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Introdugao as Curvas Algébricas Planas Israel Vainsencher COPYRIGHT ® by ISRAEL VAINSENCHER (1979) Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida, por qualquer processo, sem a permissio do autor, INST{TUTO DE MATEMATICA PURA E APLICADA Rua Luiz de Camées, 68 20.060 - Rio de Janeiro = RJ ie PREFACIO "la premiére est toujours si astreinte & la considération des figures, quelle ne peut exercer ltentendement sans fatiguer beaucoup Ltimagination; et on s'est tellement assujetti en la derniére &-certaines régles et & certams chiffres, qu'on en a fait un art confus et obscur qui embarrasse liesprit®? au lieu d'une science qui le cultive". Apés enunciar este veredito, Descarte propds-se a tomar o melhor da Geometria e da Algebra, corrigindo os defeitos de uma pélas virtudes da outra. Nascia a Geometria Anal{tica Classica. Dela sto sucedGneas a Geometria Diferencial e a Geometria Algébri ca. Apesar da origem comun, é claro o desequilfbrio verificado nos currfculos atuais quanto eo tratamento dispensado aos aspectos introdutérios dessas duas disciplinas. 0 estudante é devidamente apresentado a0 triedro de Frenet, torc&o, curvatura... mas se pas— ga a dist€ncia do plano projetivo e curvas algébricas. Estas notas foram escritas com o objetivo de servir de tex to a um curso de 1 semestre, como disciplina eletiva destinada a alunos do 32/42 ano do Bacharelado, ow ainda como disciplina de iniciag&o cient{fica. 0 teorema de Bezout é o resultado central do curso. Para apresenté-lo com vigor, é necessdério empreender uma jornada razod vel. Nosso ponto de partida sic as curvas planas usualmente es- tudadas na geometria elementar, tais como retas, cénicas, conchdi- des, etc. ... Passamos em seguida a uma revisdo critica do conced to de curva algébrica, formulando uma definigdo rigorosa, ainda que mais abstrata. No Capftulo II, iniciamos o estudo da intersegdo de 2 curvas. Introduzimos a resultante de 2 polinémios e concluimos com um caso particular do teorema dos zeros de Hilbert. Nos Capftulos ITI e IV so exploradas as idéias bagicas necessérias 4 demonstragdo do teorema de Bezout. Para que curvas de graus m e nse intersectem "sempre" em mn pontos, & neces sdério explicar como alguns desses pontos devem ser contados mais de uma vez, quer seja por tangéneia quer pelo fato de uma das cur- vas "passar varias vezes" pelo ponto em quest&o; por fim, deve-se explicar como alguns outros podem estar no infinito... No Capf{tulo V demonstramos 0 Teorema de Bezout. No capftu- lo seguinte estudamos mais detalhadamente o indice de intersecdo de 2 curvas. 0 Capftulo VII constitui-se quase que numareviséo da maté- ria: aplicamos o Teorema de Bezout ao cAlculo do ntimero de tangen— tes inflexionais de uma curva e o de tangentes que passem por um ponto. No Capf{tulo VIII ocorre uma certa mudanga no objeto de estu do. Até ent&o estivéramos interessados no aspecto conjuntista, ana lisando propriedades de uma curva como subconjunto do plano; agora -idi- examinamos o seu cardter funcional, i,e., propriedades do corpo de fungSes racionais. © Ultimo tépico - cibicas nfo singulares - tenta mostrar o sabor de coisa inacabada, mal disfargando a esperanga de que o alu no recorra & bibliografia indicada para explorar com mais profun- didade 0 roteiro aqui iniciado. Gostaria de registrar meus agradecimentos 4 Comissd&o Orga— nizadora; ao Yves, Karl Otto e Celso por vérias sugestdes e, em especial, ao Antonio Carlos pelo espfrito critico com que leu o manuscrito. Recife, 29/06/1979. ave inprce CAPfTULO I - Definicgdes preliminares e exemplos. 1, Um pouco de histéria Bxere{eios 1-6 . 2. Equag&o de uma curva algébrica. Exerofcios 7-l6..e.ssesee 3. Mudanca de coordenadas. Exerefcios 17-22...... CAPITULO II - Intersegdes de curvas planas. 1 Finitude da intersecio...... Exerofcoios I-4..ssseeee ~ A resultante....cecessecessseccererecreceeseeceser ExorclciOS 5-Qeesseeuseeceseeeverssevenserercesaee 3. 0 grav da resultante. Exercicios 10-12.... F © teorema dos zeros Exercfeios 13-16, CAP{TULO III ~ Multiplicidades 1. IntersegSes de uma curva com uma reta 2. Pontos miltiplos. 3. Diagrama de Newton. Exercfcios 1-11, “capftuLo Iv - Pontos no infinito L, 0 plano projetivOsssccsscceeseceusacecctecsseeeeee 2, Bspagos ProjetivOs.cessesecesesscceessceenceeeeuee Be Curvas Projetivasscescccsscccereseasesesseeeerenee aH 1. 16 17 2l 42 45 51 55 58 59 -vi- 4, Mudanga projetiva de coordenadas.... Exerc{cios 1-18..sseeseseeseeneees CAPffULO V - Intersecfo de curvas projetivas 1. Intersegfio de reta e curva, agora projetivas....+. Exerclol0s 1-G.sseeesceescceresessescsesensaeansens 2, 0 teorema de Bezoute..eseeee Exerc{coios 7-ll..sseeeseeree caPfTULO VI - Propriedades do {ndice de interse¢So. 1. As propriedades caracteristicas Exerofcios 1-6.. 2. Séries de poténcia. Bxerefecios 7-13. cAPfTULO VII - Férmulas de Plicker. Exercf{eios 1-15....++0+0+ CaPfTULO VIII - Curvas racionais 1. Curvas racionais afins. Exerefcios 1-3.. 2. Fungdes regulares e fungSes racionais Exercicios 4-8. 3. 0 teorema de Litroth ... Exerc{cios 9~10..... 4, Curvas racionais projetivasssseseccsssseeereresenes Exercicios L1-16...ecseseeeeeeeeerscereneetasereees 0 género virtual... Aplicagio ao cdlculo integral, Exercicio 17-19. .seeeseeeeee 70 73 76 85 86 4 95 107 109 118 121 123 124 129 130 133 133 138 139 147 149 avii- CAPITULO IX - Cibicas nfo singulares. 1 2 - BIBLIOGRAFIA ...05 Conexdes inesperadassseserserecseccesecervseeeeece Forma normal. Exerefeios 1-5 PungSes racionaisssssesesesseceesreeeteeseteeseees Exercicio 6... Ciclo e equivaléncia racional Exercfeios 7-13......+ A estrutura de grupo... Exercfoios 14-23 esse cAPETULO I DEFINICOES PRELIMINARES E EXEMPLOS §1. Um_pouco de histéria A manipulegiio de expressées do tipo x*4y° = 1 é um fato relativamente recente na histéria da Matemitica, podendo se situar em torno do século XVI. Mas os matemdticos gregos jd sabiam efe~ tuar cAlculos elaborados, recorrendo a procedimentos geométricos. Por exemplo, para o cAlculo do produto de duas quantidades a, b, poderfamos proceder assim: ab oO 1 b Fig. 2 Neste exemplo, o segmento de comprimento a é tragado perpendicularmente A reta 0b. Esta construc&o requer somente o desenho de retas e cfrculos. (0s cfrculos foram empregados para se obter o Angulo reto). Com um pouco de imaginagdo, é possfvel se descrever méto- dos para a construg&o com régua e compasso de expressées do tipo Ja+ fab Je , ou mais geralmente, para qualquer elemento do chamado corpo dos ni 1) meros construtiveis”’. Além das retas e cfrculos, os matemdticos da Antiguidade estudaram outras curvas, geralmente descritas como o lugar geomé- trico de pontos satisfazendo a certas condigdes. Essas curvas es peciais eram o recurso empregado na solugdo de v4rios problemas, para os quais todas as tentativas com régua e compasso malograran. Alguns desses problemas tém uma historia curiosa, em que lenda e fato se misturam. f 0 caso dos célebres problemas da duplicagio do cubo, da trisseg&o do Angulo e da quadratura go circulo®). ve- ja o Exemplo 6 mais adiante, e o Exercicio 1d). Com a ulterior introdug&o do método das coordenadas, cons tatou-se que varias curvas conhecidas desde a Antiguidade podiam ser descritas por equagées polinomiais. 1. Definicdo. Uma curva algébprica plana é o lugar dos pontos Definicgac curva algebrica plana cujas coordenadas cartesianas satisfazem a uma da- da equagSo polinomial £(X%,Y) = 0, onde f é um polindmio nao constante. (Compare com a Definicao 4). 1) Veja a discussdo no livro "Introdugdo & Algebra", de Adilson Gongalves, pag. 183 e seguintes. 2) Consulte a "Histéria da MatemAtica" de Carl B. Boyer, tradu- gao de Elza Gomide, pag. 48. 2. Exemplos. Eis aqui uma lista preliminar de curvas algébricas planas. A maioria deve ser bem conhecida do leitor. 1} A reta que passa pelos pontos (a,b) # (c,d). Sua equagdo é ree Pro Hob if ° 2) Ocfreulo de raio r ecentro (a,b), lugar dos pontos que satisfazem a equacdo (xa)? + (yep)? = 3? 3) A eclipse, lugar dos pontos cujas dist@ncias a dois pontos fixos (digamos (+ ¢,0)) +tém soma constante 2a. A con- @igdo imposte escreve-se Mowe? + + Ae)? + = 20 =o c * Esta equagdo nfo é polinomial, mas é poss{vel eliminar os radicais e mostrar que toda solugdo dela é também solug&o da seguinte (e vice versa), onde b 4) A _hipérbole, lugar dos pontos cujas distancias a dois pon- tos fixos, chamados focos (digamos (4c,0)), tém diferen- ga constante 2a. A condigéo desorita é doe)? + v= Meee)? + ¥? 2 20. Procedendo como no caso da elipse, eliminames os radicais e obte- mos a equagdo 2 ey ae be 2 = o2-a2 onde ona. Fig. 3 5) A parabola, lugar dos pontos equidistantes de um ponto fi- xo (foco, e.g. (0,b), b> 0) e de uma reta fixa (diretriz, e.g. Y=-b). Sua equacdo (j4 simplificada) é, Fig. 4 6) A cisséide de Diocles, lugar dos pés das normais tracadas do vértice de uma parébola 4s suas tangentes. Dada a pa- rébola de equagio x? = 4bY, a tangente num ponto (xgr¥Q) se es creve XX - Aby, = 2b(¥-y,) « A normal tomada da origem (que é 0 vértice) é 2bX + x,Y=0. Dessas duas, resulta a equagdo da cisséide , vx® - ¥(v7ax?) = 0. Note que, em coordenadas poleres, essa Gltima equagdo fornece, r= bcos @ cotg a. Daf obteremos uma descrig&o dindmica que permite tracar a cisséi- de. Construao circulo de didmetro b e centro (0, b/2). Considere a reta Y=; para cada um de seus pontos P, trace arveta OP e tome o ponto Q da intersegdo com o circulo. Final- mente, marque o ponto R tal que OR = PQ. Variando P, o pon- to R descreve a cisséide. Com efeito, temos PQ = OP - 00 b sen @ - bsen® bcos @ cotg @=r. A cisséide foi empregada para resolver c problema da dupli-~ cache do cubo: dadaa aresta de um cubo, construir a aresta do cubo de volume duplo. Em simbolos, procuramos resolver a equacao, = 2p, onde b denota o comprimento da aresta conhecida.. Sabe-se que esta equagio nado é resolivel por régua e compasso (por exemplo, para b= 1). Recorrendo 4 cisséide como "curva auxiliar", a so- -7; lugio gréfica é obtida com o seguinte procedimento: intersecte a cisséide (b-¥)x® = com a reta be¥ = 2x5 obtemse um ponto (x,,y,) com (y,/x,)? = 2. Ligando~o & ori- gem, constréi-se a reta Y=%2X. Fazendo X= b, resulta a quantidade procurada. Convidemos o leitor a se familiarizar com os exemplos adi- cionais compilados na lista de exercicios, Exercfcios 1) Esboce as ourvas seguintes. 2) Folium de Descarte: Way? ~ FaxY = 0. b) Trissectriz de Maclaurin: x(x74¥) = a(y*3x*) . c) Seracol de Pascal: (x°4¥?)? - 2ax(x®4y?) + (a2-b?) - by? 20, Mostre que em coordenadas polares a equacho é rsacos 8b. Distinga os casos a>b, aa, temse a oval propriamente dita. 2) Mostre que a curva dada parametricamente por x(t) = 79, y(t) = é algébrica, encontrando um polinémio £(X,¥) n&o constante tal que f(x(T), y(2)) = 0. 3) Sejam x= x(T), y= y(T) fungdes racionais (= quocientes de polinémios em uma varidével 1). Mostre que existe um po~ linémio nfo constante £(X,Y) tal que ty) = 0, (Sugestao: seja k(Z) © corpo das fungdes racionais a coeficientes no corpo k. Se x €k(T) é n&o constante, entéo k(I) & uma extens&o algébrica do subcorpo k(x) gerade por x, pois se x= P/a, ~10- com p,q polinémios entdéo T satisfaz & equagéo polinomial p(X) - xq(X) = 0. Logo, todo y €k(T) & algébrico sobre k(x)). 