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by Ease Becta pars edo em lings portugues Tila originl Avia du Mise done dr callie Free Prescs Univerires de France ‘edi setembro de 2002 Excoats Manel ena Berne Maris Cristina Roe Magalies cam dans Rios Em torno de 0 masta lary de Feud — Jaca > Rider Mickel Plon, Gara! Rael Here Rey-Fld.Ta de Carmen Lacia Monch Valladares de Ohveles © {Ctorna Kit} ~ Sie Paulo; Eu, 2002 1s 11821 ow srsram0 1 Psicanise. 2. Freud, Sigmund, 186-1039 — Cees ‘lnterpretagio ppm tora Escuta Lda. Rua De Homer de Melle, 486 “0507-001 Seo Paul, SP “lot (11) 3865 8980 / 36-110 / 36728548 ‘ean escuattancon br Sumario ‘nls metapsicolégicos de ina estan cular Newy Key Plaud Ansty ees morte. Sobre o estatuto da sanwrav ital aa pulsdo de morte em Vand estar ma viotzagio Yenand Raul rinal estar ou civilizar a cultura? Sas de Bier Ui politi. vin 0 au/estarao mal-estar da politica Mited Mw 1s que havia no tempo em que elas ultra como cultura anit e progress individt 1 dle um ideal humanista, a civilizagao como retinal tusos costumes na dinegio de um ideal universalist Da politica em O mal-estar ao mal-estar da politica* Michel Plon tes prece que eet de recerm sue rc aka ul Maquiavel, Op cde fort ale da ‘mtd foresee po Miata, ti nse ec wa Bo er Froud, O homem Moises liso moot Dir unt cHRtO MAL-TAR COM A COMBA POLITICA Recusanido-se a ver a teoria psicanalitca redszida a um tmens ramo da ciéncia médica, Frew, 0 Jongo de toda sua ‘hrs, sempre insist em alargar o campo de competéacia de tu lescoberta, Nesta perepectiva, simultaneamente aos taba Ios consagrados & pura teoria€ & clinica, jamais deixow de trerover textos, artigos ou livros que, desde © comentério da 6 En tomo de Oetestr nr ctr de Free Gradion de W. Jensen até 0 “romance histérico” do homem Moisés, passando justamente por O malestar ma cultura’ tive- ram todos, entre outros objtivos, o de legtimar esta ambigio conquistadora ‘Apartirde 1906, enquanto as reunides da Sociedade psi- coligica da quarta-feira'si0, mais de uma ver, 0 cenario de debates que dizem respeito as diversas tentativas de aplicagao” da psicanélise ao campo da literatura e mitologia, ele funda luma colegio, Scvz/ten zur angewsndten Seelenunde (Monogre- fas de psicantise aplicada), com o objetiva de acolhere difundit ‘esse tipo de trabalho. O primeiro volume desta série sera seu lensaio, aqui recém-evocado, que trata do romance de W. Jen. sen, Gradion® Em 1913, em seu artigo enciclopeédico consagtado ao in- {eresse da psicandlise para os diversos campos do conhecimen to, ele afima poder sustentar o ber-fundado de seu propssito, imostrando que sua descaberta .. reivindiea o interesse de ‘utros que nao os psiquiatras[..,resvala em intimeros outros campos do saber e estabeloce relagoesinesperadas entre estes a patologia da vida psiquica’ ® Na segunda parte do artigo, teremos aanslise das mod lidades de elaboracao da concepgio pricanallica nas diferen- tes disciplinas académicas Em 1925, em seu ensaio sobre a anise leiga, ele retoma essa questio precisando que a psicandlise, como “psicologia Sign Fed Le i cla 10 es op Banls Pres Universe de Franc, 84 p24639 © XVEE CE. Lspromirs partons, Mme le Se ptr de Ve | A8oes998 (New Yok, 196) Fai Gaia, 17 Quanta» Sociedade Pricologica de quata lira, Esabeth Roudineseoe Michel Pon, ‘icin fhe Pa: Paar, 197 Save alguas aes ao sborarnss neste pgs reblenas sus: ‘dos por agua qu atm cham fleas spe compo ‘op dominos cone nda esc deplete ‘gals pode seraborads aq Gena aban Smid Fe 907, ede tras "Ole ee Sigman Fre (1913), “ited es pychanalyn:Rsls ie, pons 190-190, Pare: Press Universite de ance, 1984 a potca em Oma! aosmabesar da