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APOSTILA DE
DIREITO TRIBUTÁRIO
Alessandra Machado Brandão Teixeira
Belo Horizonte
Agosto de 2010
2
ÍNDICE
DESPESAS;
RECEITA;
ORÇAMENTO;
Lei Orçamentária Anual –LOA;
Execução da Lei Orçamentária;
Fiscalização financeira e controle da execução orçamentária;
PLANO PLURIANUAL –PPA;
Lei de Diretrizes Orçamentárias –LDO;
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS – DIREITO FINANCEIRO.
Princípio da progressividade;
Princípio da igualdade/isonomia;
Princípio do não-confisco;
Princípio da legalidade;
Princípio da anterioridade;
Exceções ao princípio da anterioridade;
Princípio da anterioridade e imposto de renda;
Princípio da anterioridade e o princípio irretroatividade;
Princípio da Liberdade de Tráfego;
Princípio da não-cumulatividade;
Princípio da transparência;
ATIVIDADE COMPLEMENTAR;
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR.
COMPETÊNCIA;
Espécies de competência;
Tributos de competência da União;
Tributos de Competência dos Estados e do Distrito Federal;
Tributos de Competência dos Municípios;
Competência residual;
IMUNIDADE;
ISENÇÃO;
NÃO-INCIDÊNCIA;
REPARTIÇÃO DAS RECEITAS TRIBUTÁRIAS.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR.
VIGÊNCIA;
RETROAÇÃO;
INTERPRETAÇÃO;
Métodos clássicos de interpretação;
INTEGRAÇÃO NORMATIVA;
ANALOGIA;
EQÜIDADE;
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR.
NORMA JURÍDICA
Norma jurídica tributária;
Hipótese de incidência e fato gerador;
Fato gerador e tributação de atos ilícitos;
Base de cálculo;
Alíquota;
Sujeito ativo;
Sujeito passivo;
Solidariedade;
Capacidade tributária;
Domicílio;
OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA;
Obrigação tributária principal e acessória.
LANÇAMENTO;
5
Espécies de lançamento;
Lançamento de ofício;
Lançamento por declaração ou misto;
Lançamento por homologação;
Lançamento e constituição do crédito tributário;
Lançamento e auto de infração;
Lançamento, notificação e exigibilidade do crédito tributário;
SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO;
Moratória;
Depósito do montante integral;
Reclamações e recursos administrativos;
Liminar em mandado de segurança, medida liminar ou tutela antecipada em outras espécies
de ação judicial;
EXTINÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO;
Pagamento;
Pagamento indevido;
Prazo para se pleitear a restituição do que foi pago indevidamente;
Compensação;
Transação;
Remissão;
Decadência ou prescrição
Decadência;
Prescrição;
Conversão do depósito em renda;
Pagamento antecipado e homologação do pagamento;
Consignação em pagamento;
Decisão administrativa;
Decisão judicial passada em julgado;
Dação em pagamento de bens imóveis;
EXCLUSÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO;
Isenção;
Anistia;
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR.
Restituição.
Dívida ativa;
Certidões de regularidade fiscal.
6
Sobre a distinção entre preço público (ou tarifa) e taxa: inteiro teor do acórdão do Recurso
Especial n. 167.489/SP (Recorrente: Brigestone Firestone do Brasil Indústria e Comércio
Ltda., Recorrido: Serviço Municipal de Água e Saneamento de Santo André, Relator
MINISTRO JOSÉ DELGADO, Primeira Turma, julgado em 02.06.1998, DJ de
24.08.1998).
ANEXO
Tributos em espécie.
7
DIREITO TRIBUTÁRIO I
Objetivos da disciplina:
identificar o âmbito específico do Direito Tributário, relacionando-o com os demais ramos
do Direito, principalmente o direito administrativo e financeiro;
identificar e distinguir as diversas espécies tributárias;
identificar e distinguir normas constitucionais, que definem o sistema tributário nacional;
identificar as fontes do direito tributário;
determinar as formar de aplicação, interpretação e integração da legislação tributária;
identificar a obrigação tributária, distinguindo suas espécies e elementos;
identificar os casos de responsabilidade tributária.
Carga horária:
04 créditos.
Métodos Didáticos:
aulas expositivas;
estudos de caso concreto;
estudo dirigido;
trabalho em grupo.
Bibliografia básica:
AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 11.ed. São Paulo: Saraiva, 2005.
BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributário Brasileiro. Atualizado por Misabel Abreu
Machado Derzi, Rio de Janeiro: Forense, 2006.
CARVALHO, Paulo Barros de. Curso de Direito Tributário. 13.ed. São Paulo:
Saraiva, 2000. (PASTA DO PROFESSOR)
COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 9.ed. Rio
de Janeiro, 2006. (PARTES – PASTA DO PROFESSOR)
DE SANTI, Eurico Marcos Diniz. Curso de Direito Tributário e Finanças Públicas,
do fato à norma, da realidade ao conceito jurídico. São Paulo: Saraiva, 2008.
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. São Paulo: Malheiros, 2008.
MARTINS, Sérgio Pinto. Manual de Direito Tributário. São Paulo: Atlas.
SPAGNOL, Werther Botelho. Curso de Direito Tributário. Belo Horizonte: Del Rey,
2004.
8
CAPÍTULO I
NOÇÕES DE DIREITO FINANCEIRO
DESPESA
RECEITA
ORÇAMENTO
1
TORRES, Ricardo Lobo. Curso de Direito Financeiro e Tributário. 14.ed. Rio de Janeiro: Renovar, p. 174
12
2
TORRES, Ricardo Lobo. Curso de Direito Financeiro e Tributário. 14.ed. Rio de Janeiro: Renovar, p. 174
13
nominal e primário, e montante da dívida pública, para o exercício a que se referir e para os
dois anos seguintes.
A LDO possui também um segundo anexo, o Anexo de Riscos Fiscais, onde são
avaliados os passivos contingentes e outros riscos capazes de afetar as contas públicas,
informando as providências a serem tomadas, caso as avarezas venham a concretizar-se.
O projeto de LDO deverá ser encaminhado pelo Poder Executivo à Câmara até 8
meses e meio antes do encerramento do exercício financeiro e devolvido para sanção até o
encerramento da sessão legislativa (ADCT, art. 35, II, §2º).
Nem a LDO e nem o PPA autoriza a execução de despesas e a arrecadação de
receitas, estas devem estar incluídas na lei orçamentária de cada ano, para serem pagas ou
recebidas.
CAPÍTULO II
O TRIBUTO E SUAS ESPÉCIES
b) prestação de serviços,
c) benefícios,
d) finalidade (natureza da despesa).
- É necessário identificar ainda o evento justificador da participação do contribuinte
nas despesas públicas.
CONCEITO DE TRIBUTO
(aquele fato previsto em lei, que, praticado, oriunda uma obrigação tributária) é importante
analisar também a base de cálculo, no sentido de se confirmar se a mensuração do fato está
de acordo com a espécie tributária em questão. Por exemplo, a taxa de inspeção de veículos
junto ao Detran não pode ter como base de cálculo o valor do veículo, que é base de cálculo
do IPVA.
Para descobrir a natureza jurídica específica de um tributo, isto é, se se trata de uma
taxa, imposto, empréstimo compulsório, contribuição ou contribuição de melhoria, é
irrelevante o nome que se dê a exigência e o destino que é dado ao produto (receitas) de sua
arrecadação, de acordo com o que estabelece o artigo 4º do CTN:
“Art. 4º. A natureza jurídica específica do tributo é determinada pelo fato
gerador da respectiva obrigação, sendo irrelevantes para qualificá-la:
I – a denominação e demais características formais adotadas pela lei;
II – a destinação legal do produto da sua arrecadação.”
“Uns tributos possuem fatos geradores que são atuações do Estado (tributos
vinculados a atuações estatais). A base de cálculo expressa essa atuação
estatal. Outros tributos possuem fatos geradores que são manifestações do
contribuinte (ter renda, ter gastos, ter propriedades, ter investimentos etc.).
Estes tributos não são vinculados a ações estatais, e, porque se ligam a fatos
que são signos presuntivos de capacidade contributiva, as bases de cálculo
deles medem a materialidade do fato gerador. Por exemplo, um imposto de
renda que incida sobre remessas de pagamentos ao exterior, tendo por
sujeito passivo o remetente, já não é imposto sobre a renda, mas sobre
remessa ao exterior (imposto sobre gasto específico). Os tributos não
vinculados mais importantes são os impostos, pela forte capacidade
3
ATALIBA, Geraldo. Hipótese de Incidência Tributária. 6.ed. São Paulo: Malheiros, 2000.
17
De outro lado, estão aqueles para quem a destinação influencia a natureza jurídica
do tributo (Marco Aurelio Greco, Werther Botelho Spagnol, Helenilson da Cunha Pontes).
Para essa corrente doutrinária, as contribuições e os empréstimos compulsórios são a prova
mais evidente de que a destinação deve servir como baliza para aferição da natureza
jurídica do tributo, diante da incontestável importância que a destinação representa como
pressuposto para a instituição desses tributos, que só é autorizada pela Constituição em
razão de uma finalidade a ser alcançada.
Por todos que defendem a destinação/finalidade como mais um critério para a
definição da espécie tributária, evoca-se a doutrina de Werther Botelho Spagnol:
TRIBUTOS EM ESPÉCIE
4
COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 9.ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2006.
5
SPAGNOL, Werther Botelho. Curso de Direito Tributário – conforme a Emenda Constitucional n. 42/03
DOU 31.12.2003. Belo Horizonte: Del Rey, 2004
18
6
BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributário Brasileiro. 11. ed. atualizada por Misabel de Abreu Machado
Derzi. Rio de Janeiro: Forense, 2000.
19
d) função redistributiva;
e) impossibilidade de destinação pré-determinada do produto arrecadado (custeio
de despesas genéricas => CF, artigo 167, IV: princípio da não-afetação da
receita dos impostos).
Taxa
A taxa é o tributo que tem como fato gerador o exercício regular do poder de polícia
ou a utilização efetiva ou potencial de serviço público específico e divisível prestado ao
contribuinte ou posto à sua disposição.
O conceito da taxa está previsto no artigo 77 do CTN e as definições de poder de
polícia e serviço público específico e divisível encontram-se respectivamente nos artigos 78
e 79 do mesmo diploma.
Poder de polícia é o poder da administração pública de restringir, em nome do
interesse coletivo, direitos individuais com relação à segurança, higiene, ordem, disciplina
da produção e do mercado, aos costumes.
“Há certos direitos cujo exercício deve ser conciliado com o interesse público,
cabendo ao Estado policiar a atuação do indivíduo”.7
Serviço público específico: a intervenção (ação) do Estado pode ser destacada em
unidade autônoma.
Serviço público divisível: para que uma taxa seja cobrada cada usuário deverá
usufruir do serviço separadamente e não de forma genérica.
De acordo com o artigo 145, § 2º, da Constituição, as taxas não podem ter a mesma
base de cálculo dos impostos. Isto porque, com relação aos impostos, prevalece o princípio
da capacidade contributiva, enquanto que nas taxas prevalece o princípio da retribuição
(por meio de taxa, os contribuintes pagam, remuneram um serviço que o Estado prestou em
benefício deles).
Certo é que as despesas genéricas do Estado devem ser custeadas pelos impostos
que são pagos indiscriminadamente por toda a coletividade.
7
AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 8.ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 32
20
Qual a diferença entre a base de cálculo dos impostos e a das taxas? A base de cálculo dos
impostos quantifica a manifestação de riqueza e a das taxas a prestação de serviços. A
escolha das manifestações de riqueza é realizada pela Constituição.
8
AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 8.ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 31
21
Adverte-se que a taxa pode ser exigida ainda que o serviço não tenha sido utilizado
efetivamente pelo contribuinte, bastando que o serviço esteja à disposição. Baleeiro
afirmava que certos serviços trazem vantagem pela sua existência mesma, apresentam
vantagem efetiva para quem pode deles dispor-se.
