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Pesiquiatria Clinica, 21, (4), pp. 279-308, 2000 Construcao de uma escala para avaliar a vulnerabilidade ao stress: a 23 QVS POR ADRIANO VAZ SERRA('} Resumo O presente srabatho tem por objective apresentar a criagdo de uma escata de tipo Likert para avaliar a vulnerabilidade ao stress, em relagdo com o desenvolvimento de psicoparolosic. Constitui unt instrumento de auto-avaliagéo. denowinado 23 QVS, Esta designacdo fai determinada pelo facto da versito final da escata ter ficado com 23 questdes que se destinam a avaliar a vulnerabilidede gue um individuo tem ao stress Criada a partir de ama anostra cle 368 elementos da populacio em geral a correlagio PariTmpar foi de 732 ¢ 0 Cocliciente de Spearman-Brown de .S45. reveladores de uma boa consisténeia interna, O coeficieme a de Cronbach para todos os items apresentow win valor de .S24. Este valor baixou sempre guando descata foi excluido atgum dos items seleecionadas,evidenciondo este facto importiieta que cada um deles tem coma elemento contriburivo par uma boa homogeneidade. A correlagéo de cada questdo com a nora global foi positiva ¢ altemente significativa, tanto quando ua nota global esteve incluido ou exctuido 0 item em anilise. Mesina no caso de exclusio do item da nota global a correlagii verificada munca foi inferior 4.20, Estes factos séo abonatérivs de se tere conseguido items que. noseu conjunto. correspandem a wnt escale anidimensional. capa: de definir um conceito. As correlagdes mais elevadas com a nora global sugerent-nos que.a pessoa vulnerdvel ao stress tem um perfil cm que se realgam as caracteristicas seguintes: pouca capacidade auto-afirmativa, feaca tolerincia & frustragdo, dificuldade em confrontar ¢ resolver os problemas. preocupacdo excessiva pelos acontecimentos do dia-a-dia e mareada exrocionabitidade, Osdiversoxirems da escalarevelaram serem sensiveis.individualmene.avariagdesde grupos extremos. facto que testemurtha a sua eapacidade discritninativa. Uma aniilise factorial de componentes principais seguida de rotagdo varimax extraiu 7 factores orrogonais que explicam 57.5 % da varidncia tonal. A composigdo de cada factor parece waducie 0 seguinse significado: Factor I: Perfeccionismo e imolerdncia a fusiragdo: Factor 2: libicdo e dependéncia funcional: Factor 3: Caréncia de apoio social: Factor 4: Condigaes de vida adversas; Factor $: Dramaticagio da existéncia: Fuctor 6: Subjugacao e Factor 7: Deprivacdo de afecto ¢ rejeiga A correla sestefreteste fol reaticada num minimo de 30 € umn mudsimo de 239 dias. com una medina de 49 das. A correlugao obtida foi de .816 (com N = 105). valor altamente significative {p<.000) ¢ ubonatevio de ume boa estabilidade temporal. A escala23 QVS presenta uma correlacdo positiva c altamente significativa camo graudeNeuroticisme (medido pelo EPL) e com psicopatologia (avaliada através da versio portuguesa do Brief Symptom lavemtory). Tem uma correlagionegaiva ¢ alramente significativa com o IRP ¢tavemtrio de Resolugao de Problemas. que se destina a avatiar estrarégias de copit Um valor de 43. obsido no preenchivento da 23 QVS. constitui un ponto de corte acima do gual wna pessoa se revela vulnerével ao stess. (1) Professor Catedratico de Psiquiatria da Faculdade de Medicina de Coimbra: Director da Clinica Psiquidtrica dos Hospitais da Universidade de Coimbra 280 OBJECTIVO DO PRESENTE TRABALHO AA fimalidade do presente trabalho & mencionar 0 desenvolvimento ¢ efiagio de_uma escala unidi- mensional de tipo Likert para avaliara valnerabilidade jin com psicopatologia, Cadet yuesti0 que faz parte dacseala€ consiceradaumoperante! que se correliciona de forma altamente signifivativacomat nota global que triduz 0 conceito que pretendemos, edit (ver Figura 1). MATERIAL E METODOS os diversos passox que 10 a esvala. Vamos desetever a percorremos part a cri ! Pereepgiode controla Toleriineia A trustragio Adriano Vaz Serra Construgdo dos