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teagan aan onan te sean qlee pa al Noemi Favassa ‘at Sete iy eee Heal as bed SPOS ich al ea eta id locate mae by Tesareed ial oe wstoes Hs 3 ipvagba seca OSG fess a Devaneios do Repouso imager reletda, wna iasiger vig ia, unis imagem liey 6 encontrs thet libertad apgs ter franquesdo, ine eosuek De Faw) a5 carats yeas semua Rego esenta Go ‘neaieafeteite veladas: Escrever-€ ‘gulls EO, Cento. apenas pela Fee ce uni goin, sels tor Ageia Fic BONG, Flares papiady Peanditeado — se the Ue qe Pub, devi then eebecido dx pemnalisus No Uae divine 2S fies, se qui- Seaeming Face um asec sobce a aie Fleas Vero nde seria sifclaie BE Selapreciso nercor . Fog itherne campo ds mivlogi do. | perwatienio riitive c do. pede MENTE MHFAieo irotcme= poctani ose Dyetigacto x alguns exe Tilston que 4 reierem nie panics mercea rir. Mae Dos de obusredd e Gest acd ‘tomo ta cai i ae Ensaio sobre as imagens da intimidade Traducio sF y y PAULONEVES Martins Fontes Séo Paulo. 2003, orp A eR es vs EPC, “ny drae Cw ‘pri a sr os ee, ‘mp na Cao Pn ep op Cm Ri 80 HS iad SFO ‘iota ob hn reat be INDICE, Poin 1 PRIMEIRA PARTE 1, Os devancios da intimidade material 7 IL. A intimidade em conilito 45 TIL A imaginagio da qualidade, Ritmandlise e tonalizagao 61 SEGUNDA PARTE TV. A casa natal © a casa onitica 75 V. © compleno de Jonas 101 VL Agra 141 VII. © labirinio 161 TERCEIRA PARTE VIL. A sexpente 201 IX. Arai 223 X. O vinho e a videira dos alquimistas 249 PREFACIO term € um element muito apeopeindo para culture maneae soi the 0 Lecomte Comegamos o estudo da imaginagao material do elemento ter ‘etre ems un livro que acabou de ser publicado: A tra eos devanios ‘de sontade, Nee estudamos sobretudo as impressdes dindmicas ou, mais exatamente, as saicitagdes dindmicas que se ativam em nds {quando formamos as imagens materiais das substincias trnestres. Com efeito, parece que as matériasterPestres, assim que #s pega ‘mos com a mao curiosa e corajosa, excitam em nds a vontade de ttabalhé-las. Acreditamos portanto poder falar de uma imaginago ais, e demos indimeros exemplos de uma vontade que sonha ¢ que, ao sonhar, dum futuro & sua acio Se pudéssemos sstemarizar todas essassolicitagies que nos vém da matéri das coisas, retificariamos, parece-nos, que hi de de~ ‘masiado formal em wma psicalogia dos projetos. Distinguiriamos © projeto do contramestree 0 projeto de trabalhador. Compreem derfamos que o hema far nio € um simples ajustador, mas €tam~ ‘bém modelador, fandidor, fereeiro. Fle quee, na forma exata, uma ‘atéria justa, a matéria que pade realmente sutevara forma. Ele vive, pela imaginacao, esse sustentéulo; gosta da dureza material, que @ 4 inica capaz de dar duragao 2 forma. Entio o homem € como que despertad para uma atividade de oposiio, atividade ‘que pressente, que prevé a resistencia da matéria, Fundavse assimn lima psicologia da preposigae contre que vai das impressies de um, 2 “A TERRA E 08 DEVANEIOS Do REPOUSO Cetra imeiato, ime, ri, um cota itimo, um ota prote So por vérasbarreiras, a um cnra que nfo cena de rent A Sim, a estudar nolo anterior psieologia do cma, comersones @ exame das imagens da profundesa, . Mas asimagens da profundesa no tm somente esa marea de tomtlidade; ttm também aspectosacolhedores, aspects cond vos:e toda ma dnimica de atragio, de seduslo, de pel ficou umn tanto imobilizada peas grandes forgar das imagens eetes de sisténcia, Nosoprimeiroestdo da imaginagioterrste,eeaito sob © signo da preposicio cnt, deve pissercompletado por umtestado dls imagens que ati wb o sign da repose dene Ean esto dessastitimas imagens que consageamos presen: ‘obra, que se presenta como ua seqdenca natural da anton, u Als, ao escrevér ees dois lvros, niobuscamos separ total smente os dois pontos de vista As imagens no so coneton, Nao seitolam em sua signifcaro. Tendem precismente a ultracet suasignicagio. Aimaginasionesecau€ mulfunconal, Parseon. Siderarmos apenas os dos aspects que acabamos de dating ci aque preciso reuni-los. De ato, pode ssentircm ag8o, ent mule inners materias da era, uma snteseambiaentque une diet amente oon ods, emote ina negavelsldaredade en treox process de entoverlo eos procesos de intoverso.Jé nos Primeiroscaptulosde mos lv d tracts dene davanada nt {ramoncom que ganna imaginacio deseiaesquadrinhar ama ‘Todas a grandes foreas humans, mesmo quando ve manifesta exteriorment, sie imaginadas cm urna itmiade Foran, sim co no no anterior no eas den tas, por gcando das imagens encontradas,cudo © que we pene 2 ina de mata, no eaqccermon, na presea obt.9ee se prende a uma imaginagio'da lide de mat Senos bjtasem que aintroverio ea exroversiodevem ser designadas partido wet, responderiames que a imagingt a dlamais¢sentooujeitotansportado ls ces. As imagens razes Amareadosjeto, Eessa area to ara que, final, ¢ pels ina fems ques pode obtera diagno massegurodostemnramentes peerdcio m1 Mas nese curto Pri qucremos simplesmente chamar a ater cio pars alguns aspectos gerais de nossa tee, deixando 0 exame dios problemas particulares para quando se apresentarem 35 ima fgens. Mostremos pois rapidamente que toda matéria imaginada, {oda matéria mediteda, torna-seimediatamente a imagem de uma ingimidade. Esta imtimidade €considevada remota; os l6sofos nos ica que ela aos seréserapre cult, que mal se retira um véa Bees cre mre onto evabecocin Masato io no se detém ante exsas hoas razSes. De uma substincia a faz imediatamente um valor. Ax imagens materials transen idem portanto de imediato as sensagies. As imagens da forma e da cor podem mito ber scr sensages transformadas, Asimagens ma tevin nos envolvem em uma afetividade mais profunda, por iss0 te enrafeam nas camadias mais profundas do inconsciente. As ima gens materiais substancilizam um snes ‘Essa substancializagSo condensa imagens numerosas, varia das, nacidas freqientemente em sensagoes (ao distances da reali- dade presmteque parece que todo um univers sensivel est em po {encial dniro da matéria imaginada. Entio o antigo dvalismo do {Gasmas © do Mirvermor, do universo © do homem, jf mio & sui- siente para proporcionar toda a dialéwa dos devancios relaivos, 20 mundo exterior, Trataae realmente de win Ultracosmos © de lum Uliramicrocostnos, Sonba-sealém do mundo © aquém das rea- Tidades humanas mais bem definidas. Serd de admirar entdo que a matéra nos araia para as pro- fundezas de sua pequencz, para o interior de sua semente, até 0 brincpio de seus ermes? Compreende-se que 0 alquimista Gérard ‘Dom possa tr eserito: No hi limite algum para 0 centro, 0 abie ‘mo de suas vides © de seus arcanos €infnit.”” F por se ter tomado um centro de interesse que o centro da matéria entra no teino dos valores. Claro, nesse mergutho no ifiitamente pequeno da substi ia nossa imaginacao entrega-se s mais mal fandadas impresses as imagens materais passarem, entre os homens de razio ¢ ‘de bom senso, por lusérias. Sequiremos no entanto a perspectiva 1 Gide por ©. G. Jung, Prt, p92 4 A TERRA E 05 DEVANEIOS Do REPOUSO dessa ilusdes. Veremos como as primeiras imagens completame te ingnuas e muito reais do interior das coisas, do embutimento ddas sementes, nos Jevam a sonhar com uma intimidade das subs- tincias, ao sonhar com essa intimidade que se sonha com 0 repouso ‘do ser, com um repouso enraizado, um repouso ue tem idesidade ‘eque nio é apenas essa imobilidad inteiramente externa reinante centre as coisas inertes. E sob a sedugio desse repouso intimo e in- tenso que algumas almas definem o ser pelo repouso, pela substin- Cia, em sentido oposto aos esforgos que fizemos, em nossa obra an- terior, para definiro ser humano como emergéncia e dinamismo, ‘Nao tendo realizado, num ivro elementar, a metafisca do re- ppouso, quisetnos tentar caracterizarhe as tendéneias psiquicas mais ‘onstantes. Considerado em seus aspectos humanos, 0 repouso € ddominado nevessariamente por um psiquismo inrlitin. O ensimes- ‘mamento nem sempre pode permanecer abstrato, Ele assume a fei ‘io do enrolamento em si mesmo, de wm corpo que se toma objeto para si mesmo, que toca asi mesmo. Foi-nos possivel portanto ale recer um conjunto de imagens dessa ineuludo ‘Vamos examinar as imagens do repouso, do refigio, do en- raizamento. Apesar das inGmeras variedades, apesar de conside- ‘éveis diferengas de aspecto e de formas, reconheceremos que to- dias essas imagens sa0, quando nio isomorfas, ao menos is6tropas, isto é, que todas clas nos sugerem um mesmo movimento em dire. ‘Gio as fontes do repouso, A casa, o ventre, a eaverna, por exem- plo, trazem a mesma grande marca da volta mie. Nessa perspec- tiva, o inconsciente comanda, oinconscientedirige. Os valores oni- ricos tomnam-se cada vez mais estaveis, cada vex mais regulares. ‘Todlos eles visam ao absoluto das poténcias nowwrnas, das poten «ias subterrneas. Como diz Jaspers, “a poténeia subterrinea nao admite ser tratada como relativa, ela nio se prevalece send de Foram esses valores do inconciente absolute que nos guiaram na pesquisa da vida sublerénea que 6, para tantas almas, um ideal de Fepouso. 2 Japs, La met pasion pose it traf, Corbi, aul He ty, 1 janet de 1958p. 38 PRIMEIRA PARTE CAPLTULO 1 OS DEVANEIOS DA INTIMIDADE MATERIAL tes coi content em considera fr oxen soréqueraboraro crm ¢ Faas vos Baa, sito por Sos ee, tp. 9 Buigeciasencowm s wanin a Hew eu yen odo fn de auc A abt fe inne el € para mim © produta de Paro Ur Bone i ras fp 264 Em Les secrets dela maturté [Os sogredos da maturidade], Hans Carossa escreve (trad. fe., p. 108): “O homem & a nica criatura dda terra que tem vontade de olhar para o interior de outra.”” A Yontade de olhar para 0 interior das coisas torna a visio agucada, visio genetrane, Transtorma a visio numa violencia, Ela detects falha, afenda, a fissura pela qual se pode vilarosgredo das coisas ‘eultas. A partir dessa vontade de olhar para o interior das coisas, de olhar 0 que no se vé, 0 que nio se dee ver, formamse estra~ tnhosdevancios rua, devaneios que formam um vinco entre as so- brancelhas, J& nao se rata endo de uma curiosidade passiva que quarda os espeticulos surpreendentes, mas sim de una curiosi- 8 A TERRA & 0S DEVANEIOS Do REPOUSO dade agresiva, ctimoloyicament inspetora. festa a cuvisidade ds erianga que desi seu bringued para vero que hd denea, Se es curiosiade de aerombamento€ realmente natural as ho: mem, no € de admirer, digamos de passagem, qc nao eivaroe dar 3 eran um bringuo de profendidade, um brinquede que eae faga realmente curosidadle profunda? Coloeamos am ve pal ¢hinelo,e nos espantamos de gue a crianga, em nua vontade te anatomi, imite-se a rasgar ar roupas. Nao retemor sente t ne, essa le desta ede quebrar, exquecendo que a foreas pol auics em sto pretend dear os apts extrines Paver euta cosa, ver lem, ver po dentro, em sua, escapar hpi, de da visio, Como me atsnalava Francoise Dltore brite te éelulide, bringuedo supe, brnquda do fnerpeo, yea soe tamente rian de muito sonhos piquicamente dt. Para cer tas criancas fvidas de incresie, vidas de realidad, eta peicanes sta, que conhece as criangas,rcomendou acertadatnentefenaue os slidose pesados, O bringued dota de estrutura tera foo Porcionaria uma solugio normal ao lho inguisior, meets vont: de do olhar que necesita das prefendcar do objeto, Mas 0 gue a ‘educagio no sabe faze, a imaginarao relia seju come foe Pare lém do panorama oferecido 8 visio tranetia,svontade dc ele alia-se a uma imaginacf inventiva que prevé uma perspective do culo, uma perspetiva das trevas interiors da mata E ese ‘ontade de ver no incrior de todas as cosas que confer tantos lores is imagens mateias da substanca A calocaro problema da substncin no plano das ingens m ‘eas, fieanon impressionad com ofato de que cans nagens oo numcross, to vargves, em gral ao confuse, dass oa bastante falda em dversos tipo de pexpeias do are, Broce diversosipos permitem alts preciarcrtas muanga sentmieneate dia curicsidae,Talvez uma claficacio das imagens sscvas rene fornecer, mals tarde, temas interesantes pare eatido da tier dade subjetiva, para oestudo da psicologa das profundezas, Por exemplo, a propria categoria dos extrovertidos tera necentlade de ser diviida segundo os planos de profundidade sor gene ce ac tam os interesses do extrovertido. Eo ser que sonlacom panos de profundidade nas coisas acaba por determinar em af mew ya, nos de profundidade diferentes, Ted doutrina da imagem € seoon Panhade, em espelho, por uma puicologa do imeginane YEIOS 4 INTLMIDADE MATERIAL aE ens Sap copenis cine pepe arenas; Dison peeve Ge niand abana nin it “1) Para ober todos os elementos dos jogos de imagens, ass cialmente, sob o nome de perspectiva anulad, esse objeti- eceber — muito flosfico, muito dogmatico — que tolhe toda coriosidade vltada para interior das cases, Pax flézofos, a profundidade nas cosas uma ilusdo. O veu de © véu de fais ecobre todo o univers, o universo é um ve pent human, sono humns ina iso human se “apenas asimagens superficiais das coisas, apenas afor- jor do bros Por masque o home excve0 roche, jscabriréapenasarocha, Doroched arocha, podediveri= Jobs gneros gramalicais tals inverse, apesar de vex Fas, nao perturbam ofilolo, Para ele, a profundidade é 3, #eutisidade uma vesinia, Com que desdém pelos 0- rerianea, por esses sonhox que awhicagio nao sabe fazerama- ofilsolo condena o homer a permanecer, como ele diz, los fendmienos"! A esa proibicaa de pensar, no impor. forma, “a.coisnemsi” (naqual se continua contudoa pe Solo acrescenta geralmenteoaforismo: “Tudo nio passa Te ir er, mani ind magia. ‘ese ceticimo dos elhos ter ants profetas quan- belo, lo prefundamente bel, ti belo em wis emairias Como no ver que anatureza temo n- fundeza? E como escapar a dilética dessa galante Die cscs reenincs inns cer ce a organizagio vive num ritmo de mascara ede osenta er € uma fungao prima da vida. F uma necessidade ‘economia, & constituigso das reservas. Eo interior tom ‘revas tao evidentes que se deve dar a mesma impor sclarecimento ea um abscurecimento para casifcar ‘de intimidade! 10 A TERRA & OS DEVANEIOS DO REPOLSO [Nao cabe, na presente obra, mostrar que a ciéncia da matéria no se detém ante as proibigfes dos fldsofos. Ela pratica tranqii Jamente uma quimica das prafundidades, estudando, sob as substin cias homogéneas em reagi0, a molécula — na moléeula, 0 étomo —, no toma, 0 nicleo. O fikisofo nfo se ano trabalho de seguir ‘essa perspectiva profunda; ele acredita salvar se fenomenismo ab soluto objetando que todos esses “seres de razio"” (que aliésaco- them algumas imagens com bastante dociidade) #6 so conhecidos experimentalmente através dos fendmenos em escala humana. Co- mo a evolugio do pensamento filos6fico desacreditou a nocio de nimero, 0 fildsofo fecha os olhos a esta espantosa constituigio de ‘uma quimica mmenal que representa, no séeulo XX, uma grande sistemética da organizagio material Essa falta de simpatia da filosoia contemporinea pela ciéncia dda matéria nfo passa aligs de um traco a mais do negativismo do :método filos6fic. Ao adotar wm método, 0 fildsofo rejeita os ou ‘wos. Ao instruir-se sobre um tipo de experiéneia, 0 fildsofo torna- se nerte para outros tipos de experiéncia, As vezes espiritos muito Iicidos encerram-se assim em sua lucides e negam os méliplos vis Jumbres formados em zonas psfquicas mais tenebrosas. Com rela- Go ao problema que nos ocupa, percebe-se bem que uma teoria do conhecimento do real que se desinteressa dos valores oniricos se priva de alguns dos interesses que impelem ao conhecimento. Mas trataremos desse problema em outra obra. Por ora, assinalamos que todo conhecimento da intimidade das imediatamente um poema, Como indica claramente Fran: cis Ponge, ao trabalhar oniricamente no interior das coisas nos di- rigimos 2 raiz sonhadora das palavras. “Proponko a todos a aber: ‘ura dos aleapées interiores, uma viagem na espessura das coisas, Juma invasio de qualidades, uma revolugo, ou uma subversio com- ppardvel Aquela operada pela charrua ou pela p, quando, de re- ppente e pela primeira vez, si trazidos & luz milhoes de feagmen- tos, lamelas, rafzes, vermes e bichinbos até entio enterrados. O recursos infinitos da espessura das coisas, esttudas pelos recursos infinitos da espessura semintica das palavras!” PParece assim que, juntas, as palavras eas cosas adquirem pro- Jundidade, Vai-se ao mesmo tempo ao principio das coisas e 30 prin cipio do verbo. Os seres escondides ¢ fugidios esquecem de fugit “@S DEVANEIOS DA INTIMIDADE MATERIAL un “quando o pocta os chama pelo verdadeiro nome: Quantos sonhos inestes versos de Richard Euringer: Cin eno come um chub mo cara des cis, tomo tape de care, infend-Ies noes a cnr emquanta ear peace eras « xu de fugit “Antalage del sie allemand, i, Stock, p. 216, ‘Tentemos aqui simplesmente reviver as formas sonhadoras da ‘euriosidade voliada para o interior das coisas. Como diz 0 poeta: Abra ants ing bots por Loan, etada por Grom, Prescot, nm 2) Assim, sem mais nos ocuparmos com as objepSes abstratas dos filésofos, sigamos os poetas e 08 sonhadores ao interior de al- ‘guns objeto “Transpostos os limites exteriores, quo espacoso € esse espago Interno; quo repousante essa aumosfera intima! Bis, por exemplo, “um dos conselhos da Mapiede Henri Michaux: “Ponho uma maca sobre a mesa. Depois ponho-me dentto dessa mac. Que tranqii- Tidade!"” © jogo € to rapido que alguns serao tentados a declar 1o pueril ou simplesmente verbal!. Mas julgar assim € recusar-se a participar de uma das fungSes imagindrias mais normais, mais regulares: fang da miniaturizagio. Todo sonhador que quiser fr, miniaturizado, habitar a magi. Pode-se enunciar como um pose tulado da imaginagao: as coisas sonhadas jamais conservam suas dimensées, no se establizam em nenhurma dimensio. E os deva- neios verdadeiramente possessivos, aqueles que nos do 0 objeto, so os devancios Hliputianos, Sio os devaneios que nos do todos "0s tespuros da intimidade das coisas. Aqui se oferece de fato uma ppetspectiva dialétiea, uma perspectiva invertida que pode ser ex Dressa em uma formula paradoxal: o interior do objeto pequeno T, Fler in mais evap, mat iia a mesma coi “A fora dethar um six, nani um quad, set que ew ena nee, 2 A TERRA & OS DEVANEIOS DO REPOLSO € grande. Como diz Max Jacob (Le comet a dés [0 copo de dados), ed. Stock, p. 25): “O miniseulo é 0 enorme!” Para assegurar-se disso, basta ir em imaginacio habité-lo. Um pacient contemplando a luz dnica de uma pedra preciosa, di perdem-se nela. Ela é imensa eno entanto tio pequeria: um pon: {o.” (Le rive deiléen psychothérapie[O sonho acordado em psicote rapia), p. 17) ‘Assim que vamos sonbar ou pensar no mundo da pequene2, tudo engrandece. Os fendmenos do infinitamente pequeno assu ‘mem um aspecto c6smico. Basta ler nos trabalhos de Hauksbée so- bre a eleticidade as descrigbes dos clardes ¢ dos ruidos, dos efl vos e dos esaldes.J4 em 1708, ao esfregar o diamante, o Dr. Wall escreve tranqiilamente: “Essa luz ¢ ease ejtalido parecer de al- gum modo representar 0 trovio ¢ reldmpago."” Veros assim, desenvolversse uma teoria do metro miniscule que mostra bers a poténcia das analogias imaginérias. As forcas no infinitamente pe- ‘quena sio sempre sonhadas como cataclismos. Essa dialética que inverte as relagées do grande e do pequeno pore ocorrer num plano divertido, Swift, em suas duas viagens con ‘¢ Brobdingnag, x4 buscou praticamente as re sondincias das fantasia divertidas mescladas de tonalidades satiri- foi além desse ideal do prestidigitador que, da mesma forma, ira um grande coelho de um pequeno chapét, ou, como Lautréamont, a méquina de eostura da caixa de bisturis, para es pantar 0 burgués. Mas como todos esses jogos literarios adquirem mais valor se nos entregamos a eles com a sinceridade das expe rincias oniricas! Vistaronos entio toda 08 objetos. Seguiremos Fada das Migalhas em sua carruagem grande come uma ervilha, ‘com todas as cerim@nias dos velhos tempos, ou entraremos na ma i, sem ceriménia, em ama frase de acolhimento. Um universo de intimidade nos sera revelado. Veremos o avesso de todas as co sas, a imensidao intima das pequenas coisas De uma mancita paradoxal, 0 sonhador poderd entrar em si mesmo. Sob o dominio do pefote, droga miniaturizante, um pa ciente de Rouhier diz: ““Estou em mink boca, olhando meu quar- tw através de minha bochecha,"* Taisalucinagdes encontrar nia dro- .ga urna permissZo para se exprimirem. Mas elas no s20 raras nos sonhos normais. Ha noites em que minnmos em nds mesmos, em que vamos visitar os nostos érgios. 