
em Cristo mas sua vida não mudou em nada, será que realmente é salvo?
Embora não possamos julgar aos outros, segundo 2 Coríntios 13.5, devemos
julgar a nós mesmos: Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé;
provai-vos a vós mesmos. Por isso, Tiago sugere provas concretas de uma fé
genuína em seu livro. Para ele “’Crer’ é um verbo ativo e presente”.

Em Tiago 2.14-16 vamos descobrir pelo menos três características de uma fé “de
boca pra fora”, e não “de coração para dentro”. Essa fé sem o efeito dominó de
obras é inútil, inválida e morta.

I. Fé sem Obras é Inútil (14-16)

Tiago pergunta, “qual o proveito” de uma fé sem obras (vss. 14,16). Tal fé sem
obras é inoperante (vs. 20). O que ele está dizendo? Uma fé verdadeira é como
uma semente plantada no solo fértil da vida de Jesus, que tem todas as condições
possíveis para gerar fruto. Se uma semente não der fruto, só existem duas opções
—ou o solo é ruim, ou a semente está morta. Sabemos que em Cristo o “Solo” é
perfeito. Então o problema deve estar na semente.

A. Fé Falsa é uma Fantasia! Fé sem obras, nas palavras de Jesus, é como sal
insípido, sem sabor, que não presta para nada. É um ramo não ligado à videira,
que só presta para ser podado e queimado.

Na época em que Tiago escreveu havia muita empolgação, até mesmo


“intoxicação” com a graça. No contexto judaico de legalismo opressivo, em que o
povo carregava fardos enormes de “performance” da lei, de repente, a verdade de
Cristo os libertou. Mas existia um perigo, perigo que Paulo também atacava em
suas cartas. “Pequemos, para que a graça super abunde?”

“De jeito nenhum!”, vem a resposta tanto de Paulo como de Tiago. Quem tem
essa perspectiva nunca compreendeu a graça do Senhor! É a prova mais clara de
que nunca fora regenerado.

Fomos salvos com propósito. Salvação em Cristo é muito mais que um apólice de
seguros de vida, que alguém compra e coloca numa gaveta e esquece! A
salvação genuína significa uma vida “em Cristo” com “Cristo em nós”.

As perguntas no vs. 14 é retórica; os leitores já sabiam a resposta: “Qual é o


proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso,
semelhante fé salvá-lo?” Entende-se que existem vários tipos de “fé”. Existe uma
fé verdadeira e uma fé falsa. A primeira é uma possessão, a outra é mera
profissão. Por isso a pergunta, “pode, acaso ‘semelhante’ fé salvá-lo?” Esse tipo

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 68


de fé falsa é inútil.

B. Fé Falsa é Insensível.

Vss 15 e 16 ilustram a insensibilidade (inutilidade) de tal fé. Por ser uma fé morta,
não responde. Não faz nada. Não reage. Não sente. Não faz bem para ninguém,
muito menos a pessoa que diz que a possui. Seria o auge de auto-engano e
crueldade imaginar que meras palavras de consolo tomariam o lugar de obras de
consolo. “Aquela” fé é “de boca pra fora”. As palavras de quem diz “Ide em paz,
aquecei-vos e fartai-vos” caem para terra. É uma fé falada, não uma vida vivida. É
uma falsa compaixão, sem coração, sem realidade, uma fantasia

Temos que questionar a nós mesmos se temos criado calos na nossa fé. Se
estamos ficando endurecidos pelas necessidades que encontramos ao nosso
redor. Se não somos mais chocados pela miséria que o pecado tem produzido em
nosso mundo... crianças com defeitos físicos... mendigos ... bêbedos... aidéticos...
ovelhas sem pastor.

Será que somos compassivos diante de por atores e atrizes em filmes e novelas,
mas endurecidos diante de tragédias na vida real? De que vale nossa ortodoxia se
não resulta em ortopraxia?

Quantas vezes nossa fé não passa de hipocrisia, palavras vazias que soam
bonitas mas que fazem absolutamente nada? Quantas vezes caímos numa rotina
de chavões evangélicas, mas que não fazem bem para ninguém! Há pessoas que
conseguem farejar falsa doutrina de 50 km, mas não conseguem dar um copo de
água fria para uma pessoa sedenta. Tiago, falando em nome de Deus, não tem
paciência para esse tipo de fé cerebral e hipócrita.

Fé sem obras é hipocrisa.

Obras sem fé é religiosidade.

Fé que rompe-se em obras é espiritualidade.

II. Fé sem obras não se valida (18-25) A palavra “justificação” admite de mais de
um significado no Novo Testamento. Quando Paulo fala em “justificação” do
crente, normalmente descreve um ato judicial do Supremo Juíz, em que Ele
declara alguém não somente livre do pecado, mas coberto da justiça de Jesus (2
Co 5:21). Ser “declarado justo” é o significado básico de “justificação”. Nesse
caso, essa “transação” acontece entre Deus e o homem só, e é invisível por outros
homens. Então, como saber se é verdadeira?

A única maneira de tornar fé visível é pelas obras.

A fé invisível torna-se visível quando veste-se em obras.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 69


Assim como existem dois tipos de fé (profissão e possessão), também existem
dois tipos de justificação. Existe um outro significado, o uso de Tiago aqui, que
significa “mostrar-se justo” ou “validar”(cp. Rm 3:4,1 Tm 3:16, Lc 7:35).

Por exemplo, quando falamos em “justificar um voto”, queremos dizer “validar


nossa ausência na votação”. Quando Tiago fala em justificação, tem em mente
essa idéia de “validar”a fé. É a idéia de ter o “reconhecimento de firma” da nossa
fé. No cartório humano nossas obras validam a fé que dizemos que temos.

Paulo diz, “Deus justifica quem crê em Jesus, sem obras da lei.” Tiago acrescenta,
“O homem tem sua fé validada pelo fruto que produz.” Em ambos os casos,
salvação é sempre pela fé, sem obras, sem condição, a não ser fé em Cristo
Jesus. Mas essa fé é “radical”—produz mudanças na “raíz” do coração, que com o
passar do tempo, produzem fruto.

A. Fé Verdadeira exige Mais que Conhecimento e Emoção (18-19).

Tiago usa o efeito “choque” para defender sua tese. Distingue entre dois tipos de
fé—uma fé falsa, invisível, ou pelo menos incompleta, que até os demônios tem, e
uma fé verdadeira, visível, que manifesta-se pelas obras.

Segundo vs. 19, os demônios são ortodoxos! Monoteístas, trinitarianos, crêem na


divindade e humanidade de Jesus, crêem que Jesus morreu na cruz pelos
pecados, crêem que ressuscitou ao terceiro dia! Além disso, eles têm uma reação
emocional a esses fatos (tremem). Mas não são salvos. Falta-lhes um ingrediente
essencial, que transforma fé falsa em fé genuína: CONFIANÇA.

B. Fé Verdadeira Justifica-se Pelas Obras (20-23). Abraão foi DEMONSTRADO


justo 30 a 40 anos depois que foi DECLARADO justo, quando ofereceu Isaque no
altar (Gn 22). Leia bem o texto.

Tiago afirma a salvação pela fé somente . . . vs. 23 deixa isso muito claro, citando
Gn 15:6.

“Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça”. Mas veja bem: O
processo que se iniciou depois que ele creu em Deus--a semente da sua fé--
brotou, e 40 anos depois, justificou-se diante de Deus e do mundo. Sua fé na
realidade de Deus, na obra de Deus em sua vida, na promessa de Deus, era tão
grande, que ele podia colocar TUDO no altar de Deus, seu único filho, o filho da
promessa, sua esperança do futuro, sua alegria. Somente uma fé madura,
arraigada na soberania e no amor de Deus, é capaz disso.

Conforme vss 22 e 23, “foi pelas obras que a fé se consumou”, ou seja “se
aperfeiçoou”, se fez “perfeita”, completa. Em outras palavras, o fruto da fé é obras.

Às vezes, teremos que esperar muito tempo, como Abraão, para ver que tipo de
fruto a fé a de produzir. Mas certamente será produzido. E se não existe, temos

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toda razão para questionar se a fé existe também.

Por isso vs. 24 diz que somos justificados—no sentido de sermos demonstrados
como pessoas de fé—pelo fruto da nossa fé. A pessoa é DEMONSTRADA justa
pelas obras baseadas em fé.,

Um segundo exemplo é Raabe. Ela começou do outro lado do espectro da


humanidade que Abraão—prostituta, cananita, mulher mentirosa. Mas ela também
foi aceita por Deus, baseada numa fé inabalável em Deus e Sua Palavra, e
depois, manifestada diante de todos por obras de fé, obras arriscadas. Ela colocou
tudo no altar também, e assim sua fé foi validada.

III. Fé sem obras é morta (17, 20, 26)

O grande clímax do texto está no vs. 26. De fato, começa no vs. 17: A fé invisível
—fé “de boca pra fora”—não é uma fé viva, não é uma fé verdadeira, mas morta.
A ordem é simples: Recebemos a vida, e depois revelamos a vida (de Jesus).

Assim como um corpo sem o espírito não tem força, nem vida, assim uma “fé” que
não rompe-se em obras é morta. Fica totalmente insensível, fria, dura. Não reage.
Não sente. Não mexe. Não cresce.

O que fazemos revela quem somos. Se não fazemos nada, somos mortos. Se a
árvore só produz fruto podre, a árvore está podre:

Mt 7:16-20 Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos


espinheiros ou figos dos abrolhos? Assim toda árvore boa produz bons frutos,
porém a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa produzir frutos
maus, nem a árvore má produzir frutos bons. Toda árvore que não produz bom
fruto é cortada e lançada ao fogo. Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis.

1 Jo 3:7-10 Filhinhos, não vos deixeis enganar por ninguém; aquele que pratica a
justiça é justo, assim como ele é justo. Aquele que pratica o pecado procede do
diabro, porque o diabo vive pecando desde o princípio. Para isto se manifestou o
Filho de Deus, para destruir as obras do diabo. Todo aquele que é nascido de
Deus não vive na prática de pecado; pois o que permanece nele é a divina
semente; ora, esse não pode viver pecadno, porque é nascido de Deus. Nisto são
manifestos os filhos de Deus e os filhos do diabo: todo aquele que não pratica
justiça não procede de Deus, também aquele que não ama a seu irmão.

Não podemos “fabricar” boas obras. São o produto natural de quem tem vida em
si, a vida de Jesus, cultivada e demonstrada pelo Espírito Santo, que nos “cutuca”
em direção a um caráter aprovado por Deus. Tiago escreve por esse mesmo
Espírito para nos “cutucar” em direção às obras que revelam uma fé verdadeira.
Podemos recapitular as “obras” que ele mesmo já mencionou até esse ponto no
livro como provas de uma fé genuúina, uma fé presente e ativo:

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1. Reage as provações com alegria (1.2-12)

2. Resiste tentação, CRENDO que Deus é bom e que não tenta a ninguém, mas
que a culpa pelo pecado vem de mim mesmo (1.13-18)

3. Recebe a Palavra, como praticante e não somente ouvinte. Quem foi


regenerador pela Palavra da verdade não consegue mais viver sem ela. Deve sua
vida a Ela! (1.19-25).

4. Reflete sua religião em generosidade, santidade e palavras peneiradas


(1.26,27).

5. Rejeita favoritismo (2.1-13).

Mais tarde na carta, Tiago dará outras obras que são fruto natural de quem
realmente crê em Jesus. Mas por ora, cabe a nós fazermos o que Paulo sugere
em 2 Co 13:5, e examinar-nos a nós mesmos, para ver se realmente estamos na
fé. Se confiamos, mas confiamos mesmo em Cristo Jesus e somente Cristo, então
é hora de deixar que a vida dEle seja vivida em nós, em nosso caráter,
transformado diariamente, de glória a glória, à imagem de Cristo.

Só fé em Jesus Cristo é que salva, Mas fé em Jesus Cristo nunca fica só.

Parte XVI
LENDO MATEUS COM OLHOS JUDEUS
Os Evangelhos chamados Sinóticos têm sido objeto de intenso estudo desde a
primeira parte do século 19. O chamado "Problema Sinótico" tem ocupado os
estudiosos por dezenas de anos em uma verdadeira caçada às fontes destes
Evangelhos, tendo ficado claro para estes mestres que os Evangelhos de Lucas e
Mateus tinham incorporado a maior parte do Evangelho de Marcos, tendo, porém,
elementos comuns que nele não estavam. Tem-se dado, igualmente, a busca da
chamada fonte ou documento Q (inicial da palavra alemã Quelle, que significa
"fonte"), ou mesmo de várias formas deste documento, o qual é supostamente a
fonte ou fontes dos Sinóticos. Os pesquisadores do assunto hoje têm a tradição
oral e as primitivas narrativas escritas como fontes comuns dos Evangelhos
Sinóticos.

Os evangelistas, aqui incluindo João, apresentam distintos retratos de Jesus


Cristo. Acerca desse assunto, LAGRANGE expressou-se,

"Marcos trabalha no calor terreno da terracota; Lucas esculpe no mármore branco


(tanto no Evangelho quanto no livro dos Atos, a geografia é teológica, sua mente é
fascinada pela vasta expansão da missão universal do Cristianismo); A visão de
Mateus é colorida por um forte interesse na eclesiologia (seu estilo é hierático e
litúrgico); João, por outro lado, é um sacramentalista com uma percepção mística
do mistério da Palavra feita carne".

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 72


Os Evangelhos canônicos foram compostos entre os anos 55 e 85 do calendário
romano, e são considerados como forma escrita da tradição oral da Igreja
Apostólica. Lucas, em 1.1-3, refere-se à existência de muitos Evangelhos
baseados nas narrações feitas pelos discípulos e por pessoas que testemunharam
os fatos. Marcos teria ouvido de Pedro, e Mateus havia feito uma compilação das
próprias palavras de Jesus em aramaico.

O papel de Israel, nos Evangelhos é o de guia: os goyim (gentios) deveriam unir-


se a Israel, visto que este não perdera a posição até então ocupada.
SCHLESINGER afirma que "o evangelista Mateus nada sabe a respeito da
invalidação da antiga aliança. Para ele, o chamado das nações gentílicas é coisa
secundária. A comunidade que possui o reino não é um novo Israel, senão o
verdadeiro Israel."

O problema que se apresenta é o do reconhecimento do novo estado de coisas


que Jesus, o Nazareno prega. Mateus é o "Evangelho do cumprimento" (5.17-20).
Jesus enviado apenas às ovelhas perdidas da casa de Israel (15.24); Salvador do
Seu povo (1.21). É o "nazareno" de uma não identificada profecia (2.23).

De acordo com Mateus, o Malkut haShamaim ("Reino dos Céus") é o cumprimento


das antigas profecias, a última realização da Torah ("instrução, lei"), o judaísmo
dos antepassados levado à sua maior perfeição. A nova ordem não é a negação
da antiga aliança, mas a sua consecução (Mt 26.28), de acordo com o oráculo de
Jeremias em 31.31-33. Mateus se refere a uma aliança que se renova
periodicamente. Para ele, a Igreja de Cristo personifica a autêntica fé de Israel.

O LUGAR DE MATEUS NOS SINÓTICOS

No Evangelho de Mateus, quatro elementos, que são a Lei, o Juízo, a Igreja e a


Missão Universal, estão perfeitamente integrados como círculo e expansão da
Pessoa, de Cristo e Sua missão neste mundo.

O Evangelho de Mateus é ao mesmo tempo um livro teológico, ou seja, faz um


estudo e busca a compreensão de Deus em Jesus e Seu destino escatológico, já
que Ele revela Deus entre nós (11.25ss). Mas é, também, um livro antropológico
porque se volta para o ser humano. Mateus é um livro eclesiológico, porque a
comunidade de Cristo exerce o serviço aos irmãos e a ajuda aos pequenos, como
o expressa o capítulo 18.

O Evangelho de Mateus tem sido sempre de elevada estima por seu íntimo
relacionamento com o ambiente palestino do qual Jesus veio e no qual viveu, e
pela admirável síntese de seu ensino. Seu autor, Mateus (ou Levi) foi um dos
apóstolos e testemunha ocular, que segundo Papias (c. 140 d.C.), "colocou em
ordem os ditos do Senhor na língua hebraica (aramaica), que cada um traduziu do
melhor modo que podia".

O vocábulo grego logia, palavra que significa "sentenças" e título da obra/fonte em

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 73


aramaico do Evangelho de Mateus, reproduz o hebraico devarim que significa
"palavras", "fatos". A obra aramaica de Mateus já não mais existe. Assim, há quem
admita que o Evangelho de Mateus, seqüência dessa primeira obra, tenha sido
escrito em grego numa data bem posterior, por um autor familiarizado com o
ambiente helenístico da Igreja da Ásia Menor, e que fez uso abundante de
materiais conhecidos na Igreja Primitiva como didakê ou "instrução".

O conceituado pensador judeu Martin BUBER escreve em sua obra Dois Tipos de
Fé que o Cristianismo como tal teve início quando as convocações de Jesus para
entrar no chegado Malkut haShamaim foram entendidas como um convite à
conversão. Para Buber, esse foi o momento de infidelidade à religião de Israel. E a
doutrina de Cristo não é uma evolução e aperfeiçoamento do que viera
anteriormente (a Antiga Aliança), mas uma deturpação e um desvio.

CINCO BLOCOS

O Evangelho original em língua semítica foi escrito entre 50 a 65 d.C.,


provavelmente começando com o ministério de João, o Batista (o atual capítulo 3)
e terminou com relato tradicional da paixão/ressurreição. O Evangelho de Mateus
está dividido em cinco seções que são centradas nos cinco grandes discursos de
Jesus, espelho na Nova Aliança dos cinco livros de Moisés.

O Primeiro Sermão (capítulos 5 a 7) foi anunciado numa montanha. É o Sinai da


Nova Aliança. É precedido pela chamada dos discípulos e numerosas curas e
exorcismos. Jesus proclama deste modo a chegada do Malkut haShamaim.
Mateus utiliza essa expressão porque respeitosa e judaicamente evita falar o
nome de Deus que seria mencionado na expressão sinônima Malkut haElohim, ou
seja, "Reino de Deus". O que marca o fim do primeiro "livro" ou seção é a
expressão de 7.28, "E aconteceu que concluindo Jesus este discurso..."

O Segundo Sermão (10.5-42) apresenta as instruções dadas aos Seus discípulos


antes de Jesus enviá-los em missão. Os doze vão armados com poder para
exorcizar e curar, como tinham visto Jesus fazer na tríplice série de três milagres
que precedem esta seção. Termina toda a seção com a expressão de 11.1, "E
aconteceu que, acabando Jesus de dar instruções aos seus doze discípulos..."

As seções narrativas dos capítulos 11 e 12 falam da oposição a Jesus e Sua


pregação da chegada do "reino dos céus" por parte dos captores de João, o
Batista, das cidades ímpias de Corazim e Betsaida, e da mentalidade dos
perushim (fariseus), preparando para o capítulo 13, que o Terceiro Sermão,
coleção de sete parábolas que ilustram este chegado reino. 13.53 encerra a seção
dizendo "E aconteceu que Jesus, concluindo estas parábolas..."

A Quarta coleção de palavras de Jesus (capítulo 18) registra Seu ensino sobre os
deveres dos discípulos. As narrativas da capacitação dos discípulos, a
transfiguração, a Sua paixão predita conduzem a essa seção. O capítulo 19.1 dá
por encerrado o bloco.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 74


A Quinta e última seção, e seu discurso principal (capítulos 24 e 25) tem caráter
profético. Ele é o centro da seção, apesar de o capítulo 23 se apresentar como um
discurso com sete "ais" contra os escribas e fariseus. 26.1 encerra todo o
Evangelho por dizer "... quando Jesus concluiu todos estes discursos..."

É preciso que honestamente se registre que nem todos os estudiosos concordam


como esta ordem estrutural ou princípio interno de composição em cinco livros ou
cinco seções do Evangelho de Mateus. L. VAGANAY, citado por SLOYAN, divide-
o em três seções (3.1 - 4.22; 4.23 - 11.20; 12.1 - 25.46), sendo que a primeira e a
segunda partes fazem paralelo com Marcos 1.1-20 e 2.23 - 13.37.

LÉON-DUFOUR divide Mateus em duas partes que são

o ensino de Jesus como guia para a conduta da comunidade de Cristo (o Sermão


do Monte) até a confissão de Pedro em Cesaréia de Filipos, e
a proclamação da salvação (o kerygma), bem como a paixão vindoura e a
preocupação com as chamadas "últimas coisas".
Até mesmo no fato de que Mateus, apresentando Jesus como a fonte da Torah
cristã, adota o modo dos perushim, visto que estes eram extremamente
preocupados com a Torah. É aí que Mateus é totalmente diferente de Paulo, no
fato de que não o evangelista faz pouco caso da Lei como tal. Pelo contrário, ele
aprova e referenda a Lei, mesmo para cristãos. Trata-se, no entanto, de uma Lei
nova designada a suplantar e a substituir as leis mosaicas. Em alguns lugares até
apresenta uma lei mais rigorosa que a mosaica, e assim fazendo, reflete um
desejo de produzir uma justiça que excederá a dos sopherim (escribas) e
perushim (cf. 5.20).

O Evangelho de Mateus é, antes de tudo, o Evangelho do Reino, em suas


parábolas, na pregação de Jesus, na consciência da condição do povo remido por
Deus vivendo no meio de um mundo ímpio. Há uma forte corrente de escatologia
apocalíptica (especialmente nos capítulos 24 e 25, o "Pequeno Apocalipse") tão
ao gosto da sofrida gente judia.

Presume-se que este Evangelho tenha sido escrito em Antioquia da Síria. Talvez o
fato da grande presença de judeus em Antioquia tenha levado a certa urgência na
sua confecção. Parece que Mateus havia se defrontado com essa pressa ao
responder à alegação de que Jesus não havia verdadeiramente morrido. É assim
que ficam registradas informações como 27.54, 62-66; 28.11-15, e que parecem
sugerir uma controvérsia com os judeus.

O EVANGELHO DOS JUDEUS

O Evangelho de Mateus reserva seu caráter essencialmente judaico ao enfatizar o


tema do "cumprimento" mais do que qualquer outro evangelista, Mateus cita as
profecias do Antigo Testamento e as aplica aos eventos da vida e do ministério de
Jesus. A Sua genealogia traçada a partir de Abraão, a ênfase em Jesus como o

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 75


Rei messiânico e Legislador, mas, ao mesmo tempo, "o Servo Sofredor", mostram
que para este evangelista a nota principal do ensino cristão é que Jesus era
Aquele que fora predito por Moisés e pelos profetas.

A determinação de Mateus em apresentar Jesus como um novo e superior Moisés


o leva a "moldar o seu Jesus de acordo com a figura de Moisés no Êxodo" Como
Moisés, Jesus quase pereceu na chamada matança dos inocentes . Como Moisés
em Midiã, Jesus ficou um tempo em desterro no Egito. Como Moisés, apresentou
o Seu grande ensino num monte. Como os ensinos de Moisés estão registrados
em cinco livros, há em Mateus, como já mencionamos, cinco blocos de material
pedagógico, terminando cada um com um colofon, uma conclusão formal (5.1 -
7.29; 10.5 - 11.1; 13.1-53; 18.1 - 19.1; 24.2 - 26.1).

Principais características deste Evangelho:

Ter sido escrito para os judeus. Foi escrito por um judeu para convencer os
judeus. Assim, um dos grandes objetivos deste Evangelho é demonstrar que todas
as profecias do Antigo Testamento se cumprem em Jesus, e por isso, é o
Messias. Daí, a frase com suas variantes que é dezesseis vezes recorrente: "Tudo
isso aconteceu para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta..." O
nascimento e o nome de Jesus são cumprimento de profecias (1.21-23); a fuga
para o Egito também (2.14,15); a matança dos inocentes (2.16-18); o regresso e a
fixação de José, bem como a infância de Jesus em Nazaré (2.13); o uso de
parábolas (13.34,35); a traição por trinta moedas de prata (27.9); o sorteio da
roupa do Mestre enquanto preso à cruz (27.35).
judaismo de Jesus é percebido na sua atitude para com a Lei. Ele não veio para
destruir a Lei, mas para cumpri-la.
Há em Mateus um interesse apocalíptico particularmente forte. É basicamente
encontrado nos capítulos 24 e 25.
Seu evangelho docente é outra característica especial. A sistematização do seu
trabalho usando dois números significativos para o judeu: o 3 e o 7. Exemplos
desta sistematização são:

José recebe 3 mensagens;


Pedro nega a Jesus 3 vezes;
Pilatos faz 3 perguntas;
No capítulo 13, há 7 parábolas do reino;
No capítulo 23, há 7 "ais" pronunciados acerca dos escribas e fariseus;
A genealogia é um excelente exemplo desta sistematização. Mateus quer
demonstrar que Jesus é da linhagem de Davi. Como em hebraico não há
numerais, usam-se as consoantes do alfabeto que possuem, portanto, valor
numérico. Por exemplo, David, ou seja, D V D. A soma dá 14. A genealogia de
Jesus em Mateus consiste em 3 grupos de 14 nomes. Tudo feito para que o leitor
judeu perceba a messianidade de Cristo embutida nas palavras, números e
valores.

Somente quem conhece a riqueza do pensamento rabínico galileu, ambiente de

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 76


Jesus, pode acompanhar e compreender plenamente os seus sermões e dar
plena força às suas próprias palavras e expressões. SCHLESINGER afirma que
para Jesus, seus ensinamentos não pressupõem o abandono da religião judaica.

O Evangelho de Mateus é, portanto, o que mais se aproxima do pensamento


judaico, e aquele no qual a hostilidade contra os judeus é menos acentuada, e sua
principal característica é mostrar como Jesus realiza as obras divinas. Que a
missão de Jesus é dirigida primordialmente aos b'nei Israel (filhos de Israel), não
há dúvida. É bastante ler os versos 10.5,6; 15.24 (cf. Jo 1.11).

Baseado no original aramaico, o atual Evangelho de Mateus manifesta pelo estilo,


forma, fraseologia e expressões, o método de discussão de caráter semita. A
intenção do autor é introduzir a mensagem do Malkut (reino) nos quadros da
religião judaica. Multiplica as citações do Tanach (Antigo Testamento) para
mostrar a sua realização na vida de Jesus.

Para Jesus, a importância da Torah é sintetizada na fórmula "Não penseis que vim
destruir a lei ou os profetas; não vim para destruí-los, mas para cumpri-los" (5.17).
E quando denuncia a hipocrisia dos sopherim e dos perushim, mesmo assim
assume o ensino deles.

Jesus no Monte parece refletir a tipologia de Moisés. Relembra, pelo cenário e


conteúdo de sua prédica, o grande mediador da lei de Deus no judaismo, A
seriação de dez milagres operados por Jesus lembra as dez pragas do Egito. A
"nuvem luminosa" que envolve Jesus transfigurado, no episódio do Monte Tabor,
em que são mencionados também Elias e Moisés, reassume com destaque a
conceituação judaica da Shekinah, que é a presença divina no povo de Israel.

A época da redação do Evangelho de Mateus era dura para os cristãos. Os judeus


mostravam-lhes uma hostilidade acentuada, quase do mesmo modo que os
romanos.

Para alguém tão versado na tradição judaica como Mateus, é evidente que, para
contar a história do Messias, a primeira tarefa a empreender é demonstrar que é o
Messias. E para isso, deve provar em primeiro lugar que o Messias pertence à
linhagem de Davi. Conseqüentemente, Mateus começa por apresentar uma
genealogia (1.1- 17). Registramos abaixo um paralelo entre fatos, eventos e
palavras do Evangelho de Mateus com sua correspondência no Antigo
Testamento.

Mt 1.22,23
Is 7.14

Mt 2.2
Nm 24.17; Is 60.3

Mt 2.5,6

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 77


Mq 1.33; 5.2; Sm 5.2

Mt 2.16-18
Jr 1.24; Gn 35.19; Ex 15,16

Mt 2.13-15
Os 11.1

Mt 2.19,20
Ex 4.19

Mt 2.22,23
não se sabe onde, pois não há no Antigo Testamento qualquer referência ao
Messias como nazareno. É possível que Mateus tenha feito um jogo de palavras
com nazireu (= Jz 13.5), ou de Is 11.1 ou Zc 6.12, "Renovo", em hebraico netzer.
O jogo é "nazareno"" com "nazireu" ou "nazareno" com "netzer"

Mt 3.11,12
Ez 36.24-26; 2Rs 5.10

Mt 3.3
Is 40.3

Mt 3.4 4.4
2Rs 1.8; 1Rs 17.6;

Ml 4.5
Dt 8.3

Mt 4.6
Sl 91, 11, 12

Mt 4.7
Dt 6.16

Mt 4.10
Dt 6.13,14;

Mt 4.14-16
Is 9.1,2;

Mt 5.4
Sl 37.11

Mt 8.17
Is 53.4

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Mt 9.12,13
Os 6.6

Mt 21.1
Zc 14.4

Mt 21.12,13
Jr 7.1,11

Mt 24.31?
Dn 7.13,14

Mt 26.15
Zc 11.12

Mt 27.7-10
Zc 11.13

Mt 27.24
Dt 21.6,7

Mt 27.34
Sl 69.22

Mt 27.46
Sl 22.2, 17-19

]E, ainda, a controvérsia sobre o Shabbath (Repouso) (Mt 12.11-14) como


cumprimento de Isaías 42.1-4.

TEMAS E PROBLEMAS ESPECIAIS

Cristologia
Destacam-se na cristologia de Mateus:

A comparação de Mateus com Marcos para detectar quais as diferenças entre os


dois Evangelhos mesmo onde correm paralelamente. O de Mateus é
freqüentemente mais explícito que o de Marcos.
Os títulos cristológicos usados no Evangelho de Mateus, que são ricos e
significativos. "Filho de Davi", por exemplo, aparece logo no seu primeiro
versículo, identificando Jesus com o Messias davídico. É sintomático que esse
título aparece sempre nos lábios dos necessitados. Mateus usa o título Kyrios
(Senhor) mais do que Marcos. É palavra que vai desde o "senhor" da linguagem
quotidiana (13.27) até à confissão da Divindade. O mesmo ocorre com o título
"Filho do Homem".
Profecia e Cumprimento

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 79


Em Mateus o retorno de Jesus do Egito cumpre o texto veterotestamentário que
se refere a Êxodo 2.15.
O pranto das mães de Belém cumpre a referência de Jeremias ao pranto de
Raquel pelos seus filhos em Ramá.
Jesus que se muda para Nazaré cumpre "o que fora dito pelos profetas"
A compra de um campo pelos sacerdotes por trinta moedas de prata cumpre as
Escrituras descrevendo ações realizadas por Jeremias e Zacarias (27.9).
A Lei

A questão da atitude do evangelista com respeito à Lei é um assunto crucial no


Evangelho de Mateus. As dificuldades se prendem a vários fatores:

Várias passagens podem ser compreendidas como uma firme defesa da Lei (ex.:
5.18,19; 8.4; 19.17,18) e mesmo a autoridade dos fariseus e mestres da Lei em
interpretá-la (23.2,3). Espera-se dos discípulos de Jesus que jejuem, dêem
esmolas (6.2-4) e que paguem as taxas do templo (17.24-27).
Algumas passagens podem ser vistas como um "amaciamento" da rejeição de
Marcos de certas partes da Lei. A adição da cláusula que encerra um "exceto"
("não sendo por causa", ARC) em 19.9 e a omissão de Marcos 7.19b ("ficando
puras todas as comidas) na perícope correspondente de Mateus (15.1-20) têm
convencido muitos que Mateus não anula qualquer ordem do Antigo Testamento.
Há algumas passagens onde, formalmente pelo menos, a letra da lei
veterotestamentária é suplantada (ex.: 5.33-37) ou uma instituição do Antigo
Testamento que é reverenciada parece ser depreciada e potencialmente
suplantada (ex.: 12.6).
Há uma passagem (5.17-20) que é amplamente reconhecida como programática
do ponto de vista legal de Mateus.

