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PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 1999, p. 21.
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Art. 22, lei n. 9.394/96. In: PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 1999, p. 21.
A entrada para um curso superior estaria aí prevista; portanto, o jovem deveria
estar preparado para participar da seleção para ingresso nas faculdades e
universidades e também para a sua permanência após tal ingresso. No entanto, em se
tratando das práticas da língua materna, o próprio MEC, ao oficializar como obrigatório
o curso de disciplinas relacionadas a tal ensino para todos os cursos, admite que,
nesse quesito, a escola básica é insatisfatória. E as pesquisas comprovam também que
esse fato tem sua origem na escola. “Os brasileiros não lêem porque não sabem ler”,
diz Ilona Becskeházy, diretora de uma fundação educacional.3
O ensino da Língua materna se torna componente basilar da formação do
cidadão, nas várias dimensões requeridas pela sociedade. Além disso, fica claro que,
para a LDBEN, a leitura das expressões humanas nas várias formas de codificação de
mensagens por meio das linguagens verbais, icônicas, corporais, sonoras e formais
constitui instrumento de organização dos saberes e, por isso, importante no âmbito
escolar.
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Época, 3 abr. 2006, p. 46.
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ZACCUR. In: HENRIQUES; PEREIRA, 2002, p. 93.
trechos criados pelos autores das gramáticas, ou textos tomados de empréstimo de
grandes escritores, muitas vezes, completamente desconhecidos dos alunos e de difícil
compreensão.
Diante dessa situação, nossa hipótese é a de que, todo o contexto que,
aparentemente, pode parecer uma armadilha para o professor de Letras, deve-se
reverter a seu favor. A disciplina de Leitura e produção de texto pode ser utilizada pelos
professores como espaço oportuno para interrelacionar outras disciplinas, propiciar
debates, discutir posturas dos futuros profissionais e possibilitar vivências reflexivas
sobre os conteúdos disciplinares, ética e valores humanos, vindo a ser um excelente
espaço de diálogo inter e transdisciplinar, com chances de melhoria da qualidade de
produção textual desses alunos do ponto de vista formal, informativo e conceitual, com
probabilidade de amenizar e até de solucionar deficiências trazidas da escola básica.
Com essa visão, este artigo pretende evidenciar que o profissional de Letras
pode articular diálogos interdisciplinares e transdisciplinares, transformando suas aulas
em ricas inter-relações para a produção e a aquisição de conhecimento, ao mesmo
tempo em que pode melhorar a eficiência da produção textual dos acadêmicos,
principalmente em se tratando da preparação para o enfrentamento da monografia.
O que fazer, então? O professor não pode mais se restringir a textos de sua
especialidade nesse tipo de demanda. Se antes esse senhor do conhecimento e dono
das formas de disponibilizar o saber e a informação podia controlar o que ensinar e
quando ensinar, hoje ele se debate diante da mera possibilidade de articular, em sala
de aula, o que os aprendizes já trazem a partir de diversas fontes. Torna-se, portanto,
um gestor da informação, um administrador dos aspectos que se deve ou não priorizar
nas demandas de sala de aula, sem perder de vista que, diante de si encontram-se
pessoas cuja inserção na sociedade e na academia se dá muito antes de estarem
preparadas para tal e que, portanto, elas trazem suas contribuições advindas de
diversas interações com o mundo e com o curso de suas escolhas. Em primeiro lugar o
contexto do aluno se transforma naquele em que ele próprio se reconhece, portanto, os
textos com os quais ele lida auxiliarão na empatia pelas aulas. Sem querer dar receitas,
apontaremos algumas práticas vivenciadas por nós, com resultados consideráveis.
Uma dinâmica interessante seria a indicação de textos para leitura a partir dos
conteúdos dos alunos, com o auxílio dos professores de disciplinas específicas.
Embora distantes do universo de conhecimento do professor de Letras, esses tipos de
pré-textos, aparentemente novas armadilhas devido ao pouco domínio dos professores
de Letras sobre eles, poderiam ser exatamente a motivação para debate, indagação,
interesse pela leitura e dinâmicas de interpretação. Se o professor desconhece com
profundidade o texto da área específica dos alunos, a melhor saída é se comportar
como quem sabe menos e indagar, provocar a leitura, incitar as dúvidas e a proposição
de abstração de sentidos naqueles textos. Após um debate em que o texto seria
dissecado pela turma, o professor poderia propor uma diversidade de produções pós-
textuais entre elas a resenha, o resumo, a sinopse e o relatório, extremamente
necessários à vida acadêmica. No processo de organização desses pós-textos,
organiza-se também o conhecimento e o reconhecimento do pré-texto.
