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– Jesus nunca dá ninguém por perdido. Ajuda-nos ainda que tenhamos pecado.
O Messias fora profetizado por Isaías, não como um rei conquistador, mas
como Aquele que serve e cura. A sua missão caracterizar-se-ia pela mansidão,
pela fidelidade e pela misericórdia, conforme descreve o Profeta servindo-se de
imagens belíssimas. A cana rachada e a mecha fumegante representam todo o
tipo de misérias e sofrimentos a que a humanidade está sujeita. O Messias não
acabará de quebrar a cana já rachada; pelo contrário, inclinar-se-á sobre ela,
endireitá-la-á com sumo cuidado e devolver-lhe-á a fortaleza e a vida que se
esvaem. Do mesmo modo, não apagará a mecha de uma lâmpada que parece
extinguir-se, mas empregará todos os meios para que volte a alumiar com uma
luz clara e radiante. Esta é a atitude de Jesus em relação aos homens.
II. NÃO QUEBRARÁ a cana rachada nem apagará a mecha que fumega...
O que é que diz aos que estão quebrados pelo pecado, aos que já não dão
luz porque a chama divina nas suas almas se apagou? Vinde a mim todos os
que estais fatigados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei 5. “Ele tem piedade da
grande miséria a que o pecado os conduziu; leva-os ao arrependimento sem
julgá-los com severidade. É o pai do filho pródigo que abraça o filho
arrependido pela sua falta. Perdoa a mulher adúltera prestes a ser lapidada;
recebe Madalena arrependida e descobre o mistério de amor que trazia
escondido debaixo da sua vida de pecado; fala da vida eterna à Samaritana
apesar da sua má conduta; promete o céu ao bom ladrão. Verdadeiramente,
nEle se realizam as palavras de Isaías: Não quebrará a cana rachada nem
apagará a mecha que ainda fumega”6.
Nunca ninguém nos amou nem nos amará como Cristo. Ninguém nos
compreenderá melhor. Quando os fiéis de Corinto andavam divididos dizendo
uns: “Eu sou de Paulo”, e outros: “Eu sou de Apolo, eu de Cefas, eu de Cristo”,
São Paulo escreveu-lhes: Porventura foi Paulo crucificado por vós?7 É o
argumento supremo.
Não podemos desesperar nunca. Deus quer que sejamos santos, e põe o
seu poder e a sua providência a serviço da sua misericórdia. Por isso, não
devemos deixar passar o tempo olhando para a nossa miséria, perdendo Deus
de vista, deixando que os nossos defeitos nos descoroçoem e sentindo
constantemente a tentação de exclamar: “Para que continuar lutando, se
pequei tantas vezes, se fui tão desleal com o Senhor?” Não, nós devemos
confiar no amor e no poder do nosso Pai-Deus, e no do seu Filho, enviado ao
mundo para nos redimir e fortalecer8.
Que grande bem para a nossa alma se nos sentirmos hoje, diante do
Senhor, como uma cana rachada que necessita de muitos cuidados, ou como o
pavio de uma débil chama que precisa do azeite do amor divino para brilhar
como o Senhor quer! Não percamos nunca a esperança se nos vemos fracos,
com defeitos, com misérias. O Senhor não nos abandona; basta que ponhamos
em prática os meios convenientes e que não rejeitemos a mão que Ele nos
estende.
Por um lado, devemos ter presente que “servir os outros, por Cristo, exige
que sejamos muito humanos [...]. Temos que compreender a todos, temos que
conviver com todos, temos que desculpar a todos, temos que perdoar a
todos”11. Por outro, “não diremos que o injusto é justo, que a ofensa a Deus
não é ofensa a Deus, que o mau é bom. No entanto, perante o mal, não
responderemos com outro mal, mas com a doutrina clara e com a ação boa:
afogando o mal em abundância de bem (cfr. Rom XII, 21). Assim Cristo reinará
na nossa alma e nas almas dos que nos rodeiam”12.
Diz um autor dos nossos dias13 que não é suficiente apreciar os homens
brilhantes por serem brilhantes, os bons por serem bons. Devemos apreciar
todos os homens por serem homens, todos os homens, o fraco, o ignorante, o
que não tem educação, o mais obscuro. E só poderemos chegar a esse ponto
se a nossa concepção do que é o homem o fizer objecto de estima. O cristão
sabe que todos os homens são imagem de Deus, que têm um espírito imortal e
que Cristo morreu por eles.
(1) Cfr. Mc 3, 7; (2) Mt 12, 15-16; (3) Is 42, 1-4; (4) Mt 11, 5; (5) Mt 11, 28; (6) R.
Garrigou-Lagrange, El Salvador, Rialp, Madrid, 1965, pág. 322; (7) 1 Cor 1, 13; (8) cfr. B.
Perquin, Abba, Padre, Herder, Barcelona, 1968, pág. 89; (9) Mt 12, 21; (10) São Jerónimo, em
Catena Aurea, vol. II, pág. 166; (11) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 182; (12)
ib.; (13) cfr. J. Sheed, Sociedad y sensatez, Herder, Barcelona, 1963, págs. 37-38; (14) cfr. Mt
25, 40; (15) cfr. João Paulo II, Enc. Dives in misericordia, 30-XI-1980, 9.