0S DEVANEIOS DM LNTHMIDADE MATERIAL 13 Essa vida onfrca das intimidades detalhadas nos parece bem inte da intuigdo tradicional dos filésaos que pretendem sem Dpreviver oer que contemplam por det, ssa adesBo maciga a um por dir dirige-e, com eeito,imediatamente 4 unidade do ser Jnvadido. Vejamo Sildsofoentregar-se a esta intuicio: tem os olhos Hemicerrados, a atitude da concentragio, Nao pensa muito em istrair-s,cm diverti-sena sua nova morada; porisso as confidén- tins sobre esas vides objtivasfntimas nunca vo muito longe. Ao ontrtio, como so mais diversas as poténcias onticas!Isinuam: sem todas ns dobras ca nor, conhecem-lhe aespetsura das Nerv Fas etodoo masoqulsmo dos picantesinteiores no aveso da cas fas! Como todos os seres doces, a noz maltrata axi mesma. No fo “dea dor igual que padeceu uin Kafka, pela absolutasimpatiaque ele teve por suasimagens?"Penso naquclas nites ao fim das quai, Arrancatl do sono, eu despertava com a sesaco de er sido ener” uma cascade noe, (Didi fina, apd Fontaine, maiode 1945, . 192) Mas sea dor do ser intimamente machucado, comprimido fa infmidade, € uma nota excepcional. Aadmiracio pelo ser ~ oncenrado pode curat ado. No Pome Epint de Spite (ra © fr Baudouin), sob copa da nogucra, a deusanterrogn: Dize-me jin escondes sob teu teto, a que nz maravilhosa deste a luz?” faturalmente, oral se culla como ober! os etcezosmuitas ve- ‘pBem o diabo nas nozes que dito & criancas, Enconiramos a meama imagem deintmidade em Shakespea- @ Rosencrantz diz n Hamlet (ato I, cena I): "E vossa ambiclo| ‘Que torna a Dinamarca uma prisfo para vs, nela hé poco espago Bara vorsa alma."” E Hamlet respond: “*Meu Deus! eu caberia “gum casea de noc, consderar-me-ia 8 vontadee rei de um imp to sem limites. vendo tives mau somhor."" Se comsentimo dar lima realidade primara 2 imagem, se nao limitamos a imagens ‘simples express, sentimossubltamente que o interior da no Possu o valor de uma felicilade primitiva, Viverfamos felzes se feencontrdssemos af os sonhos primitives da feliidade, da inti: "dade bem protegida, Decent a felicdade € expansiv, tem neces Sidade de expansio. Mas também tem necessidade de conceatea- ‘fo, de intimidade, Assim, quando a perdemos, quando a vida pro- © Porcionou “mau sono sentimes saad da intimidade da e- Ticidade perdida, Os primeiros devancis ligados 3 imagem fnima 4 A TERRA B 0S DEVANEIOS DO REPOLSO do objeto so devanios de felicidad. Toda intimidade objetiva se- fics em tim devancio natural € um ge de flidade “Tratase de uma grande felicidad porque €uma felicidad ou- ‘a. Todo interior € protegido por um pudor. Esta € uma nuanca que Pierre Guéquen exprime com sutleza (Aree! ula Demo ne Arco-ris sobre a Domnonée},p. 40). Uma mulher tem 0 pu dor do quaeda-roupa: “Quando Hier abria de par em par o guar da-roupa onde xtavam dispstas, como una anatomia secret, suas buss, suas saias, toda sua roupa de baixo, ela se precipitava, {Bo sinceramente desarvorada como se tvesem surpreendido nua, © tomava a fechar as portas de madeira Mas, tanto para a bem como para o mal, o interior um tanto peril das coiss € sempre um interior bem arrumado. Quando 0 tvéide Laure, no romance de Emile Clermont, abr como canive- teruns boties de res para diver a netinha, é 0 interior de wm {ardaroypa em ordem quc aparece aos olhos da crianga extasia~ da", Essa imagem de cranga apenss expressa uma das felicia tes inaltersveis dos botdnicas. Em sa Matire médicale, p. 98), Geofiroy escreve: “E sabido,¢ impossvel consideré-o sem pra er, com que engenhosidade os rebentos das plantas, guarnecidos de sas Tolhas, de suas Dorese de seus fratos, encontram-se ari ‘madios nos brotos." Cumpre sublinhar que o prazer de contem- plar ese interior aumentou-o consideravelmente. Ver no broto a fotha, a flor € ofruto € ver com os olbos da imaginacio"™, Parece ue a imaginacio & entao uma loaca esperanga de ver sem limite ‘Um autor tia racional como P. Vanitre escreve (Pradixm Rat cam, trad, Beslan, 1736, «0, p. 168): “Se um homem fsse bastante hibil para, depos de partir uma semente de wva, retirar ihe as fibras soltas, vera com admiragio ramos e eachos sob uma pele fina e dlicada,"" Que grande sono ler umn futuro de vindima na dura eseca sementel O sibio que continua esse sonho aceitard sem dlifeuldade a tese do encaixamento indefinide dos germs? Tis Eile Clermont, Lay, 28 1h © poeta pe desconbctr beinica¢ ecreter um bdo vere: La lar de gli se es bomen ne (A rns sent oe bse ie) (Miter, Lem ea) 2 Pere-Masine Schl, em um arg qu chogon so sto consent quand crrigiameosas provay, cial ces dovanior ues penamemos dee ‘Gisamento (ral de ta, 17, 2), DEVANEIOS DA INTIMIDADE MATERIAL 5 acceso sonar qu, quae tenors ox see, maa I ch cn es perenne vip, Fechandoco cen, caaao, Um poco BR retesorum picchiodehiewerg pera ont. Serna sain tadade oe cea Si eccontacrcr 20 vel dan gies minions, dase ane Bexsceno da votndeimclgentec pie: E por mo gue Serie tipacsne cn oer, Sento, Sn an BI cevanios do cosinor pans ina i cteepirgcisonsoneperiersr mcoenseiet Midenosnao st slarer manana, mars novinsinumoscr oda I et cro rerio rims vaiacronty nonce Sects e wesdorpon Ene come Jon aa Grice qoaro de uv eda tongues Sean can Peers pra carte inc envi ds piace an omc decarcl” Ansan ccs haba pea Tio Iettocha” Bo ser sonhadrfntacor“Iidemeccrncha Sov aon tamale qe von proc peice an, gue, vm 0 in cco unin soni de ota preted “rita Tura, como [eam Pash, ects ese spl do expe So eae: Geen me chamanoburceaotchendedeeckio gs ee sconce were sc, mci rekon Geingucpraniel patna, amanda do solo” As penn Peer wo pects alin ogo tetera de acinar rm PB srr agens, Baste um pours sagas ine Sica pre comprecnder que trv tia que se abre c= Glee ns obige minis, ents om ion Geies do co do Bet: sence pois nog Se cane sates com Trina Mat Eu soo miner’ Na means obra poses "Ac tentadasno soo dancin, ep de muta per amigas fecascepo en pos cnre sibs de madeira dara a sae" Wajean Pra Richter, La oi de Fin ead tp. 290 3. ear, ie nines com 4 Trina Tear, ion. 44 Af Jrry enon afm aise das Alucnate lipuinae quando creo cau: Faull menor qu Faust “Oats Fasl ut um dine gue eons ‘aru don cme mn emo soi como praia da pequencr, 40a ‘the dice do sew, sajna long ci baum repao, em pretar steno ‘ote ees ms spr suena de ao, téeneonint 8 Ag 6 A TERRA B 0S DEVANEIOS DO REFOLSO (Le patification du pain, p. 67) A imaginagio, como a mescali muda a dimensio dos objeto, Encontrarfamos inumeriveis exemplos de proiferagio da be- leza iliputiana se folhedssemos os livros cientiticos que relacaram, ‘como faganhas, as primeirissimas descobertas microsc6picas. Pode serealmente dizer que o microseGpio, em sa origem, fio caleidos «pio do mindsculo. Mas para permanecermos ssa doct- ‘mentacioliterdria, vejamos apenas uma pagina onde precisamente as imagens do real afloram na vida moral (La vie de Fixe, p. 24); “Pegar um microseépio compostoe perceber que a sta gota de vi- ‘nho éno fundo um mar Vermelho, que a poeira da asa das borbole- ‘as €uma plumagem de pavao,o bolor um campo de lorese a arcia uma porgio de pedras preciosas. Estes divertimentos no microseé: pioso mais duraveis qieos jogos de 4gua mais dispendiosos... Mas tenho de explicaressas metatoras por intermédio de outeas. A mi tha intengao ao enviar 4 vide de Flin biblioteca de Litbeck € jus tamenteaderevelar ao mundo inteiro... que sedeve dar maior valor as pequenas alegrias dos sentidos do que as grandes,”” Vv Apés essa contradigdo geométrica do pequeno que ¢ intima- mente grande, muitas outras contradigies se manifestam no deva: neio de intimidade. Para um certo tipo de devaneio, parece que ‘interior € automaticamente 0 contro do exterior. Qual esse mar ‘om escuro tem uma polpa tio branea! Esse habito de burel enco- bre tal marfim! Que alegria encontrar to facilmente sabstncias que se contradizem, que se reiinem para contradizer-se! Um Milosz* buscando as armas de seus sonhos encontra mine de rinks para ovo de ri ‘Sentimos esses devaneios anttéticos em ago nesta “verdade ‘comum”” da Idade Média: 0 cisne de esplendorosa brancura € to cdo negrume no interior. Langlois! nos diz que essa “'verdade”” <5 Bim uns conch de na, Frais Pong vé também tempo de Ang oe (Lepr pis ees 8). Langs, Limage i mon 1, 179 "Tras do pot ancien ans Oscar Mion (177-1998). (N..) DEVANEIOS Dé INTIMUDADE MATERIAL 7 f-se por toc um milénio. © menor exame teria provado ‘9 interior do cisne no é muito diferente, em suas cores, do for do corvo. Se, apesar dos fatos, a aliemagio do negrume 20 do cisne é ta0 amide repetida, € porque satilaz a uma ‘ei da imaginacio dialética, As imagens que sio forgas psiquicas “primarias s20 mais fortes que as idéias, mais fortes que as expe “ridncias reais a in Plain-chant [Cantochiio), seguindo essa imaginacio dial ‘tiea, Jean Cocteau escreve: > A inka gue wise & 0 sang azul de wm ce As vezes um poeta tem tamanka confianga na imaginagio dia- lética do leitor que apresenta apenas a primeira parte da imagem. “Assim Tristan Tzara, acabando de pintar ‘'o cisne que saboreia seu branco d'égua’", acrescenta simplesmente ‘fora € branco'” (Litomme approximatif 6), Ler essa pequena frase em simples posi- ‘ividade, saber que o cisne € branco, € realmente leitura sem so- “ho, Pelo contrario, uma leitura negatvista, uma letura bastante ive para usuftuir de todas as iberdades do poeta, nos remete & profundidade, Se “fora é branco”, & que o ser pds tudo o que ha via de branco fora. A negatividade evoca as trevas. © “Aalquimia também enteega-sefigqientemente a essa simples _perspectiva dialética do interior e do exterior, Bla se prope mui tas vezes a “'revirar” as substAncias, como se revira uma luva. Se “sabes por para fora o que esté dentro e para dentro que est fora, ‘diz um alquimista, é um mestre da obra “Muitas vezes também, o alquimista recomenda lavar 0 inte- ‘rior de uma substincia, Esta lavagem em profundidade exigira is “vezes ““iguas bem diferentes da agua usual. Nao teré nada em co- “mum com a lavagem da superficie. Naturalmente nao é mediante ‘uma simples trituragio sob gua corrente que se obtera essa lim, ppeza fotima da substncia. A pulverizaclo nao contribui, nesse ca $0, para a purficacio. §6 um solvente universal pode obter essa ‘Purificagio substancial, As vezes os dois temas do reviramento das Substincias © da purificagao interna esto reunides. Reviram-se as substincias para impélas, ‘Assim os temas sio muitos ¢ se reforgam um ao outro, desi ‘nando o interior das substincias como o contrério do exterior. Tal 18 «TERRA & 05 DEVANEIOS Do REPOLSO Aialética confere um tom sibio ao velho ago: 0 que € amargo para © gosto é om para o corpo, A cascada noe é amarga, o Truto€ bom, Fl 'Nio se deve pensar que semelhantesinversSes das qualdades extemasedasqualidadesinternasscjam devancios oboltes Oso tastambém si seduzidos, comosalquimistas, pelasinverses pro fandas,equandocsseseviramenton’" so Teltoscom eiscernitnen to produzem imagens lterdriae que nos encantarn. Assim Francis _Jammes, dante das ondasrasgadas plas pedras da coredera, are alta vero avesso da Agua”. "No poderel chama esse ema aquecimento deo avee de dg, dessa tga que € glauca no repovso como uma tia antes que o ara areyace?” (Nowell roe rege, abril de 1988, p. 640) Ess gua reviradaem sua subsanea propor. ciona ésperas delcias para um sonfador que ama a gua com un amor materia. Elesfte ao vere as vests rasgadas sb afanja da éspuma, mas sonha em cesarcomma!atriajamaisvsa, A subs tania ds reflexos Ihe € daleticamente revelada. Parece eno que "gua tem "ua gs da mesa roa que dizqueumacome- ralda tem “uma agua”. Diane da corredeira, Taine, cm Le 0 ‘to Byrnes, ona também com una profundiade intima, Veonio “omarse eo"; vse venttevda”Ohistorindor em frase ¥€ porém a imagem de uma tia aregagada san perspectiva dialética do interno e do extern & por vezes toma cialtcareversvel de uma mascara tirada erecolocada, Este verso de Mallarmé Um candela, deisando oh ous pata austen Biro ole eu 0 Ieio de duas manciras, conforme as horas de meu devaneio: primeiro num tom irénico, ouvinds o cobre tir das mentiras do prateado, e depois num tom mais suave, sem zombar de um ean- ddelabro despratcado, ritmanalisando melhor a austeridade insipi- dda e a alegria robusta de duas forgas metilicas associadas?. 7 Dain forma, haveria da mais de bber vith, leno se 9 er: 0 de André Frénaalticarente,animandovse ae dane coe Leger rs be” (Se! nda, te jlo, Pon etka subsea? Noveme ‘ae desig ou nas intimidate sri? *Lteralment, "0 erm de ins comuns” Mas na radagSo ep ‘dem tant a cores come ae opie ue fazem m Hera ene vero Et ns DRVANEIOS DA INTIMIDADE MATERIAL 19 No sentido esas mesmas impresses dialéicas vamos exa nar detdamente una imagem de AudiberG, wma imagem que dda contadigio entre uma subsncia ese aebuto, Num so. ‘iber fala do “negrume seerto do ete". Bo estranho Eqque esta bela sonoridade i € ma simples alegria verbal Para “quem gosta de imaginacavoatri, eat se de wma alegria profun- ‘da Basa com eesto sonar um pouco com esta brancura pasos, essa brancura consistent, para sentir que a imaginagio ma: feral ects orn nnn sombvia por bao da brancir.Sem Ss, ee nin rnc bance, Dem pe, sour "a espessura, Nao teria, ene Hguido nutrient, todos os valores Inmates Eta desejo de ver, por baixo da brancura, 0 avesso da brancura que leva imaginagao a eacurecer certs reflexos a2 “que correm na superficie do guia a encontrar seu camino pa Tao negrume screo do leit * “Ui eotranha observa de Pierre Guéguen pode ser colo fala como que na vanguarda de tantas metdlores sobre o negrme fecreto das Cons brancas.Falando de uma agua completamente furvade expuma, completamente banc por seas moxinenton in festinos, dena gua que, cotvo os avalos broncos de Rosner Iholm, ara para a morte um melancdlco,Picrre Guéguen esreve (Le Bretagne, p. 67): ‘“O leite coalhado teria um gosto de tinta.”” {Goma expresie mero negrome ito, 0 pecado faim de ua tubstincia hipocritamente doce c brancal Que bela fxtalidade da Jmaginagao humana leva o excritor conerporneo a reencontrar sn nog de atroeadsringéncia to requentena obra de wm Ja ‘ob Borne? A ga etna a ae emo negrame atmo da mot, Asn bli em un es de ina 0 aaa de na be Ieragem de suiida, Asim, a agua breta de Gugguem como. l- fe negro’ das Gérgonas que, em Len [A nau] de Elémit Bovr- 5, £4 “semente do ferro” {ina vez enconiradoo evelador,pgins om rcs tints po dem revelarse de una singular profundidade. Com 0 revelador do negrume serero do lee eiamos por exemplo esta pagina em fue Rilke conta sua excursio noua plas clinas, acompanhado ‘Giaea de resuircm pane ea que, através de uma reigo: “A nore on vines pobre." (NT) Ta GI Sarre, io ln,» 4 20 A TERRA # OS DEVANEIOS bo REPOUSO dleumas meninas, para bbec oie das cabras(Fagnens dal intine,apud Later, ed Sock, p. 14. “A tour eat uma Hea de Pedra, que coloca nossa frente sabre a mesa © ete er peta, ‘Todos expantam, mas ninguém ousa exprni sua desobert; pens: final € nite, eu jamais via ondenhado cabras ea fora, enrdo€ qu, = pat do crepiscul, seu ete excuece © he dhs da madrgada eed como tina Tados nox experimentamos Oeite negro daquela eabra nosrna."" Com que sts pineeadas € prepara esa imagem material de Tete a mote! Pree, als, que uma noite ftima que guard nonos mist fos pessoas entra em comuniagao com a noite das cae, En Conifaremos s expresso dest concsponnca em pias de Joe Bousquet que estidaremos mac aan: ""A mite mines iz Bousquet, “€ em cada um de nv a que 0 nego inertia no azul do eeu" (O negrume secreto do leite retém a atencao de Brice Parain*. Cont ee v nto apenas in snplescapich da fantasia: “Di ponho de oda atiberdade”, di ele. "para falar, contra qualey ‘crosimihanea, do negrame secret det, para ment endo Aue mint; alinguagem, ao que parce, presia-se a todos ot mci aprics, J que sou eu ques levo para one quero. Tal inter pretatoprejudica aimaginago pose Parect que o porta no Psa de um fusions que quer aera ensates mente qe Acumola os caprichos as contadigics no propio Amago da iva gem. No entano,o simples advo que tora sere © negrume secrto do kite basta, por a 6, para indica uma perspec de 1ofundidade. Nem todos ot sbentenddos slo mention, cnt Bre perecber que o devaneio material now propociona, 30 co tradizer-se, dans verdades, Se se trtaee de polemica ene ve um fe, poderse-ia ver af necsidade de conradier basta Aue se he diga bran para que ele dga ge. Mas sono ni Gute, 0 poema nfo plemiza. Quando © pota nos conta dee oe mend ness em ns outros lentes 20 contri uma ttalidade extraorindria, Como di Jean Paul Sart! € preciso inventaro maga das coisas, uisermor um ia descabeo, Aubert nos ecarcesobe ote quan al 1 Brice Patsn, Reco sl tao tions ngage. p 9 Jean-Paul Sarve, Came i, spt eager le 1988 DEVANEIOS DA DVTIMIDADE MATERIAL 2 seu ‘Snegrume secreto"”, Mas para Jules Renard, o lete € de peradamente branco, pois “no & senio o que parece” 'E€ aqui que se pode eaptar a diferenca entre as dialticas da ra- que ustapse as contradicBes para abranger todo a campo do pos- ‘eas dialéticas da imaginacdo que quer apreender todo 0 real ¢ contra mais realidade naquilo que se aculta do que naquila gue se “mostra. O movimento das dialétias de justaposi¢fo¢ inverso ao das dialéticas de superposicio. Nas primeiras, a sintese se oferece para “conciliar das aparéncias contrérias. A sintese €0 timo passo. Ao ‘contrario, na apercepe4o imagindria total (formae matéria) a sintese “yer antes: imagem que abarca toda a matéria dvide-se na dialética ‘do profundo edo aparente. O poeta que se comuinicade imediato.com at imagem material profunda bem sabe que uma substancia opaca & ‘necessaria para sustentar tio delcada brancura. Brice Pain relacio- fa com razdo 2 imagem de Audibert este texto de Anaxégoras: "A ‘neve composta de gua é negra sem que o queiram os nossos olhos” ‘Com cfeito, que mérito teria a neve de ser branca se a sua matéria no fosse negra, se ela nao viesse, do fundo de seu ser ecu, ctsaliza sema brancura? A vontade de ser branca nlo é 0 dom de uma cor j Dronta e que 66 precisa er mantida. A imaginagiio material, sempre ‘om uma tonalidad demningica, quer eriar toda matéria branca a par- tirde uma matéria escura, quer wencer toda a histéria do negrumme. Dai expresses que parecem gratuitas Bu falsas para 0 pensimento claro, Mas odevancio de intimidade material nfo segue asleisdo pen- ‘samentosignificante, Parece que ainteressantissima tese de Brice Pa- sain sobre a inguagem podera de alguma forma ser reforgaca,dando- se a0 loge que demonstra uma certa espessura onde podem viver o¢ se as imagens. As imagens também dmonstram & saa maneira, Ea melhor provada objetividade de sua dialética é que acabamos de ver uma “imager inverossimil”impor-e& canviegSo potica dos mais diversos excrtores. Os poetas, com todaa simplicidade,encontraram assim ali hegeliana do ‘mundo invertido"” que se exprime desta for: ‘ma: 0 que, na lei do primeiro mundo, “é branco, tomi-se negro na Ii do mundo invertido”, de sorte que 6 negro, num primeira movi- ‘mento dialético,€''o em-si do branco" (cf. Hegel, La phinomerologie de Vsprt, rad. fe. Hyppalite, ¢ , pp. 132 € 134). Mas etornemos, para concluir, aos poetas. Toda cor meditada por um poeta das substncias imagina 0 ‘negro como solidez substancial, como negagio substancial de t1do 2 A TRRRA F OS DEVANEIOS Do REPOUSO ‘que atinge a luz, Nao cessamos de sonhar em profundidade com fo estranho pooma de Guillevie: No find el Ei fondo do amare Negro qu w epue Equa, (Que nlp foe eater came a homon Com os pul. ema, * mer, Cahiers ds Sud, Exc, 9? 