politica 147 ddas profundezas”, como “teoria do inconsciente psiquico {| pode se tomar indispensivel para todas as cincins que se oe pam da génese da civilizagao humana e de suas grandes ins litug0es, tals como a arte, a relgiao e order social" Em 1953, mais uma vez, ainda que esses exemplos nao esgotem a longa lista de decaragées dese tipo, ele retoma com firmeza esta questio da psicanalise em extensi0, Apds evocat 4s primeiras etapas da descoberta das leis do funcionamento do inconscient, esceve: ‘assim a psleandice se tomnou pscologi das profundezas e ‘como nada daguilo que ov homens clam ou executam € com _reensive sem o auto da pacologis, teve por conseqiencin ‘spontinea a aplicacso da picanlise a indimeres compos do ser mente ao que se refer as léncas do opel, aplicacdesnecesérias que precisavam ser elaboradas? Se, por ocasito dessas mutiplas reivindeagoes quanto a uum dieito da psicandlise de se debrucar sobre as “ciéncias do espitito”, Freud evoea frequentementea arte, historia das eh, vilizag6es e das religibes, a mitologia, a literatura ea filosotia, ’s vezes a socilogia ou a pedagogia, como tantos dominios do conhecimento suscetiveis de receber um aporte entiquecedor [por parte da psicanslise, & preciso reconhecer que ele nunca menciona, pelo menos explicitamente, o campo da politica, seja este concebido como decorrente da ciéncia ou como de pendente da filosofia Esta ausincia, no que se refere a uma designacao expl: «ita, nem por isso deve ser considerada como indicacao de um esinteresse para com os processos politicos. Muito pelo con trério, a preocupagdo com a “coisa politica” seja por meio de alusdes, metiforas ou perifrases,é por assim dizer onipresen- te. Tanto no conjunto des textos evocados, como também em “Sigmund Frew (929, Ze gusto de Fn profine. Paix Gallimard, 195 < Gesores Comptes Pars: Presses Uneverstas de France, 1284, p. 132 Sigmund Freud (1923), Noel aoe nrc 8 pxetanior ‘la prytanalyoe", cores Compt. aris: ress Universitas de Pane, 8 Em torno de O maternal de Freud fcutros particularmente em O malestar na cultura encontea ‘mos desdobramentos e observacoes suscetiveis de abrizem 0 ‘caminho para uma reflexao teérica, que teria, por abjeto, a pri tica politica e algumas de suas caracteristicas Antes de tudo preciso salientar o despropésito que con- sistiria acreditar ou pensar que Freud ignorava a politica de seu tempo. Comegando pelo © Caso Dreyfus, evocado em duas car {asa Wilhelm less, als o desencadeamento da barbarie necio- ‘al-socialista, passando pelo terremoto da Primeira Guerra Mundial e das ameacas, rapidamentereconhecidas, que a ito Pia bolchevista parecia carregar em seu bojo, Freud, assido leitor ce jornais,freqtientemente delxou transprrecer seus sen. timentos politicas, fetes de discricao critica e resoluta ope! so a toda e qualquer forma de ilusao ‘A reserva ea prudéncia sdo ainda mais marcantes quan do se trata, de maneira indireta ~ como por exemplo da “or dem social”, da politica como objeto, processo ou campo de atividade, participante do desenvolvimento da cultura «, por. tanto, do ma/-estar reconhecido, Na medica em que a politica diz respeto essenctalmen te a0 gue é da ordem do coletivo, talver seja, preciso atribuir ® tipo de perturbagio ou mal-estar que parece acometer o es tito freudiano quando dela se trata dist a esse obstaculo fan damental constituido pela questao da articulacao do campo da Psicologia individual com o da psicologia coletiva, obstaculo 3 Se inspec pli anos gente de sada aside ct prncainene Pal ute ha ‘era pote, are ep esas ees Re re ae ir Pie (90 Pas Poe Cena Franc, 18 Ren Mayr action Pars bien abe hel Pe ‘elspa te i nt gs ete