A partir dessa tática, o ensino das técnicas de elaboração textuais do ponto de
vista conceitual se tornaria extremamente necessário e útil aos alunos, para que
pudessem cumprir a tarefa indicada pelo professor. E mesmo que tais técnicas não
sejam explicadas diretamente pelo professor, o próprio aluno se sentirá na obrigação de
fazer a pesquisa, pois deverá entregar o trabalho recomendado, porque fará algum
sentido para ele, nem que seja o de conseguir nota para a aprovação. Desse modo,
dois problemas arrolados para a dificuldade de produção textual estariam sendo
tratados: o aspecto informativo e o conceitual.
Assim, desconhecimentos de noções elementares da organização de textos
argumentativos, tais como a seleção do assunto, a delimitação do tema, o levantamento
do problema, a enunciação da hipótese e dos objetivos para aquela produção,
deficiências demonstradas pelos alunos em geral, podem ser tratados com
tranqüilidade, a partir de uma aula dinâmica em que assuntos diversos de interesse
deles forem trabalhados.
Não se escreve bem sobre o que se desconhece e, quando o fazemos, temos
dificuldade em implementar dinâmica e fluência ao conteúdo exposto. As falhas do
ponto de vista conceitual e formal costumam ser mais incidentes nesse caso. Porém,
durante um debate ou um seminário, percebemos que aqueles alunos que escrevem
pouco e mal, falam muito e bem. No entanto, o professor não tem como arquivar para
efeitos acadêmicos apenas a fala dos alunos, logo não teria como legitimar somente a
avaliação oral Portanto, há que se fazer aqui uma consideração a respeito da
permanência da oralidade no espaço escolar e de sua importância como
intermediadora da produção textual escrita.
Os processos de ensino-aprendizagem devem levar em conta
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SIMÕES. In: HENRIQUES; PEREIRA, 2002, p. 145.
Hoje em dia, a palavra viva ressoa sobre o fundo de um imenso corpus de
textos escritos, trabalhando, inclusive, de modo que apareça e permaneça sob a forma
de oralidade. Embora boa parte da cultura em geral se tenha mantido na forma de texto
escrito, sua sustentação maior é o próprio modo de viver e de se organizar
coletivamente em torno das manifestações comunitárias, em que os participantes
encenam e também assistem a essa encenação como partícipes dela, utilizando a
forma oral como modelo prioritário de comunicação. Por isso, conforme Pierre Lévy, há
uma oralidade secundária que permanece complementar ao evento da escrita e está
relacionada a um estatuto da palavra. Ele considera que “muitos milênios de escrita
acabarão por desvalorizar o saber transmitido oralmente, pelo menos aos olhos
letrados. Spinoza irá colocá-lo no último lugar dos gêneros de conhecimento”.6 No
entanto, por ora, essa desvalorização não elimina sua permanência ou mesmo sua
hegemonia, considerando-se a evidente supremacia da oralidade nos meios televisivos
de massa, na música popular e nos espaços acadêmicos.
Torna-se, portanto, impossível negar que as demandas da sala de aula
funcionam prioritariamente com utilização da expressão oral, de interlocução cotidiana,
modelo que perdura em todos os espaços de manifestação, mesmo os da cultura
erudita. É de modo oral que se apresentam seminários e congressos, mesas-redondas
e sessões de comunicações, cujos textos circularão de forma escrita posteriormente,
nas publicações em livros e em meio virtual, espaço de memória duradoura.
Portanto, a intermediação pela oralidade pode-se transformar numa forma de
incitação à produção do texto na graduação e também na relação intertextual,
interdisciplinar, transdisciplinar e intersemiótica, nesse último caso, pela própria
transcrição da oralidade para a escrita, do som para o sinal gráfico.