É comum a afirmação de que serviços de utilização compulsória podem ser
cobrados pela mera disponibilidade. Na prática, essa afirmação não procede. Os serviços
jurisdicionais, por exemplo, são de utilização compulsória, mas não são pagos quando o
contribuinte deles não se utiliza. Esse fato contraria o disposto no CTN, já que, segundo
esse Diploma, os serviços de utilização compulsória, ainda que disponíveis, são devidos,
sempre.
9
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 10.ed. São Paulo: Malheiros, 1995. pp.328-331.
23
Essa segunda parte da Súmula não foi recepcionada pela Constituição de 1988, que
extingui o princípio da anualidade.
A compulsoriedade:
- refere-se à utilização do serviço, ou seja, não existe outra forma de usufruir o
serviço se não por meio do Estado;
- não é quanto ao pagamento e sim quanto à utilização do serviço.
Se o fato gerador é a prestação de serviços, deve-se diferenciar o tipo de serviço:
a) serviço de utilização compulsória: nesses casos, a via de cobrança legítima é o
tributo, tendo em vista a necessidade de lei. Se o serviço é específico e divisível, o tributo a
ser exigido será a taxa. Se o serviço é geral (indivisível), poderá ser custeado pela via dos
impostos.
10
AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 13.ed. São Paulo : Saraiva, 2007. pp 45 e 46
25
Pedágio
O Pedágio é um preço que se paga em razão do uso de via pública. O artigo 150, V,
da Constituição, veda o estabelecimento de limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por
meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvada a cobrança de pedágio pela
utilização de vias conservadas pelo poder público.
Na verdade, o pedágio é um preço para se passar. Será público se cobrado pelo
poder público, privado se exigido por concessionárias (empresas privadas sujeitas ao
regime de direito administrativo).
O pedágio não pode ser imposto porque não está arrolado na discriminação de
competência da União, dos Estados, do DF ou dos Municípios. Tampouco pode ser taxa
porque não há prestação de serviço público específico e divisível em favor da pessoa do
contribuinte.
O que há é o uso de via pública ou de via particular e, em troca disso, exige-se o
pagamento.
O uso de bem público ou particular é custeado pelo pagamento de preços. O mero
uso de bem público não enseja cobrança de tributo. Ora, no caso do pedágio, o Estado não
presta serviço, tão-somente oferece as estradas para serem usadas.
Contribuição de melhoria
Fato Gerador: obra pública que acarrete valorização do imóvel de contribuinte. Base
de cálculo: custo da obra. Se a base de cálculo fosse a valorização do imóvel, ter-se-ia um
imposto sobre o ganho de capital (renda), o que implicaria perda da característica desse
tributo de ser uma forma de rateio do custo de uma obra (CTN, art. 81).
Empréstimo compulsório
Os empréstimos compulsórios são instituídos em razão do advento de despesas
extraordinárias decorrentes de calamidade pública ou guerra externa e investimento
(Constituição, art. 148).
São instituídos por meio de lei complementar e competem privativamente à União.
O princípio da anterioridade não é observado no caso de calamidade pública ou
guerra, mas deve ser atendido no caso de investimento público.
É restituível, ou seja, deve ser devolvido ao contribuinte. A lei que institui o
empréstimo compulsório deve prever a forma de sua devolução.
Pode adotar como fato gerador:
a) uma atuação do estado: taxa => tributo vinculado que não se mostra viável do
ponto de vista arrecadatório;
b) uma situação do contribuinte: imposto => tributo não-vinculado. Ex.: empréstimo
compulsório sobre consumo de gasolina, aquisição de veículo, consumo de energia elétrica
etc.
26
Contribuições
A União, por meio de lei complementar, pode instituir contribuições que tenham por
objetivo financiar a seguridade social, as categorias profissionais ou econômicas (a
exemplo dos sindicatos) ou promover intervenção no domínio econômico (Constituição,
art. 149).
Quanto ao tributo contribuição, apresentam-se pertinentes as palavras de Ricardo
Lobo Torres:
11
TORRES, Ricardo Lobo. Curso de Direito Financeiro e Tributário. 11.ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2004.
p. 403
27
de pagar está subordinado à condição de se praticar o fato gerador, que é uma manifestação
de riqueza.12
Para aqueles que consideram que o gênero tributo se divide em dois grandes grupos,
o grupo dos vinculados e o grupo dos não vinculados a uma atuação estatal (modelo
condicional), estar-se-á diante de uma contribuição se o fato gerador estiver vinculado a
uma atuação estatal. Se o fato gerador não estiver vinculado a uma atuação estatal, estar-se-
á diante de um imposto.
Aqueles que consideram insuficiente a análise do fato gerador, se vinculado ou não
a uma atuação estatal, como única baliza para se distinguir as hipóteses tributárias (modelo
finalístico), defendem ser preciso verificar também se o tributo possui uma finalidade
específica e pré-determinada.
Assim, caso o tributo, além de ter fato gerador não vinculado a uma atuação
estatal, ter uma FINALIDADE a ser alcançada por previsão constitucional, será ele
uma contribuição.
Nas contribuições ocorre uma combinação entre o princípio da capacidade
contributiva e o do custo/benefício.
O exercício da competência tributária, no caso das contribuições, está condicionado
à busca das finalidades que marcam cada espécie de contribuição.
Caso a contribuição não cumpre sua finalidade, o tributo deve ser declarado
inconstitucional, em virtude da não observância da regra de competência, nascendo para o
contribuinte o direito de pedir a restituição dos valores recolhidos indevidamente.
Uma vez instituída uma contribuição, a despesa pela qual ela responderá passa a ter
fonte de financiamento seguro, não sujeito à decisões políticas inerentes à oportunidade das
dotações orçamentárias.
12
Sobre o tema, ler “GRECO, Marco Aurélio. Contribuições: uma espécie sui generis. São Paulo: Dialética,
2000.
28
Contribuições sociais
a) Contribuições sociais previdenciárias: são aquelas destinadas ao custeio da
Seguridade Social, que compreende três setores: previdência, assistência e saúde. Estão
disciplinadas pelos artigos 194 e 195 da Constituição.
O Brasil adotou forma mista de custeio da Seguridade Social: financiam-na estado e
sociedade.
São contribuintes das contribuições sociais previdenciárias:
13
Foi instituída em 2000, pela EC n. 27, a chamada Desvinculação das Receitas da União –DRU, que vigorou
até 2003. Esta emenda acrescentou ao ADCT o artigo 76, cujo caput tinha a seguinte redação: “É
desvinculado de órgão, fundo ou despesa, no período de 2000 a 2003, vinte por cento da arrecadação de
impostos e contribuições sociais da União, já instituídos ou que vierem a ser criados no referido período,
seus adicionais e respectivos acréscimos legais.” Perto do fim do período de desvinculação estipulado pela
Emenda n. 27, adveio, em 31/12/2003, a Emenda n. 42, que, entre outras coisas, alterou o caput do artigo 76
do ADCT para prorrogar a desvinculação de que esse dispositivo tratava até o ano de 2007. Em 21 de
dezembro de 2007, a Emenda n. 56 alterou o caput do artigo 76 para prorrogar, mais uma vez, o prazo da
DRU até o ano de 2011.
29
Contribuições corporativas
São aquelas destinadas ao financiamento de entidades sindicais ou representativas
de classe. Essas contribuições são devidas pelos profissionais a seus órgãos de registro e
fiscalização que tenham natureza jurídica de autarquia. Exemplos: contribuição à OAB
(advogados), ao CRC (contadores), aos sindicatos, SEST, SENAC, SESI, SEBRAE etc.
Contribuições interventivas
São aquelas destinadas ao financiamento da atuação do estado em setores
específicos.
São tributos fiscais?
Produto da arrecadação – afetação – despesa específica.
Intervenção: atuação estatal no campo da atividade econômica.
A intervenção pode ser no domínio econômico ou sobre o domínio econômico. Se o
Estado atua no domínio econômico, por meio de um regime de monopólio ou em
concorrência com o particular, não há tributação porque o Estado assume a posição de
contribuinte. Age como mero contribuinte, como se contribuinte fosse.
Se o Estado atua sobre o domínio econômico, ele não concorre com o particular,
mas tão-somente induz ou dirige a atividade exercida por este. Neste caso, há tributação15.
A atuação pública a ser custeada deve se dar no interesse da atividade econômica.
Indução ou direção de determinada atividade econômica exercida pelo administrado.
Sujeito passivo: pessoa que explora e que se beneficia da atividade econômica
(referibilidade).
Discute-se em doutrina acerca da necessidade de lei complementar (CF, art. 146).
Posição adotada: não exigem lei complementar desde que atendidos os seguintes requisitos:
14
COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 9.ed. Rio de Janeiro: Forense,
2006.
15
GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição de 1988. 8.ed. São Paulo: Malheiros, 2003. pp.
126 e 127.
30
Por fim, cumpre informar que há doutrinadores que consideram a COSIP uma
espécie de contribuição interventiva.
Com exceção das contribuições sociais previdenciárias, que observam apenas o princípio da
anterioridade relativamente ao prazo de 90 dias, as demais contribuições têm de observar o
princípio da anterioridade em seus dois aspectos, nos termos determinados pela Constituição.
16
CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 20. ed. São Paulo: Malheiros,
2004. p. 583.
31
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
ATALIBA, Geraldo. Hipótese de incidência tributária. 6.ed. São Paulo: Malheiros, 2005.
COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 9.ed. Rio de
Janeiro, 2006.
GRECO, Marco Aurélio. Contribuições: uma espécie sui generis. São Paulo: Dialética,
2000.
PONTES, Helenilson da Cunha. O princípio da proporcionalidade e o direito tributário.
São Paulo: Dialética.
SPAGNOL, Werther Botelho. Curso de Direito Tributário. Belo Horizonte: Del Rey, 2004.
32
CAPÍTULO III
SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL
17
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 10. ed. São Paulo: Malheiros. p. 33
18
DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 18.ed. São Paulo: Saraiva, 1994. p.
101.
33
previstas nas Constituições que concede e ao mesmo tempo limita o poder de tributar do
Estado.
A Constituição da República Federativa do Brasil possui um título, o de número VI,
denominado “Da tributação e do Orçamento” cujo capítulo I é intitulado “Do sistema
Tributário Nacional” (arts. 145 a 156). Este sistema é formado por um conjunto de artigos
em que estão estabelecidas as regras básicas que o poder de tributar terá de observar, sob
pena de se tornar ilegítimo.
O sistema tributário nacional é composto de princípios gerais e de limitações ao
poder de tributar.
financeira destes entes, em razão do pacto federativo, a Constituição Federal determina que
o produto arrecadado pela União seja dividido com os estados e o produto arrecadado por
estes seja repartido com os municípios. Essa distribuição se dá por meio do Fundo de
Participação dos Estados e Municípios (Constituição, arts. 157 a 162).
Princípio da pessoalidade
A imposição tributária deve levar em consideração as características pessoais do
contribuinte. Entretanto, tal providência nem sempre se afigura possível, principalmente no
que se refere aos impostos que tributam o consumo (ICMS e IPI, por exemplo.), mas para
dar cumprimento à pessoalidade a Constituição prevê a seletividade.
Princípio da seletividade
Trata-se de uma tributação com base na essencialidade dos produtos e operações
tributadas. Assim é que, quanto maior a essencialidade dos produtos (gêneros de primeira
necessidade => componentes da cesta básica) menor deve ser a tributação sobre eles.
Princípio da progressividade
Analisando o art. 145, § 1º da CF, que contém o enunciado do princípio da
capacidade contributiva, percebe-se que este mesmo dispositivo determina que os impostos
sejam graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte. Conforme leciona
Aliomar Baleeiro, “tributos graduados são os progressivos, ou seja, aqueles cuja alíquota
cresce à medida que se eleva a quantidade ou valor da coisa tributada, em contraste com a
relação constante dos impostos simplesmente proporcionais”.19
A progressividade não pode ser confundida com a proporcionalidade, visto que
nesta a alíquota permanece inalterada, independente da quantidade que é submetida à
tributação.
A progressividade, para Hugo de Brito Machado, divide-se em:
a) fiscal (CF, art.156, § 1.º) e
b) extrafiscal, no tempo (CF, art. 182, § 4.º, II).
