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Q ual é o antônimo de
frio? Quente. De pou-
co? Muito. E de “gloca-
lização”? “Inovação re-
versa”. É o que garante
o especialista em estratégia e inova-
ção Vijay Govindarajan, que atua há
quase dois anos como consultor-che-
fe de inovação e professor-residente
domésticos, que é o mundo desenvolvi-
do, e levaram esses produtos aos países
em desenvolvimento. Mas agora o que
está acontecendo é inovar nos merca-
dos emergentes e, então, levar essas
inovações para os países desenvolvidos.
É o oposto da “glocalização” [termo que
une as palavras “globalização” e “lo-
cal”], que foi definida como “pensar
mercado de massa é de quase US$ 50
mil per capita, que possa ser adaptado
e comercializado na Índia, onde o PIB
per capita é US$ 800 na prática [US$ 2
mil pelo cálculo oficial]. Mesmo em re-
lação a emergentes como o Brasil, cujo
PIB per capita é cerca de US$ 10 mil, há
grande desnível.
da General Electric –um pioneiro em- O sr. pode dar um exemplo de produto
bedding de acadêmico no ambiente que não funciona?
corporativo–, onde tem a missão de
guiar, ensinar e prestar consultoria.
“agora o que está Um exemplo interessante é o do
aparelho de ultrassom da GE. Nos
Se “glocalização”, a palavra de or- acontecendo é Estados Unidos, ele se parece com
dem dos anos 1990 para multinacio- um equipamento industrial. É enor-
nais norte-americanas e europeias, inovar nos mercados me, custa em torno de US$ 100 mil a
significava “pensar globalmente, atuar emergentes e, então, US$ 350 mil e pode realizar opera-
localmente”, “inovação reversa” reme- ções bastante complicadas. No entan-
te a inovar nos mercados emergentes e, levar essas inovações to, 60% da Índia é formada por áreas
então, levar essas inovações aos países rurais pobres, onde não há hospitais.
desenvolvidos. A mudança de paradig-
para os países Então, os pacientes não podem ir ao
ma, que já está ocorrendo na GE e em desenvolvidos” hospital, o hospital tem de ir até eles.
outras megacorporações, transformará Isso significa que não se podem usar
drasticamente a estratégia e a opera- aquelas máquinas tão grandes. Elas
ção das empresas, com consequências globalmente, atuar localmente”. Nós es- têm de ser portáteis. E, de novo, tam-
como a transferência dos esforços de crevemos sobre a inovação reversa, que bém o poder aquisitivo é diferente; o
pesquisa e desenvolvimento (P&D) é, simplesmente, fazer o contrário. que os norte-americanos pagam por
para as subsidiárias instaladas nas eco- um exame de ultrassom seria impen-
nomias emergentes. A “glocalização” não funciona mais? sável na Índia rural. E não há diferen-
Na entrevista a seguir, Govindara- Sabe por que a “glocalização” fun- ça somente entre rural e urbano.
jan detalha essa transformação, anali- cionou um dia? Porque as empresas
sa os gargalos que ainda a retardam e norte-americanas levavam seus pro- A GE fez inovação reversa?
fala sobre seu trabalho na GE, que ele dutos para a Europa e o Japão, onde os Sim, ela desenvolveu um aparelho
considera seu maior desafio em termos consumidores eram similares aos dos de ultrassom barato, que custa apro-
intelectuais. Estados Unidos de certa maneira. ximadamente US$ 15 mil, e, desse
Essa mesma abordagem não funcio-
Ouvi dizer que a máxima “pensar glo- na nos mercados emergentes, porque
balmente, atuar localmente” já ficou toda a estrutura de mercado e os pro- A entrevista é de Stuart Crainer,
superada [risos]. É isso mesmo? Por blemas dos consumidores são funda- editor da Business Strategy Review
favor, me explique como. mentalmente diferentes. Por exemplo, e um dos criadores do prestigiado
Ela já fez sentido, foi a grande ideia da considere o PIB per capita em dois paí- ranking de pensadores de gestão, o
década de 1990. Empresas de atuação ses: Estados Unidos e Índia. Não existe Thinkers 50, em que Govindarajan
mundial inovaram em seus mercados produto nos Estados Unidos, onde o ocupa a 24ª posição.
fazê-lo nos fins de semana, porque es- Jeff Immelt ainda é relativamente novo
taria muito ocupado vendendo produ- como CEO da GE, mas o sr. acha que o
tos globais nos dias úteis. Mais ainda: “Há 15 anos, quando as foco nos emergentes e na inovação re-
se esse diretor da área de saúde hou- versa será seu legado?
