You are on page 1of 153

“TEORIA DO CRIME”

1. Qual é o conceito de Crime formal e Material?


O crime formal é a consumação da simples possibilidade de dano, de perigo, de risco: é a ameaça ou
intimidação feita, de conhecimento do sujeito passivo, independente da realização do resultado pretendido
pelo agente.
O crime material é o efetivo dano material ao bem protegido, necessitando do resultado material: da
lesão ao bem jurídico tutelado.

2. Quais os elementos do crime no conceito formal?


. São os sujeitos ativos (aquele que pratica o fato típico e antijurídico) e passivos (aquele que sofre
as conseqüências da pratica do crime, o titular do bem jurídico). O sujeito passivo formal é sempre o
Estado; o sujeito passivo particular ou eventual é uma pessoa física ou jurídica, o Estado e a coletividade.
. É a capacidade penal (conjunto de condições necessárias que leva um sujeito a ser titular de direitos
e obrigações no campo penal);
. É o objeto jurídico do crime (o bem ou interesse protegido pela norma penal);
. É o objeto material do crime (o bem jurídico no qual recai a conduta criminosa);
. É o elemento temporal (o momento da ocorrência ou consumação do crime, ou da tentativa, ou do
momento do ônus da prova do crime);
. É o elemento espacial (que determina o local da ocorrência do crime ou da tentativa); e
. É a punibilidade (conseqüência jurídica do crime, a violação da norma penal, dando ao Estado o
direito de punir o agente da infração).

3. O que é Fato Típico e quais seus elementos?


Fato Típico é o comportamento humano, positivo ou negativo, que provoca um resultado que está
previsto pela lei penal como uma infração, enquadrando-se perfeitamente nos elementos contidos numa
norma penal incriminadora, são eles: A conduta humana dolosa ou culposa; o resultado (com exceção dos
crimes de mera conduta); o nexo de causalidade entre a conduta e o resultado (que inexiste nos crimes de
forma vinculada, formais e de simples atividade); a tipicidade.

4. Qual é o conceito de Teoria do tipo e quais suas características?


A Teoria do Tipo é o “conjunto dos elementos descritivos do crime” que estão contidos na lei penal,
que cria o mandamento proibitivo, limitando o injusto, marcando o inicio e o término da conduta,
ajustando a culpabilidade ao crime considerado, é o tipo legal que garante o princípio da reserva legal:
“não há crime sem lei anterior que o defina”. Isso dá consciência ao agente de estar cometendo um delito,
quando sua conduta é idêntica ao modelo legal, é uma adequação típica que se apresenta sob as formas de:
subordinação imediata (quando o fato se enquadra imediatamente na norma penal, sem necessidade de
outra disposição); subordinação mediata (quando o fato não se enquadra imediatamente, necessitando do
concurso de outras disposições). Portanto, obrigatoriamente a lei penal restringir-se a uma definição
meramente objetiva, precisa e pormenorizada para que fiquem bem delineados o direito de punir abstrato
e o “jus libertatis” a ele concernente. E em função disso foram estabelecidos elementos que podem ser
classificados em objetivos, subjetivos e normativos.

5. Qual é a classificação dos elementos do tipo?


Objetivo (materialidade da infração penal, a forma de execução, tempo lugar e outros); Subjetivo (o
estado anímico do sujeito, ao fim especial da conduta ou o estado de consciência do agente do tipo penal);
e Normativo (os componentes da figura típica que exigem, para sua ocorrência, um juízo de valor).