Para Elizabeth Carrazza, divide-se em:
a) progressividade fiscal (CF, art.145);
b) progressividade extrafiscal (CF, art.156) e
c) progressividade extrafiscal e progressividade no tempo (CF, art. 182: caráter de sanção:
desapropriação, por exemplo).
19
BALEEIRO, Aliomar. Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar. 7.ed. Rio de Janeiro: Forense,
1997.
37
Princípio da igualdade/isonomia
O princípio da igualdade no direito tributário decorre do princípio da isonomia
jurídica, segundo o qual todos são iguais perante a lei (CF, art. 5º, caput).
A igualdade sempre pressupõe uma relação interpessoal segundo a qual as pessoas
iguais recebem porções iguais das coisas a serem partilhadas, enquanto aquelas desiguais
hão de receber parcelas desiguais dessas mesmas coisas.
No que toca à matéria tributária, a Constituição, em seu art. 150, II, determina: “É
vedado instituir tratamento desigual a contribuintes que se encontrarem em situação
equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por
eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou
direitos.”
Depreende-se da análise desse artigo que é preciso existir um critério para que os
contribuintes sejam considerados em situação equivalente.
Assim, comprova-se que o princípio da igualdade requer uma comparação entre
contribuintes.
O principal critério para tanto será a manifestação de capacidade contributiva.
Aqueles contribuintes que apresentarem manifestações de riquezas equivalentes serão
tributados de uma mesma forma, enquanto os diferentes terão uma outra espécie de
tributação.
Os critérios de discriminação deverão ser sempre razoáveis e atender aos fins do
Estado Brasileiro determinados na Constituição Federal.
A igualdade impõe que a lei crie deveres tributários iguais para aqueles
economicamente iguais; e deveres tributários diferentes, mais ou menos onerosos, para os
desiguais ou mais ou menos favorecidos, na medida dessas desigualdades. Ex.: alíquotas do
imposto de renda retido na fonte são diferentes para as operações financeiras de renda fixa
(mais altas) e de renda variável (mais baixas).
Há uma diferença tributária relevante no que tange às microempresas, empresas de
pequeno porte e grandes empresas.
A Constituição Federal, objetivando dar efetividade ao princípio da igualdade,
proíbe que a ocupação profissional ou a função exercida pelos contribuintes seja critério
para diferenciá-los.
Dessa forma, percebe-se que o princípio da igualdade pressupõe uma comparação
entre contribuintes. Só se pode determinar uma situação de igualdade se se efetuar uma
comparação entre os indivíduos envolvidos.
É uma expressão do princípio da igualdade a regra da uniformidade dos tributos
federais em todo o território nacional, de modo que em qualquer parte do território nacional
a carga tributária federal há de ser a mesma.
O princípio da igualdade também é dirigido ao legislador, mas deve ser observado
pelo aplicador da lei, como forma de lhe dar eficácia.
38
Princípio do não-confisco
“É vedado utilizar tributo com efeito de confisco” (Constituição, art. 150, IV).
Confisco é a expropriação compulsória dos bens de um infrator em beneficio do
Estado (é uma penalidade, ou conseqüência desta).
Os tributos não podem exceder a força econômica do contribuinte.
Princípio que visa a resguardar o direito de propriedade. O contribuinte não pode ser
forçado a dilapidar seu patrimônio para fazer frente ao encargo tributário.
Não pressupõe uma comparação. Faz-se necessária uma análise das situações
particulares de cada contribuinte: os tributos a que ele está sujeito devem ser analisados de
forma conjunta e não isolada.
Poder de destruir: o poder de tributar não pode implicar destruição da atividade
produtiva. A carga tributária tem que se manter dentro do limite do tolerável. O poder de
tributar não deve implicar poder de destruir – “The power to tax involves the power to
destroy” (John Marchal, 1819).
Por tratar-se de princípio de difícil determinação, caberá ao Judiciário dizer quando
um tributo é confiscatório.
Princípio da legalidade
O princípio da legalidade decorre de um direito individual geral previsto na
Constituição Federal, quando determina que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de
fazer alguma coisa senão em virtude de lei” (CR, art. 5º, II).
No âmbito do direito tributário a legalidade se revela na norma segundo a qual a
tributação deve ser consentida pelos representantes do povo. Assim é que apenas o Poder
Legislativo, na condição de representante do povo, pode criar tributos. É dizer: não pode
haver tributação sem autorização do povo.
“Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União,
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios exigir ou aumentar tributo sem lei que o
estabeleça” (CF, art. 150, I).
Quando se menciona lei está-se a exigir lei enquanto ato normativo advindo do
Poder Legislativo (lei formal).
A lei que instituir um tributo deverá delinear o fato cuja ocorrência fará surgir o
dever de pagar o tributo (fato gerador), estabelecer a base de cálculo, que é o aspecto
mensurável (quantitativo) da obrigação tributária, prever a alíquota aplicável e identificar o
sujeito passivo (devedor – quem deverá efetuar o pagamento do tributo).
Exceções: alíquotas do IPI (imposto sobre produtos industrializados), do II (imposto
de importação), do IE (imposto de importação) e do IOF (imposto sobre operações de
crédito, câmbio e seguro, ou relativa a títulos ou valores mobiliários) podem ser alteradas
por ato do Poder Executivo, em razão de serem impostos que têm por finalidade a
regulação do mercado (economia) – diz-se tributos extrafiscais (CF, art. 153, § 1º).
39
Princípio da anterioridade
Segundo o art. 150, III, “b” da CF/88 é vedado à União, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios cobrar tributos no mesmo exercício financeiro em que haja sido
publicada a lei que os instituiu ou aumentou.
O princípio da anterioridade, portanto, num primeiro momento, tem como referência
o exercício financeiro, que, no Brasil, confunde-se com o ano civil: começa em 1º de
janeiro e termina em 31 de dezembro.
Alguns tributos, entretanto, como por exemplo o IPI, não se sujeitam a anterioridade
do exercício financeiro.
Como o objetivo do princípio da anterioridade é proporcionar ao contribuinte
oportunidade de planejamento, tornando a exação previsível, a Emenda Constitucional n.
42/2003 acrescentou ao inciso III do art. 150 da CF/88 o que ficou conhecida como
“anterioridade nonagesimal”, “anterioridade mitigada” ou “noventena” segundo a qual é
vedado cobrar tributo antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a
lei que os instituiu ou aumentou. Pretendeu-se, com isso, fazer com que os tributos que não
pudessem observar o princípio da anterioridade genérica ou clássica (exercício financeiro)
observassem, pelo menos, um lapso mínimo suficiente para que o contribuinte se informe,
planeje e não seja pego de surpresa com uma exigência tributária nova ou majorada.
Ocorre que, também quanto à anterioridade nonagesimal, há exceções: lei que altera
alíquota do IR, lei que altera a base de cálculo do IPVA e do IPTU.
Alguns doutrinadores chamam o princípio da anterioridade, compreendido neste a
antecedência em relação ao exercício financeiro e a em relação ao lapso de noventa dias, de
princípio da não-surpresa.
Exemplo da aplicação do princípio da anterioridade na prática: em 20 de dezembro
de 2007 é publicada a Lei 001, que majora alíquota de tributo. Essa lei deve aguardar o
próximo exercício financeiro (a partir de 1º de janeiro de 2008) e também o lapso de 90
dias para começar a produzir seus efeitos, de modo que só terá eficácia em 19 de março de
2008 (lembremo-nos de que 2008 é ano bissexto e que noventa dias não é o mesmo que três
meses).
42
Em suma:
Tributo Anterioridade em Anterioridade em Observância ao
relação ao exercício relação ao lapso de 90 princípio da legalidade
financeiro dias estrita ou
reserva legal
II Não há Não há Não há
IE Não há Não há Não há
IOF Não há Não há Não há
EMPRÉSTIMO Não há Não há Há Lei Complementar
COMPULSÓRIO
(NO CASO DE
GUERRA E
CALAMIDADE
PÚBLICA)
ICMS Não há Há Há
CIDE Não há Há Há
IPI Não há Há Não há
CONTRIBUIÇÕES Não há Há Há
para a Seguridade
Social
IPTU Há Não há (base de cálculo) Há
IPVA Há Não há (base de cálculo) Há
IR Há Não há (alíquota) Há
Princípio da não-cumulatividade
Essa diretriz constitucional aplicava-se a princípio ao ICMS e ao IPI. Ulteriormente,
foi introduzida para a apuração do PIS e da Cofins.
“O ICMS e o IPI serão não cumulativos, compensando-se o que for devido em cada
operação com o montante cobrado nas anteriores” (CF, art. 155, § 2º, I e art. 153, § 3º, II,
45
SISTEMÁTICA DA NÃO-CUMULATIVIDADE
(sem benefícios fiscais)
Valor da Débito Crédito ICMS a recolher
Operação ICMS ICMS
A R$200,00 R$20,00 - R$20,00
B R$300,00 R$30,00 R$20,00 R$10,00
C R$400,00 R$40,00 R$30,00 R$10,00
TOTAL DE ICMS RECOLHIDO R$40,00
Portanto, em uma análise abstrata, pode-se concluir que objetivo desta sistemática
tributária do ICMS, ao permitir a transferência, como crédito, do valor já recolhido, mas
apenas em relação a operações realizadas entre contribuintes, é a de um imposto cujo ônus
é efetivamente suportado apenas pelo consumidor final, por conseguinte, um imposto cuja
incidência dá-se de forma economicamente neutra, objetivando-se que, independentemente
da quantidade de operações existentes na cadeia econômica produtiva/circulatória, o valor
do ICMS seja sempre proporcional ao valor da venda ao consumidor final.
A Constituição determina que caberá à lei complementar dispor sobre a
compensação e sobre o direito de abatimento (art. 155, § 2º, XII, “c” e “f”).
As leis complementares que disciplinam esses institutos são as de n. 87/96 e
102/2000. Esses Diplomas impõem restrições ao direito aos créditos de produtos
específicos, embora a Constituição Federal não imponha restrições nesse sentido. Por
46
exemplo: os créditos relativos aos bens que compõem o ativo fixo não podem ser utilizados
integralmente, devem ser divididos em 48 parcelas, que são apropriadas mês a mês.
As únicas restrições ao direito ao crédito impostas constitucionalmente referem-se à
isenção e à não-incidência: “a isenção ou a não-incidência, salvo determinação em
contrário da legislação, não implica crédito para compensação com montante devido nas
operações ou prestações seguintes; a isenção ou a não incidência acarreta a anulação do
crédito relativo às operações anteriores” (CF, art. 155, § 2º, II, “a” e “b”).
Princípio da transparência
“A informação adequada e clara sobre diferentes produtos e serviços, com
especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem
como sobre os riscos que apresentam” é um dos direitos básicos do consumidor, prevê o
art. 6º, inciso III, da Lei 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor).
No direito tributário, disposição constitucional semelhante impõe o princípio da
transparência: “A lei determinará medidas para que os consumidores sejam esclarecidos
acerca dos impostos que incidam sobre mercadorias e serviços” (CF, art. 150, § 5º), o que
significa que o contribuinte tem o direito de saber o quanto está pagando de tributo em cada
produto que adquire ou movimentação financeira (circulação de mercadoria) que realiza. A
lei instituidora do tributo deve criar as condições para que essa informação seja prestada e o
direito do contribuinte, dessarte, seja exercido.
ATIVIDADE COMPLEMENTAR
Pesquisar junto ao STF (www.stf.gov.br) no sentido de verificar a aplicação prática dos
princípios estudados. A pesquisa contribuirá para a melhor fixação da matéria e enriquecerá
o conhecimento do aluno, que conhecerá o aspecto prático (aplicação in concretu) dos
princípios tributários constitucionais
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
ÁVILA, Sistema Constitucional Tributário. São Paulo: Saraiva.
BALEEIRO, Aliomar. Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar. Rio de Janeiro:
Forense.
CARRAZA, Roque Antonio. Curso de Direito Constitucional Tributário. São Paulo:
Malheiros, 2007.