CARÁTER LITERÁRIO

Das 105 seções de Marcos, 93 aparecem em Mateus e 81 em Lucas. 4 seções de


Marcos não aparecem em Mateus e em Lucas. Marcos tem 661 versículos;
Mateus, 1068 e Lucas, 1149. Em seu texto, Mateus reproduz nada menos que 606
dos versículos de Marcos; Lucas, 320. Mateus usa 51% das palavras de Marcos.

Voltamos a registrar que afirmam alguns estudiosos que o Evangelho de Mateus


como o temos hoje não provém diretamente da mão do apóstolo Mateus, pois
quem foi testemunha ocular da vida de Cristo não precisaria usar Marcos como
fonte para narrá-la. No entanto, Papias afirma que Mateus colecionou os ditos de
Jesus em língua hebraica. Há evidência suficiente de que o Evangelho de Mateus
como o conhecemos é uma obra compilada de várias fontes escritas, do
Evangelho de Marcos e de uma coleção de ditos de Jesus originalmente escritos
em hebraico ou aramaico. Papias, bispo de Hierápolis (moderna Turquia) cerca de
125 d.C. explora esse assuntos na sua obra Explicações dos Ditos (Logion) do
Senhor. Cerca de 3/5 do Evangelho é devotada aos discursos de Jesus.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 80


CONCLUSÃO

As opiniões acerca deste Evangelho e o que representa e/ou pode representar


para o moderno judaismo são variadas. Em círculos judaicos mais ortodoxos,
afirma-se que " O que é bom no Novo Testamento, não é bom; o que é novo não é
bom. No entanto, Martin BUBER, o célebre pensador, filósofo e teólogo judeu
deixou afirmação de que "Quem encontra Jesus Cristo encontra o judaísmo". O
próprio Pinhas LAPIDE que o citou opinou que "O judeu Jesus e a hebraicidade
básica de sua mensagem servirão de critérios para maior aproximação possível do
sentido original da obra-prima de sua ética, sentido oculto na versão grega do
evangelho".

FONTES PRIMÁRIAS

AHERN, Barnabas M. The Gospels in the Light of Modern Research. Em: RYAN,
M. Rosalie (Org.). Contemporary New Testament Studies. Collegeville, Liturgical
Press, 1965, pp. 131-`152
ASIMOV, Isaac. Guia de la Biblia - Nuevo Testamento. Barcelona, Plaza & Janes,
1988. Trad. B. G. Ibañez.
BARCLAY, William. Mateo 2 Vols. 1a Reimpressão. Buenos Aires, La Aurora,
1973. Trad. M. P. Rivas.
CARSON, D. A. Matthew Em: GAEBELEIN, Frank E. (Org.).The Expositor's Bible
Commentary, Vol. 8. Grand Rapids, Zondervan, 1984, pp. 3 - 600.
LAPIDE, Pinhas. O Sermão da Montanha - Utopia ou Programa? Petrópolis,
Vozes, 1986. Trad. F. Dattler.
PIKAZA, Javier. A Teologia de Mateus. SP, Paulinas, 1978. Trad. J. R. Vidigal.
RYAN, M. Rosalie. Saint Matthew. Em: RYAN, Op. Cit., p. 238.
SANDMEL, Anti-Semitism in the New Testament. Philadelphia, Fortress, 1978.
SCHLESINGER, Hugo. Os Evangelhos e os Judeus. SP, Paulinas, 1985
SLOYAN, Gerard S. The Gospel According to Matthew. Em RYAN, Op. Cit., pp .
239-246.
ZOLLI, Eugenio. Guia Do Antigo E Do Novo Testamento. SP, Paulinas, 1961.
Trad. F. Dattler.

FONTES SECUNDÁRIAS

ACHTEMEIER, Paul J. e Elizabeth. The Old Testament Roots of Our Faith. 2ª


impr. Philadelphia, Fortress, 1981.
CHOURAQUI, André. A Bíblia - Matyah (O Evangelho Segundo Mateus). Rio,
Imago, 1996. Trad. L. Duarte.
GABEL, John B. e WHEELER, Charles B. A Bíblia Como Literatura. São Paulo,
Loyola, 1993. Trad. A. U. Sobral e M. S. Gonçalves.
KERMODE, Frank. Mateus. Em: ALTER, Robert e KERMODE, Frank. Guia
Literário da Bíblia. SP, UNESP, 1997. Trad. R. Fiker. Páginas 417 - 431.
L'ABBAYE de Saint-Andre.Le Nouveau Testament. Bruges, L'Abbaye de Saint-
Andre.
MALINA. Bruce J. The New Testament World - insights from cultural anthropology.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 81


Atlanta, John Know, 1981.
RHYMER, Joseph and BULLEN, Anthony. Companion to the Good News New
Testament. Glasgow, Collins, 1977.

Parte XVII
LEVANDO A SÉRIO A SEGURANÇA DA SALVAÇÃO
"Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua
grande misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, pela ressurreição
de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, incontaminável
e inacessível, reservada no céus para vós, que pelo poder de Deus sois
guardados mediante a fé, para a salvação que está preparada para se revelar no
último tempo" (1Pe 1.3-5)

Os arminianos ensinam que o salvo pode "cair da graça", ou seja, "perder a


salvação" (?!) porque ela depende da vontade do ser humano. O ensino bíblico
posto em evidência por João Calvino é que os salvos não se perdem, não podem
se perder, porque a vontade do Deus que os salvou não muda. É assim que
encontramos nas Escrituras as preciosas palavras: "para o louvor da glória da sua
graça, a qual nos deu gratuitamente no Amado", e, ainda, "Segundo a sua própria
vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como
primícias das suas criaturas" (Ef 1.6; Tg 1.18). Igualmente, há uma palavra no livro
de Jó que expressa, "Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus
propósitos pode ser impedido" (42.2).

No arminianismo, o ser humano é responsável por conservar-se salvo, mantendo


continuamente a fé e a obediência. O ensino da Bíblia Sagrada é que a salvação é
do Senhor. Daniel, o profeta, nos repassa essa palavra que nos diz com absoluta
clareza: "Ao Senhor, nosso Deus, pertencem a misercórdia e o perdão; pois nos
rebelamos contra ele. E se nós vamos ao último livro da Bíblia, o vidente de
Patmos nos dirá:
"Depois destas coisas, ouvi no céu como que uma grande voz de uma imensa
multidão, que dizia: Aleluia! A salvação e a glória e o poder pertencem ao nosso
Deus" (Ap 19.1).

Por isso, por ser uma dádiva de Deus não pode ser perdida (cf. Jo 6.39; 10.27-29;
Rm 2.4; (.37-39). Pelo contrário, Jesus nos diz para nosso conforto: "A vontade do
que me enviou é esta: Que eu não perca nenhum de todos aqueles que me deu,
mas que eu o ressuscite no último dia" (Jo 6.39); e nesta outra expressão do
Salvador:
"As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu as conheço, e elas me seguem; eu
lhes dou a vida eterna, e jamais perecerão; e ninguém as arrebatará da minha
mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las
da mão de meu Pai" (Jo 10.27-29).

Há quem não tenha certeza da salvação? Há quem, chamando-se cristão, não


leve a sério a segurança dessa salvação? Sim; por essa razão, João explicou
porque escreveu o Evangelho que leva o seu nome: "Jesus, na verdade, operou

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 82


na presença de seus discípulos ainda muitos outros sinais que não estão escritos
neste livro; estes, porém, estão escritos para que creiais que Jesus é o Cristo. o
Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome" (Jo 20. 30,31). E
João, na sua Primeira Carta, "Estas coisas vos escrevo, a vós que credes no
nome do Filho de Deus, para que saibais que tendes a vida eterna", porque havia
já naquela época alguns que não tinham muita segurança da salvação concedida
por Jesus ( 5.13).

É privilégio do salvo saber que está eternamente salvo (glória a Deus por isso!),
mas não é privilégio algum viver na incerteza da salvação. Pode alguém receber a
vida eterna, e depois perdê-la, indo eternamente para o inferno? Há grupos que
dizem que sim, e estão bem espalhados na Cristandade. A Bíblia diz um
veemente "NÃO!", ou como diz a antiga palavra de ordem:

UMA VEZ SALVO, SALVO PARA SEMPRE!!!

E isso porque "os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis" (Rm 11.29 TEB).
A doutrina da segurança eterna do salvo tem outros nomes: "perseverança dos
santos", "perseverança dos salvos", dos regenerados, daqueles que são feitos
novas criaturas em Cristo. Um crente pode até errar, mas ele cai e se levanta
porque essa queda é temporária. Spurgeon sugere que é como num navio:
podemos cair muitas vezes no seu convés, mas Deus não permitirá que sejamos
jogados no mar! Estávamos atravessando para a Ilha de Itaparica no ferry boat, e
aconteceu que o barco jogava tanto que algumas pessoas se desequilibraram, e
eu também teria caído se não estivesse me segurando no cabo. Que excelente
ilustração para a segurança da salvação... Nós estamos num barco (aliás, o barco
é uma figura da Igreja), podemos cair no chão, mas não somos jogados à fúria das
águas (Jo 6.37). O problema é que há muita gente que diz possuir a fé, mas não
sabe o que seja, nem crê no que fala (1Jo 2.19; 2Pe 2.22).

A CERTEZA DA SEGURANÇA

A certeza da segurança da salvação, a certeza da perseverança vem de uma


compreensão clara das coisas elementares dessa salvação. O regenerado se
caracteriza por certas qualidades éticas e espirituais. Por exemplo, pelo
discernimento da verdade . Não está aqui na palavra de Deus? "Quanto a vós, a
unção que dele recebestes fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém
vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina a respeito de todas as coisas, e é
verdadeira, e não é mentira, como vos ensinou ela, assim nele permanecei" (1Jo
2.27).Essa é uma grande verdade espiritual que nós temos.

Querem ver outra que nos dá segurança? A posse do Espírito Santo. Não
andamos ansiosamente buscando o Espírito Santo, não, porque quando cremos
recebemos o Espírito: Ele é nosso (creio que fica melhor dizer, nós somos dEle);
não é um objeto a ser possuído, Ele é que nos possui quando somos convencidos
do pecado, da justiça e do juízo (1Jo 3.24; Rm 8.9, 14).

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 83


Uma terceira realidade espiritual é o amor à paz e à fraternidade (1 Jo 3.10,11,14).
Vejo que todas elas são privilégios maravilhosos dados ao crente pela
misericórdia de Deus. A justificação, quando você é declarado reto, livre, limpo
dos seus pecados do passado (Rm 5.1); a adoção como filho de Deus, realidade
marcante do seu presente (Jo 1.12; Rm 8.14, 15; Gl 3.26; 1Jo 3.1); e a
santificação, quando você é declarado separado para Deus, como reserva
especial para o nosso Pai .

E isso se perde? Podemos perder a justificação, e a adoção , a santificação, e a


glorificação que nos aguarda? Somos reservados, regenerados para uma herança
incorruptível (ela não decai, não se estraga), incontaminável (nenhum fungo pode
maculá-la), e ela não murcha, essa herança que está reservada nos céus para os
santos. Isso é a glorificação! E isso se perde? E isso vai para o lixo? A LIMPURB
vai levar a nossa salvação! Não! Estamos seguros! E por que estamos seguros?
Por causa do amor de Deus que é imutável (Hb 6.17,18). Não pode existir essa
idéia que Deus me ama hoje, mas amanhã ,não sei não... O amor de Deus não
muda! Estamos seguros por causa de Suas promessas. E as promessas de Deus
mudam? A palavra de Deus diz, "ele mesmo disse: Não te deixarei, nem te
desampararei" (Hb 13.5). Que promessa extraordinária! Quero ainda ir à Carta aos
Hebreus: "para que por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus
minta, tenhamos poderosa consolação, nós, os que nos refugiamos em lançar
mão da esperança proposta" (Hb 6.18). As gloriosas promessas de Deus não
mudam!

Porque temos segurança da nossa salvação? Por causa da aliança feita com
Deus. No profeta Jeremias, o texto diz: "E lhes darei um só coração, e um só
caminho, para que me temam para sempre, para o seu bem e o bem de seus
filhos, depois deles; e farei com eles um pacto eterno de não me desviar de fazer-
lhes o bem; e porei o meu temor no seu coração, para que nunca se apartem de
mim" (Jr 32.39,40). Como Deus é fiel; nós cantamos sempre a Sua fidelidade para
conosco:

"Tu és fiel, Senhor, meu Pai celeste,


pleno poder aos teus filhos darás.
Nunca mudaste, tu nunca faltaste:
Tal como eras, tu sempre serás".

Estamos seguros por causa do valor do sacrifício de Jesus Cristo, que não foi um
sacrifício em vão. Vejo em João 6.39, o próprio Senhor dizendo, e repetimos o que
já foi mencionado: "A vontade do que me enviou é esta: Que eu não perca
nenhum de todos aqueles que me deu, mas que eu o ressuscite no último dia".
Estamos seguros por causa do Espírito Santo que vive nos salvos, "o qual é o
penhor da nossa herança, para redenção da possessão de Deus, para o louvor da
sua glória" (Ef 1.14). Assim, até parece que as perguntas de Romanos 8.31 a 39
foram feitas a pessoas que não criam na salvação eterna do crente. essas
perguntas são:
"Se Deus é por nós, quem será contra nós?" (v. 31b);

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 84


"Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus?" (v. 33a);
"Quem os condenará?" (v. 34a);
"Quem nos separará bo amor de Cristo?" (v. 35a);

e , aí, temos outras perguntas: "a tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, etc."


(cf. v. 35), perguntas que falam de um modo tão claro, e para cada uma delas a
resposta é "nada, ninguém, coisa alguma pode nos separar". É verdade que
Satanás, que é o nosso arqui-inimigo, o nosso resistente-mór, tudo faz para
derrubar o crente. Ele usa anjos maus, é verdade, e usa gente incrédula, é
verdade. E a lista do verso 35 de Romanos 8 fazem parte de um rol das possíveis
dificuldades que poderiam ser interpretadas como ausência do amor de Deus.
Quais são elas? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo
(seja qual for), a espada . Não, nada disso nos separa do amor de Deus. Pelo
contrário, vou, então, ao Salmo 44.22, e encontro a expressão, "Mas por amor de
ti somos entregues à morte o dia todo; somos considerados como ovelhas para o
matadouro".

Dá para entender, então, que essas dificuldades nos vêm porque fomos entregues
à morte o dia todo? Ora, quem ama a Deus é odiado pelo mundo; quem ora a
Deus Satanás odeia porque ele não pode ver o seu império estremecido pela
nossa oração. É por isso. Assim, a nossa maior qualidade dada por Jesus Cristo é
sermos "mais que vencedores", diz a Escritura (Rm 8.37). No entanto, coitado do
ímpio , ele é por natureza uma pessoa alienada, a Bíblia o diz: "Alienam-se os
ímpios desde a madre; andam errados desde que nasceram, proferindo mentiras"
(Sl 58.3). Vejam só: desde o útero, eles são alienados?! Precisa qualidade maior
para os verdadeiros crentes que a segurança da salvação? Mas um filho de Deus,
o salvo em Cristo Jesus, quem já recebeu o sopro, o toque do Espírito, esse pode
acontecer de cair em pecado, quando, então, vai perder muita coisa: a alegria da
salvação (Sl 51.12), a bênção da comunhão com os irmãos, mas deve se levantar.
Sim, porque o crente em Jesus Cristo, o verdadeiro crente, não fica derrubado,
não. Miquéias, o profeta, diz: "Não te alegres, inimiga minha, a meu respeito;
quando eu cair, levantar-me-ei; quando me sentar nas trevas, o Senhor será a
minha luz. Sofrerei a indignação do Senhor, porque tenho pecado contra ele; até
que ele julgue a minha causa, execute o meu direito. Ele me tirará para a luz, e eu
verei a sua justiça" (7.8,9), pois, "Confirmados pelo Senhor são os passos do
homem em cujo caminho ele se deleita; ainda que caia, não ficará prostrado, pois
o Senhor lhe segura a mão" (Sl 37.23,24).

Até o erro, o pecado, tem seu lado de crescimento. Paulo quando escreve o Hino
de Exaltação a Deus pelo Seu cuidado amoroso, diz que "sabemos que todas as
coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são
chamados segundo o seu propósito" (Rm 8.28). Até o pecado, até o engano, até
aquilo que não devíamos fazer mas fizemos, sendo circunstancial, ele nos ensina,
tem seu valor pedagógico. O crente em Jesus Cristo não pode perder a salvação
porque tem um grande Salvador que não deixa a Sua obra pela metade, não. A
missão de Jesus não ficou no Calvário, não: foi até à ressurreição, e Ele saiu
dentre os mortos, e garantiu a nossa salvação. Como é que um grandioso

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 85


Salvador como esse nos deixaria na metade do caminho?

Também porque não podemos perder a nossa redenção, visto que, mesmo
acusados por Satanás, temos um advogado diante do Pai (1Jo 2.1; cf. Hb 9.24).

Outra razão é porque estamos guardados pelo poder de Deus. Volto à Palavra
Santa: "pelo poder de Deus sois guardados, mediante a fé" (1Pe 1.5a; cf. 2Tm
1.12). Uma das mais preciosas lições da Nova Aliança é que a salvação não
depende de mim, nem de minhas obras, nem de meus atos, mas me é concedida
pela graça, pela misericórdia, pelo amor de Deus, amor que eu não mereço. Assim
diz a Santa Escritura. E diz várias vezes que eu não mereço, e que você não
merece: "Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, mediante a redenção
que há em Cristo Jesus...porque todos pecaram e destituídos estão da glória de
Deus" (Rm 3. 24, 23). Nós não merecemos, mas Deus nos concede Sua salvação.
Se formos a outros textos, temos também muita palavra abençoadora: "Porque
pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não
vem das obras, para que ninguém se glorie" (Ef 2.8,9; cf. Cl 1.12-14; 2Tm 1.8,9).
Isso quer dizer que o crente em Jesus Cristo é nascido de Deus (1Jo 5.1); nascido
de uma semente que não se estraga, não apodrece. Vejam só: "tendo renascido,
não de semente corruptível, mas de incorruptível, pela palavra de Deus, a qual
vive e permanece" (1Pe 1.23), razão porque cada filho de Deus, cada filha do Pai
Celestial participa igualmente da Sua natureza. Ora, o irmão participa da natureza
de Deus: se Deus morrer, o irmão morre. Mas como Deus não morre, não Se
corrompe, não Se esfuma, o irmão, a irmã está selado, e protegido, e guardado
quanto a sua salvação para o Dia Final (cf. 2Co 1.21,22; Ef 4.30).

E tem mais: o crente em Jesus Cristo não se perde porque a alegria dos anjos não
se acaba; a alegria que foi demonstrada nos céus no dia da sua conversão essa
não se acaba(Lc 15.10), ou será que existe um ciclo de ALEGRIA NO CÉU -
tristeza porque você caiu - ALEGRIA porque você voltou - tristeza porque você
novamente caiu? Será que a Bíblia ensina isso?

SEGURANÇA E PERSEVERANÇA

No entanto, que tranqüilidade tem o crente em Jesus Cristo que leva a sério a
segurança da salvação!... As promessas do Senhor nos dão segurança (cf. Jr
32.40; Jo 6.37; 2Tm 2.19); vida eterna não é fumaça (cf. Jo 6.47)! Não é "talvez
tenha", não é "quem sabe se eu vou ter a salvação", não! (cf. 1Jo 5.11-13). Nós
estamos seguros, seguros nas mãos fortes do Senhor! (cf. Sl 37.23,24,28a;
97.10). E lembremos que a ressurreição de Jesus Cristo é o alicerce desta
segurança (Ef 2.6).
Vejam agora uma coisa muito séria: só quando se confia em Jesus até certo ponto
é que se tem medo de perder a salvação ("Olha, Jesus, eu confio até chegar perto
do Calvário; lá em cima, não..." ). Se a nossa confiança é até certo ponto, fica
difícil, porque aí você tem medo de perder a salvação. Daí em diante, se a obra de
Jesus fica pelo meio do caminho, esse crente, essa irmã, é deixado só,
abandonado. Como fica, então, a promessa de Jesus em João 14.18 que diz:

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 86


"Não vos deixarei órfãos"? E aquela que diz "estou convosco todos os dias, até a
consumação dos séculos"? (Mt 28.20). Ou Jesus é nossa esperança para tudo, ou
não é esperança para coisa nenhuma! Mas, Paulo, apóstolo, nos fala ao coração
dizendo: "o qual vos confirmarás até o fim, para serdes irrepreensíveis no dia de
nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados para a
comunhão de seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor" (1Co 1. 8,9). Que palavra
linda e extraordinária! Por isso, à luz destes fatos, não entendo como há quem
pregue que a salvação pode ser perdida?! Que testemunho notável para sua
família, para seus amigos, para seus colegas, o irmão confirmado na fé, você
confirmada na fé em Jesus Cristo. Não é (graças a Deus!) salvação-por-enquanto,
não; e graças a Deus não é salvação temporária, não é condicional, não é até
certo limite. É uma eterna e gloriosa salvação! Por isso, os santos perseveram:
porque Deus é fiel (1Co 1.9). E Deus é fiel no que planejou, e no que prometeu.
Assim, essa monstruosa, herética, diabólica idéia do crente perder a salvação
repudia toda a boa nova do evangelho de Jesus! Nega que Jesus Cristo seja
digno de crédito ao dizer que nada nos arrebata da Sua mão (cf. Jo 10.28; 1Jo
5.10,11); faz de Deus um mentiroso (Hb 6.17-20); anula João 3.16, e desfaz toda
a verdade que está revelada em Romanos capítulos 4, 5 e 8; cancela a
justificação, e o perdão dos pecados, e a adoção de filhos, e o batismo no Espírito
Santo, e os dons do Espírito, e o fruto do Espírito já cultivado no irmão. Tudo isso
vai para o lixo se o irmão crê que vai perder um dia a sua salvação. Faz ser um
sonho, um esfumaçado sonho o Salmo 23 com sua gloriosa declaração de
confiança, "O Senhor é meu pastor; nada me faltará", e o Salmo 32 onde se lê,
"Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto".
Isso vai embora, pelo esgoto! Isso desaparece da minha vida porque eu não creio,
acho que amanhã vou perder a salvação?! Hoje eu a tenho, mas não garanto por
amanhã?! Se a perda da salvação é verdadeira, ou, mesmo, imaginável, a Bíblia
está brigando com ela mesma, está se contradizendo porque fala de "eterna
salvação", "eterna redenção" e "vida eterna" dezessete vezes só no Evangelho de
João (cf. Hb 5.9; 9.12); fala de "peso eterno de glória mui excelente", de "eterna
consolação", de "herança eterna", e de "aliança eterna" (cf. 2Co 4.17; 2Ts 2.16;
Hb 9.15; 13.20).
Mas há quem saia do nosso meio? Há? Sem dúvida! E a Bíblia diz que há aqueles
que não se agüentaram no nosso meio porque "saíram dentre nós, mas não eram
dos nossos; porque, se fossem dos nossos, teriam permanecido conosco; mas
todos eles saíram para que se manifestasse que não são dos nossos" (1Jo 2.19).
Voltaram para o mundo porque a ele pertenciam, abandonaram a família de fé.
Mas, há quem saia do nosso meio? Há sim: são aqueles a quem Jesus Cristo vai
dizer, "Nunca vos conheci" (cf. Mt 7.21-23).
A Escritura Sagrada tem três lições que não podemos jamais esquecer. A
perdição humana é total, porque a Queda foi total, e todos fomos arrastados pelo
pecado.

Parte XVIII
PACIÊNCIA NA PROVAÇÃO
Tiago 5:7-12

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 87


Eu odeio esperar. No volante, não quero ficar atrás de um carro andando 30 km/h.
No supermercado, fico irritado quando a moça precisa trocar o papel do caixa
justamente na hora que eu chego à frente da fila. No banco, perco paciência com
as filas serpentinas.

Sou como aquela pessoa que orou a Deus, “Senhor, dá-me paciência, e eu a
quero AGORA!”

Talvez fiquemos impacientes por causa de filas intermináveis e carros lentos. Mas
o livro de Tiago consolava irmãos que enfrentavam situações bem mais difíceis.
Muitos deles eram pessoas pobres, marginalizadas, perseguidas por serem
cristãos (2:5-7). Precisavam de paciência para sobreviver as tribulações da vida.

No texto anterior (5:1-6), descobrimos que os ricos haviam oprimido esses pobres.
Haviam vivido uma vida luxuosa, enquanto retiveram o salário dos diaristas,
levaram os pobres diante dos tribunais para defraudá-los, condenando e matando
alguns pela injustiça.

Foi justamente neste contexto que Tiago agora fala às pessoas oprimidas,
atribuladas, sofridas, que estavam passando por males severos sem entender
porque Deus não fazia nada. O enfoque muda dos opressores para os oprimidos,
dos perseguidores para os perseguidos. Seus leitores enfrentavam a tentação de
serem impacientes; queriam que algo acontecesse, e já. Corriam o risco de
FAZER algo acontecer, tomando em suas próprias mãos a vingança.

Tiago usa 2 palavras diferentes que descrevem a qualidade de paciência na vida


do cristão. A primeira palavra significa “longânimidade” ou seja, alguém que
demora a esquentar, especialmente em relação a pessoas. A segunda palavra
traz a idéia de “ficar debaixo” de uma pressão, tribulação ou aflição, especialmente
em relação a circunstâncias. Podemos juntar as duas idéias para dizer que, o
cristão maduro aprende a permanecer debaixo de sofrimento sem perder
paciência com as pessoas ao seu redor.

7 Sede, pois, irmãos, pacientes, até à vinda do Senhor. Eis que o lavrador
aguarda com paciência o precioso fruto da terra, até receber as primeiras e as
últimas chuvas.
8 Sede vós também pacientes e fortalecei o vosso coração, pois a vinda do
Senhor está próxima.

9 Irmãos, não vos queixeis uns dos outros, para não serdes julgados. Eis que o
juiz está às portas.

10 Irmãos, tomai por modelo no sofrimento e na paciência os profetas, os quais


falaram em nome do Senhor.

11 Eis que temos por felizes os que perseveraram firmes. Tendes ouvido da
paciência de Jó e vistes que fim o Senhor lhe deu; porque o Senhor é cheio de

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 88


terna misericórdia e compassivo.

12 Acima de tudo, porém, meus irmãos, não jureis nem pelo céu, nem pela terra,
nem por qualquer outro voto; antes, seja o vosso sim sim, e o vosso não não, para
não cairdes em juízo.

Precisamos fazer algumas observações de imediato. Primeiro, fica óbvio que o


tema desse penúltimo parágrafo do livro é paciência (ou talvez, perseverança).
Note a repetição: Vs. 7 “pacientes . . . com paciência”; Vs. 8 “pacientes; Vs. 10
“paciência”; Vs. 11 “perseveraram firmes . . . paciência de Jó”

Segundo, é interessante notar que o texto destaca pelo menos três vezes a vinda
do Senhor como a bendita esperança do cristão diante das tribulações.

Vs. 7 “até a vinda do Senhor”; Vs. 8 “A vinda do Senhor está próxima”; Vs. 9 “O
juiz está às portas”

Juntando esses dois temas (paciência e a vinda do Senhor) podemos resumir a


lição principal que Tiago quer nos transmitir:

A fé verdadeira persevera em meio a tribulação na esperança da vinda do


Senhor.

Como que o cristão maduro enfrenta provação? Descobrimos pelo menos quatro
atitudes que nos encorajam nesse texto:
I. A Fé Verdadeira é Paciente em Provação . . . Confiante da Vinda do Senhor
(7,8)

Como reagimos diantes das provações dessa vida?

*Uma doença crônica que rouba nossa alegria


*Um casamento morto
*Um filho desviado
*Um patrão ou colega de serviço ou escola que nos aborrece
*Uma situação financeira desesperada
*Uma morte que nos deixa com um vazio constante no coração . . .
A resposta é: esperar, confiante na vinda do Senhor. Não devemos reivindicar
bênção, declarar em nome de Jesus que nossos problemas desaparecerão,
decretar a vontade do Senhor ou, através do pensamento positivo, verter as
nossas circunstâncias. Quem dera, fosse tão simples! O único conselho que Tiago
nos dá é: Sede pacientes . . . até a vinda do Senhor.

7 Sede, pois, irmãos, pacientes, até à vinda do Senhor. Eis que o lavrador
aguarda com paciência o precioso fruto da terra, até receber as primeiras e as
últimas chuvas.
8 Sede vós também pacientes e fortalecei o vosso coração, pois a vinda do
Senhor está próxima.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 89


A volta de Cristo Jesus é a “bendita esperança” de todo cristão. Jesus falou que
neste mundo teremos tribulação (Jo 16:33). Paulo ecoou o mesmo princípio
dizendo que “todos que querem viver piedosamente em Cristo Jesus sofrerão
perseguição (2 Tm 3:12).” (cf At 14:22) O próprio livro de Jó (Elifaz) falou, O
homem nasce para o enfado como as faíscas das brasass voam para cima. (5:7)

A palavra “vinda” do Senhor significa mais que a chegada dele. Refere à presença
dele também, e esse é o nosso consolo. A dura realidade é que Deus não
consertará todos os males desse mundo até a volta de Jesus!

Rm 8:17,18 Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e


co-herdeiros com Cristo; se com ele sofrermos, para que também com ele
sejamos glorificados. Porque para mim tenho por certo que os sofimentos do
tempo presente não são para se comparar com a glória por vir a ser revelada em
nós.

2 Co 4:17 Porque a nossa leve momentânea tribulação produz para nós eterno
peso de glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas coisas que se
vêem, mas nas que se não vêem, porque as que se vêem são temporais, e as que
se não vêem são eternas.

Conforme a ilutração no texto, é impossível ser um fazendeiro, um “lavrador”, um


agricultor, sem ter paciência! Naquela cultura, havia um tempo prolongado entre
as chuvas de outubro/novembro (no início do plantio) e março/abril (no final). Um
tempo de espera, sem nenhum fruto. Mas o jardineiro esperava. . . . e
esperava . . . na certeza de que o fruto viria. A vida cristã é assim. O segredo de
perseverança quando o caminho é duro, é saber que Deus está produzindo fruto
em nós. Gememos em nós mesmos, esperando a colheita.

Filipenses nos encoraja na vida cristã, que às vezes parece tão lenta, tão
demorada: Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós
há de completá-la até ao dia de Cristo Jesus. (1:6). (Cf. 1 Jo 3:2,3: Amados, agora
somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser. Sabemos
que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque havemos de
vê-lo como ele é. A a si mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperança,
assim como ele é puro.
Somos encorajados na vida cristã, mesmo que às vezes pareça tão lenta, tão
demorada. Deus está produzindo fruto em nossas vidas; mesmo que o resultado
final demore, virá!