items ApOs umarevisioda literatura foramseleccionadas 64 questdes elacionadascom vulnerabilidadeaostress. sespeitantes a - caraeteristicas negativas de personalidad. ~ caracteristicas pasitivas de personalidade, ~ pritica de exereivio fisico regular ~acesso ai um conlidente, + apoio social ¢ Familiar ~ condigdes de vida auversas. A Figural tenta simbolizar que cada sintom operante que ajuda medir o coneeito). coresponde 4 unta “vareta” diferente do mesnio ehapéu de chuva, worse ead uma delas 0 mesmo "cabo". que representa oeanecito eral neste caso vulnerabilidadle «ao sess) que procera avalia A Pesfeccionismo Emocionabilidade | Vulnerabilidade ao stress ido pelos operantes que se ligam ao seu uso. ' Menciona Kaplan que se pretenclermos que a ciéncia nos dliga alguma coisa acerca do mundy ow que tenia interesse pratico deve comer. nalgun ponto, elementos empiricos. © acrescenta ainda 0 autor: “O elemento cempirico é 0 que permite distinguir a ciéncia da fattasia”. O conhecimento empirico bascia-se em diversos pressupostos. Um deles corresponde sw empirismo semdntico que estabclece que da experiéncia ndo sé depende co conthecinrento mas tambén o significade. Uma das Variedades do empirismo semantico. na. qual a consteucio deescalas seapoia, ¢ 0 operacionalismo, Realea, como principio, que um conceito sé pode serconhecidoamravés dos operantes que se ligam ao seu uso. Construgdo le uma escata para avatiar a vulnerabilidade ao stress: a 23 OVS ‘Cada questo pode ser respondida ¢m funcao de crineo classes de resposta, coneretamemte: Concorde ‘em absoluto, Concorde bastante, Nem concorde nem discordo, Discorito bastante ¢ Diseorde em absolute, O valor atribuidosisditerentes classes de resposta varia enire Ge 4. correspondendo a pontuagJo mas elev aos aspectos mis novativosda deserie Ao do individuo. “Tal eomo é preconizado na construgio de eset ndeevitartendénciasderesposta, aleumets guestOes ‘foram construdias de forma a representarem aspects positivos e. otras. aspectos negativos, Naguelas a cotagsio vai. daesquenda paraa direita. de 0a 4e,nest em sentido inverso. de 4a 0. Assim a escala esti construida de maneéta a que a cotaedo final. quanto mats elevada &. mais se retcions com vulnerabifidade ao stress. Desenvotvimento 0 trabalho Como pretendiamos construir uma eseala que raguzisse umitrefacdoentrea vulnerabilidade ao stress © psivopatolog ims a eadla respondente que. para além da escata experimental. preenchesse mente alguns instrumentos psicométricos. ditecta ow indivectamente ligados a psivopatologia. nomeadamente: (1)- 0 Eysenck Personality Inventory EPD)- para -medir 2s dimensdes de neuroticismo ¢ extroversio ue cada individuo, Utilizamosa versio portuguesa do EPL aferida por Vaz Sect et af. om (980. Este inventirio foi eriado por H.J. Eysenck e Sybil B.G. Byscack coms incuito de medir as dimensdes Ua porsonalidade de NewroricismorEstabilidade emocional © Ue Extpaveraioidnaa Por uma questio dle comodidade descritivaa primeira dimensfioé por vezes designada simplesmente por “Neuroticismo” e. a segunda. por “Extroversiio", Os seus autores ligaram a) primeira dimensio & labitidade do sistema nervoso vegetativo e, & segunda, 8 facilidade que 0 individuo tem om estabelecer condiciranentos. Assim a maior labilidade emocional cotresponde as pessoas de neuraticismo mais clevady e. « maivt facitidade de condicionamento, aos individuos mais introvertidos, Emvelay3aqualquer ue dss limensodes reeridas dmite-se que 0 individuo se possa localizar mum dado panto dessa dimensdire, eouscante o lugar que ocupa, India possibilidade de ser considerado um introvertido Ue neurptivismo baixo. mexderady ow ais. 0 mesmo ocorrendo com a extroversio. OPI em ainda ama escvte de mentira. que serve para detectar os individuos que procuram dar respostas, socialmente desejiveis, E usuatlnnente aceite que esta stub-eseatla se relaciona com boas defesas psivol ‘por parte do reypondeate. ‘A importancia da