280 A cor negra, tambérn Mic! Leitis (Auora, p45), “on de sera do ratio do nada, Gants ina aiva quae besa 2 substinca profundae,consequentemente,eacutad todas aco sas" Eso corvo€ negro, pata Michel Leirs€ por causa dose Tastoncadavricos”, negro "como o sanguccoagulad ou & tira carbonizada’”. O negro alimentatodacor profunda 4 mors da fia das cores, Assim osonham os olsinadossohadores, (Oz grandes sonhadores do negro hao de querer até deseo, como Bily (Le ttt, Antologte Rai), ese negro penetra {ue trabaha sob o negrume embod, ese negro da substncla Sue produs sua cor deabism, Assim o pcta modeino rencontra 8 antigo devancio do negro do alquimistas, que busavam « ne gr mais negro que negro: "Nig ni nig 'D.H. Lawrence (Ltonmedt tap, p. 199) encon- tra profundidade de algumas de nas mpresies cn semethantes inves bias, a ino toda as enegdes, Do sl, “eapenss a ‘sted poeira que briha_ Asin, os verdadirsraios que cea {én vajando nas revas so as revas moventes do sl primitive. Osol obscure; sus raiosstoobscuroe Ealuz apenas euavess: os ais amarelos alo apenas 0 avesto do que o sl nos envia. E, dado oexempl,atexe se amplia: “Nex vivemos portanto no aves do mun ontiua Lawrence "O mundo serie todo ogo € sombrio,palptante, mals negro queesangue: mun. do de nz em que vivemor € © outro lado dele. “Eseuai ainda. Ometmo sedi como amor. Este pido amor aque conhecemos também o aves, osepulero cmbranqueldo do ttnorverdadir. O verdadero amor€selvagem etre: uma pl Piacaoa dosnastreva..” Oaprfundamento de uma imagem nos Teva partiiparda profundidade de nosso ser, Nowe per das me. Lforas que Wabalhamy no sentido exato des sono rami “0S DEVANEIOS DA IVTIAIDADE MATERIAL 3 Vv ‘Atereira perspective de simidade que queremor extudar a que nos revca un meror mario, in eri eeulido {colorido com mais prodigalidade do que a mais eas Mores. To tcganga€ retrad, aevim que 0 geodo €abeno, um mundo favo nos €revela; seg de um eit bem pode revela flops, enrclaganento, figuras. Nio we para mais de wnat. Essa leita, esses desehos aims em tis menses, ess ef fe cretratos esti ali como belezasadormecias. Esse pancalis Thocin profundidade ssctow ax mats diversas expliaracs qe 0 Gots ants maneiras de sonar. Esrudemos algimas dea. Sigamoso especador que vem do mundo exterior onde viu Aloces,frvores, fuze Ee entra nomunde obneuro fecha e des tobre cflorecéncas arboresncat, lamineskncias. Todas esas formas vagas impel asonhar. Um sig de sono repousa ne tas formas vagas que relamam ser acaba, sr remaladan. Eom oto livro A gars sno: haviamos sinha a gests ties que o sonkador recebe do rellxo de uma paisager sobre tins dgua wangiila Pacino que esa gure natal era un Shcorgjmento consiante para wn sonhador que qulsese, igual tent epi ac cre em fran. page elt ne ado lage determina o dcvancio que antec a ciagHo arta I pe crn aigandarurn seine ue tes ead Um velo autor, a0 cxcever no aculo XVI um desses livros de Alguiia que tnhar mas ores que os livros cence da €po- Gay va nov ajudar a sustentar a noua tee dos impulosetticos hb onrbmot “E se cacs dons eiéncas no estivesem (nica ent) no ner da Nena jibe ive por Si meima as formase figuras, jameissabera pntar uma avo- Fe uma for, se Nature jansleo ven feito, Enos adie how ¢ eames extasiades quo vemos cin mirmore cm japes Tomens,anjos,bichos, cass, sdiras, campos erbelzados det tipo de ores.” Ess eseutura descbertanaininidade da pedrae do miné io, evens tas nat, nee pinta nas mara represen tar a pisagensc as possonagens exterior “fora de ua cond arJean Fe, Aid ot miu, Pais, 1636, 4 4 TERRA & 05 DEVANEIOS DO REPOUSO fo habitual". Essas obras intimas maravilham o sonhador da in- ‘imidade das substincias, Para Fabre, o giniacristalino& 0 mais hé- bil dos cinzeladores, 0 mais minucioso dos miniaturistas: “Por is- 80 vemos esses quadros naturais nos mérmores e nos jaspes serem ‘muito mais delcados perfeitos do que os propostos pela arte, pois as cores do artlicio jamais sio tio perfeitas, tao vivase brilhantes como aquelas que a Natureza utiliza nesses quadros naturais.” (O desenho € para nés, espirtos racionais, um signo humano por exceléncia: se vemos o peril de um bisio devenhado na parede dda caverna, sabemos logo que um homem passou por ali. Mas se Jum sonhador acredita que a natureza é artista, que a natureza pin- ‘twedesenha, nio poder ela esculpir tanto a estétua na peda quanto ‘moldé-la na carne? O devaneio das potdneias intimas da matéria ‘chega a esse ponto no espirito de Fabre (p, 305): “"Vi nas grutas cecavernas da terra, na regio de Languedoc perto de Sorége, nt ‘ma caverna chamada em linguagem vulgar de Trane del Cale vestfgios das mais perfeitas esculturas e figuras que se poseriam desejar; os mais curiosos podem ir vé-tos, cles verao inseridas pre sas nos rochedos mil espécies de figuras que encantam o olhar dos espectadores, Nunca um escultor entrou la dentro para tahar e cin 2clar imagem... Isso nos leva a erer que a Natureza € dotada de dons € ciéncias maravilhosos que o Criador Ihe concedeu para sa. ber trabalhar diversamente, como ela faz em todo tipo de maté Flas...” E que nio se vé dizer, continua Fabre, que isto € obra de deménios subterréneos. Ja passou o tempo de acreditar nos gno- ‘mos ferrciros. Nao! cumpre render-se & evidéncia e atribuir a ati Vidade estética as proprias substincias, as potenciasintimas da. ma téria (p. 805): "Sao substincias suis, celestes,fgneas aéreas que residem no espirito geral do mundo, que tém a virtude © 9 poder dc o dispor em todo tipo de figuras e formas que a matéria pode desejar; (As vezes) fora do género e da espécie em que a figura se encontra normalmente, como a figura de um boi, ou de um outro animal que se possa imaginar, em marmores, pedras ¢ madeira: essa figuras dependem da virtude natural dos espiritos Arquitet6 nieos que estio na Natureza.”” E Fabre (p. 307) cita 0 exemplo — que encontramos varias ‘vezes em nossas leituras dos livros alqumicos — da raiz de sama bia que, talhada como um pé recurvo, reprodus a figura da Aguia romana. O mais desvairado dos devaneios reine entio a samam- DEVANEIOS Da LVTIAIDADE MATERIAL 25 2 guia, © império romano: da samambaia & éguia a corres- ncia permanece misteriosa, mas para o nosso autor isso dei- ‘elagdes ainda mais (ntimas: ‘a samambaia deve fornecer As iguias um grande segredo para sua sade”. Quanto ao império romano, culo est claro: “A samambaia cresce em todos os cantos ‘mundo... a8 armas do império romano encontram-se espalha- por toda a tera.’” O devancio de decifragio herdldica encon- ‘seus signos no menor esboco. ‘Se aceitamos textos tio deliantes, imagens tio excessivas, € ue encontrammos formas atenuadas delay, diseretamenteativas, autores que com toda a evidéncia nZo foram influenciados por fos de alquisnistas e nie leram of velhos formulévios de magia. 6 ter Tido a pgina sobre a raiz da samambaia num autor do slo XVII, nfo nos espanta reconhecer a sedugaio de semelhante Jem em tm autor t30 comedido como Carossa. Lé-se em Odow- fuer near, Cesar re, ser acanuino. o, xi Ese cl ess (edo cnn en deal ann, x lan coe, o ama ore met ere to ferme" (Lar Sra, p23) Vers, cam massa, sn px tia paar lice a ape sb corpen de Joss 50 A TERRA E OS DEVANEIOS Do REPOUSO forma-a insensivelmente numa luta entre a igua e 0 fogo, depois ‘numa luta entre o feminino eo masculino, Victor Emile Michelet fala ainda do “‘amor do dcido pela base, que a mata e que se mata para fazer um sal” © homem saudivel, para Hipéerates, € um composto equi brado da fgua © do fogo. A menor indisposicao, a Inta dos dois elementos hostis recomega no corpo humaino. Um surdo contlite ‘manifesta-se ao menor pretexto. Astim paderiamos inverter a pers Pectiva e preparar uma psicandlise da sade. A luta central seria captada na ambivaléncia do animus e da anima, ambivaléncia que instala em cada um de nés uma luta de principios contrérios, Sto «esses prineipios contrérios que a imaginagio recobre com imagens. Toda alma iritada leva a discGrdia a um corpo febril. Esta entio dlisposta para ler, nas substincias, as imagens matetiais de sua pr pria agitacio, ‘Aliés, para os letores que nao quiserem sonar tao longe, bas- tard meditar sobre os deidos “fortes” © os icidos “fraeos” para ter um estoque de imagens dindmicas que do vida is lutasintesti> nas, De fato, toda luta € dualidade — em virtude de um postulado simplificador das imagens dindmicas. Mas, reciprocamente, pars a imaginagao toda dualidade é luta. Para a imaginagio, toda subs tncia fica necessariamente dividida assim que deixa de scr clemen tar, Essa divisio nfo é plicida, Arsim que a imaginagdo se refina if no se satisfaz com uma substincia de vida simples e uniforme ‘A menor desordem imaginada no interior das substineias, 0 sonar dor julga-se testemunha de uma agitaeao, de uma lita pérfia, ‘As imagens materiais da intimidade em conflto encontram apoio tanto nas intuigées vitalistas quanto nas intuigdes alg as. Obtém uma adesio imediata ‘da alma géstrica’™. O psicana lista Emnest Fraenkel teve a gentileza de nos enviar as paginas nas ‘quais estuda a instincia digestiva sob o nome de alma géstrica, Ele ‘mostra nesse estudo que a alma gastrica é essencialmente sidiea, acrescenta: “O sadlismo géstrco é 0 do quimico que expbe a sua vitima ao efeito de um Acido que queima.” ‘Quando se compreendeu como funciona a imaginagio pessi- ‘mista que insere 6 tumulto no Amago das substincias, I-s¢ com ‘outros ollos piginas como esta em que Friedrich Seblegel explica, ro século XIX, a nuvem de gafanhotos como a eriagie direta de um ar tumultuado, O gafankoto entio uma substancia de mal A IVTIMIDADE EM CONFLITO SL “ ton Se aca vii: “Que der dessa enxames de gaan algo mais que uma cragio dona de wm a tneeado por 3 fms elementos contagionseexndo con dislugdo? Que oar ea ftooaferasjam dtados de vida, e mesmo de uma vida muito s- Gi éuma cou que suponho aceita no eco ser ass content Geel Gue case mesmo ar € um compost conf de foras contra, im que osoprobalsmica da primavera lua contra o vent abr Sador do deseo conta ox miasias contagion de toda eapécic Deincnos eno a imaginaciotrabalhar compreenderemos que @ miasma aumenta até produto gafanhote Ext inseto que con Segue serao mesmo tempo verde e sco — sintse de qualidades fhateriamcntecontadtgriag’—~ & uma materia terceste prodie Zida no prprio ar pels orgs mgs de uim Budo pericioxe Evidentment,iearlamosbemembarseadosenforncer Om para sustentar oma tor argumento ojo a menor imager rl fe Schlegel. Mas nto alta argumentossubyton. Basta dar Hore furs himaginagio material A tmaginagiodinica, it 6, basta festa imaginagdo nua fang priméra, no linia da palayrae do pensamento, para sentir animaizareme ox uldosperniions Gevém runulunre agar ss subidncnr loves, Quando aime: regio devolvidad ua ung vital que valoriar as roca mae Faiscntreohomemeascoisas, quando€ verdadeiramente ocomen- taro igurado de nots vida orginiea en a higiene encanta na ulna, pars er corm pa Goma, Arespitaioover fore apiraa ples pulmies um a que A maar diosa dear pu, dra Bost david, um a Sor via Aa tn porn aha ar Ao", conformealocuo ants venes empregada pelos poctas que dlescavelveram o toma dostaniamo dos maus odors” Desde et- to, dua sbstincas, Dose a md, esto em lta no ar. Compreende-se entao a intuicio de Schlegel, imaginando no préprio ara aco de dus foras contrdris que produzem o bem {Coial, a pas ou a guerra as alegron das colbitas ou os gels, TSF pope de i 1 26 4, Nowe dsaasiorSo mul oserd€ agi, Cogn ido se son foto tat (ope Lig ie ne ft) Pow Ss Para Du Baras, Sai "Esse Revoltado, Rei cos arcs mais pesacon” (Let foo) 92 A TERRA E OS DEVANEOS bO REPOUSO 4 (0 soptos balsimicos ou os miasmas. Assim © quer uma sensibili- dade & vida que tora vivase vitais todas as matérias do universo. ‘Deste modo o sentir é reintegrado no pensar, como queria Solger! Mas jé que tomamos por regra assinalar de pastagem todas as relagoes entre os salores substanciais as falavat, na esperanca de juntar pouco a pouco os elementos de urna imaginagao falada, vamos fazer algumas observagies sobre a desvalorizagae estitemen te lingistica dos valores substanciais Ha palavras anti-respiratérias, palavras que nos sulocam, pa layras que nos obrigam a esgares, Elas escrevem nossa vontade de recusa em nosso rosio. Seo fiésofo se dispusesse a recolocar as pa Javras na boca ao invés de converté-las precipitadamente em per samentos, descobriria que uma palavea pronunciada — ou simples ‘mente uina palavra cuja proniincia se imagina — é uma atualiza so de todo 0 ser. Todlo 0 nosso ser & deixado tenso par uma pala vras as palavras de recusa, em particular, comportam tal sincer dade que nfo podem ser subjugadas pela polides. ‘Vejam, por exemplo, com que sinceridadle pronuncia-s a pala- ‘yramiasma, Nao & umaespécie de momatopéiatmidada repugnincla? ‘Uma golfada dear impuro éexpelidaea boca se fecha em seguida com energia. A vontade quer ao mesmo tempo calar-se e nao respiat ‘Assim também, toda a quimica do séeulo XVIII designa por ‘mafetas os gases das reacdes nauseabundas, as exalagies das minas. ‘A palavra traduz uma imaginagio mais contida, mas que opera no mesmo sentido que os miasmas, ao designar as substincias da ecomposicao. As mofetas sio muxoxos eruiitos. Esse realismo psicolégico da palavra falada confere de certo ‘modo um peso ao mau ar respirado. O Buide aérea fica entao car- regado de mal, um mal polivalente que resine todos os vicios da substincia terreste; 0 miasma adquiriy toda a podridao do pinta xno; a mofeta todo 0 enxofte da mina. O ar do céu nao podria ex- plicar tas vilanias. Para isso € preciso uma substincia perturbada ‘em sua profundeza, mas sobretuda uma substdncia que possa subs EGE Miaaice Bours, te, Paris, p69 9 Taiver fone interessane mar apt grande ecto quando pronuncie: pea tam mon ree se 1" [Um inp odor de lor me ences] nen i “A ANTIMUIDADE EM CONFLITO 53 tancatizar a perturbngi, Todo oscil XVIIteve me das max teras de bre, das mmrias de pesiléncia, das matéria 0 pro- fundamen perturba que pertarbam 20 mexm tempo 0 ui wero co homen, 0 Cosmos co Microconmos, Para 0 abade Ber thon ep ete) Geman tas prjudicam tatoos fendmen eltricos quanto os fendmenos Ait, Vapors deetériosntredanense nos centos das ub {las elhes razem seu germe de mote, 0 proprio principio da de "Mtesmo um conceta ti pobre como o canon de dense, conceto que para un esta raconal oj aalmente tore th, pode spareer em urea perspctiva de ntwendo, Poems a fim ca cacmplos em que inaginamos a aro de wma verdadcira ath de dear O ser, cxtumsse rept, exh mines por dene fro Mas cc aniqulacto iima, a iaginag a designa como ua Substincin av, como vm ito, como am venen Em suma, &maginago substancalia a detruig, Ela no Pode saisfarc-se com uma demoligh, coon um degane exterior. Buncanescrcve co 1682: Ante ida de que os corps mai du os acaba por ve deagstan exe mito no denja ques aie implewment oto. Pretec imagina a aio do Sel ox "ape fuowidade de uma matéia stl que passa rapiamente polos poros de todo os corps abalThesgunsvelmente a partes" E Rerescenta, pasando do dogmaisino ces, como faze em ge falaqueles qu substucm tna imagem por outa: "Os pets sto ts icon que acuarno tempo dens dstipagao gral qu aides fhstando aos pouces ov corpos mais dros” Vv Como exemplo de substincia infliz, poderiamos evocar im ‘eras pginas em que os alquirmistas tornaram viva a imagem ma- terial da morte, ou, mais exatamente, uma dissolugdo materializa dda, Ainda que os trés prinespios materiais de Paracelso, 0 enxofre, ‘© merciro ¢o sal sejam normalmente, como expusemos em nossa ‘obra anterior, prineipios de unio ¢ de vida, eles podem sofrer Baa te 1 denis de wade xp. 1X), 54 4 TERRA F 05 DEVANEIOS DO REPOUSO tamanha perversio fatima que stormam os prinepios de uma moe te que dimalveo proprio interior don clementon Esse materaismo da morte muito diferente de nossa nogio lara das was da morte, Muito dren lamb da peronifen fo da Morte. Decertooalquimista, como todos os pensadores da lade Média, treme ante a epresentaocs smiles da Morte. Viva Morte misturarsae aot vivox na danga macabra, Mas eas imagens de esqueletos mals ou meno velados no encabre comm pletamente wn devancio mais eceto, mais substan, em que ‘homer media sobre wma dso carnal ava. Ento ie no teme apenas as imagens do equelto. Term med das larva, tem medo das cinzay, tem medo do ps. im se laboratrio ha rt ‘os procedimentosdedisolugdo, pla gua, peo fog pelo slmo- fais, para no imaginar que ele proprio se torard ums substan cia sem figura. Vamos alguns rag dees temores sbi, Nex os semtiremos tanto mais atvon quando reunirmos mais eat ‘mente como no tempo da aqui, as realidad do Cosmos a5 realdades humanas do Miraconmos ( saradal que ex nossa care liga ofogo da ala 4 uid de radial do corp, pode deliger-se, Endo a mone penetra na propria substincia do ser. A doenga j € uma morte parca, ne Subincia mérbida. Asin, die irre-Jean Fabre®, mort emt sua “subsséncia real e material" em nosso corp saltedor. Fabre desreve em deta avis que atortacmar subs tinciag, que pertarbam as ais slidassabstncias. Ao esol tal optcmse ot enol aninaturais. “Arsénicos, Realgares, Ouro-pgmentos, Sandéracas — que Wo alesandeino! — ado desea espécte. iy Assim também, todas as “pegonhas quentese fgneas, sejam ‘las celestes, aéreas, aquiticas ou terrestres", sio matérias de febe. _Demesno mado; 0 “mereio de more" comeca jem now sa vida sua obra de dissolucio: E 0 “‘inimigo principal do sal de Vida, contra o qual trava abertamente a guerra’, “carrompendo, podrecendo € destruindo a solidez em todas as coisas, tornando 15 moles ¢ iguidas". Submerso por esse meresro fia, o ser alogarse intimamente. “Tngerimos a ebre cm noasos logue quar diz Rimbaud. f in ‘ TO, Pieesean Fabre, Avda mis, Pats 1636, p91 INTIMIDADE EM CONFLITO 55 ‘Manifesta-se assim uma Contra-Natureza que luta contra a wreza¢ essa luta & intima; desenvolve-se no seio das mais sl substincias. ‘Para bem compreender a natureza dessa contra-natureza fn- ‘eumpre retomar todos os sonhos de intimidade do alquimis- ‘Em primeiro lugar é mister lembrar que o mineral tem uma fda mineral, eem segundo que essa vida mineral, desde Paracel- 5 estudacla em suas ages sobre a vida humana. O corpo huma- (omow-se tum aparelho de experiéncias, uma retorta, uma for fade alquimista, E-nesse recipiente humano que devem ser fei- “tas as experiéncias mais interessantes, as de maior valor. O alqui- bbusea antes o ouro potvel do que o ouro em barra. Traba- lantes nas metiforas do ouro do que na realidade do ouro, E "as maiores metaforas, Aquelas da juventude, que cle atribui na- Imente os maiores valores. ‘Até que ponto entio esses valores devem ser frégeis? Se uma dancia quimica dé provas de seu valor supremo como remé- “dio, de que traicio ira revelar-se eapaz? Se o remédio age oliqua- , €eleo responsivel por isso. Nao se incrimina o corpo huma- fenfraquecido. No meredrio da pocao infiltrou-se um mereirio 'yenteno!. O enxofie de vida é pervertido em enxofre de morte ‘que umn “reanimante" trai sua missio, assim que umm ouro ivel j4 ndo transinite coragem ym coraco combalido, ‘Assim a intimidade corporal do homem participa da determi- 1acdo dds valores minerais. Ninguém deve se espantarse a contra: -natureza das substancias se manifesta Aumanamente, E-no homem ~ e pelo homem que a natureza se determina em contra-navureza ‘Para muitos alquitnistas o principio material de morte foi mistura- ~ do.com os principios de vida no momento do pecado original. O _pecado original pbs a verme na mac, € todos 0s frutas do mundo, "em sua realidade © em suas metéforas, ficaram estragados. Uma | matéria de ruina infltou-se em tudo. Dai em diante a carne € uma falta em seu proprio ser Wi Alf Jarry, spits, El, Charpentier, 1911p. 280. A lingua "rina com pic a vertesconagrada pela experiencia, mas ab long do Ae itr hci nic conic po oe a ne, | stmteronataicon ods polos devm tne’ denon pina [ven] € | Ft [poca. pner pope tere fot oped pela mio as ala Pars design a Grogan que no use toa tos sds 56 A TERRA & OS DEVANEIOS DO REPOUSO A carme jf € wm inferno material, uma substincia divi, perturbada, constantemente agitada de confts, Essa cared in ferno tem seu lugar no Inferne, No Inferno diz PierreJean Fabre (ep it, p- 94), exo reunias “todas a8 docngas”, mais eormo ma {Gris supliiadas do que como suplicios, Af eina "ama mistura € um cags de misériasinimagindveis” © infer da substincia & Precisamente uma mistura de enxofre antinaural, de umidade alia e de sal corrosiv. Todas as forgas da betiaidade mineral = tam nessa subtincia de informa, Com essa substancalzagao do mal ‘vemos em agio estranhos poderes da metifora material. Tratase realmente de imagens abittarconarta;contém em intensidae 9 que no mais das vezes se descreve como imensidade, Ela vsarn © vento dos males, connie os sofementos. O Inferno figurado, © Inferno com suas imagens, o Inferno com seus monstros fa ito para angi aimaginagio vulgar. O alquimista, em suas meditar Ges © em suas obras, acrdita ter isoado a substincia de mons- trunsdade, Mas overdo alguna € um epi elevada, Dei ads fetceiras a tarefa da quintesséncia do monsinuoso. Por sua “cea sia bala noe eno anima veel Han nhece a inimidade maior do mal, a que se insere no mineral per- vertido, - am v Mas nao chegarfamos o fim se quiséssemos estudar em deta Ihe todas as imagens da diseéedia imima, todos os dinamismios das Forgas que nascem