O documento critica a expressão "dar brecha para o diabo", argumentando que: (1) a frase não aparece na Bíblia e leva a uma compreensão errônea da ação de Satanás; (2) a ideia por trás da frase, de que os pecados abrem brechas para o diabo agir, também não tem fundamento bíblico; (3) a ação de Satanás está sob a soberania de Deus e não depende dos pecados humanos.
Original Description:
Crítica às ideias por trás da famosa expressão "dar brecha para o diabo".
O documento critica a expressão "dar brecha para o diabo", argumentando que: (1) a frase não aparece na Bíblia e leva a uma compreensão errônea da ação de Satanás; (2) a ideia por trás da frase, de que os pecados abrem brechas para o diabo agir, também não tem fundamento bíblico; (3) a ação de Satanás está sob a soberania de Deus e não depende dos pecados humanos.
O documento critica a expressão "dar brecha para o diabo", argumentando que: (1) a frase não aparece na Bíblia e leva a uma compreensão errônea da ação de Satanás; (2) a ideia por trás da frase, de que os pecados abrem brechas para o diabo agir, também não tem fundamento bíblico; (3) a ação de Satanás está sob a soberania de Deus e não depende dos pecados humanos.
comum ouvirmos e lermos crticas a respeito de frases como o melhor de
Deus est por vir, o novo de Deus chegou, eu profetizo sobre a sua vida, etc. Contudo, h certos chaves que, mesmo sendo igualmente problemticos, passam despercebidos pelos radares teolgicos. Um exemplo disso a expresso dar brecha para o diabo. Porque, embora parea inofensiva, e at seja considerada, por alguns, como verdadeira, traz no seu bojo o veneno teolgico que tem intoxicado o pensamento evanglico contemporneo, sendo, portanto, extremamente nociva. A impropriedade dessa frase se torna patente quando vasculhamos as Sagradas Escrituras, visto que ela no aparece em nenhuma das verses existentes. Mesmo assim, h quem objete, dizendo que o termo trindade, conquanto seja amplamente utilizado e aceito, tambm no mencionado na Bblia. No entanto, a maioria esmagadora da cristandade reconhece que a doutrina trinitria est presente em inmeros textos bblicos, o que no acontece com a teologia da brecha. Ento, de onde veio essa expresso? Para responder a essa pergunta, basta usar o mesmo veneno teolgico que a gerou: ela surgiu porque algum deu brecha em sua mente para que o falso ensino, uma das armas mais eficazes do inimigo, penetrasse no seio da Igreja. At porque, quando submetida anlise, a ideia por trs da frase revela sua natureza antibblica. Seno vejamos: a frase dar brecha para o diabo, sempre que proferida, d a entender que ao redor dos crentes h uma espcie de campo de fora espiritual, formado por anjos ou por alguma fora etrea. Assim, quando as pessoas pecam abre-se nesse campo de fora uma brecha, atravs da qual o diabo consegue penetrar e tocar a vida dos servos de Deus. Partindo dessa premissa, os defensores da teologia da brecha, tal como os amigos de J, atribuem toda sorte de males (desemprego, divrcio, dvidas, doenas, acidentes, etc) ao de Satans por meio das brechas dadas pelos cristos. Ou seja, conforme advogam, todo o mal que vem sobre ns resultado de nossos pecados, pois quando os praticamos abrimos portas para a entrada do diabo. Seja sincero, h alguma base bblica para isso? claro que no! Esse falso ensino leva os incautos a conclurem que seus atos podem lhes conceder bnos ou maldies. Isto , se agirem corretamente, orando, lendo a Bblia, dizimando, o diabo permanecer longe. Contudo, ao menor sinal de erro, ele se aproxima, pois o pecado lhe d legalidade. Assim, para manter o corpo fechado (ideia difundida pelo espiritismo), necessrio evitar todo tipo de transgresso. Com isso, a pessoa passa a obedecer a Deus por medo do que Satans possa fazer, e no por amar o Senhor. Tal pensamento contraria os ensinos de Jesus, os quais apontam apenas uma razo para obedecer: o