Mas, como Tiago pôde afirmar que a vinda de Jesus estava próxima, se quase
2000 anos já se passaram, e Jesus ainda não voltou? Entendemos que, até a
primeira vinda de Jesus, todo o tempo e a história estavam marchando em direção
ao precipício chamado “eternidade”. Mas, depois da ressurreição e ascenção de
Cristo, o próximo evento na cronologia divina é o retorno de Cristo.
Não resta outro acontecimento antes do final dos tempos. Em outras palavras,
chegamos à beirada do precipício e estamos agora andando na margem dele. A

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 90


qualquer momento, a qualquer hora, Jesus pode voltar. O fim está próximo! No
momento em que ele voltar, nosso sofrimento acabará . . . estaremos com o
Senhor . . . o sofrimento terminará:

Ap 21:3,4 Então ouvi grande voz vinda do trono, dizendo, Éis o tabernáculo de
Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus e Deus
mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrmia, e a morte já não
existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas
passaram.

À luz dessa realidade, temos que fortalecer nossos corações . . . Em outras


palavras, temos que firmar as raízes para produzirmos fruto em meio a
tempestade! As raízes fundas na promessa da vinda do Senhor. Devemos
focalizar nessas verdades, encorajar uns aos outros diariamente, lembrar de
valores eternos e viver para eles. A palavra “fortalecer” traz a idéia de “fixar, de
forma resoluta” (Lc 9:51).

II. A Fé Verdadeira é Paciente em Provação . . . Confiante na Justiça do Senhor


(9)

9 Irmãos, não vos queixeis uns dos outros, para não serdes julgados. Eis que o
juiz está às portas.

Além da perseguição de fora (dos ricos), havia a possibilidade de aflição de dentro


da igreja. Tiago é realista. Reconhece que, às vezes, os irmãos não se dão tão
bem juntos. Paulo também reconheceu esse fato em Ef 4:2 “com toda humildade e
mansidão, com longanimidade (= paciência), suportando-vos uns aos outros em
amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no
vínculo da paz.”

A ordem é para não se queixarem uns contra os outros. A palavra “queixar” traz a
idéia de ficar exasperado com alguém, ao ponto de agonizar por dentro, de gemer.
Foi usada em vários outros textos:

2 Co 5:2, 4 E por isso, neste tabernáculo gememos, aspirando por ser revistidos
da nossa habitação celestial
Rm 8:23 E não somente ela, mas também nós que temos as primícias do Espírito,
igualmente gememos em nosso íntimo, guardando a adoção de filhos, a redenção
do nosso corpo
Mc 7:34 Jesus, erguendo os olhos ao céu, suspirou e disse . . .
Rm 8:26 O Espírito intercede por nós sobremaneira com gemidos inexprimíveis

Tiago adverte os leitores a não se queixarem entre si, pois existe um perigo real
deles mesmos serem julgados, caso tiverem errado. Mas ao mesmo tempo
oferece uma palavra de consolo—o Juiz está à porta. Em outras palavras,
vingança pertence ao Senhor, não a nós. Se nosso irmão nos maltrata, se somos
blasfemados, alvo de fofocas, Deus sabe disso. Ele pode providenciar uma

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 91


solução.

Em vez de criar casos entre irmãos, devemos sofrer a injustiça (confiantes na


justiça do Senhor) antes de corer o risco de injustiçar o outro. Vingança pertence
ao Senhor, mesmo dentro da família da fé. Deus quer que paz reine entre nós
(veja 1 Co 6).

III. A Fé Verdadeira Persevera em Provação . . . Confiante da Misericórdia do


Senhor (10,11)

Temos uma rica tradição histórica! A fé dos nossos antepassados, que não
tiveram os mesmos privilégios como nós, nos deixa um exemplo. Os profetas, que
falaram com autoridade como representantes do Senhor, sofreram muitos males,
mas com grande paciência.

A razão porque todos esses antepassados perseveraram, é porque sabiam algo


que seus perseguidores não sabiam—que seu Deus era misericordioso e bondoso
(compassivo).

10 Irmãos, tomai por modelo no sofrimento e na paciência os profetas, os quais


falaram em nome do Senhor.
11 Eis que temos por felizes os que perseveraram firmes. Tendes ouvido da
paciência de Jó e vistes que fim o Senhor lhe deu; porque o Senhor é cheio de
terna misericórdia e compassivo.
A palavra “misericordioso” significa “de grande compaixão”. Em outras palavras,
Deus SENTE o que sentimos. É isso que o livro de Hebreus fala sobre Jesus:

Hb 4:15, 16 “Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se
(=sentir junto, sofrer junto conosco) das nossas fraquezas, antes foi ele tentado
em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado. Acheguemo-nos,
portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos
misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna. (cf. Hb 2:17,18)

Temos que confiar no caráter do nosso Deus! Em meio a sofrimento, temos que
fixar nossa âncora naquilo que sabemos ser verdadeiro a respeito de Jesus. O
difícil em tempos de crise é acreditar que Ele realmente quer o nosso bem . . . que
Ele realmente é um Deus bom . . . que Ele sente conosco . . . que nos ama.

IV. A Fé Verdadeira Persevera em Provação . . . Confiante na Soberania do


Senhor (12)

12 Acima de tudo, porém, meus irmãos, não jureis nem pelo céu, nem pela terra,
nem por qualquer outro voto; antes, seja o vosso sim sim, e o vosso não não, para
não cairdes em juízo.

Esse versículo parece mudar de assunto. Mas está ligado à idéia de respostas à

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 92


provação.

Quando nos encontramos em apertos, somos tentados a fazer votos precipitados


na esperança de nos livrar da situação. Podemos imaginar situações em que
alguém, querendo se livrar de uma dificuldade, assume um ompromisso, jura por
algo sobre o qual não tem controle, ou faz uma promessa. Em outras palavras, é
muito fácil em meio a provação, dizer coisas que você não quis dizer—votos,
promessas, ameaças, palavrões: “Se o Senhor me livrar dessa, prometo servi-lo o
resto da minha vida . . .” O juramento é uma tentativa de “validar” as palavras, de
assumir uma postura de controle e poder que não temos. Deus é o único
soberano. Só Ele nos livrará do sofrimento, no tempo dEle. Não podemos
apressar a vontade dEle através de promessas vãs. Por isso, a fé persevera em
provação confiante na soberania do Senhor, sem tentar manipular a situação
pelas nossas palavras.

Ninguém gosta de esperar. Mas às vezes é a melhor maneira de mostrar nossa


confiança no Senhor.

Glorificamos a Deus quando perseveramos pacientemente pela vontade dEle,


confiantes

1) da Vinda dEle para “acertar as contas” (7,8)


2) na Justiça dEle, para fazer a coisa certa (9)
3) na Misericórdia dEle, para ter compaixão de nós (10,11)
4) na Soberania dEle, para resolver tudo em Seu tempo (12)

A fé verdadeira persevera em meio a tribulação na esperança da vinda do Senhor.

Parte XIX
O “SHOW DO CRISTÃO"
Tiago 1:26-27
Como identificar uma pessoa “espiritual”? Se tivéssemos um “religiômetro”, qual
seria o índice?
O número de vezes que realiza uma hora silenciosa? A fidelidade no dízimo? A
freqüência aos cultos? O corte de cabelo? A “moda” de roupa que usa (ou deixa
de usar)?

Infelizmente, nossa definição de espiritualidade muitas vezes reflete somente uma


perspectiva externa, e não o coração. Por isso 1 Sm 16:7 nos lembra que “O
homem vê o exterior, porém o Senhor, o coração”. Medimos espiritualidade muitas
vezes por atos religiosos, ou às vezes pelo conhecimento que alguém possui. Mas
a medida de Deus é diferente. Deus não coloca sua fita de medir ao redor da
cabeça, mas ao redor do coração.

Parte do problema está com a própria palavra “religião”, que vem do latim
“religione” e traz a idéia de “religar-se” a um deus. O problema é que essa é uma
tarefa impossível para o homem através do seu próprio esforço.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 93


A verdadeira religião começa com Deus—o esforço dEle! Ele é o Único capaz de
esticar os braços o suficiente para nos atrair para si mesmo. O sacrifício de Jesus
efetuou uma mudança “religiosa”, ou seja, homem e Deus podem ser
reconciliados de novo, pela transformação no coração humano.

Os fariseus eram campeões de Religião. Mas era um Show—o “Show da


Religião”. Mas Deus quer algo diferente. Um “Show do Coração”. Um coração
verdadeiro, transformado por Jesus.

Essa transformação no coração tem evidências práticas e claras. São evidências


que brotam do coração, dificlmente finjidas ou falsificadas. O livro de Tiago, cujo
tema é “Provas de uma Fé Verdadeira”, nos oferece três avaliações do nosso
coração que se registram no “religiômetro” divino.

Aprendemos em Tiago 1.26,27 que

A fé verdadeira REFLETE SUA RELIGIÃO num coração transformado por Jesus.

Nesses versículos encontramos em miniatura as mensagens principais do livro de


Tiago.

I. A Verdadeira Religião PENEIRA AS PALAVRAS (26)

O texto começa jogando dúvida sobre a real existência da fé da pessoa que supõe
ser religiosa. O problema é que sua língua o trai! Se suas palavras só destroem,
não importa se ela vá à igreja sempre que as portas estejam abertas, se ela leia a
Bíblia inteira três vezes por ano ou se contribua generosamente para missões.
Sua religião é vazia!

Certa vez alguém disse que a língua é o músculo mais comprido do corpo
humano, pois tem sua origem no coração. Jesus disse, “A boca fala do que está
cheio o coração” . Tiago faz essa conexão entre a língua e o coração no final do
versículo quando diz que essa pessoa está “enganando o próprio coração”.

Tiago expõe o coração humano pelo que é, para que os cristãos deixem Jesus
tomar controle de seus corações. É triste imaginar que essa pessoa se engana,
pensando que ela é grande coisa no Reino de Deus, pois participa de muitas
atividades religiosas. Ela mantém um padrão de espiritualidade estabelecido por
homens, mas ignora o padrão divino. Seu coração está longe de Deus!

A palavra “refrear” foi usada para descrever o freio na boca dos cavalos, um
pequeno instrumento inserido na parte sensível da boca do cavalo e capaz de
direcionar seu corpo inteiro. O cristão que tem Jesus reinando em seu coração
usa uma santa peneira para pesar suas palavras ANTES que são faladas. O
Espírito Santo segura a peneira, e os furos são finos e feitos pela Palavra de
Deus. As palavras pesadas e podres ele joga fora. Somente o que passa pela

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 94


peneira divina sai dos seus lábios.

Somente o Espírito Santo é capaz de transformar um coração podre num coração


limpo. Certamente a nossa conversão a Jesus é um bom começo, pois limpa a
fonte das palavras. Mas é preciso nos vigiar diariamente para manter as águas
cristalinas (Rm 12.2).

II. A Verdadeira Religião PROTEGE OS MENOS-PRIVILEGIADOS (27a)

O próximo versículo apresenta um contraste. Se religião vazia, inútil e impotente


manifesta-se numa língua desenfreada, como seria uma religião pura, sem
mácula? (A palavra traz a idéia de não ter nenhuma mancha, ser irrepreensível).
Como será uma vida realmente espiritual diante de Deus?

A resposta é inesperada! Tiago não cita uma lista de afazeres religiosos. Não dá
pontos pelos anos de freqüência na EBD. Fala do tratamento dado aos órfàos e às
viúvas.

Naquela época, ainda pior do que hoje, órfãos e viúvas eram pessoas muito
carentes. Numa sociedade agrícola, sem INSS, orfanatos, asilos, ou assistência
social, essas pessoas sofriam demais. Quem os ajudava não tinha perspectiva
nenhuma de retorno.
Quem “visita” órfãos e viúvas em suas tribulações demonstra “religião” (mudança
interior) verdadeira. A palavra “visitar” pode nos enganar... a idéia não é de
simplesmente passar na casa de alguém e dar um “alô” ocasional. O termo
significa “cuidar, acompanhar, preocupar-se com”. Está no tempo presente,
indicando que é uma ATITUDE CONSTANTE!

Logo, Tiago destacará ainda mais esse tema quando condena acepção de
pessoas na igreja (2.1-11) e insensibilidade às pessoas com necessidades reaias
(2.15-17).

Como você encara os menos-privilegiados? É sensível e compassivo? Ou crítico e


cético? Evita-os? Ou procura oportunidades, dentro do possível, para mostrar-lhes
o amor de Cristo?

Essa idéia de sensibilidade às necessidades daqueles ao nosso redor também


reflete um tema de destaque no livro de Provérbios (fonte de muitas idéias em
Tiago):

Provérbios 21:13 O que tapa o ouvido ao clamor do pobre também clamará e não
será ouvido. 28:27 O que dá ao pobre não terá falta, mas o que dele esconde os
seus olhos será cumulado de maldições.

29:7 Informa-se o justo da causa dos pobres, mas o perverso de nada disso quer
saber.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 95


14:31 O que oprime ao pobre insulta aquele que o criou, mas a este honra o que
se compadece do necessitado.

19:17 Quem se compadece do pobre ao Senhor empresta, e este lhe paga o seu
benefício.

31:8,9 Abre a tua boca a favor do mudo, pelo direito de todos os que se acham
desamparados.

Abre a tua boca, julga retamente, e faze justiça aos pobres e aos necessitados.

À luz do que Tiago (e Jesus) ensinam a respeito dos menos-privilegiados, a nossa


primeira resposta não deve ser sair correndo para dar uma esmola. Primeiro Jesus
quer transformar nosso coração. Precisamos clamar a Ele para nos dar um
coração compassivo e sensível.

Fico triste quando ouço como alguns que se dizem cristãos tratam pessoas mais
humildes. O problema é que não encaram as pessoas como Jesus as encarava.
Por isso, clamemos a Ele para que sejamos sensíveis, sábios e genuínos na
proteção dos menos-privilegiados.

III. PRESERVA A PUREZA (27b)

A terceira evidência de uma fé verdadeira, que registra no “religiômetro divino”, é


uma vida pura. É interessante que Tiago não diz, “Adquira pureza” ou “vença
espiritualidade pela luta”.
Fala “guardar-se” incontaminado do mundo. O verbo é presente, e traz a idéia de
uma vigia constante, uma preservação e proteção de uma posição já adquirida.

Mais uma vez, notamos que Tiago vai voltar para essa idéia mais tarde no capítulo
quatro, quando trata da questão dos desejos mundanos que habitam em nossos
corações (4.1-4).

Aqui, Tiago soa como o Apóstolo Paulo, que sempre nos chama para uma vida
DIGNA da alta posição nos concedida em Cristo Jesus! Na conversão obtemos
essa posição, de sermos vestidos com a justiça de Cristo (2 Co 5:21). Agora,
baseado nessa alta posição que temos diante de Deus, pelos méritos de Jesus,
devemos andar de modo digno.

Outra vez, estamos falando sobre mais do que mero comportamento. Trata-se de
uma questão interna, do coração humano. Guardar-se incontaminado do mundo
fala sobre muito mais do que observar listas de atividades que você faz (ou deixa
de fazer). Iinfelizmente, muitas vezes somos mais conhecidos como crentes pelos
nossos não-fazeres do que pelos fazeres.

Permitimos que o mundo nos conforme ao seu padrão, ou somos transformados


diariamente pela realidade de uma cidadania fora deste mundo? Somos seduzidos

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 96


pelas atrações temporais dessa vida, ou temos olhos fixados nas celesteais?
Paqueiramos o mundo para ver o que ele pode nos oferecer, pensando que
podemos brincar com tentação? Adotamos os padrões e a aparência do mundo
para sermos aceitos por ele?

Jesus nos chamou para ficarmos NO MUNDO, sem sermos DO MUNDO.

O povo do Exodo descobriu como isso é difícil uma vez que você é contaminado
pelos valores do mundo. Demorou uma noite para tirar Israel do Egito, mas 40
anos para tirar o Egito do coração de Israel.

O profeta Daniel nos deixa um exemplo positivo de como estar no mundo sem ser
do mundo. Resolveu não contaminar-se com as finas regalias ilícitas do rei.
Guardou-se incontaminado do mundo. E Deus honrou-o.

No “religiômetro divino” há três registros que nos ajudam a medir nosso próprio
coração. A fé verdadeira:
1) Peneira as Palavras
2) Protege os menos-Privilegiados
3) Preserva a Pureza
Resumindo, podemos afirmar que
A fé verdadeira REFLETE SUA RELIGIÃO num coração transformado por Jesus.

Parte XX
SIGNIFICADO DE 'FIM DA LEI"
Em Romanos 10.4
O grande volume de literatura produzida nos últimos anos enfocando o tema da lei
em Paulo demonstra o caráter polêmico do assunto.1 Os principais textos "legais"
do apóstolo têm sido cuidadosamente investigados,2 interpretações tradicionais
são postas em cheque, surgem novas questões e perspectivas,3
conseqüentemente soluções inusitadas e desafiadoras são apresentadas.4 A
interpretação de Romanos 10.4, já bem conhecida como um "campo de batalha",
tornou-se ainda mais debatida com o surgimento da chamada "nova perspectiva"
sobre Paulo e a lei.

Esta "nova perspectiva" sobre Paulo e a lei de Moisés vem se desenvolvendo a


partir de obras de Krister Stendahl (1963) e principalmente E. P. Sanders (1977).
Nessas obras é descartada a interpretação tradicional que entende que Paulo e o
Novo Testamento nos apresentam o judaísmo daquele período como uma religião
legalista. Conseqüentemente, surgiram várias novas interpretações para explicar a
polêmica de Paulo contra a lei. A abordagem sociológica de J. D. G. Dunn é a que
tem sido mais aceita: Paulo combate as obras da lei não porque expressam
legalismo, mas porque "obras da lei" para Paulo se referem aos emblemas
característicos do judaísmo (leis dietárias, sábado, e circuncisão), os quais
enfatizam a separação entre judeus e gentios que Cristo aboliu.

É neste contexto que a interpretação de Romanos 10.4 ganha relevância

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extraordinária. O desafio exegético não é somente determinar se te/loj ("fim") deve
ser entendido por "fim/terminação" ou "alvo/cumprimento" e em que sentido, mas
agora é preciso tratar também da natureza da antítese presente no contexto em
face dos novos questionamentos apresentados pela "nova perspectiva". Em outras
palavras, é preciso determinar se Paulo está combatendo ou não o legalismo
judaico como tradicionalmente se tem interpretado.

Portanto, nosso intuito neste trabalho é determinar o significado de Romanos 10.4


em seu contexto, procurando interagir com as principais questões e opiniões
contemporâneas.

I. Análise Contextual

Nos capítulos 9 a 11 de Romanos Paulo retoma o tema já tratado de maneira


provisional em 3.1-8, qual seja, a vindicação dos propósitos e do caráter de Deus
em face à incredulidade dos judeus. S. K. Williams caracteriza o objetivo de Paulo
em Romanos como a demonstração de que o seu evangelho está em perfeita
concordância não somente com o plano de Deus mas também com quem Deus é:
Senhor de todos os povos e para sempre fiel à sua própria natureza e propósito.5
Observamos também que já em 1.16 Paulo delineia a prioridade dos judeus na
história da salvação a despeito de sua incredulidade (cp. 2.9-10; 3.1-2). Como
ressaltou J. C. Beker: "Paulo demonstra como ele integra a universalidade do
evangelho e a particularidade de Israel."6

Paulo introduz esta seção da carta (caps. 9-11) falando da tristeza do seu coração
pela incredulidade dos seus compatriotas judeus (9.1-3) e menciona os privilégios
concedidos por Deus a eles (9.4-5). Contudo a palavra de Deus não falhou7 , pois
somente são verdadeiros israelitas os filhos da promessa, os quais são objeto do
decreto soberano da eleição de Deus (9.6-13). Esta eleição não depende das
obras praticadas pelas pessoas, quer sejam obras boas ou más, mas da vontade
do que chama.8 Não há injustiça em Deus porque esta é uma questão de
misericórdia (9.14-18); assim Deus manifesta tanto a sua ira e poder em vasos de
ira, preparados para a destruição, como a riqueza da sua glória em vasos de
misericórdia, preparados de antemão para a glória (9.19-23). A estes (que somos
nós os crentes) Deus chamou não só dentre os judeus mas também dentre os
gentios segundo seu propósito manifestado anteriormente pelos profetas (9.25-
29). Nas passagens de Oséias (Os 2.25 e 2.1) citadas em 9.25-26 Paulo faz
referência à salvação concedida aos dentre os gentios, e nas de Isaías (Is 10.22;
28.22; 1.9), citadas em 9.27-28, ele faz referência à salvação somente do
remanescente dos filhos de Israel, que são os seus verdadeiros descendentes.9

Se até aqui Paulo focalizou o seu tema da perspectiva dos propósitos soberanos e
do caráter justo de Deus, agora, de 9.30-10.21, ele o focaliza da perspectiva da
atitude de Israel. No capítulo 11 ele abordará a questão a partir de uma
perspectiva harmonizada na qual a soberania divina e a responsabilidade humana
são enfatizadas.

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Em contraste com os salvos dentre os gentios, os quais alcançaram a justiça que
decorre da fé, embora não a buscassem,10 os não-salvos dentre Israel, apesar de
buscarem lei de justiça, não atingiram essa lei, pois sua busca não decorreu da fé
e sim como que das obras, e assim vieram a tropeçar na pedra de tropeço porque
nela não creram (9.30-33).11 Paulo ora pela salvação deles dizendo que são
zelosos por Deus, porém sem entendimento (10.1-2).O problema deles é
desconsiderar ( a)gnoou=ntej, "desconhecendo")12 a justiça providenciada por
Deus e tentar estabelecer a sua própria justiça, não se sujeitando assim à justiça
que vem de Deus,13 pois Cristo, para todo o que crê (judeu ou gentio), é o fim de
se usar a lei para tentar estabelecer a justiça própria14 (10.3-4). A lei traz a
exigência da prática;15 resta, portanto, ao transgressor da lei16 (quer judeu ou
gentio) o caminho da justiça que é pela fé em Cristo — "todo aquele (judeu ou
gentio) que invocar o nome do Senhor, será salvo" (10.5-13). A fé vem pela
pregação da palavra de Cristo; contudo, a incredulidade dos judeus cumpre os
propósitos de Deus que incluem também revelar-se aos gentios (10.14-21).

Deus se mantém fiel para com o seu povo ("a quem de antemão conheceu")
salvando-lhe no presente o remanescente segundo a eleição da graça, do qual
Paulo faz parte (11.1-5). Sendo pela graça, fica excluído o caminho das obras; a
justiça17 que Israel continua buscando (e)pizhtei=, "busca"), somente a eleição
(ou seja, os eleitos) obteve ( e)pe/tuxen, "alcançou"), os demais foram
endurecidos como profetizado no passado (11.6-10). A incredulidade dos judeus
serve ao propósito divino de trazer a salvação aos gentios; contudo, essa queda é
reversível, pois, mediante o ciúme, a "plenitude" de Israel (o número total dos
eleitos) haverá de ser salva, abandonando a incredulidade, sendo reenxertada na
sua própria raiz (11.11-24). Somente uma parte de Israel é endurecida e isso
durará enquanto a plenitude dos gentios está também sendo salva. É desta
maneira (ou(/twj, "assim") que todo o Israel18 será salvo, como prometido nas
Escrituras (11.25-27). Por causa da irrevocabilidade dos dons e da vocação de
Deus, Israel, apesar de estar em posição de inimizade, também participa (desta
maneira)19 da sua misericórdia concedida a todos (judeus e gentios), pois todos
estão igualmente encerrados na desobediência (11.28-32). Paulo termina
exaltando a Deus por sua sabedoria e conhecimento manifestados em seus juízos
e caminhos soberanos (11.33-36).

II. A Antítese entre Legalismo e Fé e a Nova Perspectiva

Para os eruditos da "nova perspectiva", esta passagem não apresenta qualquer


indício de que Paulo esteja combatendo o legalismo judaico. E. P. Sanders, por
exemplo, argumenta que em 10.3 o contraste é entre a justiça que está disponível
somente ao povo do pacto, o qual é observante da Torá, e uma justiça disponível
pela fé a todos:

Sua própria justiça, em outras palavras, significa aquela justiça que somente os
judeus têm o privilégio de possuir, antes que justiça própria que consiste em os
indivíduos apresentarem seus méritos como uma reivindicação diante de Deus.20

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J. D. G. Dunn entende que i)di/an, "própria," refere-se não ao status justo que
cada israelita buscava alcançar, mas à "justiça que é peculiar ao povo do pacto, a
justiça que era possessão somente deles e não dos gentios."21 S. R. Bechtler
conclui:

O problema descrito em 10.3, portanto, não é que Israel, pelos seus esforços
meritórios, esteja procurando criar a sua própria justiça, mas que o seu zeloso
apego à sua visão exclusivista do pacto impede a possibilidade da oferta da
salvação aos gentios fora do pacto.22

Todavia, toda esta seção (capítulos 9-11), bem como toda a carta, mostra que a
justiça própria que os judeus procuram estabelecer encontra-se em oposição à
justiça de Deus, ficando assim do lado oposto no paralelismo antitético que
permeia toda a carta: por um lado a miséria e as realizações humanas e por outro
a ação redentora divina em Cristo através da justiça e)k pi/stewj, "pela fé". Não há
como negar o fato de que Paulo estabelece fortemente uma antítese ao legalismo
judaico; é o que comprovaremos abaixo.

A. Antítese no contexto próximo

1. Romanos 9.1-29 - Somente os filhos da promessa são considerados filhos de


Deus e não todos os descendentes naturais de Abraão (9.6-8). Em 9.9, a
promessa de um filho para Sara contrasta com a providência de Abraão (não
mencionada no texto) de obter filho da escrava. No caso dos filhos de Rebeca,
Paulo enfatiza que a eleição23 de Deus independe das obras praticadas, sejam
boas ou más, quer pelo que é aceito ou pelo que é rejeitado (9.10-13). Ao
enfatizar que a salvação é concedida somente aos que são contemplados pela
misericórdia de Deus, Paulo mostra que a vontade e o esforço humanos nada
podem reivindicar de Deus (9.14-18). O homem não se encontra numa posição na
qual possa reclamar das escolhas de Deus (9.19-20). Tanto os "vasos de ira"
como os "vasos de misericórdia" indicam a situação de miséria do homem (9.21-
23). Os verbos e particípio e)ka/lesen, "chamou", kale/sw, "chamarei" ,
h)gaphme/nwn, "amada" , klhqh/sontai, "serão chamados", swqh/setai, "será
salvo", poih/sai, "cumprirá" e e)gkate/lipen , "deixado," mostram que somente a
ação de Deus pode reverter a miséria do homem (judeu ou gentio) (9.24-29).

2. Romanos 9.30-10.21 - Não foi o esforço humano (mh\ diw/konta, "que não
buscavam") que levou os gentios a alcançarem a justiça e)k pi/stewj, "que decorre
da fé". Por outro lado, Paulo mostra que Israel fracassou em sua busca da no/mon
dikaiosu/nhj, "lei de justiça", porque o fez ouk ) e)k pi/stewj a)ll )w(j e)c e)/rgwn,
"porque não decorreu da fé, e, sim, como que das obras"24 (9.30-32). O caminho
das obras (em contraste com o caminho da fé) implica num tropeço na pedra que
Deus colocou justamente para que o homem, nela crendo, não ficasse mais nessa
miserável posição de humilhação (ou) kataisxunqh/setai, "não será confundido")
(9.32-33). Paulo deixa claro que apesar do zelo que demonstram por Deus, os
judeus não possuem a salvação (10.1-2). Esta salvação de Deus é recebida
quando o homem cessa de usar a lei (te/loj no/mou, "fim da lei") para estabelecer

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a justiça própria e, deixando de ignorar o caminho de justiça que Deus
providenciou, ele se sujeita a esta justiça, crendo que em Cristo ele é salvo
independentemente de qualquer justiça própria (10.3-4). Paulo estabelece um
contraste (de, "mas" em 10.6) entre a justiça e)k [tou=,] no/mou, "decorrente da
lei," e a justiça e)k pi/stewj, "decorrente da fé": pela primeira o homem só obtém
vida mediante a prática da lei, o que lhe é impossível;25 pela segunda o homem é
salvo apenas crendo e confessando que em Cristo Deus é quem agiu para nos
libertar de nossa miséria. Pela invocação do nome do Senhor o homem reconhece
tanto o seu fracasso em atender às demandas da lei, como também a suficiência
do poder de Deus para nos salvar (10.5-15). Tanto a incredulidade e a rebeldia de
Israel, como a insensatez e a indiferença dos gentios, mostram a miséria humana
e contrastam com a bondade de Deus em chamar a todos para receberem o seu
favor (quer enviando pregadores do evangelho, ou provocando ciúmes e ira, quer
revelando-se ou estendendo a mão, 10.16-21).

3. Romanos 11.1-36 - É a graça de Deus (xa/riti, "pela graça") e não as obras dos
homens (ou)ke/ti e)c e)/rgwn , "já não é pelas obras") que determina a eleição
divina do remanescente de Israel, eleição essa que traz salvação a esse
remanescente (ontem e hoje), em contraste com o fracasso da atual busca de
Israel que só traz mais endurecimento, cegueira e miséria (11.1-10). Somente
Deus pode reverter a miséria humana: primeiro, Deus usa o tropeço de Israel para
trazer a salvação, riqueza e reconciliação aos gentios; segundo, Deus usa o ciúme
de Israel para salvar e restabelecer à vida os que fazem parte da plh/rwma
a)utw=n, "sua plenitude"; só Deus, em sua bondade, é poderoso para enxertar
(pela fé) os gentios na oliveira boa, e nela reenxertar (afastando a
incredulidade)26 os ramos naturais cortados (judeus incrédulos) (11.11-24).
Enquanto as palavras "impiedades", "pecados", "inimigos" descrevem a miséria
judaica, por outro lado, Deus, em sua fidelidade e amor, é aquele que liberta
completamente o seu povo (11.25-29). Tanto gentios como judeus estão
aprisionados na desobediência; somente pela misericórdia de Deus podem ser
libertados (11.30-32). Só Deus merece o louvor das suas criaturas, pois ninguém
primeiro deu a ele para que Deus lhe ficasse devendo uma retribuição, pelo
contrário, "dele e por meio dele e para ele são todas as cousas. A ele, pois, a
glória eternamente. Amém."(11.33-36).