CRETELLA JR., José. Curso de Direito Tributário Constitucional. Rio de Janeiro: Forense
Universitária.
GODOI, Marciano Seabra de (Coord.). Sistema Tributário Nacional na jurisprudência do
STF. São Paulo: Dialética, 2002.
MACHADO, Hugo de Brito. Os princípios jurídicos da tributação na Constituição de
1988. 5.ed. São Paulo: Dialética.
TORRES, Heleno Taveira. Tratado de Direito Constitucional Tributário. São Paulo: Saraiva.
47
CAPÍTULO IV
COMPETÊNCIA; IMUNIDADE, ISENÇÃO E NÃO-INCIDÊNCIA
COMPETÊNCIA
Competência tributária é o poder atribuído pela Constituição às pessoas de direito
público (com autonomia política) para criar tributos.
A rigor, a norma de competência não cria tributos, pelo contrário, limita-se a impor
alguns requisitos que permitam individualizá-los e, dessa forma, repartir a competência
entre União, Estados, DF e Municípios.
Para que um tributo seja criado é necessário que a pessoa que recebeu a faculdade
de criar o tributo por força da Constituição venha a fazer uso dessa competência mediante a
edição de uma lei com todos os requisitos de uma lei tributária, ou seja, que contenha a
definição do fato gerador, da base de cálculo, da alíquota e dos sujeitos ativo e passivo. É a
esta lei que se reconhece a qualidade de ser instituidora de tributo.
A competência tributária não se confunde com a capacidade ativa. A primeira
refere-se ao poder de instituir tributo, enquanto a segunda diz respeito à pessoa que tem
capacidade para figurar no pólo ativo da obrigação tributária, tendo poder para fiscalizar e
exigir o tributo.
A competência tributária apresenta basicamente as seguintes características: rigidez;
faculdade; exclusividade; indelegabilidade; intransferibilidade e irrenunciabilidade.
O eventual não exercício da competência tributária não equivale à renúncia.
Competência residual
Competência residual é a faculdade para criar tributos não previstos expressamente
pela Constituição. É concedida somente à União, que poderá, por meio de lei
complementar, instituir outros tributos que não tenham fato gerador e base de cálculo
idênticos aos dos tributos expressamente discriminados na Constituição (CF, art. 154).
IMUNIDADE
As regras de imunidade são hipóteses de competência negativa, ou seja, são
definições constitucionais de algumas áreas em que o Estado não tem competência
tributária. Diante de imunidade, a União, os Estados, o DF e os Municípios estão proibidos
de instituir tributos.
49
Os valores auferidos por essas entidades imunes somente estarão acobertados pelo
benefício se estiverem relacionados com os objetivos institucionais da entidade, caso
contrário não farão jus à imunidade.
e) Livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua impressão. Essa imunidade
visa proteger a liberdade de expressão, além de estimular as atividades culturais. Essa
imunidade atinge somente a tributação dos objetivos referidos, não aplicável à atividade
comercial que promove o comércio dos mesmos.
A Constituição prevê outras hipóteses de imunidade que devem ser extraídas ao
longo de seu texto, não se restringindo aos casos que prevê no artigo 150.
50
Imunidade => não há competência para tributar (tributar é assunto estéril para o ente
político).
Isenção => há competência, ou seja, há autorização para exigir o tributo, mas o ente
tributante não o faz, não exerce a competência que tem.
NÃO-INCIDÊNCIA
Consiste na inexistência de uma lei descrevendo um comportamento dado como
gerador da obrigação de pagar tributo.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
CARRAZZA, Roque Antônio. Conflitos de competência: um caso concreto. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1984. 104 p.
REVISTA DE FINANÇAS PUBLICAS. Brasília: Ministério da Fazenda, n.372, out. / dez.,
1987. 124 p
CONTIPELLI, Ernani. Constituição, federalismo e arquétipos tributários. REVISTA
TRIBUTÁRIA E DE FINANÇAS PÚBLICAS, São Paulo: Revista dos Tribunais, n. 65, p.
102-113, Nov./Dez./2005
MARTINS, Ives Gandra da Silva. Competência Tributária:impostos federais, estaduais e
municipais no Código Tributário Nacional. CADERNOS DE DIREITO TRIBUTÁRIO E
FINANÇAS PÚBLICAS, São Paulo: Revista dos Tribunais, v. 5, n. 21, p. 20-34,
out./dez.,1997
MEDEIROS, Pedro Jorge. Competência Tributária. REVISTA TRIBUTÁRIA DE
FINANÇAS PÚBLICAS, São Paulo: Revista dos Tribunais, v. 14, n. 69, p. 44-53, jul./ago.
2006
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. São Paulo: Saraiva.
52
CAPITULO V
FONTES DO DIREITO TRIBUTÁRIO
Constituição da República
Dada a grande importância dessa fonte, não apenas para o direito tributário como
também para o direito em geral, pertinente a definição exata do que seja constituição.
Assim a define Gilmar Ferreira Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal:
Vê-se, portanto, que a Constituição é a lei fundamental, a lei mãe, é onde estão as
normas mais importantes de um estado e por isso todas as demais normas devem observar
aquilo que a Constituição Federal estabelece.
Emendas Constitucionais são alterações da Constituição Federal, as quais, após
serem aprovadas por dois terços do Congresso Nacional passam a compor o próprio texto
da Constituição.
A Constituição brasileira molda o sistema tributário nacional por meio da prescrição
de detalhes incomuns às Constituições de outros países. Assim, para o direito tributário
brasileiro, a Constituição assume relevância ainda maior. Vale dizer: toda a legislação
tributária infraconstitucional deve guardar estrito respeito ao que determina a Constituição.
É importante deixar claro, entretanto, que a constituição não cria tributos, apenas confere
competência aos entes políticos para fazê-lo.
Lei complementar
Para que uma lei complementar seja aprovada é necessária a aprovação da maioria
absoluta, ou seja, metade mais um dos membros das casas do congresso nacional. As leis
complementares assumem posição de relevo no direito tributário, pois, considerando a
competência concorrente para legislar sobre essa matéria, o constituinte precisa de
instrumento que uniformize a legislação tributária no território nacional. A lei
complementar disciplina matérias a ela reservada exclusivamente.
As diversas funções das leis complementares foram devidamente descritas no texto
constitucional, podendo ser assim agrupadas:
São objetos de lei complementar (art. 146 CF/88):
a) disposição sobre conflitos de competência, em matéria tributária, entre a União,
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
b) regulação das limitações constitucionais ao poder de tributar;
20
MENDES, Gilmar Ferreira, COELHO, Inocêncio Mártires, BRANCO, Paulo Gustavo Gonet, Curso de
Direito Constitucional. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 2008. pp.999 e 1000.
54
Lei Ordinária
É por meio de lei ordinária que se institui ou majora tributo. Cabe a ela dispor sobre
(art. 97 CTN):
a) a instituição, a majoração, redução ou extinção de tributos;
b) definição do fato gerador;
c) definição da base de cálculo e da alíquota;
d) cominação de penalidades;
e) estipulação das hipóteses de exclusão, suspensão e extinção do credito
tributário.
A lei ordinária pode ser federal, distrital, estadual ou municipal; devem disciplinar o
cumprimento das obrigações acessórias, que são deveres instrumentais; também por meio
dela se fixam as alíquotas dos seguintes impostos extrafiscais: II, IE, IPI e IOF.
A instituição de empréstimo compulsório, contribuições sociais e impostos residuais
é uma exceção à regra segundo a qual cabe à lei ordinária instituir tributos, uma vez que
esses tributos devem ser instituídos por lei complementar.
Tratados internacionais
55
Dualismo x Monismo
• Ordenamentos independentes
(fontes de produção diversas)
Dualismo • Norma de recepção ou
transformação
Celebração
• Agentes do Executivo • Decreto – vigência
• Autenticação interna
• Inicia-se com apreciação • Troca de instrumentos:
(intenção – proposta) do Congresso Nacional vigência internacional
• Decreto Legislativo: sim ou
não
• Natureza autorizativa
• INTERNO
Negociação Vigência
Conforme Marciano Seabra de Godoi, “o artigo 84, VIII da Constituição dispõe que
a celebração dos tratados pelo Presidente da República está sujeita “a referendo do
Congresso Nacional”. Por sua vez, o art.49, I dispõe que compete exclusivamente ao
Congresso “resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais...”
(destacamos). Ainda que o teor literal do texto constitucional brasileiro possa levar a tanto,
não é correto dizer que o Parlamento ratifica um tratado. A ratificação, que é uma das
formas (além da assinatura, da troca de notas e da adesão por exemplo) de manifestação
56
Lei delegada
Trata-se de uma lei baixada pela Presidência da República com autorização do
Poder Legislativo. Essa autorização será veiculada através de resoluções do Congresso
Nacional, que especificarão seu conteúdo e os termos de seu exercício.
58
As matérias reservadas à lei complementar não poderão ser objeto de leis delegadas,
que têm hierarquia de leis ordinárias.
Resoluções
São atos de competência exclusiva do Congresso Nacional (Senado e Câmara dos
Deputados); têm como conteúdo matérias tais como a delegação para que seja elaborada lei
delegada, a suspensão de lei declarada inconstitucional e a fixação de alíquota de alguns
impostos.
Decreto Regulamentar
Atos do Chefe do Poder Executivo que explicitam/regulam as regras legais,
possibilitando a fiel execução das leis (especifica mandamentos de uma lei).
O regulamento é próprio do chefe do Poder Executivo que o expede, por via de
decreto, dentro de seu texto está inserido um conjunto de resoluções e disposições
normativas. Exemplo: regulamento do ICMS, do Imposto de Renda.
Aos decretos meramente reguladores não é lícito inovar, isto é, conter disposições
que extrapolam o conteúdo da lei pertinente.
Normas Complementares
Normas que tem por objetivo complementar o que está disposto nas leis
(complementar ou ordinária), nos tratados, nas convenções internacionais e nos decretos e
regulamentos (CTN, art. 100).
Via de regra as normas complementares são baixadas pelo Poder Executivo, por isso
é comum chamá-las de normas secundárias.
As normas complementares, que não se confundem com as leis complementares,
são as seguintes:
a) atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas: tornam o
regulamento mais especifico, a exemplo das instruções normativas, portarias, circulares e
resoluções;
b) decisões administrativas que a lei atribua valor de norma, como, por exemplo o
parecer normativo. Não são todas as decisões proferidas pela autoridade administrativas
que são consideradas normas complementares, mas somente aquelas a que a lei atribui esse
caráter;
c) práticas reiteradas: as práticas reiteradas na Administração num determinado
sentido geram no contribuinte o sentimento de estar cumprindo com o seu dever. Trata-se
de um conceito muito subjetivo, porque a lei não estabelece quais sejam os critérios para se
considerar que uma prática da administração seja reiterada a ponto de gerar efeitos sobre o
comportamento do contribuinte;
59
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
ATALIBA, Geraldo. Fontes do Direito; Fontes do Direito Tributário. O Problema das
Fontes na Ciência do Direito e no Sistema Brasileiro. Hierarquia das Fontes como
Problema Exegético. Interpretação do Direito Tributário. São Paulo: Saraiva.
CASSONE, Vittorio. Fontes do Direito Tributário: Espécies e Efeitos Práticos. Cadernos
de Direito Tributário e Finanças Públicas nº 15. Revista dos Tribunais. p. 154
LAPATZA, José Juan Ferreiro. Direito Tributário Teoria Geral do Tributo. Editora
Manole.
GOMES, Marcus Lívio, ANTONELLI, Leonardo Pietro. Curso de direito tributário
brasileiro; Editora Quartier Latin.
GRAU, Eros Roberto. Conceito de tributo e fontes de direito tributário. São Paulo:
Resenha Tributária, 1975.
______A lei complementar no sistema de fontes do direito tributário. Revista Dialética de
Direito Tributário. São Paulo: Dialética, 2002, n.º 82.