4) Uma curva 6 racional se for definida parametrioamente por equagdes X=x(T), ¥ = y(t), onde as fungdes de TI indicadas s&o racionais e ao menos uma é n&o constante. Mostre que teda curva racional é algébrica. 5) Gurvas de Lissajous. S&o dadas parametricamente por x(0) =a sen (m@ +p), y(e) = b sen(ne + q), onde a,b,m,n,p,q sao constantes (abm #0). Curvas des- se tipo ocorrem na investigac&o de fenémenos vibratérios. (a) Es boce a curva, supondo m= 2, n=3, a=b=l, p=0, a=n/4. (o) Mostre que a curva nao é algébrica se m/n irracionel. (c) Se m é inteiro,mostre que x(8) pertence ao anel A gerado pe- las fungSes sen?,cos@. (d) Mostre que A é um dom{nio e que seu corpo de fragées é igual a R(f), onde T= tg(@/2). (e) con clua que uma curva de Lissajous com m/n racional é algébrica. Ache a equag&o polinomial no caso considerado em (a). 6) Chama-se rosécea uma curva de equacéo polar r= a sen(b0). (a) Esboce para a=1, b= 1,2,2/3. (b) Prove que se b = m/n, com m,n inteiros > 0, primos relativos, entdo a rosacea é algé brica, satisfazendo a uma equacao polinomial (em coordenadas car- -ll- tesianas) de grau min ou 2(mn) conforme sejam m,n ambos. {mpares ou um deles par. Se » 6 irracional, n&o é algébrica. §2. Eguacdo de uma curva algébrica Reexaminemos a Definig&o 1. Uma questio que naturalmente se poe & se a equagdo polinomial f-=0 estd bem determinada pela curva, i.e., o lugar das solugdes. A resposta é no: f = 0 e f° = 0 tém as mesmas solugdes. Poderfemos arriscar o palpite de que esse seria o tmico tipo de indeterminagdo: se tomdssemos f com grau minimo, talvez todas as outras equacées definindo a mes~ ma curva fossem do tipo f™ = 0. Mas note que as solugdes de W=0 e X¥=0 sfoas mesmas, desmentindo a proposta., Ah, mas nesse exemplo a curva tem visivelmente 2 "pedagos", e a afir- mativa poderia valer pare cada um deles, Talvez uma hipdtese mais promissora seja esperar que existe uma equag&o de grau minimo, as demais sendo miltiplas desta. Mas as curvas (7), ou melhor di- zendo, as equagdes X4Y7 = 0 © 2x24¥2 = 0 tém o mesmo conjun- to de solucSes reais, desfazendo a esperanga. A escassez de pontos reais nesse tiltimo exemplo parece es- tar na raiz do problema. Com efeito, veremos mais adiante. que, se p(X,Y) é um polinémio irredutivel e a curva C definida por B(X,Y) = 0 6 infinita, entdo a equagdo de grau minimo est4 bem de terminada (a menos de fator constante). Aqui, ¢ em outras situacdes com que iremos nos defrontar, a bem da simplicidade de uma proposig&o que desejamos tornar verda- =12- deira, somos induzidos a repensar os fundamentos, isolar a dificul dade, ¢ resolvé-la "por decreto"? . fo que faremos, passando a admitir pontos cujas coordena- das s&o nimeros complexos. E, ja tomada esta decis&o, por que nao trabalnar também com polinémios a coeficientes complexos? Na rea lidade, praticamente em toda a teoria que exporemos, a proprieda- de decisiva dos nimeros complexos é que estes formam um corpo al- gebricamente fechado de caracter{stica zero. Assim, salvo mencdo explicita em contrério, doravante, coordenadas de pontos, bem como coeficientes de polinédmios,serao tomados em um corpo k algebri- camente fechado e de caracter{stica zero. Frequentemente, nos exemplos, suporemos k = C. A perda aparente do recurso & intuigSo geométrica seré am plamente compensada. JA podemos recolher o primeiro beneficio. 3. Proposicdo. Sejam f, g polindmios em 2 varidveis a coeficien- te_no corpo k. Entéo £(X,¥)=0 e g(X,¥) = 0 +ém as mesmas solugées em k* se ¢ sé se os fatores irredutiveis de £,g sio os mesmos. Demonstracio. Seja p € KCX,¥] um fator irredut{vel de f. Por hipétese, para cada (x,y) €k?, pix,y) = 0 2 g(x,y) = 0. Provaremos que p divide g em k{X,Y]. Podemos supor que Y 3) Vale a pena ler a bel{ssima discusso desse processo de "nega- cao da negagao", em "Conceitos Fundamentais da Matematica", de Bento de Jesus Caraga. -13- ocorre efetivamente em p. Ponhamos A= k{x], = k(X) (corpo de fragdes). Assim, p € ALY] é no constante. Visto que A é um anel fatorial,sabemos que p é irredutfvel em X[¥]. Se, por absurdo, supusermos p +g, ent&éo mdc(p,g) = 1. Daf, existiria uma relag&o ap + bg onde a,b € ALY] e c €A, c #0. Agora, como p nado é cons- tante, exceto para um nimero finite de valores de x a equagdo p(x,¥) = 0 admite solugio. (Aqui usamos o fato de que k 6 alge- pricamente fechado). Segue-se que hé uma infinidade de valores de x tais que c(x) = 0, donde c= 0. Esta contradig&o mostra que ple em K({Y] e portanto plg em ACY]. c.a.D. Segue-se da proposigao que uma curva algébrica, dada como lugar das solugdes de uma equagdo polinomial nfo constante £(X,Y) = 0, determina (2 menos de fator constante) a equac&o de grau m{nimo: tomar o produto dos fatores irredutiveis distintos ge f. Este fato nos leva a substituir a Definigfo 1 pela se- guinte, onde passamos a identificar "curva" com sua equacéo. 4, Definigdo. Uma curva algébrica plana afim (ou mais abrevia— mente, curva) é uma classe de equivaléncia de po- linémios ndo constantes f € k{X,¥], médulo a relag&o que identi- fica dois tais polinémios se um é miiltiplo do outro por uma cons— tante # 0. Nesse contexto, a equago de uma curva é um qualquer dos po wld linédmios nessa classe. Dizemos que uma curva esté definida sobre 9 corpo k, subcorpo de k, se ela admitir uma equacZo a coe~ of ficientes em k,. © trage (resp. trago real...) de uma curva (definida sobre R...) é 0 conjunto das solugdes (resp. solugdes reais...) da equac&o. O grau de uma curva f é 0 grau de sua equagdo, e serd de notado por of. Curvas de grau 1,2,3,. séo chamadas retas, cdnicas, clbicas... Usualmente, cometeremos 0 abuso de designar pelo mesmo sim bolo tanto a curva como o seu trago ou uma sua equacdo., Por como didade, diremos indistintamente "a curve f£" ou “a curva dada pela equagdo f= 0" ou "a curva f = 0", O contexto tornaré claro quando nos referimos seja ao trago, seja ao polindmio, Observemos que, agora, as curvas X°=0 e X= va tenham o mesmo trago, s&o consideradas distintas. pensar em X° como uma "reta dupla", limite de um par de retas que vém a coincidir (e.g., X(X-cY), com e +0), ou de elipses que se achatam sobre o eixo (e.g. Xx + ev? =e), Uma curva é irredut{fvel se admite uma equac%o que é um po- linémio irredut{vel, As componentes irredut{veis de uma curva f sdo as curvas definidas pelos fatores irredutiveis de f, A mul- tiplicidade de uma componente p de f é 0 expoente com que p ocorre na decomposic&o de £; quando ® 2, dizemos que p é com ponente miltipla de f. -15- Intuitivamente, as componentes irredutfveis de uma curva £ sfo os “pedacos" que constituem f£ e que sao também curvas. Ede fato, se £ contém (oe trago de) uma curva irredutfvel Pp, entio p 6 uma componente de f£. Isto foi demonstrado na Proposicao 3, 0 leiter deve no entanto ser alertado para o fa to de que uma curva pode ser irredut{vel mesmo sendo seu trago real formado por 2 ou mais partes disjuntas. (Veja o Exc.II.3). x y= X(X-1) (X41) Fig. 7 Na vealidade, a determinagdo do ntimero, bem como da disposig&o dos cireuitos reais de uma curve algébrica plana é uma quest&o ainda no resolvida por completo’, Apesar do aparente contra-senso geométrico, a Definigéo 4& coloce em definitivo relevo o papel da equac&o que individualiza uma curva algébrica, Além do mais, frequentemente os argumentos algébricos empregados nas demonstragSes de propriedades geométri- cas se aplicam indistintamente a polinémios sejam eles irredut{- veis ou no, 4) CE. "Problems of Present Day Mathematics", p.50, in Proceedings of Symposia in Pure Math.,Vol. 28, F.E. Browder, Editor (1974). -16~ Exerefeios 7) Verifique se as curvas apresentadas no § 1 sao irredu- tiveis. 8) Ache as componentes irredutiveis das curvas: (a) Par axtynnytaxteyPaxeyeL (bo) ax?y-2xP yy? ay (c) x@-pxvs6r*, Fa xtytnt 3 4 9) Seja £, = Za,x'y" “> um polindmio homogéneo # 0. ° (a) Prove que f, é 0 produto de m fatores lineares homogéneos, i.e., f, 5 |] (byX + c,¥), onde db, , c; sao cons- tentes néo ambas nulas e as razdes b;/c; s&o bem determinadas. (b) Prove que se f,, fyy1 ndo tém fator comum, entéo f, + fair é irredutivel. 10) Mostre que Y° - p(x) é redutivel se e sé se p(x) & um quadrado em K(X]. Em particular, Y°-(X-a)(-b)(x-c) é irredut{vel para todo a,b,c € k. 11) Mostre que uma cénica ayy + agp + agg + 2ay XY + + 2a,5X + 2a,5Y éredut{ivel se e sé se det(a,4) = 12) Dado um ponto arbitrério P e duas retas distintas tye 4y contendo P, mostre que o conjunto das retas que contém P 6 {x)4)+x,4, | x),x) s&o constantes nfo ambas nulas}. -17- 13) Dados 4 pontos ndo colineares, mostre que existem cénicas fy, fy tais que, a condicdo necesséria e suficiente pa- ra que uma cOnica f passe pelos 4 pontos é que f seja da for— ma x,f)+x,f, , com x; Ek, n&o ambas nulas. 14) Dados 5 pontos arbitrérios, existe eo menos uma cénica aue os contém,se existiren 2 distintas, ent&o 4 deles sao colineares. 15) Mostre que, para todo inteiro d= 1, existem S(4+3) pontes no plano pelos quais passa exatamente uma curve de grau d. 16) Seja C acibica Y= X?, Para cada par de pontos P,Q €C, areta PQ intercepta C num 32 ponto R. Mostre que a correspondéncia que associa e cada par (P,Q) 0 simétrico -R de R emrelagio & origem O dda C uma estru~ tura de grupo. §3. Mudanca de coordenadas As propriedades de curvas planas que estudaremos s&o aque- as que independem do particular sistema de coordenadas cartesia- nas empregado. Faremos aqui alguns comentérios sobre mudanga de coordenadas e daremos a conceituac&o precisa de "propriedade in- dependente do referencial", 5. Definig&o. Um referencial ou sistema de coordenadas afim no plano x2 consiste de um ponto © € k°,chamado ori~ 1 ca: gem _do referencial, e de uma base {v,,v,}. 0 referenc = (0,1). 0 ye~ nico é dado por © = 0(=(0,0)), v, = (1,0), v. tor coordenadas de um ponto P € k* em relagdo a um referencial a = (8,{vy,v,}] 6 0 par (P)p = (x),%)) tal que (5.1) P= 8 + XyVytXVD + Una transformacio afim ou afinidade em k? & uma aplicaciio t: k@ +? composta de uma translago com um isomorfismo linear. A ambiguidade aparente na ordem da composicéo é irrelevante, pois se L uma aplicagiio linear e PL €k® , temos L(P+P,) = = L(P) + L(Po)s Isso mostra que uma translagéo seguida de uma aplicagéo linear tem o mesmo efeito que a (mesma) aplicagdo linear seguida de uma (outra) translacgdo. Toda transformagao afim é da forma Tog Xp) = (¥q1¥o)s onde ¥. = 879% + yp% + 8] (5.2) ¥2 = 821%] + Ay%2 + AQ + com det(a, 5) #0. O leitor verificaré sem dificuldade que as afinidades formam um grupo com a operagéio de composig&o. Em par- ticular, a composta de duas afinidades 6 uma afinidade, e a inver- sa de uma afinidade também 6. Escrevendo vz = (8@)71891)1 Vg = (892899); © = (a4185), podemos interpretar (5.2) como as equagdes que relacionam P= (yj,yz) com (P), = (x},%5). E reciprocamente, podemos cou~ siderar (5.1) como definindo a afinidade, -19- (x1 ,%) HO + XVM) + XQVy + 6. Definicao. Dizemos que a afinidade TI e o referencial a sie associades se T(P)p =P @ PEK), Assim, podemos adotar 2 atitudes diante do processo de mudan ga de coordenadas: dada uma afinidade 7, podemos olhar a rele- g&o (yysvp) = Taysx,) como a expresso que ad as novas coorde- nadas de um mesmo ponto em termos das antigas; os pontos ficam e as coordenadas movem-se. A outra possibilidade, é a de conside— rar T agindo sobre os pontos do plano: (yy2¥p) é a nova posi- cao de (41%) com as coordenadas todas tomadas em relag&o ao re ferencial canénico. 