Em resumo: O contexto descreve os judeus incrédulos como estando cortados da


raiz santa, aprisionados na desobediência, vivendo em impiedade e pecados
como inimigos, estando endurecidos, cegados, num estado de miséria, tendo
tropeçado, procurando, todavia, ser zelosos por Deus, porém sem entendimento,
tentando estabelecer sua justiça própria, justiça que julgam provir da lei, como que
pelas obras, ignorando a justiça de Deus em Cristo, não se sujeitando a ela, tendo
fracassado completamente em seus esforços. Estão mortos (11.15)!27 Schreiner,
tendo em mente as idéias de J. D. G. Dunn, observa corretamente: "Práticas que
separavam os judeus dos gentios, tais como circuncisão, sábado e leis
alimentares, não são sequer mencionadas nesta seção da carta." E conclui:

Parece que a maneira mais natural de se ler Romanos 9.32 e 10.3 é ver que os

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judeus fracassaram ao tentarem ser justos com base em suas obras, e estas
obras não podem ser limitadas a parte da lei. Assim, está evidente no texto uma
crítica à justiça-de-obras num sentido amplo. Embora Paulo proclame a inclusão
dos gentios em Romanos 9-11, os judeus não são especificamente reprovados por
serem tão exclusivos em Romanos 9.30-10.8. Pelo contrário, eles são censurados
por fracassarem na obediência à lei e por legalismo.28

B. Antítese na carta

1. Romanos 3.19-20 - Nesta passagem Paulo está resumindo o seu argumento


anterior (Rm 1.18-3.18). O significado de "obras da lei" em 3.20 não pode ser
separado do que Paulo diz a respeito da lei em Romanos 2. Nesse capítulo, Paulo
claramente está procurando convencer os judeus do fracasso de sua tentativa de
guardar a lei. Paulo não os critica por observarem a circuncisão, mas por não
obedecerem às normas morais da lei (2.21-22) enquanto pensam que a
circuncisão poderia protegê-los do julgamento de Deus. Conclui-se que "obras da
lei" em 3.20 designa de maneira ampla os atos exigidos pela lei, e a razão para a
condenação é o fracasso em se guardar a lei. Romanos 3.20 fala da incapacidade
humana para obedecer a lei. O problema não é uma atitude errada ou um espírito
exclusivista, mas sim a desobediência. Paulo afirma que ninguém será justificado
por fazer o que a lei requer, pois ninguém obedece toda a lei.

2. Romanos 3.27-4.529 - Apesar da nova exegese deste texto apresentada pelos


representantes da nova perspectiva,30 a maneira mais natural de se ler esta
passagem é ver aqui uma polêmica contra a tentativa de se obter salvação pela
prática de boas obras. Paulo afirma que a jactância foi excluída não pela "lei das
obras" mas pela "lei da fé". O verso 28 provê a base (ga/r, "pois") para a exclusão
dessa jactância. A jactância é excluída porque "o homem é justificado pela fé
independentemente das obras da lei." Como "obras da lei" refere-se à lei como um
todo, pode-se concluir que Paulo está falando contra aqueles que chegam a se
orgulhar por tentarem obter a salvação por sua prática das obras prescritas na lei
de Moisés. Paulo continua tratando do mesmo assunto usando o caso de Abraão
em 4.1-5. A prática de determinadas obras constitui a base para a jactância (4.2).
Se Abraão tivesse sido justificado desta maneira, Deus lhe seria obrigado a pagar
o salário por ter realizado essa obra requerida (4.4). Mas não foi assim que
Abraão foi justificado; foi a sua fé em Deus que lhe foi imputada/reconhecida para
justiça (4.3), e assim, como ímpio que era, ele recebeu a dom divino da justiça
salvadora (4.5).31

3. Romanos 4.6-8 - Davi fala de uma "justiça à parte das obras" como sendo a
bênção do perdão das iniqüidades e pecados. Para Davi, "iniqüidades" e
"pecados" (verso 7) são uma outra maneira de descrever as obras que se diz
estarem faltando (xwri\j e)/rgwn, "independentemente de obras") no verso 6. Não
se pode inferir das palavras de Paulo que os "pecados de Davi" consistiam numa
ênfase na circuncisão ou em outros "emblemas separadores" que causavam a
exclusão dos gentios do povo de Deus (a circuncisão, as leis dietárias, e o
calendário religioso judaico). As suas "impiedades" e "pecados" descritos aqui são

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termos gerais para aquele que peca por desobedecer a lei. Schreiner conclui:

A conexão entre o fracasso (sic) de Davi em realizar as "obras" necessárias em


4.6 e a reivindicação de Paulo de que a justiça é "à parte das obras da lei" (3.28)
sugere que a razão pela qual as "obras da lei" não justificam é o fracasso em se
obedecer toda a lei.32

Na conclusão de sua pesquisa na carta aos Gálatas, Augustus N. Lopes


afirma:

...o ataque de Paulo às "obras da lei" em Gálatas faz parte da sua polêmica mais
geral contra o sistema legalista e inadequado do judaísmo palestino, como uma
religião de méritos e em direta oposição ao evangelho da graça revelado em
Cristo, conforme tradicionalmente se vem afirmando. Embora a ênfase de Dunn na
função sociológica da lei nos desafie a ampliar nossa interpretação e incluir
também este aspecto na polêmica de Paulo contra as "obras da lei" em Gálatas,
sua tese fundamental, bem como muitas teses da "nova perspectiva" sobre o
judaísmo e Paulo, não pode ser aceita senão debaixo de severas restrições e
qualificações. Portanto, desde que não conseguimos ser convencidos por elas,
resta-nos permanecer com a interpretação tradicional, que, mesmo parecendo
antiquada e indefensável para muitos, continua refletindo mais exatamente a
intenção de Paulo ao afirmar que a salvação é pela fé, sem as "obras da lei".33

III. Fim ou Alvo da Lei ?

Já vimos que o contexto mostra (1) que Paulo está combatendo o legalismo
judaico, (2) que os judeus deveriam ter cessado de usar a lei para tentar
estabelecer a justiça própria, (3) que a salvação oferecida na pregação da fé
implica numa sujeição à justiça de Deus, ou seja, em cessar de confiar nos
supostos méritos próprios (provindos da prática das obras da lei) para confiar
somente em Cristo, o Redentor, (4) que Cristo é um salvador tão suficiente que
para o homem receber essa salvação ele deve cessar de inquirir sobre o que
precisa praticar para ser salvo, pois basta invocar o nome do Senhor, crendo e
confessando a Jesus como Senhor. Diante disso, vemos que Paulo está tratando
da questão da experiência pessoal da salvação, da apropriação da justiça de Deus
em Cristo. É nesse contexto que ele afirma que Cristo é fim da lei (te/loj no/mou)
para justiça a/para/de todo o que crê, e a maneira mais natural de entender esta
expressão, de acordo com o contexto é: "Cristo é a cessação da lei com vistas à
justiça, isto para todo o que crê."

Notamos que Paulo não está fazendo uma declaração abrangente sobre o
relacionamento entre o Velho Testamento e o Novo Testamento, ou afirmando que
no Novo Testamento a lei tem um papel predominantemente negativo. Parece ser
esse o receio dos que, apesar de aceitarem que no contexto Paulo trata do
legalismo judaico, ainda preferem traduzir te/loj por "alvo". É o caso de C. E. B.
Cranfield:

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Aqueles que pensam que a atitude de Paulo para com a lei era
predominantemente negativa são naturalmente inclinados a escolher o sentido,
"terminação"...Esta interpretação possui muitos adeptos; mas, à vista de
passagens tais como Romanos 7.12, 14a, 8.4, 13.8-10 e da declaração categórica
em Romanos 3.31, e também do fato de que Paulo repetidamente apela para o
Pentateuco para apoiar os seus argumentos (talvez especialmente sugestivo seja
o fato que ele faz assim em Romanos 10.6-10), parece extremamente provável
que ela deva ser rejeitada, e a tradução "alvo" preferida.34

Vê-se que este receio de Cranfield o impediu até de considerar a interpretação


que defendemos, a qual não implica numa abrogação da lei no Novo Testamento.
Entende-se a posição de Cranfield como uma reação contra os que afirmam que
em Romanos 10.4 Paulo ensina que Cristo aboliu a lei. Não é este o nosso caso.
Concordo inteiramente com a advertência e conclusão de Schreiner:

...o principal problema com muitas interpretações de Romanos 10.4 é que os


eruditos estão tentando apoiar seu entendimento global do relacionamento entre a
lei e o evangelho com base neste texto. Conseqüentemente, grandes batalhas são
travadas sobre se Cristo é o alvo ou o fim da lei. Os assuntos nesta disputa
teológica são inteiramente cruciais, e carecem de novas discussões. Mas a minha
tese neste artigo é que Paulo em Romanos 10.4 tem em vista algo mais modesto.
O problema específico que ele combate é a tendência humana de fazer mal uso
da lei para estabelecer a justiça própria. O propósito do texto não é prover uma
declaração programática sobre o relacionamento entre o evangelho e a lei. Paulo
está respondendo a um problema específico: o uso da lei para se estabelecer a
justiça própria. Não é para se surpreender, então, que Romanos 10.4 viesse a
conter um declaração experimental, pois Paulo está reagindo a um problema
experimental. Tal tentativa de se estabelecer a justiça própria tem grandes
conseqüências para Paulo, visto que os que assim fazem fracassaram em se
submeter à justiça salvadora de Deus. Eles deveriam ter se submetido à justiça de
Deus, visto que crer em Cristo é o fim de se usar a lei para estabelecer a justiça
própria para todos os que crêem.35

A. A Palavra "te/loj"

Alguns afirmam que te/loj em Paulo geralmente significa "alvo". Todavia, essa
teoria não pode ser sustentada pela evidência. A única passagem Paulina em que
te/loj pode significar "alvo" é 1 Timóteo 1.5. Os dois usos de te/loj em Romanos
6.21-22 devem ser traduzidos por "resultado" e não por "alvo". Em 2 Coríntios 3.13
te/loj deve ser traduzido por "fim"; dificilmente poderia significar "alvo". O sentido
temporal de te/loj pode ser constatado como predominante no Novo Testamento,
tanto em construções preposicionais (certamente em Mt 10.22; 24.13; Mc 13.13; 1
Co 1.8; Hb 3.14; 6.11; Ap 2.26; provavelmente em Lc 18.5; Jo 13.1; 2 Co 1.13; 1
Ts 2.16), como em construções sem preposição (certamente em Mt 24.6, 14; Mc
3.26; 13.7; Lc 1.33; 21.9; 1 Co 15.24; Hb 7.3; 1 Pe 4.7; Ap 21.6; 22.13;
provavelmente em Mt 26.58). As únicas passagens em que te/loj poderia significar
"alvo", em nosso entender, além de 1 Timóteo 1.5, são 1 Pedro 1.9 e Lucas 22.37.

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Em Romanos 10.4 ambas as interpretações são possíveis, dado o uso da palavra;
todavia, a maneira mais comum em que Paulo usa esse termo nos leva a esperar
o sentido "fim". Não há, como vimos na análise anterior, argumentos contextuais
para preferirmos "alvo"; portanto, linguisticamente é preferível traduzir te/loj por
"fim". Käsemann afirma ser ridículo enfatizar a conexão lógica com a metáfora de
corrida em 9.31s e, em assim fazendo, esquecer de 9.32s.36

B. Argumentos Finais na Interpretação de Romanos 10.4

A relação lógica entre os versos 3 e 4 apoia a nossa interpretação. A conjunção


ga/r, "porque," no início de 10.4, mostra que este verso está intimamente ligado ao
verso anterior. A principal proposição do verso 3 é que os judeus não se
submeteram à justiça de Deus. Vimos que a melhor maneira de entendermos isso
é que os judeus não se submeteram à ação de Deus pela qual ele declara justos
os que nele confiam. Os dois particípios (a)gnoou=ntej, "desconhecendo," e
zhtou=ntej, "procurando") no verso 3 explicam a razão pela qual os judeus não se
submeteram à justiça salvadora de Deus: porque eles ignoraram a justiça de Deus
e porque eles tentaram estabelecer a sua própria justiça. Vimos pela ligação com
o contexto (em especial 9.30-33) e com toda a polêmica contra o legalismo judaico
nesta carta, que Paulo está afirmando que alguns judeus pensavam que poderiam
obter justiça pela prática daquilo que a lei determina. Está claro que Paulo entende
que eles estavam errados em não se sujeitar à justiça de Deus e que esta sujeição
deveria se expressar através da fé em Cristo. O verso 4, então, provê a razão pela
qual os judeus deveriam ter se submetido à justiça de Deus: Cristo põe um fim à
tentativa de se estabelecer a justiça própria. Leon Morris registra a expressão de
Victor P. Furnish: Cristo "escreve ‘finis’ ao triste espetáculo da vã tentativa humana
de alcançar a vida através das obras da lei."37 Schreiner acertadamente observa:

A íntima conexão entre os versos 3-4 demonstra que Paulo não está fazendo uma
declaração teológica global entre a lei e o evangelho no verso 4. Ele está
respondendo ao problema específico levantado no verso 3 de pessoas
erroneamente usando a lei para estabelecer sua própria justiça. No verso 4 Paulo
afirma que aqueles que crêem em Cristo cessam de usar a lei como um meio para
se estabelecer a justiça própria.38

Há pessoas que desaprovam esta exegese afirmando que ei)j dikaiosu/nhn, "para
justiça," está mais próximo de Xristo/j, "Cristo", do que de te/loj ga/r no/mou,
"porque o fim da lei". Devemos notar, entretanto, que esta última frase é movida
para o início da oração para dar ênfase ao fato de que Cristo põe um fim nessa
atitude errada para com a lei. "Seifrid corretamente argumenta que ei)j
dikaiosu/nhn, "para justiça," não está relacionado a tudo quanto precede mas
somente ao nominativo predicativo te/loj no/mou, "fim da lei"."39

A expressão panti\ t%= pisteu/onti, "a/para/de todo o que crê," dá suporte à idéia
de que Paulo não está fazendo uma declaração global sobre a relação entre o
evangelho e a lei. Cristo não é o fim de se usar a lei para justiça no caso dos

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judeus do verso 3. O verso 4 é uma declaração acerca da experiência dos crentes
em Cristo, qual seja: todos os que confiam em Cristo para serem justificados
cessam de usar a lei para estabelecer a sua própria justiça.

A partícula ga/r, "pois, ora," no verso 5 indica que os versos 5-8 provêem uma
base para o verso 4: o verso 5 afirma que aquele que busca a justiça da lei viverá
somente se praticar a lei . Por causa da exigência da prática da lei pelo homem40
nesse verso 5 e o contraste das obras com a fé em todo o contexto, como temos
mostrado, deve-se concluir que há uma idéia implícita neste verso, qual seja:
ninguém pode cumprir a lei e, assim, a justiça não pode ser alcançada através da
tentativa de se guardar a lei. Os versos 6-8 ensinam que Cristo já realizou tudo o
que nos era impossível de cumprir. A justiça não vem pela prática da lei, pois
ninguém pode cumpri-la perfeitamente; a justiça é oferecida mediante a fé em
Cristo. Desta maneira, os versos 5-8 fundamentam o verso 4 ao confirmarem que
o crer em Cristo põe um fim em toda a tentativa de se obter justiça através da lei.

É importante observar que Paulo não está sugerindo aqui que antes da vinda de
Cristo todos os judeus usavam a lei para estabelecer a justiça própria. Paulo
ensina que Abraão (Rm 4.1-5; Gl 3.6-9) e Davi (Rm 4.6-8) foram salvos pela fé e
não pelas obras. É justo entender que Paulo está mencionando Cristo no verso 4
porque agora, com a chegada de Cristo na plenitude dos tempos41 (Gl 4.4), o
modo específico de se manifestar confiança em Deus e em suas promessas é
depositar a confiança em Deus que enviou seu Filho para fazer propiciação pelos
nossos pecados (Rm 3.21-26).

IV. Conclusão

Romanos 10.4 deve ser entendido a partir da perspectiva da polêmica de Paulo


contra o legalismo judaico. Os judeus deveriam ter deixado de procurar
estabelecer a sua própria justiça pela prática da lei porque pela prática da lei
ninguém será justificado, visto que todos, judeus e gentios, estão debaixo do
pecado. Antes, eles deveriam ter se submetido à justiça de Deus crendo em
Cristo. Cristo, sim, realizou aquilo que é impossível aos homens, para obter-lhes a
justiça, a qual ele lhes oferece gratuitamente pela fé, à parte das obras da lei. Os
judeus deveriam, portanto, ter compreendido que Cristo, para aquele que crê, põe
um fim a esta maneira errônea de buscar a justiça pelas obras da lei.

Paulo não está fazendo uma declaração teológica global acerca do


relacionamento entre a lei e o evangelho. Ele não está afirmando que a lei foi
abolida, nem que Cristo é o alvo da lei, nem que a exclusividade da lei foi posta de
lado, etc. Ele está tratando, a partir da perspectiva da experiência dos crentes, do
problema do legalismo dos judeus: Cristo, para o crente, é o fim do legalismo.
Usando a frase de Furnish: Cristo "escreve ‘finis’ ao triste espetáculo da tentativa
humana de obter vida através das obras da lei."

V. Implicações Práticas de"Alvo" ou "Fim"

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 106


O problema do legalismo não foi só do judeu no passado, mas está sempre
presente como uma tentação para os cristãos de todos os tempos. É comum hoje
encontrar crentes legalistas que não se dão conta da incoerência de suas
posições: confiam em Cristo como Salvador, mas sentem que precisam fazer algo
para merecer a sua salvação. Pastores se debatem contra o legalismo evangélico
de suas ovelhas; parece que a soteriologia legalista do romanismo, espiritismo,
etc., ainda influencia a vida de fé dos convertidos. Problemas de depressão
espiritual têm, por vezes, como raiz, uma apreensão defeituosa e distorcida da
justificação pela fé. Ademais, na evangelização do povo brasileiro é imprescindível
focalizar que Cristo põe fim à tendência humana de pensar que se pode "comprar"
com obras a eterna salvação.

Vê-se que este texto de Paulo é tremendamente prático, e aplica-se a todos os


casos acima mencionados, ajudando para que hoje as pessoas tenham uma
verdadeira experiência da salvação, uma fé verdadeira. Esta nossa interpretação
entende que Paulo está tratando da experiência das pessoas de seu tempo, de
seus patrícios que erraram nessa área, bem como de crentes que descobriram em
Cristo a libertação do legalismo. A interpretação que traduz te/loj por "alvo" não
realça tanto este aspecto experimental presente tanto no texto como em seu
contexto, pelo contrário, introduz uma discussão teológica sobre o relacionamento
entre os testamentos que chega a obscurecer o contraste (em 10.5-15) entre o
caminho inviável das obras e o caminho da graça mediante a fé em Cristo.

Notas
1 Ver, por exemplo, o artigo de Douglas J. Moo, "Paul and the Law in the Last Ten
Years," em Scottish Journal of Theology 40 (1987) 287-306.

2 Conferir o esforço para categorizar os usos paulinos de no/moj, "lei," por


exemplo, em Douglas J. Moo, "‘Law’, ‘Works of the Law,’ and Legalism in Paul,"
em Westminster Theological Journal 45 (1983) 73-100.

3 John M. G. Barclay, em seu artigo "Paul and the Law: Observations on Some
Recent Debates," em Themelios 12 (September 1986) 5-15, oferece um excelente
resumo dos principais pontos em debate.

4 Thomas R. Schreiner, em seu artigo "‘Works of the Law’ in Paul," em Novum


Testamentum 33 (1991) 217-244, apresenta e combate as novas soluções; James
D. G. Dunn, em "The New Perspective on Paul," em Bulletin of the John Rylands
Lybrary 65 (1983) 95-122, descreve o novo panorama nos estudos paulinos e
defende a sua teoria.

5 S. K. Williams, "The ‘Righteousness of God’ in Romans," em Journal of Biblical


Literature 99 (1980) 254.

6 J. C. Beker, Paul the Apostle (Philadelphia: Fortress, 1980) 89.

7 "E não pensemos que a palavra de Deus haja falhado" (9.6) é confirmado

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 107


adiante em 9.28: "porque o Senhor cumprirá a sua palavra sobre a terra,
cabalmente e em breve". Toda a seção é recheada de citações do Velho
Testamento para comprovar o cumprimento da palavra de Deus.

8 Paulo neste ponto menciona a antítese sustentada em toda a carta: a salvação


de Deus não é procedente de obras humanas. Ver 9.32 e 11.6.

9 Esta mesma distinção interna dentro da descendência "segundo a carne" de


Abraão também é feita em 9.6 ("Israel"), 9.7 ("seus filhos", "tua descendência"),
9.8 ("filhos de Deus", "devem ser considerados como filhos da promessa"), 11.5
("remanescente segundo a eleição da graça"), 11.7 ("a eleição"), 11.12: ("a sua
plenitude"), e 11.28 ("amados por causa dos patriarcas"). Ver também Romanos
2.28-29 ("judeu é aquele que o é interiormente").

10 Romanos 10.19-20 revela que esta conquista dos gentios é fruto da iniciativa
de Deus.

11 A antítese agora é entre "das obras" e "da fé" sendo que em 9.11 (no grego,
v.12) é entre "por obras" e "por aquele que chama", isto por causa da perspectiva
usada em cada seção. Em 11.6 é entre "pelas obras" e "pela graça".

12 Comparar o sentido do verbo em 1 Coríntios 14.38 e Romanos 2.4.

13 Paulo já havia tratado desta justiça de Deus em Cristo "no tempo presente" em
3.21-26.

14 Esta é a interpretação que defenderei adiante.

15 Comparar com 2.13 ("Porque os simples ouvidores da lei não são justos diante
de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados") e 2.25 ("Porque a
circuncisão tem valor se praticares a lei").

16 Paulo já tinha mostrado que o judeu é transgressor da lei em 2.17-27. Também


em 3.9-19, 23.

17 Não há como negar o paralelo com 9.30-32 (diw/kwn no/mon dikaiosu/nhj, "que
buscava lei de justiça") e 10.1-5.(th\n i)di/an [dikaiosu/nhn] zhtou=ntej sth=sai,
"procurando estabelecer a sua própria (justiça)".

18 "Todo o Israel" (11.26) que será salvo é distinto da nação de Israel como um
todo (11.25), tal como em 9.6: "nem todos os de Israel são de fato israelitas". Ver
também 2.28, 29; 4.12; 9.7-8.

19 Acima descrita: possuindo um remanescente eleito pela graça de Deus (9.6-8,


23, 27-29, 11.5-7, 12, 26), o qual está sendo e será salvo (9.24, 27; 11.1-5, 14, 15,
25-27, 31-32) pela fé em Jesus (10.9-13; 11.20 com 11.23), mesmo que seja
mediante a incitação à emulação (10.19; 11.11-14, 23-24, 28, 30-32).

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 108


20 E. P. Sanders, Paul, the Law, and the Jewish People (Philadelphia: Fortress,
1983) 38. Tradução minha, itálicos dele.

21 J. D. G. Dunn, Romans, WBC (Dallas: Word, 1988) 2:587, tradução minha.

22 S. R. Bechtler, "Christ, the te/loj of the Law: The Goal of Romans 10:4," em
Catholic Biblical Quarterly, 56 (1994) 298, tradução minha.

23 A palavra e)klogh/, "eleição" (9.11), é a mesma usada para a eleição da graça


para a salvação em 11.5-7, onde também há um contraste com e)c e)/rgwn, "pelas
obras".

24 Esta expressão no presente contexto indica a realização humana tentando


alcançar justiça. Moo observa que neste contexto (9.11-12) "obras" deve incluir
qualquer coisa que os homens façam, "quer boa ou má", e afirma: "‘Obras’ são
consideradas como sendo boas ações que poderiam ser concebidas como
meritórias " ( "‘Law’, ‘Works of the Law,’" 95-96, tradução minha, itálicos dele).

25 Paulo já havia mostrado em 3.20 que este caminho é impossível ao pecador:


"visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que
pela lei vem o pleno conhecimento do pecado," e já havia dado a razão em 3.9:
"pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo
do pecado".

26 Comparar com 11.26: "apartará de Jacó as impiedades".

27 É surpreendente como esta descrição se encaixa com o "eu" de Romanos 7.9-


25: "...e eu morri. E o mandamento que me fora para vida, verifiquei que este
mesmo se me tornou para morte. Porque o pecado, prevalecendo-se do
mandamento, pelo mesmo mandamento me enganou e me matou" (7.9b-11).

28 Thomas R. Schreiner, "Paul’s View of the Law in Romans 10.4-5," em


Westminster Theological Journal 55 (1993) 116-117, tradução minha.

29 Ver a defesa de Schreiner de que 3.27-28 trata do mesmo assunto que 4.1-5,
em "‘Works of the Law’ in Paul," 232.

30 Ver exposição e avaliação por Schreiner, "‘Works of Law’ in Paul," 233-238.

31 Para uma defesa convincente a partir deste e de outros textos paulinos de que
Paulo combatia o legalismo, veja R. H. Gundry, "Grace, Works, and Staying Saved
in Paul," em Biblica 66 (1985) 1-38. Também B. L. Martin, Christ and the Law in
Paul, SuppNovT 62 (Leiden: Brill, 1989) 93-96.

32 Schreiner, "‘Works of the Law’ in Paul," 229, tradução minha.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 109


33 Augustus N. G. Lopes, "Paulo e a Lei de Moisés: Um Estudo sobre as ‘Obras
da Lei’ em Gálatas" em Chamado para Servir: Ensaios em Homenagem a Russell
P. Shedd, ed. Alan B. Pieratt (São Paulo: Vida Nova, 1994) 71.

34 C. E. B. Cranfield, "St. Paul and the Law," em Scottish Journal of Theology


(1964) 49, tradução minha.

35 Schreiner, "Paul’s View of the Law in Romans 10:4-5," 124, tradução minha.

36 E. Käsemann, Commentary on Romans (Grand Rapids: Eerdmans, 1980) 283.

37 L. Morris, The Epistle to the Romans (Grand Rapids: Eerdmans, 1988) 381,
tradução minha.

38 Schreiner, "Paul’s View of the Law in Romans 10:4," 122, tradução minha.

39 Ibid., 123, referindo-se a M. A. Seifrid, "Paul’s Approach to the Old Testament in


Romans 10:6-8," em Trinity Journal 6 (1985) 9, nota 29, tradução minha.

40 Cranfield entende que se trata do homem Jesus Cristo e que o de\, "mas," no
verso 6 indica o contraste entre o justo estado que Cristo obteve por sua
obediência, por suas obras, e o justo estado que os homens recebem pela fé nele
(Romans, 2:521-22). Ao fazer isso Cranfield se vê obrigado a afirmar que a citação
desse mesmo verso de Levítico 18.5 em Gl 3.12 também refere-se à obediência
de Cristo (Romans, 2:522 n. 2), o que é totalmente improvável. Contra Cranfield
veja a argumentação de F. F. Bruce, Commentary on Galatians, NIGNTC (Grand
Rapids: Eerdmans, 1982) 163; e também Schreiner, "Paul’s View of the Law in
Romans 10:4," 126.

41 Käsemann corretamente chama atenção para o "argumento profundamente


apocalíptico" do texto, mas erroneamente o liga a uma descontinuidade e
contradição entre a lei e Cristo (Romans, 282).

Parte XX
OS IRMÃOS DE JESUS
Os "irmãos de Jesus", de que fala a Bíblia, seriam apenas seus primos? José
continuou sem conhecer sua esposa mesmo depois do nascimento de Jesus? O
que dizem os comentaristas nas bíblias aprovadas pela Igreja Católica? É
admissível supor que os irmãos de Jesus, que não criam nele, fossem seus
apóstolos? Tentaremos encontrar respostas para essas indagações. Usaremos as
seguintes versões bíblicas:

(a) A BÍBLIA DE JERUSALÉM, Paulus Editora, 1973, 8a impressão em


janeiro/2000, rubricada em 1.11.1980 por Paulo Evaristo Arns, Arcebispo
Metropolitano de São Paulo. O trabalho de tradução foi "realizado por uma equipe
de exegetas católicos e protestantes e por um grupo de revisores literários". Nas
referências, será assim mencionada: Bíblia {católica] de Jerusalém.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 110


(b) BÍBLIA SAGRADA, Edição Ecumênica, tradução do padre Antônio Pereira de
Figueiredo; notas e dicionário prático pelo Monsenhor José Alberto L. de Castro
Pinto, Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro; edição aprovada pelo cardeal D. Jaime de
Barros Câmara, Arcebispo do Rio de Janeiro; BARSA, 1964. Nas referências, será
designada assim: Bíblia [católica] Sagrada.

(c) BÍBLIA APOLOGÉTICA, João Ferreira de Almeida, Corrigida e Revisada, ICP


Editora, 2000, notas do Instituto Cristão de Pesquisas. Será assim indicada: Bíblia
Apologética.

(d) BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, Almeida, revista e corrigida, Casa


Publicadora das Assembléias de Deus (CPAD), 1995. será referida: Bíblia de
Estudo Pentecostal.

Inicialmente, veremos os versículos que falam dos "irmãos de Jesus", extraídos da


Bíblia [católica] de Jerusalém:

"Não é ele o filho do carpinteiro? E não se chama a mãe dele Maria e seus irmãos
Tiago, José, Simão e Judas? E as suas irmãs não vivem todas entre nós? Donde
então lhe vêm todas essas coisas? E se escandalizavam dele. Mas Jesus lhes
disse: "Não há profeta sem honra, exceto em sua pátria e em sua casa" (Mateus
13.55-58; Marcos 6.3-6).

"Estando ainda a falar às multidões, sua mãe e seus irmãos estavam fora,
procurando falar-lhe.Jesus respondeu àquele que o avisou: "Quem é minha mãe e
quem são meus irmãos?" E apontando para os discípulos com a mão, disse: "Aqui
estão a minha mãe e os meus irmãos, porque aquele que fizer a vontade de meu
Pai que está nos Céus, esse é meu irmão, irmã e mãe". (Mateus 12.46-50; Marcos
3.32-35; Lucas 8.19-21).

"Depois disso, desceu a Cafarnaum, ele, sua mãe, seus irmãos e seus discípulos,
e ali ficaram apenas alguns dias". (João 2.12).

"Aproximava-se a festa judaica das Tendas. Disseram-lhe, então, os seus irmãos:


'Parte daqui e vai para a Judéia, para que teus discípulos vejam as obras que
fazes, pois ninguém age às ocultas, quando quer ser publicamente conhecido. Já
que fazes tais coisas, manifesta-te ao mundo!' Pois nem mesmo os seus irmãos
criam nele"(João 7.2-5).

"Tendo entrado na cidade, subiram à sala superior, onde costumavam ficar. Eram
Pedro e João, Tiago e André, Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus;Tiago, filho de
Alfeu, e Simão, o Zelota; e Judas, filho de Tiago.Todos estes, unânimes,
perseveravam na oração com algumas mulheres, entre as quais Maria, a mãe de
Jesus, e com os irmãos dele" (Atos 1.13-14). Comentários da Bíblia de Jerusalém:
"O apóstolo Judas é distinto de Judas, irmão de Jesus (cf. Mt 13.55; Mc 6.3) e
irmão de Tiago (Judas 1). Não se deve também, parece, identificar o apóstolo

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 111


Tiago, filho de Alfeu, com Tiago, irmão do Senhor (At 12.17; 15.13, etc)".

"Não temos o direito de levar conosco, nas viagens, uma mulher cristã, como os
outros apóstolos e os irmãos do Senhor e Cefas?" (1 Coríntios 9.5).

"Em seguida, após três anos, subi a Jerusalém para avistar-me com Cefas e fiquei
com ele quinze dias.Não vi nenhum apóstolo, mas somente Tiago, o irmão do
Senhor. Isto vos escrevo e vos asseguro diante de Deus que não minto" (Gálatas
1.18-20). Comentários da Bíblia de Jerusalém: "Outros traduzem: "a não ser
Tiago", supondo que Tiago faça parte dos Doze e se identifique com o filho de
Alfeu (Mt 10.3p), ou tomando "apóstolo" em sentido lato (cf.Rm 1.1+)".

