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CONTEXTUALIZAÇÃO SEM COMPROMISSO

Por Tullian Tchividjian

Nos dias 26 e 27 de abril de 2010, eu tive o privilégio de me juntar a homens que eu admiro e
respeito, na conferência Avanço da Igreja, em Durham, Carolina do Norte. Minha tarefa foi falar
sobre “contextualização sem compromisso”. Eu trato dessa questão mais longamente em meu
livro “Antiquado: Fazendo diferença no mundo por ser diferente”. Os organizadores da
conferência pediram-me para compartilhar alguns dos meus pensamentos sobre
contextualização. Então, feliz ou infelizmente, aqui estão eles (retirados diretamente do capítulo 8
de Antiquado).
O princípio por trás da exortação de Paulo em 1 Coríntios 9.22, “fiz-me tudo para com
todos”, é o que os pensadores cristãos chamam de “contextualização”. Contextualização é a
idéia de que nós precisamos estar traduzindo a verdade do Evangelho em uma linguagem
compreendida por nossa cultura. Missionários transculturais e tradutores da Bíblia têm feito isso por
séculos. Eles pegam a verdade imutável do Evangelho e a colocam em uma linguagem que se
encaixa no contexto que eles estão tentando alcançar. Contextualização simplesmente significa
traduzir o Evangelho – tanto em palavras quanto em obras – em termos compreensíveis e
apropriados à audiência. É a tradução do Evangelho que é sensível ao contexto.
Genna, minha filha de oito anos, ama ir à Escola Dominical por diversos motivos. Ela ama ver
seus amigos e cantar suas músicas favoritas. Mas ela também ama aprender de seu professor que
é capaz e criativo. Ele trabalha duro para usar linguagem, conceitos e ilustrações que ela e as
outras crianças na classe entenderão, ao mesmo tempo em que ensina fielmente a Bíblia. E como
resultado, Genna aprende. Ela anda domingo após domingo animada com o que aprendeu. Isso
emociona Kim e eu. Nós dois somos gratos pelo fato do professor de Genna compreender a
necessidade de contextualização.
De forma similar, toda tradução bíblica para o português é um esforço para contextualizar
as Escrituras (originalmente escritas em hebraico e grego por povos antigos) para uma audiência
de fala portuguesa nos dias de hoje.
Contextualização também envolve construir relacionamentos com pessoas que não crêem.
Nós não esperamos que elas venham até nós; nós vamos até elas. Nós as conhecemos onde elas
estão. Nós entramos no mundo delas procurando nos identificar com suas lutas, gostos, desgostos,
idéias. Chuck Colson fala disso como entrar nas “histórias” das pessoas:
Nós precisamos entrar nas histórias da cultura que nos cerca, o que envolve dar ouvidos. Nos
ligamos com a literatura, a música, o teatro, as artes e com as questões que expressam as
esperanças, sonhos e medos existentes na cultura. Isso constrói uma ponte pela qual podemos
mostrar como o Evangelho pode entrar e transformar aquelas histórias.
Edith Schaeffer, esposa do antigo Francis Schaeffer, escreveu sobre uma visita que os dois
fizeram a São Francisco em 1968. Uma noite eles foram à Fillmore West para sair com os drogados
e hippies, e assistir a um espetáculo de luz. Ela registra quão partido estava o coração deles
enquanto eles testemunhavam “a perdição da humanidade na busca por paz onde não há paz”.
Ela concluiu: “Um tempo para ouvir é preciso – ouvir o que a próxima geração está dizendo, ouvir
as palavras da música que eles estão ouvindo, ouvir o significado por trás das palavras. Se a
verdadeira comunicação deve continuar, há uma linguagem a ser aprendida”.
A contextualização começa com um coração partido em favor dos perdidos e um desejo
dirigido a ajudá-los a compreender a verdade libertadora de Deus. Somente através de um
verdadeiro ouvir e aprender nós podemos esperar comunicar persuasivamente a Palavra imutável
de Deus para nosso mundo em constante mudança.
Infelizmente, alguns cristãos bem intencionados concluem o contrário. Para esses cristãos,
contextualização significa a mesma coisa que compromisso. Eles crêem que isso significa dar às
pessoas o que elas querem e falar a elas o que elas querem ouvir. O que eles não entendem,
porém, é que contextualização significa dar às pessoas as respostas de Deus (que elas podem