7. DefinicSo. Uma afinidade T: k°—+ k® induz um k-automorfis- mo do anel de polinémios em 2 variéveis, T,3 KLXy,X_] + kExX,,X] tal que, ” (xpxy) ©, (Df) Ge Hy) = (TMOG) Mais precisamente, se TUxysxy) = (byyxy + Dyoxy + Dy DIX] + PypX + By) > entiio (T 2) (XX) = £Coqy3 -20- 8. Proposig&o. Sejam f uma curva e T uma afinidade. EntZo o trago de Tf é igual & imagem do trago.de f por 3. Demonstrac&o. Imediate. 9. Definigdo - Seja T uma afinidade e seja 2 o referencial as sociado. A equacio de uma curva f em relagdo e a 6 (te A definigao se justifica porque, para cada P = (x,y), te~ mos Péf +> f(x,y) =0 a> ((2,)2)( (x,y) = 0 a> ((1,) 12) ((P)g) = 0 - 10, Definicio, Dizemos que uma propriedade ® relativa a curvas (ou a configuragdes planas, tais como conjuntos de pontos, retas, etc. ...} € uma propriedade invariante ou inde~ pendente do referencial se, para toda afinidade T, wma curva f (ou configuragio ¢) satisfaz © se esd se T,f (resp. T(¢)) satisfaz P. Por exemplo, o grau de uma curva é uma propriedade invarian te. A proprieiade de 3 retas serem concorrentes, bem como a de um porito pertencer a uma curva, séo invariantes. J&'o requerimen to de que 2 pontos no plano real sejam equidistantes de um ter- ceiro nao é invariante; no entanto, a propriedade de um ponto ser colinear com, e equidistante de 2 outros é invariante! (Leitor: verifique!). -21- Nos préximos cap{tulos estudaremos varias propriedades in- variantes de curvas algébricas. Enfatizaremos o fato delas serem independentes do referencial apenas quando a verificacgao a ser feita revelar-se um desafio instrutivo. Exercicios 17) Ache as coordenadas do ponto (1,2) no referencial £(2,1), €(1,2), (3,5))}. 18) Prove que 2 triangulos quaisquer so congruentes por uma afinidade, t.e., se (P,,P,,P;] ¢ {01,0),0;} sio conjuntos de 3 pontos no colineares existe uma afinidade T tal que TP, = Q, i= 1,2,3. Verifique se 2 quadrildteros sio sempre congruentes por uma afinidade. 19) Se L, (resp. Mj) s&o 3 retas distintas concorrentes, existe uma afinidade T tal que T,L; = M, (i = 1,2,3)? 20) Representacdo matricial. Seja T uma afinidade. Sejam (ay,ap) = 20,0), (azysa9) = T(1,0) - 1(0,0), (ay91899) = T(0,2) - 2(0,0). Definimos 312 P12 tT =| 921 822 ° ° 1 -22- (a) Prove a férmula (eP] = NjtP], ¥P€ x? [ onde [(x,y)}=/y |] - a (b) Prove que Mpg: = Mp Mp para todo par de afinidades vr. (c) Mostre que a correspondéncia TH My é um isomorfismo 2 do grupo das afinidades de k° sobre o. grupo dos iso- morfismos lineares de k° que deixam invariante o plano X, = 1. 21) Cnicas afins. Sao definidas por um polinémio do 2° grau, . 2 £(%ppXp) = 94 pk} Hepa ¥Sta5542ay 0 igt2@y 5Xy+28p5Xo com ao menos um dos coeficientes dos termos de grau 2 nfo nulo. Seja S_ = (ay5)s a matriz simétrica formada pelos coeficientes def. (a) Mostre que 2% )X>) = (XypXyedd Sp “OsXyr1) (produto de matrizes) onde t significa “transposta". (b) Mostre que, para toda afinidade T, Spf * “ag? 8, Wg onde Mp é a matriz definida no exercicio anterior. =23- (c) Supondo k =R, mostre que, dada f, existe T tal que BE = XP + bok + bys + BdygX, (Sugest&o: completar quadrados). (a) Ainda supondo k=R, mostre que f é congruente a exatamente uma das seguintes: 28-1, xox3-1, x$-x,, xnge, a, ad, xa, 2-1, x2. Nos 4 primeiros tipos 8S, tem posto 3; nos 4 seguintes, o posto é 2 e no Ultimo é 1. ft (e) Suponde agora k= €., Mostre que esses 9 tipos de co- nicas reduzen-se a apenas 5: x24x3-1, x2-x,, xi-x2, xe-1, x2. 22) Determine todas as afinidades que deixam invariante a cibica f = Y ~ X(X-1)(X-A), onde 2% 6 uma constante. ‘Distinguir os vérios casos (4 = 0, 4 = 1, ete ...) =2h— CAPITULO IT INTERSEQOES DE CURVAS PLANAS Vimos em alguns exemplog no Cap{tulo I a importancia atri pufda desde a Antiguidade ao estudo da intersecdo de 2 curvas. Descartes ¢ Newton chegaram a proclamar que o interesse princi- pal das curvas algébricas 6 o de fornecer solugdes geométricas a equagées algébricas por meio de interseg%o de curvas do menor grau possiveit . Apresentaremos neste capitulo alguns aspectos gerais do problema, Inicialmente, veremos que a intersecao de 2 curvas sem componentes em comum é finita. Descrevemos em seguida o processo da resultante para a determinag&io dos pontos de intersegéo. Fi- nalizamos dando uma demonstragdo de um caso particular do Nullstellensatz (teorema dos zeros) de Hilbert, o qual fornece uma condigdo para que um sistema de equagdes polinomiais admita solu- glo. §1. Finitude da intersec&o Comecemos destacando o argumento usado na demonstrac&o de (1,3). 1) Vega $ Cours de géométrie algébrique" vol. 1 de J. Dieudonné, pag. 17. ~25- 1. Lema, Sejam f,g € k{X,¥] polinédmios sem fatores irredut{veis em comum, Ent&o existe uma relagdo af + bg = 0(X) , onde a,b €k{X,Y] e co é um polinémio ndo nulo da varidvel X. Resultado andlogo vale trocando X por Y, Demonstracdo. Ponhamos A= k{X], K-= k(X). Consideremos f,¢ como elementos de K[Y]. Visto que f,g nao admi- tem fator comum em ALY] , também n&o o admitem em KLY] (leitor: por que?), Como K{Y] é um domfnio de ideais principais, se- gue-se uma relagdo rf+sg=1 em K(Y]. Eliminando denominadores de r,s, obtemos a relagdo prometida. C.Q.D. Se f €k{X] € um polinémio nado constante, sabemos que a equacdo f(X) = 0 admite no m4ximo um niimero finito de solucSes. O préximo resultado é uma versio deste fato para polinédmios em 2 varidveis. 2. Proposic&o, © conjunto das solugdes de um sistema de 2 equa- goes polinomiais a duas incégnitas sem fator irre— dutivel comum é finito. Reformulando em linguagem geométrica, temos, equivalente— mente: ~26- 3. Proposigéo. A interseg&o de duas curvas algébricas planas sem componentes em comum é finita. Demonstrag&o. Apliquemos o Lema 1 aos polinémios (X,Y), e (X,Y), onde f,g €k{X,Y] n&o admitem fator comum. Obtemos relagdes aftbg = o(X) uf+vg = w(¥) onde a,b,...,w 8&0 polindmios, o(X), w(¥) so nao nulos e en- volvem sé a varidvel indicada. Dessas relagdes é evidente que to da solugio de f= g = 0 tem para abscissa uma raiz de o(X) e para ordenada uma raiz de w(¥), ‘todas em ntmero finito. c.a.d Exemplo: Consideremos as intersegdes da hipérbole f: XY = 1 com retas 4%: aX+bY = c. A figura abaixo ilustra as pos sibilidades: Fig. 8 As retas X= 0 e Y= 0 néo cortam a hipérbole (exceto no infi nito...). Em geral, hd 2 intersegdes distintas, reais ou com -27- plexas (e.g. Y=-X corta f nos pontos (i,-i), (-i,i)). As retas tangentes tém apenas um ponto de contato, que intuitivamen- te deve ser "contado 2 vezes", Bxercicios 1) Dados =f = X7-2¥°4XY-2N15Y, g = X°HKVHY-X-2 , encontre polinémios a,b,c tais que af+bg = c(X) como no Lema 1, 2) Seja f= ayy™aynt teeey @) #0, um polindmio a coefi- cientes em um dominio A. Mostre que, para todo g € alY], existe um inteiro i 20 e polinémios q,r € ALY] tais que 4 age =aft+r, com r=0 ou or a(x) = b(x) = 0 on f(x,¥), g(x,¥) admitem raiz comum, Demonstragdo. Para cada x, a resultante de f(x,¥) e g(x,¥) & obviamente R(x). Por outro lado, f£(x,¥) e g(x,¥) admitem uma raiz y em comum se e sé se admitirem um fa- tor nfo constante Y-y. Portanto, o teorema resultard do seguin- te. 6. Lema. Sojam f= agvl+...4ay, g = bY? teee4 by polind~ ot mios a coeficientes em um domfnio de fatoragZo tmica A (e.g. A=k ou A= kLX}). Eto Rpg = 0 se esd se ageb a0 ou f,g admitem fator comum néo constante. Demonstragao. Digamos aq #0. EntSo f,g admitem fator comum h nao constante se e sé se existirem p,q € ALY] nao ambos nulos, com dp *d-l e qs e-l tais que (6.1) af=pe. Com efeito, se f= ph, g=qh, segue-se a relagdo (6.1). Re 31+ ciprocamente, visto que ALY] também é fatorial, a relagio (6.1) acarreta que algum fator irredut{yel de f ocorre em g, pois of > ap. Escrevendo “Ye + a equacdo (6.1) € equivalente ao sistema linear obtido comparan- do coeficientes, a saber, e-l go 21-9 757 sdte-1 , onde convencionamos por a,=b,=0 se mn4, n>e. Ora, este sistema admite solugdo nfo trivial se e sé se é nulo o determinante da matriz dos coeficientes, o qual coincide com R a monos de sinal. C.a.D. Retornando ao problema da intersegZo de duas curvas f,g, observemes que é identicamente nulo se e sé sé f,g admi- * 2,8 tirem componentes em comum, caso em que £9 g nfo é finita. Quundo a intersegZo é finita, podemos estimar o n® de pon— tes contando o nimero de abscissas, que é limitado pelo grau da resultante R(X). Este procedimento é muito grosseiro, pois po- dem ocorrer vérios pontos de interseg&o com a mesma abscissa. i -32= Exemlo. sejam f = X°4¥°-2x, g = | | a A resuitante é Loo 2x 1 0 x@-ox| = x?(x-1)? . R(X) = 10 -x 2 0 -x Neste exemplo, o mero célculo da resultante n&o permite prever o niimero de intersegdes. A multiplicidade 2 da raiz x = 0 pode ser interpretada, na figura, como causada pela tangéncia. Ja a raiz dupla x = 1 6 devida ao fato de que hé 2 pontos de inter- secdo com a mesma abscissa. Se trocarmos X por Y, eliminando X, obtemos 2 -2 : Ry) = |-2 = Y°(y-1)(¥+1) . =33- Agora, os pontos de intersec&o aparecem fielmente refletidos nas raizes de resultante. A multiplicidade 2 da raiz y = 0 persis-~ te, pois ela corresponde a um fenémeno geométrico, que diz respei to & posigdo das curvas f e g, e n&o depende do particular sistema de coordenadas empregado. Voltaremos a esta discussao no Capitulo V. Exercicios 5) Resolva os sistemas: a) x(v2-x)? = ¥?, thay = x, u bv) (x42)? = x2-y?, xy? = ee. 6) Calcule a resultante do par de polindmios (a) £(X) = ax@soxec, £1(X) = axed. (b) £(X) (Xa) (X-b)(X-c), g(X) = (X-d)(H-e), (a,b,...,@ constantes). 7) Construa pares de cénicas fj), 8; irredutiveis tais que £, 0g, consiste de i pontos distintos para i = 1,2, 3,4. Calcule as resultantes com relagéo a X e com relacgio a Y em cada caso. 8) Seja A um anel comitativo com unidede, Mostre que a re- sultante dos polinémios f= Y-a e g = BLY" +...4 dy € e aly] é (-1) g(a). =34- 9) Seja : A +B um homomorfismo de anéis e denotemos pelo mesmo simbolo o homomorfismo induzido ALY] + BLY] defini i i . do por @(Za,¥") = Ey(a,)¥". Prove que (Re 2) = Bae)e(g) PS ra todo f,g € ACY]. §3. O grau da resultante Para o célculo do grau de R(X), introduzimos o conceito de direco assintética de uma curva f. Intuitivamente, é uma dire- cao limite de retas OP, onde P percorre f afastando-se in~ definidamente de 0. Definicdo, Escreva £= £04 fytetty, onde cada f, & homogéneo de grau i, e £4 #0. Cada componen te aX+b¥Y de f, 6 dita uma diregio assintética de f. Exemplos. 1) £ = 1-X¥ tem as diregdes assintéticas X e Y. 2) £+Yx tema direcio assintética Y. (Mote que aqui a diregio assintética nfo 6 uma ass{ntota, no sentido da Geometria Anal{tica). Calculando a resultante de cada uma dessas curvas com uma Rey & em geral 2, sendo menor somente se 4 tem a mesma directo assin reta 4 = Y -(aX+b), o leitor verificard que o grau de t6tica que f. 35+ 8. Proposigfo. 