que entre eles em boa paz esto, se de ver-te faminto o meu olhar ou suspira de amor meu corao.
Co'a pintura de amor o olhar faz festa
e ao pintado banquete o outro convida, ou, convidando-o, o corao se presta a que o pensar de amor ento divida.
E assim ou por pintura ou por amor,
se ests ausente, em mim ests presente: no podes ir mais longe do que for meu pensamento, e eu, e tu na mente.
Ou se dormem, o ver da tua imagem,
acorda o corao e ambos reagem.
Vasco Graa Moura - "Os Sonetos Completos, de William Shakespeare"
(Traduo Integral)
William Shakespeare
115
Mentem as linhas que antes escrevi,
mesmo onde disse amar-te mais e mais; mas ento as razes no entendi de essa chama ir depois a alturas tais. Mas vendo o tempo e seus mil acidentes puir votos, mudar decreto a reis, delir beleza e as mais argutas mentes, dar a almas fortes do seu curso as leis, porque que ento, temendo essas cruezas, amar-te como nunca eu no diria, quando a minha certeza em incertezas coroava o presente e mais no via? Amor sendo criana, e eu sem poder dizer crescido o que inda est a crescer.
trad. portuguesa de Vasco Graa Moura.
em Os Sonetos Completos de William Shakespeare. ed. Landmark, 2005, Brasil