on Fc a8 108, 1) Pees pe, toe a Plog pie dane npn dere Pe Rote Jus, get os Pts Pet Unies Da politica em mater somebestsrda politica 149 enfrentado por Freud a0 longo de toda sua obra, de Toten e ‘abu até O homens Meise Sabemos que o passo foi dado nio pelo recurso repetit vo A lei dita da recapitulagao,” mas por meio dessa “explo- io" que sio as primeiras linhas do texto de 1921 consagra- dasa psicologia das massas." A psicologia individual se torna ai, de imediato,simultaneamente, psicologia social” pelo simples fato da intervencao do outro que entra em cena regu larmente como modelo, objeto ou adversira”,* a oposigao en tre esses dois campos sendo a parti dai substituida por uma outra, aquela que coloca face a face os fendmenos sociais de uum lado e os processes narcsistas do outro, Notemes, no en: tanto, que tal reviravolta néo é o suficiente park que consid remos a questao definitivamente resolvica. Como prova, te ‘mos essa declaragio no ensaio sobre O foment Mois "Nos 08 encontramos af no campo da psicologia das massas, onde naa neon cnt na meaptaedodearlnents Ho [erie Sobre sna guest, ct prinepalente Tie Gries Metasychlogie mobile" Ey Sghund Froud, Vaden be orn rnd 90) Par Clima be, sob te Tae eon era tn rs Cp, ees Urrta ive (95 inom dere sr Fa ars alli Atay’ apn ii 2 tat a Sern re (it), ola ft oie tm Ea de Ltn aoe compes Pare Dros versa de France, Pp. at AN Coen mis uma ve utes ne depo 3S sue ec moan nn Ch CS Pros Universal de France, 100 9.39, Phys op. BL, pS Sea ou MB Simund Froud (193), (owe Mate in manele Pas Gali Em tomo de O mehr ct de Freud No etn, én, ent outa exes, de politica qu a ts Puli ds mana cant do Be coma te So di obra ob forma de una teoiagno so mabe os Conatitlgoe fuconumentodesas “rasa fica se Izads em toro dum fer cleat oop eae upelos membros da masn, No quedsteepete sea nen, ‘ach, vires omentadors camara acengionores ees ‘qu ela seria o modelo dos regimes que vier a er chamnados de“totaarons Jacque Lacan po gua ex va ane ook St donne face mes pe ignorado uma nota de Prud em qu chamavas hence © "ao socal” ewcctnel dessins saree Frage, pova de sua daricencapars con neon gue vinha se desenvolvendonauele momenta noe ae Tureps.® Soa come fe pops tle eee nets auc (a feta pelo temo alee Mann cps tonne se nota police que otrmo anes mayest ere Woke do qul se serve quando quer nse na dimnaae spore, ‘arava on Gps rove gue duiatoe eohaeee te” ie preocupa ced tum coda ea oe aa tedominado pela cncetuaizariodupulcte dre Arounca, oBiet Dk Oau-estan wa cutries Indubltavelmentea politi, ainda que raramente des nada como tl € 0 corn da teflexio dessnvolvda em Oma ‘este as primirs linha, quando se referee “se: limento” univeralmente resent" um lao indnstve, de pertnénca a tolalidade do mundo eterior-1 de un lags "ci ft a Sul acai, 14, p10 sd, Pars: Calmard 1391. Cr uate sist jon Moe ey he Da ptica em O mater aomubesar da politica 151 com @ Todo" no qual Freud reconhece, em ver. do sentiments teligioso ressentido por Romain Rolland, otrago da simbiose infantil do eu com 0 meio exterior ea procura de vi consolo dde essénciareligioa, nos é dado ouvir as tonalidades dessas tragédias que em 1930 comegaram ase desenvolver,encenagio de temas como totalidade, unicidade que implicam na recusa, {que logo se tornara sangrenta, de qualquer idéia de divisio & contradicio, tentativa de fazer calar 0 sentimento de culpabi- lidade projetando-o sobre o outro, 0 estrangeiro, 0 diferent, ‘objeto primeiro de exclusao, em seguida de eliminacio Escolha explicitamente antinciada, a obra trata desse so- frimento especifico fruto de nossas relagbes com os outros, avalares da vida social. Sofrimento tanto mais