da divisio do ser, todos os sonhos da originali- dlade revoltada que faz com que o ser nfo queira mais ser © que €. Nestasrpidas anovacies, desejariamos apenas indicar a profun didace de uma perspectiva que se designa como um pessimism dda matéria, Querfamos mostrar que 0 sonho de hestilidade pode adquirir um dinamisino «o intimo que provoca, de uma maneira paradoxal, a divisio do simples, a divisio do elemento, No inte Flor de qualquer substincia, aimaginagao da eélera materializada suscita a imagem de uma contra-substincia. Parece entao que substincia deve se manter contra uma substAncia hostil, no inte rior mesmo de seu ser. O alquimista, que substancializa todos os seus sonbios, que raza tanto seus fracassos como suas esperancas, pape EM CONPLITO 3 assim verdadeirosantielementos, Tal dakticaj no se con- com as oposigesariattclicas das qualidades — quer wma das Forgas igadas as substincias. Em outraspalavras, eon 0s primeiros sonhos, aimaginasio dialética j& no se sa- feom as oposigBes entre a gua e fogo — quer a discérdia tai profunda, a discrdia entre a substincia eas suas qualidades. ‘As imagens materiais de um fog fri, de wma dgua see, de um sol ends as encontramos sequidamente em nossasleituras de al _quimia, Elas x formam também, mais ou menos explicitas, mais Gurmenos concretas, nos devaneios materiais dos poets, Indicam tima vontade de comtradizerinicialmente as aparéncias, depois de “steyurar para sempre esta contradigio mediante uma disedndia “intima, fundamental. O ser que segue tis devaneios, segue em pri= tito lugar uma condste de erigvalidadedisposta a enfrentar todos “osdesafis da percepcio razodve, depois torna-se a presa dessa ori- “ginalidade. Sua originalidade nio & mais do que um processo de “negacio. ‘ © A imaginacio que se compraz com tais imagens de oposicio “radical enraiza em si ambivaléncia do sadismo e do masoquis ‘io. Sem divida essa ambivaléneia 6 bem conhecida dos psicana- Tita. Mas cles quae x8 estadam 0 seu aspect afetvo, as suas rea~ ‘fie nocias. A imaginacio vai mais long: cla faz filosfia, deter~ Jina umn materialismo maniquesta, era que a substincia de cada “coisa tormacae 0 lugar de ara Iuta renkida, de wma fermentagio “de hosilidade. A imaginagao aborda uma ontlogie da Ida em que (ser se formula em uum contesi, wotalizando 0 algoz e a vitima, lum algoz que nio tem tempo de saciar-e em seu sadismo, urna "ikima-a quem nio se deixa comprazer-se em seu masoquistn0. O | _Fepouso énegado para sempre. A propria matéria nfo tem direito ‘Isso. Afirma-se a agitagio intima. O ser que segue tais imagens | conheee ent um estado dindmico que & inseparavel da embria- ier: é agitagio pura. E formiguie puro vi ‘Um dos grandes fatores de agitacdo fntima entra em ago 8 ‘mera imaginagio das trevas. Se pela imaginacio entramos nesse espago noturno encerrado no interior das coisas, se vivenciamos ae 38 “A TERICA & OS DEVANEIOS Do REPOUSO verdadeiramente asuaescuridio eereta, dlescobrimos ncleos de in Felicidade. No capitulo anterior deixamos.a imagem do negrume se- «reto do leiteem sua placidez. Mas la pode sero signo de perturba- «Ges profundas, eeabe-nos agora indicar brevemente o carter how tildesemelhantes imagens, Se pudéssemos reunir e classificar todas imagens neras, as imagens substancialmente negras, constituiria- ‘mos, assim acreditamos, um bom material literdtio suscetivel ded plicar o material figurad da an‘lise de Rorschach, Conhecemos pes soalmente tarde demais 0s belos trabalhos de Ludwig Binswanger ‘ede Roland Kuhn sobre a Daseinsandliseea andiserorschachiana, Nao poderemos utilizé-los a nio ser em outro trabalho. Limitemo- ‘nos portanto, neste final de capitulo, a algumas observacbessusceti- vein de indicar a orientacio de nossas pesquisa. Entre os dez cartdes do teste de Rorschach figura um amon: toado de borries escuros intimos que causa freqientemente “0 cho- que negro" (Dunkalichoc), ou seja, desperta emogaes profundas. Assim, um tinico borrao preto,intimamente complexe, quando so- ‘nhado em suas profundezas, basta para nos colocar em siaaco de frees. $6 se espantatdo com tal paténcia os psicdlogos que rect acrescentar & psicologia da forma uma psicologia da imaginagio sda matéria. O ser que segue sonhos, sobretudo o ser que camenta sonhos, nfo pode permanecer no contorno das formas. Ao menor pelo de uma intimidade, penetra na matéria de seu sono, no ele~ ‘mento material de seus fantasmas. L2, no borrio preto, a paténeia dos embrides ou a agitacdo desordenada das larvas. Toda treva & ‘luente, logo, toda treva 6 material. Assim funcionam os devaneios ‘da matéria notura. E para um auténtico sonbadar do interior das substincias, um canto de sombra pode evocar todos os terrores da Muitas vezes, prosseguind nosso trabalho solitrio nos livros, ‘nvejamos os psiquiatras a quem a vida aferece todos os dias “ea 03" novos, “'individuos”” que vo procuré-los com um psiquismo complete. Para nés, os “casos” slo pequeninas imagens encontra- ddasno canto de uma péigina, no isolamento de uma frase inespera- dda, sem o entusiasmo das descrigbes do real. Contudo, apesar da raridade de seus €xitos, nosso método tem uma vantagem, a de nos colocar ante o problema tnico da expresso. Temos portant o meio de fazer a psicologia do sujet que se exprime, ou melhor, do su Jeito que imagina sua expresso, do sujeto que aniolda sua responsa 9 I fase Nts Bleed cunts caked ae Boe eeti fore, pincocs nz mania ent esp ne Da hoods cant pr xan peice BO 6 wr tear do unncos rea iertaco do ee eres ese ge crn nr ne mp eet ca tees wen cen ie De sic Sc catontnear cles de Lad Rc a oe me cea ee RM ace hs biel at oo aon pees, Bsc akon koe miaat Be cence pecs. acces erases tere ee eee Pi rnin Sages ma anata see cinntnca cotinna, Oy tcc esl BS csercins ttes oicicnnre ‘T6i nas batalhas da matéria, entraria na luta dos negrumes int Be inc we Sonor ee ces ca pa ede aac, Veco tr ap mk eon sc voain ae note Vemma gr sao feliz CAPITULO HIE ‘A IMAGINACAO DA QUALIDADE. RITMANALISE E TONALIZACAO esas Mien ie tin, 9 Todas as descrigdes psicoldgicas relativas 3 imaginacao par tem do portulado de que as imagens rgproduzem mais ou menos fielmente as sensagdes, © quando urna sensacKo detectou numa subs- Ania uma qualidade sensivel, um gosto, um odor, uma sonorida de, uma cor, um polimento, uma forma arredondada, nfo se vé them como a imaginagiio poderia ultrapastar essa ligio inicial. No ‘eino das qualidades, a imaginagio deveria enti limitar-e a co ‘mentirios, Em. razo dese postulado indiscutido, chega-se a dar ‘0 conkerimenio la qualiace um papel preponderante e duravel. De fiato, todo problema colocado pelas qualidades das diversas subs tincias 6 sempre resolvido pelos metalisicos, assim como pelos psi «élogos, no plano do concer. Mesmo quando se delineiam temas existencialista, a qualidade conserva o ser de um canhecido, de um prrimentado, cle wm vivid, A qualidade € aquilo que covtecomas de luma substincia, Por mais que se acrescente a esse conhecineno (0 das as virtuces de intimidade, toda o frescor de instantancidad descja-se sempre que a qualidade, ao revelar um ser, 0 laga conheer Eorgulhamosnos de nossa experiéncia de um instante como de um 62 A TERBA E 0S DEVANEIOS DO REPOUSO coniecimeno indestrutivel. Transformamo-la na base dos recone Imentor mais seguros. Assim o gosto e suas lembrancas nos foram dados para que rconhamo: nossos alimentos. Enos maravilhamos, como Proust, da deliciosa fidelidad das mais simples lembrangas ligadas deste modo, em profundidade, & materia, Se agora, na alegria de saborear a frutas do ano novo, pres- tarmos a nossas sensagies uma homenagem exuberance, se imagi rnarmos todo um mundo para enaltecer um de seus bens, daremos a impress2o de trocar a alegria de sentir pela alegria de falar. Pare ce entlo que a imaginasdo das qualidades se coloca imediatamente A margem da realidad, Sentimos prazeres eos transformamos em ccangdes. A embriaguez lirica se apresenta apenas como una paré- dia da embriaguez dionisiaca, [No entanto, essas objegies tio razoéveis, Ho cssieas, nos pa recem desconhecer o sentido ea funcSi de nossa adesio apaixona. dda Bs substncias que amamos, Em suma, a imaginacio, a nosso ver, inteiramente positiva e primaria, deve, quanto a0 tema das qualidades, defender o existencialismo de suas iusées, 0 realismo ide suas imagens, a propria novidade de suas variagies. Assim, de acordo com nossas teses geras, devemos colocar o problema do valor imagingrio da qualidade. Em outras palavras, a qualidade para nds 6 accatiio de tao grandes valorieages que o valor pasrional da qua lidade ndo tarda a suplantar 0 emfecimento da qualidade. A manei- +a pela qual anamor uma substincia, pela qual Ihe eralcemes a qua Jidadle, manifesta uma reatividade de todo o nosso ser. A qualida- de imaginada nos revela a:nds mesmos como sujeito qualificante. Ea prova de que o campo da imaginacio abarca tudo, de que ul ‘trapassa em muito o campo das qualidades percebidas, éque a rea- tividade do sujeito se manifesta nos aspectos mais dialeticamente ‘opostos: a exuberdncia ou a concentracao — o homem de mil ges- tas de acolhida ou o homem reeolhido em seu prazer senstvel ‘Assim, a0 abordar o problema do valor subjtivo das imagens dda qualidade, devemos nos convencer de que o problema de sua signifagio deixa de ser © problema principal. O valar da qualidade esté em nds verticalmente; ao contro, a sgnifiagda da qual de esté no contexto das sensagiies objetivas — horizomtalmente, Podemos entdo formular uma revolugio eopernicana da ima- ginagio, restringindo-nos cuidadosamente ao problema psicoligi- co das qualidades imaginadas: 20 invés de buscar a qualidade no ucivacdo bs Quatinane = Bp objeto, como. signa pofundo da subse, sed preciso Papa alas ital de mic que se envalve a fund taqullo vic © Ascorresondéncisbaudeliianas nos havin eninado a. 20 Bees quaisiaces corespondents a tio o sender, Mau clas Hcscavelvcm no plano das signage, em una smalera ce I Gram lors di qelitnen eagitnare 36 Bir clntes bmailarina recent lens conmciencian pica mais profundas, mals dlasimuladay, mas deve tain Peter wn ecarvl fereibarte,ousno, Gio de fens ores consciencsorgiicase easter eave, ac Pebocnscorem ovaro dover ida rareepecvas, ue Gok Bajwa wide da corners atte quo ria dos ies do aceato, "Quando a feiciace de imaginar prolong a felicidad de en- Ba ronlidndepropocow como urna ncutalaco de valor No Beer anapaco, var porabacs nas var’ tanga bel Besta por tos co nour erinion dere war matizar salem do setdo que esd mals manifewamnenteenvolvido. opegreds das correspondncias que nos convidem A vida ml Bie 8 vida roetafrca As enoarbes no so multo male do que faces ocasionais das inages lade, A cour dla de ina rejects acre’ partner Ca diae as Tunches que invocanos not livros anteriores, dirfaros de fin grae que Janie d ra €2faneZo que damien verdad Bimente 0 priquismo, 20 passo que a funcéo do rel & uma funcio sc rvs fours Ge ibaa us gas qe eke Dien ce moc a dares um simples valor de igo. Vemvon por ante gu av lad dos dada neato da sonagao & precino cons ee eee © Onde € ponte! acompanhar melhor x sedos0 do eal do sce so dn scm mcd, rn | Tad ner? oe Para una consctacia ques exprime,o priv ben & wna Si isesern, cox grandes valores dessa imagem cxto em sm propria pres ; : Ui concn gue eprine! Haves ora - zk 6 A TERRA # 08 DEVANEIOS Do REPORSO u -ados valores anima a imeginapdo das qualidades, JImaginar uma qualidade é dar-lhe um valor que ultrapassa ou com tradiz o valor sensivel,o valor real, Dicse prova de imaginagio a0 refinar a sensagio, ao desbloquear a grosseria sensivel (cores 08 Berfimes) para realgar os marie, on buguts. Busearse Ove no Talver ess filosofa se torne mais clara se colocarmos 0 pro blema da imaginacio des qualidades a purr do pont de vate da ‘imaginago ltr, Facmenteterergos exempls em gue im en, tia €exeitado por um oxtro sete. As veves um subwantiv seek sensibiizado por dois adjetivos contrrion, Com eft, para que serviria, no cino da imaginacio, o substantive provdo'de wins. ietivotico? O adjtivo nfo seria entio imeditamente abworvido Belo substantivo? Como resistin essa abwotgi? Faro adjtve Snico outraeoisaalém de sobrecarregaro substantive? Dizer que tm eravo € vermelho é apenas designar o cute eomdl. Una i sa rica dia isso em uma dines palavra. Diane de um cave ver. amelioseré preciso portant mais do que a palava crvo ea pala va vermelhoreunides para radir a estidéncn de et oor ver= meh. Quem nos dr ea brutldade? Quem far wabala, day te dessa flor audaciosa,o sadismo eo masoquism de nos mag nagao? — Odor do cam semalo, do cravo ue nto pose set Ig ado, nem sequer pela visto, eit um odor de diretareatividade 6 precio faaélocalar ou amo ‘Quanias ves 0 homem de teratura buscou aproximar os ter: anos de remota antitse até converté-tos no privilege dos qualifcn tivos que vém se contraizer em um mesmo nome! Por exer, sum tvro que soubeanimartodas as personagene com amas ex ta ambivaléncia picldgica, emi que todos os incidents ¢-—- como ‘eremos — as préprias palavras faze vibrar eon embivalonci, Marcel Arland (Eten, p52) ouveunnajovem cantar com uni ‘voz alinada uma romanga meio ingénua, mci obseen, A manera das velhascamponesas™ E precio ma ral destezapsicelégin para manter equibrados, cada qual em seu melosentian, os doit Activa que o esertor pde aq lado a lado: meio ingen, meio abscena. Sobre nuangas tio mits e tio mobilcadas, «pricandlise correo rsco de ser demasiado dogindtica, Nao demorard em de gKAGAO DA QUALIDADE ry tuna fla ingeidde, 4 menor alusio meio obsena, jugar jorizada a desvendar tados os subentendidos, Oescrtor no sg; afirmou uma reserva de inocncia, uma raz ainda vi ade Fresca ingenuidade, Cumpre acormpanhé-lo e perceber plibro de suas imagens, cumpre eacutar a jovemn que canta tums voz afnada uma velha cangio, Teremos entso a oport- lede viver uma rimandlise que consege resttuir duastenta- contrrias em uma stuagio em que ser equivoco expres ser equivoco, como o ser de dupla expresso, | Mas ndo podemos nos extender sobre um examie das qualida tmorais, que nos daria Go facilmente exemplos da dep exe 9. Nossa demonstracio ganharé em se concentrar nas qualidades teriais, na imaginacao tonaizada das duas qualidades contra vinculadas a uma mesma substancia, a uma mesma seneac, © Por exemplo, em La gounande [A gua}, Eugene Sue nos des. sum cnego comenda ovos de galinhad angola fritos na go de codoma, regados com cal de agostim © feliz comen bebe “urn vinho ao mesino tempo seca eaveludado” (ed. 186, 252). Certamente tal vinho pode revelar-se seco em seu ataque sfvel e depois avludado 3 relexao. Mas o gourd faz questo “deer: “Este vinho! Como € vaporoso!” Que se vejn lig, neste plo, o carter realizante das metiforas; sob os dedos, as cok seas ¢ as cosas aveludadas se contiadizem ieplacavelmente, veludo dspero desmentiria seus valores comerciis. Mas trans ios do pobre sentido do tao para a8 riquezas do pala, eis ‘ue os adjetvos se tornarao toques mais delicados. O vinko "es ‘ito tem sutras inverossimets. Daremos outros exemplos, ue ‘serio nto mais demonstratives,areditamos, quanto mals x ala farem da drea sensivel. Contradigies que setiam intoerdveis em Seu primeiro estado sensiveltomam-se vvas em uma ransposio Para outro sentido. Assim, em La canne de arp [A bengal de js- Bel, Henri de Régnier fala das algas “pegajosas elisa” (p. 89) ‘O tat, sem a visio, nao associaia esses doi adjetivor, mas aqui -Avisio € um tato metalsico. ‘Um grande escritor da qualidade visual como Pierre Laisa "be partir de uma grande contradigio entre a liz e a sombra e tor ar mais sensvel esa contradigao diniauinds le a expressio. Por xemplo, tendo acabade de nos mostrar “Tuzes ers, batendo em Brandes sombras duran’, cle faz ese chogue resoar em wma "gu 66 4 TERRA 6 08 DEFANEIOS bo REPOUSO ‘ma dos cinzas ardentes e dos marvons avermelhados”. Davao cin za um ardor incsivo, despertar um leitor perdido no einzento de sua leitura, cis um domfnia na arte de escrever. Os cinzas ardentes, de Loti sio os tnicos cinzas verdadeiramente agressivos que en em minhas leituras (Fleurs d’mau [Flores de tédio, *'Sulei- p. 318). ‘Vejamos um outro exemplo em que um som étrabalhadl dia- leticamente pelas interpretagBes imagindrias, Quando Guy de Ma passant escuta o rio que corre invisivel sob os salgueiros, “um grande rufdo irado e doce” (La petite rogue, p. 4). A dua res ‘munga. Trata-se de uma censura ou de um som? E essa suavidade de murmario sera verdadeiramente hog? Sera uma vow campestre? E no caminho escavado ao longo do rio que se passa o drama des erito pelo escritor. Todos os seres do mundo, todas as wzes da pai sagem em uma narrativa bem feitatém, para o homem imaginan- te, uma pars familiarise uma pars ostils, como as visceras das vi ‘mas examinadas pelos ardspices. O manso rio exprime, nesse dia, as ansiedades do crime. Entao um letor de lenta leitura pode so thar no detalhe mesmo das frases. Ai também, entre docura rabu- Jenta © ira afetuosa, pode ritmanslisar impresses que seriatn ble- queadas por observacées unitérias. O verdadeiro psicSlogo encon- lrard.né corago humano uma unio dos contrétios afetivos que ‘modificard as grosseiras ambivaléncias, Nio basta dizer que o ser apaixonado é movido ao mesmo tempo pelo amor e pelo iio, € preciso reconhecer essa ambivaléncia em impressoes mais contidas, Em Le vot mor (O vento negro}, por exemplo, Paul Gadenne mal tiplicow as exatas ambivalencias. Num capitulo, um de seus herdis pode dizer: “Eu sentia em mim tanto dogura quanto violencia,”” inteserarissima, mas da qual o livro de Paul Gadeane mostra to- da a realidade. ‘Cumpre portanto bem distinguir em literatura entre 0 adje~ tivo quese limita a designar mais precisamente um objeto eo adjet vo que envolve a intimidade do sujeto. Quando. sujeito entrega Se por inter as suas imagens, le aborda o real com uma vontade «te arspice. O sujeto vem procurar no objeto, na matéria, no cle= ‘mento, adverténcias ¢ conselhos. Mas estas vozes nfo podem ser claras. Conservam 0 equivoco dos argeulos. Por isso esses peque= nos objetos oraculares tém necestidade de uma pequenaa contradi- ‘fo de adjetivos para nos falarem. Em um conto que & considera pwagio Da Quatinane 6 ‘varios motivos, inspirado em Edgar Poe, Henri de Rég: ‘record & vor cujas slabas “eram o choque de um cristal lim- ‘enoturno" L{mpido e notueno! que tonalizaco de uma me= ‘pregnante e doce! Uma profundeza mais, € 0 poeta, pro seu devancio, evoca, captando a limpidez.ea sombra no- 3s, "uma fonte nun bosque de ciprestes”, o que pessoalmen- vi, oque adoraria ver... Sim, eu sei por que, naquele dia, -consegui ler mais. 1 | Mas a energia das imagens, sua vida, nio provém, repetimos, cipets. A imaginae €sobretdo o jel onalisdy, Pare ss tonalizagao do sujeito tem das dindonica diferentes, con- ocorra em uma espécie de tensa de todo o ser ou, pelo con- em uma espécie de iberdade completamente deseontraida, pletamente acolhedora, aberta ao jogo das imagens sutilmente asada. Impulso vibra so cas especies dindmicas ber rentes quand as experimentanos em se0 andamento vivo. ‘Vejamos inicialmente uns exemplos em que a tensio sensibi 0 er conduzindoo ao extremo da senibilidade. As correspon ia sensiveis aparecem entao nom base, mas nos fpices psf dor diferentes sentidos. Ir compreendé-lo aquele que, na “noite ais escura, esperau com paixao o ser amado. Entao 0 ouvi ‘do atest» procura ver. E 36 fazer consigo mesmo a experiéncia © ‘se perecberi a dialtica do owvido recolhido e do ouvido atento, 42 tensio buscando uum além do som enquanto 0 ouvido recolhido fora docemente do seu bem, Thomas Hardy! vivew sma enicen- dncasseniocs que acta com precio. “Sun atengio etava a tal Hponto concentsada que os ouvidos pareciam quae cumprir a fun- ‘Gio de ver como a de ouvir. Impossvel deixar de constatar essa _ fextensio dos poderes dos sentidos em tais momentos. Bra provar ‘velmente sob © dominio de emogSes deste tipo que devia encanta Se omurdo doutor Kitto, quando, segundo sias palavras,consequit depois de um longo trinamento deixar corpo tao sensivel As Vi T, Hirde Regie, Le cere deep, Ment ous dos wear, p 22 2.7, Hun, Lear ay ul tal 2” pate p13 & 68 A TRRRA F 05 DEVANEIOS DO REPOUSO bragdes do ar que ouvia por elee nfo pelos ouvidos.”* Naturalmente no noscabe discutira ealidade de tais pretensdes, Bast, para nosso ‘objetivo, queas imaginemes. Basta que wim grande esritor como Tho- ‘mas Hardy sirvacse delas como de uma imagem side. Com razio, Humboldt recorda est princfpiode uma boa deserigio ensinado pe los arabes: "A melhor descrigio € a que faz do ouvido win olho.””