0 grau da resultante de duas curvas sem direc&o assintética em comum 6 o produto dos graus. Em simbolos, Rog = (OE)(dz) « A resultante aqui é tomada atribuindo-se a f,g seus graus efe~ tivos com respeito a Y. a Demonstracio, Para cada polindmio f= Ef, , com f; homogé- ° neo de grau i, fy #0, ponhamos £°(x,¥,2) = Zt, + 22 eee. .42tg a + tgs onde Z 6 uma nova varidvel (independente de X,Y). Observemos que -f" é um polindmio homogéneo de grau d= df, © evidente- mente £"(X,Y,1) = £04¥). ee Reescrevamos £, g na forma * fy A tee Ag * & " e BBY teeet Boe onde Aj, By €k(X,Z] so homogéneos ¢ Calculemos a resultante R(X,Z) = ~36- Lema. 0 polindmio R(X,Z) acima definido é homogéneo de grau d.e, se nfo for identicamente nulo, Demonstragio. Em geral, se p #0 é um polinémio nas n varia. veis X,,+++,X,, entéo p é homogéneo de grau m se e 86 se PITH, eeeyPXy) =, T(XypeeeyX_) om REX-+- HTL onde 1 é uma nova varidvel independente, Com efeito, se p é homogéneo, é imediate que a relagZo vale. Reciprocamente, supo~ nhamos valida, e escrevamos P= Po + Py treet Pye Abreviando soma de polin$mio homogéneos com bp, X= (Xys-00sX,), temos pCTX) = poe PP] tet PP, = Mp donde, (pela definiglo de igualdade de polinémios!), m=r e PRP, Mostremos ent&o que R(TX, Tz) = 12 R(X,Z) em kIX,Z,T] - ora, 4, A, TA, +e TAS -1, a ay ee TTA A oe R(TX,TZ) = 2. TBy e+e TBS vere © -37- Multiplicando a 28 linha vor 1, @ 3% por 1 ,...,a o-ésima por ae-) | a 2a linha de Bis por T,..., a Ultima por 1), op temos T r¢ox,7z) = ™ R(x,2) , onde te-1) + (1t...4+d-1) , M 0 Bb + no teeet dee-l. Logo, (ase)(d+e-3) _ e(e-2) _ a(e=2) , WN = - - = de 2 2 2 €.Q.D. Para completar a demonstragdo da Proposi¢io 8 vamos compa var R(X,Z) com R(X). & evidente que R(X,1) 6 a resultante de £,g considerados formalmente como polinémios em Y de graus a, ©. Agora observemos que 0 coeficiente A, (resp. 3,) de ya (resp. ¥°) em £* (resp. g”) 4 constante, sendo nulo se e s6 se v9 (resp. ¥®) nfo ocorre em fy (resp. g,). Esta Gltima condi- gio é equivalente & condig&o de X ser fatorde f3. Como f,g nfo tém diregées assintéticas em comum, segue-se que, por exemplo, A, #0. Seja j o menor indice tal que By #0. Desenvolvendo © determinante que define R(X,Z) pelas primeiras colunas, ob ‘temos R(X,1) = AQ ROX). Visto que f,g nao tém diregdo assintética em comum, em parti- cular n&o tém componente em comum, Logo R(X) #0 e portanto R(X,Z) #0. Assim, o graude R(X,2) é d-e. Segue-se que -38- R(X,1) tem grau dee, a menos que R(X,Z) seja miltiplo de 2. Mas neste dltimo caso, R(1,0) = 0 , acarretando * * f°(1,y,0) = @ (1,y,0) para algum y, donde f,(1,y) = ¢,(1,y) =0 e £,g admitiriem ambos a direc%o assintética yX-Y, proibide por hipdtese. C.a.D. Exerefeios 10) Seja f= fy + fy teret fg, onde cada £, €kIX,¥] @ homogéneo de grau i e f; #0. Prove que £(X,aX+b) tem grau exatamente iguala d se esd seareta Y= aX+b tem direg&o assintética distinta das de f. 12) Sejam aga 1, Y tect agit , - 2 e & = DK te0.t DY! polinémios homogéneos 4 0 a coeficientes em k. Mostre que f,g admitem uma direc&o assintética comum se e sé se a restiltante de £0,¥) e g(1,¥) é nula. 12) Prove que o grau da resultante de duas curvas sem compo- nente comum 6 sempre menor do que ou igual ao produto dos graus, com igualdade somente na situagfo da Proposicdo 8. 39+ $4. © teorema dos zeros Finalizamos este capitulo discutindo uma verséo particular do célebre Nullstellensatz de Hilbert, ‘Trata-se de elucidar em que condigdes um sistema de equagSes polinomiais admite solugdo. Obs vemos inicialmente que, dado um sistema de equacgdes, toda sclveSo é também solugdo de qualquer equagdo do tipo 6, fy tet By fy =O, onde os g, sao polinémios arbitrérios. Denotemos por ¥ 0 ideal gerado pelos £3,..+,fy, ou seja, 0 conjunto de todos os polinémios da forma © &5 fy . Dizemos que um ponto P é um zero do ideal J se £(P) = 0 para todo f€ 3, & evidente que o conjunto dos zeros de 5 coincide com o conjunto das solugSes do sistema proposto, Por outro lado, se o polinémio constante 1 pertence a 3, € claro que 3 nfo admite zero. O Nullstellensatz afirma que, reciprocamente, se 3 é um ideal préprio do anel dos poli- némios a coeficientes num corpo algebricamente fechado, entéo 3 admite um zero, Vamos nos ater ao caso de duas varidveis. Lembremos que um ideal 3 ¢ k[X,¥] é préprio se e sé se estiver contido em algum ideal maximal. Por exemplo, um ideal de k(X,¥] da forma (ex, oy) -40- i.e., gerado por X-x, Y-y, onde x,y sao constantes, é maxi- mal, pois é 0 niic¢leo do epimorfismo "substituir X= x, Ysy", x(x,¥] + k £(X,Y) Rat(xy) - Agora observemos que, se 3 estiver contido em (X-x, Y-y) en- t&o P= (x,y) um zero de 3, e reciprocamente. Este argu- mento mostra que o Nullstellensatz & consequéncia imediata do se guinte resultado. 10. Proposiglo. Se k 6 um corpo algebricamente fechado entao todo ideal maximal m de k{X,Y] é do tipo (Xex, Y+y) para elgun (yy) € , (Observemos que é essencial aqui a hipédtese de fechamento algébrico. 0 ideal (x°+1,¥) de RIX,¥1 é maximal e n&o admite zero real). Demonstraco. Seja f €m um polindmio nado constante, (Leitor: justifique a existéncia de f). Podemos supor f irredut{vel porque "maximal = primo”, Sendo k algebricamente fechado, nfo hd dificuldade em se garantir a existéncia de um zero de #; digamos £(x,,y,) = 0. Se m= (Xx, Y-y,), ponto final, Se nfo, existe g €m tal que B(X59Q) #0. =m parti- cular, f nfo divide g. Aplicando o Lema 1 obtemos uma rela- cSo af+ bg = c, onde c é um polindémio no constante de uma s6 variével, seja X ou Y, & nossa escolha, Visto que oc € a, concluimos que m contém elementos da forma X-x, Y-y. (Este é -41- outro ponto em que a hipétese sobre k @ imprescindfvel). Tendo em conta que (X-x, Y-y) & maximal, concluimos que (X-x, Y-y)=m. c.a.D. Exerofcios 13) Seja f uma curva e seja A= kLX,Y]/(f). Mostre que os ideais maximais de A est&o em correspondéncia bijetiva natural com os pontos (x,y) tais que f(x,y) = 0, i.e., com os pontos do tracgo de f. 14) Sega 8 um subconjunto de k*, Mostre que $ é 0 conjun to das solugdes de um sistema de equacdes polinomiais 2,047) = 2,06) =.= 2,044) = 0 see somente se $= %? ou S=% ou § = unido de um n® finito de curvas irredut{veis e de um conjunto finito de pontos. 15) Verifique se a demonstragio da Proposig&o 10 se aplica para concluir um resultado andlogo em mais de duas varié- veis. 16) Caracterize os ideais maximais de R{X,Y]. -42- caPfTULO III MULTIPLICIDADES §1. Intersec&o de ume curva com uma reta Seja f uma curva, e seja 4 uma reta de equacéo Y=aX+b. Os pontos de £9 4 podem ser obtidos eliminando Y @ resolvendo a equagdo det, £,(X) = £(X, aX+b) Eis as possibilidades: QQ) 2,00 é identicamente nulo, caso em que % é& uma compo- nente de 7; (2) £,(X) € uma constante #0, quando f t= ¢. GG) £,04) é um polinémic n&o constante, decompondo-se na for ma r m, eT] (ex,) +, 2,00 ul onde ¢ 6 uma constante e os x, sfo as abscissas (2 a 2 distin tas) dos pontos de intersegdo. Procede-se de maneira evidente quando & é da forma X = cY+d. 1. Lema, Os inteiros m, independem do referencial afim. Demonstragéo. 0 processo de substituir Y = aX+b em um polind- mio g(X,Y) define um epimorfismo ah 3 K(X,¥] —> kX] ge > e(X, aktb) , cujo niicleo é 0 ideal (4) gerado por 4 = Y-(aX+b). Logo, obte mos um isomorfismo HEX, YI/(4) Ss KEX] tal que aclesse FT de f£ mod(t) corresponde a fy. Visto que K(X] 6 fatorial, & decomposigo T1(x-x,)"! de 2, corresponde a (mica!) decomposigfo de F em fatores irredutiveis, com o mes mo nimero r de fatores irredut{veis distintos, o i-ésimo repe- tido m, vezes. Agora, se T é uma afinidade, T induz um iso morfismo KCX,YI/(2) ~s kEX,YI/(2, 4) tal que f+(4) e f+ (7,4) se correspondem, juntamente com as decomposicdes em fatores irredutfveis. C.Q.D. 2. Definic&o. A multiplicidade ou {ndice de intersegdo de 4,f no ponto P é dada por 0 se P£Une (4,f)p = {@ se Perce se P= (x,,ax,+b) como no caso (3) acima. Se 4£¢f, chamamos o inteiro r m= o0f- 5 my isl ahh de multiplicidade de intersecio de 4,f no ponto impréprio ou ponto no infinito de 4. Deixamos a cargo do leitor a verificagio de que m, & po- sitivo se e sé se a direcZo de 4 6 assintética de f. 0 significado intuitivo dessas multiplicidades & que,arbi- trariamente préximo & curva f, existem curvas do mesmo grau que cortam 4 em df pontos distintos, m, dos quais esto préxi- mes a (Gey saxj+b), os m, restantes distanciando-se para = so bre 4. Exemplos. 1) £5 ¥X2, 2s ye(akeb). Se a@+4b 40, temos duas ine tersegdes distintas. Se a+4b=0, temos uma sé inter- segao, com multiplicidade 2. Fig. 10 2) f= YX? , b= axkebYec. Se D#O-=a=c, temos uma intersegdo na origem, com multiplicidade 3, Se afO=b , temos uma intersecdo a distancia finita, com multiplicidade 1, e outra no infinito, com multiplicidade 2. Se b #0, podemos ter 1, 2 ou 3 pontos de intersegSo, todos a distancia finita. -45- Fig. 21 3) £ = Y°-x2(%41), tg=YeaX. A origem 0 absorve pelo me- nos 2 intersegdes. S a+ +l, a multiplicidade de inter~ segdo (4,f), = 3. Fig. 12 §2. Pontos miltiplos 3. Proposicdo. Seja f uma curva e seja P um ponto de 2. Existe um inteiro m= m)(f) 21, tal que, para toda reta 4 passando por P , (4,2)p zm, ocorrendo a desigualdade estrita para no méximo m retas e no mf nimo uma, -46- Demonstragio. Suporemos, sem perda de generalidade, P= 0, Es- crevemos f= f, wet fas com f; hhomogéneo de grau i para msitd e £, 40, Tendo em conte que P€f, temos m1, Mudando coordenadas se neces sério, podemos também supor que Xt, .0 leitor verificara facil mente que £(0,Y) = Y%(£,(0,1) +e0et £4(0,2) ¥"") ee £,(0,1) 40, seguindo-se que (% fg =m, Para as demais retas passando por 0 0, ponhamos 4, = Y-tX, Temos ent&o, 2004X) = HME ety (LK tect fy(L,t)K™). Segue-se que Cy tlh =m, ocorrendo igualdade se e sé se f,(1,t) #0. Como X+2, , se- gue-se que fq (1,6) é um polinémio em +t de grau m(z1) e que portanto se anula para ao menos 1 e no méximo m valores distin- tos. c.a.D. 4, Definigio. O inteiro m= n,(f) deserito na proposigéo acima é a multiplicidade do ponto P na curva f ou multiplicidade de f em P, Se Pf, convencionamos m,(£)=0. Se P= (x,y) €f, escrevemos E(ktx, Vey) = £,0G¥) + (termos de grau % m). 0 polinémio homogéneo £,04Y) pode ser decomposto de ma- T= . neira Unica, e; = i = T]1(a,X+by¥) * , onde os fatores lineares a,X + bY so retas distintas, As re~ tas 4, 4 (Xx) + by (iy) sio as retas tangentes de f em P; 0 expoente e; 6 a multipli- cidade da tangente 4, . A demonstrag&o da Proposicfo 3 mostra que (4,f)p > m= = n,(£) justamente para 4 igual a uma das retas tangentes a f em P, Dizemos que um ponto P de uma curva f é liso ou nao singular ou simples en f e que £ é lisa, etc. ... em P se m(£) = 1; singular caso contrério, A curva f é lisa ou ndo singular se m)(f) = 1 para cada P€f. Se mp(£) = 2,3, +009ms P € dito um ponto duplo, triplo,...,m-uplo. Um ponto m-uplo peéf 6 ordinério se f admitir m tangentes distintas no pon- to P. Uma ctispide é um ponto duplo com tangentes coincidentes. Un né 6 um ponto duplo ordindric. 5. Proposicho. (1) Um ponto P€f é liso se e 56 se ao menos uma das derivedas parciais fy, fy undo se anula em P. (2) Se P = (a,b) €Z € liso ent& a (imica!) tangente a f em P é dada por fy(P)(eay + £y(P)(X-b) = 0 -4g- Demonstracio. Ambas as afirmativas decorrem facilmente da férmu- Ja de Taylor, £(Xta, Y+b) = (a,b) + f(a, d)X + fy(a,b)¥ + e(%Y) , onde todos os termos de g t+tém grau2 2. €.Q.D. Exemplos. 1) Alemniscate (x7+¥8)? = x?-y? apresenta um né na origem, com tangentes Y = 4X, 2) A cisséide XxX? _ y(y24x2) = 0 tem uma ctispide na origem, com tangente vertical X = 0. 