agudo que, 30 ‘contrasio daguele provocado seja pela natureza seja por nos- s0 corpo, dé aimpressao de poder ser evitado, Em 0 futuro de tuna iusto, fora abordada a questao de saber sees principios «que regem esses “dispositivos do estado” encarregados de or- ganizaras relagdes ene os homens, nao deveriam ser simples- mente chamados de ilusto." Desta vez, tata-se do fracasso explicito desses mesmos dispositives: familia, Estado e socie dade, que nos mesmos haviamos organizados para evitar esse sofrimento. Dor, morosidade, vaidade dos projetos dos ideats, fra- «asso das instituigdes, desencanto e nostalgia, frutos da decep. ‘lo vivida pelos eidadios tanto em relagao a politica quanto, fem relagio aqueles, homens ¢ instituigbes, que a encamam, a atualidade do texto freudiano se impoe, ainda hoje, mais de Sseseenta anos apds sua publicacao. ‘Adasilusdo ¢ tanto maior, retera Freud, quanto os desen- -volvimentos teenol6gicos fizeram acreditar nur controle qua se divino do homem sobre o meio exterior, fonte de hostildade: no entanto, “o homem de hoje em dia no se sente feliz em sua semelanga com Deus”. 1 Span ea Gt), ora ai ere Cope, ais 1, Lem oe WL 29 Fm toma de © mater nce de Freud O hoje freudiano nada tem de anacdnico para os con- temporinas do inal dene slo XX que as Renee oo Portados vem acescentando os de naturesaccondateatie ecoldgca, apesar do desenvolvimente sempre cereus de uma tecnologia que protensnmente doves escent e Seguzangn Contecemos os grandes eis desse texto que trata das insuperivels contadghes que opdem entre sa erent oe ttuiges humans, a familia eo eonjunta da comunidades da desigualdade origins ete os homens, subtondada eee pulses agressivas capazes de degencrar "nan ateidedes igracio dos poves" da llsto sem conssoeeieetepes sentada pela solugio comunisa que, querende sedi bondade natural dos homens, no leva em cont sean deca agesividade origina as formas de desoeane ee, 59 aptstvidae,sunceptivel dese orientada om dng éstrangero, cua exstenciafvorece a cocnta de comes ela propria fara sobre o“rarsso das pequs deen, 25°? “"Penguntamornos com cri ingukconicomes faces Soviets, uma vez que ero exterminado todos aus Fa ses". da “mseiapsicolgica da masse papel protine au an, onvozads# Opa olagor de hd 86 cons 4uem preencher ~possvel alist dincompetintis dont dente Wilson e a fraquess dos dirigentes polite aa Republica de Weimar, mas, seguramente ea rlgcenes Po ‘alo das maa & prov dito, evoeage da guetta "heer de home” que raptasceréexpictanentecm Oona Neen rigito moots, da pula de morte, da gual nee oc o primero grande desenvolvimento desde ldwdo proces spree fre silenciosa e conta, capar de se toned bore 2G Wee Rete: arom i Pan 233 ap. an 24 Bids P30 Ds potica em One a mater pltica 153 ta quando dirigida para fora, forca sempre negada por “esses cwitadinhos (que) nao gostam de ovis falar no pendor inato do homem para o mal, agressio, destruisao €, portanto, ctueldade”,* da intervencto, em cada ser humano, da autor dade externa sob forma desse supereu, possivel fundamento, entze outros, dessa servidao voluntisia teorizeda por La Bostic, dessa ilusao que representa aidéia de um possivel fi ral ~ feliz ~ da historia, denunciado na ltima frase, acrescen- tada por ocasito da segunda edigio do livro, que nega a ualquer um o privilégio de prever qual seré o resultado da lta entre o “Eros eterno” e “seu adversério igualmente imor ‘arr ‘ais temas, ¢ mais alguns outros, constituem a originals dade de um ensaio que convém lembrar foi por muito empo classificado, nao sem um certo desprezo, entre as obras ditas "sociologicas”, “antropol6gieas, quando nao de “sociopolit cas” de Freud, 5200 