CAPÍTULO VI
VIGÊNCIA, APLICAÇÃO, INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DA
LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA
Publicada a lei, é preciso identificar em que momento ela passará a ter vigência e até
quando vigorará, bem como os limites territoriais em que produzirá seus efeitos. A
identificação desses aspectos depende do exame das normas de aplicação do direito no
tempo e no espaço, de que se cuidam os chamados direito intertemporal e direito
interespacial.
A eficácia está ligada à aplicação da lei. A vigência condiciona a eficácia, isto é, a
produção de efeitos, que se traduz em sua aplicação concreta aos fatos que espelham sua
hipótese de incidência.
60
VIGÊNCIA
É o atributo da lei que lhe confere plena disponibilidade para aplicação. Veja-se
bem que não significa efetiva aplicação. Ocorre muitas vezes que a lei, embora já em
condições de ser aplicada, não o é por falta de ocorrência ou verificação de sua hipótese.
Por exemplo: o princípio da anterioridade impede que a lei seja aplicada num determinado
período de tempo, embora ela esteja apta a gerar todos os seus efeitos.
De acordo com o art. 101 do CTN, a vigência, no espaço e no tempo, da legislação
tributária rege-se pelas disposições legais aplicáveis às normas jurídicas em geral (Lei de
introdução ao Código Civil e Lei Complementar n. 94, de 1995), observadas eventuais
peculiaridas previstas pelo CTN.
Vigência no espaço: a legislação tributária vigora nos limites do território da pessoa
jurídica que edita a norma.
Extraterritorialidade da legislação dos Estados, DF e Municípios: convênio (CTN,
art. 102).
Em regra, leis da União vigoram em todo o território nacional; leis dos estados e
municípios vigoram nos limites de seus respectivos territórios.
Chama-se “vacatio legis” o período em que, embora publicada (vigente), uma lei
propositalmente não produz efeitos, não vincula a sociedade.
Vigência no tempo: a lei entra em vigor na data em que ela própria prescreve, em
não havendo previsão nesse sentido, a lei entrará em vigor, em todo território nacional, 45
dias após sua publicação no diário oficial – prazo único.
A legislação tributária tem duração indeterminada, devendo vigorar até que seja
revogada ou alterada por outra lei.
Revogar significa tornar sem efeito, suprimir do ordenamento jurídico. A revogação
pode ser expressa, quando uma lei expressamente declare que está revogando a anterior, ou
tácita, quando a nova lei é incompatível no todo ou em parte com a lei anterior, isto é, a
nova lei regula toda a matéria de que se cuidava a lei antiga.
Vigência das normas complementares (atos normativos expedidos pelas autoridades
administrativas): entram em vigor na data de publicação (art. 103 CTN). Decisões a que a
lei atribui eficácia normativa entram em vigor 30 dias após serem publicadas no Diário
Oficial. Os convênios entram em vigor na data que especificam.
As normas revogadoras de isenção, concedida por prazo determinado, devem
observar ao princípio da anterioridade (CTN, art. 104).
Aplicação da legislação tributaria: a legislação tributária uma vez vigente tem
aplicação imediata. Aplicar é ato de alguém e por isso pode ocorrer ou não ocorrer.
As leis tributárias aplicam-se a fatos geradores futuros e pendentes, nunca aos
consumados, em razão do princípio da irretroatividade.
Os fatos pendentes são aqueles que se iniciaram mas não foram totalmente
consumados.
O fato regula-se juridicamente pela lei em vigor na data de sua ocorrência.
61
Uma lei somente pode ser aplicada a fatos posteriores à sua publicação, nunca a
fatos anteriores a esta. O fenômeno extraordinário consubstanciado no alcance de uma lei a
fatos passados (antes da publicação da lei) chama-se retroação ou retroatividade.
RETROAÇÃO
Em algumas circunstâncias específicas, admite-se a retroatividade, ou seja, que a
nova lei alcance fatos ocorridos anteriormente à sua publicação. Em se tratando de direito
tributário, a retroatividade é admitida para beneficiar o contribuinte. Os casos em que se
permite a retroatividade estão previstos no art. 106 CTN:
Leis interpretativas são aquelas que apenas esclarecem dúvidas, sem inovar.
INTERPRETAÇÃO
Interpretar significa extrair o significado, buscar o sentido, o alcance de determinada
lei ou norma. Pode significar, também, a busca da solução para um caso concreto.
A interpretação é imprescindível porque as normas jurídicas são genéricas, abstratas
e precisam ser aplicadas ao caso concreto. Além disso, a ordem jurídica forma um sistema,
que deve ser entendido considerando todas aquelas normas que o compõe.
A regra básica de interpretação está prevista no artigo 5º da Lei de Introdução
Código Civil, que estabelece: “Na aplicação da lei o juiz atenderá ao fim social a que ela se
dirige e às exigências do bem comum”.
21
RIBEIRO, Reyvani Jabour. Direito Civil: Primeira Etapa Exame OAB. Belo Horizonte: Pro Labore Cursos
Jurídicos, 2005. pp. 9e 10.
62
INTEGRAÇÃO NORMATIVA
63
ANALOGIA
No direito, analogia é a aplicação de uma norma prevista para um determinado caso
a um caso não disciplinado por norma nenhuma. Para que se empregue a analogia, o caso
não deve estar previsto na legislação; deve existir pelo menos um elo de conexão entre o
caso não previsto e o previsto (semelhança), e a identidade, a conexão entre os dois casos
deve atender à mesma razão jurídica, ratio juris. O artigo 108 do CTN proibi a exigência
de tributo com base em analogia, em decorrência da estrita legalidade que orienta o direito
tributário.
EQÜIDADE
Não sendo possível suprir a lacuna mediante a utilização da analogia, dos princípios
gerais do direito tributário e do direito público, deverá o intérprete lançar mão da equidade,
que é uma apreciação subjetiva (pessoal), cujo critério reside no senso de justiça (juiz age
como legislador). Consiste num processo de criação da norma jurídica para sua integração
no ordenamento jurídico.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
BARREIRINHAS, Robinson Sakiyama. Manual de Direito Tributário. Editora Método.
CANTO, Gilberto de Ulhôa. Legislação Tributária, sua vigência, sua eficácia, sua
aplicação, interpretação e integração. Revista Forense. Rio de Janeiro: Forense, nº 267. p.
35.
FEDERIGHI, Wanderley José. Direito Tributário: Parte Geral. São Paulo: Atlas.
SEGUNDO, Hugo de Brito Machado. Direito tributário e financeiro. São Paulo: Atlas.
CAPÍTULO VII
NORMA E OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIAS
Até este capítulo estudamos o direito tributário do ponto de vista estático, da forma
como ele é previsto nas normas, que são as fontes do direito tributário.
A partir desse momento, vamos estudar o direito tributário do ponto de vista
dinâmico, ou seja, tendo em consideração o dever de pagar determinado tributo.
NORMA JURÍDICA
Se F é, deve ser C.
23
Sobre o tema, ler: “REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 23.ed. São Paulo: Saraiva, 1996.
66
veículo automotor.).
OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA
A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador e tem como objeto o
pagamento do tributo ou de penalidade pecuniária ou multa (sempre obrigações de dar).
Então, a obrigação principal tem por objeto a entrega de determinada soma em dinheiro
pelo particular (cidadão/contribuinte) ao Estado (União, Estados, DF e Municípios), em
razão do fato dele ter praticado um ato que estava previsto na lei como gerador do dever de
pagar tributo.
A obrigação acessória tem por objeto prestações positivas ou negativas, no interesse
da fiscalização e da arrecadação (sempre algo relacionado com uma obrigação de fazer).
O nascimento da obrigação gera um vínculo entre o sujeito passivo (devedor) e o
ativo (credor). O Crédito do sujeito ativo é o Débito do sujeito passivo. Por essas razões,
Hugo de Brito Machado define a obrigação tributária como a
25
MACHADO, Hugo de Brito, Curso de Direito Tributário, 10.ed., São Paulo: Malheiros, 2006, p. 84.
26
MACHADO, Hugo de Brito, Curso de Direito Tributário, 10.ed., São Paulo: Malheiros, 2006.
68
Objetos da obrigação tributária acessória: obrigação de fazer (ex: emitir nota fiscal),
não fazer (ex: não receber mercadoria sem a documentação legalmente exigida), ou tolerar
(admitir a fiscalização de livros e documentos).
As obrigações acessórias são deveres de natureza administrativa. São exemplos de
obrigações acessórias: emitir nota fiscal, escriturar os livros empresariais, inscrever-se no
cadastro de contribuintes (fazer); não receber mercadorias desacompanhadas da
documentação legalmente exigida (não fazer); admitir o exame de livros e documentos pelo
fiscal (tolerar).
11, inciso IV, "c" e "d", da Lei n.º 6.537/73, artigo 175, Livro II, do Decreto
37.699/97 e artigos 1º e 2º da Lei n.º 8.913/89. (...)" 8. In casu, ainda que o
contribuinte fosse isento do recolhimento do ICMS caberia a ele entregar a GIA ao
Fisco Estadual, motivo pelo qual, em assim não procedendo, legítima a aplicação
da multa constante da CDA objeto da execução fiscal objeto dos presentes
embargos.
9. Recurso especial provido.
(REsp 1035798/RS, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em
02/04/2009, DJe 06/05/2009)
O art. 114 do CTN define o fato gerador como a situação definida em lei como
necessária e suficiente para a ocorrência da obrigação principal.
O art. 115 estabelece que fato gerador da obrigação acessória “é qualquer situação
que, na forma da legislação aplicável impõe a prática ou abstenção de ato que não configure
obrigação principal”.
Da comparação entre os dois artigos do CTN (114 e 115) pode-se constatar que o
fato gerador da obrigação acessória pode ser definido pela legislação (entendida como todo
o conjunto das fontes tributárias, composto tanto das leis propriamente ditas como também
das normas complementares: atos baixados pelo Poder Executivo) e não somente pela lei
(entendida enquanto ato baixado pelo Poder Legislativo, que deve estabelecer quais sejam
os fatos geradores das obrigações principais).
70
Esse dispositivo leva à conclusão de que para o direito tributário somente interessa a
ocorrência do fato gerador. Porque, uma vez ocorrido esse fato, nasce o dever de pagar,
independentemente de esse fato ter origem lícita ou não.
27
SANTIAGO, Nestor. Direito Tributário – Primeiras Linhas. Belo Horizonte: Mandamentos. p. 146.
72
Sabe-se, por exemplo, que a validade do ato jurídico, do ponto de vista do direito
civil, depende de sujeito capaz, objeto lícito e forma prescrita ou não defesa (proibida) em
lei. No entanto, um sujeito falido, com sentença proibindo-o de comerciar por 5 anos, pode,
perfeitamente, ao alvedrio das leis civis e comerciais, montar negócio na estrada Belém-
Brasília e comerciar (estabelecimento comercial de fato). Deverá pagar ICMS. Não poderá
alegar a nulidade de seus atos’ de comércio para furtar-se do dever de pagar ICMS. Poderá,
pelos seus atos, sujeitar-se inclusive, à persecução penal, mas não se evadirá (fugirá) da
obrigação de contribuir.
Mostra-se relevante nesse caso o momento em que o provento ou a atividade é
declarada ilícita. Antes da declaração de ilicitude, os valores são tributados normalmente,
após esse momento, nos casos em que a legislação determina, os valores ou os bens serão
confiscados, apreendidos, revertidos em favor do Estado.
Base de cálculo
Base de cálculo (ou base imponível ou base tributável): é uma perspectiva
dimensível do aspecto material da hipótese de incidência que a lei qualifica com a
finalidade de fixar critério para a determinação, em cada obrigação tributária concreta, do
quantum debeatur; é o que se toma por base para calcular o quantum a pagar. Taxa por
serviços municipais para conservação de rodovias, por exemplo, tem como base de cálculo
o peso dos veículos, se tomar como base de cálculo o valor ou idade do veículo desnaturar-
se-á completamente a taxa, configurando imposto sobre o patrimônio28;
Alíquota
Alíquota é um termo do mandamento da norma tributária, mandamento este que
incide se e quando se consuma o fato imponível dando nascimento à obrigação tributária
concreta. Deve receber a designação de só esse termo que se consubstancia na fixação de
um critério indicativo de uma parte, fração – sob a forma de percentual ou outra – da base
imponível. Assim, a lei tributária imputa ao Estado 10% da renda de alguém; 15% do valor
de um produto; 10% do preço de uma operação mercantil, onde renda, valor e preço
representam a base imponível ou base de cálculo29.