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não querer) para as questões que elas estão realmente perguntando, em formas que elas podem
entender.
Essa má compreensão da contextualização tem levado essas pessoas a argumentarem que
reflexão cultural e contextualização são, na melhor das hipóteses, distrações, e na pior,
pecaminosas. Eles nos admoestam a abandonar essas coisas e focar simplesmente na Bíblia.
Apesar disso soar virtuoso, acaba sendo tolo por duas razões. Primeira, como já vimos, a própria
Bíblia nos exorta a entender nossos tempos de modo que possamos alcançar nosso mundo
mutável com a verdade eterna de Deus. Não contextualizar, portanto, é um pecado. E segunda,
todos nós vivemos inescapavelmente em um quadro cultural particular, que molda a forma como
nós pensamos sobre tudo. Então, se não trabalharmos duro para entendermos nosso contexto,
não iremos apenas falhar em nossa tarefa de comunicar eficazmente o Evangelho, mas também
acharemos impossível evitar sermos negativamente moldados por um mundo que não
entendemos.
Em uma entrevista recente, o pastor Tim Keller disse isso da seguinte forma: “contextualizar
demais a uma nova geração significa que você pode fazer um ídolo da cultura deles, mas
contextualizar de menos a uma nova geração significa que você pode fazer um ídolo da sua
própria cultura. Então, não há como evitar isso”.
Quer traduzindo a Bíblia ou desenvolvendo relacionamentos com não cristãos, nós devemos
ter uma mente missionária em tudo o que fazemos. Isso dá trabalho – o duro esforço de manter a
grande fotografia e comunicar compreensivelmente e convincentemente àqueles que não
compartilham nossas convicções e cosmovisão. Portanto, todo dia e em toda circunstância,
precisamos estar conscientemente e rigorosamente traduzindo nossa fé na linguagem da cultura
que estamos tentando alcançar.
Este é o desafio: se você não contextualizar o suficiente, a vida de ninguém será
transformada porque eles não te entenderão. Mas se você contextualizar demais, a vida de
ninguém será transformada porque você não estará desafiando seus pressupostos mais profundos
e chamando-os à mudança.
Ser “tudo para com todos”, portanto, não significa se encaixar nos padrões caídos deste
mundo de modo que não há mais diferença distinguível entre cristãos e não cristãos. Apesar de
vivermos “no mundo”, nós precisamos evitar o extremo da acomodação: ser “do mundo”. Isso
acontece quando cristãos, em sua tentativa de fazer um contato apropriado com o mundo,
saem do seu caminho para adotar estilos, normas e estratégias mundanas.
Quando cristãos tentam eliminar as características contra-culturais e antiquadas da
mensagem bíblica porque aquelas características são impopulares na cultura mais ampla – por
exemplo, quando nós reduzimos o pecado a uma falta de auto-estima, negamos a exclusividade
de Cristo ou ignoramos a realidade da verdade absoluta e cognoscível – nós nos movemos da
contextualização para o compromisso. Quando nos acomodamos à nossa cultura abandonando
temas chaves do Evangelho, tais como sofrimento, humildade, perseguição, serviço e auto-
sacrifício, nós, na verdade, fazemos nosso mundo mais mal do que bom. Por causa do amor, o
compromisso deve ser evitado a todo custo.
Como a Bíblia ensina, o Senhorio de Cristo tem um sentido de totalidade: a verdade de
Cristo cobre todas as coisas, não apenas coisas “espirituais” ou “religiosas”. Mas ele também tem
um sentido de tensão. Como Senhor, Jesus não apenas nos chama para Si mesmo, Ele também
nos chama para romper com tudo o que entra em conflito com Seu Senhorio.
Contextualização sem compromisso é o objetivo!

Por Tullian Tchividjian © The Gospel Coalition. Website: thegospelcoalition.org


Original: Contextualization Without Compromise Website: thegospelcoalition.org/blogs/tullian
Tradução: voltemosaoevangelho.com
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