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NOS E OS OUTROS: GO ORS COR ON |PORTUGAL E NA EUROPA SP eC CU SRG Ue TERN UO RCL COI e OeSICOnS Stc | [Coordenadores] Racismo ou Etnocentrismo? Joao Pina Cabral’ Quando pondero a questdo do racismo sou confrontado com o velho dilema 40 observader participante ~ afinal, o dilema de que hi tanto tempo nos falava Weber: ser cidadio ou ser cientista? ‘Como eidadio, nfo tenho qualquer divida em endossar a uta contra o racis- ‘mo; em argumentar que cinco séculos de tacanhez e violéncia foram jé mais do que suficientes; que hi que tomar medidas sérias contra 0 que parece ser em Portugal, hoje, uma tendéncia para o ineremento da discriminagao racial. Como podemos nds desperdicar, por mero descuido € medo de perder um ou dois privilégios, aZinal pouco segures, todo esse potencial de amor, de eriatividade © ‘enriquecimen'o econémico, cultural e humane? Depois, tro © casaco do cidadio, visto o casaco do antropélogo social © hesito: € féci! dizer racismo, parece que percebemos tudo, mas sera que a pala- via € s6 mals um estereétipo, acabando por constituir um empecilho ao conhe- ccimento, mais do que um avango? ‘Vejamos como define a antropologia o termo. Para jé a palavra “racismo' propriamente dita data da Segunda Guerra Mundial, quando se constitui na Ale- rmanha Nazi uma associagio entre um discurso supostamente cientifico de antro- pologiafisica sobre “raga” e formas politicas explicitas de exterminacio de grupos particulares considerados perigosos porque marginais (Solomos e Back 1996: 4) A proptia corstituigao do conceito de “raga” na sua acepeio moderna é algo que ‘86 foi surgindo lentamente através do século XIX, acompanhando 0 desenvolvi- mento do projecio colonialista europeu, Por exemplo, se acompanharmos a evolugio das atitudes para com a dile- renga racial na Africa do Sul brtéica, podemos ver que hi uma fenta evolusio a pani de-um relativo igualtarismo iluminista na viragem do séeulo XVII, ne to ange da foxmlago rasta com o Apartheid nos anos quarenta do nosso século (Noil Moster! 1992). $6 nos meados do século XIX, durante as gucrras com os Xhosa, ¢ no fmbito de um conflito de expropriagao territorial entre colonos © ratios, & que se comega a consolidar todo 0 complexo de preconecitosrécios fue hoje chamamos racisme, ‘Als, um dos aspectos centr do racismo modern tal como ele €formu- lado nos séculos XIX © XX ¢ a sua elagio com a exploragio de mo-de-obra baraia. Na verdade, nstes contexts colonins epés-colniais ~ por outas pala- ‘as. tanto “la” durante a ocupagio colonial, coma “sa no recurso a mao-de-obra turataemigrante ou, nas Americas, escrava ~ 0 acismo involve um duploimpto Por am ado, o fomento de prosimidade espacial e cultural, em as quas a explo- dh mio-de-ohra ni & vive. Por outo lado, o fomento do distanciamento idonitério, por forma a impedir a integragto socal que daria lugar 9 uma pea do cue € visto como um privikgio. Quando © onde foi abertamente teorizade, 0 racismo envolveu sempre necssariamente um dscursoidentitério marcado plo tnedo, jé que a necesiriaproximidade ameaga o desejével dstanciamentoe poe tm zausa a idenidade do grupo dominante sobre a qual assenta 0 acesso 0s benefcios resultantes da exploragio da mo-de-obra barat, Ruth Benedict, una das primeira figuras da antropologia a debater 0 termo, define racism como “um dogma segundo o qual um grupo étnico & condenado por natureza uma inferiordade congenital e wm out grupo ¢ destnado a una Supetiridade congenital,” (in Solomos ¢ Back 1996: 4) Note-se como 0 peso da definigfo 6 ansfrido de uma categoria como “raga” ~ que, em principio, aplicaacaracteritcas fsices ~ para una categoria como “inicidade”, que cobre caracteraticas de natueza socio-cultural. Por outras palvras, tal como todos os antopélogos soca ecultras, Benedict rejita a possiildade de identiica;to de formas de ineroridade humana baseadas em destino fixos de natureza fica © hrediéria ‘A partir dos meados do nosso século, a evoluglo da definigo do termo vai indo sempre nesta direcs0, st é abandonandoformlages de natureza fisca © fixando-se em formulagbes de natureza cultraista, Os autores vio alrgando a ullizagao do conesito,apicando-o a contexos sitwagdes mais © mais diversas Mais recentomente, a maioria dos autores