? ‘Assim também o homem amedrontado ouve a vor terrivel de {odo 0 seu corpo a tremer. Como sia insuficientes as observaies imédicas sobre as alucinagies auditivas de umn Edgar Poe! A expli- cagao médica unifica geralmente a alucinacko e ignora seu cardter dialético, sua agio de superacio, As imagens visuais do ouvide et «ado levamm a imaginacio para além do silencio. As imagens niio ‘se formam em torno das penumbra e dos murnniios reais, inter pretando sensacies. E preciso sentir as imagens no proprio ato da imaginagio exticada. As provas sensiveis dadas pelo ecritor devemn ser julgadlas como meios de expressio, meios para comunicar a0 leitor ax imagens primarissimas. Ha uma manera de ler A queda tia casa de Usher em sua pureza de imaginagio auditiva, restituindo a tudo 0 que se vé seu vinculo fundamental com @ que se uve, ‘com o que o grande sonhador ouviu. Nao é exagero dizer que ele ‘ouviu a luta entre as cores sombrias o as luminescéncias vagas ¢ utuantes. Lendo com todos 0s seus ecos imaginarios este conto inguperdvel de uma paisagem que esta morrendo, tem-se a revela ‘io da mais sensfvel das harpas humanas vibrando como nunca A passagem de todas ax matérias de sombra em movimento na noite. Entio, quando a imaginagio pe em n6s a mais atenta das sensibidades, nos damas conta de que as qualidades representa para nés mais devires do que estados. Os adjetivos qualificativos vvivenciados pela imaginago — e como seriam viveneiados de ou to modo? — apreximam-se mais dos erbor que dos rbstantioas, Ve ‘elie aproxima-se mais de axemelhar que de vermelhidao, O verme- ‘ho imaginado ficaré escure ou pilido, conforme o peso de oniris: ‘mo das impressies imaginarias. Toda cor imaginada torna-se um ‘ati frégil, efémero, inapreensivel. Ela tantaliza 0 sonhador que ‘quer fixsla, ssa tantalizagdo atinge todas as qualidades imaginadas. Os ‘grandes sensbilizadores da imaginacio, of Rilke, os Poe, as Mary To A Ere Caen Af \oIvago 4 Quatio4pE 69 yb, as Virginia Woolf, sabem tornar imitofeso donasiado ¢ 0 dastonte Isso 6 necessirio para determinat, pela simples leit "uma participagio do leitor nas impresses descrtas. Blake diz ualmente: “"S6 conhece o suiciente quem primero conhecet so.” (Casamento doc edo inf) Cide acrescenta hua tea ‘Literalmente: nio podes conhecer 0 que astante se no tiveres conherido primeino 0 que € mais do “que o bastane." A literatura contempordnen é frta de exemplos de imagens por eso. Jacques Prévert, em Le quai des rane, e3- Descrevo as coitas que esto ards das cosas, Assi, quando fom naar, descrevo um alogado,” O afgadsimaginado de- mina ima tonalizagao do adador que hita no apenas contra a, mas também contra a agua perigosa, homicida. A maior kano ¢travada contra as forcas reas, €travada contra as Forgas ginadas. O homem @ um drama de simbolos. Assim 0 senso comum nio se engana quando repete, de acor- © chavo, que os verdadeizos poets nos fazem ibrar” sexta palavra fem tm sentido, & preciso justamente que © Tembre 0 no bestante© que 0 to bastante sea imeiata preenchido pelo denariads, S6 entao a intensidade de uma dade se revela mutna sensagao renovada pela imaginacio. $6 ive as qualidades revivendo-as com todas as contribuigSes da imagindria. D. H. Lawrence escrewe em uma carta (cada por el, op. et, p. 212) "De repente, nesse mundo repleto de dle matizes, de rellexos,capto uma cor, ela vibra em minha , molho af meu pincel« excamo: eis a cor.” Acreditamos fato que com semethante médoto no se pinta a “realidade” Entramos naturalmente no tniverso das imagens, ou melhor, umno-nos 0 sujeto tonalizado do verbo imaginar ‘Dada a sua sensibilidade, entre ono bastante e 0 demasiado, imager jamais édefnitiva, la vive em uma duracao osclan- ‘em um ritmo. Tad salr lurminoso € um ritmo de valores. E ritmos so Lents, entregam-se precsamente a quem quer vivé- Hentamente, setorande © eu prazer | E@ aqui que a imaginagso propriamente Ferra vem de al todo associar-se a todas as Felicidade de imagens, chanman lug & sequinte nota {Ser nacemio dizer que ao deve cond ee to om a ira Ae que ta oss? 0 4 TERRA & 0S DEVANEIOS DO REPOUSO do 0 sujeito para as alegrias imaginérias, sejam elas para o bem fou para o mal. Muitas vezes encontramos, ao longo de nossas pes quisas sobre os elementos imagindrios, essa ressonancia das pala vras profundss, palavras que sio, conforme a expressao de Yves Bec- ker, palacras limiter: Agua, bo, pls, pales Ties Adam, La ve ileal, noversbro de 1945, Newaspalavra, toca vore da linguage se ait A t= mologia pode as vers contratnet is, est iagine nse {gana Has 0 rae magia, Deter em nds ma poe ‘pace inagini, Por considera was, maemo tal paca de que ox tavor resi poo cont, Em resumo, 0 realimo do imagindro fande juntos © mucito ¢ objeto, E entin que a intensidade da qualidade encase ‘mo uma tonaizagio completa do suit Mas a imagem liters, rio do copii de sues, poe também detcrminar ros mais eves, tos que io peel ‘es, como o ftmito da flhagem desta vore Inia que fost ‘Gea drvore da inguagem, Akangamos endo o simples encanta da inagen comenadedaiuagem que ac beneila das aperpooer das mealoras, da imagem que adgute su sentido esa tide ns eee “Asin scr. bela imagem através da qual Edmond Jalous nos fz sentie num velo vino, num vinko "despa!" ues superposton”™ Acompanhando o esr, vanoaeeconeeey toda a settled dew isa. Esses *uquéssuperpostes, cada eemaisdelicados, nfo sa oposto de um vinho com “ress? Sto os bugqués superpostos que nos exprestam una alan shoo. Gaia de um apo de mage, das iagens mass es mas longinguas.E-naturalmente tis imagens skp Wied: necesine sscxprimi no podem se contentar com uma simples express, senna nia ire, Se dessa ey ‘asliteriins mobitaram fda inguagem, Agu, adiraeloes (Edmond Jalouxaplnzn® dion Sem nada pends oe oe arias delrants, ele abe um camino is alegrias exuberanten Es to aqucle que meta 9 vin trnase capes de pinto Gone A 1ssacivacio DA QuaLiDane n inde-se que Engine Sue passa ter eserito (La gntrmandise,p. 231) fam homem que medita ao beber: “E se & possivel dizer, ele “escutou-se por um instante saborear © buqué do vinho.”” Abre-se fo o jogo infinito das imagens, Parece que o letor € chamado dontinsar a imagens do escrito; ele sente-se em estado de imag ‘aberta, recebe do escrtor a permissia plena de imaginar. “imagem em sua maior abertura®: “O vinho (uma garrafa de ica de 1818) era despojado como o estilo de Racine e, como ele, to de virios buqués superpostos: um verdadeiro vinho clisico.”" Em outra obra, jé havlamas falado de uma imagem em que Edgar Poe, experimentando um longo sofrimento numa noite es- a como brew, evocava, para expressar a conjungio de sua infe~ fade e as trevas, o estilo de Tertuliano, Se procurissemos um ‘yeriamos que muitas metéforas que exprimem uma quali 1 E que as qualidades materiais, bem ocultas nas coisas para se- m no s6 bem expressas, mas bem exaltadas, exigem o dominio ‘oda alinguagem, um eile. O conhecimento poético de um ob de certa maneira, implica todo um estilo, is, ein muitos aspectos, a imagem literdria € uma imagem magem literdria recebe as entieas contrérias. Por um lado € ta- chada de banalidade, por outro de previosdade. Ha élancada na icra do bom gosto edo mau gosto. Seja na polémica,seja mes mo na exuberncia, a imagem lteréria € uma dialétiea Go viva que ialetiza 0 sujeito que vive todos os seus ardores Gets Tal, Lx amar, pv, p25 SEGUNDA PARTE CAP{TULO IV A CASA NATAL E A CASA ONIRICA Despara despons ta es. Resi Chiat, Failed, in Fine, eutro de 1915, 9 635 Cabra cde on, vsti dep, Ca ss soemalhese 8 Nate Lous Rewou, ves priv de Va, 188 1 (© mundo real apaga-se de uma s6 vez, quando se vai viver -casa da lembranga. De que valem as casas da rua quando se casa natal, a casa de intimidade absoluta, a casa onde se iriu o sentido da intimidade? Essa casa esta distant, esti per- ‘no a habitamos mais, temos certeza, infelizmente, de que ga mais habitaremos, Eni ela é mais do que uma lembran- uma casa de sonhos, a nossa casa onirica. tases wnsanden ans stark, aber wear, — sd ines Kannie wns je Was war wislich i AU? aso eryuiamse ao redor,poderosas mas ireis, — ¢ nenbuma ais nos conheceu, Que havin de real em tudo ins? Re Les soanets 4 Orphie, VIN, tea. fr Angellae 76 A TERRA E 05 DEVANEIOS Do REPOUSO Sim, 0 que é mais real: a propria casa onde se dorme ou acasa Paraonde se vai, dormindo,fielmente sonhar? Eu no sonhoem Pa- Fis, neste cubo geométrico, neste alvéolo de cimento, neste quarto com venezianas de ferro tio hostis & matéria noturna. Quando os sonhos me sio propicios, vou para longe, numa casa na Champag: 'e, ou nalgumas casas onde se conclensam os mistérios da felicdade, Dentre todas as evisas do passado, é talvez a casa que se evoea ‘melhor, a ponto de, como diz Pierre Seghers!, a casa natal “estar nna voz", com todas as vores que se calaram. Um nome que o silico ax pares me deioem, ‘Uma case fare onde ou ssino chamande, ‘ima esata aan gu tm minh E quo vote habia Quando o sonho se apodera asim de ns, temos a impressio de habia ua imagem. Non Caer de Mate Laur Briggs, Rilke tsereveprediament (ad fp. 20)" Estavamos como nian sem.” Eprecisamente otempo passa de um lado de outro, detan. do imével esa hota da lembranga: "Tiveo sentimento de que & tempo de repenteetava forado quarto.” Oonirome aruigado a sim localiza de algum medio sonhador. Em outra pina des Ca tor, Rilke exprimia a contamsinagio do sono e da lembranga, ee {ue tantar anda fe, que concensus annoy, Soe cameos, nas ores nas nb, vive agora “em uma imagem *Jamais torn’ aver desde endo can strana morada.Talcomo slenconto em minhalembranga com desenrelar infant ao Gums Consus est completamente incorporada erepartidaem oni, aqui um cbmovo, alum outro, escola um treche de oredr que ligase osm masestcansersad enc tn fragmento E asim que tudo ess disperse mim, 0s queen, at «seas que declan com ua lento to cerimonion, utr ada, wos estritossubindoemespiral em eujobacurdade an. sévamos como o sangue mas vlan" (p33) "Como sangue nas veins"! Quad etudaranos mais part cularmente o dinamismo doa corredores dos brats da foagh nag dinimica,haveremos de nos mbar dessa obseragao, Eis Pere Seghers, Le in pai, p70 CASH NATAL E A.C4SA ONIRICA n textemunho aqui da endosmose do devaneio ¢ das eimbrancas Piager esté em née, “incorporada” em n6s,“repatida” em ‘nfs, suscltando devancios bem diferentes conforme fgam corre- ddres que no levam a parte alguma on quartos que “enceramn” fantasmas, ou escadas que obrgatn a descdasslenes, condescen- dente, indo buscar li embaino algunas faniliaidades, Todo esse tunivers se nina no Tinie dos temas abstatos eds imagens s0- breviventcs, nesen Zona em que as metéorasadquirem o argue da vida depois se apagam na linia das lembrancas Pareceenfao que osonhadoresté pronto para as mais longin- (qua ideniicagbes. Ele vive fchade en's! mesm, tomas echamer @, canto escuro, As palavras de Rilke expressam esses mistéior: “'Bruscamente, tm quarto, com sua ampada, apresentourse minha frente. quase palpavel,. Eu jé-era um canto dele, mas as Renerianae mieten, toraraaasufechar, Eaprei, Eno wna friancachocou; ao redor, ness oradae, eu sabia qual crao poder “dlasmies, mas sabia amibém de que ches privados para sempre de Ajuda nace todo choro.” (Ma isons mi trad. f, Armand Rebin) ‘Gomose vé, quandose sabe dara todas aoisar0 seu peso justo Ade sonhos, hattrecammieé mais do que babitar pla lembranga ‘Acasa oniriea € um tema mais profundo que a can natal. Corres pponde a uma necesidace mais remota, Sea casa natal pe em NOs {his undagoes,¢ porque responde a ingpiragesinconaientes mais Profundas — mats intimas ~ que o simples euidado de proteso, | Guo primeiro calor conserva, que a primera lus protegida. A asa da lembranga, casa nfl, €consruida sobre acripta da casa nica, Nacriptacncontrase arta, oapogo, a profundidade, omer filo dos sonhos, Nos nos "perdemos" mela, Ha nela um ini Sontiamos co ea também Como com urn desso, como uma ia fem que 2s vezes encontramos nos livros, Ao invés de sonhar com f0quc fu, sonhamos como que deveria er sido, com oqque eriaest Bilzado para sempre nossos devancios ntimos. Foi assim que Kafka sonihou com urna pequena cs. Bemem frente ao viedo, be ta da estrada. no mais profnd do vale”. Essa cata teria rtinkola, pela qual certamente x6 se pode entrar rastejando, © 0 Teioduasjanclas, Oconjunto metic, come sldade um man Mas porta € feta de uma madeira panda..." Tr Gar Kalk, cia por Max Bea, Pans Ka, 78 A TERRA E OS DRVANEIOS bo REPOUSO 4G sd eum manual! Grad dono dss de sonhioscomentado!E por que a madeira da porta era to pede? Que passagem oculta a porta obstrui? a Guerendo tornae miseriom una vasa casa, Henri de Rég- nee dis simplesmente: "Uma porta basa era nico sero 29 interior." (La cane debe, . 0) Depo estitor desceve com. blacentemente umn rita de entrada 6 no vestbuo “cada qual Feecbia um candesro ace. Sern que ninguém acompaahasse 0 Vista, le ae ciria par os apsentos da Princesa O tet lone ompcavase a ren eh = oreo rear (p52), ea naatva prone, exporando ura imagery Clin do lnbirinto que entuarcmen em tn capo poueror, Ads, Indo mats aint, reconbecemosfacmente quo sao da Princes € uma gota teansponta Trae de wina rotunda nada, atravs ds paren vidradas, por uma lu dis" (p39) Na pagina squint, wemoua Princes, casa Elesis revels “na gta de sun wid ede sous misters” Incas aqui ex sas contaminagdes da casa oni, da gruta edo labirito,pare breparar a nossa tte dakomerfia das imagens do repouso, Ver tos laramente que hima razor sina a orgem de dan sian shoe em de ns, 20 camnhar pelo campo, no fi comado plo sib desjode habit cana ds contravene verde"? Por a pigina de Rousseau € to popular, ho psislogicamente ver ‘ra? Nosso devancio desea sua can de retro ea dese pobre {rani ade pope val xe dane aban sta tudo o que oral Ihe oferee, mas logo adapta 2 pequena morada real a um sono aresico, E's ete sonho fundamental que chama ‘os a au nia, Henry David Thoreaao vivenciou mulls Ye zx. Ble escreve em Wale (rad. rp. 13) "en era pce de ‘ova vida temos o costume de bar oo lar como loa ps sel de uma casa oi asim que inspecionel em tas a dines ‘campo num rao de uma devena de milhas,Nasimainaga a ‘ir todas as feendassucetivamente.~. Qualquer ugar que mc Senta, ali eu podera vier, ea paisagem tadiavase de inn, ae € inn send dum asento? Deeb tos joa para uma cas, Sim, eu podria vive al dite cormigo mer, al'eu vii, durante uma hora, a vida de um verdos de um inveno;compreendi como podria desar os anos pasate, che NATAL & 4 CASK ONiRICA 9 a im do inverno, e vera primavera chegar: Ot faturos ba fies dessa regio, onde quer que venhamn a instalar sun cass, po- tarceros de que foram precedidos, Uma tarde era suficen- para ransformar terra num pomar, dividia em bosque pas yassim como para decidir que belo carvalhos ou pinhcros deixados de pé defrote a porta, e de onde a menor &rvore pelo rao pederia we avistar melhor; depos eu deixava all, erm pousio lvez, vist que um homem Eco em proporgSo Mimero de colnas que €capaz de deixar tranqiias,” Reprodu- toda a pansagem até 2 dkms linha, que revela a daltica pbmadec do autéctone, ti sensfvel em Thoreau, Easa dali a0 dar moblidade ao devancio da intimidade domieliada, no (atria profundidade, pelo contrario, Em muita outas pig j Thoreau compreenden a rusticidade doe yonhos fundarnen- A choupana tem wm sentido humano multe mais profundo ue todos os castlos no ar. O case €inconsient, 8 choxpone ierneada [77 "Unma das provas da realidade da cas iagindri € a confianea tein um eseritor de nos ineresar pela recondago de uma casa pra infdnca, Basta um sinal que atinjaofndocormum ds thon, Asim, com que faidade acompanhatos Georges Du dna primeira nha de sua descrigho de urna casa fala: 6s uma Fépida dsputa,obtive o quarto do fund... Chegava- “sen ele seguindo um longo corredor, um desses coredores pari lenses, extetos, sufocantes eexcutos como uma galeria de masta- 9 Gosto dos quartos do fundo, daqueles que se ange como 3c Himenta ce que ndo se podria ir mais longe no rellgio."® Nao € esurpreender que oespetdculo visto da jancla do “quarto do fun- da” continue as impresses de profundidade: "O que cu avisuva ‘de minha janca era um amplofoso, un largo pogo irregular, de- Fini por muralhas vertical, cio representava, aos meus hos, ‘rao desilaeiro de Hache, ora. alssino rochowo da eaverna de actrac, ecm certs nites de grande vonho o canyon do Colorado “Oita das cracras da lua.” Coma tacizi melhor o poder sa “Geo de uma imagem priméria? Uma simples seqincia de pitios ———- [2a Be cata ae io, Van Gogh cree: Na mai pobre ain i mis sr can x vj qua deen 3 Georges alarmed mesons op. 7 © 8 80 4 TERRA B 05 DEVANEIOS Do REPOUSO parisienses, eis o real. Iso #0 suficente para tornar vivas paginas inteiras de Salam e piginas sobre a ortografia da Lua. Se so ‘ho vai tio longe, é porque a sua raiz é boa. O eseritor nos ajuda 4 descer em nossas préprias profundezas; uma vez transpostos 0: terrores do corredr, gostamos todos, nés também, de sonhar "no quarto do fundo!". porque vive em nés uma casa onfrica que elegemos utn can to eseuro da casa natal, um aposento mais secreto. A casa natal nos interessa desde « mais longingua inffncia por dar testemunho de uma protegao mais remota. De onde viria, sein isso, 0 setide sda cabana tio intenso em tantos sonhadores, 0 senda da choupana (30 ‘tivo na literatura do século XIX? Decerta nia é 0 easo de se ale- ‘grar com a miséria dos outros, mas nlo se pode ignorar certo vigor nna casa pobre. Emile Souvestre, em Le foyer breon [O lar bret, narra o serao na cabana do tamanqueiro; cabana de lenhador on de se abriga uma vida bem pobre: ““Sentia-se que aquela miséria no Ihes aetava as vidas e que havia algo na casa que os protexia. dela.”” E que o pobre abrig mostra-se entio claramente como 0 fri meio abrigo, como o abrigo que cumpre imediatamente sua fungao de abrigar Quando se busca nesses longes oniricos, encontram-se impres- Bes c6smicas. A casa é um refigio, um retiro, um centro. Os sim= bolos entio se coordenam. Compreende-se entao que a casa das ‘grandes cidades quase s6 tenha simbolos saciais. Ela 6 desempe- ‘nha outros papéis em virtude de seus muitos cBmodos. Com isso faz.com que nos enganemos de porta, de andar. O sonho, neste aso, diz 0 psicanalista, nos conduz & casa da mulher de outrem, ‘ou mesmo a casa de uma mulher qualquer. De ha muito a psica niliseclissica assinalou o significado das pecasenflleiradas, le to- ddas as portas que se ftom, sempre entreabertas, acolhendo-a qual- ‘quer um, a0 longo dos corredores. Tudo isso € um sonho menor. Nao se aproxima do profundo onirismo da casa completa, da casa que tem poderes eésmicos, nant OF Ui as dm. Puja eset, 286: San pana parece "antiga to mina como ooh 0s la. O has as esverdead pla ‘amagem dn cavalo O irr € inocu enegreil pel aman debe nits Novel que encanto de outa las alco ager ce bess NATAL B A cass ONiRacA at 1 | Acasa oniricamente completa 6 a iniea onde se pode viver devaneios de intimidade em toda a sua variedade. Nela se vive ‘ou a dois, ou em familia, mas sobretudo 36. E em nossos s0- dda noite, hi sempre uma casa onde vivemos 6. Assim o exi- ertos poderes do arquétipo da casa no qual se juntam todas seducies da vida recolhida. Todo sonhador tem necessidade de a sua célula, € chamado por uma vida verdadeiramente Brawn cable spent ‘Masai ou dara sm angi. Ali eve abrigi, ‘Sia coe que tn alain (Quando cwie mes al. Foi liquors (eee gst de mim mesma, Poi lb que fis we, Som na concer Juurs Romans, . Oise pies, p19 ‘Mas a célula no € tudo. A casa é urn arquétipo sintético, um ipo que evoluiu. Em seu pordo esta a caverna, em seu sétio ‘oninho, ela tem rai efolhagem. Por isso a casa de A Valguvi. sonho tao grande. Grande parte de seu faseiniodeve-se a0 frei que a atravessa, A frvore poderosa éo pilar da casa: "0 tronco freixo€0 ponto central de um aposento”, diz tradutor de Wag- (ato. © telhado as paredes prendem-se aos galhos, deixara ‘osgalhos. A folhagem éum telhado, por cimado telhado. Co- tal morada nao viveria como uma érvore, como um mistériore- a floresta, acolhendo as estagbes da vida vegetal, sentindo fa vibrar no eixo da casa? Assim, quando soar a hora da flic- - chamando Siegfried para aespada, a porta com tranea de ma- se abrira pela mera fatalidade da primavera. ‘Tendo 0 pordo come raiz, o ninho no telhado, a casa oniriea