6. Qual é o conceito de conduta e quais as três teorias que se destacam na doutrina?


A conduta é o comportamento humano, uma ação ou omissão, que é consciente e voltada para uma
finalidade. A causa é a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. Não há diferenças entre
causa x condição, causa x concausa, pois tudo concorre para o resultado, tenha ou não agido isoladamente.
A teoria Naturalística (ou Causalista, ou Clássica) afirma que um comportamento humano
voluntário de fazer ou não fazer não possui qualquer conteúdo valorativo.
A teoria Social ou Normativa afirma que a ação nada mais é que a realização de uma conduta
socialmente relevante, onde a vontade estaria situada na culpabilidade.
A teoria Finalista afirma que toda conduta é voluntária e dirigida para determinado fim, portanto
todo comportamento humano é finalista.
7. Quais as formas de conduta?
A conduta apresenta duas formas: Ação (é a atuação humana positiva voltada a uma finalidade);
Omissão (é a ausência de comportamento, a inatividade, sendo penalmente relevante quando o omitente
poderia e deveria agir para evitar um resultado), portanto compete àquele que tenha por lei a obrigação de
cuidado, proteção ou vigilância como dever dos pais de cuidar dos filhos; àquele que, de outra forma,
assumiu a responsabilidade de impedir o resultado, como o motorista de ônibus; àquele que, com seu
comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado, como o instrutor de pára-quedismo em
relação aos alunos.

8. Qual o conceito dos crimes omissivos próprios e impróprios? Exemplifique.


Os crimes omissivos próprios são aqueles que ocorrem com a mera conduta negativa do agente,
independentemente de qualquer outra conseqüência, consistente em omissão. Ex: Deixar o médico de
denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória; omissão de socorro = deixar de
prestar assistência.
Os crimes Omissivos Impróprios são aqueles em que a omissão se caracteriza pela inobservância de
um dever jurídico de evitar o resultado, praticando-se o crime (comissivo) pela abstenção. Ex: homicídio –
mãe que deixa de alimentar o filho em tenra idade para matá-lo por inanição.

9. Explique o nexo de causalidade e cite as quatro teorias principais:


O nexo de causalidade (ou relação de causalidade) é o elo que existe entre a conduta e o resultado. É
a relação de causa e efeito existente entre a ação ou omissão do agente e a modificação produzida no
mundo exterior, que resulta na existência de um fato típico. Necessitando ser verificado o resultado se é ou
não imputável ao agente, ou seja, se foi produzida pelo comportamento do agente, e só depois é que
haverá o juízo da antijuricidade e da culpabilidade.
A teoria da causalidade adequada afirma que a causa é a condição mais adequada a produzir o
evento, baseando-se na previsibilidade do que usualmente ocorre na vida humana;
A teoria da eficiência afirma que a causa é a condição mais eficaz na produção do evento;
A teoria da relevância jurídica afirma que a corrente causal não é a simples ação do agente, mas esta
deve se ajustar às figuras penais, produzindo os resultados previstos em lei.

10. Explique a teoria da equivalência dos antecedentes


A teoria da equivalência dos antecedentes (ou teoria da “conditio sine qua nom”), que foi adotada
pelo nosso sistema penal, afirma que tudo quanto ocorre para o resultado é causa. Portanto, toda a força
concorrente para o evento, no caso concreto apreciada, quer isolada ou conjuntamente, equivalem-se na
causalidade. Esta teoria se situa somente no terreno dos elementos físico ou material do delito,
considerando a presença do dolo e da culpa para evitar o regresso ao primeiro ato do desencadeamento de
toda a conduta.

11. Conceitue a superveniência causal e as causas absolutas e relativamente independentes,


exemplificando-os conforme o Código Penal:
Segundo o Cód Penal, no art. 13, § 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui
a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputa-se a quem os
praticou. É uma outra restrição à teoria da “conditio sine qua non”. Com causas dividindo-se em:
. Concomitantes: absolutamente independentes - quando a nova causa se desvincula da anterior e
por si só determina o resultado, exclui-se a imputação, não podendo ser atribuídas ao agente, pois houve
duas ou mais ações que resultou num mesmo evento. Ex: colapso cardíaco na hora do tiro.
. Superveniente: relativamente independentes - quando a nova causa não se desvinculou do
resultado conseqüente, imputam-se a quem os praticou, é atribuída ao agente ativo: lesão corporal, porque
se o agente passivo não houvesse sido vítima da primeira ação, provavelmente estaria livre da segunda.
Ex: agente passivo vítima de um tiro, sendo transportado em uma ambulância, com vida, para o hospital,
quando, pela segunda vez, é vítima de um acidente de trânsito, vindo a falecer.