utilizacdo do EPI neste estudode vulnerabiidade ao ntvexs audvént a facto de se aime que um individuoconium graude neuroticismioelevado tem frequentesoseilacdesdo trarnore reage facilmente Perante os aspectos desagrackiveis do meio ambiente. Em sitvagies adverias reage de fornta mais ripidia © prolongada do que os individuos emocionalmente estivels v i igualmente mais lento serem (3)—Umterceiroinstrumentodeavaliagaoutilizado loi 0 Brief Symptom Inventory (BSI). que contém 53 questées para avaliar psicopatologia. Construido por L, Derogatis (1982). utilizimos a versio portuguesa traduzida e aferida por Cristina Canavatro (1995 s sintomas sio agrupados em nove constructos diferentes: somatizagdo. obsessdo-compulsdo. sensitividade imer-pessoal. depressivo, ansiedate. hostilidade, ansiedade fica, ideagao paranoide © psicoricismo, Estes nove agrupamentos. acerca dos quais: vamos fazer um breve resumo de acordo com 0 inventirio, sio considerados dos mais representativos, nna descrigio da psicopatologia, ‘A somatizagdo traduz 0 mal-estar com 0 funcionamento corporal. relative aos aparethos cujo funcionamento é mediado pelo sistema nervoso, vegetativo. A obsessdo-compulsdo relaciona-se_ com cognigdes. imagens. impulsos ou actos que sio persistentes, apatecem contra a vontade do individuo. n luta interna © oquadtoclinieo silo por isso egodistinicos. despert -evocamansiedade. Relacionam-se con ‘que fem a mesma designat: A sensitividade inter-pessoal diz respeito aos semtimentos de inadequagio © inferioridade pessoal que surgem. particularmente. quando 0 individuo se Compara com outras pessoss.O individuotem tendéncia parase auto-deprec € timido nas imteracg: Construgio de una eseata para avatiar a vulnerabilidade ao stress: a 23 QVS 283 A depressdosdetectadano BSLatravé que traduzem humor distérien, perda de ene! Falta de motivacao ¢ interesse pela vida, A ansiedade & captada através do registo de tativas relacionadas manifestagdes cognitivas © com este estado. A hostitidde oba pensamentos. estados emocionais © comportamentos caracteristicos: das 5 de cdlera, ‘A ansiedade fobica diz. respeito a medos especificos.imacionaise desproporcionados.emrelag ‘com uma pessoa. local ou situagio,que leva.a formagao de respostas de evitamento oUt de fi A ideagdo paranoide manifesta um modo perturbadodo funcionamenteeagnitivo, com ideias suspeig:io.hostilidade. projecgaioem relaga podendoocorrer por veres também ideias deg wocentrismo. ¢ medo da peri de autononti 0 psicaricismo é resistado em questdes que procu- ramavatiara presenga de isolamento social, umestitoue vida esquizoide.alucinaydese contralo do pensamento, © preenchimento deste inventirio permite a obtengio de trés indices zerais: o indice Gerat de Sintomas~quecorresponde adivisioentre a pontuaya0 lobal obtida e o mimero total de respostas: 0 Toral de Sintomas Positivos~ que secalcula contando ontimero de items que foram respondidos com um valor superior azeroc o Indice de Sintomas Posisivos ~ que se obtém dividindo a soma de todas as questdes pelo Total de Sintomas Positivos. Este diltimo indice ¢ considerado por Cristina Canavarro (1995) como o melhor iseriminador entre individuos normaais e aqueles que apresenéant ranstomnos emocionais, (4)-Registodeacomecimentosindutoresde stress. Para além dos instrumentos. psicométricos ‘mencionados cada respondent toi igualmente levadlo ateferira presenga ouaauséncia de 7 classes diferentes deacontecimentos indutores de stress, nomeadamente: -Traumas graves.comrespondentesacireunstirn de acentuauda gravidade eorno, porexemplo.ameaca morte, espancamento ou ter side testemunha de un homicidio. ~ Acontecimentos Significarivos da Vida. ‘compariveis 3 uma “martelada” que de repente ocorre ra vida de unra pessoa como. por exemplo. falecimento docénjuge ou de familiares. situagdes de separagio ou de divorcio. - Circunstdncias indutoras de stress erénico. que se earacterizam pel sua regularidade, provenientes do esempenho de papeis sociais e das actividades disrias doindividuo. Equivalem uma formade stresseontinuo, ‘io compariveis a “ferrugem” que se vai aeumulando © gradualmente vai desgastando dado material. Correspondem, por exemplo. a con!Titos conjugais ou no rabalho. 