3) Singularidade tacnodal: ¥°~3x7y-y74x* = 0, oO -L9- 4) Singularidade real isolada: x@+¥* = ¥? y| f. 16 5) Rosdcea de 3 pételas: (x74¥°)? = y2.5x7y; a origem é um ponto triplo ordinério, Fig. 17 6. Proposicko. Se f & uma curva sem componentes miltiplas, en- t&o o conjunto dos pontos singulares de f é fi- nito. Detonstrag#o. Lembremos que uma componente irredutfvel p de f é miltipla se p@|/f. Pela proposigéo anterior, o conjunto dos pontos singulares é dado pelas equagdes f= f,= fy 50 Ora, ao menos uma das parciais, digamos fy, é nfo identicamente nula. (Leitor: por que?). Afirmamos que f yy = 0 admite 8d ~50- um numero finito de solugSes. Do contrério, pela Proposigio (11.3), existiria componente irredutfvel p comma f e fy. Mas isto acarreta que p*|f, absurdo. c.Q.D. 7. Proposicdo, Seja f uma curva sem componentes miltiplas. En t&o, para cada ponto P do plano, e para cada reta 4% contendo P, com excessdo de um nimero finito, % in- tersecta f forade P em df-m, (£) pontos distintos. (Intuitivamente, um ponto de multiplicidade m absorve m intersegdes de 4M f, as demais sendo, em geral, distintas). Demonstracdo. Suponhamos inicialmente f irredut{vel. Sem perda de generalidade, podemos supor P = (0,0). Ponha- mos m= m4), d= of e lembremos a convengdo m=0<>P£f. Temos fa fy tet fas com #; homogéneo de grau i para ms isd e f,fy #0. Se- ja T uma nova indeterminada. Definamos e(X,T): ™ 9(X,0x) = £,(1,0) ¢e00¢ XO ty(,7). O leitor verificar4 sem dificuldade que g(X,1) é irredutivel em k(X,2], Em particular, gy e g n&o tém componente em comum, Logo, existe um nimero finito de valores + de T para os quais e(%,t) e gy(%,t) admitem raiz comum). (Essas s&o as vafzes mul tiplas de g(X,t), Evitando o némero também finito de valores que anulam £,(1,T) £4(1,7), conclufmos que g(X,t) é um poli~ némio em X de grau dm, com esse mesmo ntmero de rafzes dis- ‘ ~51- tintas, e todas # 0. Tendo em conta que £(K, 4X) = XP R(X,t) , conclufmos que a reta Y= +X intersecta f conforme anunciado. Para o caso geral (f possivelmente redutfvel), aplicamos a parte j4 demonstrada para cada componente. ‘ C.a.D. $3. Diagrama de Newton Finalizemos o cap{tulo descrevendo o diagrama de Newton, um método prético para esbogar o trago real de uma curva na vizi- nhanga de um de seus pontos. Para cada terno a, ,x'y? efetivamente presente na equago da curva, marcames o ponto (i,j) em um novo plano, Tragamos em seguida os segmentos ligando 2 ou mais desses pontos, com a pro- priedade de que a reta determinada isola os demais pontos no semi- plano oposte ao da origem. Antes de prosseguirmos, tomemos por exemplo X°-5xY*42Y9 = 0 para fixar as idéias, A 18 figura é 0 diagrama de Newton; a 28, um esbogo do trago real de f, proximo a origem. Fig. 18 -52- Os termos correspondentes aos pontos (i,j) em um dade seg— mento, fatorando-se X ou Y, d&o uma boa aproximagéio da curva préximo & origem. No exemplo, o segmento que une (0,5) @ (1,2) fornece ov-5xv2 , do qual retemos 2Y°-5x. Esta é a parte do trago de £ desenhada em pontilnado. 0 2% segmento a4 x°-5xY°, daf o par de pardbolas X* = +/5 Y marcadas em trago-ponto. outro exemplor ¥-x°y"4y? = 0. £. 19 0 12 segmento dé 42 = ¥2; 0 22 48 Y¥? Sem entrar em maiores detalhes, o método fimciona porque cada segmento do diagrama seleciona termos da equag&o que séo in finitéssimos de mesma ordem, os demais pontos no semiplano oposto ao da origem representando termos de ordem superior’ . Exere{cios 1) Analise as intersegdes de X+¥ = 2 com X¥ = l+e para e700. 1) Veja J. Dieudonné, "Calcul Infinitésimal", pag. 106. -53- 2) Determine os pontos singulares com suas respectivas multipli cidades e retas tangentes e esboce as curvas: a) Wosxvextevteoxty? 2 0. vy vP-syx? 42x ec) Y*xx?-v4x = 0 da) Reveja os exemplos e exercfeios do Capf{tulo I. oO 3) Mostre que se uma cénica é singular, ela 6 redut{vel. Vale a rec{proca? 4) Mostre que n,(f) é 0 menor inteiro m tal que alguma de- rivada parcial de £ de ordem m 6 # 0, 5) Dizemos que um ponto P sobre uma curva f é um ponto de inflexfo se P é nfo singular e (4,2)p 2 3. a) Cénicas irredut{veis nfo admitem pontos de inflex&o; ») Escrevendo f= f)+f) +... com £; €kLX,Y] homogéneo de grau i, mostre que P= (0,0) & um ponto de inflextio se e sé se f, é uma componente de fp. 6) Determine os pontos de inflexo das curvas seguintes: a) Y= y v) Y= ¥X + G00) WaPasey = 05 a) avFe(xexea)? + 3x2) = 0; 2) (xPay?)? = av? 7) Mostre que, se f é uma curva irredut{vel e of = 2, entdo mp(f) s df-1 para todo P, Para cada d= 2, dé um exem— plo de curve irredutivel de grau d tendo a origem como ponto (€-1)-uplo ordindrio, e sendo lisa nos demais pontos. 8) Mostre que uma curva redut{vel é singular em cada ponto de interseg&o de duas componentes. Dé um exemplo de curva =54- redutivel nfo singular. 9) Prove que uma curva do tipo Y" = p(X), onde m @ um in- teiro 22 e p(X) 6 um polindmio de uma varidvel, é nfo singular se e sé se p(X) no possui rafzes miltiplas. 10) Mostre que a condigdo para que um dado ponto P seja m-uplo para uma curva f de grau d 2m se expressa por m+1 est) um'sistema de equagées lineares independentes, nos coefi- cientes dé -f. 11) Por 3 pontos arbitrérios passa sempre uma cttbica que os con tém com multiplicidade 2. Se existirem 2 tais ctibicas, en- to os 3 pontos sdo colineares e de fato existe uma infinidade. 12) Complete os detalhes da demonstracgao da Proposigao 7 no ca- so em que f é redutfvel. -55- capfTULo Iv PONTOS NO INFINITO §1. © plano projetivo As retas paralelas aX+bY+c, aX+b¥+c' (c # ce!) nfo se intersectam a distancia finita; a pargboila Y= X2 ea reta X = 0, bem como a hipérbole XY = 1 e os eixos coordenados sao gis evidéncia de que essas intersegdes que estéo "faltando", e até o presente vém sendo tratadas como "diregdes assintéticas", devem ser melhor estudadas. © desejo de dar um tratamento rigoro $0 a esses “pontos que deviam estar 14" nos levard a introduzir de maneira sistemitica os pontos no infinito. Esses "pontos" se- réo apresentados inicialmente como entes de natureza aparentemen~ te diversa dos pontos usuais do plano afim, Mas logo veremos ser possivel, e mesmo recomendével, eliminar as aspas; os novos pontos néo merecerao no final nenhuma distingo especial com relacdo a seus parceiros atualmente dados a distancia finita. A idéia original de adjunterac plano usual uma reta no infi- nito, constituindo um plano projetivo, é devida a Desargues. Seu livro, publicado em 1639, pretendia dar uma fundamentac&o matemd- tica aos métodos de perspectiva empregados pelos pintores e arqui- tetos, A concepgfo de Desargues do plano projetivo 6, em essén~ cia, @ que vamos descrever. -56- Consideremos o plano afim mergulhado no espago tridimensig nal como o plano Tf de equacgio Z2= 1. Fig. 20 Cada ponto do plano || determina ume reta passando pela origem e pelo dado ponto. Cada reta de J] determina um plano pe— le origem. Se as retas 4,4! ¢J| se intersectam, seu ponto de in tersegfo dd lugar & reta de intersecZo dos dois planos associados a 4,41, Seas retas 4,2! sido paralelas, os planos que elas de- finem ainda se intersectam, desta feita ao longo de uma reta pas- sando pela origem e contida no plano Z = 0. 1. Definig%o. 0 plano projetiyo P* é o conjunto das retas do es pago tridimensional passando pela origem. _Do exposto acima, vemos que o plano afim J] se identifica naturalmente com um subconjunto de IP? que ainda denotaremos por TI. 0s pontos de P*-]] s&o chamados de pontos no infinito. Denotamos por (xty:z) 0 ponto de P* que representa a re ta ligando a origem O a um ponto (x,y,z) #0. Dizemos que X,Y,Z 880 coordenadas homogéneas do ponto (x:y:z) relativas & base oanénica {(1,0,0), (0,1,0), (0,0,1)}. -57- Por definig&o, temos que (xrytz) = (xtrytiz!) <> existe constante t #0 tal que (x,y,z) =t(x',y',z'). um geral, fixada wna base qualquer no espago tridimensional, ag coordenadas de um ponte # 0 relativas a essa base sdo chamadas de coordenadas homoggneas do ponto correspondente de P*. Coorde- nadas homogéneas de um ponto de B* (relativas a uma base prefi~ xada) s6 est&o bem definidas a menos de,um fetor escalar # 0. Vamos nos servir da aplicagao, a: R? - [0] > ¥* (xyz) Po Ge para introduzir uma topologia em R° , a topologia quociente. Di- zemos que tm subconjunto UCP? é aberto se q™1(U) § aberto em R?-— {0} com sua topologia usual. Intuitivamente, isso estabelece em F* wma nogdo de vizi~ mhanga, segundo a qual dois pontos de P* est&o "préximos" se as retas associadas om R° formam um Angulo "pequeno". 0 subconjunto de P*, ae = {(xry:z)|z #0), $ aberto » @enso om P* , pois q (a2) & o complementar do pla- no z=0 om BR? e & evidentemente aberto © denso en RP-{0]. Pode-se mostrar que a aplicag&o Ro a? cg? (x,y) (xry:1) -5e- é uma bijeg&o cont{nua, com inversa também continua, Desta manei- 2 2 ra, passamos a considerar o plane afim R© como contido em P~ , identificando-o com A®. §@. Espagos projetivos Consideragées andlogas se aplicam, mais geralmente, para a definig&o do espago projetivo associado a um espago vetorial V de dimens&o arbitrdria sobre um corpo k, 3. Definicéo. 0 espago projetivo P(V) associado a um espago ve- toriel v 6 0 conjunto dos subespagos de V de ye yet dimensfo 1. Se » escrevemos Py = 1P(V), ou simples- mente PF", As coordenadas homogéneas de um ponto P €P(V) relativas auma base [¥,.++,V,} de V sHo as coordenadas (x,)+++5%,) de um vetor nfo nulo arbitrdério Ix,v, pertencente ao subespago representado por P, Fixada a base, escrevemos P = (x,:...:X,) para indicar um ponto com essas coordenadas homogéneas. Para cada i=0,...,n,,0 subdconjunto de PB” Uz = Uaxgieeetm) ley £0), pode ser identificado com k™ através da bijecdo x, x, x ( HX, > 2... SB) Comitir Sty . %y Re % Convencionamos escrever A” = U, + salvo mengéio em contrério, iden tificamos &™ com a® cp? © complementar de a” em B® consiste de pontos da forma =59- :X,.1!0). Desta maneira, P™ - identifica-se a um j BT) que convencionamos chamar hiperplano no infinite, (Veja também o exercfcio 9,b)). Bm particular, P° consiste de um sé ponto, pl, a reta projetiva , é@ reta usual A! com um ponto extra no infinito, Quando k =R, podemos visualizar PR como a circunte ! réncia, com 0 ponto no infinito indicado na figura: A reta projetiva complexa pode ser identificada com a esfe- ra, via projegio estereogréfica. Mas esta interpretagiio seré igng ! rada aqui. Preferimos encarar Py como um objeto unidimensional. §3. Curvas projetivas Passemos a investigar como se situam as curvas planas afins nesse ambiente mais ampio. Comecemos com as retas. Para o resultado seguinte, suporemos k=R (ou €). 4, Proposicfo - Seja 4: aX + bY+c=0 (com a ou b#0), © seja % aaderéncia de + em P*, Entio temos ~60- Eu tu ((br-a:0)} = {(x:y:z) | axrby+oz = 0} Denonstracdo. Denotemos por +” o 22 membro da ‘iltima igualdade proposta. f imediato que t” = tU U(bi~ar0)}. Mostremos que @= 2", Por definigio da topologia de Pe, ree sulta 4” fechado en 2, Visto que te 2", segue-se ZC”. Resta mostrar que o ponto no infinito P= (b:-a:0) pertence a Z. Para isso, basta exibirmos uma seguéncia de pontos P, € t com lim P, =P, Suponhamos, por exemplo, b #0. Seja n= P, (bn: -an-c: b) . Temos (nt (-an-c)/b:1) sa - SB (or -a- 2:2). A 18 igualdade mostra que Py € 4; a 28 mostra que P, +P, pois (b,-a-2, 2) tende a (b, -a,0) em R- {0} a: R? - {0} +B2 6 cont{nua. C.Q.De 4 5. Definigdo. Seja f= 2; , onde cada £, € kLX,¥] é homo- ° géneo de grau i, fy #0. A homogeneizacio de f & © polindmio homogéneo de grau d = df, £"Cuy,2) = E24 2,049) Deixamos a cargo do leitor 4 verificagio de que o resulta~ do anterior se generaliza para uma curva f arbitrdria: o subcon junto de P , {Gaytz) | £°Gyy,z) = 01 -61- é igual & aderéncia de f em ®*, Nao faremos mais uso deste fa to, nem do outras propriedades topolégicas de P*. Incluimos es~ sa discuss&o apenas para motivar a definig#o seguinte. ~ 6. DefinicHo. Uma curva plana projetiva 6 uma classe de equivalén cia de polinémios homogéneos n&o constantes, F €x({X,Y,Z], mdédulo a relag&o que identifica dois tais poliné- mios, F, G, se um for miltiplo constante do outro. Adotaremos, mutatis mutandis, as definigdes e convengdes feitas no Capftulo I para o caso afim. Deixamos a cargo do lei- tor a transcrig&io das definicgées de trece, equac%e, componente in- redutfyel_e grau dadas em (1.4). Observemos que, se F 6 um polinémio homogéneo, a relagdo F(tx, ty,tz) = t*P(x,y,2) mostra que a condig&o para que um ponto (x:ytz) pertenga ao tra- go de uma curva projetiva é independente das coordenadas homogé- neas. Curvas de grau 1,2,3,..