Sujeito ativo
Sujeito ativo não é nada mais que o credor da obrigação tributária, aquele que pode
exigir o cumprimento desta. Quem tem competência para instituir o tributo poderá também
fiscalizar e arrecadar esse tributo instituído.
A União, os Estados, o DF e os Municípios poderão instituir, arrecadar e fiscalizar
tributos.
28
ATALIBA, Geraldo. Hipótese de Incidência Tributária. 6.ed. São Paulo: Malheiros, 2000. pp 108 e 109.
29
ATALIBA, Geraldo. Hipótese de Incidência Tributária. 6.ed. São Paulo: Malheiros, 2000. pp 113 e 114.
73
Sujeito passivo
Sujeito passivo é o devedor. Em se tratando de obrigações principais é aquele que
está obrigado ao pagamento do tributo ou penalidade; é quem tem de efetuar o pagamento
do tributo ou da multa. O sujeito passivo da obrigação tributária acessória é a pessoa a
quem a legislação tributária atribui deveres diversos do de pagar.
De acordo com o artigo 121 do CTN, o sujeito passivo pode ser:
direto: chamado de contribuinte; aquele que tem relação pessoal e direta com o
fato gerador. Assim, contribuinte é aquele que praticou o fato gerador e que irá
efetuar o pagamento do tributo;
indireto: chamado de responsável, é aquela pessoa que embora não tenha relação
pessoal e direta com o fato gerador, terá que pagar o tributo, por força de
determinação legal.
Solidariedade
A solidariedade é caracterizada pela ocorrência de mais de um sujeito passivo em
uma mesma relação obrigacional tributária.
74
Todos os devedores são responsáveis pela dívida toda. O fisco não pode receber o
relativo a cada parte isoladamente.
De acordo com o artigo 124 do CTN são solidariamente obrigadas: a) pessoas com
interesse comum na situação que constituiu fato gerador, como, por exemplo, o cônjuge,
nos casos de casamento firmado pelo regime da comunhão universal de bens. b) pessoas
expressamente designadas pela lei
Benefício de ordem (art. 124, parágrafo único CTN): a solidariedade tributária não
comporta benefício de ordem, que é o direito à observância de uma ordem, de uma
seqüência, quanto à execução da obrigação tributária, operando-se primeiramente contra o
devedor principal. Somente no caso de este não efetuar o pagamento é que será exigido do
responsável (no caso, devedor solidário).
Efeitos da solidariedade:
a) o pagamento efetuado por um aproveita aos demais, ou seja, se um dos devedores
solidários efetuar o pagamento ou outros ficarão livres/desonerados perante o direito
tributário;
b) isenção ou remissão (perdão da dívida tributária) desonera a todos, salvo se tiver
sido concedida em caráter pessoal;
c) Interrupção da prescrição prejudica ou favorece todos os devedores.
Capacidade tributária
Capacidade tributária independe da capacidade civil (art. 126 CTN). Qualquer
restrição ou limitação à capacidade jurídica das pessoas (o fato de elas serem absolutamente
incapazes ou relativamente incapazes) é irrelevante no que diz respeito à sujeição tributária
passiva. Isto porque os absolutamente incapazes (menores de 16 anos, loucos de todo
gênero, silvícolas etc.) podem praticar fatos geradores de tributos, assumindo a qualidade
de sujeitos passivos dos mesmos.
Se o sujeito passivo é uma pessoa jurídica, a capacidade tributária desta independe
de ela estar regularmente constituída, bastando que ela configure uma unidade econômica
ou profissional (CTN, art. 126, III).
Qual o objetivo desta regra? A questão relativa à manifestação válida da vontade.
Como em direito tributário não é relevante a manifestação da vontade (o tributo decorre da
lei, da prática do fato gerador), a questão da capacidade perde a importância.
Domicílio tributário
Domicílio tributário é o local onde o sujeito passivo mantém relações com o fisco
(CTN, art. 127).
Regra geral: o sujeito passivo, contribuinte ou responsável, poderá escolher onde
será o seu domicílio tributário. Mas o Código Tributário Nacional, em seu artigo 127,
estabelece algumas regras limitativas a essas escolhas ou até mesmo supletivas, caso o
contribuinte não tenha efetuado a indicação de seu domicílio tributário.
75
Se a pessoa natural não escolheu seu domicílio, este será o lugar da residência
habitual, sendo esta incerta ou desconhecida, será o lugar considerado como centro habitual
de sua atividade.
No caso de pessoa jurídica, o domicílio será o lugar da sede ou o lugar de cada
estabelecimento com relação a atos ou fatos que derem origem à obrigação tributária.
A escolha do contribuinte é livre, mas não pode recair em local fora do território da
entidade tributante.
No caso de pessoa de direito público, será considerado como seu domicílio qualquer
de suas repartições no território da entidade tributante.
Não cabendo nenhuma das regras acima, considera-se como domicílio tributário o
lugar da situação dos bens ou da ocorrência dos atos ou fatos que deram origem à
obrigação.
A administração pode recusar o domicílio eleito pelo contribuinte, se este dificultar
a fiscalização ou arrecadação do tributo. Ocorrendo recusa, o domicílio será o da situação
dos bens ou ocorrência dos atos ou fatos.
CAPÍTULO VIII
RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA
RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA
O termo responsabilidade liga-se à idéia de alguém ter de responder pelo
descumprimento de um dever jurídico, sendo este o seu sentido amplo.
Em sentido restrito, responsabilidade tributária é a submissão, em virtude de
disposição legal expressa, de determinada pessoa que não é contribuinte (não tem relação
pessoal e direta com o fato gerador), mas está vinculada ao fato gerador da obrigação
tributária, ao direito do fisco de exigir a prestação respectiva.
Ou seja, a responsabilidade liga-se aos casos em que a pessoa, física ou jurídica,
embora não tenha relação pessoal e direta com o fato gerador, tenha que efetuar o
recolhimento do tributo.
O responsável tem que ter um vínculo, ainda que indireto, com a situação descrita
como geradora da obrigação tributária.
Responsabilidade de terceiros
Dispõe o art. 134 do CTN:
Pela leitura desse dispositivo pode-se comprovar que haverá a transferência somente
das multas de caráter moratório, ou seja, aquelas que são aplicadas em razão do não
pagamento do tributo no prazo assinalado pela lei. Não há transferência para o responsável
das multas de natureza punitiva.
Interpretando o artigo 134 do CTN constata-se que ele será aplicado apenas aos
seguintes casos:
a) o contribuinte não possa cumprir com a sua obrigação;
b) o terceiro tenha participado, ainda que indiretamente, do ato que configure fato
gerador do tributo, ou se tenha omitido em relação a este.
Quanto aos incisos do artigo supratranscrito, merece comentário o que se refere ao
síndico e ao comissário, uma vez que este último é responsabilizado pelos tributos devidos
pelo concordatário, embora não assuma a administração total da sociedade submetida ao
processo de concordata. O que não ocorre no caso de falência, já que neste caso o síndico
assume integralmente a administração da massa falida.
Com relação ao inciso VII, deve-se mencionar que refere-se às sociedades de
pessoas, que não são as sociedades anônimas e tampouco as de responsabilidade limitada,
estas são sociedades de capital. Então, nesses casos não haveria responsabilização dos
sócios quando da liquidação. Entretanto, as Fazendas não fazem essa distinção, arrolando
os sócios das LTDAs e das S/As como responsáveis, em caso de suas liquidações.
Nos casos das sociedades anônimas e das de responsabilidade limitada os sócios não
estão dentro da regra e podem responder só até o montante de suas cotas e ações. Se o
capital foi integralizado, cessaria a responsabilidade dos sócios, devendo prevalecer o
princípio da irresponsabilidade. Entretanto, na prática, as administrações tributárias não
fazem essa distinção e vêm exigindo os tributos de forma solidária, tanto dos sócios, como
das empresas.
Entretanto, conforme se comprovará a seguir pelo disposto no art. 135, os sócios
serão responsáveis, pessoalmente, pelos débitos tributários relativos à pessoa jurídica
(sociedade) se agirem de forma dolosa, ou seja, com excesso de poderes, infração de lei ou
ao contrato ou ao estatuto social. Porém, não são todos os sócios indistintamente que se
tornarão responsáveis, essa responsabilidade aplica-se aos que participam da administração
da sociedade, tais como os diretores, gerentes etc.
80
DENÚNCIA ESPONTÂNEA
Sobre a denúncia espontânea, reza o artigo 138 do Código Tributário Nacional:
“Art. 138. A responsabilidade é excluída pela denúncia espontânea da
infração, acompanhada, se for o caso, do pagamento do tributo devido e dos
juros de mora, ou do depósito da importância arbitrada pela autoridade
administrativa, quando o montante do tributo dependa de apuração.
Parágrafo único. Não se considera espontânea a denúncia apresentada após o
início de qualquer procedimento administrativo ou medida de fiscalização,
relacionados com a infração.”
Ao contribuinte que, antes de instaurado qualquer procedimento de fiscalização, se
antecipa e recolhe o tributo devido (que não foi pago anteriormente), ainda que de forma
parcelada, acompanhado de juros de mora, não se pode aplicar multas, porque esse
pagamento espontâneo e ulterior exclui a responsabilidade.
Além da responsabilidade tributária, a denúncia espontânea exclui também a penal,
uma vez que somente haverá crime tributário se houver ilícito tributário. Em deixando de
existir este, não existem razões para que aquele persista.
Mas, para excluir a responsabilidade penal o pagamento do tributo tem que ser
efetuado antes que o Promotor de Justiça ofereça denúncia, ou seja, a denúncia espontânea
somente exclui a responsabilidade penal se o contribuinte/responsável efetuar o pagamento
antes que o Promotor de Justiça proponha ação penal contra ele.
Quanto à “denúncia espontânea”, a ementa abaixo esclarece algumas outras
questões a ela relacionadas, segundo o pensamento hoje dominante no STJ:
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
BARREIRINHAS, Robinson Sakiyama. Manual de Direito Tributário. Editora Método.
BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Financeiro e de Direito Tributário. São Paulo:
Saraiva.
BECKER, Alfredo Augusto. Teoria Geral do Direito Tributário. São Paulo: Saraiva.
CANTO, Gilberto de Ulhôa. Legislação Tributária, sua vigência, sua eficácia, sua
aplicação, interpretação e integração. Revista Forense. Rio de Janeiro: Forense, n.º 267. p.
35.
FEDERIGHI, Wanderley José. Direito Tributário: Parte Geral. São Paulo: Atlas.
SEGUNDO, Hugo de Brito Machado. Direito tributário e financeiro. São Paulo: Atlas.
CAPÍTULO IX
CRÉDITO TRIBUTÁRIO
Quando da ocorrência do fato gerador (prática do ato ou da situação prevista na lei) surge
um vínculo entre o Estado e o contribuinte, que é a obrigação tributária (que tem por objeto o
pagamento de uma quantia em dinheiro).
Esse vínculo é representado por um crédito, que nesse momento ainda não é líquido, certo e
determinado, ou seja, ainda não foi quantificado, mensurado.
Para que esse crédito se torne exigível, ele tem de passar por um processo de apuração e
quantificação chamado LANÇAMENTO, que dota a obrigação tributária de exigibilidade,
porque fixa o seu valor exato e determina em que dia o pagamento deve ser feito.
88
Depois de passar pelo lançamento, tem-se o CRÉDITO TRIBUTÁRIO propriamente dito, que
é aquela quantia certa, que pode ser exigida (cobrada)do contribuinte ou do responsável.
LANÇAMENTO
O art. 141 do CTN estabelece que o crédito tributário definitivamente constituído
pelo lançamento só pode ser modificado, excluído, suspenso e extinto nos casos previstos
no Código Tributário Nacional, ou em norma equivalente, ou pela lei que institui o tributo.