2esistGnea frequente de turekaseom prsz0 limite de realiza¢ooua umnumerouemasiadoelevado de solicitagdes que devem ser cumpridas ao mesmo tempo. ~ Micro induores de stress ~ so os peau acomtecimentos do dittdia que eumulativamente se tormam perturbadores. Por exemplo: circular divine mente em rus cOM Muito tinsito, eonviver com vizinhos incomodativos. estar exposto «t Tumadores quando se & um adio-fumador. no poder escapar a conversa frequentescomum amigo magador ou perder ‘uma chave. = Macro indusores de stress ~ sho provenientes do smal econdmico ¢ correspondem. por exemplo. a io par o pais ou para determinada iado elevados que periodos de rece inddstria ou a impostos denna subjugam uma pessoa, ~ Acantecinentos desejados que nao ocorreram correspondem a expectativas que. embora desejadas. ainda nao se coneretizaram, Por exemplo: a promos nha carrera que nuneat nrais chega. um «aumento de Veneimento que foi prometido e nunea mais & dado ou as pazes com um familiar que tardam em serem feta, ~ Traumatismos ocorridos na infincia como. por exemplo. ter sido vitima de abuso sexual ou de mus tratos, ter sido eriado mum ambiente familiar hostil, com pais drogados ou alcoblicos. 0 as seis primeitos tipos de aconte- cimento foisolicitadoacada respondente queassinalasse se Ihe tinhamocorridoou niiono deeursodo dltimoano, Este nexo temporal ji no podia ser estabelecid para 8 altima categoria (cireunstineias traumiticas da incia). que eram assinaladas como existentes ou lexistentes consounte tivessem ou nao acontecitio. Concepedio do trabalho Coneebemos o presente estilo partindo do principio de que. ao correlacionar os items da eseala experimental (com questoes relacionadas com vulnerabilidade ao stress) com os instrumentos psicométricos assinalados. ficdvamos a conhecer 0 perfil do individuo que. em situagdes de stress. estava mais propenso a desenyolver manifestagdes psicopatoldgicas, ‘A concepgio do trabalho. é express no quadro seguinte. | | i | | { Adriano Vaz Serra Causa Individuo Efvito T T T Acontecimento Aconiceimento + > Ni Valnerdvel -vulneriivel > Psicapatologia = Tolexineia (auséneia de psicopatologiay Quadro 1 - Concer da amostra A amostra foi constituids por 368 individuos da populago em yeral Tal como referimos qoutro trabalho (Vaz. Sen 1994) decidiu-se recollicruma amostra desta dimensio porque 0 estudo de Tiabitidade de qualquer escala requere. segundo Nunalty (1978), um myinimo de 300 casos. A fim de evitar distorgées de informa por influéneia di idade ou difeyengas de sexo. procurimos constituir umat amostra homogénea em rela variiveis Na selecgio de casos teve-se 0 cuidado de no incluir alguém que sofresse de debilidade mental. -muanifestasse transtomos psiesticos ou demenciais Para além da informaao demogrifien cada respondente cra solicitadoa registar se o proprio. pat. a mic ou outro familiar softia ou ji tinha sofrido de alguna “doenga de nervos", termo que uswaalmente se relaciona com a presena de cranstomos emocionais, acstas gio do trabalho No Quadro 2 io apresentadas sgerais da amostra, no que respeita is idades, Conforme se pode comprovar niio hit dilerencas estatisticas significativasnamédiade idadesenure sexoriterentes.. © mimero de casos de individuos na dgcada dos 60 loi ‘menor devido a diliculdades provenientes do rau de instrugo ou do nao preenchimento de eseatss quando houvea percepsiio de existirem fendmenos de natureza involutiva No Quadro 3 revelamos consttuigio da amostra no que respeita a0 grau de instrugio e estado civil Contorme se pode veriticar ha individuos distribuidos or todos os graus de ensino. Quanto a0 estado eivil a Iaioria slo easados. No quadro 4 diseriminamos os distritos de residéneia dos 368 elementos da amostra, O- maior ‘ninyero correspond a0 distritode Coimbra, Tivemwos contudo a possibitidade de cother elementos de quase todos os distitos de Portugal. tanto do fitoral como do interior. Total Homens ‘Mutheres Pp N 308 184 134 Idade Média 42.43 42.70 42.18 NS. DP. 13.58 13.36 13.83 Grupos etécios . 