- s&, como antes, chamadas retas, cénicas, ctibicas, etc. Areta Z=0 6 usualmente chamada de reta no infinito, mas a escolha & meramente psicolégica. Mudando a base de xk? , podenos decretar que qualquer reta de P* previamente estipulada seja a reta no infinite, Seu complementar (z #0), é 0 plano #2 , cujos pontos sXo ditos estarem a distancia finita. O fecho projetivo de uma curva afim f é a curve projeti- va definida pela homogeneizagaio f*. -62~ Os pontos a disténcie finita sobre uma curva F so dados pela equac&o F(X,Y,1) = 0. O polinémio no primeire membro desta equacée é 2 desomogeneizacio de F com respeito a Z, denotado Fy. Note que F, € nao constante, a menos que F seja igual a uma poténcia de Z. (Equivalentemente: o trago de F coincide com a reta no infinito). Observaremos a seguinte Convenedo. Doravante, as curvas algébricas planas afins £(X,¥) = 0 ser&o consideradas implicitamente como a parte que se acha a distancia finita sobre a curva projetiva £°(%,¥,2Z) =0. Assim, quando nos referirnos, por exemplo, & parébola Y= xX" , estaremos eutomaticamente pensando em ZY = X°. 0 termo curva sig nificard curva plana projetiva, salvo mengZo em contrério. §4, Mudenca projetiva de coordenadas 7. Definic&o (Compare com (1.7) Sega T: k? 4%? um isomorfise mo linear. Visto que uma tal aplicagZo preserva retas de k? passando pela origem, temos de- finide uma bijegfio naturel, ainda éesignada por 7: P* +P? , che mada uma projetividade ou mudanga projetiva de coordenadag em P*, Mais geralmente, define-se de maneira andloga projetividade em um espago projetivo P(v) arbitrério. Temos também induzido um k-isomorfismo KIX,Y,2] 9 kEX,¥,21 tal que,para todo (x,y,z) €k? e todo polindmic 4, (2,2)Gqy.2) = £0 1(x,y,2)). -63- Mais explicitamente, escrevendo X=, , Y= Xo» Z2=X; € den 3 signando por (a;,) a matriz de w+ pelativa & base canénica de k?, temos (2,2) (5X2 1%) = £(Baq Xs Bay jX5> Baz 4X5) . A imagem de uma curva projetiva F por uma projetividade T & curva definida por T.F, As curvas F e 1.F séo ditas congruentes. Dizemos que uma propriedade P relativa a curvas F é in- variante ou independente das coordenadas se F satisfaz P so- mente se T.F a satisfaz para toda projetividade T. Definigdo andloga se aplica a propriedades relativas a outras configuracées. (Comparar com I.10)). S&o exemplos de propriedades invariantes o grau de uma cur va projetiva, a colinearidade de pontos, a redutibilidade de uma curva, e varias outras que veremos no decorrer do curso. 8. Proposicdo. Sejem {11,L,,L,} , (Hy,H,Hz} oonjuntos de 3 re tasde B® no concorrentes (1.0, NL, = MH, = 6). = 12,3. Existe uma projetividade T tal que 1,1, =H, para Demonstragio. Cada reta de P* corresponde a um plano de k? passando pela origem, denotado a seguir pelo mesmo simbolo. Seja u,(resp. v;) um vetor n&o nvlo na intersegao dos planos Ly, Ly (resp. Hy,H,) para {i,J,k] = {1,2,3}. Ent&o os 1,2,3 formam uma base de k?, Assim, existe uy (resp. vy), 4 um isomorfismo linear T definido pela condicdéo T ups Vie i= 1,2,3. Visto que uj, us geram 1, , temos efetivamente ~64= c.Q.D. 1) Duas retas em P° sempre se intersectam porque dois pla- nos passando pela origem em k? sempre contém uma reta em comum, Em particular, as retas afins aX+bY+c = 0, aX+bY+c' = 0 se intersectam no infinito. 2) Apardbola Y* =X intersecta Y= 0 nos 2 pontos (0:01) e (1:0:0). 3) A hipérbole XY = 1 intersecta X= 0 no ponto (0:1:0). Este se encontra no complementar da reta Y= 0. Toman+ @o-a como a nova reta no infinito, desomogencizando X¥-Z* com relagdo a Y, obtemos a pardbola x= 2% (que é tangente a x=0) 2 2 4) A elipse o+5- 1 &a parte da cénica o+5- 2 a dist@ncia finita. Escolhendo a reta X= 0 como a re~ ta no infinito, obtemos agora, a dist@ncia finita, a hipérbole 2 2 b-+525. ve a? Tente imaginar os 2 ramos de uma hipérbole se encontrando no =, Talvez vocé se convenga de que a hipérbole e a elipse sdo de fato 2 aspectos da mesma curva: -65~ * reta no an—7 Fig. 22 & por vezes conveniente fazer uma representaglo gréfica de * desenhando o chemado triangulo de referéncia formado pelas re tas X=0, Y=0O e Z2+0 (esta tiltima tomada no @): Fig. 23 A primeira figura mostra o ramo positivo da hipérbole X¥ = 1 efetivamente tangenciande os eixos K=O e Y=O no in finito, e se prolongando com o ramo negativo. Ne segunda, temos a parébola clibica Y =X? exibindo seu ponto cuspidal (ou de reviravolta) no », -66~ Exercicios 1) Construa uma sequéncia de pontos P, a distancia finite sobre a hipérbole X¥ = 1 tal que lim PL= (0:2:0). n= 2) Mostre que todo ponto de P* - A® é aderente a alguma reta afin, 3) Mostre que as diregdes assintéticas de uma curva afim f x 2 ~ * est& em correspondéncia com as intersegdes de f” coma reta no infinito Z= 0. 4) Prove que f é a aderéncia da curva afin f£<¢ A*. 5) Demonstre as formulas: a) (fg)"=f"s"; b) (FG) y=Fyly 5 ce) (£")y f; 4) @R,)* =F, onde n= wP- oF. 6) Prove que um produto de polinémios é homogéneo se e sé se cada fator é um polinémio homogéneo. (Este fato foi impli- citamente suposto na definig&o de componente de uma curva plana projetiva). 7) Mostre que uma curva afim f 6 irredut{vel se e sé se f” é uma curva projetiva irredutivel. 8) Seja F uma curva projetiva irredutivel e seja G uma curve projetiva. Mostre que se FCG entéo F/G, 9) Sejam Py = (a;3! ayyt ays) €p? , i= 1,2,3, Prove que eles so colineares se e sé se deta; 5) = 0. -67- 10) Seje V um espago vetorial. a) Para cada’ subespago veto rial WCV, mostre que P(W) CP(V); se W! 6 outro subespago de V, mostre que P(W’)=P(W) <=> wew'. IP(w) 6 dito um subespago projetivo de P(V). b) Suponha dim W= dim V-1 e seja Vv, wm ponte de V fora de W. Para cada véV, seja [v] 0 subespago gerado. Mostre que a aplicacfo wr Cwev,] é uma bi~ Jecdo de W om P(V) -P(W). c) Definimos a dimensio (resp. godi~ menc&o)de IP(W) por dim P(W) = dim W-1 (rep. codimP(w) = = dim V- dim W). Mostre que dim P(w) 2 0 => P(w) 4%. 4) Mostre que uma interseg&o de subespagos projetivos é um subes- pago projetivo. e) Mostre que se 8), S) sé subespacos projeti- vos entao codim (S) N S,) $ codim 8, + codim So £) Uma peta (resp. hiperplano) em P(v) é um subdespaco de dim (resp. codim.) 1, Mostre que toda reta intersecta qualquer hiperplano de P(V), 11) Seja Vg © espaco vetorial dos polindmios homogéneos F(X,Y,Z) de grau d. a) Mostre que o conjunto das curvas de grau d identifica-se naturalmente com P(V,). b) Calcule dim P(v4). c) Mostre que as curvas de grau d que passem por um ponto fixo formam um hiperplano em P(Vg)- ¢) Mostre que o conjun to das retas de I que passam por um ponto P 6 uma reta de P(V,) (dita a dual do ponto P). d) Areta de FP? determinada por 2 pontos distintos é representada em P(V,) pelo ponte de in- tersegio das 2 retas duais; 3 pontos de P* sio colineares se e -68- s6 se suas retas duais sfo concorrentes. 12) Segam Py 4.0 5P5 ep? 5 pontos distintos, Seja 8, © conjunto das cénicas que passam por P,,...,P,. a) Mostre que S, é um subespago projetivo de P(V,) e que codim Ss; para i= 1,2 ou 3. ») Mostre que dim $, = 1 see sé se Py,+++,Py, ndo so colineares. Neste caso, conclua que existem cénicas Fy, Fy tais quea condigio necessaria e suficiente para que uma cénica F contenha P),--.,P, € que F seja da forma xyFy+x9F, para algua (x,:x,) €B', ¢) Investigue sob quais con dicdes os 5 pontos determinam uma’ ‘mica cénica. 13) Prove que o grupo das afinidades de A? é isomorfo ao grupo das projetividades de P* que deixam a reta no in- finito invariante. 14) Dados dois conjuntos {P,}, {a,} de 4 pontos de re, 3 a3 n&o colineares, mostre que existe uma tmica proje- tividade 7 tal que TP, =Q,, i-=1,...,4, Generalize para pF 15) Prove que dois isomorfismos lineares que induzem a mesma projetividade so miltiplo escalar um do outro. 16) Associe a cada cénica, Bos ayy X? + agy¥* + 05,2? + 2(aqyX¥ + 0152 + apgYZ) 41 22 33 12 13 2342)s a matriz simétrica Sp, = (az 5). a) Mostre que F(X,¥,Z) = (X,¥,2) Sp *(%,¥,2). -69- b) Soja M= (ay 5) uma matriz invers{vel 3x3 e denotemos pela mesma letra a projetividade associada (M(x,:%5:%5) = = (Em 5x4 1m 5x5? Ems 55). Prove que ~ trl s at Sup * Arh s, wi ce) Mostre que toda cénica é congruente por uma projetividade a exatamente uma das seguintes: XY = 2°, x¥=0, x°=0. Em particular, do ponto de vista complexo-projetivo, a pardbola, a hipérbole e a elipse sfo congruentes; elas diferem pela posic&o relative & reta no infinito. 17) Mostre que a cisséide x = ¥(¥°4x") € congruente & etibica cuspidal Y2=x? (Homogeneizar primeiro). A tris-— sectriz de MacLaurin e o folium de Descartes também s&o congruen tes entre si. 18) Prove que se uma cénica tem 3 pontos colineares ela é re- dutivel. -70- CaPfTuLo Vv INTERSEQAO DE CURVAS PROJETIVAS 4A motivagio originalmente presente na criagZo do plano pro jetivo foi o desejo de abolir o parelelismo de retas: em P* , 2 retas sempre se intersectam. Mas na realidade P* € muito mais prodigioso, Veremos que 2 curvas projetivas planas quaisquer sem pre se intersectam. Melhor ainda: é poss{vel atribuir, a priori, multiplicidades de intersecZo de maneira que, o nimero total de pontos comuns &s duas curvas, contados com multiplicidade, seja ou igual ao produto dos graus dessas curvas, ou infinito, este a1 timo caso ocorrendo somente se houver componente comum. Este é 0 enunciado do teorema de Bezout, $1. Interseg%o de reta e curva, agora projetivas Seja lL uma retae seja F uma curva de grau d. Suponhamos inicialmente L =X. Temos entdo: P= (O:yiz) EXN PF <=> F(O,y,z) = 0. Ora, o polindmio F(0,Y,Z) ou bem é identicamente nuio (caso em que X¢F) ou é homogéneo de grau d, decompondo-se na forma F(,¥,2) = Tax - 2), onde os pontos P, = (O:y,:z,) sao 2 a 2 distintos e constituem XF, Chamamos naturalmente o expoente m, de multiplicidade “7+ de _intersecio de X,F em P,. Deixamos a cargo do leitor a veri ficagHo de que essas multiplicidades coincidem com as definidas anteriormente (quando comparéveis). Em especial, se (0:1:0) € €XNMF, a multiplicidade aqui definida coincide com aquela no ent&o chamado ponto imprdprio da reta. 1, Proposigéo. Seja L wma retae seja f uma curva de grau d. Se L#F entio LAF = (P,,. +Py] » onde Pi # Py para i# 3 e existem inteiros m, = 1 bem determina— dos pela seguinte condigdo: se T é uma projetividade tal que TL=X, entio a ma, (2,F)(0,¥,Z) = Ttege-y2) . onde TP, = (Otystz,) pera i= 1,...,r, Em particular, =n; Demonstracio. Consideremos o diagrama de homomorfismos de anéis, oa KEX,Y,2] —~— kLx,Y,Z] [7 uIX,Y,21/(L}——> klY, 2] A 18 das flexas verticais é a aplicagdo quociente g-+% = ge+(L); a 28 & g8(X,Y,z) + ¢(0,¥,z), e T, & 0 isomorfismo induzido por T,. Segue-se que k{X,Y,Z1/(L) & isomorfo ao dominio fato- vial k{Y,z]. Portanto, F admite fatorizacSo tnica, n. 1 a. s = Py eee BLS, onde os p, sdo irredutiveis distintos e os expoentes nj, sao 21. Levando em conta que T, (F) = (T,F)(0,¥,z) © comparando as decomposigées, concluimos que r=s e ny =m, @ menos de reor- ~72- denacSo. Finalmente, a afirmativa com relacho aos TP, 6 evi- dente. c.a.D. 2, DefinieSo. A multiplicidade ov indice de intersecKo da reta L com umacurva F no ponto P 6 definido por e se PE€LCF (L,F)p +40 se PLAF mse P= P, nas condigées da Prop. anterior. A proposicéo acima pode ser reenunciada, dizendo que LAF consiste de oF pontos contados com multiplicidade; é um _caso particular do Teorema de Bezout. 