te completa & um dos esquemas verticais da psicologia huma- 82 “A TERRA E 05 DEVANEIOS DO REROUSD ‘na, Ania Teillard, estudando a simbélica dos sonhos (Tyaunsymbo- lik, p. 71), diz que o telhado representa tanto a cabeca do soni ddor como as fungdes conscientes, enquanto pordo representa 0 consciente, Teremos muitas provas da intelecualizagio do tio, do caréter racional do telhado que é um abrigo evidente. Mas © porao € tio nitidamente a regiao dos simbolos da inconsciente ue de imediato fica evidente que a vida consciente cresee 3 medi dda que a casa vai saindo da terra ‘De resto, colocando-nos no mero ponto de vista da vida que sobe ¢ que desce em nés, pereebemos bem que “viver nur andat™ € viver bloqueado, Uma casa sem sitio é uma casa onde se subi ‘ma mals uma casa sem porio é uma morada sem arquétipos. Baas escadas so lembrangas impereciveis, Pierre Loi, vatando 4 viver na casa de sua infincia, escreve (Fleurs deme. Sulina, p. 313); “Nas escadas, a obscuridade jé domina, Em crianga, eu t tha medo nessas escadas & noite; patecia-me que os mortos subiam nis de mim para me agarrar as pernas, e entao punha-me a cor- rer angustiadssima. Lembro-me bem desses pavores; cram tio for- fes que persistiram por muito tempo, mesmo numa idade em que jd nao tinha medo de nada,” Sera verdade que nao temos “me- ddo de nada” quando nos lembramos 130 fielmente dos medos de nossa infancia? AAs vezes alguns degraus bastam para evavar oniricamente uma ‘casa, para dar um ar de gravidade a um quarto, para convidar 0 inconsciente a sonhos de profuncidade. Na casa de um conto de Eadgar Poe, “‘tinha-se sempre a certeza de encontrar ifs out quatro ddegraus para subir e para descer"". Por que o eseritor quis por essa ‘ota em um conto tio emocionante como William Wilon (Nouweles Aste exraordincrs, trad. fr, Baudelaire, p, 28)? E realmente uma {opografia bem indiferente para o pensammento claro! Mas a incon. ciente nfo esquece esse detalhe. Sonhos de profundidade sie colo. ‘eados em estado latente por tal lembranga. O monstro de vee ba Na gue € William Wilson deve formar-se e viver em uma casa que 4 todo momento dé impresses de profundidade. E por isto que Edgar Poe, nesse conto, como em tantos outros, indicou com os tres degraus uma espécie de diferencial da profandidade. Alexane dre Dumas, contando suas lembrancas sobre a topografia do cas {elo des Forse onde passou sua primeira inféncia, escteve (Ades mé mores, 1p. 199): “No tornei a ver aquele eastelo desde 1805" (A. surat £4 casa onic 8 ase 100) “neta pow deg da um degra"; dois de suas inharem que der asi cprenn erceestnesrtantepey Daas a: "Ente, paren a areca Geayaa ala de aan, 2 se mbin por degra.” Un degra, rx degraus, © Se para deteirreno: Deen ociorau cp dh pars wo ems ois degra que i ar asl Dehas cvs cinervaroes tito as tornars-do ais senses P ente quando formos sensibilizados pela vida dinmica rect: ade wid edo porto, o que fra de fata cio dca ones tm sto, onde meenere done ano, cone © mu lit occa humana, Em um ato epecnd a ii pls como ered oxonhot no dopa da ca nL ESR as : Porao ¢ s6ta0 podem ser detectores de infelicidades imagina~ eer eru neces See : Ther nao deve acaed ‘ao porao. E tarefa do homem buscar 0 vinho Riba, Monat, p 258. 8 4 TERRA F 08 DEVANEIOS DO REPOLSO fresco. Como die Maupassne (Mon Ott): “Pos os homens iam 3adegs" Como a eseaa €fngeme, gata, come si score {ios o degraus #1 grades on degraus de peda no fran la ‘ados. Em cima a cant € ti ipa, to dara, ao wentlads Eis inalmentea terra, aera ngra¢ nid, arta debaino dt casa ater de cae Algunas pests para ealgar 0 barra, E ‘bane da peda, o ser imund,o tat, que consegue = co no anton prt ~ wr ord emancendo aca Qu tos sonhos, quants pensamenteocrrem no tempo apenaa deo cher um litro no barril!, oak Quandosecompreendevanccestidade oniricade te vvidocm umacasa que brotadaterra, que viveenraizadn em sacra negra, les com sonhos infin enn curios pagina em que Pierre ve fen descreve 0 "Piaoco da casa nova" (Beane p49). Con Shida ease nova obrgavse a terra a tomar cna bse sda € plana sob os amancon ara isu minturavamrse aca eeu to, maisum agltiname mig ito deserragem deeavatho el corde visa convocavase a garotada da icnhancs para pita tsa pasta." Eppnanteira nsf vontadeuninime dos da Garinos que, com o pretexto de abies um pio firme euniorme, erate cntrraror mafic, Niocxtaio tana asim con ira osmedosarmazenados, contra omen que se ansitian de geracioa gear nessa mora constr oe atera bate? Ka Extambem habtou darante um nverno uma asa reat. Era una cash que compreendia quai, covinhae sean, Fea em Praga na Aldmisengae,Bleesreve (cao por Max Br, Pras Kefeap. 18), “Eur senimnentomuto particular deter ncaa, de pore fechar parao mundo a porta no de seu quart, naa de se apartament, massimplesmentea de aa cast de psa ietamen to sar neve que cob ara lenciona No sitio vivem-se as horas de longa solidio, horas tio diver- sas que vio da birra 4 contemplagio, E no s6tdo que ocorre a birea absoluta, a birra sem testemunha. A erianga escondida no séta0 se delicia com a angGstia das ines: onde andar& aquele birrento? GASH NATAL #4 CASA ONRICA 85 ‘Também no s6tHo as intermindveis leituras, longe daqueles ‘omam of livos porque jd lemos demais. No s6t20, 0 dsfarce ‘8 roupa de nossos avés, com o xale as fitas®. Que musew fs devaneios € um s6t20 atulhado de coisas! Ali as velharias ligam para sempre & alma da crianga. Um devaneio torna vivos, passado familiar, a javentude dos ancestrais. Em quatro ver~ ‘um poeta pe em movimento as sombras do sto: rm als canes (iio ext Sombra a (qu we meson. fu Plapot da tenps, p. 8 ‘Alem disso, 0 s6t40 60 reino da vida seca, de uma vida que ‘conserva secando’, Eis tia murcha, estalando a0 conto dos 5 € a uvas penduradas aa redor de um barril, maravihoso lustre onde os cachos tm hizes to laras.. Com toss seus ru- {os, 0 st30 rural € um mundo do outono, o mais suspenso de to- ‘dos os meses © Quem tver a oportunidad de subir a0 so familiar por uma “esas de mio estrelta, ou por uma escada sem corrimio, um tan- “oapertada entre as paredes, pode estar ferto de que um belo dia- ‘se insereverd para sempre em uma alma de sonhador. Por iodo s6tdo, a cata adquire uma singular altura, participa da da aérea dos ninhos. No s6tio, a casa estd no venta (ef. Gono, na joe dnrate, p31), © sitio € realmente a ‘casa lee” tal ‘mo sonhad Annunzio vivendo em um chalé em Landes: “A ca- “sa sobre ogalho, leve, sonora, impetuon."" (Contemplation dela mor, “trad. fr, p. 62) Por outro lado, o sétio € um universo inconstante. O s6tdo “noturno €um lugar de grandes terrores. Arma de Alain-Fournier “pereebew esse pavor (lms d’Alain-Founicr, p. 21) Mas tudo ix $0 a dgua-furtada do di. A da noite, como poderé Henri suport Gono sabes suporté-la? Como conseguir ficar 6 naqueleoxsro EGE Wik, seabird Male Lari Briggs ad. Bp 17 2. Quem a lapunr ane, om Mary Webb, no sa de Pros Bae, nheceté eas mprates de deemed 86 A TERIA & OS DEVANEIOS DO REPOUSO universo em que entramos lé em cima, sem formas nem limites, aberto nas mortas laridades noturnas 4 mil presengas, a mil raga ‘es, a mil aventuras sussurrantes?" E pela porta entreaberta Alain- Fourier, em Le grand maaunes (cap. VII), revéo s6ti0: “Toda noite sentfamos a0 nosso redor, penetrando até 0 nosto quarto, o silém cio dos ts sétior."” |; nio ha verdadeira casa onfrica que nfo se organize em ‘enterrado, o treo da vida comum, o andar de cima onde se dorme e 0 s6t%o junto ao telhado, tal casa tem tu do.o que € necessario para simbolizar os medos profundos, tr- vialidade da vida comum, ao rés-do-chio, © as sublimagies. Natt ralmente, a topologia anitiea completa exigiria estudos detalhados, seria preciso também ineluir refigios hs vezes muito particulars! tum armério embutido, um vao de escada, um velho depésito de lenha podem oferecer sugestivos elementos para a psicologia da vi- dda fechada. Esta vida, alii, deve ser extudlada nos dois sentidos ‘opostos do eareere e do refigio. Mas em nome da adesio total & ‘vida intima da casa que caracterizamos nessas paginas, deixare- mos de lado os rancotes ¢ 0s pavores alimentados em um cércene de crianca. Estamos falando apenas de sonhos positives, dos so- hos que veltario ao longo de toda a vida como impulsos para in 'meras imagens. Podemos entio formular como urta lei geral o fx to de que toda crianca que se encerra deseja a vida imagindria: os sonhos, ao que pareee, sio tanto maiores quanto menor 0 espaco fem que‘o sonhador esté. Como diz Yanette Delétang-Tardif (Ed rond Jaloux, p- 34): “O ser mais fechado & gerador de ondas."” Loti traduz esplendidamente essa dialétia do sonhador recolhido em 18 solidao e das ondas de devaneios em busea da imensidade: ‘Quando eu era bem pequeno, eu tinba aqui alguns recantos que ime representavam o Brasil, ¢ onde eu chegava realmente a sentir impressdes e pavores da floresta virgem."” (Kleurs d’mnti. Sulina, 1p. 359). Proporcionariamos 3 crianga uma vida profunda se Ihe dés ‘semos umm lugar de solo, um canto, Um Ruskin, na grande sala de jantar de seus pais, viveu horas inteiras confinado em seu "can 10°, Ele fala longamente disso em suas lembrancas de juvents- de. No fundo, a vida fechada e a vida exuberante sio ambas ne- B.C Mayenne, sours [A vei, p15, Des Escntes ns em eu salto "uma srt de niche eran 84 casa ontRrca a7 potqucas: Mas nts de seem fra absrats pre Moe sj realidad prcl6gics com um quar, com um ® Pra gue hja cose Guat vias ao Sndopnsvls ase campo ; ereese agora a diferenga de ques onfin entre a casa conan verndciranente sobre a err, dent de ma nsx universe, eo edie cos compartimenton ns sr Sc rmoraiae ques ec cont sobre oclgamenta das cid Ser um porio.esea sala jeaa oe se amontoam as eal do que bari? : “Asian oto do imagindrio depara-se gualment com cma de "vela tera" Que he perder acorn coniderando que ee io trata ete problema socal eno no eum pstsno sonar, laa sti conseguir ee pogas nos consruem, com ext wah, “ates ontt com sti «porso, Es nov ajaariam maj sss le ra leianinconsciente da casa, de cord com sbo- ide que a vida eal som empre tr a ponbidade Vv - Seriam precisas longas paginas para expor, em (odos os seus cream todo ov tens plano de fund, meme dott ‘Sto numerdveisas impress cars: Contra o io, con calor, contra tempest, contrac asa € um abe ee cala um denés en al variants em sas lembraa- ara nimar um tema to simples, Coordenand todas esas clasficando todos eres slo de proterso,pereebe- Gue a casa const, por asim dcr, um contra-unverso Ainiverso do von, Mas €alver nat mals Tages rotees tliremos a contibuicio dos sonhosdeftimidade. Basta per or exemplo, na cas que se mina no eepsculo © nos Pro Tone amie, Logo tos 0 sentimento de ela no Kite dos Sinconsicats¢ dos valores consents, senios que toca tim pono sensvel do enim daca “Hs, por exerplo, um documento que exprimeo valor da iz a "Aoi agora era manda «dntncla polaswiragas 88 A TERRA B 08 DEVANEIOS DO REPOLSO cess, ao invés de dar uma visio exata do mundo exterior, o de formavam de forma estranha, a ponto de que a ordem, a Fixer, ‘terra firme pareciam estar instaladas no interior da casa; li fora, Fino havia senio um reflexo no qual as coisas, ago 1a fluidas, tremiam ¢ desapareciam.”” E. Virginia Woolf observa sularidade da peca iluminada: uma iota de luz no mar das trevas — e, na meméria, uma lembranga isolada em anos de ¢s- dquecimento. As pessoas reunidas sob a Hmpada tém conscitneia de formar um grupo humano reunido em uma concavidade de ter- reno, em uma ilha; esto ligados “contra a Muidez exterior”. Co- ‘mo expressar melhor que participam das forgas de luz da casa con. tra uma obscuridade rechacada? Eas press de gata onde sus as mpadas. ‘Sr JouN Past, Vets 4 [Em um de seus romances (Le poids des ombres, trad. fr.) Mary Webb soube dar, em sua extrema simplicidade, isto &, em sew pur ro onirismo, essa impressao de seguranca da morada iluminada no meio do campo noturno. A casa iluminada é 0 farol da trangiili- dade sonhada. E o elemento central do conto da erianca perdida. “Bis uma luzinha que surge, —lé longe, bem longe, como no conto do Pequeno Polegar.” (Loti, Fleurs d’oui, Voyage ax Mound, 1p 272) Assinalemos de passagem que o escritor descreve o real com as imagens de um conto. Os detalles, aqui, nada especificam. Sua funca0 ¢ ampliar um sentimento de profundidade, Assim, quem dentre nds porventura teve um pai que lesse em voz alta, numa noite de inverno, diante da familia reunida, La Jrualom dion [A Jerusalém libertada)? E no entanto, quem dentre nés consezue ler ‘em infinitos devaneios a pagina de Lamartine? Por sabe-se li que verdade de clima onfrico essa pagina impée-se a nds. A cena, di- rfamas com o peso do fildsofo, explora um a prion onirico, evoca sonhos furdamentais. Mas s6 poderemos tratar essa questo a fundo se retomarmos um dia, do nosso ponto de vista da imaginago ma: terial, a dialética imagindria do dia e da noite, Por ora basta-nos indicar que os devaneios da casa atingem 0 méximo de condensa- io quando a casa se tomna consciéncia do anoitecer, conscitncia da noite dominada. Tal consciéncia, de manera paradioxal — mas ACASA NATAL B 4 CASA ONIRICA a9 atinge o que hi de mais profundo ¢ oculto Ervads. A panic do anoitecer, comeca em n6s 3 vida noturna. A Apaila converte em espera os sonfios que vlo nos invadir, mas Bs cram con sosan penttmento Hare: A cata encoatre fentio na frontcira de dois mundos, Compreendé-o-emos anda Bento rnin toric tone te pettcraac Eo enc qnsamento de Mary Webb adgurird sew pleno sentido’: “Para ‘ue nfo tm casa, a nite € um verdadeito animal selva: Bento apenas ur animal que urra no furacSo, mas uo ani mento, que ess em toda parte, como uma ameaga universal evivenciarmos realmente a uta da casa cna a tempestade, che- remos a dizer com Strindberg nemo, p. 210); "A case itera ela como um navio.” A vida moderna afrouxa o vigor des fnagens, Por certo ela acelta a casa como um lugar de anad- eters corranineees consis eet Se aang segieteceesegt aise ee Ics cya neem nottiaja buraana contra ¢ sie eau Bb precisa queda protgida: Aceon nos pete: Tenpout- Tierra rege cciaeemne goer eas | De fat, a casa ihuminadia no campo deserto & um tema liters BI atrayencasce acca, cae parce er todas as erature lluminada € como urna estcia na floresia. Orienta o va fe perdido, Os astrlogos costumavanler que a0 longo do Bics0|lthica as doze casas do céu,c 0s poetas ndo cestam de shiz das impacas como os ralos de um astro intimo. Essa ho bem pobres, mas ofato de serem permutdvels entre os convencer de que sf0 natura “Temas tio particulares como a janelas6 adquirem seu pleno Kose perecbermos o carster cal da casa, Estamos em ca, dos, olhamos are ore. A jancla na casa dos campos € um faberto, um olharlangado para a planieie, para o céu lon I tind etter rane scan profertarciae float. ec cia aetera janie es Aja a jerclinin,caincarna do sho, oacntsio deur oie ie cheated intern quinter maior aintimiiade de Blau, Parece que a daltica da intimidace e do Universo € il de explicar! P Mary We, Vigne amae, ead. 106. 0 4 TERRA # OS DEVANEIOS DO REPOUSO «speciicada pela impresses do ser oculto que véo mundo na mo dura da janela. D. H. Lawrence escreve am amigo (Lats ch sie, trad. fr, 1, ps 173)e""Pilares, acos das janes, como bur ‘osentreo fora ea dentro, a velha cass, intervengao de pedra pe feitamemte apropriada a uma alma slenciosa, «alma que, preses 2 ser sorvida no fluxo do tempo, olka através desses arcos nascer 2 aurora entre as auroras." [Nao hi exagero nos valores atibuidos a estes devancios mal dlurados, a esses devaneios eentrados em que a contemplaci & a visio de'um contemplador escondido. Se oexpetéculo tem alguma grandeza, parece gue o sonhador vive como que uma dialética da imensidio € da intimidade, uma eitmandlise real em que'o ser en- contra alteradamente a expansio ¢ a seguranca. ‘A titulo de exemplo de uma forte fxagio de um. cio pata sonhos infinitos, vamos estudar uma imagem na qual Bernardin de Saint-Pierre sonha com uma Srvore imensa no fundo de amma frvore oca!® —, tema importante dos devancios de refigio ede re pouso, “As obras da natureza em geral apresentam Varios tipos de infinitos ao mesmo tempo: asim, por exemplo, wna grande dr vores cj tone é caveats ¢ cob dé mua, nos dé 0 sentmento do invinto no tempo, assim como o do infinito em altura. Ela nos oferece um monumento dos séculos ern que nao vivernos. Se Ihe for actescentado oinfinitoem extensdo, como quando pereehemos, através de seus sombrios galhos, vast horizontes, nosso respeito aumenta, Aerescentemo-he ainda as diversas elevacbes de sua mas sa, que contrastam com a profundidade dos vales © com o nivel das pradarias; suas meia-luzes venerdveis, que se opBein ao azul do céu e com ee brincam; e 0 sentimento de nossa miséia, que cla ranqiiliza com as idéias de protecdo que nos apresenta nat pestura de seu tronc inabalvel eome urn rochedo, eer sa copa tugustaagitada pelos vetos, eyjos majestosos murmtitis parcem Penetrar em nossas misérias. Uma drvore, com todas as suas har !monias,ingira-aos uma eertavenetagao religioa. Por iso Plinio disse que as 4rvores foram os primeiros tempos dos Deuses.” Nés grifamos uma frase do texto, pois ela nos parece estar na origem do devancio protege e do devanio amplifcador. Ese (one «0 cavernoso coberto de musgo € un refgio, € uma ca otc 10 Berrin de Sone Pere, ad este i 784, «ps 6 i NATILL B 4 CASA ONIRICA on ver a érvore oa, o sonhador, em pensamento, insinua-se na Bragas a urna imagem primitiva, experimenta precisa- tuma impressio de intimidade, de seguranca, de protecio il. Ele encontra-se entio no cairo da arvore, no canto de rmorada, © & a partir desse centro de intimidade que tem a isfo ¢ a consciéncia da imensidio de wm mundo'!, Vista ettor- g mesmo €m seu porte magn{fico, nenhuma frvore suscitaria ‘imagem “do infinito em altura", Para sentir esse infinito € ciso que se tenha imaginado 0 aperto do ser no tronco caverno- _ Ha afum contrasie mais essencial do que aqueles que Bernardin int-Picrre costuma desenvolver. Assinalamos varias vezes os cs imaxinérios miltiplos das cavidadesetitas como moradas Mas no centro da drvore o devaneio é imenso. Ja que es to bem protegido, meu protetor é onipotente. Desai aster des e a morte. E com uma prod tal que sonha o escritor: aqui nao é uma simples reserva de sombra contra o so, je0 uma simples cabertura contra a chuva, Nao obterfannos itdadeiros sonhos do poeta se buscdsseros valores utilitrios, Jirvore de Bernardin de Saint-Pierre é uma rvore eésmica, co. © carvalho de Virginia Woolf. Reclama uma partcipacio em m universo. E uma imagem que nos engrandece. O ser sonhante controu a verdadeira morada. Do fando da drvore oca, no cen ro do tronco cavernoso, seguimos 0 sonho de uma imensidio ar aigeda. Essa morada onirica 6 uma moraéa de universo, -_Acabamos de descrever devaneios cntrais erm que © sonhador apbia na solidao do centro. Devaneios mais extrovertidos nos iam as imagens da casa acolhedora, da casa aberta, Veremos, ?exemplo disso em certos hinos do Atharva-Veda"®. A casa védi “£2 tem quatro portas, nos quatro pontos cardeais, e o hino canta: TH. Fivuma pigina do Cure ates, Gustave Kan ranma vo eam eno deimagens (252) "Ohne na ccomn qu enga ver qurna fetaeresponde. Heche sant de uns ors nena de eum deer gis ns Dore, ques erm reas, parece ele Dae que rps macabera contrat, masters acna dba dle. Pane Ine utd a cer da vor ua oa sedan eo th He cnet pars to ase scavdadeprofand cree." Exe rige que amoduta, Tamas se acum nese igo vine qu deve et ls dao es vo. Teremos opotuie deretrarsen snes de inagens 1. Teaduao fe Vier Henry, 181 2 4 TERRA B 08 DEVANEIOS DO REPOUSO Do vit, homenagen d ronda da Coben! Do sa, hemenager De eid, homenagem..! ‘Do nan, homenagr, Ds nai, hamenagm. Do sinit, hemamagen De tas as parte, homenagm & grandes da Cana! ‘A Cabana € 0 centro de um universo, Toma-se posse do uni av se tornar dono da eas "Por parte da vasidio que ha entre e6u ¢ terra, eu tomo pos- se, em teu nome, desta casa; 0 espago que serve de medida a imen~ sidio indistinta, transformo-o, para mim, num ventee inesgotdvel ‘em tesouros, e em nome dele eu tomo posse da Cabana. Neste centro concentram-se os bens. Proteger um valor € pro= teger todos. O Hino & Cabana diz ainda: Resersatirio de Soma, lugar de Agni*, resdéncin« morada das espo- 40s, morade dos Deuses, 6 tudo isto, 6 Dewta, 6 Cabana v Assim, uma casa onfrica & uma imagem que, na lembranga € ‘nos sonhos, se corna uma forca de protogia, Nio € un