20's 80 40 40 30's 80 40 40 40's 80 40 40 50's 80 40 40 60's 48, 4 24 ‘Quadro 2 - Caracteristicas gerais da amostra (médin de idades e grupos etirios) Construgdo ce uma escola para avaliar a vulnerabilidade ao stess: a 23 OVS 285 N=368 Total Homens Mulieres Grau de instrugio Primatio 122 58 64 Bisico 26 n 1s Médio 69 33 36 Pré-universitario 35 30 25 Superior 96 32 4 Estado civ Solteiros 85 44 41 Casados 263 134 129 Vitvos 0 2 8 Separados/Divorciados 10 4 6 Quadro 3 — Caracteristicas gerais da amostra (grau de instrugdo e estado civil) = Aveiro: 132 ~ Guarda: 3 ~ Braga: 3 -Lein - Braganga: 27 + Lisboa: 8 = Castelo Branco: 5 = Santarém: 1 = Coimbra: 142 = Viseu: 17 - Evora: 2 ‘Quadro 4 ~ Distritos de residéneia Instrugdes inte ‘Antes do individue comegar a responder i eseala cera solicitado a ler a seguinte informagao eserita: Instrugies Cada uma ds frases que seguir € apresentads serve paraavalara ua maneia de habitual Noha resposas eras ou eras. Hi apenas sua resposta, Respond de forma pda ones cespontnea. Assinale com umacruz (eh mo quadrao respectvo [] aquela que se aproxina mais do modo como se comporta qu daquilo que realmente Ihe aconece. Estudo da homogeneidade dos items Ao ser csiada uma escala unidimensional. € importante que rodos os items sejam capaces de caprar wpectos diversos do mesmo «atributo ¢ nda partes disrintas de diferentes tragos. Embora as questoes devam ser diferentes umas das outras € desejavel que constituam um conjunto homogéneo (Streiner © Norman, 1989. p. 44). ‘Ocstudode homozencidade dositems oirealizade percorrendo as seguintes etapas: * Determinagaio do coeficiente de corte! Pearsondas diversas questdes coma not * Dererminayo da corelagio “Par/impar” ¢ do Coeficiente de Spearmian-Brown, * Determinagio do Coeficiente & de Cronbach. fanto para a globalidade dos items como para o Conjunto da escala apés item sendo extraidos. tum a um, os varios items, + Determinagio da matriz de eorrelagdes. dos diversos items. + Comprovagio de que os items scleccionados nao sio sensiveis a diferengas do grav de instrugiio, de sexo e de idade. + Comprovaciio de que a escals possui uma boa estabilidade temporal Cada_um destes procedimentos tem a sua Justilicagio, De acordo com o que é referido por Vaz Serra (19965 286 - A correlagio de cada questio com a nota global revelasnossecadatitemse detine comoum bomoperante do constructo gerat que pretende medir. ~ A comelacio “Par/impar” & uma prova que leva aconhecer se uma dasmetades dos items daescalag tio cconsistente & medir 0 constructo como a outa metade ‘Como acomelaciio"Par/impar” representaatcorrelagao que se estabelece entre das versdes mais pequenas dat mesma eseala, a sua verdadcira fiabilidade Tica subestimada, uma vex que esta & directamente proporcional ao mimero de items que a contém. Este valor ¢ habitualmente corigido pela dererminacao do Coeficiente de Spearman-Brown, que se obtém pel Formula seguinte: Cy Ar/14(k- Dr. © & representa 0 factor pelo qual a eseala est para ser aumentada ou diminuida (neste caso 2 vezes) ¢ oF corresponde correlagiio “Parfimpar” obtida. ~ 0 cileulo do Coeficiente a de Cronbach & importante por dois aspectos. Quando exprime o valor referente a rodos os irems é uma medida da consisténcia global da escala. tanto melhor quanto Jo obtida. Por sua ve7.0<.de Cronbach pode igualmente constituir uma forma de tratamento individual do item, que nos explica se este & ou nito significativo para a consisténcia interna do conjunto, Quando se retira um determinado item c 0 « de Cronbach sabeesse faeto¢ indicativode que esse item prejudica a homogencidade da escala. Se 