A Igreja Católica assim se manifestou em seu Catecismo:

"A isto objeta-se por vezes que a Escritura menciona irmãos e irmãs de Jesus. A
Igreja sempre entendeu que essas passagens não designam outros filhos da
Virgem Maria: Com efeito, Tiago e José, "irmãos de Jesus" (Mateus 13.55), são os
filhos de uma Maria discípula de Cristo (Mateus 27.56), que significativamente é
designada como "a outra Maria" (Mateus 28.1). Trata-se de parentes próximos de
Jesus, consoante uma expressão conhecida do Antigo Testamento (Gênesis 13.8;
14.16; 29.15, etc.)" (Catecismo da Igreja Católica, p. 141. # 500).

De uma página de apologética católica na Internet colhemos a seguinte explicação


extra-oficial:

"São Lucas esclarece que Tiago e Judas eram filhos de Alfeu ou Cléofas (Lucas
6.15-16). Portanto o eram também José e Simão. Mas não Jesus, que sabemos
era filho de "José, o carpinteiro". Portanto, não poderiam ser irmãos carnais. Por
outro lado, São Mateus dá o nome da mãe deles: "Entre as quais estava... Maria,
mãe de Tiago e de José" (Mateus 27.56). Não se pode confundir esta Maria com
sua homônima, esposa de José, o carpinteiro. São João deixa bem clara essa
distinção: "Junto à cruz de Jesus estava sua mãe e a irmã (prima) de sua Mãe,
Maria, mulher de Cléofas" (João 19.25), cuja filha se chamava Maria Salomé. São
as bem conhecidas "três Marias". Aliás, atualmente os protestantes mais cultos já
nem levantam mais essa objeção".

Vejamos agora quais as "Marias" citadas nos evangelhos (Bíblia [católica] de


Jerusalém):

NA CRUCIFICAÇÃO

"Estavam ali muitas mulheres, olhando de longe. Haviam acompanhado Jesus


desde a Galiléia, a servi-lo. Entre elas, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e de
José, e a mãe dos filhos de Zebedeu" (Mt 27.56).

"E também ali estavam ali algumas mulheres, olhando de longe. Entre elas, Maria
Madalena, Maria, mãe de Tiago, o Menor, e de José, e Salomé" (Mc 15.40).

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 112


Comentário da referida Bíblia: "Provavelmente, [Salomé] é a mesma que Mt 27.56
denomina a mãe dos filhos de Zebedeu".

"Perto da cruz de Jesus, permaneciam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria,
mulher de Clopas, e Maria Madalena" (Jo 19.25). Comentários da referida Bíblia,
referindo-se "a irmã de sua mãe": "Ou se trata de Salomé, mãe dos filhos de
Zebedeu (cf. Mt 27.56p) ou, ligando essa denominação ao que se segue, "Maria,
mulher de Clopas".

NA RESSURREIÇÃO

"Após o sábado, ao raiar do primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra


Maria vieram ver o sepulcro" (Mt 28.1). Comentário da referida Bíblia sobre a
"outra Maria": "Isto é, "Maria [mãe] de Tiago" (Mc 16.1; Lc 24.10; cf. Mt 27.56)".

"Passado o sábado, Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago, e Salomé compraram


aromas para ir ungi-lo" (Mc 16.1-2).

"Eram Maria Madalena, Joana e Maria, mãe de Tiago" (Lc 24.10),

Vejamos agora quais os "Tiagos" citados nos evangelhos, conforme consta do


Dicionário na parte final da Bíblia [católica] Sagrada, item "b" retro:

1. Tiago - "O Maior (mais velho), filho de Zebedeu e Salomé e irmão de São João
Evangelista (Mt 4.21). era de Betsaida na Galiléia, pescador (Mc 1.19) e
companheiro de São Pedro como seus irmãos (Lc 5.10)."

2. Tiago - "O Menor (mais moço), filho de Alfeu ou Cléofas (Mt 10.3; Mc 3.18; Lc
6.15; At 1.13) e de Maria (Jo 19.25). Foi chamado "irmão do Senhor" (Gl 1.19), no
sentido semita [relativo aos judeus] que tem essa palavra que pode se aplicar aos
primos e outros consangüíneos em linha colateral mais afastados, e até mesmo
aos simples conacionais. Tiago Menor era primo de Jesus por ser sobrinho de S.
José. N. Senhor apareceu-lhe uma semana depois da Ressurreição (1 Co 15.7).
Foi o primeiro bispo de Jerusalém depois da dispersão dos Apóstolos.O fato de
Paulo o ter procurado (Gl 1.19) e de ter ele feito o discurso final no Concílio de
Jerusalém parece provar isto (At 15.13) Foi morto no Templo por instigação do
sumo Sacerdote Anás II, tendo sido lançado de uma galeria e espancado até à
morte (62 depois de Cristo)".

3. Epístola de S. Tiago - "Uma das epístolas católicas atribuída a São Tiago, o


menor..."

Vejamos agora quais os "Judas" citados nos evangelhos, segundo Dicionário da


Bíblia [católica] Sagrada, item "b" retro:

1. Judas - "Habitante de Damasco que hospedou S.Paulo (At 9.11)".

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 113


2. Judas Iscariotes - "O Apóstolo que traiu N. Senhor (Mt 10.4; Mc 3.19; Lc 6.16).
Iscariot quer dizer "homem de Cariot", aldeia de Judá".

3. Judas Tadeu - "Um dos doze apóstolos (Mt 10.3; Mc 3.18; Lc 6.16; Jo 14.22). É
o irmão de Tiago o Menor e "irmão", isto é, primo do Senhor (At 1.13); Mt 13.55;
Mc 6.3)".

4. Epístola de S. Judas Tadeu - Um dos livros canônicos do Novo Testamento,


classificado entre as chamadas "Epístolas Católicas".

A partir dessas informações surgem algumas indagações:

Primeiro - Os apóstolos Tiago (o Menor) e Judas (Tadeu) são os mesmos


chamados de "irmãos de Jesus" em Mateus 13.55 e Marcos 6.3? Que dizem as
bíblias católicas retrocitadas?

O que vimos foram interpretações discordantes. A Bíblia de Jerusalém diz nos


comentários sobre Atos 1.13 que "o apóstolo Judas é distinto de Judas, irmão de
Jesus", isto é, não são a mesma pessoa, ou seja, o apóstolo Judas é uma pessoa
e o irmão de Jesus, com idêntico nome, é outra pessoa. No mesmo passo, diz que
o apóstolo Tiago, filho de Alfeu, não é o mesmo Tiago, irmão do Senhor.
Reiterando a sua posição, referida Bíblia afirma nos comentários sobre Gálatas 1-
18-20: "Outros traduzem: "a não ser Tiago", supondo que Tiago faça parte dos
Doze e se identifique com o filho de Alfeu (Mt 10.3p), ou tomando "apóstolo" em
sentido lato (cf. Rm 1.1+)".

Por outro lado, a Bíblia Sagrada, católica, como discriminada no início deste
trabalho, assume posição diferente. O dicionário que compõe essa Bíblia diz que
"Tiago, o Menor, filho de Alfeu ou Cléofas (Mt 19.3; Mc 3.18; Lc 6.15; At 1.13) e de
Maria (Jo 19.25), foi chamado "irmão do Senhor". Diz mais que "Tiago Menor era
primo de Jesus por ser sobrinho de S.José". Confirmando, diz que "Judas Tadeu,
um dos apóstolos (Mt 10.3; Mc 3.18...) é o irmão de Tiago, o Menor, e "irmão", isto
é, primo do Senhor (At 1.13; Mt 13.55; Mc 6.3)". O descompasso é lamentável, a
menos que se configure aí o "livre-exame" - situação em que comentaristas ou
exegetas católicos interpretam livremente os textos bíblicos sem guardar
coerência com a cúpula do Vaticano.

No particular, concordo plenamente com a Bíblia [católica] de Jerusalém. Os


irmãos de Jesus (Mt 13.55 e Mc 6.3, etc.), não foram apóstolos ou mesmo
discípulos, pelo seguinte:

a) Os irmãos de Jesus não criam nEle. No registro de João 7.2-5 nota-se


claramente essa incredulidade. Entende-se, também, que Jesus evitou a
companhia deles nesse episódio (Jo 7.8-10). Ao dizerem "para que teus discípulos
vejam as obras que fazes" seus irmãos se excluíram do rol dos seguidores de
Jesus. Ademais, Jesus não iria escolher para apóstolo alguém que não cria nEle.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 114


b) Segundo, a Bíblia estabelece distinção entre ser discípulo e ser irmão de Jesus
(Jo 2.12; At 1.13-14; 1 Co 9.5; Gl 1.18-20). Por exemplo, em certa ocasião Jesus
estava com seus discípulos em determinado local, e lá fora estavam sua mãe e
seus irmãos (Mt 12.46-50; Mc 3.32-35; Lc 8.19-21).

Segundo, a tia de Jesus - irmã de sua mãe Maria - era Salomé, mãe dos filhos de
Zebedeu, ou era Maria, mulher de Cléofas?

Vejamos mais uma vez o que relata João 19.25: "Perto da cruz de Jesus,
permaneciam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e
Maria Madalena".

A frase está de tal forma postada que admite duas interpretações. A primeira é a
de que "a irmã de sua mãe" é uma pessoa, e Maria, mulher de Cléofas, outra. A
segunda hipótese é a de que o nome da tia de Jesus é Maria, a mulher de
Cléofas. A Bíblia [católica] de Jerusalém concorda comigo quando diz: "Ou se trata
de Salomé, mãe dos filhos de Zebedeu (Mt 27.56) ou, ligando essa denominação
ao que se segue, "Maria, mulher de Clopas".

A Bíblia Sagrada, edição católica, afirma no seu "dicionário": "Maria de Cléofas" é


irmã da SS. Virgem Maria, i.e. sua prima, pois em hebraico a palavra tem um
sentido mais lato. Segundo uns seria a mãe de Tiago (o menor), José, Simão e
Judas Tadeu e esposa de Cléofas também chamado Alfeu (Mt 27.56; Mc 3.18;
6;3; 15.40). Segundo outros são duas pessoas com o mesmo nome, uma, irmã de
S. José, seria a esposa de Alfeu e mãe de Tiago Menor e José; e a outra seria
cunhada de S. José por ser casada com Cléofas, irmão de S. José, e seria a mãe
de Simão e Judas Tadeu. Como quer que seja, uma Maria de Cléofas e uma
Maria, mãe de Tiago, aparecem nos Evangelhos como tendo acompanhado o
Senhor até o Gólgota e preparado os aromas... (Jo 19.25; Lc 24.10; Mt 28.9)".

Terceiro, de quem seriam filhos os irmãos de Jesus?

Não eram filhos de Zebedeu e de sua provável mulher Salomé, porque os filhos
destes eram João e Tiago (Mt 4.21). Ora, os irmãos de Jesus foram Tiago, José,
Simão e Judas, afora algumas irmãs (Mt 13.55-56, Mc 6.3). João está excluído
dessa relação. Além disso, os irmãos de Jesus não criam nEle (Jo 7.5). Logo,
João, apóstolo, não foi seu irmão.

Não eram filhos de Maria, mulher de Alfeu ou Cléofas, cujo filho Tiago, o menor,
foi apóstolo (Mt 10.3; Mc 15.40), e como tal não poderia ser irmão de Jesus,
porque estes não criam nEle (Jo 7.5). Ademais, não consta que Tiago, José,
Simão e Judas, irmãos do Senhor, fossem filhos do referido casal.

A Bíblia [católica] de Jerusalém é de parecer semelhante quando diz: "O apóstolo


Judas é DISTINTO de Judas, irmão de Jesus (cf. Mt 13.55; Mc 6.3) e irmão de
Tiago (Judas 1). Não se deve também, parece, IDENTIFICAR o apóstolo Tiago,
filho de Alfeu, com Tiago, irmão do Senhor (At 12.17; 15.13, etc)". Realce

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 115


acrescentado. Contrapondo-se, a outra Bíblia, católica, diz que Judas, apóstolo, é
o irmão de Tiago o menor e "irmão", isto é, primo do Senhor (Mt 13.55; Mc 6.3).
Ou seja, Tiago e Judas, eram ao mesmo tempo irmãos (ou primos) e apóstolos.

Se os irmãos de Jesus não eram filhos de Zebedeu, nem o eram de Alfeu, seria da
tia de Jesus, não devidamente identificada em João 19.25? Não pode ser porque
essa tia de Jesus já foi devidamente identificada pelo catolicismo, ao dizer que ou
se chamava Salomé,mãe dos filhos de Zebedeu, ou era Maria, mulher de Cléofas.

Vamos agora ler o que dizem outros comentaristas a respeito dos irmãos de
Jesus.

IRMÃOS DO SENHOR - "Aqueles de quem se fala em Mateus 12.46 e 13.55, e


outros lugares,como irmãos de Jesus, seriam filhos de José e Maria? Segundo
uma opinião que já vem do segundo século pelo menos, esses "irmãos de Jesus"
eram filhos de um primeiro matrimônio de José. Mais tarde foram, por alguns
críticos considerados primos do nosso Salvador. Podem, contudo, ter sido filhos
de José e Maria. Em todas as passagens, menos uma, em que esses irmãos de
Jesus são mencionados nos Evangelhos, acham-se associados com Maria. Se
eram eles filhos mais velhos de José, não seria então Jesus o herdeiro do trono de
Davi, segundo as nossas noções de primogenitura. Eles não acreditavam em
Jesus no princípio da Sua missão, e até, segundo parece (Jo 7.5), depois que os
apóstolos foram escolhidos; e por essa razão eles não puderam ser do número
dos Doze, dos quais, na verdade, eles particularmente se distinguem, quando num
período posterior são vistos na companhia deles (At 1.14). Não devem, portanto,
ser confundidos com os filhos de Alfeu, embora tenham os mesmos nomes. Além
disso, as palavras "filho" e "mãe", sendo empregadas nesta passagem (Mt 13.55)
no seu natural e principal sentido, semelhantemente devem ser tomados os
nomes "irmão" e "irmã" , pelo menos, até ao ponto de excluir o termo "primo". O
fato de terem os filhos de Alfeu, bem como os irmãos do Senhor, os nomes de
Tiago, José e Judas, nada prova, visto que esses nomes eram muito vulgares nas
famílias judaicas. Estranha-se que não fossem lembrados estes irmãos, quando
Jesus confiou a sua mãe aos cuidados de João; mas isso explica-se pela razão de
que a esse tempo ainda eles não criam Nele. A conversão deles parece ter sido
quando se realizou a aparição de Jesus a Tiago, depois da Sua ressurreição (1 Co
15.7)." (Dicionário Bíblico Universal, pelo Rev Buckland, Editora Vida, 1993).

IRMÃOS DO SENHOR - "Relação de parentesco atribuída a Tiago, José, Simão e


Judas, Mt 13.55;Mc 6.3, que aparecem em companhia de Maria, Mt 12.47-50; Mc
3.31-35; Lc 8.19-21, foram juntos para Cafarnaum no princípio da vida pública de
Jesus, Jo 2.12, mas não creram nele senão no fim de sua carreira. Jo 7.4,5.
Depois da ressurreição, eles se acham em companhia dos discípulos, At 1.14, e
mais tarde os seus nomes aparecem na lista dos obreiros cristãos, 1 Co 9.5.
Tiago, um deles, salientou-se como líder na Igreja de Jerusalém, At 12.7; 15.13; Gl
1.19; 2.9, e foi autor da epístola que traz o seu nome. Em que sentido eram eles
irmãos de Jesus? Tem sido assunto de muitas discussões. Nos tempos antigos,
julgava-se que eram filhos de José, do primeiro matrimônio. O seu nome não

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 116


aparece mais na história do evangelho. Sendo José mais velho que Maria é
provável que tivesse morrido logo e que tivesse casado antes. Esta opinião é
razoável, mas em face das narrativas de Mt 1.25 e Lc 2.7, não é provável. No
quarto século, S. Jerônimo deu outra explicação, dizendo que eram primos de
Cristo, pelo lado materno, filhos de Alfeu ou Cléofas com Maria, irmã da mãe de
Jesus. Esta explicação se infere, comparando Mc 15.40 com Jo 19.25, e a
identidade dos nomes Alfeu e Cléofas. Segundo esta idéia, Tiago, filho de Alfeu, e
talvez Simão e Judas, contados entre os apóstolos, fossem irmãos de Jesus.
Porém, os apóstolos se distinguiam dos irmãos, estes nem ao menos criam nele, e
não é provável que duas irmãs tivessem o mesmo nome. Outra idéia muito antiga
é que eles eram primos de Jesus pelo lado paterno e outros ainda supõem que
eram os filhos da viúva do irmão de José, Dt 25.5-10. Todas estas opiniões ou
teorias parecem ter por fim sustentar a perpétua virgindade de Maria. O que
parece mais razoável e mais natural é que eles eram filhos de Maria depois de
nascido Jesus.Que esta teve mais filhos é claramente deduzido de Mt 1.25 e Lc
2.7 que explica a constante associação dos irmãos do Senhor com Maria"
(Dicionário da Bíblia, John D. Davis, 21a Edição/2000, Confederação Evangélica
do Brasil).

SEUS IRMÃOS - "Não há razão para supor que estes irmãos, tanto como as irmãs
mencionadas (Mt 13.55-56), não eram filhos de José Maria" (O Novo Comentário
da Bíblia, vol. II, Nova Vida, 1990, 9a Edição).

IRMÃOS DO SENHOR (Mateus 12.46-50) - "Por insistir na teoria da virgindade


perpétua de Maria, o Catolicismo Romano os levou a explicar erroneamente o
sentido da expressão irmãos. Assim, eles acreditam que Jesus não tinha irmãos
no verdadeiro sentido dessa palavra e o grau de parentesco que ela exprime. No
entanto,esse raciocínio não desfruta de nenhum apoio escriturístico. A Bíblia é
clara ao afirmar que Jesus tinha quatro irmãos, além de várias irmãs (Mt 13.55,56;
Mc 3.31-35; 6.3; Lc 8.19-21; Jo 2.12; 7.2-10; At 1.14; 1 Co 9.5; Gl 1.19). A teoria
desenvolvida pelos católicos romanos e por alguns protestantes, que visa
defender que Maria permaneceu virgem, é totalmente fútil. Esse conceito só
passou a fazer parte da teologia muitos séculos depois de Jesus. Seu objetivo, é
claro, era exaltar Maria, criando, assim, a mariolaria" (Bíblia Apologética, João F.
Almeida, ICP Editora, 1a Edição, 2000).

Quarto, José e Maria se "conheceram" após o nascimento de Jesus?

A nossa análise terá como base o seguinte registro: "José, ao despertar do sono,
agiu conforme o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu em casa sua mulher.Mas
não a conheceu até o dia em que ela deu à luz um filho. E ele o chamou com o
nome de Jesus" (Mateus 1.24-25, Bíblia [católica] de Jerusalém).

A passagem acima diz claramente que José, atendendo ao anjo, recebeu em sua
casa a sua esposa Maria, e foram viver como marido e mulher. Está dito que
Maria foi a mulher de José; que José não conheceu a sua esposa enquanto ela
estava grávida de Jesus; que Jesus nasceu de uma virgem, porque José somente

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 117


conheceu sua mulher - ou seja, teve relações com ela - depois do nascimento de
Jesus.

Católicos há que contestam o que está escrito na Bíblia, e dizem que "nas
Sagradas Escrituras a expressão "até que" é empregada muitas vezes para
indicar um tempo indeterminado, e não para marcar algo que ainda não
aconteceu". Não iremos nos estender na refutação dessa tese porque as duas
bíblias de início citadas, aprovadas pelo catolicismo, interpretam corretamente
referido versículo.Vejamos:

"Mas [José] não a conheceu até o dia em que ela deu à luz um filho, e ele o
chamou com o nome de Jesus": "O texto não considera o período ulterior [depois
do parto] e por si não afirma a virgindade perpétua de Maria, mas o resto do
Evangelho, bem como a tradição da Igreja, a supõem" (Comentário da Bíblia
[católica] de Jerusalém).
Em outras palavras, os exegetas católicos, que trabalharam na edição da referida
Bíblia, reconheceram o óbvio, ou seja, que até o nascimento de Jesus, José e
Maria não se "conheceram". Todavia, dizem bem quando entendem que a
Tradição "supõe", isto é, o dogma da perpétua virgindade de Maria é uma
suposição, não uma realidade bíblica. O comentário acima coloca por terra
argumentos outros não oficiais, segundo os quais José não conheceu sua esposa
nem antes nem depois do nascimento de Jesus.
Outro comentário: "Enquanto (ou até que): esta palavra portuguesa traduz o latim
donec e o grego heos ou, que por sua vez estão calcados sobre a expressão
hebraica ad ki que se refere ao tempo anterior a esse limite sem nada dizer do
tempo posterior, cf. Gn 8.7;Sl 109.1; Mt 12.20; 1 Tm 4.13. A tradução exata seria:
"sem que ele a tivesse conhecido, deu à luz...", pois a nossa expressão "sem que"
tem o mesmo valor" (Bíblia [católica] Sagrada.
O que a Bíblia acima está dizendo em seus comentários é que o "ATÉ" não foi
ALÉM do nascimento de Jesus, ou seja, enquanto grávida e até dar à luz não
houve "conhecimento" mútuo do casal.
Concordando com as Bíblias Católicas, a Bíblia Apologética, usada pelos
evangélicos, assim esclarece: "Veja a preposição "até" em qualquer concordância
bíblia e ficará surpreso a respeito do seu significado. Observe alguns exemplos:
Levíticos 11.24-25: "E por estes sereis imundos: qualquer que tocar os seus
cadáveres, imundo será ATÉ à tarde". E depois da tarde, eles permaneceriam
imundos? Vejamos agora Apocalipse 20.3: "E lançou-o no abismo, e ali o
encerrou, e pôs selo sobre ele, para que não mais engane as nações, ATÉ que os
mil anos se acabem. E depois importa que seja solto por um pouco tempo". Assim,
a relação existente antes do nascimento de Jesus se modificou [como se
modificou a situação de Satanás após os mil anos de prisão], não a conheceu até
que ela deu à luz. Essa passagem declara que, depois do nascimento de Jesus,
José Maria tiveram uma vida conjugal normal, como qualquer outro casal. Nenhum
autor do Novo Testamento ensina a doutrina da virgindade perpétua de Maria. Se
se tratasse de uma doutrina ou ensinamento vital ou essencial como requer o
catolicismo romano, certamente Paulo e os outros discípulos teriam mencionado a
respeito. Assim resta ao catolicismo romano apegar-se à tradição, porque a Bíblia

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 118


não aceita essa teoria (Colossenses 2.8)".

A expressão "não coabitou com Maria ATÉ QUE nascesse Jesus" está muito
clara. Ligada à fala do anjo que disse a José que RECEBESSE Maria, sua mulher,
ficou entendido que passado o período da gravidez e do descanso depois do
parto, José e Maria, marido e mulher, continuariam uma vida a dois como todos os
casais do mundo. Assim aconteceu, pois tiveram muitos filhos, conforme está em
Mateus 13.55-56. José e Maria constituíram um casal muito feliz e foram
abençoados por Deus. E por ter filhos, por amar o seu esposo, por ter sido mãe,
Maria não pecou nem perdeu a sua santidade. Maternidade e santidade podem
caminhar juntas, sem que uma prejudique a outra. Sexo no casamento não
pecado.

Quinto, houve ordem divina para que José não "conhecesse" sua mulher?

Se não havia a intenção formal nem de José nem de Maria de viverem sem
relações íntimas, embora residissem sob o mesmo teto, teria havido alguma
ordem divina nesse sentido? O leitor deverá ler cuidadosamente Mateus 1.18-25 e
Lucas 1.26-38 para verificar a inexistência de qualquer tipo impedimento. A
resposta de Maria ao anjo - "Como é que vai ser isso, se eu não conheço homem
algum?" (Lc 1.34) - pode ser interpretada como um voto de virgindade? A Bíblia
[católica] de Jerusalém, em seus comentários, responde: "A "virgem" Maria é
apenas noiva (v.27) e não tem relações conjugais (sentido semítico de "conhecer",
cf. Gn 4.1; etc.). Esse fato, que parece opor-se ao anúncio dos vv. 31-33, induz à
explicação do v. 35. NADA NO TEXTO IMPÔE A IDÉIA DE UM VOTO DE
VIRGINDADE" (realce acrescentado).

Sexto, o que diz a Igreja Católica sobre o Matrimônio?

a) "Os atos com os quais os cônjuges se unem íntima e castamente são honestos
e dignos e a sexualidade é fonte de alegria e prazer"? (Catecismo da Igreja
Católica, p. 612, # 2362). Por que com Maria seria diferente?

b) "Pela união dos esposos realiza-se o duplo fim do matrimônio: o bem dos
cônjuges e a transmissão da vida", pois que "esses dois significados ou valores do
casamento não podem ser separados sem alterar a vida espiritual do casal" (C.I.C.
p. 612, # 2363). Por que com o casal José Maria seria diferente? Esses "valores"
não diziam respeito também a eles?

c) "A sagrada Escritura e a prática tradicional da Igreja vêem nas famílias


numerosas um sinal da bênção divina e da generosidade dos pais"? (C.I.C., p.
615, # 2373). Por que Maria não podia ter muitos filhos?

d) "Exige a indissolubilidade e a fidelidade da doação recíproca e abre-se à


fecundidade"? (C.I.C. p. 449 #1643). Por que doação recíproca e fecundidade
deveriam ficar for a do casamento de José e Maria?

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 119


e) "O instinto do Matrimônio e o amor dos esposos estão, por sua índole natural,
ordenados à procriação e à educação dos filhos... e por causa dessas coisas são
como que coroados de sua maior glória"? Se "os filhos são o dom mais excelente
do Matrimônio e contribuem grandemente para o bem dos próprios pais... pois
"Deus mesmo disse: "Crescei e Multiplicai" (Gn 2.18)" (C.I.C. p.452 #1652). José e
Maria não deveriam crescer e multiplicar? Eles não tinham essa índole natural à
procriação?

f) "A sexualidade está ordenada para o amor conjugal entre o homem e a mulher,e
no casamento a intimidade corporal dos esposos se torna um sinal de um penhor
de comunhão espiritual"? (C.I.C., p.611 #2360). Por que eles não podiam?

g) "Por causa da prostituição cada um tenha a sua própria mulher, e cada uma
tenha o seu próprio marido", e que "a mulher não tem poder sobre o seu próprio
corpo, mas tem-no o marido"; e que "não vos defraudeis [negar relação íntima] um
ao outro, senão por consentimento mútuo por algum tempo, para vos aplicardes à
oração; mas que "depois ajuntai-vos outra vez para que Satanás não vos tente por
causa da incontinência [ausência de relações sexuais]", tudo como está escrito
nas palavras inspiradas do apóstolo Paulo (1 Coríntios 7.2-5). A abstinência do
casal não estaria fora dos propósitos de Deus? Lembremo-nos das palavras de
Jesus: "Aquele que fizer a vontade de meu Pai que está nos Céus, esse é meu
irmão, irmã e mãe" (Mt 12.46-50). Lembremo-nos também das palavras de Maria:
"Fazei tudo o que Ele vos disser" (Jo 2.5)

OUTRAS CONSIDERAÇÕES

1) Lemos em João 2.12: "Desceu [Jesus] a Carfanaum, com sua mãe, seus irmãos
e seus discípulos. E ficaram ali muitos dias". Não pode ser outro o entendimento:
Jesus com sua família, a mãe com seus filhos ficaram muitos dias naquela cidade.
Não há como forçarmos uma interpretação que nos levaria a pensar que Maria,
não tendo filhos com José, resolvera criar seis ou mais parentes. Vejam também a
distinção entre "discípulos" e "irmãos".

2) Quando o termo "irmãos e irmãs" é empregado em conjunto com "pai" ou


"mãe", o sentido não pode ser o de primos e primas, mas de irmãos biológicos,
filhos de um mesmo pai ou mãe. Exemplo: "Se alguém vier a mim, e não aborrecer
a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e até mesmo a sua própria
vida, não pode ser meu discípulo" (Lucas 14.26).

3) Vejamos quais as palavras usadas no grego - a língua original do Novo


Testamento - para designar IRMÃOS, IRMÃS, PARENTES, PRIMOS e
SOBRINHOS, conforme a Concordância Fiel do Novo testamento, dois volumes,
Editora Fiel, 1a Edição, 1994:

Adelphos - Usada 343 vezes para designar pessoas que têm em comum pai e
mãe, ou apenas pai ou mãe; indicar duas pessoas que têm um ancestral comum
ou que faz parte do mesmo povo, ou membros da mesma religião. Com essa

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 120


palavra são nomeados os irmãos de Jesus (Mt 12.46-4813.55; Mc 6.3; Jo 2.12;
7.3,5,10; At 1.14; 1 Co 9.5; Gl 1.19; Jd 1).

Adelphe - O termo é traduzido 26 vezes como irmã, indicando (poucas vezes) a


participante de uma mesma fé, e (a maioria dos casos) a filha de um mesmo pai
ou mãe. Foi usado, por exemplo, para designar as irmãs de Jesus (Mt 13.56; Mc
3.32; 6.3), a irmã da mãe de Jesus (Jo 19.25), as irmãs de Lázaro, Marta e Maria
(Jo 11.1,3,5,28,39).

Syngenis - Usado como o feminino de "parente" para indicar o parentesco de


Maria, mãe de Jesus, com Isabel: "Também Isabel, tua parenta..."(Lc 1.36).

Syngenes - Termo usado para designar pessoa consangüínea, da mesma família,


ou da mesma pátria (compatriota). Vejamos alguns dos 11 casos em que o termo
foi usado:
Mc 6.4 - "Um profeta só é desprezado em sua pátria, em sua parentela e em sua
casa". Nota: Quando se trata dos "irmãos de Jesus", o termo usado é "adelphos"
ou "aldephe".
Lc 1.36 - "Isabel tua parenta". Nota: Se Isabel fosse irmã de Maria (filhas de pais
comuns) o termo teria sido "adelphe", de igual modo como foi usado em Jo 19.25
para designar a irmã da santa Maria.
Lc 2.44 - " e puseram a procurá-lo entre os parentes e conhecidos".
Lc 21.16 - "Sereis traídos até por vosso pai e mãe, irmãos, parentes, amigos, e
farão morrer pessoas do vosso meio..." Nota: Muito importante registrar que nesse
versículo são usadas as palavras "adelphos", para irmãos, e "syngenes", para
parentes. Entende-se que o termo "adelphos", quando associado às palavras pai
ou mãe tem o natural significado de filhos carnais.

