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A minha timeline nunca vibrou tanto por uma mulher negra como nessa
ltima semana com a vitria de Rafaela Silva ouro no Jud. Todo mundo
compartilhando vdeos, memes, histrias de vitria e se sentindo de alguma
forma orgulhoso e na torcida. Rafaela mulher negra, moradora da Cidade de
Deus e muitas vezes teve que treinar em casa sem equipamentos adequados.
E pelo o que parece a elite brasileira adora uma histria de dor, sofrimento e
superao. Ainda mais quando de preto, pobre e favelado. O que eles no
gostam de democratizar as oportunidades e as polticas pblicas. Bolsa
mesmo s se for a bolsa herana.
Se por um lado, a histria da Rafaela pouco se diferencia das histrias
de outras mulheres e homens negros de favela no quesito resilincia e
criatividade. J que a favela sempre teve que usar solues criativas para
resolver problemas de escassez e ausncia do estado. Na favela criar
visceral, necessidade de sobrevivncia e modo de vida. Por outro lado, as
oportunidades, na maioria das vezes, so raras. Algumas chegam travestidas
de culpa ou caridade e outras, as que mais tem ganho social efetivo, vem como
polticas pblicas como o Programa Atletas de Alto Rendimento do Ministrio
da Defesa, as Cotas, PROUNI, bolsa famlia, etc. Essas justamente essas so
rechaadas por uma elite branca que no quer dividir privilgios.
Entretanto, o mesmo pas que vibra com a vitria de uma mulher negra e
favelada o mesmo que mata todos os dias jovens negros, em sua maioria
homens de 15 a 28 anos, moradores de favelas. Algumas histrias de
superao simplesmente no chegaro at a gente, porque tiveram suas vidas
interrompidas pelo racismo e uma guerra s drogas dbil que s atinge uma
parcela da populao. Eduardo, Matheus, Elielson, Claudia, Caio, Alisson,
Fernanda, Bruno, Felipe, Maicon e tantos outros. S nesse ano o nmero de
mortes causadas por policiais entre abril e julho aumentou mais de 100%, nas
favelas e demais periferias do Rio. Mortes que tem cor e classe social. Tudo
isso acontece enquanto celebramos as conquistas das Olimpadas 2016 e os
cartazes #ForaTemer so proibidos. Tudo acontece enquanto a mesma
juventude, negra e favelada, que disputa representatividade e voz, no
conseguem sair de casa por causa do tiroteio. E no fim, seguiremos no meio
desse caos contraditrio do Rio brindando o Brasil, uns de preto outros de
verde e amarelo.