12. O que é o resultado e quais as teorias que o explicam? Qual o seu sinônimo?
Segundo a teoria naturalística, resultado é toda modificação do mundo exterior provocada pelo
comportamento humano voluntário, decorrente da classificação dos crimes materiais, formais e de mera
conduta, adotada pelo nosso Cód Penal.
Segundo a teoria jurídica ou normativa, resultado é a lesão ou perigo de lesão de um interesse
protegido pela norma penal.
Resultado é sinônimo de evento, conseqüente de uma conduta humana.

13. Qual a diferença entre crime consumado e crime tentado?


Crime consumado é quando reúne todos os elementos de sua definição legal.
Crime tentado é quando, depois de iniciada a execução, não se consuma por circunstancias alheias à
vontade do agente.

14. Explique a consumação de acordo com o tipo do crime, e dê exemplos do Código Penal - pág: 53
A consumação varia de acordo com o tipo de crime; para crimes materiais, a consumação se dá
quando há a ocorrência de ação e resultado- ex: estelionato; para crimes formais, a consumação se dá
independentemente do resultado naturalístico (que modifica o mundo exterior provocada pelo
comportamento humano voluntário) - Ex: ameaça; para crimes de mera conduta, a consumação se dá com
a simples conduta do agente, não havendo resultado naturalístico- Ex: violação de domicílio; para crimes
culposos, a consumação se dá com a ocorrência do resultado naturalístico- Ex: homicídio culposo; para
crimes permanentes, a consumação se prolonga no tempo, perdurando enquanto não cessar a atividade do
agente- Ex: seqüestro e cárcere privado; para crimes omissivos puros, a consumação se dá com o
comportamento negativo, independentemente do resultado posterior- Ex: omissão de socorro; para crimes
omissivos impróprios, a consumação se dá com a produção do resultado naturalístico- Ex: a mãe que deixa
de alimentar o filho com a intenção de matá-lo; para crimes qualificados pelo resultado, a consumação se
dá no momento da produção do resultado mais grave- Ex: lesão corporal seguido de morte.

15. Conceitue a tentativa e quais as teorias a respeito e adotada pelo Código Penal
Após o início da execução efetiva de uma ação tendente a lesionar um bem jurídico protegido, não
se consuma por circunstancias alheias à vontade do agente.
Segundo a teoria objetiva, existe a tentativa com o início dos atos de execução, adotado pelo nosso
Código Penal.
Segundo a teoria subjetiva, para a tentativa basta a revelação da intenção delituosa, ainda que em
atos preparatórios.

16. Explique o “iter criminis”, quando ocorre a tentativa e suas etapas:


O “iter criminis” é o termo latino que significa: caminho do crime e compõe-se de 4 etapas:
cogitação, atos preparatórios, atos de execução e consumação. E após estas etapas o agente não chega à
consumação.

17. Quais são os elementos da tentativa?


São três elementos da tentativa: a ação, caracterizada pelo início da execução; a interrupção da
execução por circunstancias alheias à vontade do agente, que pode dar-se a qualquer momento antes da
execução; o dolo que é elemento subjetivo do crime e faz parte da vontade de consumar o delito, ou o
elemento objetivo do tipo (fato descrito na lei penal), tanto na tentativa como na consumação.
O dolo integra a conduta, inicialmente todos os tipos são dolosos, e somente será conduta culposa
quando assim a norma indicar.

18. Quais as espécies de tentativa e sua pena?


Existem duas espécies de tentativas: Tentativa perfeita ou crime falho, aquela em que o agente fez
tudo o que lhe era possível fazer para alcançar o resultado. Ex: o agente ministra dose de veneno para ser
ingerido por seu inimigo, mas após ingestão, por qualquer outro motivo, este se salva. Tentativa imperfeita
ou inacabada, aquela que ocorre quando a ação do sujeito ativo não chega a exaurir-se, porque não foi
esgotada sua intenção delituosa. Ex: o agente mistura veneno na bebida do inimigo, porém este não a
ingere. A tentativa é punida com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída em 1 a 2/3.