de lingua ingles, acaba até por absicar de definir “raga e “racismo” enquanto conesites socio-ientificos, wilizandc-os ‘ouossim como “forma(s) de idestidade socal eolctva em crcunstncias sciis « histricaspartieulares” (Solomas ¢ Back 1996: xiv). Por outaspalavrs, opam por recorter'adafnigdes émicns contatalivadas da expresso 20 (Ora aqui surge a primeira das minhas insatisfagdes com 0 conceito de a. cismo, Por muito que consideremos que o termo teve grande divulgagio nos mins cientffico ¢ politico do salazarismo do pés-guerra (vide, por exemplo, a vvasta obra de Santos Jinior), a verdade € que, no universo lus6fono, as formas de diseriminagdo social baseadas em diferenciagio fenotipica nfo sio da mesma natureza que no mundo angl6fono. Nao nego a Charles Boxer a evidéncia ire eusével de gue havin discriminagio, preconceito e violencia étnicas no impétio colonial portagués, como certos nacionalistas apressados agora voltam a tentar negar. Simplesmente, no podemos também recusar a evidéncia de que as for- mas de defini barreirasinteréinicas baseadas na cor da pele nfo eram realizadas dda mesma forma no império colonial britinico © no império colonial portugues Boxer 1988 [1963)). (© exemplo de Macau e Hong Kong é nisto muito elucidativo. Apesar de serem cidades irmis, até aos anos 60 do nosso século, o tratamento que era dado 0s euronsilicos em cada uma divergia radicalmente. Algo que parece ter carac~ lerizado as telagdes sexuais interéinicas em quase todos os contextos coloniais portugueses £ a facilidade relativa com que os portugueses perfilhavam os frutos de relagdes suas com mulheres de outras sociedades ~ mesmo quando essas rela- 8s etam temporétias ou nio eram tratadas com a dignidade do casamento ~ ou aceitavam pessoas que, por via da sua socializagio, se integravam na forma de viver da comunidade. proprio David Livingstone, cujo desprezo pelos portugueses é permanen- temente reiterado em tudo 0 que esereve, quando se familiariza com a sociedade portuguesa cm Angola nos meados do século passado, vé-se obrigado a comentar ‘i was particularly gratifying to me, who had been familiar with the stupid prejudice against colour, enterzained only by those who are themselves becoming tawny, to view the liberality with which people of colour were treated by the Portuguese, Instances, so common in the south, in which halfcast children are abandoned, are here extremely rare. They are acknowledged at table, and provi- ded for by their fathers, as if European,” (1982 [1857]: 371) © tom preeonceituoso que emana destes comentérios ~ sem divida inde- sejado pelo autor ~ é evidéncia patente do conflito em que se encontravam os ‘colanialistas briténicas da época que, por razies de ordem religiosa, se viam obrigados a negar as teses mais racistas, apesar de estarem imersos num mundo cultural ¢ institucional profundamente estruturado por esas mesmas fess. ‘Ao insistr sobre a diferenca entre os contextos coloniais anglo-sax6nicos © Ius6fonos, bem entendido, no nego a existéncia de formas mais sublis de disc ‘minaglo contra estas pessoas. Basta ler a correspondéncia de Camilo Pessanha ~ aque deixou descendentes seus de mle chinesa em Macau ~ para vermos que 08 preconceitos ndo s6 existinu com ctam fortes. Contudo, importante comprcen: 21 dee que a discriminagéo funcionaya dentzo de um sistema que tendia a integrar 'margnalmente estas pessoas ¢ no a expulsé-las para as margens Pelo contrario, esta dltima opgio era caracteristica dos meios anglo-saxs- nicos, Como dizia um velho macaense: “A um mestico de portugués, chamava-se portugués. A um mestico de inglés, chamava-se half-cast.” Os ingleses de Hong Kong do estavam prontos a aceitar como seus filhos sociais de pleno estatuto, as seus filhos biol6gicos de mie chinesa. Assim, em Hong Kong ¢ Macau até aos ‘anos 70, era prética corrente distinguir entre Kuropeans, Kurasians e Portuguese — estes limos eram praticamente todos oriundos de Macau e, portanto, resultado de vérios séculos de mestigagem. Por exemplo, Peter Hall, um distinto geneal>- gista euro-asiético escreve que, em Hong Kong em 1907, "The population figure included some 9,000 sailors and soldiers and about 10,000 non-Chinese (Eur peans, Portuguese, Indians, Malays, Eurasians and Africans)” (1992: 10). Em Macau