Anepsios - Usada somente uma vez para identificar o termo "primo", na seguinte
passagem: "Saúdam-vos Aristarco, meu companheiro de prisão, e Marcos, PRIMO
de Barnabé..." (Colossenses 4.10, Bíblia [católica] de Jerusalém). Nota: Havia
portanto na linguagem grega palavras para identificar irmãos, primos e parentes.
Logo, se Tiago, José, Simão, Judas e mais algumas mulheres (Mt 13.55-56; Mc
6.3) fossem parentes de Jesus, e não filhos de Maria, a palavra grega mais correta
seria "anepsios" ou "syngenes".
4) Gostaria de chamar a atenção dos leitores para o que está em Atos 1.13-14:
Tendo chegado, subiram ao cenáculo, onde permaneciam. Os presentes eram
Pedro e Tiago, João e André, Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus; Tiago, filho de
Alfeu, Simão, o Zelote, e Judas, filho de Tiago. Todos estes perseveravam
unanimemente em oração e súplicas, com as mulheres, e Maria, mãe de Jesus, e
com seus irmãos".
Entendo que Maria, as outras mulheres e os irmãos de Jesus eram pessoas
distintas dos apóstolos acima citados. Tiago e Judas, irmãos de Jesus, não
estavam incluídos naquela relação. Juntaram-se aos apóstolos naquela ocasião.
Não me parece justo procurarmos uma mãe para os irmãos de Jesus. A outra
Maria, que pode ser a de Alfeu ou Cléofas, era mãe de Tiago e de José. Vejam:
"Maria, mãe de Tiago e de José" (Mt 27.56); "Maria, mãe de Tiago, o menor, e de

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 121


José" (Mc 15.40); "Maria, mãe de Tiago" (Lc 24.10); "Tiago, filho de Alfeu" (Mt
10.3; Lc 6.15; At 1.13).
Ora, os irmãos de Jesus se chamavam Tiago, José, Simão e Judas. O mesmo
cuidado com o que os evangelistas Mateus e Marcos citaram os nomes de todos
os irmãos de Jesus, um por um, teria usado para descrever os filhos dessa Maria.
Entretanto, só foram citados Tiago e José. E Simão, com quem fica? A Bíblia
descreve os seguintes: Simão, irmão de Jesus (Mt 13.55; Mc 6.3); Simão,
chamado Pedro, apóstolo (Mt 4.18; 10.3); Simão, o Zelote, apóstolo (Mt 10.4; Mc
3.18; Lc 6.15; At 1.13). Ainda há outros com o nome Simão, como por exemplo
Simão Iscariotes, pai de Judas, o traidor (Jo 6.71). A Bíblia com muita propriedade
identifica cada um com o detalhe do apelido ou do parentesco. E Judas? A Bíblia
diz que Judas, apóstolo, era filho deTiago (Lc 6.16). Não há nenhum registro
afirmando que a outra Maria ou Maria, de Cléofas, tenha um filho com o nome de
Judas. É quase certo que o autor da Epístola de Judas seja o irmão do Senhor,
como descrito em Mateus 13.55 e Marcos 6.3, pelos seguintes motivos: 1) Ele não
se apresenta como apóstolo de Cristo, mas como "servo" e irmão de Tiago (Jd
1.1); 2) A sua exortação no v. 17 sugere que ele não fazia parte dos Doze.
Os dados levantados apontam para o entendimento de que Tiago, Simão, José
Judas, e mais algumas mulheres, eram realmente irmãos carnais de Jesus, filhos
de Maria e de José.

Parte XXI
QUEM ME FEZ PECAR?
Tiago 1:13-16
Quando André aceitou assumir a diretoria daquela escola publica já sabia que
teria muito trabalho pela frente. Aquela escola era muito conhecida pela
indisciplina dos alunos, mas, ele estava disposto a mudar esta situação.

Então ele começou seu trabalho chamando os alunos a sua sala.

---Pedro, perguntou o diretor, por que você roubou os biscoitos de seu amigo?
---Sabe o que é, disse Pedro, é que meus pais discutiram quando eu tinha seis
anos de idade e hoje eu não consigo parar de comer. E depois eu iria pagar pelos
biscoitos... André ficou surpreendido com aquela resposta, mas era apenas o
começo. Veja o que disseram outros alunos:

---Beatriz, por que você falta às aulas de educação física?


---É porque eu tenho um defeito genético que me faz detestar educação física.
---Patrícia, por que você não faz sua lição de casa?
---Porque minha mãe não me dá chocolate. O senhor tem que dizer para ela que
se ela não me der chocolate eu não vou fazer a lição mesmo, e vou ser burra pelo
resto da vida. Será que ela não entende?
---Paulo, por que você não assiste às aulas de geografia?
--- Porque eu tenho trauma de geografia.
André ficou impressionado com a capacidade daqueles alunos de justificarem seu
mau comportamento.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 122


Vivemos em dias de vitimização, em que o homem faz de tudo para não assumir a
culpa pelo seu pecado. Incrível o que faríamos, as desculpas que inventaríamos,
para não admitir que somos ruins, pecadores eculpados.

Quem me faz pecar? Certamento não pode ser minha a culpa. Tem que haver
alguém que posso culpar.

Mas como vamos descobrir, reconhecer que a fonte do pecado está dentro em
mim, e não fora, é um dos primeiros sinais de alguém que tem uma fé viva. De
fato, é condição ou pré-requisito para uma fé verdadeira, pois sem esse
reconhecimento ninguém se salva!

O verdadeiro crente por definição vive a sua fé no nível do coração., Esse é um


dos problemas com muito evangelismo dos nossos dias. Tentamos salvar pessoas
que não sabem que estão perdidas! Oferecemos Jesus como se fosse mais uma
opção de auto-ajuda, ou talvez uma amuleta para trazer prosperidade e boa sorte,
e não a única esperança de pessoas desesperadas, em perigo de eterna
condenação no inferno. Mas ninguém vai querer ser achado quando não sabe que
está perdido. Ninguém se salva quando não sabe que está condenado.

O autor bíblico, Tiago, já 2000 anos atrás, antecipava essa tendência do coração
humano de culpar a todos menos a si mesmo pelo pecado. Pior é que, quando
culpamos aos outros, estamos de fato culpando o próprio Deus pelo nosso
pecado.

Olhando para o texto de Tiago 1.13-16 percebemos como ele lidava com esta
tendência do coração humano. Primeiro ele deixou uma clara proibição de não
jogar a culpa pelo pecado em outros, principalmente Deus e, segundo, ele
explicou que a raíz de todo pecado não está nos outros, mas, sim, em mim
mesmo.

I. A Proibição: Não Culpar a Deus pelo meu Pecado 1.13)

Alguns leitores de Tiago estavam culpando a Deus por uma provação que levava
ao pecado. Como alguns hoje não pagam seus impostos e se justificam dizendo:
"Se eu pagar tais impostos minha empresa não vai sobreviver", muitos ali se
justificavam com desculpas semelhantes.
Mas essas justificativas pelo pecado, em efeito, culpavam o próprio Deus que
prometeu Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel, e
não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário,
juntamente com a tentação vos proverá livramento, de sorte que a possais
suportar (1 Co 10:13).

Afirmar que outros são responsáveis pelo meu pecado é o caminho mais fácil e
mais popular de escaparmos responsabilidade pessoal.

A palavra "tentação" constroi uma ponte entre esse parágrafo e o anterior. É a

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 123


mesma palavra traduzida "provação" e "tentação". A idéia é de uma situação difícil
que provoca uma resposta.
Mas tudo depende de quem origina a situação. Quando Deus nos coloca numa
situação de provação, sempre é para nos aprovar, mostrar genuína nossa fé.
Quando o Inimigo explora desta mesma situação, é para nos derrubar,
desqualificar e, acima de tudo, para sujar o nome do nosso Deus. Quando
provados, podemos dizer que somos testados por Deus, para revelar Seu Filho
em nós. Mas nunca, nunca, podemos dizer que Deus é responsável direta ou
indiretamente por nos colocar numa situação que nos provoca a pecar.

Talvez você esteja pensando, "Mas eu nunca iria culpar a Deus pelo meu pecado."
Mas pense de novo. Somos experts em racionalização e justificação do nosso
pecado. Temos "n" maneiras de passar a culpa pelo nosso próprio a outros e, na
última análise, no próprio Senhor.

A expressão Deus não pode ser tentado pelo mal indica que não há nada em
Deus que corresponda à tentação. Não há nada em Deus que possa ser seduzido
a fazer o mal. É como alguém que tenta agarrar com suas mãos a neblina da
manhã: sua tentativa será tola e inútil.

Uma vez que Deus não é seduzido pelo mal e nada há nele de mal, Ele não é a
fonte nem o responsável, direta ou indiretamente, pelo meu pecado. Seria
totalmente incoerente para Deus tentar incitar alguém ao mal, visto que Ele é tão
distante do pecado que não podia nem encarar seu próprio Filho na cruz do
Calvário.

Gostaria que você me acompanhasse por um pequeno tour, primeiro pelo mundo,
depois pelas Escrituras, para descobrir como o homem atual não é muito diferente
do que o homem antigo em termos do desvio da culpa.

O Mundo Atual

Como culpamos a Deus e outros pelo nosso pecado? Uma variedade de


respostas, que refletem a degradação dos nossos tempos, são encontradas. Boa
parte das tentativas científicas, filosóficas, teológicas e psicológicas dos nossos
dias tem como propósito isentar o homem da culpa e transferí-la para outros!

1. Ciência

Evolução-o homem é produto de tempo + chance ou "acaso". Um mesclar de


átomos formando, por acaso, moléculas, um conglomerado a-moral que, graças à
sorte, formaram um ser inteligente.
Então, não sou eu culpado pelo "pecado" (se tal existe) mas sim, o conjunto de
elementos e qúimicas que compõem o "Eu"

Medicina-o homem está "doente", mas não culpado. Ele sofre da doença de
alcoolismo, mas não pode ser chamado um "alcoólatra" ou bêbedo (hoje, usa-se o

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 124


novo termo, "acoolista" para dar a idéia de que ele é vítima do álcool, não um
adorador dele.) Pessoas que abusam da comida tem transtornos alimentares
quando de fato são bolímicas ou glutonas.

Genética-o homem é produto de DNA, genes e cromossomos e é programado por


eles para ser o que é.

2. Psicologia

Behaviorismo-o homem é produto do seu ambiente. Ele é um animal, que quando


condicionado pelo mal, mau se tornará, mas quando condicionado pelo bem, será
bom. Culpado é o ambiente.

Auto-estima-a raiz de todos os males é que não me amo o suficiente . . . por isso,
fico desanimado, bebo demais, fofoco, minto, etc. Culpado são os que me
oprimiram.

Trauma e Regressão à Infância- Os verdadeiros culpados são meus pais e Deus.

Vitimização-não sou membro de uma família conturbada pelo pecado, mas uma
família disfuncional.
Psicánálise-sou dirigido por instintos básicos que, quando remprimidos, me levam
a extrapolar meus desejos. Complexos sexuais causados pelos pais, pela
sociedade, pelo id, ego ou contra-ego, mas certamente não pela minha natureza
pecaminosa. Culpada é a sociedade, a religião e o instinto básico.

3. Teologia/Filosofia

Pós-modernismo. O mundo atual evoluiu para uma filosofia/teologia de pós-


modernismo. O que enfrentamos hoje quando fazemos a pergunta, "Quem é
responsável pelo meu pecado?" é "O que é pecado?" O pecado se tornou relativo.
(Pós modernismo não é tão pós-moderno assim . . . quase 4000 anos atrás na
época dos juízes havia muitos pós-modernistas: "Cada um faz o que era reto aos
seus próprios olhos." No mundo hoje, não existe absolutos. Ninguém tem o direito
de dizer "Isso é errado" ou "aquilo é pecado". Se não existe um absoluto, estou
livre do pecado, pois afinal, não existe pecado quando não há lei. Eu sou minha
própria lei. Por isso listamos pós-modernismo como resposta "teológica" à questão
da culpa e do pecado.

Batalha espiritual-Mas existem outras tentativas mais sutis de minimizar o pecado,


mais "espirituais". O que se vê em muitas igrejas hoje é uma ênfase em batalha
espiritual que tem praticamente o mesmo efeito de isentar o indivíduo do seu
pecado. Em algumas formas de batalha espiritual os demônios é que são
responsáveis pelo pecado do homem.

Alguns movimentos chegam a dar nomes para esses demônios que não
encontramos de forma alguma na Bíblia. O efeito é que, de forma sutil, culpamos a

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 125


outros e não a nós mesmos pelo pecado:
Tenho o demônio de depressão . . . de ira . . . de fornicação . . . de
espancamento... de sonegação . . . de mentira . . . É muito cômodo, então, fazer
um exorcismo, algum rito religioso, para me livrar do "demônio" e também da
culpa. Mas enquanto não tratamos da raíz, esses "demônios" voltam.

Maldição de família-Uma outra forma "religiosa" de me justificar e isentar da culpa


é pela doutrina da "maldição de família". Não sou eu o responsável pelo pecado,
pois tenho fantasmas pairando sobre meu passado; ancestrais que são
responsáveis pelo que sou. Precisoregressar, renunciar, decretar para me livrar
dessa maldição que me força a pecar. Mas de novo, não sou eu mas outros (e na
última análise, o próprio Deus que me colocou nessa família) que são
responsáveis pelo meu pecado.

Cura Interior-Certamente há necessidade de cura interior para todos nós. O


pecado tem deixado circatrizes em nossos corações. Mas alguns movimentos
promovem técnicas espetaculares, emocionais e/ou psicológicas para lidar com o
pecado sem perseguir o problema até a raíz-o coração humano e a natureza
humana. Somos vítimas, muitas vezes, sim; mas também somos responsáveis
diante de Deus pelas nossas reações pecaminosas ao pecado. Ao invés de culpar
aos outros (alguns movimentos até chegam ao ponto de "perdoar a Deus",
devemos confessar nosso pecado. Em vez de culpar os pais, irmão, patrões,
vizinhos, devemos perdoá-los e nos arrepender dos nossos pecados.

Não negamos a influência e o impacto que o pecado de outros têm, que existem
feridas profundas, circatrizes e verdadeiras vítimas do pecado. Mas não podemos
culpar essas circunstância pelo nosso pecado! De uma forma ou outra, todas
essas respostas, todas essas tentativas, representam maneiras de nós culparmos
o próprio Deus pelo nosso pecado. Afinal de contas, é como que disséssemos que
foi Ele que nos colocou naquela família, foi Ele que permitiu que nossos ancestrais
fossem assim, foi Ele que não impediu que os demônios nos atacassem, foi Ele
que permitiu que perdéssemos nosso emprego, foi Ele que enviou aquela mulher
para trabalhar na minha firma, foi Ele que...

Será que eu e você caímos no mesmo erro que Tiago adverte? Culpar aos outros,
e especialmente a Deus, é marca de quem não está permitindo que a vida de
Jesus seja vivida nele.

II. A Explicação: Eu Sou Responsável pelo meu Próprio Pecado (14-15)

Onde não há culpa pessoal, não há graça individual. Para alguém ser salvo, tem
que ficar perdido. Tentamos salvar algumas pessoas mostrando todos os
benefícios sem primeiro mostrar que são perdidas.

Tiago mostra como eu sou o principal responsável pelo meu próprio pecado. O
verdadeiro cristão, para se tornar cristão, tem que reconhecer esse fato. O
primeiro ponto do Evangelho é: Eu sou pecador! Essa mensagem não é muito

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 126


popular em nossos dias. Preferimos falar em erros, falhas, defeitinhos, mas não
em pecado como ofensa contra um Deus santo.

Tiago usa uma analogia apropriada de pecado sexual para descrever o processo
mortífero que leva ao pecado:

Cobiça Atrai Seduz Concebe Dá à luz: pecado Morte

As Escrituras

Culpar outros pelo meu pecado tem uma longa história nas Escrituras. Veja:

1. Adão e Eva (Gn 3:12-)

Quando Deus confrontou Adão ele transferiu sua culpa para outro dizendo que a
culpa não era dele, mas sim da mulher. Aliás, disse Adão, foi a mulher que Tu me
deste; ou seja, no final das contas a culpa era de Deus que lhe tinha dado aquela
mulher. E, afinal, por que Deus tinha de criar a serpente? Mais uma razão pela
qual ele não era culpado e sim Deus, até a serpente que o enganou existia pela
vontade de Deus.

2. Arão (Ex 32:24)

Moisés teve de confrontar seu irmão por Ter levado o povo à idolatria. Mas este
também transferiu sua culpa para outro. "Olha Moisés, visto que você sumiu e não
voltava, e o povo precisava de uma direção espiritual dadas as desfavoráveis
circunstâncias, não tive escolha a não ser fazer este bezerro de ouro".

3. Saul (1 Sm 13:12)

Samuel ficou extremamente triste quando viu que Saul havia oficiado o sacrifício
que era de sua responsabilidade. Confrontado, Saul não admitiu sua
desobediência, apenas disse que o fez por causa das circunstâncias tão urgentes.
Vemos, portanto, que o homem de hoje não é diferente do homem do passado.

Haverá, então, algum remédio para isto?

O caminho da graça começa quando reconhecemos a nossa culpa!

Pv 28:13 diz: O que encobre as suas transgressões, jamais prosperará; mas o que
as confessa e deixa, alcançará misericórdia. (Sl 32:1-5)

1 Jo 1:9 diz que se confessarmos os nossos pecados Deus é fiel para nos
perdoar. Esse é um caminho confiável, tanto para aquele que nunca abraçou
Jesus como seu Salvador, quanto para aquele que já conhece Jesus mas é
tentado a se desculpar pelo pecado. Confissão significa concordar com Deus
sobre o meu pecado. Os pecados devem ser identificados pelos seus nomes e

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 127


confessados. É chegar diante dele e dizer: Senhor, pequei contra ti porque tenho
mágoas em meu coração e tua Palavra diz que isto é pecado. Perdoa-me. A obra
de Cristo na cruz, morrendo no nosso lugar, pagando o preço de toda a sujeira
que já cometemos, é suficiente para livrar da condenação eterna todos que
depositam sua confiança unica e exclusivamente nEle. Sua ressurreição garante
que todos os nossos pecados foram perdoados.

Não há necessidade para os alunos da escola do Diretor André, muito menos nós,
justificarmos nosso pecado. O caminho da graça começa quando reconhecemos a
nossa culpa, e corremos até o perdão oferecido por Cristo Jesus.

Parte XXII
REAVIVAMENTO HOJE
Tiago 5:13-18
O Brasil precisa de um reavivamento. Um reavivamento que provoca mudanças
reais e duradouras no seio da igreja, da sociedade e da família. Um reavivamento
que é mais que fogo de palha, show gospel, louvorzão e emoção. Algo que
transforma-nos de tal forma, que somos controlados pelo Espírito de Deus,
usando a Palavra de Deus, para nos conformar à imagem de Deus.

Quando se fala em reavivamento hoje, pensa-se em igrejas avivadas. Pensa-se


em fanaticismo, expulsão de demônios, guerra espiritual, línguas, batismos no
Espírito, reivindicações de bênção “em nome de Jesus”, curas e milagres. Mas
será que é isso que encontramos nas Escrituras como sinal de reavivamento? Ou
será que o reavivamento bíblico é algo mais profundo, humilde, contundente, que
evidencia-se muito mais no lar do que no culto público, mais em oração particular
do que louvorzão, que se vê mais numa igreja inflamada pela causa de missões
do que na construção de um templo luxuoso e cada vez mais confortável para
seus membros?

O livro de Tiago nos ensina sobre reavivamento verdadeiro, ou seja, uma fé


verdadeira e suas evidências na vida real. “Provas de uma fé verdadeira” é o tema
do livro.

O livro termina como começou, falando de provações, sofrimento e tribulação. O


primeiro parágrafo do livro nos ensinou que a fé verdadeira (a vida de Jesus em
nós) manifesta-se na hora de provações. Nessas horas, cabe a nós olharmos para
o Senhor em oração, clamando por sabedoria para lidar corretamente com a
situação (1.5).

O último texto do livro é considerado por alguns como um dos trechos mais
difíceis, não somente de Tiago, mas de todo o NT. Mas se analisarmos bem o
contexto, o texto em si não é tão problemático. De fato, vai direto ao assunto. E o
assunto principal é oração, ou seja, uma comunhão viva com Deus. Nos ensina
que A FÉ VERDADEIRA FALA COM DEUS, em todas as circunstâncias, na
alegria e tristeza, na força ou na fraqueza, na bonança ou na tempestade. Esse é
o reavivamento verdadeiro que Tiago quer provocar—uma comunhão constante

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 128


com Deus através de Jesus Cristo.

13 Está alguém entre vós sofrendo? Faça oração. Está alguém alegre? Cante
louvores.
14 Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes façam
oração sobre ele, ungindo -o com óleo, em nome do Senhor.
15 E a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará; e, se houver
cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados.
16 Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros,
para serdes curados. Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo.
17 Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos, e orou,
com instância, para que não chovesse sobre a terra, e, por três anos e seis
meses, não choveu.
18 E orou, de novo, e o céu deu chuva, e a terra fez germinar seus frutos.

Há vários problemas interpretativos neste texto:


Que tipo de sofrimento está em vista (13)?
Que tipo de doença? (14)
Por que a oração dos líderes espirituais é mais eficaz (15)?
O que significa a unção com óleo? É algo a ser praticado hoje? Se não, por que
não? Se sim, porque não o fazemos?
Há uma promessa aqui de cura? Se não, o que significa que "a oração da fé
salvará o enfermo"? Se sim, porque não saímos com óleo sagrado ungindo a
todos os enfermos?
Se for uma promessa, não seria uma cura da nossa mortalidade? Não seria o fim
da morte, pelo menos as mortes causadas por doenças?

É impressionante o número de abusos desse texto. O sacramento de extrema


unção da igreja romana baseia-se neste texto. Algumas igrejas neo-pentecostais
usam o texto para defender um uso místico de óleo sagrado para assistir em todo
tipo de milagre imaginável. Mas é isso que Tiago tem em mente?

Infelizmente, alguns têm até lucrado com a venda de “óleos sagrados”. É possível
ver propagandas e fazer compras, por exemplo, de 6 frascos de 10 ml de "Óleo
Sagrado da Unção" por somente R$168. Existe também "óleo da unção bíblico""
que contém azeite de oliveira, incenso e canela (somente R$ 96); "Óleo da unção
Rosa de Sarom" (somente R$96); "Óleo da unção de alegria"(também R$ 96);
"Bálsamo de Gileade para Unção". Uma propaganda afirma "Muitos têm sido
roubados por Satanás, que tudo faz para que o uso da unção com óleo não
aconteça no dia-a-dia do crente.. . você vai ver, porém, que muitas bênçãos estão
ao seu alcance, ao entender o simbolismo e o sentido espiritual da unção com
óleo, e fazendo dele uso em sua vida."

E se eu e você não compramos esse óleo? Será que estamos perdendo uma
bênção? Será que perdemos nossa chance para reavivamento pela unção
sagrada?

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 129


Algumas Observações Iniciais

1. O contexto do texto é paciência no sofrimento e perseguição (5.1-12).


Alguns irmãos estavam desfalecendo por causa das tribulações dessa vida, suas
injustiças, crime, perseguição. Prestes a desistir, desanimados e tristes, exaustos
depois de tanto lutar contra o mal.

2. O tema do texto é oração, não unção com óleo! Todos os 6 vss. falam de
oração. Note as frase e os termos usados:
Vs. 13: sofrendo? Ore! Alegre? Cante louvores (forma de oração)
Vs. 14: doente? (fraco) Ore!
Vs. 15: oração (não óleo) salvará o enfermo; o Senhor o levantará.
Vs. 16: orai uns pelos outro . . . . a súplica do justo (a oração tem poder, não
porque torce o braço de Deus, mas porque expressa nossa fé no poder de Deus, e
glorifica a Ele quando Ele responde!)
Vs 17: Elias orou (era como nós—fraco, falho, depressivo . . . )
Vs. 18: orou

3. A mensagem do texto como um todo é que a fé verdadeira fala com Deus!


O reavivamento verdadeiro vem pela comunhão constante com o Criador do
Universo e Seu Filho Jesus Cristo.

O ponto do texto é simples, claro e objetivo. A maior e mais clara evidência de


uma fé viva, é alguém que vive sua fé em diálogo constante com o Senhor. Deus é
uma realidade tão presente em sua vida, que não consegue deixar minutos
passarem sem falar com Ele!

No texto, descobrimos 3 situações em que o crente fala com Deus.

I. A Fé Verdadeira Fala com Deus no Sofrimento (13a)

Está alguém entre vós sofrendo? Faça oração.

“sofrendo”— traz a idéia de estar em apertos, passando por uma situação difícil,
passando mal. Esta é uma situação que exige oração! Uma forma da mesma
palavra “sofrendo” foi usada no vs 10. Foi usada por Paulo em 2 Tm 2.9 do
sofrimento de Paulo na prisão (perseguição) e na exortação para Timóteo para
“suportar as aflições” associadas com seu ministério (4:5). Mal-tratamento por
causa do evangelho está em vista.

Nós oramos, sim, nas nossas aflições (veja Tiago 1:2-5, 1 Pe 5:7, Fp 4:6). Mas
nem sempre aproveitamos da oração como a nossa primeira linha de defesa em
meio as dificuldades. Às vezes é nosso último recurso—quando ficamos
desesperados, depois de tentar tudo. Mas Deus quer que a oração seja nossa
primeira opção.

Você está sofrendo hoje? Sofrendo injustiças por causa da sua fé? Sendo

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 130


ridicularizado pelos colegas da escola por ser crente? Sendo margenalizado por
familiares que não conhecem Jesus? Sendo prejudicado na carreira por não ser
como os outros? A resposta é: ore, e continue orando (a ordem está no tempo
presente). Não desfaleça! Lembre-se do que Paulo diz em Rm 8:18 Porque para
mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não são para se
comparar com a glória por vir a ser revelada em nós.

II. A Fé Verdadeira Fala com Deus na Alegria (13:b)

Tiago nos apresenta uma segunda situação em que devemos falar com Deus. É o
oposto da primeira.

Está alguém alegre? Cante louvores.


“Está alguém alegre (encorajado, de bom humor)?”—Fale com o Senhor por meio
de louvores! A palavra descreve alguém que está bem de vida--não
necessariamente fisicamente, mas espiritualmente e emocionalmente. Essa
pessoa regozija-se no Senhor e não nas circunstâncias.

Talvez seja alguém que já passou pelos apertos, problemas ou perseguições


descritos na primeira parte do versículo. Apesar dos tormentos, conseguiu
enxergar Aquele que é invisível. Por isso, fala com Deus pelo canto! O coração
que transborda de alegria só pode cantar sua gratidão ao Senhor—mesmo nas
tribulações!

Foi justamente essa a resposta de Paulo e Silas em At 16:22-25. Açoitados,


lançados na cadeia, os pés prendidos num tronco, sem poder dormir . . . costas
como carne moída com feridas abertas, secas, com moscas, mosquitos e talvez
ratos ao redor . . . Mas sua esperança estava fixada em algo maior.
Experimentaram o que Deus pede em 1 Ts 5:16-18 que diz, “regozijai-vos
sempre... orai sem cessar... em tudo dai graças.”

Esse é o significado do andar com Deus, e o segredo de “reavivamento”: viver


sempre na presença de Jesus, em comunhão com Ele, pela oração. Essa fé é
contagiosa!

III. A Fé Verdadeira Fala com Deus na Fraqueza Espiritual (5:14-18)

A última situação em que o cristão fala com Deus é a que Tiago mais desenvolve.
Fé em Deus não tenta enfrentar a luta sozinho! Nas horas de fraqueza física-
espiritual, clama a Deus.

14 Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes façam
oração sobre ele, ungindo -o com óleo, em nome do Senhor.

15 E a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará; e, se houver


cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 131


16 Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros,
para serdes curados. Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo.

17 Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos, e orou,
com instância, para que não chovesse sobre a terra, e, por três anos e seis
meses, não choveu.
18 E orou, de novo, e o céu deu chuva, e a terra fez germinar seus frutos.

“Está alguém doente (fraco)?”


A resposta é: Ore! Ore uns pelos outros! Verifique diante do Senhor se há algum
pecado não confessado. Mas ore.

Vamos examinar esse texto mais de perto. Os termos usados são interessantes,
pois apontam mais que uma mera doença física, como muitos entendem. Falam
mais de “doença espiritual”, ou seja, desânimo, fraqueza, ou até mesmo
enfermidade física que tem origem espiritual. Quase todos os termos admitem
desse sentido duplo (físico-espiritual).

"doente" (vs. 14) = esse termo foi usado no NT com significado de “fraqueza”,
tanto emocional como espiritual; (At 20:35, Rm 4:19, 8:3, 14:1-2, 1 Co 8:11-12, 2
Co 11:21, 29, 12:10, 13:3,4,9), além de doença física.

"o enfermo"(vs 15)—mais uma vez, o termo pode indicar mais que uma doença
física, e inclui idéias como exaustão (cp. Hb 12:3--para não vos fatigueis,
desmaiando em vossas almas).

“Chame os presbíteros”--Por que o "fraco/doente" chama para si os presbíteros


(líderes espirituais da igreja) e não os diáconos (servos em questões físicas-
materiais)? Provavelmente pelo fato de que os “doentes” aqui são fracos
espiritualmente, depois de travar muitas lutas na vida. Precisavam chamar aqueles
que eram mais fortes espiritualmente. O mesmo sentimento encontra-se em 1 Ts
5.14:

Exortamos-vos, também, irmãos, a que admoesteis os insubmissos, consoleis os


desanimados, ampareis os fracos (mesma palavra), e sejais longânimos para com
todos.

Podemos entender que é o doente e não os líderes espirituais que tomam a


iniciativa (ele os chama). Por que? Não seria a responsabilidade dos líderes irem
atrás dessa ovelha doente? Mas, se a “doença” da ovelha fosse uma questão de
debilitação espiritual (até mesmo por motivos de pecado), então ELA precisava
tomar a iniciativa. Chama os presbíteros justamente pelo fato de que seu
problema é mais espiritual do que físico.

“façam oração sobre ele”— O texto transmite a idéia é de alguém prostrado,


exausto, desanimado, indisposto, sofrendo mesmo; não entendemos aqui alguém
com um simples resfriado, dorzinha nas costas, ou dor de cabeça, pedindo uma

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 132


“cura”. Algo muito mais sério está vista.

"ungindo-o com óleo" (14) Esse ato acompanha a oração e é subordinada a ela,
gramatica e logicamente. A palavra “ungir” não é o termo mais comum para unção
espiritual nas Escrituras (aquele termo é chrio, de onde vem o nome "Cristo", ou
seja, "Ungido"). A unção com óleo é secundária no texto, subordinada à oração,
acompanhando a oração. Como ato visível e palpável ministra esperança para o
“doente”, daquilo que é invisível e abstrato (a oração e o perdão).

Óleo foi usado com fins medicinais (Lc 10:34) e sobrenaturais (Mc 6:13) no NT.
Também foi um símbolo nas Escrituras de uma separação especial de alguém
para uma atuação especial divina. Pode ser que os líderes também ministravam a
unção como forma de consolo e refrigério físico para reanimar o fraco, além de
simbolizar seu pedido por uma atuação especial de Deus em sua vida.

“em nome do Senhor”-- Essa frase já virou chavão em nossos dias traz a idéia
de uma oração feita dentro da vontade do Senhor, debaixo da autoridade dEle,
conforme a vontade dEle, como representantes dEle. Não é uma forma de
mandar, exigir ou reivindicar bênção, como se fosse um feticho evangélico. Muito
pelo contrário. Expressa humildade e submissão à vontade de Jesus. Oração feita
“em nome de Jesus” precisa ser “como Jesus faria”.