testemunho, da importincia conferda por Freud 4 dimensio politica, como elemento especifico do freeas- so da cultura em amainar o mal-estar ‘Un ootet0 nmossive. A déia de tentar desenvolver, com base nesta lemética, a do matestar na cultura e de alguns outros textos freudianos, as premissas de wa abordagem peicanaitica do tema da po. Iitea pautou-se em varios encontros que vierem substituir a0 _mesmo tempo. senimento ce um imperativo, dado pela eseas. sez de reflexao sobre essa questio, e por uma urgencia que 2% Ehenne de ln Bodie, Ledsour dl ero oe Pais Pay 175, 2. Op et 1084p. 53, Ere Jones (O57, Leet Pl ae Spun Prd Pans ress nies de Fane 183 3 nda nap. ue crete maa ma eto prt Senteuret acu” eLemalln dares catom CE quanto ns the him op, p20 14 Em tomode © mates cult, de Freud destila um tempo present, cle propio portador desee sentimen- ode desencantamento,sintoma, entre outros, do mal-otar Enire esses encontros fortuitos, a resposia de Nicole Louraux a um interlocutor que Ihe perguntava se "a politica [podial ser consicerada como uma ralidade paiquica” ests lon- 8 de ter sido a menos importante. A questto que Ihe fo colo- cada, Nicole Louraux respondew sublinhando a importincia {a dimensio do afeto na abordagem que os gregos faziam da politica, ressaltando que “eles tinham entendido perfeitamen- fe que a vida politica 6 tamipém uma aventura de amore édio, «© que ha algo do psiquico na politica acrescentando que isto fra uma coisa da qual nds haviamos esquecido e que setn dit vida alguma consist “no grande defeito do marxismo”, pre cisando finalmente queao aboriara questi do politico sob este aspecto nao se tratava de fazer “psicandlise aplicada”e sim de “prolongar o caminho aberto por Preud, em O humem Moise 0 moroteismo, para elaborar aquilo que ele chamou de ponte enc o psiquismo individual eos grandes indivtduas-porws Antes de comesar a indicar algumas formas que pode revestir “o psiquico na politica”, é sem dkivida itil elembrar ‘aqui as recomendacoes e apelos 4 prudéncia feitos pelo pro Pio Freud, visto que esse objetivo sofreu indmeros desvies, 0 {ue veio a ser conhecido por “psico-histria”, nfo tendo ome or dees, ji que nela tanto o psiquismo quanto historia a mais oncontraram seu lugar.” Em O mal-estar, Preud comega por observar que, sem subscrever 20 julgamento que trataria de insensata toda “ter tativa de transferir a psicandlise a comunidade da cultura”, devemes no entanto “nos manter muito prudentes, nao esque. cer que se trata apenas de analogias e que seria parigaso nio 86 para os humanos coma também para os conceitos arranci los da esfera na qual nasceram e se deserwolveran” 5a Una ees co Nie Lain por Roger Pal Bra Ze Mone 31. Chen ator to exemple, kim da st: Bel Graber Pe ‘fe Desuant, frassnesranonemrtmione: Nos Ae, 137 Da politica em Omni; aomalesar da poten 155. A cesta vigilncia epistemoligica vem se acrescentar por jutro lado, a preocupagao do psicanalista em respeitar, os cam= Pos nos quais esta prestes a fazer uma incursao, respeito que pressupde a existencia de “conhecimentos especilizados” que Ihe permitam evitar de se comportar como “diletante”, muni ddo “de um equipamento mais ou menos ecient, freqiente ‘mente juntado as pressas”.