0 valor baixa. entio indica que é importante para a homogencidade global. ~ A matriz de comelagdes entre 0s diversos items é mais um indicador que se junta aos outros, Se as correlagdes forem entre si demasiado elevadas 0 Facto indica que os items sio redurdantes. levando a que a eseala perca em termos de efiviéneia psicométriea, Se apresentarem uma correlagdo moderada entre si. indicam que sio sensiveis a aspectos diferentes. do miesmo construct, Por outro lado. a forma como se comelacionam, é ainda sugestiva da existéncia de Simensdes gerais subjacentes. = A comprovagio de que 0s items seleccionados nao sio sensiveis a diferengas de sexo é um procedimento importante na medida em que. ao eriar uma eseala para avaliar um universo de homens ¢ de mulheres. pretendemosqueregiste osaspectoscemuns endoos aspectos diferentes da forma de reagirem. Um raciocinio semethante se pode mencionat a tespeito da dade, ~ Uma boa estabilidate temporal & impreseindivel numa escala deste tipo, que procura medir traga e no, estado. Adriana Vaz Serra Estudos de validade Nos estudos de validade tem-se usualmente em conta a “validade dos trés e's"! de constructo, de contetddow decrntério, Esta iltima pode ser subdividida lidade concorremtee validade predictiva(Streiner © Morgan, 1989), undo Jager (1983) a validade de constracto subordina todas as outras ¢ procura encontrar resposta para a questio x “Este instrumento mede realmente consiructo que procluma medir?” E acrescenta: “A validade de constructo muneaé provada, € simplesmente aceite na medida em que as provas Savor vo sendo superiotes ‘is provas contrarias.” Anilise estatistica efectuada 0 estudo estatistico foi efectuado utilizande a versio 8.0 do progranta Systat para Windows, Foram determinadas médias, variincias, desvios ¢ cmos padrio, Paraasdllerengas entre médias das mots lobaise das dilerensas entre sexo foi utilizadoo reste 1. para amostras independentes. Paraoestulode diferengasestatisticasentn tupos extremos. englobando os valores dos diversos items. {i utilizado » método U de Mann-Whitney. O reste U de Mann-Whitney avaliadiferengasestatisticasatravés de ranks (ou postos) das variaiveis estudadas. A medida de tendéneia central mais correcta pararesumiro gue se passa com cadst um dos grupos & a mediana. No centanto, nos estudos que efectuimos. tendo havido muitos individuos com 0 mesmo rank. achmos que se tomariam mais evidentes as diferengas entre variveis se indicassemos as midis. embora mo sefa através estas que o procedimentoestatisticoactua. De qualquer forma, sempre que referimos que utilizimos 0 U de Mann-Whitney. os valores de p indicados foram os que © método exttaiu. AS médias dos items dos grupos extremos so expostas apenas para se notae melhor a diterenga Quando foi preciso organizar tabelas de contingéncia {oi utilizadonasuaanilise ométododo%? © adeterminagao do coeticiente Phi 7S QVS ¢ os diversos agrupamentos de siatomas do BST Doentes Nao doentes a 89 279 (24.2%) (758%) Média 46.742 37.423 Desvio Padrio 9.698 10.693, Quadro 29 ~ Médias de “Doentes” e de “Nio doentes” Construgio de uma escala para avaliar a vulnerabilidade ao stress: a 23 QVS 303, A partirdestes valores caleulimos opontade corte obedecendo & férmula de Fisher. Ponto de corte: (M, - DP,) +(M,+DP,): 2 (46.742 - 9.698) + (37.423 + 10.693) : 2 (37.044 + 48.116): 2= 85.16: 2= 42,58, Arredon- dando porexcesso podemos referir que os individuos que ao preencherem uma eseala 23 QVS obtenham um valor igual ou superior a 43 devem ser consi- derados vulneraveis ao stress. De seguida, construimos uma tabela de malde a determinar a a partir da amostra inicial, cficiéncia predictiva geral do ponto de corte (43). bem como a sensibilidade © a especificidade da . Para este efeito construimos a tabela que a seguir 6 exposta. escal Doentes | Nao doentes | Total ‘Vulneriveis 38 82 137 (23. QVS 243) Nio vulneraveis| 34 197 21 (23 QVS <43) Total 89 279) 368 Tabela | Pode comprovar-se