abundam os exemplos de pessoas que, ligadas por lagos de san- gue, ie apresentam, no entanto, com identidades étnicas totalmente distntas. Por exemplo, & conhecido 0 caso de um chinés que, tendo passado por Lisboa, levou consigo um filho de uma mulher portuguesa para Macau. ss filho cresceu como ortugués, optando por um patronimico que transcreve 0 apelido informal pelo 4qual o seu pai era conhecido, Os sous numerosos netos formam agora uma famf- lia macaense portuguesa bem conhecida na cidade. Por outro lado, 0 filho que 0 ‘mesnio avd teve mais tarde por uma mulher chines®, € hoje uma das figuras mis distirtas da comunidade chinesa do territ6rio, Outro exemplo conhecidssimo no Macau dos anos 50, por se tratar de uma. das personalidades mais poderosas do teritrio, era um filho de chineses de i- ‘mor que, tendo sido adoptado por um médico goense, cresceu como portugués, tendo muita honra nesse facto. Os seus filhos de uma mulher euroasiética lus6- fona derar a2o a uma familia portuguesa, Um outro filho, porém, de uma relagio ‘com uma mulher chinesa de ascendéncia semelhante a sua, ctesceu como chins «assim 6 reconhecido hoje em Macau. ‘Urge, porém, voltar a insisir que, al como antes, existem nos nossos dias ‘em Macau, aitudes de discriminagio e preconceito baseadas em diferengas da cor dda pele, Nao posso deixar de citar os exemplos de pessoas por mim entrevistadas ‘que possufam sinais fenotipicos patentes de influéncia genética chinesa, que ne mostavam gencalogias em que todos os nomes eram portugueses e que insistiam «que rio havia casamentos com chineses na sua familia falando depreciativamerte de outras famtlias em que tais casamentos teriam ocorrido. Em Macau, tal como frequentemente ocorria em contextos coloniais africanos, a car da pele tornava-se ‘menos marcante como barteita diseriminatéria consoante as pessoas iam subinio tna excala socio-econémica. Até aos anos 70, funcionava em pleno o sistema Je “estratificago auto-destrutiva” de que Erving Goffman nos fala para caracterizar 2 as pessoas estigmatizadas que tentam reduzir 0 peso do seu proprio estigma acu- sando outros de possuirem o mesmo estigma mas com mais intensidade (vide Pina Cabral ¢ Lourengo 1993), Se voltarmos 2 tendenciosa frase de Livingstone acima citada, encontraremos essa mesma ideia expressa na acusagio de que os mais racistas sio ot que “eles préprios se estio a tornar mais escuros”, [Nos con‘extos colonais anglo-americanos, a fronteira racial entre os “bran- fe “outros” & demarcada com singular clareza. Veja-se como exemplo a ccaracterizagio que Solomos ¢ Back fazem do que eles chamam “o periodo con- temporineo” por relagio ao racismo, Dizem que, por um lado, ha “um espectro complexo de racismos” e, por outro lado, “uma fragmentagao da definigio de blackness (negritade?) enquanto identidade politica a favor do ressurgimento de etnicismo e diferenciagio cultural” (1996: 25). 14 anteriormente tinham vindo a referirse & necessidade de desconstruir o eonceito de whiteness! (1996: 22) en- ‘quanto ponto de referéncia inescapswvel, mas nio assumido, da cultura de massas norte-americana. Nao potho em questio a relevincia desta dltima tarefa ~ particularmente tendo em conéa a influéncia que, nos dias que correm, o cinema americano tem ras populagdes urbanas de todo o mundo. O que é importante perceber é que esta cconstrugdo de racismo em termos binémicos white/black é, ela prépria, cultural- mente especifica e nio assume os mesmos aspectos em todas 0s contextos pés- -coloniais, nomeadamente nos ibéricos, ‘Acontece que 0 protétipe que subjaz a quase todas as discusses sobre racismo & essa mesma polatizagio entre “brancos” e “pretos” como categor itreconcilidveis que, na Africa do Sul e na América do Norte foi levada a extre- ‘mos quase parandicos. Ora uma das dificuldades que eu encontro na utlizagio da palavra “racismo” para se aplicar a contextos portugueses ¢ que ela transporta ‘consigo toda essa carga teferencial essencialmente anglo-saxsnica, dificultando @ compreensio dos fendmenos de preconceito e discriminagio tais como eles ocor- rem em contextos luséfonos. © particular problema que vejo € que essa pritica cchega por vezes a favorecer os que, por puro obscurantismo hegemoniste, negam ‘a existéncia dos fenémenos de