amor. Se me amardes, guardareis os meus mandamentos (Joo 14.15). No podemos obedecer ao Senhor para escapar do diabo ou de alguma maldio. o novo nascimento que levar a essa obedincia, no a ameaa de algum. Um milagre foi operado em ns! Somos novas criaturas (2Co 5.17)! Fomos regenerados! Fazemos o que fazemos porque Cristo nos transformou, no para obtermos bnos terrenas ou celestiais, nem mesmo para sermos protegidos das investidas de Satans. Tudo o que ocorre em nossas vidas resultado da graa divina. Nada que fizermos nos far merecer ou desmerecer algo. Somos destinados ao inferno no pelo que fazemos, mas por quem somos: pecadores. Afinal de contas, justamente por isso que pecamos. O pecado a doena, os pecados so os sintomas. Pecar o que fazemos com maestria. Logo, ningum pode ir para o cu pelo que faz, mas pelo que Jesus fez. De igual modo, jamais seremos atacados por Satans pelo que fizermos, mas por quem somos, a saber: filhos de Deus. Por conta disso, as Escrituras nos concitam a resistirmos ao diabo. A propsito, importante ressaltar que a ao de Satans est debaixo da soberania de Deus. Ele nada faz sem a ordem divina. At mesmo quando tentou Jesus (Mt 4.1-11), o diabo foi apenas um instrumento nas mos do todo-poderoso. Por isso, a Bblia diz que Cristo foi levado pelo Esprito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. Isto , a tentao fazia parte do propsito divino. luz dessas asseres, a pseudoteologia da brecha se mostra ainda mais contraditria. Pois, se so os nossos pecados que produzem as tais brechas, e todo ser humano pecador (Rm 3.23; Ec 7.20), em tese, as portas estariam escancaradas para o maligno. Ningum poderia escapar! Afinal, a Bblia afirma categoricamente que no h homem que no peque (1Rs 8.46). Logo, no haveria as chamadas brechas para o diabo, uma vez que todos j estariam nas mos dele. Que contradio! O absurdo fica maior ainda quando lemos a histria de J. Porquanto, o que motivou a ao satnica sobre a sua vida foi justamente sua retido, e no algum pecado obscuro, como pensaram seus amigos. De igual modo, no livro do Apocalipse 11.3-7, as duas testemunhas, aps cumprirem sua misso de proclamao, so assassinadas pela besta que sobe do abismo (o anticristo). Que pecado terrvel cometeram as testemunhas para que um agente do diabo as matasse? Nenhum em especial. Na verdade, foram mortas por proclamarem o Evangelho. Igualmente, em Ap 13.1-7, a besta que sobe do mar (perseguio orquestrada por satans) recebe permisso para fazer guerra aos santos e venc-los. Qual a razo para isso? Pecados ocultos cometidos pela noiva de Cristo? claro que no! A igreja perseguida desde a sua fundao. Isto no resultado do pecado, mas da fidelidade a Deus. O pertencimento ao Corpo de Cristo torna-nos alvo da perseguio de Satans e seus agentes. Por conseguinte, o sofrimento, como diz o apstolo Pedro, no deve ser considerado estranho vida crist (1Pe 4.12). O prprio Jesus nos ensinou que o simples fato de estarmos no mundo j nos traz aflies (Jo 16.33). bem verdade, entretanto, que, por sermos seus filhos, o Senhor nos guarda da ao satnica. Tanto, que as Escrituras afirmam: Sabemos que todo aquele que nascido de Deus no vive em pecado; antes, Aquele que nasceu de Deus o guarda, e o Maligno no lhe toca (1Jo 5.18). Porm, isso no est condicionado quilo que fazemos, mas ao fato de sermos filhos (nascidos de Deus). No importa o que faamos, o que nos livra do diabo novo nascimento. Se sou nova criatura no preciso ter medo desse Ser cado. Na verdade, a postura que a Escritura nos manda assumir em relao a ele a de resistncia (Tg 4.7) e firmeza (Ef 6.11), jamais de medo. Porque a Bblia nos garante que maior o que est em ns do que o que est no mundo (1Jo 4.4). A despeito dessas asseres, h quem argumente em favor da teologia da brecha citando Isaas 59.2: Mas as vossas iniquidades fazem diviso entre vs e o vosso