simples ce= nétio onde @ meméria reencontra suas imagens. Ainda gostamos de viver na casa que jé nfo existe, porque nela revivemos, muitas vezes sem nos dar conta, uma dinamica de reconforto. Ela nos pro- tegeu, logo, cla nos reconforta ainda. © ate de habitar reveste-st de valores inconscientes, valores inconscientes que o inconsciente nao esquece. Podemos langar novas raizes do inconsciente, nfo 0 de. senraizamos. Para além das impresses claras das satisfacdes gros seiras do instin de prepretrio, hd sonbos mais profuncdos, sonhos «que querem enraizar-s. Jung, empenhado em fir uma dessasal- mas apridan qu eto empre em exo na tere, aconslhava- para fins psicanalfticos, a adquirir um terreno no campo, um can ‘o no bosque, ou, melhor ainda, uma pequena casa no fando de lum jardim, tudo isso para fornecer imagens a vontade de se eneai- Som © Rats divindades do ogo pars os hindus vcs (N. *) ‘naan B 4 cass onterca 93 spermanecer!. Esse conselho visa a explorar uma camada da do inconsciente, precisamente o arquétipo da cata onirica. " E sobretudo para esse lado que chamamos a atengiio do le =, evidentermente, outras instncias deveriam ser examina: ‘um estudo completo de uma imagem tio importante co- da casa. Por exemplo, se examinssemos o eardter social das ens, deveriamos estudar atentammente uma romance como La de Henry Bordeaux. Esse exame determinaria uma outra da das imagens, a camada do superego. Aqui a casa é 0 bem Bla € encarregada de mantra familia, B-o romance de Bortleaux, desse ponto de vista, € tanto mais interessante a familia em seu conlito de geragies entre um pai que xa periclitar a casa 0 flho que devolve & casa solidez ¢ luz, tal caminho, vai-se substituindo aos poucos a vontade que so- pela vontade que pensa, pela vontade que prevé. Chega-se a reino de imagens cada ves mais conscientes. A tarefa que nos jemos foi o estudo especfico dos valores mais Vagos, Por esse tivo nio insistimos sobre a literatura da casa familar. vl __Pode-se encontrar a mesma diregio para os valores inconscien- imagens da volta a terra natal. A propria nocio de viagem unm outro sentido se Ihe acrescentamos a nogio complementar le volta terra natal. Courbet espantava-se da instabilidade de urn iajante: “Ele vai ao Oriente, Ao Oriente! entio ele nfo tem terra ence core are uma sole dnd. sen expliagSo, por mais eghima que tei, Bi acint peacyispacve eecheainateervs tard global, apagnmuat muangar que devem alarerer hadamente uma picolgia do inconscene, Seria ners BE epreender bern rode as imagens do gto elec cxaminar © otnenor de substan das mages, Verfaton ets0 guess Ta, Todo wrimento do crante se revela neste ers de Re: Wt i iba ices mar, [Qe agra esc cons a | o A TERRA F 08 DEVANEIOS DO REPOLSO tem seus proprios sfmbolos, e se desenvoluéssemos toda a simbéli- ca diferenciada do pordo, da s6ta0, da cozinha, dos corredores, do ‘depbsito de lenha..., perceberfamos a autonomia dos diferentes sim bolos, veriamos que a casa constréi ativamente seus valores, que retin valores inconscientes. © pr6prio inconsciente tem uma ar~ ‘quitetura de sua predilecio, ‘Umma psicanslise com imagens deve portanto estudar nfo apenas ‘valor de expresso, mas também 0 exzant de expresso, O onirismo aa mesmo tempo tima forga aglutinante e uma forga de variagao. [Extéem agi, em duplaagio, nos poetas queencontram imagens muito simples eno entanto novas, Os grandes poetas nose enganamn a res peito das nuangas inconscientes. Em seu belo prefici & recente ed (io dos Pornas de Milose, Edmond Jaloux assinala um poema que, comm singular clareza, distingue a coll di mac € a cola dca. By digo: Mar. Maré em 1 gue en pews, 6 Casa! Cava dor blr sersex wih de minha fica Mélanie ‘Mai e Casa, eis 0s dois arquétipos no mesmo verso, Basta to- mar a direcio des sonhos sugeridos pelo poeta para vivenciar, nos dois movimentos, a substituigao das duas imagens", Seria muito simples se o maior dos dois arquétipos, se o maior de todos os ar quétipos, a Mae, apagasse a vida de todos os outros. No trajeto que ‘nos leva de volta As origens, ha primeiramente 0 caminho que nos restitui 8 infincia, & nossa infincia sonhadora que desejava ima: gens, que desejava simbolos para duplicara realidade. A realidade ‘matera foi multplicada imediatamente por todas as imagens de intimidade, A poesia da casa retoma esse trabalho, reanima inti= rmidiades e recobra a grande seguranca de uma filosofia do repouso vu ‘A intimidade da casa bem fechada, bem protegida, reclama naturalmente as intimidades maiores, em particular a do regaco TE, Havent wa ca mates sem gus? Sem wana gun ssn? Scr © ternal eas tt, Gustave Kan xteve (Le ote d'or eed se. 99: "Cats ‘materia one eriginal das oiens de mina vi NATAL B 4 CASA ontICA 95 erno, € depois a do ventre materno. Na ordem da imagintac3o, pequenas imagens reclamam as grandes. Toda imagem & um too priqucr, una imagem amada, acarinhada, é un penhor acrescida, Bis um exemplo desse acréscimo psiquico pela ‘© Dr, Jean Fillioat em seu livro Magis e médcin(p. 126) "Os taofsias pensavam ser vantajoso para garantir um re> escimento colocar-se outra vez nas condigBes fsicas do em- o, germe de toda a vida futura, Os hindus também o admi veainda o admitem de bom grado. Foi num local ‘obscuro © do como o ventre materno’ que ocorreu, em 1938, uma cura sjuvenescimenta a que se submeteu um conhecido nacionalis- Dpindita Malaviya, e que teve grande repercussao na India.” 1 nossos retires Longe do mundo so demasiado abstats. Snem sempre encontram esse quarto de solidio pessoal, esse fescuro “fechado como 0 ventre materno", esse canto retira- mm uma casa trangiila, este subterrineo secreto, mais abaixo ppordo profundo, onde a vida reeobra scus valores germi- Tristan Tvara (Llantte,p. 112), apesar da liberdade de suas ens lives, segue a direcio desse mergulho. Ele conhece ‘esse o de cacadores de vario e de impassivel, — senhora onipo- dda proibicio de viver fora das grutas de ferro, e da dogura iver na imobilidade, cada qual em sua pessoa lucffuga e cada ‘20 abrigo da terra, em sangue fresc8...”” Nessa reclusio, iso. Tzara diz ainda (0p. ct. p. brelos dias de verio." ‘Se prestssemos mais atengio 3s imagens incoatvas, imagens mente muito ingenuas, que dustram 0s primeiros valores, nos melhor de todos agueles cantos sombreados da grande ‘onde nossa pessoa “Iuefuga’” encontrava o seu cento de 0, lembranga do repouso pre-natal, Mais uma vez, vemos @ onirsmo ca casa necessta de uma pequena casa dentro da de para que recobremos as segurancas primérias da vida sem ‘Nos cantor recuperamos a some, 0 repouso, ap, senescimento, Commo ireos ver, coos os hgares de repo o maternais, 96 A TERRA # OS DEVANEIOS DO REPOUSO vur Se, com tum passo solitério, devaneando, numa casa que tz ‘os grandes signos da profundidade, descemos pelaestreitaescada obs- ceura que enrola seus altos degraus em torno do eixo de pedra, logo sentimos que detcomos a um pastade. Ora, para nés no hé nenbum ppassado que nos dé o gosto de nosso passado, sem que logo setorne, ‘um passado maislonginquo, maisincerto, ese patsado enor ‘me que j& no tem data, que jd ni sabe as datas ce nossa histéria, "Tudo entio simboliza. Descer, devaneando, num mundo em profundidade, em uma casa que assinala a cada passo a sua pro- Tundidade, ¢ também descer em nés mesmos, Se prestamos um po co de atencao as imagens, as fentas imagens que se nos impdem nessa '‘descida"", nesta ““dupla descida’’, no podemos deixar de surpreender-he 0s tragos orginicos. Raros io os escritores que os dem no papel. Mesmo que esses tragos orginicos surgissem da pena, a conceidncia litrdria os rejeitaria, a consciéncia vigiada os recalcaria!’. Eno entanto, a homolagia das profundezas impo tais imagens. Quem pratica a introspecgao € o seu proprio Jonas, co- ‘mo entenderemos melhor quando tivermos acumulado, no préxi- ‘mo capitulo, imagens bastante numerosas e variadas do complexo de Jones? Mulkiplicando as imagens veremos melhor a sua raiz ‘mum e, portante, sua unidade. Compreenderemos ento que ¢im- possfel teparar imagens diversas que se exprimem em sma valo- rlzagio do repouso. "Mas como nenhum filisofo aceitaria a responsabilidade de per sonificar a sintese da dialética Baleia-Jonas, recorramos @ um es critor que tem como lei captar as imagens no estado nascente, quan. do clas possuem ainda toda a sua virtude sintética. Que se releiam as piginas admirsveis que server de introducio a Aurore! “Era ‘meia-noite quando tive a idéia de descer Aquela antecdmara triste, decorada de velhas gravuras e pandplias.." Que se percebam 20 baretuco lemtamente todas as imagens nas quais o escritar vive o desgaste © a morte das coisas, corroidas “por um Scido dispers0 14 A oma indi no exotic ain da ce rin, Baerevese para algun, conta algun. Peles so aquees que eereven eto, pra st mesos! NATAL B A casa ontRuCA 7 ‘como uma suarda animal, penetrantee melancélico, com chei- -antigas roupas gastas’’. Entao nada maisé abstrato. O proprio 3poé um resfriamento, uma fusio de matéria fria, “Otempopas- por cima de mim e me resfriava tao traigoeiramente como urn ‘encanado."" E, apds esse resfriamento e esse desgaste, 0 s0- jor esté pronto para ligar sua casa e seu corpo, seu porko e seus ‘“Eunao esperavanada, esperava menos quenada. Quando itotinha a idéia de que, mudando de andar ede aposento, eu in- wziria uma ficticia modificacio na disposi¢ao de meus drgios, ito, na de meus pensamentos.”” A seguir vem o relato da ex: >rdindria descida em que as imagens fazem andar lado a lado os fantasmas, o fantasma dos objetos €o fantasma dos 6rgaos, 10 0 peso das visceras”” ésentido como. pesode uma''malacheia ide roupas, mas de carne de agougue"’. Como ni perecber que fs entrou na mesma morada a que certos sonhos condusiram Rim J, na “‘casa de carne sangrenta’”? (Barbare) ‘Michel Leiris continua: ‘*Passo a passo, cu ia descendo os de~ da escada... Eu estava muito velho ¢ todos os acontecimen- ide que me recordava percorriam de cima a baixo 0 amago de 38 mvisculos como tarraxas vagueando nas paredes de um m6- |.” (p. 13) Tudo se animaliza quando a descida se acentua: "Os 1us gemiam sob meus pés e parecia-me pisar animais feridos, ague muito vermelho, e cujas tripas formavam a trama do io tapete,”” O préprio sonhador desce agora como um animal jeondlutos da casa — depois como um sangue animalizado: ‘Se incapaz de descer agora a nao ser de gatinhas, € que no inte~ ‘minhas veias circula ancestralmente o rio vermelho que ani- ‘corpo de todos esses animais acuadas."” Ele sonha ser ‘uma ia, um verme, uma aranha"’. Todo grande sonhador com sciente animalista reencontra a vida invertebrada. Por outro lado as paginas de Leiris sio fortemente orientadas: ‘exo, conservam a linha de profundidade da casa onirica, ‘easa-corpo, uma casa onde se come, onde se sofre, uma casa femite queixumes humanos (p. 16). "Estranhos rumores con: favam a chegar a mim, © eu escutava os imensos sofrimentos inflavam as casas com seus foles de forja, abrindo as portas las em crateras de tristeza que vomitavam, colorida de ama~ ujo pela luz doentia dos lampides familiares, uma inesgotivel, irrada de sopa, misturada aos ruldos de discussées, de garra 98 A TERRA & OS DEVANEIOS DO REPOUSO {as desarrolhadas por maos suadas ede mastigagSes. Um longo vio de filés de vaca e de legumes mal cazidos escoava.”” Onde escoa- vam todos esses alimentos, nos corredores ou num esBfago? Como todas esas imagens tram wn sentido vendo tvs wm dplo sentido? Elas vivem no ponto de sintese da casa e da corpo hursano. Correspo= dem 20 onirismo da casa-corpo. Para bem desdobré-las e vivencié-las depois duplamente, no podemos esquecer que clas sio as imagens do anacoreta do s6t3o"", ‘do sonhador que um dia, dominando medos humanos, meds subut manos, quis explorar seus porBes, os pordes humanos, os porses, subumanos. ‘A imagem clara entio é apenas umm eixo da referéncia verti= ‘al; a escada é apenas um eixo de descida as profundezas hums nas. Jé estudamos a agdo desses eixos verticais em nossos livros O ar eos sonhos © A tora eos deveneios da vonade (cap, XII), Esses eixos dda imaginacSo vertical si, afinal de contas, tio poucos que &com- preensivel que as imagens Se rednam em torno de um deles. “No és seniio um homem que desce a escada...", diz Michel Leiris, acrescentando em seguida (p. 23): “Essa escada nfo € a passagem vertical com degraus dispostos em espiral, dando acesso as diver- sas partes do lugar que contém teu s6t30; sio tuas préprias vise as, € (eu tubo digestivo que communica tua boca, da qual te ongu- has, com ceu Anus, do qual te envergonhas, cavando por todo 0 teu Corpo uma sinuosa e viscosa trincheira, """ ‘Que melhor exemplo se poderia dar de imagens complexas, de ‘imagens com inacreditaveis forcas de sintese? E.claro que para sentir ‘em agio todas esss sinteses e preparar-Jhe a andlise —admitindo- se que niio se enha a imaginacio bastante rica para viver sintet~ ‘camente as imagens complexas — & precio partir da casa nice, ‘ou seja, despertar no inconsciente uma morada muita velhae mui to simples onde sonhamos viver. A easa real, mesmo a casa de nos- saLinfincia, pode ser uma casa oniricamente mutilada pode ser tam ‘bém uma casa dominada pela idéia do superego. Em particular, eee ee 4a, aia vnte ana viva catamente caer etre otbigues deere (ho velo wt" Glue, p 1) 17. Um sof ire meso com imagers com menos “imagens. Bm Car sn eee (2) de Th, lemon: "Aca tun sr complete een e207 hum corpo. Taine nso le mi lange aati aTaL 4 Casa ontRICA 99 de nossas casas citadinas, muitas de nossas mansies bur iso, no sentido psicanaltico do termo, “analisadas”.‘Tém de srvgo onde circulam, como diria Michel Leits, rios de aBes de boca”. Bein distnto desse “esbfago”,o elevador leva visitantes, 0 mais rapido possivel eevitando os longos corredo- {sala de estar. E af que se “onversa", longe dos odores da inha. E ai que o repouso se sacia de conforto "Mas essas casas em ordem, esses aposcntos claros, sero ver- firamente as ensas onde se sonha? CAPETULO V O COMPLEXO DE JONAS (Ox po it od de mat ee mas paiva estas ates os agro ‘Gu or Mscrasan Le cof Lt sd ar a a 188 mo enero, winter, Maren i so do “entra en“ congo Bum. So, sexe pong omer, depo detent tani que deo de ner Bra com eto {rverel, per abide dep po {Eco como rte ropa bet, pel ve peo deo Auenen Janay, > Spent, 111, p BE 1 A imaginagio que narra deve pensar em tudo, Deve ser di verida e sri, deve ser racional ¢sonhadora; cumpreshe desper- -0 interesse sentimental ¢ 0 espieto critica. O telhor conto é le que sabe ating os limites da eredulidade, Mas para tragar froniciras da credulidade,€raro que se estude, em (os os seus tos, a soled de faser credit. Em particular, negigencia-se e chamaremon cle provas onic, subesttnase © que € orice possvel sem ser alent possvel. Em sma, os ealistas rela tudo com a experineia dos dias, esquecendo a experiéncia noite. Para cles a vida noturma & sempre um resid, ura se= da vida acordada. Propomos recolocar as imagens na dupla va dos sonhos © dor pensamentos 102 A TERRA F OS DEVANEIOS Do REPOUSO ‘As vezes também um sorio inoportano do nareador dest ‘uma erenga entamenteedifeada pelos sonhos. Uma hstra de ou trora€subitamente desareditada por um gracejo de hae. Ciau dows pis na mda cis mitlogia misiicaa, esses anaeroismos de colegial. Para montrar esa destoigd das imagens pelo srrso to narrador, ese dct de qualquer eredulidadey vamos eatudar tma imagem que jé no € capa de fazer sonhar, tanto ela jf fidiculaizada. Trata-e da imagem de Jonas no ventre da bala ‘Tentaremos encontrar nela alguns elementos onficos mescados com imagens das Essa imagem pueri suscta um interes ingénuo, Poderiamos chamé-la de bom grado uma ingen narra, uma imagem gue prez automaticamente um conto. Ela exige que imagine um nts eum depois. Como Jonas entou no venre da bali, come ird sir? Dlem a erangasfrancesas de dove anos esta imagen eo. tno tema de cmporsie, Nio tenham divida de que exe compos ‘io serdtrabalhada com inte. tema poders servi dete de Comps feca, Dard uma medida da cepacidade jocosa do alu no, Procurande tm pouco,talvez se descubra uma mina de ima fens mais profndas ‘Vejamos primeiro um exemplo de pobresplhérias. Par sso bastara tle a pginas em que Herman Mehl relata sua mar nra a aventura de Jona. Ele instala Jonas na bce da balla. De ois, como apalavia as basta para que se sone eom uma hte fo, segundo ae contante dos devanios de inimidade, Melville acha divertido dizer que Jonas se alojou num dente oco da baleia’. ‘To logo nica exe sonho, Melville“ pensa” a tempo que a baleia no tem dentes.E do conto deste sm do dente oeoe do fest iment aprendido nos livros escalares que sce 0 tacanho humor do Capito dedicado& histérin de Jones, em um livro que, felemen- te; tem outras belezas. Als, o capitulo inti destoaen uma obra aque consegue alae tantas vezes os valores oniicos com os valores Fealisas. Into deveria convencer-nos de que nose pode gar com os sonkos, ou, em outras paras, de que 0 cOmico €o apandgio «a vida consent. Ei um lend da Nova Zein, o her ma TEM, aly Dit, ade p57 2 Und pererinsdevradin junc tala por Ganga bat om seu toro mo dente co do gue (Rabel, cap_ RNVIN DE jonas 103 -e no corpo da avé Hine-te-po e diz aos pssaros que 0 “Meus amiguinhos, quando eu penetrar na garganta , nfo dever rir; mas quando eu sai, espero que me aco- } com cantos de alegria.””* "Convém portanto separar 0 faeracreditar e 0 fese ir para se cde acompanhar um tema da vida natural das imagens essa separacio do gracejo eda credulidade nem sempre il, As criangas si0 3s veres mesteas na arte de gracejar. Em laste eujos alunos tinham de cinco a oito anos, André Bay seguinte experigneia. Pedi a cada um de seus jovens alunos tasse uma histGria inventada livremente, para diet 0s co- Ble publicow uma coletinea delas (André Bay, Histaires ra ‘par des exfants). O complexo de Jonas aparece em quase fina dessa colevinea. Eis alguns exemplos. Quatro ris en~ ‘quatro criancas perdidas e as levam de volta & mie. Uma le um porco e temos af a fabula de La Fontaine, de uma [queria ser tio grande como um boi, traduzida nas imagens sistas do ventre assimilador. Um lobo devora um porco. Um io come um camundonga: “uma vee Ii dentro, o camun: sc insinua pelas tripas do cordeiro até a ponta de seu rabo” 9 cords soe ob o denes do comundongo, pd para ‘serpente curiclo, A serpente come o rabo do cordeiro. O cor ‘quer enti “comer a sexpente para wingar 0 rabo””, e por ‘a histéria, realmente sem fim, do comedor que é comido, ‘assim que a histria termina em uma evidente “nadificacao” tv, Assim conclu o jovem narrador: “O cordeiro tornou-se slo como uma bola de gude... Fle sumiu.”” — "Um poreo, fem que estava com muita fome, comeu uma tartar in A tartaruga picou toda a carne no interior do poreo € com "uma casa.""As duas imagens de intimidade trocam aqui os 's. O conto é particularmente curioso no seu desenvolvi- ‘Como o porco teve muita dor, fez “um grande buraco em iga para tirar a tartaruga. Depois disto sentiu-se muito me Tetirou também a casa”, Mas nfo perde facilmente as 8 do suave repouso. E j& que ¢ tio gostoso dentro da “casa "a crianga acrescenta tranqiilamente: 0 porco “entrou propria barriga e Id sentiu-se bem. Ah! como esté bom, 7 TT mine dar te de fer, p96 108 “A TERRA E 08 DEVANEIOS DO REFOLSO dlizia ele, esté quentinhol"” Imagens narradoras como esta nos con: firmam, acreditamos, quando as designamos como auto-Jonss, ¢0- :mo o sonhio de viver realmente “em casa”, “'no centro de seu pr prio ser, em seu préprio ventre", Mas todas as paginas do livro dde André Bay poderiam servir para um estudo das imagens de in- {egragdo. Para terminar, vejamos uma histéria em que um jovern narrador refere-se ao poder de integragio da baleia, pois a haleia 0 maior dos ventres do mundo. Lembremos que os contos reco lhidos por André Bay slo contos compostos livremente plas cian ‘cas, sem nenhum tema proposto. Portanto, tornamos 4 encontrar a nogao le uma compasigiofancea natural, sinal de uma necessidade de comporhistéias. Bis a ikima histéria. Um leo, um lobo e um tigre que haviam comido ‘‘ovelhas e pastores'', fogem de aviao, OlleSo eo lobo caem no mar. Um pescador captura-os com a rede ‘Mas surge a baleia que “engole 0 labo, « leo, o pescador e o bar co”. Grande bocado, destino pequeno, A vida trangia continua Com efeto: “O peseador continua a famar sew eachimbo no ventee da baleia. Assim fez um pequeno buraco para a fumaga.”” Reen- contraremos esses dvaeeias de acmadayio quand estudarmos as ims gens de intimidade da grata ‘A imagem de Jonas no ventre da baleia teré algo a ver com ‘a realidade? Toda crianca que teve a felicidad de nascer perto de um rio, toda crianga cujo pai pescava com vara, j4 se maravilhou a0 en contrar 0 vairio ou a mugem no ventre do licio. A beiea do rio, vendo 0 iicio devorar sua presa, a crianga sonha certamente com, triste fim reservado & crianura devorada, A forma do cadoz, tio delgado no seio das aguas, destina-o finalmente air viver no ex ‘mago de outrem, Quantos objetos tm assim um perfil astrond- ‘mioo! Ao contemplé-los, temos a explicacio de numerosas tents (Bes mérbidas, {Um sonhador do devoramento como Jeronimus Bosch joga sem cessar com essas imagens. Para ilustrar'a maxima csmica: devor vos uns aos outros, Maurice Gossart, em seu livro sobre Bosch, csereve: “Uma goela enorme engole um peixe que por sua vez abo LCOMPLEXO DE JONAS 105 nha un pequenoarenque- Deis pescaores esto setadosnafentede aro. © ras elo cz erianga, mostrandoshe al prio: Veja, pe flo, si sso hi muito tempo, o pines grandes comer os pe "0 proprio Spinoza nio desdenba a clarezadesse apslogo “Afabula: Agus estar quand jug copturar esume-senesaitmagern erm simples: “Eterna devoradores, perpétus devorados.” Fest, se Jo Georges Barbarin, “a divi do peixinho de égua doce" “Tams os sabios inventam alguns prio, ds vezrs scr , Be vezesexcensivos. Em Trt des liens (p- 367), Louis Lémery Jqveno ventredo “cruel” encontransepexesinteios. “Ha alguns autores que observam que jéforam encontrado ai gar Daudin (soe nano ial partie ds rps, ano X 801], 1, p. 63) excreve: “O principe Joao Mauricio de Nasa ‘uma miler holandesa que etava gravida ser devorada inteita or ma dessas monstruosas serpentes." A gravidez da mulher des sum interes “redobrado”. Asim nascer as belashistrias. Ve mosem breve oto na de oas, outros exemplosdedevoradores Asse reapeito a faunaliterdria ds epi bastante ica "Asim, Alexandre Dumas achou interessante anotar esta lem ga (Mes ménairs, 1, p- 200). Tots anos atré, cle via o jar cro corar uma cobra pelo meio. Dela sai uma ri engotida que fe vai sltitante. “Este fendmeno, que nunca mais tive a ora de ver ocorver, impressionou-me singularmente, e permane- Ho vivo em meu esprit que ao feehar os olhos revejo, no mo ‘em que escrevo estas linhas, os dis peagon méves da cor a. ainda imével e Pierre apoiado sabre a p4, sorrindo de no de meu espanto."