discriminacio, preconceito ¢ violéncia que eram tio caracteristicos dos contextos coloniais portugueses © que, nos dias que pas- sam, comegam a ser mais e mais evidentes entre nds em Portugal. ‘Onde comega 0 “racismo” e acaba o etnocentrismo? A pergunta assume particular significado, quando comegamos a constatar, como fazem os psicélogos sociais que tém estudado 0 fendmeno a nivel curopeu, que hit uma mudanga "a6 pip diicoldade em eaduir em potas estes eros, tho comns em nls, mostra aque estamos ponte cltorae qu, nese spec, sani fume dominants dine 2B sgeneralizada das atitudes, abandonando formas de discriminagdo e preconcsito baseadas na cor da pele e assumindo um carécter mais parecido com o “racismo cultural” de que falava Franz Fanon. Os psicélogos descobrem agora um “racismo aversivo” ou um “preconceito subti” (vide Pettigrew, s.4. © Vala et al, s.d) ~ formas de discriminago e preconceito que se afirmam pela positiva, assumindo tum maior apego aos valores identiirios préprios, sem ahertamente exprimizem desprez0 ou édio pelos membros do exogrupo. Nestas novas formas de preconceito que, como insiste correctamente Petti- zrew, no podem ser unicamente vistas como fenémenos de natureza concep:ual pois assumem fortes tonalidades emocionais, os factores de classificaglo vao-se misurando: entram diferengas de cultura, de classe socio-econémica, de carac- teristicas fenotipicas, de grupo de status, de nivel educacional, de idemtidade nacional, de religido e tantos outros. Porqu® continuar presos & palavra “racis mo"? A expresso pe uma énfase excessiva sobre a diferenciacio fenotipica como principio classificative dominante ~ ora isto & indubitavelmente verdade fem contextos radicados na tradigao anglo-americana, mas nfo é em tantos ‘utios contextos a nivel mundial, onde © preconceito e a discriminago também grassam, como 0s lus6fonos. Hi ainda uma razio, que poders parecer paradoxal, que nos leva a preterit ‘expresses mais abrangentes do género de “etnocentrismo” ou “diseriminagdo © preconceito éinico”. E que a expressio “racismo” sugere que, logo que as pessoas sejam correctamente informadas de que as diferengas de cor da pele nfo so niais| ddo que isso, chegaré um momento em que deixard de haver tal forma de discri- rminagio. Ora hi fortes razBes para assumir a posigfo pessimista de que esse momento poder nunca chegar na histéria da humanidade. (© preconceito é, segundo Pettigrew, “uma emocio social experimenada por relagio & identidade social de si mesmo como membro de um grupo, com tum exogrupo como objecto.” (s..); a discriminagdo, segundo 0 dicionétio, é “fazer uma distingso, dar tratamento injusto, especialmente por causa de pre- conzeito.” Por outras palavras, aa base destes fensmenos est a identificasao e esteredtipos do exogrupo e dos seus membros aos quais € atribuido um ferte con‘etdo emocional baseado numa necessidade de preservar ou reforgar a iden- tidade propria. Os estere6tipos existem porque a cultura esté permeada por hegemonias, formas de dominagdo cultural que tomam certas imagens e formulagSes mais ", mais facilmente acessiveis que outras. A hegemonia é um fenémeno {que tende a deitar 0 véu do siléncio sobre toda uma parte da vida social e culty ral, favorecendo a outra. Os estereétipos sio as formulagbes mais acessiveis qualquer membro de um grupo; sio também as que menos dificuldade ele ou cla terd em transmitir e que mais dificilmente serio questionadas. ey ‘Assim a pessoa frequentemente exprime © assume esteredtipos apesar de possuir dados experiencisis pessoais que, devidamente ponderados, poderiam Tevécla a recusé-los, Tratt-se de um fendmeno de preguiga mental, de “entorpe- cimento das faculdades intelectuais” a que qualquer ser humano esté sujeito, ou ‘momentaneartente ou por disposiglo permanente. O etnocentrismo baseia-se num feixe de esterestipos. Nesse sentido ele & inevitivel. Pode ser evitado ou reduzido, ‘mas nunca poder ser terminada enquanto houver diferenciaeio entre srupos sociais. Todos colapsamos regular ¢ imperceptivelmente as tentagOes da preguiga intelectual, de estupidez momentinea, $6 2 educagdo, as insttuigbes democriticas 0 contacto regular com membros de outros grupos € que poderso evitar que 0 fagamos com regularidade e permanéncia. curioso verficar que os resultados