"salvará o enfermo"—algumas Bíblias traduzem a palavra “salvará” com


"curará", mas o verbo é o verbo comum no NT para salvação da alma. É um termo
espiritual mas que, novamente, admite de dois sentidos—salvação física (cura) e
salvação espiritual. Tudo depende do uso no contexto.
Existe a possibilidade aqui de se referir tanto a uma “salvação” espiritual
(restauração) como física (cura depois de confissão).

“O Senhor o levantará”-- Repare que é uma oração de fé, não do doente, mas
dos presbíteros, que faz com que o Senhor o levante! (Aqueles que argumentam
que alguém não foi curado por falta de fé enganam-se, pois a fé reconhecida por
Deus nesse texto não é do doente/fraco mas daqueles que oram sobre ele, ou
seja, os líderes espirituais!) Repare também que é o SENHOR e não algum
milagreiro que recebe a glória como responsável pela restauração. O Senhor o
levantará.

2 Co 12:7-10 é um texto paralelo interessante. É possível que o Senhor nos


levante, sem necessariamente nos curar! A graça dEle nos sustém, mesmo que a
situação não seja resolvida! Aprendemos a depender dEle, e por isso somos
fortes, mesmo sendo fracos!

“e se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados”


—A frase aqui é chave. Encontramos a associação antes implícita, agora explícita,
entre “doença” e pecado. Na situação que Tiago tem em vista, existe uma forte
conexão entre doença física e pecado. Esse é o ponto do texto, e a chave de
interpretação. O verbo traduzido “houver cometido pecados” traz a idéia de

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 133


pecados do passado que continuam surtindo efeitos no presente em sua vida. Em
outras palavras, nunca foram resolvidos. Talvez em meio a perseguição ele
blasfemou, duvidou, mentiu ou fugiu de Deus.

Talvez desonrou o nome de Jesus. Por isso, agora encontra-se desfalecido e


desamparado.
Pensa que não presta mais, que pisou na bola, e que não existe retorno para ele.
Se ele foi disciplinado pela igreja, talvez seja por isso que é SUA responsabilidade
chamar os presbíteros até ele. Como representantes espirituais da congregação,
eles precisam ouvir sua confissão para depois restaurá-lo.

“Confessai, POIS”—À luz da seriedade de pecado e suas conseqüências na vida


de um cristão, somos chamados a não esconder nosso pecado! Pv 28:13 nos
lembra, O que encobre as suas transgressões jamais prosperará; mas o que as
confessa e deixa, alcançará misericórdia.

Pecado certamente pode ser uma causa de doença física/espiritual em nossas


vidas! Por isso precisamos sempre ser transparentes uns com os outros e não
brincar com nossa fé. Nossos pecados podem nos arrastar para o abismo de
desânimo, derrota e desfalecimento. "Orai uns pelos outros, para serdes curados."

Resumindo, devemos clamar a Deus quando nossa fé enfraquece. Devemos


confessar nossos pecados uns aos outros, e orar uns pelos outros, para que a
nossa fé não desfaleça. Se alguém cair em pecado e por isso, entra em parafuso,
sofre fisica e espiritualmente, deve chamar os líderes espirituais da igreja para
interceder por ele. Deus diz que ouvirá essa oração.

Segundo esse texto, oração em todos os momentos da vida (a verdadeira e


constante comunhão com Deus) é um dos ingredientes fundamentais de
reavivamento verdadeiro, profundo, duradouro e bíblico.

A fé verdadeira manifesta-se em oração: dependência total; confiança absoluta;


conversa genuina, não finjida, com Deus em todos os momentos. Não um show de
oração, mas uma atitude profunda de humildade e dependência.

Será que a fé verdadeira manifesta-se em nós numa vida mais e mais marcada
pela comunhão com Deus? Em todas as situações da vida, será que nossa
primeira resposta é falar com ele?

Jesus quer ser nosso melhor amigo. Esse tipo de relacionamento com Jesus é
exatamente isso—um relacionamento! Uma amizade!

Aplicação: Como tornar esse estilo de vida algo natural? Quantas vezes eu
preciso ser lembrado desses mesmos princípios? No início, talvez um pouco
forçado. Para alguns, é mais fácil do que para outros. Mas temos um
Companheiro, um Advogado, alguém chamado ao nosso lado para nos ajudar.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 134


*Transformar os momentos mais rotineiros do dia em cultos de oração (lavar
louça, enfrentar trânsito
*Orar pelas pessoas que encontra quando as vê
*Orar pelas notícias (guerra, fome, inchentes)
*Agradecer pelos benefícios enquanto os recebe (água quente, comida, roupa, sol,
luz elétrica, encanamento) (Não por acaso Paulo diz “Em tudo dai graças” logo
depois de “Orai sem cessar”) (1 Ts 5:18)
*Orar no início, meio e fim de uma aula
*Orar num aconselhamento com um amigo ou numa confrontação
*Orar na disciplina do seu filho, ou quando recebendo uma bronca do seu pai.
*Gastar os primeiros e últimos momentos do dia em conversa com o Senhor
*Cultivar o hábito de entregar todos os serviços durante o dia ao Senhor

Parte XXIII
VIDA IMPREVISÍVEL
Tiago 4:13-17
Nunca me esquecerei do testemunho feito por meu amigo, Roberto, no cemitério,
depois do falecimento trágico de sua esposa Valéria. Roberto deu um desafio para
todos ali presentes, em que mencionou um texto estranho do livro de Eclesiastes:

Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete,


Pois naquela se vê o fim de todos os homens;
E os vivos que o tomem em consideração (Ecl 7:2)

Certa vez um sábio comentou sobre o texto: “Uma visita a um lar abalado pela
tragédia nos relembra a brevidade da vida e a necessidade de um viver sábio. Tal
visita é melhor do que a visita a um lugar de festividade impetuosa.”

Tiago 4.13-17 nos lembra de que a vida, sim, é breve e imprevisível e por isso,
deve ser vivida com humildade e submissão sob a soberana mão de Deus.

Atendei agora, vós que dizeis: Hoje, ou amanhã, iremos para a cidade tal, e lá
passaremos um ano, e negociaremos e teremos lucros. Vós não sabeis o que
sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois apenas como neblina que aparece
por instante e logo se dissipa. Em vez disso, devíeis dizer, Se o Senhor quiser,
não só viveremos, como faremos isto ou aquilo. Agora, entretanto, vos jactais das
vossas arrogantes pretensões. Toda jactância semelhante a essa é maligna.
Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz, nisso está pecando.

O livro de Tiago tem mais de 50 ordens (imperativos e proibições) em pouco mais


de 100 versículos; temos, na média, uma ordem a cumprir de dois em dois
versículos!

No capítulo 4 de Tiago, nos primeiros dois versículos, descobrimos uma


implicação da nossa fé agarrada em Cristo—A Fé Genuína Rejeita Valores
Mundanos. A fé verdadeira vive sua vida à luz de realidades celestiais. Não ama
esse mundo, em que somos peregrinos. Não se agarra nele.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 135


Não constrói sua vida sobre o luxo, pois o luxo um dia vai virar lixo. Vive à luz da
eternidade, com convicção e firmeza e esperança e dedicação à causa de Cristo e
Seu Reino.
Reconhece que tudo que se vê aqui um dia se derreterá. Esses fatos ficam mais
claros para os verdadeiros cristãos em velórios! É nessas horas que percebemos
a realidade da nossa fé. Nós nos entristecemos, choramos,mas não como aqueles
que não têm esperança. Nos agarramos mais que nunca na verdade de um Jesus
vivo, ressurreto.
“Por que Jesus está vivo, o amanhã enfrento!
Porque vivo está, temor não há.
Porque eu bem sei, bem sei que é dele o meu futuro . . .”

Tiago 4:13-17 continua essa linha de pensamento, nos advertindo sobre a


brevidade dessa vida. A FÉ VERDADEIRA RECONHECE QUE A VIDA É
IMPREVISÍVEL! O texto condena a arrogância e soberba de pessoas que viviam
suas vidas agarradas no mundo, como se fossem soberanas, como se fossem
eles que mandavam na terra, como se eles mesmos fossem onipotentes,
oniscientes, auto-suficientes. O fato é que nossa vida é um vapor que aparece e
desaparece.

Como, então, viveremos, à luz de uma vida imprevisível? Desanimamos?


Desistimos? Abandonamos a Jesus? Viramos as costas? Na verdade, podemos
ver 3 REALIDADES VIVIDAS por aqueles que têm uma fé genuína:

I. Devemos Reconhecer que a Vida é Breve e Imprevisível (13,14)

Quantas vezes nesses últimos anos, temos sido lembrados de que a nossa vida é
breve. Que ninguém entre nós é capaz de controlar seu destino. Que ninguém de
fato sabe o que há de acontecer amanhã.

Esses pensamentos podem nos levar ao desespero. Mas devem nos levar a
esperança. Não em nós, mas em Deus, o único que sabe exatamente o que há de
acontecer amanhã. O número dos nossos dias já está escrito no livro dEle. Não há
nenhuma surpresa! Ele sabe quanto tempo nos resta. Cada dia, temos
exatamente um dia a menos para gastar em torno de Jesus e Seu Reino. A
pergunta é: Como estamos investindo nossa vida, nosso tempo? Estamos vivendo
hoje, para a eternidade?

Infelizmente, algumas pessoas vivem suas vidas como se fossem indestrutíveis.


Como se fossem mestres do seu próprio destino. Como se nunca teriam fim. Tiago
condena esse tipo de humanismo, secularismo, que exalta o homem e seus
planos, sem levar em consideração a vontade de Deus (vs. 13)

Atendei agora, vós que dizeis: Hoje, ou amanhã, iremos para a cidade tal, e lá
passaremos um ano, e negociaremos e teremos lucros.

Não há nada de errado com planejamento. A Bíblia nos encoraja a sermos

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 136


diligentes, a planejar para o futuro, como a formiga que prepara sua casa para o
inverno. Mas nunca somos encorajados a planejar nosso futuro num vácuo de
auto-suficiência. Tudo que fazemos tem que ser submetido ao Plano Divino. Tudo
que planejamos tem que ser coerente com os valores bíblicos. Tudo que
sonhamos tem que ser coerente com o uso de nossas vidas para eternidade.

Penso comigo mesmo sobre os nossos planos, nossos sonhos, nossos ideais,
nossos alvos como casal. Planos para crescer e envelhecer juntos. Planos para
celebrar bodas de prata. Planos para visitar os filhos, os netos. Planos para viajar.
Planos para conhecer, quem sabe, outros lugares do mundo.

Mas Tiago nos adverte. Enquanto planejamos, nunca podemos esquecer de quem
somos. Somos seres frágeis e dependentes. Somos finitos, limitados, fracos,
vítimas de um mundo contaminado pelo pecado.

No texto, os negociantes judaicos, que por sinal haviam experimentado muito


sucesso na vida, faziam seus planos numa redoma de auto-suficiência. Estavam
construindo suas vidas sobre um fundamento de luxo, só para descobrir no fim
que tudo era lixo. Faziam seus planos sem Deus.
Construíam seus castelos sobre a areia. Mas a onda da soberania de Deus subiu
na praia, e levou tudo para o fundo do mar.

Nunca podemos deixar Deus fora dos nossos planos (v14):


Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida?
Sois apenas como neblina que aparece por instante e logo se dissipa.

Esse texto nos alerta sobre duas razões porque todos os nossos planos devem
ser submetidos à soberania de Deus:

1. Porque somos ignorantes do futuro. Não sabemos o que vai acontecer


amanhã. Somos limitados. Finitos. Não somos oniscientes. Podemos e devemos
fazer planos, mas nunca com arrogância, auto-suficiência, prepotência, ou
autonomia.

Esse fato deve nos levar a humildade e dependência, cientes de que, no momento
em que Jesus tira sua mão sustentadora das nossas vidas, pararemos de respirar.
Por isso, vivemos nossas vidas cientes da soberania de Deus. Ele sabe. Ele se
importa. Ele traça os planos para nossa vida.
Ele direciona. Podemos lançar sobre Ele toda a nossa ansiedade, porque Ele tem
cuidado de nós!

2. Porque somos impotentes. Também não somos onipotentes. Não temos


poder nem de acrescentar um fio de cabelo nas nossas cabeças, muito menos
mais um minuto para nossas vidas (Mt 6:27). Somos como neblina que aparece e
logo se dissipa.

Por isso vivemos nossas vidas amarradas em Jesus, na esperança de vê-lo a

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 137


qualquer instante. O cristão não precisa temer a morte! Choramos, sim, pelos que
ficam, pela dor, pelo vazio. Mas quando vivemos nossas vidas com olhos fixos no
alvo, há uma certa expectativa do além. Somos peregrinos! Somos forasteiros!

II. Devemos Reconhecer que Deus é Soberano (15)

Uma fábula européia conta a história de uma aranha orgulhosa: “Havia uma
aranha no canto de um celeiro que admirava tanto sua teia, que a cada dia
limpava, arrumava e mostrava para todos que passavam. Porém um dia, enquanto
admirando sua bela obra-de-arte, ficou incomodada com a única coisa que
impedia que esta fosse a melhor teia-de-aranha na história do mundo. Foi aquele
fio lá em cima, que estragava toda a estética do resto. Não teve dúvidas, cortou
logo o fio que ligava sua teia ao teto, porém logo em seguida, seu mundo ruiu.

Infelizmente é isso que muitas pessoas estão fazendo. Cortam o fio que leva a
Deus. Decidem que podem construir sua teia-de-aranha sem nenhum fio no teto.
Abandonam a fé.

Expressamos nossa confiança na soberania de Deus através de um


reconhecimento simples, humilde e dependente, de que Deus tem tudo sob
controle. “Se Deus quiser.”

O triste hoje, é que esta frase “se Deus quiser” virou chavão, assim como a
saudação “Graça e paz”. Mas a frase está cheia de significado, quando expressa a
confiança do nosso coração. Mostra que somos seres dependentes, não
autônomos, não auto-suficientes, não capazes de fazer nada fora da boa mão de
Deus. Isso mexe com nosso orgulho. Elimina nossa arrogância.

Repare que a soberania de Deus não anula planejamento. Continuamos fazendo


planos, mas são planos contingentes, dependentes, provisórios: “Se o Senhor
quiser, não só viveremos, como faremos isto ou aquilo.” Tudo condicionado à
vontade de Deus. E, subentende-se, de forma coerente com Seus valores.

Em outras palavras, submetemos todos os nossos planos à soberana mão de


Deus. Confiamos nEle para estabelecer ou não os desejos do nosso coração (Sl
90:17).

Assim como Jesus falou, se alguém quer ganhar sua vida, precisa perdê-la num
plano maior. Investe na eternidade. Constrói hoje para sempre. A única maneira
de fazer sentido de um mundo assim é confiar na soberania de Deus, descansar
nEle, e viver cada dia como se fosse seu último.

III. Devemos Reconhecer que Auto-Suficiência é Pecado (16,17)

O texto termina com uma advertência contra auto-suficiência. Quando fazemos


planos com auto-suficiência, somos orgulhosos, arrogantes, soberbos. Excluímos
Deus dos nossos planos e das nossas vidas.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 138


Essa foi a atitude do diabo! “Agora, entretanto, vos jactais das vossas arrogantes
pretensões.
Toda jactância semelhante a essa é maligna.” Vem do diabo. Ele quis construir
seu próprio império independente de Deus. Ele quis ser Deus. Sua ambição, seu
egoísmo levou a sua queda.

Às vezes, gostaria muito de ser Deus. Gostaria muito que todos os meus planos já
saíssem com o carimbo divino de aprovação. Gostaria que todos os meus sonhos
fossem realizados. Mas eu não sou Deus. Ainda bem!

O versículo 17, avaliado dentro desse contexto, tem uma aplicação bem mais
direta.
Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz, nisso está pecando.

Qual é o bem que se deve fazer, nesse contexto? VIVER SUA VIDA DEBAIXO DA
SOBERANIA DE DEUS, INVESTINDO SEUS POUCOS ANOS HOJE PARA O
REINO DE DEUS!

Em outras palavras, viver uma vida de dependência constante de Deus. Submeter


todo plano à inspeção divina. Passar todo sonho pelo crivo da Palavra de Deus e
de valores eternos. Buscar em primeiro lugar o reino de Deus e Sua justiça. Usar
meu tempo, meus bens, minha inteligência, minha energia, minha boca, minhas
mãos, para o bem do Reino de Deus. Parar de correr atrás do luxo desse mundo,
que um dia vai virar lixo. Investir em 3 eternos—a Palavra de Deus, a Pessoa de
Deus, o Povo de Deus. Estes são investimentos que durarão para todo sempre!

De fato, em termos da eternidade, realmente é muito melhor irmos para um velório


do que uma festa. Porque na casa de choro podemos considerar a fragilidade do
ser humano, da nossa necessidade de Jesus em todos os momentos de nossas
vidas, da grandeza de Deus, da esperança do céu, de um Jesus vivo, ressurreto,
que nos traz todo consolo e toda esperança. À luz da ressurreição de Jesus,
DEVEMOS VIVER, HOJE PARA SEMPRE.

Parte XXIV
JESUS E A MULHER SAMARITANA:
Repensando velhos conceitos
O encontro de Jesus com a mulher samaritana poderia ser descrito como "a vitória
do evangelho sobre os preconceitos sócio-culturais". Os judeus e samaritanos não
se entendiam desde os tempos de Oséias, o último rei de Israel.

I
Tudo começou quando Oséias conspirou contra Salmanasar, rei da Assíria.
Samaria, a capital de Israel, foi sitiada pelas tropas assírias por três anos e,
posteriormente, seus moradores foram transportados para a Assíria (2 Rs 17.3-6).
Isto aconteceu em 722 a.C. Somente os pobres puderam ficar em Israel (cf. Jr
39.10). Logo, vieram também estrangeiros e se estabeleceram na região

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 139


devastada. Diz o relato bíblico: "O rei da Assíria trouxe gente de Babilônia, de
Cuta, de Hamate e de Serfavaim, e a fez habitar nas cidades de Samaria, em
lugar dos filhos de Israel; tomaram posse de Samaria e habitaram nas suas
cidades" (2 Rs 17.24). Da mescla com a população que havia ficado, surgiu uma
nova raça denominada de samaritanos (nome derivado de Samaria, a metrópole
fundada por Onri, pai de Acabe, por volta de 880 a.C.).
No princípio, quando os estrangeiros passaram a habitar em Samaria, eles não
temeram ao Senhor; pelo que o Senhor mandou leões invadirem suas terras, os
quais mataram a alguns do povo. Com razão atribuíram esta praga à ira de Deus.
Então, rogaram ao rei da Assíria que enviasse um sacerdote israelita para lhes
ensinar "como servir o Deus da terra". E assim aconteceu que um judaísmo
adulterado foi enxertado ao culto pagão. Quando uma parte dos judeus voltou à
terra de seus pais (principalmente, mas não exclusivamente, parte dos que haviam
sido deportados para a Babilônia em 586 a.C.), construiu-se um altar para o
holocausto e pos-se os fundamentos do templo, samaritanos zelosos e seus
aliados interromperam as obras (Ed 3 e 4). Assim fizeram porque negaram a eles
a permissão de cooperar na obra de reconstrução. Sua petição foi: "Deixa-nos
edificar convosco, porque, como vós, buscaremos a vosso Deus, como também já
lhe sacrificamos desde os dias de Esar-Hadom, rei da Assíria, que nos fez subir
para aqui". A resposta que receberam foi a seguinte: "Nada tendes conosco na
edificação da casa do nosso Deus". Ao receberem esta dura resposta os
samaritanos passaram a odiar os judeus. Logo começaram a construir seu próprio
templo no monte Gerizim. Porém, João Hircano, um dos reis macabeus, destruiu
este templo em 128 a.C. Os samaritanos, não obstante, continuaram adorando em
cima da montanha, onde haviam erigido o templo sagrado.
A aversão dos judeus para com os samaritanos pode ser vista ainda em Jo 8.48 e
no livro apócrifo de Eclesiástico 50.25,26.1 E a mesma atitude por parte dos
samaritanos em Lc 9.51-53.

Dois fatores principais ocasionaram o encontro de Jesus com a samaritana. O


primeiro foi a desconfiança por parte dos fariseus e a conseqüente "tempestade"
que começava a se armar (Jo 4.1). Os fariseus viam surgir diante de seus olhos
outro profeta como João Batista. É certo que a verdadeira preocupação dos
fariseus não era com o batismo de um ou do outro, mas eram as multidões que
Jesus arrastava que começava a incomodá-los. A fim de evitar um confronto antes
do tempo, o Mestre decidiu deixar a Judéia e partir para a Galiléia (v3).
O segundo fator que ocasionou o encontro está no verso 4: "E era-lhe necessário
atravessar a província de Samaria". Por que era necessário que Jesus passasse
por Samaria? Seria por causa das chuvas que transbordavam o rio Jordão,
dificultando o caminho costumeiramente seguido pelos judeus que queriam ir até a
Galiléia, como sugerem alguns? Acredito que não. Será que o Mestre apenas
queria cortar caminho por Samaria para chegar na Galiléia? Muito menos, visto
que não era normal um judeu passar por Samaria, seja qual fosse a circunstância.
MacArthur observa:
Os samaritanos representavam uma ofensa tão grande que eles nem queriam por
os pés na Samaria. Embora a rota mais curta atravessasse essa província, os
judeus nunca usavam esse caminho. Eles tinham a própria trilha, que ia ao norte

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 140


da Judéia, a leste do Jordão, entrando na Galiléia. Jesus bem poderia ter seguido
por essa rota, muito usada, que unia a Judéia à Galiléia.2

A questão era: Jesus necessitava ir por aquele caminho e chegar numa cidade
samaritana de nome Sicar porque "precisava atender a um compromisso divino
junto ao poço de Jacó".3
Não há unanimidade entre os estudiosos quanto ao horário da chegada de nosso
Senhor ao poço (v6). João estaria usando o horário judaico (meio dia) ou o horário
romano (seis da tarde)? Este detalhe não é tão importante. Basta saber que Jesus
chegou na hora certa. Nem antes; nem depois. "Ele estava no local e no tempo
indicados por Deus, determinado a fazer a vontade do Pai. Ele estava lá para
buscar e salvar uma única, triste e desventurada mulher".4

II
"Nisto veio uma mulher samaritana tirar água. Disse-lhe Jesus: Dá-me de beber"
(Jo 4.7).
"Então lhe disse a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, pedes de beber a
mim que sou mulher samaritana..." (Jo 4.9).
Com uma simples petição (dá-me de beber), o nosso Senhor declara que a
separação entre os povos em geral, e judeus e samaritanos em particular, estava,
de certa forma, com os dias contados. A parede divisória desaparece onde o
evangelho se faz presente (cf. Gl 3.28; Ef 2.14).
No simples fato de viajar por Samaria e pedir água à uma samaritana, Jesus
estava derrubando barreiras centenárias de preconceito racial. "A misericórdia de
nosso Senhor transpôs as barreiras do ódio nacionalista, como se vê não somente
aqui, João 4, mas também em Lc 9.54,55; 17.11-19; e na parábola do Bom
Samaritano (Lc 10.25-37)".5 É interessante observarmos que o encontro de Jesus
com a mulher samaritana foi precedido pela ida dos discípulos à cidade de Sicar
para comprar alimentos (v8). Mandar os discípulos comprar alimentos foi um santo
pretexto do Mestre. Nem tanto para ficar simplesmente sozinho e conversar
sossegado com a mulher. Muito menos porque precisasse de comida naquela
hora (veja vv31-34). É que as barreiras deveriam ser destruídas em seus
discípulos também (cf. Lc 9.51-56).
Embora estivesse verdadeiramente cansado e necessitasse de água (vv6,7),
Aquele que pedia tinha muito mais a oferecer. Pedir água àquela mulher fazia
parte de uma estratégia evangelística, se é que podemos dizer assim. "À medida
que o Grande Evangelista procura ganhá-la, Ele orienta sabiamente a conversa,
levando-a de um simples comentário sobre beber água à revelação de que Ele era
o Messias".6 Aquele que pedia água fria estava oferecendo água viva, a saber, a
Si mesmo.
Conhecendo a tradição discriminatória, a mulher ficou perplexa com o pedido de
Jesus. Nos tempos do Novo Testamento havia uma desigualdade muito grande
entre homem e mulher. Nos tempos bíblicos (e em muitos países orientais de
hoje) os homens não conversavam com mulheres em público, mesmo sendo suas
esposas. Se entre um judeu e um samaritano existiam preconceitos profundos,
imagine-se entre um judeu e uma samaritana, e uma samaritana de vida imoral!
Independente do modo em que vivia uma samaritana, os judeus sempre

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 141


consideravam-nas em estado de perpétua contaminação. Um judeu preferia
morrer de sede a tomar água da mão de um samaritano, muito menos de uma
mulher samaritana, sobretudo pecadora. Haja vista a surpresa dos discípulos ao
virem Jesus falando com a mulher (v27).
A mulher estava surpresa com o fato de Jesus se dirigir a ela, pedindo água de
seu cântaro "impuro". Mas a impureza não estava no cântaro, e sim, na vida dela.
E era aquela vida que o Senhor Jesus queria purificar.
É provável que na mente da samaritana, moldada por uma sociedade
culturalmente preconceituosa, passasse também o seguinte pensamento: "Tu és
judeu, estás necessitado de água e não podes valer-te. Eu sou mulher samaritana,
sou auto-suficiente e, portanto, posso ajudar-te". Jesus, pois, mostrou que a
realidade era completamente outra. A mulher é quem precisava de água de
verdade e Ele era a única fonte que podia sacia-la (v10).
Ainda que a mulher samaritana não entendesse à princípio que a verdadeira água
viva estava fora e não no fundo do poço, os progressos começavam a aparecer.
Ela já não vê Jesus como um simples forasteiro judeu afoito. Agora ela O chama
de "senhor" (v11) e não mais "tu" (v9). Os preconceitos sócio-culturais que
impregnavam tanto judeus como samaritanos começam a arrefecer da parte dela.
Convém ressaltar, ainda, que a mulher samaritana não era desprezada apenas
pelos judeus, mas também pelo seu próprio povo, em razão da vida libertina que
levava. A vida dela era um emaranhado de adultérios e divórcios. "Na sociedade
de então, isso fazia dela uma pessoa rejeitada e proscrita, com um status social
igual ao de uma prostituta comum".7
Perto de Sicar haviam muitos poços nos quais ela poderia buscar água. "As
mulheres costumavam cumprir esta tarefa num horário mais fresco e em grupo,
pois era mais seguro e mais cômodo".8 Entretanto, a condição de vida que levava
a obrigava fazer longas caminhadas, sozinha, até o poço de Jacó. Além disso,
buscava sua água no horário em que provavelmente não encontraria as suas
conhecidas.
O Rev. Miguel Rizzo Jr., ilustre pastor presbiteriano falecido, escreveu um
excelente opúsculo entitulado O Cântaro Abandonado, no qual relata o
preconceito social sofrido pela mulher samaritana com o seguinte quadro:
"Vivia segregada da sociedade. Possivelmente, no convívio que outrora tivera com
suas amigas, percebeu que elas a repeliam. Quantas vezes teria ouvido
comentários cortantes de sua conduta!
-Já é o segundo marido, diriam algumas.
Tempos depois seria mais acre o comentário:
-Já é o terceiro marido.
Mas a situação ia piorar ainda:
-Já é o quarto marido.
Quantas ironias acompanhariam, na maledicência social, esses comentários
mordazes! E iam-se tornando mais ferinos:
-Já é o quinto marido.
Na época em que se deram os fatos que comentamos, a crítica provavelmente
seria já mais enxovalhante:
-Agora é o sexto marido".9
A imoralidade é uma prática inaceitável. Mas não se pode confundir o pecador

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 142


com o pecado. A vida leviana daquela mulher era reprovável, porém, havia nela
uma alma necessitada de compaixão. Estava socialmente marginalizada e
moralmente esfarrapada. E foi assim que Jesus a encontrou e a salvou.

III
"Senhor, disse-lhe a mulher: Vejo que tu és profeta. Nossos pais adoravam
neste monte; vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se
deve adorar" (vv 19,20).
Constrangida com a revelação de sua vida de pecado, e aproveitando a
capacidade profética de seu interlocutor, a mulher tentou mudar de assunto.
Digo "tentou" porque na verdade era Jesus quem conduzia o diálogo. A
mulher estava estrategicamente cercada do princípio ao fim da conversa. E a
evangelização acabaria na hora exata, com os assuntos devidamente
tratados. Não é curioso que os discípulos chegassem exatamente no fim da
conversa?

O último obstáculo a ser vencido seria o preconceito religioso. Deste


preconceito entre judeus e samaritanos originavam-se todos os
preconceitos sócio-culturais. Como observou corretamente A. Gelston: "O
ponto principal da discórdia era o templo do monte Gerizim".10 Os judeus
insistiam que Jerusalém era o único lugar de adoração. A tradição
samaritana, por sua vez, dizia que uma longa cadeia de figuras bíblicas,
desde Adão até José, conheciam o monte Gerizim como lugar sagrado.
Implicitamente, a samaritana estava perguntando: "Quem está certo?".
A conversa de Jesus com a mulher samaritana passa a girar em torno da
verdadeira adoração. "É bastante significante a importância dada ao lugar de
culto por uma alma cujos pecados são expostos".11
No decorrer do diálogo muitos sub-temas são abordados, tais como: o lugar
da adoração, o tempo da adoração, a busca dos adoradores, o verdadeiro
adorador, a quem se deve adorar, o modo correto de se adorar, etc. Não
temos espaço para tratar separadamente cada um desses sub-temas. Basta
dizer, por enquanto, que Deus só pode ser verdadeiramente adorado, desde
que seja verdadeiramente conhecido. Como diz muito bem o Dr. Héber
Carlos de Campos em seu comentário de João 4.20-24: "O pressuposto
inequívoco para verdadeira adoração é o conhecimento do verdadeiro
Deus".12

Nosso Senhor ensinou à samaritana que quem conhece Deus de fato, só


pode adorá-lO em espírito e em verdade. Estudiosos da Bíblia têm dado
diversas interpretações para a expressão "em espírito e em verdade" de
João 4.23,24.13 Parece razoável entendermos que ao estabelecer o modo
correto de adorar a Deus, isto é, em espírito e em verdade, Jesus estava
criticando o culto judaico e o culto samaritano.
Os samaritanos acreditavam que adoravam o mesmo Deus dos judeus, mas
não aceitavam as mesmas Escrituras dos judeus, a não ser os cinco
primeiros livros, o Pentateuco de Moisés. Como não aceitavam os demais
livros da revelação divina (por acharem que eram invenções dos judeus), o

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 143


culto dos samaritanos era defeituoso. Por isso Jesus disse à mulher: "Vós
adorais o que não conheceis, nós adoramos o que conhecemos, porque a
salvação vem dos judeus" (v22). Os samaritanos adoravam "em espírito",
isto é, adoravam aquele que eles não conheciam "com alegria e verdadeiro
entusiasmo". Mas e daí? Não adoravam "em verdade" porque rejeitavam 34
livros do Velho Testamento, a Bíblia de então. A revelação de Deus nas
Escrituras é progressiva; portanto, é impossível conhecê-lO
verdadeiramente ficando apenas com os cinco primeiros livros da Bíblia.
Por outro lado, os judeus aceitavam toda Escritura. Por isso conheciam
Deus e tinham tudo para adorá-lO corretamente. "Tinham tudo", mas não o
faziam. Os judeus se limitavam à formalidade de um culto onde o espírito
não estava presente. Faltavam emoção, vida e alegria no culto judaico.