® As pequenas imagens fixam as gran- Sem essa ri ibertada, o eseritor ainda se lembraria do rosto rridente do bom jardincira? "Louis Pergaud escreveu piginas dvertidas sobre a morte da ino ventre da cobra’. “Uma baba moma e pegajosa a envalva: movimento lento eiresistve a arrastava implacavelmente para indezas."” Pergaud encontra assim, anteeipadamente, 0 plo dena vertgem sartriana, de uma vertigem la que leva eto cae epi om dua longs pins de seu escrito sobre publica ofl do vee Pl, lee ran, el 1873, p08 16 Laas ergn, De pl 3 Mart, 9.18 106 4 TERRA & 0S DEVANEIOS Do REPOUSO insensivelmente & morte, a uma morte quase materializada, pela incorporagio no pegajos0, no viseoso (p. 162). "A morte desizou assim sobre ela, ou melhor, néo era ainda a morte, mas uma vida ppassiva, quase negativa, uma vida suspensa, nfo na quietude co- ‘mo ao sol do meio-dia, mas cristalizada, por assim dizer, na an- ‘tistia, pois algo de imperceptivel, como um ponta de consciéncia talvez, vibrava ainda nela pelo sofrimento,”” ‘Convém sublinhar, de passagem, um adjetivo que se insinuow ‘esse texto to rico de imaginagio material — 0 adjetivo more. Ele io esté no mesmo nivel materialista das imagens que o cercath Corresponde a uma instancia humana. Se nos exercitarmos em ler ‘08 textos mais lentamente ainda do que foram escrito, to lenta- _mente como foram sonhados, sentiremos, ao sonhar com essa mor nidio, que o escritor participa de uma singular ambivaléncia. Es. tard ele sofrendo coma vitima ou delicianda-se com o devorador? Em que boca encontra-se esta saliva morna? De onde vem esse si bito calor num mundo que os livros designam como o mundo da, Vida fia? Os livros no so feitos apenas com o que se sabe e 0 que se of. Nevessitam de rafzes mais profundas. A continuacio do conto de Pergaud quer aliés que a 13 seja libertada. Um faledo vem comer a comedora, cortar em das ¢o- bra com uma bieada, de sorte que a primeira vitima desliza ‘so bre as almotadas viscosas da goela de seu captor”. Se nos lembrar- mos que o narrador empenhou-se em nos mostrar antes a ra devo: +ando gafanhotos, vemos funcionar aqui, do gafanhoto A i, da ra cobra, da cobra ao falcio, um Jonas a0 cubo, um (Jonas) A Algebra nio se deter em tio belo caminho. “Uma seda chinesa, diz Victor Hugo’, representa o tubaro que come 0 erocodilo que come a guia que come a andorinha que come a lagarta."” Eis 0 Jonas). No Kalala de Lannroté descrita uma longa histéria de devo- adores devorados, Ela € ainda mais interessante porque a aut6psia do dtimo devorador permite descobrit no estémago mais central, mais reeéndito, um bem mais precioso do que todos: a filho do Sal reencontra a centelha furtada do firmamento. Eisa cena: 9 filo do Sol abre o ventre do licio, o maior devorador (op. ci. p. 633). 7 Vicor Huo, 125 owas de tm Neon, 8 yp. 198 2x0 DE Jonas 107 Ne entre do ii eins ‘Deuatria o slnde ple, ‘No ent de sali pide {Um salmon se debi, No ventre deste ‘timo peixe, ele descobre uma bola azul, na azul uma bola vermelha, Ele parte a bola vermelha, [Ne mai de bla vermatha ‘deka a el cent Que ecapara doc, E attest at wenn, Os wt ends de firmament, (sma vs ds amex Pode-se ler em segida um longo relatoem que oferreio, de ba quimad, macs qucimades,persegue a cntelha errant até sion ""deniro do ranco de um velhoamiio seco, no fare tm cepo spodrecido”, pond depois ocepo em uma panela ju evolve na csc de béuls. Mas todo exes atlicou nee eee, ei cecereecneslciteennaie Serene sAl ce ie pestaioetn Kin Kall We eget eae ee sien eremos facilmente que todas as ingens em ago. aqui rae cs prépris sonhoe dos coments mae. ING rem razko que aqui ofogo ocular no ventre dow pi Prscisamos completar a imagem formulada peas jomase com. Ber co pedprioliio ext no vente do ie, nano des dps cn da cfg, dialtica que recobra as profundas ambiva. io frninino edo manclin, pode ser considered um ver ante oni de agement Meh ee reomeenicwnt sees ie mere tke pale ae Catala rad por Des, age tae ols Cir, ‘Te ats w gua so Pe “Sem razio", mas no sem sonhos. Entre a gua e 0 fogo, bates e 0s dejoscontralitoriamente multpicam suas ima -dinamizam incessantemente « imaginasio. 108 A TERRA f 08 DEVANEIOS DO REPOUSO ‘Mas continuemos nosso exame de imagens mais simples, mais ‘expliciamente estimuladas pelo desejo ‘de saber 0 que cada qual 1m H contos em que um complexo de Jonas forma de certo mo- do a trama da narrativa. E 0 caso do Mirchen [conto de fada} de Grimm inttulado Daxmesdizt [Grosso como o polegar). Esse peque- nissimo ano, dormindo no feno, € dado & vaca com uma bragada de forragem. Ele desperta na boca da vaca. Bastance habil para evitar 0s dentes — habilidade que encontramos nos heréis valoro- sos — chega a0 estémago, estranha morada sem janela onde no chega a luz do so, © que itio notar os mitélogos que eréem na ex plicagio solar dos contos, O engenhoso Daumesdick berra tio for- te quanto pode: "’Parem de me dar feno!”” Essa ventriloguia basta ppara assustar a empregada: ‘Santo Deus, diz ela ao patrio, a vaca Talou,"” Portanto a vaca esté possulda pelo diabo. Matam-na e jo: ‘gam seu estdmago no estrume. Aparece um lobo esfomeado que ddvora 0 estbmago e seu conteiido antes que Daumesilick possa es- ‘apulir. O lobo no esté saciado. O pequeno Jonas 0 aconselha a ir A cozinha de seus pais. O lobo, ainda magro, esgueira-e pelo ‘buraco da pia (die Grn), mas, como devora todas as provisbes, nio ‘consegue sair pelo mesmo caminho, Cait na armadilha; eambém ‘le encontra-se na pequena casa encerrado como num ventre. Daw resdick grita a plenos pulmdes, O pai e a mle, despertados, vém rmatar o lobo, ¢ amie com uma facada abre a barriga da fera para trazer& luz seu flho maravilhoso, $6 seré preciso fazer-Ihe roupas rnovas, pois as antiga fcaram muito estragadas em todas essasaven- turas. Como vemos, 0 conto procura pensar em tudo. ‘A histéria de uma sexpente que devora outra também é fre dientemente narrada’. Alexandre Dumas (Fils, frat et eurtiso- ti, p. 173) acrescenta uma variante. Como a cauda da serpent ddevorada ainda esté aparecendo na boca da serpente devoradors, Mis veri ainda € 2 serpents de Taare. “A serpent engl cals «vias plo ates come uta lve (Laid, p. 182) © Yoo, proseind Feenoe #serpente aa dco. Ei wma forma nova de Urdboro Ee auto ‘toms uin verte sible de eerie, 0.coUPLENO DE JoxAs 109 dois guardas do jardim botinico tomam cada qual uma cauda na “Ea pequena serpente saiv la grande como wma espada sai da bainhs."" As dus serpentes reconeiliadas devoram em seguida, da qual, um grande coelho. Em todas essas hist6rias, a morte de imples ineidente fil de apagar. 'Aliés, pereebe-se claramente nessas narrativas o desejo de pit ar. Cumpre reconhever a importincia das ungdes de pilhéria ‘dio uma medida da habilidade do ‘‘narrador” e da eredli- do “narrado”, se permanccemos no psiquismo consciente. se formos “a0 fundo das coisas”, veremos que as pilhérias ynam tanto no inconsciente do avd como no inconsciente do Representam “disfaroes" para um temor aninhado ne incons- ite de todos os homens. Com o complexo de Jonas, a acio psi ca da pilhéria fica fil de detectar. Mas encontrariamos essa 0 do cimico em muitas curas psicanaliticas. Freqlentemente os psicanslistas — enire si— sabem rir apesar de seu triste ofcio. Em um conto de Miloss (Contes t fbliau dela iil Lithuania, 6), pode-se acompanhara aco quase subterrfinea, inconscie ‘da imager do devorador devorado. Um psicanalista no teré, 5 dificuldade de detectar nesse conto os indcios de uma fixa al. Mas, precisamente, a velha imagem de Jonas, que nas as piginas do livro nfo era ainda visivel, aflora na pégina inte (p. 97); assim, ao que tudo indica o conto de Milosz foi ‘po sentido inverso Aquele em que fo sonhado, A psicansl vex nio distinga suficientemente entre o que se poderia cha- de imagem implicitae de imagem explicta. Inteiramente vol para a busca dos complexos essencialmente inconscientes, a lise nem sempre da a devida atengio as imagens explicitas, 1 verdadeiramentedelineadas que parecem disfarces ino- ‘de complexos profundos. Cremos que a imagem de Jonas dda baleia poderia servir de questionétio nas dispepsias sm psfquica. Por sua clareza, por sua simplicidade, por seu falsamente pueril, esta imagem é um meio de andlise — sem muito clementar, mas assim mesmo Gtil — para essa imen- gio, tao pouco explorada, da psicologia digestiva tee imagens tio ingénuas, pode-se também avaliar me: ingenuidadle de certas racionalizagbes, de modo que temos iguns elementos para julgar essa psicologia reduzida que € teem geral para analisar certos psiquismos simplificados, 110 A TERRA & 08 DEVANBIOS DO REPOUSO tanto no reine da imagem quanto no reno da ida. Por exemplo, peederemos arbuir&racionalizago da imagem tradicional exta api Dido da Idade Médin que Langlois record a0 resumir Lee de tro [O lvro dos tesouros:acredita-secomumente que as bli ‘rem caso de perigo engolem a prole para Ihe dar alo, ea expclem cm seguida” Um psicanalista, em moss opiniao, no tera o di Teta de ver ai uma aplicaro da fantasia caracterizada peo nome dlevolta A mie. Com ceca, «ago da imagem etry, da imagem taba, da imagem tdi, exh aqui muito evidente. Temos A levarem conta a solctagGcs da imaginacio Figured a inves Ae imputar toda a atvidade aos complexos pofundos. Finalmen- tc. a pubre convicgdo que anaisaron nests pginas€ muito het rogtnea. Edel dar um exemplo de adexto foal 3 imagem de Jo- has. Por io, a pobreza da imagem € muito propicia para nos fa Zer senira agd0 de elementos simplesmentejusapostos, jamais Completament unifcadon Vv Nos devaneios populares, o vere aparece como uma cavidade acolhedora, Dormir de boca aberta é oferecer um refigio a todos fos anipais errantes, Folheando 0 Dictionait infernal de Collin de Plancy, encontraremos facilmente uma fauna estomacal legend ria, reunind todos os animais que a humanidade acredita ter vo tmitado, Por exemplo (Art. Gontran, ef. Art, Morey), uma doni tha entra e sai da boca de um homem adormecido. Trata-ve de ‘uma alima migratéria? No artigo Feiarias, contarse de uma meni na enfeiticada que “"vamitou pequenos lagartos, os quais desapa: receram por tum buraco feito no soalho””. Nao é de espantar que se tenha falado tanto de “possessio” por via bucal (Art, Juramen 1): uma menina engoliu 0 diabo, Cardan, por sua vez, conta (p. 199) que um homem adorme- cido que havia engolide uma wibora foi salvo a0 respirar fumaca ‘de couro queimado. A serpente enfuracada saiu da boca do ind vido, Raspail (I, p. 38) cita com complacéncia um texto de 167: “0 bobo da corte de um principe, que se divertia comendo ovos de galinha crus ¢ sem quebrar a casea, foi acometid de cAlicas O.COMPLEXO DE JONAS it Deram-lhe de beber uma infusdo de tabaco que o fee voritar um ‘Pinto morto e sem penas, mas desenvolvidissimo, ‘Quem bebe no riacho corre o risca de engolir ras, Os contos sobre esse tema multiplicam-se, E uma vez iniclada a “amplifca fo”, nada detém a imaginaco. Em um conto da Gasconha reco- Thido por Francois Bladé, um asno bebe a lua que dormia sobre rio. Os poctas, por instint, utiizam a mesma imager, 0 cavales Seber ts Qu se via sobre dun, “diz-0 poeta russo Serguei Tessenin Ofolelore de Gargantua ilustra amide esses contos do gigan- ‘que dorme de boca aberta. “Um pastor surpreendido pela tem- DPestade refugiou-se ali com seu rebanho, e ao explorar a imensa faverna que era a boca de Gargantua, espetou 0 céu da boca com eajado, O gigante sentiu que algo Ihe causava comichio e, des- iando, engolia 0 pastor e suas ovelhas.""E freqiente o conto em ‘um pequeno camundongo sai da boca de um mineira adore (cf. Diirler, op. cit, p. 70). O mineiro, trabalhando nas entra- a era, ego sein cermérin sere do mand sberrnce, lore de Gargintua oferece indmeras lustragées para urna gia do Engole tudo ae taut No livro de Paul Sébilloe®, vemos Gargantua engolr diferen sanimais, um exército, um lenhador, carrocas, seus filhos, sua fades, um moinho, suas amas-de-leite, pés, pedras, um -Vé-mo-lo engolir navios, o que, com um pouco de sonho, pro- rao leitor uma divertida imvrsdo de imagens: nla se diz Jonas no ventre da baleia nfo passava de um viajante no po- nnavio? Pois bem, aqui é homem que engole o barco. Afi- Para quem sonha, isso nio € coisa do outro mundo. corre uma inversio igual quando Gargintua engole nfo seu dio mas seu médico, ndo o leite mas a ama-de-leite. Nesta imagem de uma crianga que, mamando um tanto forte, en ‘a amarde-leite, temos a prova de que o complexa de Jonas 0 psicolbgico da degluticzo, Em muitos aspects, po: TRICE Anat Van Gen, Le lie dt Brrr (sn ST. Pal Sei Grn soto pps ran) 12 4 TERRA E 08 DEVANESOS Do REPOLSO deriames cosideraro comple de Jonas como um caso particu lar do complexo de desmame. : r Frbeniisenfatizoupartiularmente os inimeros mito li «anos asoiados 3 imagem de Jonas, Tin gunn des a ‘ener cansiderado um forno onde when eece ume one as seabada. Herbert Silerer nao deison de compara xe eran un Jad corm oe mito eo her soln de oto com a6 aie oe alquinia! Ese € um exemplo da determinismo palvaese dea imagens. Em outras para, ae grandes imagens seo vate tsinadas, © vineulanrse por una valoneario superbe Imasjovs deine. A maria nquiea que se apetena na fernlha, oso que no vente da tena prepara pate he Jonas que no vente da bleiarepousa ese ment tote na ‘gens que formalmente nada tem em comum, marie odeg ce, ‘uma elagio de mitua metre, expres mena née v A ventriloquia, por sis, sa resttuissemos ao maravilhamento {que suscitou, poderia proporcionar um longo tema de estudo. Di Yazio a uma vontade de enganar, a um divertdo cinismo, Veja: ‘mos um curioso exemplo, Em seu lvro Les noms des oiseawr [Os to ‘mes dos pssaros),o abadle Vincelot dedica uma pagina a Papa. formas (p. 108), 0 qual aribui as eonvulsbes de um epiléptica, ‘cusando-o ao mesmo tempo de preguiga, “Enfim", dir ek compraz em bancaro ventriloco no unde das érvoresdeas nas quae s refugia; depois sai de seu retro tenebroso para se certihear do eleito que produziu nos ouvintes, ¢ continua a sua representacdo com poses e contorsdes que fazem dele tim verdadeira saltimban. co." Do engolidor de sabres ao ventriloco, hi lugar para toda urs comédia do ventre burlesco que mostra bem ox interessee diver. $08 por qualquer imagem ventruda, As vezes também a ventriloquia € considerada uma vor de- ‘moniaca. A farsa, como s6i acontecer, vira conhusio (ef, Collin de Plancy, op. cit, Art. Fetigarias). No conto Les fée [As fad}, © TL GE Heer Sheree, Plan or Mun it Saba, p 92. COMPLEXO DE JONAS 113 ‘Perrault, a menina mé cospe saposa cada palavra que Ihe sai da ca. O vente contém assim todas as vozes da consciéncia pesada” ‘Torlas essas imagens podem parecer remotas ¢ divergentes. se as tomamos em sua origem, nio podemos deixar de reco: er que todas elas 0 imagens de um ser habitado por urn ox ro ser. Tais imagens devem portanto ser inseridas em uma feno Ml C. 6. Jung, em seu liv Die Pehle der Uebrtagung (A ologia da transferéncia, p. 135), apresenta uma verdadeira tradu- tlguinice da imagem de Jonas, tradugto que, do nosso pomto Vista, €extremamente vaio pols que equal exprintr me imei, mediante uma paricipagio na ininiade da atria, {que «imaern tradicional exprime no rie desma. Na lingua gem alquimica, nfo s trata de uma personage por rjuvenes- mas de um principio material por renovar. No vente de um pienteslquimico, a matéa por putea, por exakar,€ con. ‘uma dgua primiiva, a0 merci dos af. Se sim formaissubintem, clan sfo metsforas, Por exemplo, a uniso jovadora se realzard nas deuar de umn Gtero, “in die Anno. iki des greviden Vers (p. 190 (Com cnotate do tatnmamete ima, ao & de aria ue todo o inconsciente do alquimista fique envolvido. Ao ler esse alqlmico, somos coneiados 4 sonhar em profundidade, a rtd a imagens no sentido de ana prfundiade, Fis oc. deste mergulho, ao longo do qual devernosexperimentar pera de imagens formats eum ganho de imagens materia aes, rnp de asimilso — principio umidade aia TE Go anode Gren, Dis Méenan im Wali cde 4b meninn ato de ows cone pt de oro acd pal, enquano rain al ee ap ag A TERRA FOS DEVANEIOS Do REROUSO Essa excaladescendente deve nos ajudaradescerem nosso ne Consciente, Ela pic em ordem sfmbolos que a pricandlise cldsciea considera preipitadamente eutales?™ ‘Ao perderem progressivamente os tragos da vida consent as imagens parecem ganar calor, o suave calor do inomaciente Jung desiga o mererio, que subsancializa toa Nudes, tod di Solucio aisimiladora,exatamente como imagem etnica do incons. fente que é a0 mesmo tempo égua ¢ terra, massa profunda, Mas a fgua que possui a maior “profundidade’'inconsciente, cla ‘ave assimila, como o mico gastric ‘Assim, apesar da aproximacio que faremos mais adiante en- tre o cavalo de Tria do astucioso Ulisse ea baleia de Jonss, cur pr distingur suas insiinciasinconacientes. A Baleia eto man, ‘st dentro da agua, é uma poténcia priméria da igua, Seu ser, = tet existencalismo posiivo enegativo —, joga com a dialéiea da hidropinia (Wasersch)e da hidropsia*.Pereehemos esa dale ticaem asio assim que diminutios ' clareza das imagens traga das, assim que, precsamente, meditamos sabre a tradueio material dos alquimistas. Como diz Jung (opt, p. 165) "fast de Me {e Alchemia sin ivr unter Kinprlehytopsc” Para quem so- na nos niveis dos elementos, oda gravider se desenvalve como 1uma hidsppsia. E um excesso hin. Se quséssemos agora, apagando tda imagem ingenua, seguir © alquimista em seu esforgo de pensamento, em sua conguista de uma iustragfo das suas idkiasabstratasreferentesintimidae das substincias,cerfamos de consderar um jogo de cireulos e quadra dos. Gremos entdo estar bem longe dos sonhos profundos na ver. dade estamos muito pert dos arquétipos. Com efeito, quem desenka um cfeulo atribuindo-the valores de simbolo, sonha mais ou menos vagamente com tim sete quem desenha um quadrado atribuindo-the valores de simbolo, eon 15. Gh, Hebe Serer, op. i, 158: de, Hil, Mer, Buc de Ft, 1 dal deck. f Mir nd Mat” clan qc sewn

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