19. Conceitue desistência voluntária, arrependimento eficaz e posterior, e de os exemplos do Código


Penal.
É cogitado no art. 15, do Cód. Penal as hipóteses em que o agente desiste de prosseguir no iter
criminis ou mesmo tendo percorrido quase por completo, arrepende-se e impede que o fato se consume.
Somente é possível a desistência voluntária na tentativa imperfeita, pois ainda não havendo percorrido
toda a trajetória do delito, e iniciado os atos de execução, o agente pode deter-se voluntariamente. Ex: o
agente ministra o veneno no copo da vítima, arrepende-se e impede-a de ingeri-la. Na tentativa perfeita
ocorre o arrependimento eficaz, quando o agente, após esgotar todos os meios para a prática do crime,
fazendo uso de todos os atos de execução, arrepende-se e evita, com sucesso, a consumação. Ex: o agente
ministra o veneno na bebida, induz a vítima a ingeri-la, após a ingestão, arrepende-se e a socorre, levando-
a a um hospital. No caso de arrependimento, a lei subordina a impunidade da tentativa à sua eficácia, mas
se por qualquer motivo, embora arrependido, o agente não conseguir evitar a consumação do delito, não
ficará isento da penalidade. E a responsabilidade irá perdurar mesmo que outra causa concorra para o
delito. Ex: se a vítima envenenada negar-se a tomar antídoto, estará consumado o delito e o agente
responderá pela consumação.

20. Explique o crime impossível, exemplificando a ineficácia absoluta do meio e a impropriedade do


objeto.
No art. 17, do Cód. Penal está disposto que não se pune a tentativa, quando há ineficácia absoluta do
meio ou por absoluta improbidade do objeto, pois é impossível o crime se consumar e, assim, há exclusão
da tipicidade, pois não há causa de isenção de pena. Ex: da ineficácia absoluta do meio, quando o agente
tentando envenenar seu inimigo, ministra-lhe açúcar ao invés de veneno. Ex: de impropriedade do objeto,
quando uma mulher, julgando-se grávida, pratica manobras abortivas. E nestes casos, uma vez que há
ausência dos elementos objetivos da tentativa, o bem jurídico não corre risco.

21. Conceitue dolo, o crime doloso suas teorias e qual é a adotada no Brasil:
No art. 18, do Cód. Penal se refere ao crime doloso como o agente que deseja concretizar as
características objetivas do tipo, obtendo o resultado ou assumindo o risco de produzi-lo. Dolo é o
elemento subjetivo do tipo.
O dolo se caracteriza pela consciência do agente do ato e do resultado; na consciência de que a ação
praticada pode causar um resultado; e na vontade de praticar o ato para se alcançar o resultado
Há três teorias sobre o dolo: 1. Segundo a teoria da vontade, dolo necessita da vontade de praticar
uma ação e disposto a produzir o resultado, consciente de que o fato é contrário à lei. 2. Segundo a teoria
da representação, dolo é a vontade de praticar a conduta, bastando ser prevista pelo agente a possibilidade
do resultado ocorrer. 3. Segundo a teoria do assentimento (consentimento), basta a previsão ou a
consciência do resultado como certo, provável ou possível, independente da vontade do sujeito em
produzi-lo, para ser considerado dolo.