Esse dispositivo legal se justifica em virtude do princípio da indisponibilidade dos bens
públicos.
Antes de se adentrar no conceito de lançamento, importante advertir que a expressão
constituição utilizada pelo art. 142 do CTN, a seguir transcrito, deve ser entendida como o
primeiro grau de concreção do crédito, uma vez que este, a rigor, se constitui com a
ocorrência do fato gerador e não com o lançamento30.
O artigo 142 do CTN conceitua “lançamento”:
“Art. 142. Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o
crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o procedimento
administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação
correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do
tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação
da penalidade cabível.
Parágrafo único. A atividade administrativa de lançamento é vinculada e
obrigatória, sob pena de responsabilidade funcional.”
Dessa forma, pode-se constatar que o lançamento é o procedimento que tem por
objetivo:
a) verificar se o fato gerador da obrigação tributária ocorreu ou não (porque se não
ocorreu não tem obrigação e, conseqüentemente, não haverá de ter pagamento);
b) determinar a matéria tributável, ou seja, determinar sobre o que recairá o tributo;
c) calcular o montante do tributo devido, ou seja, calcular a base de cálculo e depois
aplicar a alíquota sobre esse valor;
d) identificar o sujeito passivo, ou seja, identificar o devedor; e,
e) se for o caso, aplicar as multas pertinentes.
Assim, resta claro que o lançamento tem dois momentos: um primeiro, jurídico, diz
respeito à aplicação da lei ao caso concreto; análise do fato previsto na lei e acontecido na
realidade. Um segundo, matemático, diz respeito à operações matemáticas através das quais
se determina o valor total do tributo, incluindo a operação final que é a de multiplicação da
alíquota pela base de cálculo.
30
TORRES, Ricardo Lobo. Curso de Direito Financeiro e Tributário. 14.ed. Rio de Janeiro: Renovar, p. 274
89
31
TORRES, Ricardo Lobo. Curso de Direito Financeiro e Tributário. 14.ed. Rio de Janeiro: Renovar, p. 319.
90
Ocorre que na grande maioria dos casos esse ato privativo da autoridade fazendária
não é emitido.
Importante mencionar que a adoção de qualquer das correntes doutrinárias relativas
à essência do lançamento, quer os que consideram que se trata de ato ou de procedimento,
terminam por admitir que o CTN contem uma impropriedade. Ou porque faz menção a um
procedimento privativo da autoridade administrativa, que em muitos casos não existe. Ou
porque afirma ser um procedimento, enquanto, na realidade, trata-se de um ato.
Diante dessa questão, entendemos que o termo lançamento pode ser compreendido
de duas formas distintas (neste mesmo sentido, Hugo de Brito Machado Segundo,
Comentários ao CTN, p. 266):
como um procedimento amplo de determinação do tributo, que pode ser
composto de atos a serem praticados pelos contribuintes e pela
administração pública. Seriam todos aqueles atos que tivessem como
objetivo quantificar e determinar a obrigação tributária, que nasceu com a
ocorrência do fato gerador;
como ato único, de competência exclusiva da administração pública, que
quantifica o tributo e fixa a data de pagamento. Esse ato só tornaria válido,
podendo o tributo ser exigido do sujeito passivo, depois da notificação do
sujeito passivo (aviso ao devedor que o fisco apurou o tributo nos termos
indicados no ato). Essa notificação só pode ser emitida pelo fisco.
Se nós admitirmos que o lançamento se resuma a esse ato administrativo e final de
apuração do tributo, teremos que aceitar que existem tributos sem lançamento, uma vez que
esse ato não existe em muitos casos, a exemplo do Imposto de Renda, ICMS e IPI, dentre
outros.
Visando solucionar essa problemática, Hugo de Brito Machado Segundo afirma que
tendo em vista a natureza da obrigação tributária, ex lege, o seu acertamento deve ser feito,
necessariamente, por uma autoridade administrativa. Para conciliar essa afirmação com a
circunstância de que, em muitas situações o tributo é pago sem que o acertamento seja de
fato feito por uma autoridade, o CTN criou a figura do lançamento por homologação, no
qual a apuração é feita pelo sujeito passivo e submetida ao crivo da autoridade, a qual, se
não toma qualquer providência no prazo de que dispõe para tanto, termina por aceitar
tacitamente a apuração, com a chamada homologação tácita (Comentários ao CTN, p. 265).
Importante destacar que nem mesmo com a homologação tácita, tem-se um ato da
administração. A homologação tácita é a ausência completa de um ato da administração, ou
seja, a sua inércia, que conduz à presunção de acatamento do valor apurado pelo
contribuinte.
Se adotarmos o entendimento de que o lançamento é um ato administrativo, esse ato
se torna eficaz a partir do momento em que o sujeito passivo é notificado (recebe uma
correspondência avisando que o tributo foi lançado e fixando uma data para pagamento).
A notificação cientifica o sujeito passivo, por escrito, da formalização do crédito
tributário pelo lançamento. Antes de ser notificado, o sujeito passivo não tem o dever de
efetuar o recolhimento.
91
Espécies de lançamento
O principal critério para classificar as espécies de lançamento é a participação do
sujeito passivo no processo de apuração e determinação do tributo.
Lançamento de ofício
É aquele realizado sem qualquer interferência do sujeito passivo, cabendo a
iniciativa à autoridade administrativa, de acordo com a lei. Ex.: IPTU.
32
AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 13.ed. São Paulo: Saraiva, 2007.
94
“Ora, nos parece evidente que o crédito tributário, objeto da obrigação, surge
efetivamente com a ocorrência do fato gerador. Não há obrigação sem
objeto. Não se pode, pois, admitir que o lançamento constituiria a própria
obrigação e o crédito dela decorrente, conclusão a que também chega
Alberto Xavier. Por outro lado, não se pode emprestar efeitos meramente
declaratórios ao lançamento, pois nos tributos para os quais é necessário,
atribui ao crédito exigibilidade, certeza e liquidez.”34
Sendo assim, podemos afirmar que nos casos dos tributos lançados de ofício, a força
constitutiva do lançamento é maior, porque ele atribui ao crédito exigibilidade, certeza e
liquidez.
33
XAVIER, Alberto Pinheiro. Do Lançamento: Teoria Geral do Ato, do Procedimento e do Processo
Tributário. 2.ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997.
34
SPAGNOL, Werther Botelho. Curso de Direito Tributário: Conforme a Emenda Constitucional n. 42/03
DOU 31/12/2003. Belo Horizonte: Del Rey, 2004. p. 215.
95
Enquanto isso, nos tributos lançados por declaração não se observa a força
constitutiva do lançamento, sendo ele meramente declaratório.
É importante ter em consideração que, a princípio, o lançamento apenas declara a
obrigação tributária, ele não a constituí, quem a constituí é a ocorrência do fato gerador. O
lançamento apenas formaliza o crédito tributário.
Ocorre que no caso dos tributos lançados de ofício por declaração não há como
negar a força constitutiva do lançamento, uma vez que o contribuinte só pode ser cobrado
depois que a autoridade administrativa o notifica para pagar. Nesses casos o dever de pagar
não nasce com a mera ocorrência do fato gerador, mas com a notificação do sujeito ativo
para pagamento. Exemplo: IPTU.
Todavia, no caso dos tributos lançados por homologação, o caráter declaratório do
lançamento é evidente, pois ele não institui a obrigação, apenas a declara, reconhecendo
uma situação anterior, formalizando o crédito tributário. A partir de sua formalização, ou
constituição, ele passará a ser exigível do sujeito passivo.
Em razão disso, o sujeito passivo não pode deixar de recolher o tributo no prazo
assinalado, exceto se ele possuir uma decisão judicial determinando a suspensão do
pagamento.
Outro efeito dessa presunção de legitimidade é que o pagamento do tributo tem que
estar sempre garantido. O contribuinte só pode questionar a exigência, se ele der um bem
em garantia ou se depositar o valor do tributo, em juízo.
Conforme verificado, o lançamento é um expediente de aplicação da lei ao caso
concreto.
O lançamento, enquanto procedimento administrativo, regularmente notificado ao
sujeito passivo só poderá ser alterado nos seguintes casos:
a) impugnação do sujeito passivo – defesa do contribuinte;
b) recurso de ofício – recurso do próprio órgão que efetuou o lançamento;
c) iniciativa da autoridade administrativa nos casos autorizados pelo CTN (art. 149).
Se o fisco mudar o critério de interpretação da lei (não é mudança da lei, mas da
forma de interpretar a lei), essa mudança não pode valer de imediato, atingindo os fatos
geradores acontecidos depois da mudança da interpretação (Art. 146 CTN).
35
MORAES, Bernardo Ribeiro de. Compêndio de Direito Tributário. Rio de Janeiro: Forense, 1987.
97
36
FREITAS, Vladimir Passos (coord.). Código Tributário Nacional Comentado. 4.ed. São Paulo: RT, 2007.
37
SANTIAGO, Nestor Araruna, p.291.
98
Parcelamento
Trata-se de uma nova forma de pagamento do crédito tributário, prevista em lei. Em
verdade, o parcelamento é uma hipótese de moratória. De acordo com o disposto no art.
155-A do CTN, “salvo disposição de lei em contrário, o parcelamento do crédito tributário
não exclui a incidência de juros e multas”. Isto significa que os juros de mora devidos até a
data do parcelamento devem ser neste incluídos, pois não é razoável entender-se que uma
vez deferido o parcelamento e fixado o vencimento das respectivas parcelas, a estas devam
ainda ser somados juros de mora.
38
Vale lembrar que é inconstitucional a exigência de prévio depósito de dinheiro ou arrolamento de bens
como condição de aceitação de recurso administrativo, conforme já assentou o STF e vem sendo respeitado
pelas fazendas públicas: “A exigência de depósito ou arrolamento prévio de bens e direitos como condição de
admissibilidade de recurso administrativo constitui obstáculo sério (e intransponível, para consideráveis
parcelas da população) ao exercício do direito de petição (CF, art. 5º, XXXIV), além de caracterizar ofensa ao
princípio do contraditório (CF, art. 5º, LV). A exigência de depósito ou arrolamento prévio de bens e direitos
pode converter-se, na prática, em determinadas situações, em supressão do direito de recorrer, constituindo-
se, assim, em nítida violação ao princípio da proporcionalidade. Ação direta julgada procedente para declarar
a inconstitucionalidade do art. 32 da MP 1699-41 - posteriormente convertida na lei 10.522/2002 -, que deu
nova redação ao art. 33, § 2º, do Decreto 70.235/72.” (ADI n. 1.976 – Distrito Federal, Rel. Min. Joaquim
Barbosa, Órgão Julgador: Tribunal Pleno, Julgado em 28/03/2007, Publicado em 18/05/2007).
39
THEODORO JR., Humberto. Curso de Direito processual Civil. 36.ed. V.2. Rio de Janeiro: Forense, 2004.
p. 538.
99
De acordo com o art. 156 do CTN, são onze os casos de extinção do crédito
tributário. É conferir:
Pagamento
É a forma mais comum de extinção não só do crédito tributário, como de qualquer
obrigação. Pelo pagamento, o sujeito passivo entrega ao sujeito ativo a quantia
correspondente ao objeto do crédito tributário.
Do CTN extraem-se várias regras concernentes ao pagamento:
Primeira regra: não há substituição do tributo pela multa. Ou seja, o fato de o
contribuinte ter pagado o tributo não conduz à conclusão que ele tenha pagado também a
multa.
100
Pagamento indevido
O artigo 165 do Código Tributário Nacional determina que o sujeito passivo tem
direito à restituição do tributo que houver pago indevidamente.
Um contribuinte, mesmo sabendo que o tributo é indevido, se o paga, tem direito à
restituição. O que importa é a demonstração de que o tributo é realmente indevido.
O artigo 165 menciona três hipóteses de pagamento indevido, que conferem direito
à restituição dos valores pagos:
101
Portanto, quanto à repetição do indébito tributário, a tese dos cinco mais cinco
continua válida para os pagamentos efetuados indevidamente até a entrada em vigor da LC
118/2008, 09 de junho de 2005, com o delineamento acima demonstrado, e, para os
recolhimentos efetuados após 09 de junho de 2005, aplica-se o prazo qüinqüenal.