Como lidar com o aspecto formal do texto, parte mais delicada do ensino de
leitura e produção de textos? A própria produção dos graduandos pode servir, nesse
caso, como intermediadora do ensino da revisão gramatical. O professor, após a
correção dos textos da turma, pode recortar partes deles ou reproduzi-los
integralmente, após descaracterizar a autoria, e devolvê-los para a turma com o intuito
de fazerem juntos a leitura e a revisão das falhas. A experiência nos mostra que somos
melhores para ver os problemas dos textos dos outros do que dos nossos, devido à
criticidade inerente ao ser humano. Após apontar os deslizes formais do texto, o
professor pode eleger um tópico gramatical que será trabalhado e normalmente bem
aceito pelos estudantes, tendo em vista a sua utilidade comprovada naquele momento
pela experiência da revisão.
Outro momento importante para o incentivo ao interesse em observar e estudar
as normas gramaticais se apresenta no momento de retextualização. Os alunos, após a
revisão do professor, são convidados a reelaborarem seus textos de acordo com a
6
LÉVY, 1993, p. 73.
norma culta. A oferta de recuperação, por meio dessa revisão pelo aluno, de alguns
pontos perdidos no texto devido às falhas é suficiente para que a sala de aula fique
cheia. Eis um novo momento para o professor trabalhar individualmente as dificuldades,
principalmente dos graduandos. Nesse caso, a recomendação do uso de uma boa
Gramática para consulta, mesmo que o professor auxilie na busca da solução, melhora
a relação do aluno com esse aspecto do ensino da Língua e o incita a se tornar um
revisor autônomo de seu próprio texto. Muitas vezes, a produção textual feita em casa
traz problemas de regência, de concordância e de ortografia, por exemplo, os quais
bastaria abrir a gramática para que fossem evitados.
Consideramos ainda que o professor de Letras não precisa de e nem deve abrir
mão dos textos específicos de sua área, principalmente em se tratando da ficção. A
escola, como promotora da leitura, ainda está distante de alcançar seu principal
objetivo, o que vem prejudicando todo o processo de ensino-aprendizagem do
educando, uma vez que a leitura, principalmente a da literatura de ficção, oferece uma
visão de conjunto e facilita os acessos aos conteúdos de todas as disciplinas. Além
disso, a leitura mobiliza a atenção e a inteligência do indivíduo para outros
conhecimentos e é tão criadora quanto à escrita. Ler obras literárias facilita o
intercâmbio do ser humano com a sabedoria, pois ninguém a ensina nem a transmite,
por ser ela uma maneira de ver o mundo e as coisas e só poder ser adquirida por meio
do esforço pessoal.
Mas, quais obras literárias utilizar para seduzir os universitários, se está
declarada a pouca disponibilidade da maioria para ler literatura de ficção? A primeira
opção é o professor oferecer a possibilidade de escolha das obras pelo graduando. No
entanto, isso, às vezes se torna inviável, em turmas muito cheias. Se sair de seu
ostracismo de apreciar e indicar somente o cânone literário, as opções para o professor
aumentam, mas mesmo na literatura canônica encontram-se muitas obras que o
auxiliariam bastante, dado o caráter de objeto complexo que reveste o texto literário. À
guisa de sugestão, vejamos algumas possibilidades já experimentadas por nós com
resultados louváveis, principalmente no quesito da aceitação da proposta de leitura.
No ensino de Leitura e produção de textos para graduandos de matemárica e
física, experimentamos indicar romances e narrativas metamatemáticos, dentre os
quais podemos citar Tio Petros e a Conjectura de Goldbach, de Apostolos Doxiadis O
último Teorema de Fermat, de Paul Singh, Alice no País dos enigmas, de Raymond
Smullyan, Avalohara, de Osman Lins, Em defesa de um matemático, de Hardy e várias
obras de Malba Tahan. Oferecemos a possibilidade de escolhas dentre um conjunto
pré-selecionado e lido pelo professor. O envolvimento dos graduandos, a produção
textual e o interesse pelas aulas surpreenderam a própria Faculdade e os professores
de disciplinas específicas se envolveram com o trabalho, utilizando os conteúdos dos
textos para reflexão em suas aulas. Exploramos ainda alguns filmes, dentre eles, Uma
mente brilhante, π, Gênio Indomável, todos eles tendo como temática a matemática e
os matemáticos.7
Para os cursos de Engenharia de telecomunicação, Ciência da computação,
Ciência da Informação e Gestão de software livre, foram sugeridos O que será, de
Michael Dertouzos A vida digital, de Nicholas Negroponte, várias obras de Carl Sagan,
As cidades invisíveis, de ítalo Calvino e vários livros de ficção científica de Isaac
Asimov e também de J. J. Benítez, em particular, a coleção Operação Cavalo de Tróia.