22. Conceitue as espécies de dolo e sua classificação.


. Dolo natural – é natural quando corresponde à simples vontade de concretizar os elementos
objetivos do tipo, não importando a consciência da ilicitude. Apenas a consciência e a vontade da conduta.
. Dolo normativo – é normativo quando contém a consciência da ilicitude se situando na
culpabilidade consciente do agente (não na conduta).
. Dolo direto (determinado) – quando há a vontade de praticar a conduta e produzir o resultado.
. Dolo indireto (indeterminado) – quando a vontade do agente não se dirige a certo e determinado
resultado. Este tipo de dolo possui 2 formas:
1. Dolo alternativo – quando a vontade do agente se dirige, indiferentemente, a um ou outro
resultado. Ex: o agente que desfere golpes de faca numa vítima com a intenção de ferir ou matar.
2. Dolo eventual – quando o agente assume e aceita o risco de produzir o resultado, porém não
deseja que o resultado se realize, mas percebe a possibilidade de causar o resultado. Este dolo se dirige a
conduta (não ao resultado). Ex: o motorista dirigindo em alta velocidade aceita a possibilidade de atropelar
um pedestre.
. Dolo de dano – quando o agente quer e aceita o risco de produzir o dano.
. Dolo de perigo – quando o sujeito assume o risco de um resultado de perigo, porém não deseja que
o resultado se realize. Ex: contágio de uma doença venérea.
. Dolo genérico – quando o agente tem vontade de realizar fato descrito na norma incriminadora por
desejar o resultado ou assume o risco de produzi-lo. Não importa a finalidade da sua vontade de praticar a
conduta. Ex: deseja praticar o ato ou assume o risco do resultado de matar alguém independente da
finalidade do sujeito = do motivo.
. Dolo específico – quando o agente tem vontade de praticar uma conduta visando uma finalidade
específica, própria do delito.
. Dolo geral – quando o agente, tendo realizado a conduta e supondo ter conseguido alcançar o
resultado pretendido, pratica nova ação a qual alcança a consumação do crime. Ex: o agente, tendo
esfaqueado a vítima e supondo–a morta joga o corpo na água do rio. E a vítima, ainda viva, vem a falecer
em virtude de afogamento.
23. Conceitue o crime culposo, a culpa, o cuidado objetivo e qual a previsibilidade objetiva?
. Crime culposo, segundo o Código Penal, art. 18, II é quando o agente deu causa ao resultado por
imprudência, negligência ou imperícia. A culpa é o elemento subjetivo do tipo penal, que resulta da
inobservância do dever de diligência; a culpabilidade do delito culposo decorre da previsibilidade
subjetiva, pois o agente com suas aptidões pessoais deve antever o resultado, e essa previsibilidade
subjetiva conduz à responsabilidade da conduta pela falta de observância do cuidado exigido.
. Na culpa não se visa o resultado; o agente não observa um dever elementar de cuidado e se arrisca
infringindo o cuidado necessário objetivo, que é a obrigação determinada a todos de realizar condutas de
forma a não produzir danos a terceiros. E portanto o agente é responsável pelo resultado que possa
posteriormente acontecer, pois possui a consciência da possibilidade de sua ocorrência.

24. Explique os elementos do fato culposo:


A culpabilidade também exige a imputabilidade, o potencial consciência da antijuricidade e a
exigibilidade de conduta diversa. Os elementos do fato culposo são:
. A conduta humana voluntária que consiste numa ação ou omissão por vontade do agente;
. A inobservância do cuidado objetivo: manifestada pela imprudência, negligência e a imperícia;
. A previsibilidade objetiva: a possibilidade do agente antever o resultado positivo;
. A ausência de previsão: a imprevisibilidade objetiva exclui a tipicidade;
. O resultado involuntário – não se deseja o resultado, mas arrisca-se na pratica da ação
. O nexo de causalidade - a relação da ação com o resultado, adequação de uma conduta criminosa
ao tipo descrito na norma
. atipicidade absoluta - não provoca outro tipo de delito – art. 155, CP – “Subtrair, para si ou para
outrem, coisa alheia móvel”;
. atipicidade relativa - pode provocar outro tipo de delito - art. 312, CP – “Apropriar-se o funcionário
público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em
razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio”.

25. Conceitue a imprudência, negligência e a imperícia:


Imprudência é a prática de um fato perigoso, o agente age com precipitação, aceitando
conscientemente o risco, sem cautelas. Ex: desobedecer a sinal do semáforo vermelho, que indica parada
obrigatória.
Negligência é a falta de precaução, de presteza ou indiferença em relação ao ato realizado. Ex: deixar
substancia tóxica ao alcance de crianças.
Imperícia é a falta de capacidade e conhecimento técnico, de experiência, para o exercício de uma
arte ou profissão. Ex: médico que dispõe a realizar cirurgia sem ter conhecimento especializado da
determinada moléstia.