® ‘Nenhuma interprotagio psicanalitics estereotipada ou deslocada, assim como nenhiuma assimilagio abusiva, mes pro cura de pontos de apoio, de“conhecimentos espeializados” no campo escolhido de modo a ceraretentar expla as mocalida- des de intervengao ou a parte do psiquico implicada no campo dda politica, preocupacao certamente ignorada pelo marxismo & {que a ora psicanalite,é precso reconhecer no trou melhor. Evo caso desses processos que recobrem, mais do que ex- plictam, certos termas ou certas expresses cuja imprecisao & roporcional a freqiéncia de sua utlizagio, termos ou expres- s8e5 cujo funcionamento evaca “essas imagens obstacules” identificadas por Gaston Bachelard™em outros campos. E 0 caso da expressio ou do tema do “grande homem”, como & também o caso de termos ou expressbes tas como “Carisma” ou “dominagio carismatica”,* que sio geralmente proferidos ‘como se fossem explicagses definitivas, evidéncias que esca- pam a qualquer questionamento e cujo papel evoca itresisti- vvelmente 0 que diz Freud quando se intezoga sobre a natureza dias transformasdes psiquicas do individuo em meio a massa “O que nos € habilualmente oferecido como explicagao pelos autores que tratam da sociologiae psicologia das massa, se sume sempre a mesma coisa anda que sob nomes diferentes A palavra magica supesta’® 3 Gaston Rachel (100 Lorman agri ite Pais i, 10 55. Nisgut igo que fo oii piece Weber qe aise fran te im tt ttn nce ee (41982), Pots: Pn, 1971, Te Fisk Kaeser (1995), Mar Mier, i, Sow ve Sam aa Em tomo de Omtstr na cure, de Freud Mas para aquém dessas abordagens temiticascujo retor no sistemitico pode ser constatado toda vez que nos aventu- ramos a abordar a questao do priquisma no processo politic, € preciso constatar que é o proprio termo politico que se pres ta, frequentemente a usos smprecisos, quase magicos quando rio peremptérios, que desemboca em variacoes tao alusivas quanto enigmaticas, como se o proprio termo tivesse uma cat 8 explosiva e sugestiva, que contivesse as promessas de supe acto do mal-estar, nem que fosse na forma de um apocalipse futuro, para ustfiar esta utilizagao que obedece & bem-conhe- ‘ida modalidade "A bom entendedor meia palavra basta” ‘Antes de prosseguirmas, ousaremos pois definir a poll- tica de modo opcional como a arte evitaremos falar de Gién- cia— de organizar e dirigir uma coletividade humana, como sendo o conjunto de meios postos em obra para regulasnentar as relagdes entre os individvios pertencentes a uma mesma co- ‘munidade juridicamente definida, como designando as dife- rentes maneiras de governar os homens, ot ainda, de modo igualmente opcional e explicitamentearistotéico, como send © arsenal de priticas postas em obra com a finalidade de se aleangara “felicidad de se viver juntos” Seja qual foro enunciado escolhido, trata-se aqui de for- ‘mulagoes que apresentam a peculiaridade de por o acento "muito menos sobre a vertente filosdfica de uma abordagem da Politica, vertente proritariamente preocupadia com as questoes abstratas das formas de Estado e dos regimes possiveis assim ‘como pelos valores que elas pem em jogo, do que sobre aque le, muito concreto, da priticepottsr, que se peestaria melhor 8 uma abertura da dimensio psiquica na politica ‘Tratando-se da pesquisa desses pontes de apoio, desses “conhecimentos especializados" exteriotes ao campo paicana Joma me acs pod Sn pica Hr wpa eb aga seein ere gm rapa de 2% rans Waste poi Pats Prees Universes de rae, Poop en 195 Da poten em O maletr, somalestards poltcs 157 Iitico, reconheceremos, nesse acento posto sobre a pratica, aquilo que caracteriza, no campo da teoria politica moxlerna, a obra singular de Maquiavel que, assim como Freud, mas no ‘campo que ¢ 0 seu, rompeu com as convengbes de seu tempo, constituidas basicamente pela moral humanista em voga nos “palicios principescos” e mais ainda pela dos autores italianos da segunda metade do século XV" Desta obra, pode-se dizer, entre fantos outros comentéros, que ela se constisi menos “a partir de exemplos” que viriam ilustar alguma coisa, um ra

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