Contudo, uma nova era estava surgindo para a adoração. Logo, logo tanto
judeus como samaritanos compreenderiam que para adorar a Deus o que
menos importava era o espaço físico. O que conta "não é onde se deve
adorar, mas a atitude do coração e da mente, e a obediência à verdade de
Deus quanto ao objeto e o método de adoração. Não é o onde, mas o como e
o quê o que realmente importa".14 Deus quer homens e mulheres que O
adorem com o espírito dos samaritanos e a verdade dos judeus.15
O resultado do encontro de Jesus com a mulher samaritana não poderia ser
menos que excelente. A pecadora tornou-se missionária! Extremamente
feliz, deixou seu cântaro e correu para anunciar na cidade sua grande
descoberta: o Messias chegou! A mulher despertou o interesse dos seus
concidadãos de tal modo que conseguiu levá-los a Jesus (vv29,30). Houve
uma grande colheita: Muitos samaritanos creram em Cristo Jesus (vv39-42).

IV
São grandes as lições que aprendemos do encontro de Jesus com a mulher
samaritana. A começar pelo resultado da conversa, vemos uma mulher
outrora desprezada por todos, sendo usada poderosamente por Cristo para
influenciar os moradores de sua cidade. Quão glorioso é Cristo: "Ele ergue
do pó o desvalido, e do monturo, o necessitado" (Sl 113.7).
Como esta mulher, existem tantas outras em nossas cidades. Assim como
elas, tantos outros se encontram à margem da sociedade, roubados de seus
direitos e dignidade. E nós, evangélicos, lamentavelmente somos culpados
por boa parte da marginalização do indivíduo pela sociedade, pois fazemos
pouco ou nada em mostrar para a sociedade que o homem e a mulher, a
criança e o idoso, o deficiente, os proscritos em geral , etc., são valorizados
por Cristo e como humanos que são devemos valorizá-los também.
Falhamos em não ver (ou fingimos que não vemos) a pessoa por trás de
seus pecados.
Outra lição importante que aprendemos de João 4 são os princípios básicos
para uma boa evangelização. Notamos que Jesus conduzia a conversa,
utilizando-Se, primeiramente, de Sua sede física para chegar à sede
espiritual daquela mulher. Com habilidade o Senhor invalida as tentativas da
samaritana de controlar o diálogo, mudar de assunto e perguntar coisas sem

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 144


importância. Não precisamos conhecer a vida de uma pessoa como Cristo
conhece para sermos eficicientes na evangelização. Nossa suficiência está
em Cristo e o Espírito Santo nos guiará com triunfo em nossa evangelização.
Mas as lições de evangelismo continuam. Na tentativa de fugir da
confrontação, vemos na mulher samaritana o símbolo do pecador em seu
estado natural. No "cerco" de Cristo temos o exemplo que devemos seguir
na evangelização dos perdidos. Aprendamos com o Mestre a sermos mais
sensíveis com os marginalizados e como abordá-los com eficiência.
Não é preciso pressa quando se evangeliza. Este é outro ponto que
extraímos de João 4. O importante, como o nosso Senhor ensinou,é que haja
progresso. O próprio Jesus revelou pouco a pouco quem Ele era. E em
perfeita harmonia com esta revelação gradual, a confissão da mulher
também avançou. Primeiro viu Jesus como um simples forasteiro judeu;
depois um profeta, que revelou coisas de sua vida particular e, por último, o
Messias.
A conversa sobre a verdadeira adoração é uma preciosidade do Novo
Testamento. Contudo, ao mesmo tempo que é edificante torna-se
preocupante também. Receio que muito do chamado culto cristão de hoje
não passe de culto samaritano ou judaico. De um lado temos os entusiastas,
mas vazios de conteúdo, de doutrina. Do outro lado temos os experts na
Bíblia e na doutrina, mas totalmente frios e sem entuisiasmo e alegria no
Senhor. Que Deus nos ajude a oferecermos a Ele a adoração que Lhe é
devida.

NOTAS

1. O historiador judeu Flávio Josefo disse que, por volta do ano 19 d.C., um
grupo de samaritanos entrou no templo de Jerusalém e espalhou ossos
humanos sobre o altar, profanando o santuário e acirrando contra si o ódio
judaico. Este ato causou revolta e indignação por parte de todos os judeus
das sinagogas de Israel, que passaram a encerrar suas orações diárias
lançando uma maldição sobre os samaritanos. Cf. A Missão da Igreja,
(Missão Editora, Belo Horizonte,1994), pp. 65,6.

2. John F. MacArthur, O Evangelho Segundo Jesus, (Editora Fiel, São Paulo,


1991), p. 57.

3. MacArthur, op.cit., p. 57.

4. Idem, p. 58

5. G. Hendriksen, El Evangelio Según San Juan, (SLC, Grand Rapids, 1987),


pp. 172,3.

6. MacArthur, op. Cit., p. 56.

7. MacArthur, op. cit., p. 55.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 145


8. Rosane Maria, Senhor dá-me de beber em No Princípio era o Verbo,
(Encontrão Editora, Curitiba, 1994), p. 243.

9. M. Rizzo, Jr., O Cântaro Abandonado, (UBB, São Paulo, 1982), p. 34.

10. A. Gelston, Samaritanos em O Novo Dicionário da Bíblia, ( Edições Vida


Nova, São Paulo, Vol. II, 1986), p. 1472.

11. A. J. Macleod, O Evangelho Segundo São João em O Novo Comentário


da Bíblia, (Edições Vida Nova, São Paulo, Vol. II, 1987), p. 1071.

12. H. C. Campos, O Pressuposto Básico da Verdadeira Adoração, artigo não


publicado, p. 33.

13. Consulte comentários bíblicos de João 4.23,24.

14. G. Hendriksen, op. cit., pp. 178,9.

15. É importante observar, porém, que os judeus aceitavam todo o VT, tendo
a oportunidade de conhecer tudo o que de Deus se podia conhecer "naquela
época". Entretanto, hoje já não é possível dizer que os judeus conhecem
verdadeiramente a Deus porque rejeitam a revelação de Deus em Cristo
Jesus, conforme nos é ensinado no Novo Testamento.

Parte XXV
VISÃO: ENXERGAR ALÉM DA MAIORIA
A confrontação da mediocridade exige pensamento claro.
as pessoas que enfrentam a mediocridade devem fazê-lo mediante a perspectiva
de outro reino, não governado por nós, mas pelo próprio Senhor.
Custa nosso compromisso e revela-se periodicamente em expressões@
extravagantes.
MUNDO: Inteligência humana, simpatia persuasiva, lógica inteligente e atraente,
competição, criatividade e riqueza de recursos, mas tem falta dos ingredientes
essenciais que capacitam a pessoas alçar vôo sublime, como o da águia.
- A parte traiçoeira é a maneira como nosso cérebro passa por lavagem pelo
sistema, ficando, assim, bloqueado, impedido de atingir seu potencial total.
O resultado final é previsível : ansiedade interna e mediocridade externa.

TRÊS FATOS INDISPUTÁVEIS


A RESPEITO DO SISTEMA MUNDANO.

Mateus 6:24-34
- "Ninguém pode...", NÃO andeis...", "Qual de vós poderá"
"Basta a cada dia seu próprio mal..."

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 146


- é a diferença entre a maneira como as pessoas vivem natural-mente (cheias de
preocupação e ansiedade), e a maneira como o Senhor planejou que vivêssemos
(livres de todo aquele excesso de bagagem).
- Decaímos para um modo de vida inferior porque "os gentios é que procuram
todas estas coisas" (v.32)

1. VIVEMOS NUM MUNDO HOSTIL, NEGATIVO.

O sistema que nos rodeia focaliza-se nos pontos negativos :


- no que está errado, não no que está certo,
- no que está faltando, não no que está presente,
- no feio, não no bonito (Ex : Dinossauros - "a era o feio"
- no que é destrutivo, não no que é construtivo,
- no que não pode ser feito, não no que pode ser feito,
- no que fere, não no que ajuda,
- no que nos falta, não no que temos.
A maioria das notícias se relaciona em fatos negativos.
É contagioso : Ex : Satanás e Eia

A atitude mental negativa conduz a sentimentos incríveis de ansiedade. O


resultado é :medo, ressentimento e ódio.
O sistema mundano opera de modo direto contra a vida que Deus planejou para o
seu povo.

2. ESTAMOS ENGOLFADOS PELA MEDIOCRIDADEE CINISMO.

Sem a motivação do entusiasmo e da visão cheia do poder divino, as pessoas


tendem para a "média".
- fazendo apenas o suficiente para serem aprovadas.
- a maioria dita as regras, e a excitação é substituída por um dar de ombros.
- NÃO apenas se perde a excelência de vida, mas sempre que ela levanta a
cabeça, é considerada uma ameaça.

3. A MAIORIA ESCOLHE NÃO VIVER DE MODO DIFERENTE.

"Vá na onda" e "NÃO faça onda" e "Quem se importa?"


- O cinismo está presente e a coragem está ausente.
A Coragem :
- dá a uma nação seu orgulho
- a um lar seu propósito
- a uma pessoa a vontade de produzir o melhor possível.

"É preciso que alguém saliente que desde os tempos antigos


o declínio da coragem tem sido considerado o começo do fim"
Alexandre Soljenitsin

O QUE É NECESSÁRIO PARA VIVER DE MODO DIFERENTE?

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 147


VISÃO:

- A águia possui oito vezes mais células visuais por centímetro cúbico do que o ser
humano.
- Voando à altura de 200 metros a águia consegue detectar um objeto do tamanho
de uma moedinha, movendo-se na grama de 15 cm de altura.
- A águia pode enxergar um peixe de oito centímetros saltando num lago e oito
quilômetros de distância.
- As pessoas que têm a visão de uma águia conseguem enxergar o que a maioria
não vê.

DETERMINAÇÃO:

- Capacidade de a pessoa manter-se disciplinada, coerente, forte e diligente a


despeito das circunstâncias ou das exigências.
- As águia são férreas na defesa de seu território e de seus filhotes.
- A força de suas garras é fenomenal.
- Podem agarrar e quebras os ossos fortes do braço humano.
- As pessoas semelhantes a águia possuem tenacidade.

PRIORIDADES:

- Escolha das primeiras coisas em primeiro lugar.


- Fazer o essencial na ordem de sua importância, deixando de lado o inci-dental.

PRESTAÇÃO DE CONTAS:

- Dar respostas às perguntas difíceis, estando em intimo contato com algumas


pessoas em vez de viver em isolamento, como o lobo solitário.
- Pessoas semelhantes à águia podem ser raras, mas elas possuem uma lealdade
incrível quando aderem a uma causa.

DOIS HOMENS CORAJOSOS QUE DISCORDA-RAM DA MAIORIA.

Números 13

1. Houve um exodo.
2. Sob a liderança de Moisés, o povo escolhido de Deus chegou às fron-teiras da
Terra Prometida.
3. O novo território lhes pertencia : "Voces terão a terra!"
4. Deus ordenou a Moisés que espiassem a terra.
- Nem uma só vez os espias foram consultados e encorajados a dar sua opinião
quanto a se poderiam conquistar Canaã.
- NÃO havia a minima necessidade disto, porque o Senhor já havia prometido a
vitória.
- Os espias eram homens famosos entre os israelitas (Nm 13:3-16.)

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 148


5. A missão deles era bem clara. Dolorosa e explicitamente clara (17-20)
- Moisés não lhes disse : "E quando regressarem, dêem-nos conselho sobre se
devemos ou não invadir a terra." - o povo ouviu o relatório (21-27) : oh!!! ah!!!

RELATÓRIO NEGATIVO

28-29,31 "MAS..."
- Quem havia perguntado?
- Ninguém queria saber se seria capaz de subir ou não.
- Deus tinha prometido que a terra seria deles.
- Só precisavam saber como era a terra.
- Extrapolaram os objetivos de sua missão : (32-33)

- O Negativismo e a visão restritiva são contagiosos : 14:1-2


- Sempre aparece um camarada com idéias criativas : 14:4
- Quando a maioria é deficiente de visão, a miopia espiritual tende a cobrar ônus
pesado daqueles que tentam liderar : (v.5)

RELATÓRIO POSITIVO

VISÃO ILIMITADA 13:30, 14:6


- Havendo visão, não há lugar para o medo.
"Mas toda a congregação disse que os apedrejassem" Nm 14:10
É duvidoso que a maioria alguma vez tenha razão" Arnold Toynbee

VISÃO é a habilidade de...


- ver a presença de Deus,
- perceber o poder de Deus,
- focalizar os planos de Deus, apesar dos obstáculos.

O A-B-C-D-E da Visão...

A. ATITUDE

- ser otimista em vez de pessimista.


- positiva em vez de negativa.
- NÃO totalmente positiva como se fora uma fantasia, porque voce conta com a
presença de Deus.
- Voce não desiste. Diz: "Senhor, este é o teu momento. É aqui que tu assumes o
controle."

B. BASE DE FÉ

- Forte base de fé no poder de Deus.


- confiança nas demais pessoas ao seu redor, engajadas em batalhas
semelhantes às suas.
- confiança em Voce mesmo, pela graça de Deus. Recusando-se a cair em

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 149


tentação, a dar lugar ao cinismo, à duvida. NÃO desanimando.

C. CAPACIDADE

- prontidão para o fortalecimento.


- "Voce precisa esta disposto a ser fortalecido.
- Voce precisa permitir que sua capacidade seja invadida pelo poder de Deus.

D. DETERMINAÇÃO

- Insistir em vez de desistir,


- As circunstancias endurecem e Voce endurece mais duro ainda.
- A visão requer determinação, foco contínuo em Deus, que está observan-do e
sorrindo.

E. ENTUSIASMO

- "entheos" (Deus em)


- Capacidade de ver Deus numa dada situação, o que torna o evento excitante.
- É quando nos tornamos convencidos de que Deus, nosso Pai celeste, participa
de nossas atividades e as aplaude.
Ilustração : jovem atleta preguiçoso, pai cego morre.

Parte XXVI
O “Evangelho de Judas”

As investidas dos inimigos da cruz surgem por todos os lados. Nos primeiros
séculos da era cristã, os gnósticos foram uma ameaça à igreja primitiva. Uma
mistura de ensinos cristãos, filosofias pagãs e tradições judaicas motivou Paulo a
escrever a epístola aos colossenses, onde ressalta:

“Tende cuidado para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs
sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo e
não segundo Cristo” (Cl 2.8). O motivo de sua preocupação era “para que
ninguém vos engane com palavras persuasivas”.

A Igreja tem sofrido ataques internos e externos. Os ataques intramuros decorrem


das aberrações doutrinárias produzidas por alguns grupos. As ofensivas externas
vêm dos inimigos da cruz, dos anticristos, de há muito revelados e
desmascarados: “Filhinhos, é já a última hora; e, como ouvistes que vem o
anticristo, também agora muitos se têm feito anticristos. Quem é o mentiroso,
senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? É o anticristo esse mesmo que
nega o Pai e o Filho” (1 Jo 2.18,22).

Está sendo amplamente divulgado pela mídia o “Evangelho de Judas”. Diz a


notícia que a única cópia desse evangelho ficou desaparecida por 1.700 anos. O
manuscrito contém 26 páginas (alguns dizem que são mais de 50 páginas) em

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 150


papiro, escrito em dialeto egípcio copta. O documento seria cópia de uma versão
do século III ou IV, redigida em grego.

A novidade é que o texto indica que a traição de Judas Iscariotes teria sido a
pedido do próprio Jesus, que lhe teria dito: “Tu superarás todos eles. Tu
sacrificarás o homem que me cobriu”. Ou seja: O traidor ajudaria Jesus a libertar-
se do seu invólucro carnal (Jornal O Povo, Fortaleza, (CE), 08.04.06, p.28). Foi
assunto de capa da revista ÉPOCA. Edição 405, 20.02.06. O manuscrito ainda
está em processo de tradução. A nossa análise abrange apenas o que foi
divulgado.

Ateus e anticristos de um modo geral estão dançando de alegria. Há dois mil anos
tentam dar um xeque-mate na Igreja. Ainda não conseguiram. Nem conseguirão.
Os cristãos seguem cada vez mais confiantes.

A notícia não o diz qual dos personagens da Bíblia com o nome “Judas” é o autor
do dito Evangelho: Judas (apóstolo - Lc 6.16; Jo 14.22); Judas (Barsabás – At
15.22); Judas (de Damasco – At 9.11); Judas (irmão de Jesus – Mt 13.55; Mc 6.3).
O manuscrito ainda está em processo de tradução. Sabe-se que referido
evangelho foi classificado de herético pelo bispo Irineu, de Lyon, no segundo
século.

Vale lembrar que muitos evangelhos existiram, mas apenas os de Mateus,


Marcos, Lucas e João foram considerados de inspiração divina. Embora os 27
livros do Novo Testamento tenham sido concluídos em menos de 100 anos – eis
que o Apocalipse, o último, foi escrito mais ou menos no ano 96 d.C. -, somente
foram definitivamente reconhecidos como canônicos no III Concílio de Cartago,
em 397 d.C. Tal fato denota que houve um longo debate e longa meditação para
que tais livros fossem aceitos como inspirados.

Em todo o processo de canonicidade houve a direção do Espírito Santo. O mesmo


Espírito que fez com que os discípulos se lembrassem de tudo o que o Senhor
Jesus ensinou, foi o mesmo que guiou os escritores sacros em toda a verdade (Jo
14.26; 16.13). Sob a direção desse Espírito, Pedro revelou que “a profecia nunca
foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus
falaram inspirados pelo Espírito Santo” (2 Pe 1.21; cf. 2 Tm 3.16-17).

Somente com esses argumentos, já é possível considerar apócrifo e espúrio o


noticiado “Evangelho de Judas”. O Espírito de Deus se esqueceu desse
manuscrito? Não se esqueceu. A história secular diz que o manuscrito existiu, mas
foi considerado herético. O Espírito Santo não permitiu que tal evangelho fizesse
parte do cânon do Novo Testamento.

Vejamos agora o que dizem os livros canônicos e principalmente a palavra do


Senhor Jesus a respeito de Judas Iscariotes e de sua traição.

Jesus disse na presença dos Doze que Judas Iscariotes era um adversário: “Um

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 151


de vós é um diabo” (Jo 6.70), isto é, desde cedo Judas sofreu influências
malignas. Estava no meio dos Doze, mas era um adversário, um anticristo.
Esperava o momento oportuno para mostrar sua verdadeira identidade. O
apóstolo João diz com clareza que a vontade de trair o Mestre foi colocada pelo
diabo no coração de Judas (Jo 13.2).

Se Jesus houvesse permitido que Judas O traísse, iria se manifestar desse modo
na frente dos Doze? Agindo assim não estaria se arriscando a ser desmascarado
pelo traidor? Ora, Judas poderia ter dito: “Como sou diabo se o Senhor mesmo me
pediu para que o traísse?”. Judas não foi influenciado por Jesus. A sua traição não
foi para atender a um pedido do Mestre. Na verdade, como diz o apóstolo, foi o
próprio diabo que entrou no seu coração e o transformou num traidor. Muitos dos
mais ferrenhos inimigos da cruz reconhecem que Jesus não era de meias
verdades. O Espiritismo, por exemplo, reconhece que Ele veio nos ensinar uma
elevada moral. Ele jamais iria fazer algum tipo de acordo particular com Judas,
sem o conhecimento dos demais. O conluio não fazia parte do Seu caráter.

Ademais, se Judas estava simplesmente cumprindo uma recomendação do


Mestre, como poderia ser chamado de traidor? Se Judas iria livrar Jesus do seu
invólucro carnal, deveria ter sido chamado de libertador. O Verbo encarnado não
era um hipócrita para agir desse modo. Durante a última ceia Jesus identificou o
traidor: “O que põe comigo a mão no prato, esse me há de trair. Em verdade o
Filho do homem vai, como acerca dele está escrito, mas ai daquele homem por
quem o Filho do homem é traído. Bom seria para esse homem se não houvera
nascido. E, respondendo Judas, o que o traía, disse: Porventura sou eu, Rabi? Ele
disse: Tu o disseste” (Mt 26.23-25).

Vejam que Judas não ia trair; ele já vinha traindo; já houvera iniciado as conversas
com “os príncipes dos sacerdotes”; a traição já se estabelecera no seu coração.
Esperava apenas o momento de colocar em prática aquilo que já estava decidido.
Por isso a Bíblia fala “o que o traía”.

Diante das duras palavras de Jesus, chamando-o de traidor e ameaçando-o com


enormes castigos, Judas não se indignou nem revidou. Saiu e foi receber as trinta
moedas da traição. Judas teve a oportunidade de dizer que apenas cumpriria a
missão que lhe fora confiada pelo traído. Que juízo podemos fazer de uma pessoa
que pede para ser traído e ao mesmo tempo ameaça o traidor? Nesse caso Judas
é quem teria sido traído por Jesus. Tal situação é inconcebível.

Na verdade, se Judas Iscariotes atendeu a um pedido do Mestre, não podemos


usar a palavra “traição”. Judas não seria traidor em potencial. Vejam como foi o
seu fim:

“Então Judas, o que o traíra, vendo que fora condenado, trouxe, arrependido, as
trinta moedas de prata aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos, dizendo:
Pequei, traindo o sangue inocente. Eles, porém, disseram: Que nos importa? Isso
é contigo. E ele, atirando para o templo as moedas de prata, retirou-se e foi-se

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 152


enforcar” (Mt 27.3-5).

Convenhamos, essa não é atitude de quem está apenas cumprindo um acordo. O


sentimento para quem cumpre uma missão é de alegria, de dever cumprido, de
consciência limpa. Nada disso aconteceu. Judas declara haver traído “sangue
inocente”.

Com base na pequena amostra do que já foi publicado, podemos dizer que o tal
Evangelho de Judas é um documento espúrio, que não abala as estruturas do
Cristianismo, nem coloca dúvida em qualquer parte das Escrituras Sagradas, a
inerrante Palavra de Deus.

Parte XXVII
Ressurreição e Reencarnação
Não há porque confundir as duas doutrinas. Ressurreição é doutrina cristã;
reencarnação é doutrina espírita. São caminhos que não se cruzam. A doutrina ou
teoria do Espiritismo está contida no Livro dos Espíritos, escrito pelos “espíritos”,
com 1009 quesitos, e em outros livros de autoria de Allan Kardec. As doutrinas
básicas do Cristianismo estão detalhadas na Bíblia Sagrada, regra de fé e prática
dos cristãos, escrita sob inspiração divina. A Bíblia é a palavra de Deus. O
Cristianismo é único, exclusivo, e não se confunde com qualquer outra religião não
cristã. Somente os que seguem a Cristo podem ser considerados cristãos. Dito
isto, examinemos as duas doutrinas.

Reencarnação

Reencarnação é a volta do espírito ao plano material. Quando o homem morre, o


corpo desce à sepultura e o espírito segue para o mundo espiritual. A doutrina da
reencarnação sustenta que o espírito retorna à vida terrena, em novo corpo, tantas
vezes quantas sejam necessárias. O objetivo desse retorno “é fazê-los chegar à
perfeição” e proporcionar um “melhoramento progressivo da Humanidade”. “As
reencarnações sucessivas são sempre muito numerosas, porque o progresso é
quase infinito” (Quesitos 132, 167 e 169 do Livro dos Espíritos).

Ressurreição

De acordo com o ensino da Bíblia Sagrada, só há uma separação corpo-espírito,


i.e., o homem só morre uma vez: “E, como aos homens está ordenado morrerem
uma vez, vindo depois disso o juízo, assim também Cristo, oferecendo-se uma vez
para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o
esperam para salvação” (Hebreus 9.27-28). Como vimos, o homem morre e fica
aguardando julgamento. Haverá um dia em que todos serão julgados.

O Senhor Jesus ensinou que o injusto, quando morre, vai para um lugar de
tormentos. O justo, para um lugar de paz. Tal ensino está na parábola do rico e
Lázaro (Lucas 16.19-31). Todos ficam aguardando a ressurreição.

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 153


Ressurreição significa a vivificação do corpo morto, não importa quanto tempo
esteja nesse estado. Significa o reencontro do espírito com o corpo original: “E, se
o Espírito daquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus habita em vós,
aquele que dentre os mortos ressuscitou a Cristo também vivificará os vossos
corpos mortais pelo seu Espírito que em vós habita” (Romanos 8.11). Na vinda do
Senhor, “os que morreram em Cristo [i.e., os cristãos, aqueles que crêem em
Jesus como Senhor e Salvador] ressurgirão primeiro”. Os que estiverem vivos na
Sua vinda serão arrebatados e estarão para sempre com o Senhor (1
Tessalonicenses 4.16-17). Sob inspiração divina, o apóstolo Paulo declara:
“Cremos que Jesus morreu e ressurgiu, assim também cremos que aos que
dormem em Jesus, Deus os tornará a trazer com ele” (v.14). A redenção dos
cristãos abrange o corpo (Romanos 8.23).

Exemplos na Bíblia Sagrada se contrapõem à doutrina da reencarnação. Ao


ladrão que se arrependeu, Jesus prometeu: “Em verdade te digo que hoje estarás
comigo no paraíso” (Lucas 23.43). Esse ladrão tinha motivos de sobra para
reencarnar umas mil vezes até se tornar perfeito. Jesus perdoou seus pecados e
lhe garantiu a vida eterna. Moisés e Elias apareceram na transfiguração de Jesus.
Nada indica que tenham retornado à vida corpórea para serem purificados. Foram
reconhecidos pela fisionomia original.

Assim, reencarnação, doutrina espírita, é uma coisa; ressurreição, doutrina cristã,


é outra muito diferente.

Parte XXVIII
Ex-Mórmon Relata sua Conversão: “Não Preciso Mais do Profeta Joseph
Smith”
Thelma Geer, carinhosamente chamada de “Granny”, foi criada na igreja mórmon.
Desde menina seu alvo era casar-se e, após a morte, tornar-se uma rainha
celestial eternamente unida a seu marido terrestre, produzindo juntos, numa ampla
mansão, bebês espirituais”. Em seu livro Por que abandonei o mormonismo, ela
relata a sua própria história, inclusive como se converteu a Jesus Cristo, e
examina, à luz da Bíblia, algumas das suas antigas crenças, como estas:

Jesus Cristo foi polígamo

Os seres humanos podem chegar a ser deuses

Deus o Pai foi Adão e também o esposo de Maria

O Espírito Santo é um homem

Jesus Cristo e Lúcifer foram irmãos

Não, aquele ministro batista não se dirigia a mim – eu era mórmon. Mas Deus
falava comigo. Mesmo sendo um dos “Santos dos Últimos Dias”, eu ainda era uma
pecadora necessitada de salvação. Foi por minha causa que `Deus amou o

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 154


mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê
não pereça, mas tenha a vida eterna... Quem nele crê não é julgado; mas quem
não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do Unigênito do Filho de Deus
(João 3.16, 18)´

Quando o missionário rogou: “Oh, por que você não aceitaria meu Jesus?”, Deus
falou ao meu coração e disse: “Por que você não aceita o meu Filho? Ele morreu
pelos mórmons tanto quanto pelos batistas”.

Então entendi que, mesmo sendo um dos SUD, tinha de depositar todo o meu ser
em Jesus. Com prazer entreguei-me a ele, com os olhos tão arregalados de
admiração que não pude nem fecha-los nem curvar a cabeça. Sentia-me feliz por
saber que Deus e Jesus amavam tanto a mim. Meu coração palpitava em êxtase e
se condoia em vergonha e arrependimento enquanto buscava perdão por ter
desconsiderado a Cristo.

Agradeci-lhe o ter continuado a me amar, pois, na verdade, eu nunca o amara


nem o cultuara. Agora sabia que Jesus voluntariamente havia deixado os céus e
vindo à terra a fim de ser fazer pecado, movido de amor e preocupação para
comigo. Ele não veio em busca de exaltação e divindade para si próprio, como
sempre me levaram a crer. Jesus já era Deus. Deus Filho veio buscar e salvar a
mim, um dos SUD.

Agora eu sabia que era pecadora e não santa, não uma criança gerada por pais
celestiais, mas por pecadores indignos a quem Deus “amou de tal maneira”. Eu o
sabia porque ali na santa Palavra de Deus, e porque Deus Espírito Santo trouxe
esse conhecimento incontestável de pecado ao meu coração. Pedi a Jesus que
me perdoasse por não tê-lo amado enquanto ele me amou ao ponto de morrer por
mim. Cristo, que não conheceu pecado, deixou sua glória nos céus para ser “feito
pecado por nós para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” (2 Co 5.21). Eu
agradeci a ele por tomar meu lugar na cruz e prometi assumir minha posição como
cristã, e a partir daí trabalhar para que outros mórmons pudessem dar a Jesus o
primeiro lugar em seu coração e em suas vidas.

Agora não canto mais hinos sobre Joseph Smith, pois desde que recebi Jesus
como meu Salvador pessoal, não preciso mais do “profeta” Joseph Smith. Agora
canto a respeito de Jesus. Eu o louvo por tê-lo recebido como meu Salvador e
Senhor, por ele ter-me dado novo coração, nova vida e novo propósito. Eu exulto
quando canto meu novo cântico de louvor ao nosso Deus e proclamo essa
promessa sem igual” (Thelma `Granny´Geer, “Por Que Abandonei o Mormonisno”,
Editora Vida, 1991, p. 31-32).

É impressionante como a ex-mórmon relata sua conversão. Transmite a situação


de uma pessoa que se achava em trevas, sem direção, e conseguiu encontrar a
luz. Na verdade, ela rompeu uma barreira difícil. Saiu da clausura. Sua alma
estava sedenta: “Quem tem sede, venha a mim e beba”, disse Jesus. Ela buscou
matar sua sede na fonte certa; bateu à porta certa, e ficou saciada. É admirável e

Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 155


emocionante como ela descreve a sua alegria tão logo encontra a verdade.

O testemunho de Thelma Geer não difere do de tantos outros que conseguiram se


livrar das algemas invisíveis. Ficamos a imaginar como um grupo religioso
consegue tantos seguidores com doutrinas desse tipo: Jesus é irmão de Lúcifer;
Jesus teve várias mulheres; os homens serão deuses. A blasfêmia contra o Filho,
o Deus encarnado, é patente em muitas seitas. O objetivo é denegrir a pessoa
imaculada do Senhor Jesus, negar-lhe a divindade e a morte expiatória e
redentora.

Joseph Smith morreu e seus ossos estão em algum lugar. Jesus morreu, mas
ressuscitou. Seu sepulcro está vazio. Eis a grande diferença entre o Cristianismo e
as demais religiões.

Convenio FENIPE e FATEFINA Promoção dos 300.000 Cursos


Grátis Pelo Sistema de Ensino a Distancia – SED
CNPJ º 21.221.528/0001-60
Registro Civil das Pessoas Jurídicas nº 333 do Livro A-l das Fls.
173/173 vº, Fundada em 01 de Janeiro de 1980, Registrada em
27 de Outubro de 1984
Presidente Nacional Reverendo Pr. Gilson Aristeu de Oliveira
Coordenador Geral Pr. Antony Steff Gilson de Oliveira

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