que assim utitizadaestaescala demonstra uma eficiéncia global de 68.5 tagem obtida através da soma daqueles que classifica adequadamente como doentes (N=55) ¢ como ndo doentes (N=197), a dividir pelo total da amostea [(55 + 197): 368 = 252; 368 = .685 = 68.5 %], Se pretendermos obter a sua sensibilidade dividimos 0 nimero daqueles que classifica percen- adequadamente como doentes (N=55) pelo nimens total de doentes (N=89). Assim, 55:89=.618, 0 que nos indica uma percentagem de 61.8 % A fim de obtermos a sua especificidade basta dividir oniimerodaquelesque classificaadequadamente como ndo doentes (N=197) pelo niimero total dos ndo doentes (N=279), Desta forma, 197:279=.706, 0 que 1nos indica um valor percentual le 70.6 %. Referindo estes resultados por outras palavras podlemos mencionar. de uma forma mais sintética que, numa populagio de caracteristicas semelhantes & da amostra, esta eseala permite identificar correctamente 62 Yodosdoentes cexcluircorrectamente 71 %odosnao doentes, Por outro lado pode ainda concluirse que. utilizando esta escala em condigdes de prevaléncia de doenca semelhante a da nossa amostra (89 em 368 = 242 = 24.2 Ye) 6 de esperar que todo aquele que tenba 1a 23 QVS um valor> 43 efectivamente tem 40.1 %e de hipsteses de ser doente (55: 137 = 401 = 40.1 %). Quem tenha um resultado inferior a 43 tem 85.3 % de hipoteses de, efectivamente, ndo ser doente (197:231=.853 = 85.3 %), No Quadro 22 ¢ feita uma sintese dos resultados sabimos de referir. que Eficiéncia global 68.5% Sensibitidade 618% pecificidade 106% Quadro 30 ~ Eficieneia global, sensibifidade e especificidade da 23 QVS Estes resultados indicam-nos, queratravés do grau de especificidade. quer da sensibilidade, que a escala Pode ser particularmente itil em estudos epidemio- 16 sosem quese procuremdiferenciar duas populagdes diferentes. 5 Considerando ainda a variével categoria! ser ou ndo doente renténtos através dela realizar um teste # tendo em conta os valores de Neurotivismo. de Extroversao, do IRP. dos seus factores IF(2) ¢ IF(4) ¢ finalmente dos indieailores IGS. TSP e ISP do BSI, Asdiferengas transparecem noquadro 31 na pigina seguinte. * A sensibilidade refere-se & probabilidade de um doente ser classiticado como tal pela escala. A especificidade relaciona-se com a capacidade da escala em classificar comectamente 0 ndo doeme. Adriano Vaz Serra Doentes Nao doentes (N=89) 79) Mada DP. Media DP ? Neuroticismo 14566 F856 Toor S091 00 Extroversio 584 3.618 12.932 3.027 431 IRP 144.112 13.556 153.050 12,354 000 IFQ) 25.337 5332 26.520 4.539 062 Ire) 26.978 5.338 30.552 4.628 000 IGs 1129 sat 618 421 000 TSP 33.202 1364 22.839 52.664 000 ISP 1.932 746 1.486 402 000 ‘Quadro 31 — Diferengas entre “ser ou no doente™ De acordo com oque se observa no Quadro31. tl como seria de esperar 0s individuos doentes tém um au de Neurol de coping ¢ uma pontuagio mais elevada no indice Geral de Sintomas, Total de Sintomas Positivos indice de Sintomas Postivos do BSL Seatendermos acicunstincia de que os valores da 23QVS siosignficativamente maiselevadosno grupo dos “Doentes” do que no grupo dos “Nao doentes”™ entio é de admitir que igualmente se liguem aos fenmenos psicopatolspicos. ‘A diferensa entre médias do grav de Extroversio no revelou ser signifiatva a Consideremos agora um ponto distinto. Antecedentes familiares dos respondentes .mo mais elevado, piores estratégias . outro familiar softia ou ji tinha softido de alguma “doengadenervos",fermo que usualmente srelaciona coma presenga de transtornos emocionais. [Nos trés quadros seguintes apresentamos os rest tados obtidos para o caso do pai, da mie edo familiar. ‘Ao analisar cada uma das situagdes tivemos 0 cuidadode excluie da anilise a influéncia de cada ume das restantes. Assim, por exemplo, ao estudar 't influéncia do pai. pedimos a0 software de estatstica que seleccionasse apenas as sitwagdes em que nao exisisse a presenga nem de mie'nem de familiar doente, Usimos