0 caso geral seré visto mais adiante. A mesma proposigdo revela que, como emprego de uma proje- tividade conveniente, podemos sempre supor, para o célculo de (L,F)p » que P se encontra a distancia finite e que 1,F sfo distintos da reta no », Nestas circunstancias, é imediato que (L,F)p = (LarFy)p + onde o 22 membro é a multiplicidade de interseg&o definida no ca~ so azim, Assim, os resultados do Capf{tulo III podem ser transcritos pare as curvas projetivas. Bm especial, temos a seguinte 3. Proposigfo. Seja F wna curva projetiva e seja P um ponto de F. Existe unm inteiro m= m,(F) = 1 tal que, para toda reta L passando por P, . -73- (L,F)p = m ocorrendo desigualdade estrita para no maximo m retas e no m{ni- mo uma. Demonstracc. Movendo F e P com uma projetividade, podemos su por que a reta no infinito nfo contém P, Assim, reduzimos ao caso afim, quando ent#o a proposigaéo € conseqiéncia de (TII.3). c.0.0 4, Definic&o. (Comparar com (III.4) 0 inteiro mp(F) descrito acima é a multiplicidade de F (resp. P) em P (resp. F). Se P $F, convencionamos mp(F) = 0, Dizemos que P (resp. F) 4 simples ou néo singular ou liso (a) em F (resp. P) se mp(F) = 1; m@ltiplo ou singular se mp(F) = 2. F é lisa ou nao singular se o for em cada um de seus pontos, Se mp(F) = 2,3, As retas tangentes a F em P sao as retas excepcionais desta .,m P & dito um ponto guplo, triplo,...,m-uplo. cadas na proposigao anterior. Se £ 6 uma curva afime F = , € imediato que mp(F) = mp(f) para cada ponto P € a, Portanto, as definigdes dadas acima so consistentes com as dadas no Capftulo IfI. Para a determinago de m,(2) e Gas retas tangentes, re- duzimos ao caso afim, desomogeneizando F com relag#o a uma va~ riével que no se amila em P. Exemplo, A parébola ctibica Y= x" € singular no infinito, no ponto P = (0:1:0). Desomogeneizendo F: 2°¥ = x? com “The relagfo a Y (que tomamos como nova reta no infinito) obtemos 2 =. segue-se que mp(F) = 2, (Z,F)p=3 © (LyF)p=2 pa ra L#zZ (L=reta passando por P). (Veja Fig. 23). 5. Proposiciio - Seja F uma curva de grau d e seja P €P*. Ent&o: (1) (Férmula de Euler) dF = XFy + YFy + ZF, - (2) P & um ponto singular de F see sé se F,(P)X = FY?) = FL (P) = 0. (3) Se F & liso em P ento a reta tangente a F neste ponto é BCP) key (P)¥ + F7(P)Z = 0. Demonstracao. (1) Sendo ambos os membros lineares como fungdes de F, é su~ ficiente verificar a formula quando F é um monémio xt i yi 2k) iagek = a, 0 que é imediato, (2) Suponhamos P = (a:bt1). Por (III.5(1)) P é um ponto singular de F see sé se (Fy) = (Pedy= F,=0 em (a,b), Aplicando (1), concluimos dessas igualdades que FL(P)=0. Reciprocamente, se Fy, =Fy=F,=0 em P, ent#o Fy = (d= = (Fy)y = 0 em P. 0 mesmo argumento se aplica se P é da for- b) ov (lratb). ma (a (3) Suponhamos, por exemplo, P = (a:b:1). De acordo com (1Iz.5(2)) a reta tangente é dada pelo polinémio (ja ho- mogeneizado), -75= (Fy) (a,b) (az) + (Fy)y(a,b)(¥-bz) , que é igual a Py(P)X + Fy(P)Y - ZlaFy(P) + bFL(P)] . Por (1), @ expressiio entre colchetes coincide com -F,(P). C.a.D. Exercfeios 1) Para cada inteiro m21, construa uma curva F, de grau m, tal que a origem 0 = (0:0:1) seja um ponto liso e a multiplicidade de interseg¢o (X,F), seja iguala um. & pos sivel conseguir F lisa (inclusive no infinito)? 2) Mostre que uma citbica com 2 pontos singulares é redut{vel. 3) Ache as multiplicidades dos pontos no © e og indices de intersecZo com a reta no © para cada uma das curvas con- sideradas nos Cap{tulos T e III. 4) Mostre que wna curva projetiva F¢P* 6 n&o singular se e sé se F(X,Y,1),F(X,1,Z) e F(1,¥,Z) so todas nfo sin- gulares (ou @). Mostre com um exemplo que 2 dessas podem ser n&o singulares embora F seja singular. 5) Mostre que, para cada curva irredutfvel F, se 4 oF ent&o existem d(d+3)/2 pontos tais que F é a Unica curva deste grau que os contém. (Sugest&o: existem retas ly »lg, cada qual cortando F em d pontos distintos, e ~76- tais que Lj Nb, N= 1, NLA P= 6 pera i,j,k distintos. Tome P€F e fora dos 1,'s} depois escolhe itl pontos dis- tintos em L, NF (4 = 1,...,d-1) e mais d pontos em Lj f Fy Se existisse G #F contendo estes pontos, com 0G = 4d, existi- ria uma curva H da forma xF + yG (com (xty) €B7) contendo um (d+1)-ésimo ponto de Ly. Logo Ly CH, etc ++). 6) Prove que toda curva projetiva lisa é irredutivel. (Compa— re com Exercfcio II1.2). §2. 0 teorema de Bezout Consideremos agora o problema do cdlculo do niimero de pon- tos de intersegdo de duas curvas projetivas F, G de graus arbi- trérios. 6. Lema, Sejam F,G curvas planas projetivas. Eto FAG é finita se e sé se F,G ndo admitem componente comum, Demonstragdo. Se F,G n&o admitem fator comum em k[X,Y¥,Z] en~ tho F, , Gy também ndo o admitem em k[X,Y]. Com efeito, se Fy=fh, G,=gh, com f,g,n € KLX,Y] e h nao constante, entio (F,)* = 2°n", (G,)" = g*h’. Daf se seguiria que h” é fator de F,G, contradig&io. Como Fy, G, nao tém componente comum, segue-se que FZ ou GNZ é finita, (senfo Z seria componente comum) e portanto FG é finita, A rec{- proca é trivial. C.Q.D. -T7- Esclarecida a finitude de F NG, propomo-nos e calcular seu nimero de pontos. Note que ainda ndo apresentamos nenhuma ga rantia de que FAG seja nio vazia, em geral. Isto serdé uma conseaténcia do Teorema de Bezout. 7. Definicdo, Sejam P, = ie i= 1,...,r os distintos pontos de Diremos que F,G estado em boa posig&o ou bem posicionadas se Py = (0:1:0) FFAG. . Diremos que F, G est&o em muito boa posic&o ou muito bem _€FNG, 5 eF Por Pu oP s&o nao colineares. Esta iiltima condiglo é equivalente posicionadas se P, fF NG e se, para cada par P,, P & exigéncia de que i ¢ j implique (x,:z,) # (x545)- Suporemos no que segue que F,G nio tém componente em co- num, Escrevamos F i [-2 ages ay tt Ags G e BUYS +...4 By onde Aj, By € &{X,Z] 30 homogéneos de graus i,j. © # claro que (0: 10) €F <=> A, = 0, Logo, estando ,G bem posicionados, temos A, ou B, #0, Lembrando o Lema II.9, temos que a resultante R = R(X,Z) de F,G com respeito a Y¥ 6 homogénea de grau dee. . Por outro lado, levando em conta que A, ou B, #0, pe- ra cada (x:z) €&1 temos R(x,z) = 0 ==> S(x:y:z) € PNG. Supondo F,G muito bem posicionadas, concluimos que R escreve-se na forma zo M. R(X,2) = © TT (25x - x2) * 1 onde c,é uma constante # 0, os expoentes m, s&o inteiros 2 1, Bm, =de, e P, = (xty,:2,), i= 1,...,r s&o os distintos pontes de FG. £ natural, portanto, adotarmos a seguinte 8, Definicéo, A multiplicidade ou {ndice de intersectio de F,G no ponto P é definida por 0 se P£FAG (F,@)p = se P= FP, nas condigoes acima. “i a Observande que oR = (0F)(0G) , demonstramos, para 0 caso em que F,G est& muito bem posicionadas, o importante 9. Teorema de Bézout. Duas curves planas projetivas F, G sem componente em comum, tém (dF)(dG) pon tos em comum contados com multiplicidade. Para o caso geral, 6 necessdrio definirmos (F,G)p livre da hipétese de bom posicionamento. f& claro que, se FAG é fi- nito, existe uma projetividade T tal que T,F, TG est&o em muito boa posigdo, A sugestdo foi lancgada: -79- 10. Definic&o. 0 {ndice ou multiplicidade de intersegio de F,G (curvas projetivas sem componentes em comum) no ponto PER? & (F.@)p = (TF, 7,4)mp onde T denota uma projetividade tal que TF, T,G estejam muito bem posicionadas, e 0 22 membro 6 calcuiado como na Definig&o 8. Exemplo. 0 ofroulo F: x*+¥ = 2x e a pardbola G: ¥° = x Exomplo (Fig. 9) n&o est&o muito bem posicionados: os pontos de intersegdo e (1i-l:1) so colineares com (0:1:0). Aplicando a projetividade @ que fixa Z e troca X por Y, ob temos TF = X4y-2vz, T,6=xX--2x , que agora est&o em muito boa posicéo. A resultante é x°(X-Z)(X+Z), indicando as miltiplicidades 2 © 1 dos pontos (O: :1) e (1:42:1) respectivamente. 0 leitor atento objetard de imediato, pois a "definig&o" acima proposta sé é honesta se provarmos que o 22 membro indepen- de de T, Méos & obra, pois! 11. Proposigéo. Sejam F,G curvas muito bem posicionadas. Se- ja @ uma projetividade tal que T,F, T.G tam bém est&o muito bem posicionadas. Entéo = 2 (F,G)p = (TF, T,C)op YPEP*. -80- Demonstragio. Usaremos um artif{eio notével, devido a Seidenberg! . A idéia é provar a igualdade quando & é uma projetivida- de genérica. Precisamente, sejam Ws (i,g = 1,2,3) 9 indeter- ninadas, e seja K 0 fecho algébrico de k(W,4), © corpo de fun ‘gSes racionais nessas novas varidveis. 0 plano projetive Pe se identifica a um subconjunto de PE , 0 plano projetivo sobre o corpo K. A projetividade genérica W é @ projetividade de PS cy definida pela matriz (W; 5) W(x, tx Q Ixy) = City 525 # BM 5% 52 BW 525) . F,G definem curvas en IZ , que denotamos por F,d. 0 fa to importante a observar é que, mesmo considerando pontos com coor, denadas em Kk, temos Fo@=Frnags {Py,eee)PL} . Com efeito, as coordenadas de um ponto de FANG s&o raf- zes da resultante de F,G com relagdo a uma varidvel conveniente, e portanto satisfazen a2 uma equacdo algébrica a coeficientes em x. Sendo este algebricamente fechado, vemos que os pontos co- mins a F,G em 2 s&o os que J4 conhecfamos, em FN G. Consideremos agora os "transladados genéricos", WF , WG. Temos, por definig&o O.F)OGY,2) = FOT*(,¥,2)) Eliminamos os denominadores desta Gltima expressio, definindo FMCG ¥,2) = aet(wz 5)°F POO, Y, 2). 1) A. Seidenberg, "Elements of the Theory of Algebraic Curves", Addison Wesley, 1968. -B1- Fe é um polinémio a coeficientes em kUw, 51, anel dos po linémios nas varidveis W,5- Note que FY eg w, F definem a mesma curva em PZ , pois diferem por um miltiplo constante. Para cada projetividade @ definida por uma matriz (tj 5) a coeficientes em k, 6 evidente que, o resultado da substitui- x wog eho Wy; 7 ty; om PY é TF. W, GY esto muito bem posicionades. Com Observemos que F efeito, se P, = (0:1:0) pertencesse a FY n GY, terfanos Po = W(P) para algun PE FN G, Daf, especializando Ow, 5) pa ra a matriz identidede, viria P,€FG, proibido por hipétese. | Analogamente, se existissen a, a' € FP” n GM colineares com Py, concluirfamos a existéncia de P, P' € FG colineares com P, Calculando a resultante de F", oW » encontramos zy t, r RCC), XZ) = ow) TT (24 GN . isl onde c(W) & um polinémio #0, n, = n,(W) é um inteiro= 1 e xy (Wt = Waxy + Wyeyy + Wig 2p > 24 0W)t = Wyo; + Weayy + M55 24 so coordenadas homogéneas de W(x,:y4!