Deus, e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vs, para que vos no oua. No obstante, o texto em pauta nada tem a ver com essa doutrina. Porque, embora se refira a uma situao especfica vivenciada pelo povo de Israel, encerra um princpio universal, a saber: o pecado mantm o homem afastado de Deus. S a graa pode mudar essa situao. No h nada no texto que indique que o diabo age quando pecamos. Todavia, os defensores da teologia da brecha no desistem facilmente. Quando acuados, utilizam a arma que consideram mais poderosa: Efsios 4.27; texto no qual Paulo adverte: no deis lugar ao diabo. Usando essa frase, eles pensam ter toda fundamentao bblica de que necessitam. Ser que esto certos? Seria essa a base bblica para essa doutrina? S se extrassemos o texto de seu contexto. Do contrrio, a resposta no. No texto em questo, o apstolo estava orientando a igreja de feso acerca da tica social crist, a fim de manutenir a comunho dos crentes. Esse objetivo fica patente nos versculos anteriores. Em Efsios 4.25, por exemplo, vemos que Paulo salienta a necessidade da unidade do Corpo, asseverando: somos membros uns dos outros. Ao comentar esse texto, Ralph Martin (1988, p. 198) destaca: [...] o fato de a pessoa no honrar a sua prpria palavra leva a um rompimento da comunho crist, porque essa prtica leva a desconfiana e suspeita, e, por esse motivo, destri a vida em comum no corpo de Cristo. Nos versculos seguintes (26 e 27), Paulo aconselha seus leitores a no permitirem que a ira se transforme em mgoa, dio ou amargura. Porque isso, alm de comprometer a harmonia da igreja, poderia servir de oportunidade para o diabo fomentar o furor e a resistncia ao perdo, visto que esta consequncia inevitvel da ira continuada. Para enfatizar esse ensino, o apstolo emprega o termo grego diabolos (difamador, maldizente, caluniador), em lugar de satans (adversrio), ttulo mais comumente associado ao inimigo. Ademais, nada no contexto d a entender que se pecarmos o diabo entra em nossas vidas e faz arruaa. At porque, Satans no pode nos controlar. Ele nos tenta (1Ts 3.5) e procura nos enganar com o falso ensino (Jo 8.44), mas no pode nos dominar. Agora somos dominados pelo Esprito Santo (Gl 5.18). O todo-poderoso est conosco todos os dias (Mt 28.20). Vale salientar tambm que Deus no est em guerra com o diabo. Seria uma luta extremamente desigual. Satans j tem seu fim decretado: o lago de fogo e enxofre (Ap 20.10). O Senhor no est disputando as almas dos homens com o diabo. Ele j elegeu os salvos desde a eternidade (Ef 1.4). A histria no est desgovernada; ela est nas mos daquele que est assentado sobre o trono (Ap 5.1). O diabo no faz o que quer. Alfim, se, mesmo depois de toda essa argumentao, voc ainda continua pensando que no h problema algum no uso dessa expresso, pois entende que se trata de um modismo inofensivo, convido-o a refletir mais um pouco comigo. Pense: a teologia neopentecostal tem sido amplamente propagada por meio de canes, jarges e chaves. Frases como eu profetizo sobre a sua vida e t amarrado esto eivadas de ideias extra bblicas. Da mesma forma, impossvel dissociar as implicaes da nefasta teologia da brecha do famoso jargo dar brecha para o diabo. Logo, a frase no tem nada de inofensiva. Por isso, recomendo: abandone-a e fique somente com as Escrituras. Deus o abenoe!
Pr. Cremilson Meirelles
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
CHAMPLIM, Russel Norman, 1933- O Novo Testamento Interpretado: versculo por
versculo. So Paulo: Hagnos, 2002. 4 v.
FOULKES, Francis. Efsios: introduo e comentrio. Srie cultura bblica. So Paulo:
Vida Nova. 2011.
HENDRICKSEN, William. Comentrio do Novo Testamento. Exposio de Efsios e
Exposio de Filipenses. So Paulo: Editora Cultura Crist. 2 ed. 2004. MARTIN, Ralph P. Efsios. In: Comentrio Bblico Broadman. Traduo de Arthur Anthony Boorne. 2 ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1998. 11 v. p. 157 217.