uma metodotogia idéntica para cada tum dos casos. Observando 0 Quadro 32 comprovase que nos respondentes doentes 0s pais doentes si0 em menor tiimero que 0s pais no doentes (1 versus 7). Nos respondentes ndo doentes revista-se a presenga de 17 paisdoentesede !76ndoddoenresOs valoresestatsticos rio sio significativos, Contudo, a forma como se Contorme relerimos de inicio cada respondente distribuemos casos sugere que no hi qualquer ligay0 cra solicitado a registar se o proprio, 0 pai. a miie ou evidente entre pai e respondente doente. GL=) Pai Phi « p Doente io doente (N=18) (N=183) Respondentes Doentes (N= 8) 1 7 025 12870 Nao doentes (N = 193) "W 176 Quadro 32 — Antecedentes patemos em termos de “ser ou nio doente™ Consirugdo de uma escala para avaliar a vulnerabilidade ao stress: a 23 QVS 305 NoQuadro33apresentamosos valoresenconirados + Nos respondentes daemtes a maioria dos pais. para a Mie. ‘do era doente. Podemos tirar conclusdes relativamente _* Uma conclusio idéntica pode ser extraida em semelhantes is do pai. A presenga de mie doente ‘ocorreem maior nimero nos respondentes ndodaentes do que nos doemtes (16 versus 7). Ha igualmente um maior numero de mie ndo doente do que doenie nos respondentes doentes (17 versus 7). 0-42 tem um valor estatisticamente significativo. Contudo 0 valor de Phi €disereto, explicando uma varidncia apenas de 4.5 % (Phi? = 0.045) © Quadro 34 apresenta os resultados que cencontramos para a presenga de um familiar doente No caso do familiar os resultados tornam diseretamente diferentes. A presengade familiardoente ‘corre em maior niimero nos respondentes doenzes do {que n0s ndo doentes (22 versus 17). No entanto, tal como foi observado nos dois quadros anteriores, hi igualmente um maior nimero de familiar ndo doente doquedoente nos respondentes doentes(29 versus 22), (0x2 tem um valor mais alto do que no caso do Paie da Mie ¢ ha uma diferenca signiticativa entre grupos. O valor de Phi traduz uma variincia explicadade 14.5 % (Phi? = 0.145). Tendo em conta os resultados obtidos podemos sintetisar: relagio as mies, embora neste caso ji tenha hhavido uma diferenga levemente menor. Passou-se uma situagio semelhante no que respeita aos familiares, em que igualmente se verificou a existéncia de maior nimero de amiliaresddoentes nosrespondentes ndedoenres do que nos doentes. Contudo, ao contririo das duas situagdes anteriores, presenga de familiar doente surge num quantitative mais elevado nos respondentes doentes do que nos ndo doentes. Este resultado é propiciado, provavelmente, por aver um maior nimero de familiares doentes (Ne51) do que pais (N=18) ¢ maes (N=23) doentes apés 0 processo de exclusio que utilizmos e que referimos anteriormente. Veriticou-se existirem casos de pais, mies & familiares doenresem respondentes ndo doentes. sempre em niaior mimero do que 90 caso de respondentes doenres. Os antecedentes familiares parecem ter assim uma importancia disereta no que respeita a determinagdo de se ser ou ndo doente. GL=1 ¥ P Doente “Nao doente ww (N=193) Respondentes Doentes (N= 24) 1 a7 212 9.732.002 Nio doentes (N = 192) 16 176 ‘Quadro 33 — Antecedentes matemos em termos de “ser ou niio doente™ GL=) Familiar Phi Fa ? Nao doente (N=193) Respondentes Doentes (N= 39) " 381 35.401 .000 doentes (N = 205) 29 176 ‘Quadro 34 Antecedentes de familiares, sem ser Pai ou Mae | | I ' 306 Adriano Vaz Serra Tratados estes pontos vamos agora analisar 0S resultados dos acontecimentos indutores de siress separados pela variivel categorial “Doentes/Nao doentes Circunstancias indutoras de stress em grupos de docntes e niio doentes Reterimos de inicio que cada respondente deixou registado o mimero de acomtecimentos indutores de stress ocortido no ano anterior, em seis categorias tas (Traumas graves, Acontecimentos cativos da vida Stress erdnico, Micro indutores sss, Macro indutores de siress © Acontecimentos

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