vesse escrito uma proposta durante o empresas avaliavam Um dos aspectos notáveis a respeito da
fim de semana, ele teria de vendê-la GE é que é uma empresa de mais de
para o chefe dos produtos globais em
uma estratégia cem anos, e o único modo de uma em-
Milwaukee, alguém que provavelmen- global, pensavam presa sobreviver tanto tempo é tornar
te nunca visitara a Índia nem entendia obsoleta a si própria quanto a produtos
os problemas dos habitantes de áreas em Europa, Estados e soluções. Esta é a verdadeira marca
rurais. E, mesmo que conseguisse con-
vencer essa pessoa, ele teria uma série
Unidos, Japão e No da GE: está disposta a mudar, a aco-
lher novos modos de concorrer. Nesse
de outras para convencer também. resto do mundo. Daqui sentido, todo CEO eficaz define um
Então, implementar a inovação re- novo esquema estratégico para a em-
versa representou um gigantesco desa- por diante, terão de presa que lidera –não porque o velho
fio organizacional. julgar sua estratégia esquema seja irrelevante, mas porque
é um novo ambiente, um novo mundo.
Como as coisas mudaram na GE? Como global levando em O modelo estratégico que Immelt está
podem mudar em outras empresas? implantando, sem perder o desempe-
A questão central é, e sempre foi, a trans- conta os países BRIC nho e a disciplina que Jack Welch im-
formação cultural necessária, e tem de [Brasil, Rússia, Índia plantou, está adicionando a inovação
começar pelo topo. É por isso que Jeff à oferta. O legado de Immelt será jul-
Immelt, CEO e presidente do conselho e China], O oriente gado em termos de se ele foi capaz de
da GE, sempre visita Índia, China, Bra- incorporar a inovação dentro de uma
sil e outros países emergentes e espera
Médio, a África e o empresa conhecida pela eficiência.
que os CEOs das diversas empresas do resto do mundo”
grupo também os visitem. O sr. tem um papel único dentro da GE:
Quando Immelt se reúne com o pri- professor-residente. Como surgiu?
meiro-ministro da China e conversa Há cerca de dez anos fiz uma palestra
com ele sobre prioridades nacionais, dos países desenvolvidos para os no seminário em que Susan Peters,
ele obtém informação em primeira em desenvolvimento. chief learning officer [principal execu-
mão sobre as possibilidades na China. Há 15 anos, quando as empresas tiva de aprendizado] da GE também
Esse tipo de compreensão desenvolvi- avaliavam uma estratégia global, pen- se apresentou. Eu realmente gostei do
da por CEOs é o início de uma mudan- savam em Europa, Estados Unidos, que ela disse, então fui cumprimentá-
ça cultural. Foi Immelt quem demons- Japão e no resto do mundo. Daqui por -la. Ela me perguntou em que eu tra-
trou a necessidade de a GE adotar a diante, terão de julgar sua estratégia balhava e eu lhe contei sobre meu tra-
inovação reversa e quem encorajou a global levando em conta os países balho em inovação reversa. Cinco anos
organização a acompanhar sua visão a BRIC [Brasil, Rússia, Índia e China], mais tarde, encontrei-me com Immelt,
esse respeito. o Oriente Médio, a África e o resto do quando discursou em uma formatura
mundo. Europa, Estados Unidos e Ja- do Dartmouth College, onde sou pro-
Os líderes de outras empresas norte- pão tornaram-se “o resto do mundo”. fessor há algum tempo. Em uma reu-
-americanas têm a mesma visão de Im- Essa é a mudança de perspectiva que nião de meia hora, eu lhe contei sobre
melt? Ouvi dizer que apenas 25% dos permitirá que todos os líderes de ne- meu trabalho em inovação.
norte-americanos têm passaporte... gócios pensem como a GE de agora. Então, quando Immelt e Susan esta-
Verdade. Cada vez mais, os líderes vam conversando sobre “instalar” um
de empresas ocidentais precisam E uma vez que o façam... acadêmico dentro da empresa para
reconhecer que têm um papel dife- Você identificou o que talvez seja o de- conduzir o pensamento organizacional
rente dentro das empresas. Eles de- safio mais significativo para as multi- como um todo, meu nome surgiu. Foi
vem favorecer um novo “olhar glo- nacionais norte-americanas. Elas pos- uma série de eventos de sorte, e acho
bal” em suas organizações. Penso suêm muitos talentos, mas têm eles a que bem poucos acadêmicos conse-
que grandes empresas cujos líderes perspectiva global? Então, afirmo que guem uma oportunidade como essa.
tenham essa visão serão muito mais o maior desafio para os CEOs norte-
capazes de vencer nesta nova era -americanos e outros é incorporar tal Qual é seu trabalho na GE exatamente?
em que a oportunidade mudou-se perspectiva. Meu papel consiste em três coisas: en-