104
Compensação
A compensação é o mecanismo pelo qual aquele que é credor e ao mesmo tempo
devedor da fazenda pública abate do montante a pagar o montante a receber, de modo que
paga apenas a diferença entre o que tem a pagar e o que tem a receber. A compensação
deve ser autorizada por lei (CTN, art. 170), a exemplo da Lei n. 9.430/96, a qual deve
disciplinar as hipóteses, os limites e as condições a que a compensação deverá observar. O
direito à compensação, portanto, é direito tipicamente subjetivo.
A compensação pode ser genérica: o contribuinte pode efetuar a compensação, sem
requerimento, desde que preencha os requisitos, ou específica: condiciona a compensação à
autorização da administração pública.
É importante observar que a compensação é uma forma de concretização da
restituição. Isto porque o credor da compensação é ao mesmo tempo devedor de um tributo
válido e exigível.
A realização da compensação não depende da vontade do administrador público,
não se trata de um poder discricionário. Se o sujeito passivo cumprir com os requisitos
estabelecidos na lei disciplinadora da compensação, esta não pode ser negada.
Os sujeitos passivos não são titulares de créditos tributários, somente o Poder
Público é detentor de um crédito tributário, que tem garantias, privilégios e preferências.
O pagamento antecipado pode ser feito através de compensação, que também fica
sujeita à homologação prevista no art. 150, §§ 1º e 4º CTN. Nesse caso, os créditos ainda
não são líquidos e certos, mas são passíveis de serem compensados por conta e risco do
sujeito passivo. Ocorre que essa compensação fica sujeita à fiscalização posterior. Caso
haja alguma divergência o sujeito passivo pode ser fiscalizado e o Fisco pode exigir as
diferenças devidas porventura encontradas.
A Emenda Constitucional n. 30/2.000, que alterou o art. 78 do ADCT, contempla a
possibilidade de compensação de créditos tributários por meio de precatórios. Existe um
questionamento acerca do fato de que não é necessária a edição de lei regulamentando o
direito de compensação através de precatórios porque a própria Constituição confere essa
possibilidade.
A compensação extingue simultaneamente duas obrigações, a de restituir (por parte
da fazenda pública) a de pagar (por parte do contribuinte).
Transação
Transação equivale a acordo; deve ser prevista em lei que determine suas condições.
Na transação, os sujeitos ativo e passivo fazem concessões mútuas para por fim à
exigência tributária (CTN, art. 171).
105
Não evita o litígio, só opera depois que ele tiver instaurado. O que o difere da
transação penal que evita o litígio.
Remissão
Remissão em direito significa perdão, liberação de uma dívida. No direito tributário
é o perdão da obrigação tributária (CTN, art. 172).
A lei pode autorizar a autoridade administrativa a conceder, por despacho
fundamentado, remissão total ou parcial do crédito tributário, diante de:
I - situação econômica do sujeito passivo;
II - erro ou ignorância escusáveis do sujeito passivo, quanto a matéria de fato;
diminuta importância do crédito tributário;
III - considerações de equidade, em relação com as características pessoais ou
materiais do caso;
IV - condições peculiares a determinada região ou território da entidade tributante.
Pergunta-se: os requisitos para concessão da remissão são concretizações de algum
princípio constitucional tributário? Sim, o da capacidade contributiva.
A remissão pode ser concedida apenas pelo ente tributante (por meio de lei
específica – CF, art. 150, § 6º) competente para instituir o tributo a ser remido.
A remissão pressupõe o lançamento.
A Lei de Responsabilidade Fiscal estabelece restrições à concessão de remissão. É
necessário provar que a concessão da remissão não causa impacto negativo nas contas
públicas (déficit).
Decadência ou prescrição
Atenção
definitivo quando efetivado, quando não mais possa ser objeto de recurso
por parte do sujeito passivo ou de revisão por parte da administração”.40
40
COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 9. ed. Rio de Janeiro, 2006. p.
723.
41
V. a segunda nota anterior.
110
A decisão abaixo se mostra muito útil ao desenvolvimento de nossos estudos porque aborda
vários pontos relativos à matéria permitindo uma compreensão global do fenômeno
tributário.
STJ unifica entendimento sobre notificação de IPTU, ônus das provas e prescrição do
tributo
O recurso especial foi proposto pela CR Almeida S/A Engenharia e Construções contra o
município de Paranaguá, após a decisão do Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR) que
confirmou, em exame dos embargos à execução fiscal, a decisão que negou provimento a
agravo interno, considerando suficiente o envio do carnê para que ficasse caracterizada a
notificação do lançamento do IPTU.
Afirmou também ofensa ao artigo 174, I, do CTN, em redação ainda não atualizada pela LC
n. 118/05, que exige a citação pessoal do devedor, o que não teria ocorrido em razão da
negligência do fisco municipal em promover as diligências tendentes a aperfeiçoar o ato de
citação, estando configurada a prescrição intercorrente.
Consignação em pagamento
Consignação em pagamento “é a ação que protege o direito de pagar o tributo”.
Assim, tem por objetivo cumprir o dever de pagar, que está sendo impedido pelo sujeito
ativo. Pode ser proposta no caso de recusa de recebimento ou quando se faz exigências
descabidas. Neste caso, o sujeito passivo tem que fazer o depósito das quantias relativas ao
tributo no valor que o fisco acha devido.
Se, ao final, o contribuinte sai perdedor, a importância depositada é convertida em
renda. Se o contribuinte ganha, tem o direito de proceder ao levantamento do valor
depositado.
Decisão administrativa
Decisão administrativa é aquela proferida por julgador servidor público da
administração tributária e não aquela proferida por um juiz do Poder Judiciário. Exemplos
de juízos administrativos: Conselho de Contribuintes, Junta de Recursos Fiscais etc.
A decisão favorável ao contribuinte proferida na última instância administrativa é
irreformável, isto é, contra ela não cabe nenhum recurso. Somente esta decisão irreformável
é que tem o condão de extinguir o crédito tributário. Por essa razão, a Fazenda Pública não
pode ingressar com ação anulatória, junto ao Poder Judiciário, quando o contribuinte
possuir decisão administrativa que lhe é favorável.
Diante de todo o exposto, pergunta-se: por que a Fazenda não deve propor ação
anulatória contra decisão administrativa favorável ao contribuinte? Porque não tem sentido
que o Estado ingresse em juízo para anular sua própria decisão.
Ao revés, se a decisão for desfavorável ao contribuinte, ele pode propor ação
anulatória.
Isenção
Quanto à hipótese de exclusão do crédito tributário por isenção, é possível dois
entendimentos. Primeiro: a isenção é a dispensa legal do pagamento do tributo devido;
segundo: a isenção é fator impeditivo do nascimento da obrigação tributária, ao subtrair
fato, ato, ou pessoa da hipótese de incidência da norma impositiva.
Pergunta-se: a considerar a primeira interpretação, qual a diferença entre a remissão
e a isenção?
As leis que concedem isenções atuam sobre a hipótese de incidência das normas de
tributação, restringindo o seu alcance.
Isenção prevista em contrato-isenção concedida em caráter extrafiscal.
Isenção pode ser concedida por prazo certo e através de condições, que, não
cumpridas, acarretam a possibilidade de revogação do benefício. Concedida por prazo
certo, a isenção não pode ser revogada antes da expiração desse prazo (direito adquirido).
As reduções de base de cálculo e de alíquota não são isenções, nem mesmo parciais.
São reduções do quanto devido, porque pressupõem a ocorrência do fato gerador da
obrigação. Atuam na consequência da norma de tributação.
Anistia
É a dispensa do pagamento de multas que punem o descumprimento da obrigação
tributária. A remissão perdoa o tributo, a anistia a penalidade.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributário Brasileiro. Rio de Janeiro: Forense.
BARREIRINHAS, Robinson Sakiyama. Manual de Direito Tributário. Editora Método.
BORGES, Souto Maior. Lançamento tributário. Rio de Janeiro: Forense.
FEDERIGHI, Wanderley José. Direito Tributário: Parte Geral. São Paulo: Atlas.
SANTI, Eurico Marcos Diniz de. Lançamento Tributário. Editora Max Limonad.
115
CAPÍTULO X
GARANTIAS, PRIVILÉGIOS E PREFERÊNCIAS DO CRÉDITO
TRIBUTÁRIO
“Art. 186. O crédito tributário prefere a qualquer outro, seja qual for a sua
natureza ou o tempo de sua constituição, ressalvados os créditos decorrentes
da legislação do trabalho ou do acidente de trabalho.”
116
Restituição
Quanto à restituição, prescreve o art. 85 da Lei n. 11.101/05:
CAPÍTULO XI
ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA
Estão sujeitas à fiscalização tanto as pessoas físicas, quanto as jurídicas, sejam elas
imunes ou isentas; contribuintes ou não contribuintes.
O fisco tem direito “ilimitado” ao exame de mercadorias, livros, arquivos,
documentos e papéis (CTN, art. 195).
A lei prescreve quais são os livros fiscais e comerciais que devem ser escriturados e
mantidos pelos comerciantes, industriais ou produtores.
Os livros devem ser mantidos enquanto não tenha fluído o prazo de prescrição.
Quando do início da ação fiscal deverá ser lavrado um termo de início de
procedimento fiscal, que fixará um prazo máximo para conclusão dos trabalhos de
fiscalização (CTN, art. 196). Depois da lavratura desse termo, impossível a “denúncia
espontânea” prevista no art. 138 do CTN.
A Fazenda interessada pode requisitar informações relativas aos bens, negócios ou
atividades de terceiros, sejam contribuintes ou não, a (CTN, art. 197):
a) tabeliães, escrivães e demais serventuários de ofício;
b) bancos, casas bancárias, caixas econômicas e demais instituições financeiras;
c) empresas de administração de bens;
d) os corretores, leiloeiros e despachantes oficiais;
e) inventariantes;
f) os síndicos, comissários e liquidatários;
g) quaisquer entidades ou pessoas que a lei designe, em razão do seu cargo, ofício,
função, ministério, atividade ou profissão.
121
Dívida ativa
Esgotado o prazo para pagamento do tributo devido, a dívida será inscrita em um
livro próprio passando a fazer parte da dívida ativa da União, do Estado ou do Município
tributante (CTN, art. 201).
Requisitos do termo de inscrição em dívida ativa (CTN, art. 202):
a) o nome do devedor e dos co-responsáveis, com o domicílio e residência;
b) quantia devida e a maneira de calcular os juros de mora acrescidos;
c) a origem e a natureza do crédito, mencionada especificamente a disposição da lei
em que seja fundado;
d) a data em que foi inscrita;
e) sendo o caso, o número do processo administrativo de que se originar o crédito;
f) indicação do livro e da folha de inscrição.
A omissão de quaisquer dos requisitos previstos são causas de nulidade da inscrição
e do processo de cobrança dela decorrente (CTN, art. 203). Mas a nulidade pode ser sanada
até a decisão de primeira instância com a substituição do título. Nesse caso, reabre o prazo
de defesa, mas apenas com relação à parte modificada.
Não basta a troca da certidão, deve-se retificar o livro de inscrição, porque o vício é
da inscrição (está na origem) e não da certidão.
A dívida regularmente inscrita goza da presunção de certeza e liquidez e tem o
efeito de prova pré-constituída (CTN, art. 204). Mas a presunção é relativa, admitindo
prova em contrário.
A fluência de juros não afeta a liquidez.
122
LEITURA COMPLEMENTAR N. 1
A propósito da distinção entre preço público (ou tarifa) e taxa, pertinente a leitura do
acórdão do Recurso Especial n. 167.489/SP (Recorrente: Brigestone Firestone do Brasil
Indústria e Comércio Ltda., Recorrido: Serviço Municipal de Água e Saneamento de Santo
André, Rel. Ministro José Delgado, Primeira Turma, julgado em 02.06.1998, DJ
24.08.1998, p. 24.) cujo inteiro teor está nas páginas que se seguem.
124
ANEXO
Tributos em espécie