%,), © i-ésimo ponto de FY nc¥, 4 expressiio para a resultante esté correta porque sabe~ mos que R((W),¥,Z) € wEw, 51x, ¥1 e que, om KLX,Z2], ela é com pletamente decomponfvel nos fatores lineares 2, (W)X-x,(W)Z cor respondentes aos pontos de FY n GY, Agora é claro que, especializando (W,,) para qualquer id (455) associada a uma projetividade T tal que J,F, T,G este- ~82— jam muito bem posicionados, RCW, 59% Z) se especializa na resul- tante de T.F, T,G, com cada fator 24 (W)Kex5 (WZ se trans- formando no fator correspondente ao ponto TP,. Segue-se que os expoentes n,(W) no dependem de Wy e em particular, 3? (l.F , T.G)op = (FG)p c.a.D. Para aplicagdes do Teorema de Bezout, é importante sabermos como estimar (F,G), em termos de dados locais de F,G, separa- damente, em torno do ponto P. 13. Proposic&o. (F,G)p = mp(F) m)(G), yalendo_a desigualdade se esd se F e¢ G possuem uma tangente comum em P. Demonstragao. Podemos supor P = (0:0:1) e que F,G@ est&o mui- to bem posicionados, Ponhamos m = mp(F), n=mp,(G). Devemos mostrar que x™ divide R(X,Z) em K{X,Z], ou, equivalentemente, que xX™° divide R(X,1) em KEX]. Estando F, G bem posicionados, sabemos que R(X,1) é iguala R(X), resultante de f£ = F(X,¥,1), g = G(X,Y,1) , a menos de fator constante # 0. Para o cdélculo de R(X), escrevemos f, g em poténcias crescentes de Y (causando apenas wma permutagéo nas colunas da matriz cujo determinante queremos calcular): m1, t yt, ag + agX™ Yet aay + any tees = a n+], G = DX +e. LYM + Dy YMA -83- onde aj, bj € K(X], sendo os m primeiros a's @ os n pri meiros b's constantes, Temos -1 agx™ ax a, Smyreee age eee AX ay R(x) = #|77 777 TT 1. box eb, Pygitte Dox eee BLK Lee Multiplicande a la linha de ats por X°, a 28 por x*2, ete » alade b's por X", etc..., vemos que é poss{vel fa torar x™™-J+l ge j-ésima coluna, 1 j < min. Desta maneira, conclufmos que R(X) é divisfvel por X elevado ao expoente (men) (men-1) _ m(me2) _ n(n=1) = on. 2 2 2 Para estudarmos em que caso ocorre igualdade, definamos R(x) = RO) ™ Trata-se de um polinémio em X. Ponhamos fyimagx™ + ayX™ ly +. ar, ByinboX” +eeet BLY Precisamos mostrar que R(0) = 0 => fqs8, tém fator comum em xLX,Y] « Sem perda de generalidade, podemos supor que X nio é fa- tor comum, i.e., a, ou b, 40, Neste caso, £,,6, +tém fator comum em kK[X,Y] se e sé se £,(1,¥), g,(1,¥) tém raiz comum, -84- Examinando com ateng&o 0 processo utilizado acima para ex- trair o fator x™ de R(X), percebemos que fi(0). é o determi~ nante de uma matriz que apresenta wma submatriz (mim)x(mm) (for mada pelas n primeiras linhas de a's e m primeiras de b's) igual & matriz que fornece a resultante de f,(1,¥), @,(1,¥); 0s demais elementos das colunas de ordem maior que mm e nas mes- mas linhas desta submatriz nfo nulos. Além disso, o bloco comple mentar da submatriz em quest&o é justamente a matriz que dd a re- sultante dos polinémios F = Y£(0,Y), @ = ¥%g(0,¥). Desenvol- vendo o determinante pelos menores extrafdos das mim primeiras colunas, encontramos MO) een” “Eg Ora, R,_#0, do contrério F(¥), g(¥) admitiriam raiz tg comum y, necessariamente #0 (porque a, ou b, #0). Mas en- to terfamos (0,y) € £1 g, impedido pela hipétese de que F,G esto muito bem posicionadas e j& tém o ponto (0,0) em comum, Em conclusio, R(0) é zero se e sé se R. é zero. fr On, C.Q.D. 14, Corolério. Sejam F, G curvas sem componentes em comm, Ent&o petng MPC) mplG) = (OF)(OG) Demonstracio. Pelo teorema de Bezout, sabemos que B(F,G)p = (OF)(0G) . -85- Pela proposig&o anterior, temos cada (F,¢)p ® mp(F) mp(G). 6.0.0. Exerefeios 7) Mostre que as Definigdes 10 e 2 sao consistentes. 8) Caleule as multiplicidades de intersec&o para os pares de curvas: a) Y=, vox? ; ) vb) ey? 22, av? - 4; oc) (x@ay?)? = xPay?, x2ay2 = a; a) (x2ay?)? = xv? , ar? = RY, 9) Prove que se F,G s&o curvas que est&o apenas bem posicio nadas (nfo necessariamente muito bem pos.) e se Re = n L , = T(z j%-x,2) 3, com os (xj:z;) €B 2a 2 distintos, entio nj é@ soma das multiplicidades de intersecies correspondentes aos pontos (xry:z) com (xtz) = (xgtz5)+ 10) Segam £, g curvas planas afins, com f*, g” nfo necessa a, riamente bem posicionades. Seja R(X) = TT (x-x,) * a resultante. Discuta a relagdo dos ays com multiplicidades de intersec&o e estude a diferenga de = ny para (ef) (dg). 11) Mostre que uma quértica com 3 pontos singulares colineares ou com 4 pontos singuleres é redutivel. (Sugesto: trace uma cénica pelos 4 pontos e mais um quinto), -86- CAPfTULO VI PROPRIEDADES DO INDICE DE INTERSECAO Mostraremos neste capitulo que o {ndice de interseg&o é ca racterizado por uma lista de propriedades naturais. Como primei- ra consequéneia, veremos que a férmula explicita que define (F,G)p pode ser esquecida, pois as referidas propriedades forne- cem um método para o célculo efetivo. Apresentamos depois uma fér mula alternativa para o {ndice de interseg&o, usando séries de po- téncias. Esta nova abordagem dispensa o deslocamento prévio exi~ gido pelo método da resultante e pSe em relevo o fato de (I,C)p sé depender do comportamento de F,G em torno de P. §l. As propriedades caracter{sticas Inicialmente reescreveremos a Definigfo V.10 estendendo-a para 0 caso em que as curvas podem admitir componente comum, 1. Definic&o, Sejam F,G curvas planas projetivas e seja P um ponte de P*, Escrevenos F= FH, G= GH, com H = mdc(F,G) (ou seja, H é a reunido das componentes comuns de n&o tém componente em F,G, tomadas com’multiplicidade; F,, G, comum), Os pontos de F, MG, fora de H s&o as intersecdes isoladas de F,G. Definimos a multiplicidade ou {ndice de inter segao de F,G em P por -87- ° se P €H (2,6)p = Jo se P£FNG (ForGy)p se P 6 uma intersegfo isolada de F,G. Lembramos que, neste Ultimo caso, escolhemos uma projetivi- dade S tal que 8,F,, 8,G, estejam muito bem posicionadas. Agora, se (x:y:z) = S(P), entéo (F,G,)p € igual ao expoente com que zX-xZ ocorre na resultante de S.F,, 8.6, Mostramos na Proposigio (V.11) que esta definig&io indepen- de da particular projetividade com que deslocamos F,, Gj. Se no tivermos 0 cuidado de eliminar as componentes comuns, a resultante de F,G serg nula. © processo de colocar 2 curvas em muito boa posicgdo é em ge ral laborioso. 0 célculo de (F,G), seré tremendamente facilita- do pela lista de propriedades que descreveremos logo a seguir. De fato, mostraremos que elas fornecem um algorftmo para o cdlculo do indice, dispensando completamente a férmula da resultante. Em par ticular, qualquer outra férmula que satisfaca a essas propriedades terd que atribuir o mesmo valor. 2, ProposicSo. (F,G)p satisfaz as seguintes provriedades: (1) (F,G)p = (G,F)p € © ou um nimero inteiro 20. (2) (PG)p = 0 o> PEFNG (3) (F,G@)p = © <=> P €H = componente comum de F,G. (4) Gp = (1.F, LGgp projetividade Ts P° + P?, (5) (GY)p=1 onde P = (0:0:1). (6) (F,G+AF)p = (F,G)p A homogéneo com BA = 2G - oF. (7) (F,GGp)p = (F:Gy)p + (F,Gy)p . Antes de escrever a demonstracZo, vamos ilustrar como es- sas propriedades podem ser empregadas para 0 cdlculo de (F,G)p » aplicando-as ao seguinte Exemplo: F: (x°s¥?)? = ¥9-3x°y (rosécea de 3 pétalas) ee y.3x2 (ciibica nodal) Fig. 24 Temos F = (x+¥*)* - 2(v3x*v), G = ve-z(v°3x*). Logo, empregando as propriedades indicadas na diltima coluna, vem (F,G)p= CE-YG,G)p ((1), (6)) = (x42x?y? a), = OP ,G)p + (x442¥7,6)p ((7)) = 2K, (¥-2))p + (P4297, v7 2v?), ((6)) = 4OGY)p + 20GY-Z)p + 4OGY)p + (KEE ¥,Y-72Z)p. -89- Logo, FAG = ((0:0:2), (O:2:1), (47iV2:7:1)3 5 no primeiro desses, a multiplicidade de interseg&o é igual a 8; no 22 & 2; nos 2 Gltimos é 1. Demonstracéo da Proposico 2. As 3 primeiras propriedades dispen- sam comentarios. A 4&8 - invariéncia por mudanga projetiva de coordenadas — decorre essencialmente do fato de que, na Definig&o (1.1), goza- mos de. liberdade irrestrita na escolha da projetividade T. Com efeito, se (F,G)p= 0 ou é Spbvio que (T,F,T,G)pp temo mesmo valor. Se P é uma intersegdo isolada, escolhemos (com a notag#o da Definig&o (1-1) S$ tal que S.F,, S.G, estejam muito bem posicionadas e tomamos U= sI7', Temos entéo (LP VT.G)gp = (UCR), U.1.E)) yep (8,718.6) gp t Bp Verifiquemos (5). Escrevendo F = OY+X, G=Y ox = -X, Isto mostra que (0:0:1} ocor calculamos R, = FG 10 re com multiplicade 1. Para a 64 propriedade, é suficiente considerarmos o caso em que A 6 um polinémio da forma A = Agyo™ , com ¢ = 2G-0F @ A,(X,Z) homogéneo de grau m, Neste caso, é imediato que a -90- matriz cujo determinante define Rp gj, & odtida da associada a Rpg somando as linkas dos coeficientes de G, miltiplos das 1i nhas dos coeficientes de F. A 72 propricdade 6 de verificag&o mais trabalhosa, Ela se baseia nos seguintes resultados da teoria da eliminagfo. 3B. Lema. Seja A = ZLX,)Ky,+++)XqsYoreees¥y] 0 anol dos polind mios nas indeterminadas X,, Yj, @ coeficientes intei- ros. Sejam i = XC) COEX,) = xO = Caxpy™ td, € aly] YQ) OEY) = YO" - Gye.) wR 0 ‘Temos ent&o as seguintes férmulas para a resultante de f, g: R= xB YD 04 ¥5) xy TeX) (-1y™ Wo Tey) : Demonstracio. Denotemos por S$ o 29 membro da 12 formula propos ta. & imediato que S satisfaz ds 2 outras igual-~ dades. Por outro lado, a definic&o da resultante mostra que R= x5 ¥"R, onde f denota um polindmio nas variéveis Hh por ¥;, com i,j 1, anula-se a resultante; logo X,-Y; di- » a coeficientes em Z. Substituindo-se Xx, y¥ors vide Re portanto S$ divide R em A. Mas é facil verificar que S e R +ém o mesmo grau em X, (resp. Y5)> donde R é um ~91- maltiplo inteiro de S. Fazendo X= YQ = ¥y X, = 0, vé-se de imediato que o referido inteiro é 1, R=S. c.a.D. 4, Proposic&o. Seja D um dom{ni a_férmula Dados f,g,h € D(Y], vale Demonstracéo, Escrevamos as reticéncias indicendo termos de grau inferior, Existe uma ex- tensio E2D tal que, em ELY], podemos fatorar £ XQ (Foxy eee (YK) 4 oe u = yyy ee Gey,) hs 2,(Y-2,)...(Y-2,) . (Tomar, por exemplo, um corpo de rafzes do produto fgh). Consideremos 0 anel A = ZUX,,e00sXgs YoreeerYyns Z Definamos Bos x, (YX). (eX) B= YO (Wy) CY) A= Z)(¥-Z)ooe(WZ,) « -92- Podemos definir um homomorfismo de anéis, gr A WE mandando: X em X5, etcesey de sorte que o homomorfismo indu- zido, atv] - Ely] aplica 7 em £, etc. ... Nestas condigdes, é claro que aR Wo) = R, . fen Fesh Apliquemos o Lema a #, gh. Obtemos: R x05 TTR) (XD) u (xp THeCK,)) GG TIBOY) " z Be Eh Caleulando @ em ambos os membros, resulta a férmula anun ciada. ' C.Q.D. Verifiquemos agora a propriedade (7) dada na Proposigio 2: (F,G,Gp)p = (FG) )pH(FG)p + Podemos supor que P 6 uma interseg&o isolada de F,G)G,, e sem perda de generalidade, supor logo que F,G,G, nao tem com- ponente comum e est&o muito bem posicionadas. Mas agora a formu- la proposta decorre imediatamente da Proposigao 4. =93- 5. Proposigho. 0 {ndice de intersegio (F,G)5 é univocamente determinado pelas propriedades (1),...,(7) lis tadas na Proposigao 2. Denonstracéo. f suficiente provar que (F,G)p é calculdvel a partir dessas propriedades. E para tanto, basta considerarmos o caso em que F,G no t&m componente comum passan do por P. Consideremos F,G como polinémios em Z a coeficien tes em k{X,Y¥] , escrevendo ag P= AZ 40.4 A, G@ = Bz + com ALsBS € K(X,Y] homogéneos, dA, = dF+i-m, dB; = 0G+J-n , AGB, # 0. Procederemos por indugZo sobre min{m,n} . Se m= 0, entéo F=A, 6 um produto de fatores linea- res homogéneos do tipo aX+bY, caso em que sabemos calcular (?,G)p usando as propriedades. Com efeito, por (1) e (7) redu- zimos ao caso em que F & uma reta; por (4) podemos supor P= (0:0:1) e F =X; por (6) podemos substituir G por F(O,Y,Z); este Giltimo é um produto de fatores lineares e ent&o ganhamos, usando (7) e (5) (e possivelmente (4) para transformar em Y um fator linear). Suponhamos, para a etapa indutiva, O 6x, ¥)/(£) s(x) b+ 5 = s(x) + (£) & um isomorfismo, Esta afirmagSo é equivalente 4 seguinte:

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