a que chegaram os sociopsicélogos que tém estdado estes fenémenos quantitativamente sugerem que as pessoas {que demonstiam menor tendéneia para 0 preconceito sfo os que (a) tém mais, clevado nivel educacional, (b) maior interesse pela politica e (c) maior contacto ‘com membres de outros grupos, nomeadamente através de amizades pessoais| (Pettigrew, sa) Em conclusio, e voltando a vestir 0 casaco do cidadio, dr-se-ia que urge tentar evitar 9 trauma que se vive hoje nos pafses mais desenvotvidos da Europa © que resullaré inevitavelmente do livre crescimento dos sentimentos precon- ceituosos ¢ préticas diseriminatsras. E de esperar que, a curto prazo, no diminua fo estimulo fara as reaegées que tém vindo a ser manifestadas entre nés nos “ltimos anos Tudo leva a erer que o largo contingente de imigrantes vindos das cex-colfnins africanas veré a sua subsisténcin ameagada quando terminar 0 presen- te surto de crescimento imobiligsio, com resultados para jé imprevisiveis. Por outro lado, adiscriminagio contra as populagdes nfo-sedentiias, ¢ em particular ‘6s ciganos, roders também aumentar devido & alleragdo que ocorreu nos campos €e que forgou estas populagées a procurar niches econémicos urbanos. HA pasios que podem ser tomados no sentido de evitar 0 pior. Na rea das representagdes sociais parecem surgir rs caminhos possfves: (1) a educagio — tanto nas escolas como através dos mass media; (2) a manifestagio explicita de atitudes polticas liberais por parte das figuras politicas mais destacadas, assim ‘como a integragio nas camadas cimeiras da vida politica portuguesa de figuras visivelmente oriundas de grupos minoritérios; (3) a fomentagio de contextos de interconhecimento pessoal e de participagio directa, entre outras coisas a luta activa contre as formas de ghettoizagio que comegam a manifestarse na Grande Lisboa Como vatios intervenientes chamaram 2 atengao durante esta conferéncia, este processo de intervengio cultural nfo poder ter o seu foco principal na es- cola, que €, por excel2ncia, un instituigio conservadora. Se quisermoe retirar as as condigdes ideol6gicas para a proliferagio destas attudes etnocéntricas, uma das tarefs que mais urge realizar é a educago das novas geragées de jornalisias consciencializando-os para a responsabilidade colectiva que sobre eles pess. ‘Um dos factores de maior monta na constituigdo e sustentagdo de atitudes ‘etnoctntricas & a infraestrutura institucional. Assim, no caso da sociedade por- tuguesa actual, parece-nos urgente enderecar directa e praticamente as situagdes de discriminagio legal que sustentam as formas de dominagio sobre as quais se ‘constroom ambas as formas de etnocentrismo a que acima nos referimos: «m primeiro lugar, as leis sobre imigragio, nacionalizagao e trabalho que sustentem sz exploragao da milo-de-obra imigrante e, em segundo lugar, o pendor sedentarista de toia a legislago nacional que forea populagoes com tradigbes ndo-sedentérias ‘a encontrazem nichos de sobrevivéncia aperoebidos como ameagadores para o bbem-rstar das populagbes que se concebem a si mesmas como maiortéras. REFERENCIAS Roxes, C. R. 1988 [1963]. Relagdes Raciais na Império Colonial Portugués, 1415-1835. Porto, Afronsamento HALL, Peter, 1992, Inthe web, Wirral, England: author's edition Livinstowe, David. 1982 [1857]. Missionary Travels and Researches in South Afven. London: Murray (Time-Life Books repin) Mostar, Noel. 1992. 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Outubro 1997, Lisboa, 26 0 ano de 1997 foi consagrado. com An Europeu Contra 0: Racigmo, Mas nao se tratou de simples declaragio de intengies € preocupagoes, 4 realidade social Gquer da Europa, quer do nosso ‘proprio pals evidensiow uma con lidade étnica que den consis: das prs de intervencao, um termo-chave: fzanhow foros de cidadanta: o cone julluralidade, ‘Numa perspective antropold: ice, € de forma plistica © englo- Dante, pretense contemplar nesta ‘obra contextos séclo-culturals que ‘no os especificamente ricieos, di ‘versos mas irmanados todos pelos obstéeutos ao reconhecimento do folro na sua diferenea neste Ambit que as jornadas ‘agora apresentadas em livro se insereveram, promovendo ti apr fundamento do dislogo e reflexio estas questies,

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