Também foram utilizados filmes como O homem bicentenário, AI – Inteligência artificial,
Matrix e Matrix reloaded. Textos reflexivos sobre a importância da ciência e do uso da
tecnologia no mundo contemporâneo foram algumas das produções relevantes nesse
caso. Além disso, um debate sobre ciência, tecnologia e consciência envolveu
professores de disciplinas específicas, com lucro para todos.
A experiência mais surpreendente, no entanto foi com os alunos do curso de
Medicina. Embora percebamos que o nível elevado de produção textual desses alunos,
talvez devido ao alto número de candidatos ao curso e à dificuldade de se conseguir
uma vaga no processo seletivo, e em conseqüência disso, uma rejeição maior às aulas
de produção de textos, a adesão à literatura de ficção foi massiva. Eu, de Augusto dos
Anjos, Acidente em Antares, de Érico Veríssimo, Beira Mar, de Pedro Nava, A morte de
Ivan Iliich, de Leon Tolstoi, Operação Cavalo de Tróia I, de Benítez, De cócoras, de
Silviano Santiago, O santo inquérito, de Dias Gomes, só para ficar naqueles que mais
renderam lucros, fizeram o gosto do recém-universitários que refletiram em textos
bastante ricos sobre a morte, a dor, a angústia e o sofrimento humano. 8
Nesses casos, as intertextualidades se configuram como processos ativos de
interrelacionamentos entre as obras literárias, os textos das áreas de conhecimento e o
pensamento de seus leitores que comparam a ficção com a realidade vista nos
conteúdos específicos de seus cursos. Expressos em tipologias textuais diferentes, a
percepção de mundo permanece como elemento interdisciplinar que facilita a reflexão
humana e melhora as condições de trabalho do profissional de Letras nas lides com a
disciplina em questão. E controla a cópia deliberada e o texto encomendado, uma vez
que os textos serão resultados de diálogos e experimentações raramente repetidas, nas
dinâmicas de sala de aula.
Mesmo se tudo isso não der certo, o que fazer com as cópias da internet? Como
preparar os alunos de modo ético para saberem usar as informações aí produzidas?
Em primeiro lugar, deve-se incentivá-los a usar a rede virtual como fonte de pesquisa
alternativa, porém não a única. A partir desse exercício, ensinar a produção de pós-
7
Desse trabalho surgiu o interesse da autora deste texto em explorar a metamatemática como intermediação para a
melhoria da empatia para com o estudo da matemática nas séries iniciais da escola básica, com vários artigos
publicados sobre o assunto.
8
Nessa oportunidade, para incentivar os alunos e mostrar que a proposta era viável a autora desse artigo escreveu um
artigo denominado “A memória do saber, da dor, da vida e da morte em romances e narrativas metamatemáticas.
textos, como a paráfrase, por exemplo. Mostrar a metodologia para o uso da citação, da
referência e da alusão, que facilita muito a produção acadêmica, evita as cópias
deliberadas e promove o uso dos recursos da intertextualidade.
O professor pode ainda, como forma ostensiva de indicar que as cópias podem
ser detectadas, mostrar como se buscam informações na rede, mesmo sabendo que os
alunos já fazem isso. O laboratório de informática se transforma num espaço de diálogo
e, ao mesmo tempo, de alerta contra a apropriação indevida de produção intelectual
alheia.
Pelo fato de a Língua materna ser um espaço inter e transdisciplinar por
excelência, o professor de Letras pode passar da condição de rejeição para a de centro
do interesse do aluno de graduação, pois pode ajudá-lo na articulação de trabalhos
para entregar aos outros professores. Devemos considerar que, quando percebem que
adquiriram o domínio de estratégias de produção textual e de revisão, os alunos
sempre ficam mais satisfeitos com as aulas, com o professor e com a disciplina. E
ambos os lados lucram porque, nessas demandas, o maior crescimento é o do
profissional de Letras que acumulará informações e conteúdos vindos de áreas
diversas, transformando-se ele mesmo num sujeito com habilidades e competências
para o desempenho da sua profissão.
Referências Bibliográficas
BRITO, Frederico Reis Marques de; OLIVEIRA, Leni Nobre de;. O papel da literatura
no ensino da Matemática. 15º Congresso de Leitura do Brasil/ II Seminário sobre
Educação matemática 2005.