26. Quais as espécies de culpa?


Culpa inconsciente é aquela em que o resultado não é previsto pelo agente, embora previsível. É
uma culpa normal e comum manifestada pela imprudência, negligencia ou imperícia.
. Culpa consciente é aquela em que o resultado é previsto pelo agente, mas este espera que não
ocorra ou que ele possa evitar. Ex: um caçador, percebendo um animal próximo de seu companheiro,
confiante em sua perícia, dispara a arma de fogo e, sem intenção, mata seu companheiro.
. Culpa própria é aquela em que o resultado, embora previsível, não é prevista pelo agente.
. Culpa imprópria é aquela que o agente deseja o resultado, estando sua vontade viciada por erro
que poderia evitar, se observasse o cuidado necessário. Ex: o motorista que atravessa o sinal amarelo
sabendo ser um aviso de parar, mas acelera para atravessá-lo.
. Culpa mediata/indireta é aquela em que o resultado culposo imediato causado pelo agente, este
vem a determinar, mediata ou indiretamente, outro resultado culposo. Ex: uma pessoa que, socorrendo
ente querido atropelado, também vem a ser atropelado em seguida, sendo ferido ou morto. Deve-se
perquirir (investigar) se o primeiro atropelador tinha intenção no atropelamento, se não, não será
responsabilizado pelo segundo atropelamento.

27. Explique a culpa e seus graus e sua compensação.


É preciso analisar a norma penal incriminadora para se saber se um crime admite a modalidade
culposa, pois o Código faz referência expressa à culpa, quando admite a modalidade culposa: Parágrafo
único, do art. 18 - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime,
senão quando o pratica dolosamente. Portanto, agente que pratica fato, culposamente, e o tipo penal não
faz menção à modalidade culposa, não há crime.
A culpa se divide em leve, grave e gravíssima, embora não tenha previsão legal, é apresentada a
dose da pena do crime culposo, que será questionado pelo julgador a maior ou menor possibilidade de
previsão do resultado pelo agente, observado ou não o cuidado necessário.
No Direito Penal não se admite a compensação de culpa, e a culpa da vítima não exclui a culpa do
agente, a não ser que seja exclusiva. No caso de culpa concorrente, aplica-se a cada um a pena
correspondente ao delito praticado.

28. Explique o crime preterdoloso/preterintencional.


Coexistem dois elementos subjetivos: dolo na conduta antecedente e culpa na conseqüente. Existe
um crime inicial doloso e um resultado final culposo. Na conduta antecedente (que veio antes), o elemento
subjetivo é o dolo, uma vez que o agente quis o resultado, entretanto, pela falta de previsibilidade, ocorre
outro resultado culposo, pelo qual o agente também responde. Ex: uma pratica de aborto sem o
consentimento da gestante, mas querido pelo agente, que resulta em morte da gestante, embora não fosse o
resultado querido pelo agente, mas previsível de acontecer: aborto é doloso e a morte da gestante culposo.

29. Conceitue o erro do tipo e suas espécies.


Erro do tipo é aquele que recai sobre algum elemento ou circunstância do tipo penal, sobre os
pressupostos de fato de uma causa de justificação ou sobre dados secundários da norma penal
incriminadora.
Há duas espécies de erro de tipo:
. Erro de tipo essencial, que recai sobre elementares ou circunstâncias do tipo, sem as quais o crime
não existiria;
. Erro de tipo acidental, que recai sobre circunstâncias acessórias, secundárias, da figura típica.
O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por
crime culposo, se previsto em lei.

30. Explique o erro sobre o objeto, a pessoa e na execução.


Ocorre o erro sobre o objeto quando o agente supõe que sua conduta recai sobre determinada coisa,
e na realidade recai sobre outra. No Direito Penal, o erro sobre o objeto é irrelevante, mas de qualquer
forma o agente responde pelo crime.
Erro sobre a pessoa vem previsto no art. 20. § 3º. Do CP, diz que O erro quanto à pessoa contra a
qual o crime é praticado não isenta de pena. Não são considerados as condições ou qualidades da vítima,
senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime.
Erro na execução – “aberratio ictus” – também conhecido pela expressão latina aberratio ictus (que
significa aberração no ataque), ou crime aberrante, ocorre no mecanismo da ação, ou seja, na fase de
execução do delito, quando o agente, pretendendo atingir uma pessoa, por desvio no golpe, atinge outra
não pretendida, ou ambas.
Existem duas formas de erro na execução:
. Aberratio ictus com unidade simples, ou com resultado único, quando outra pessoa que não a
visada pelo agente vem a sofrer o resultado morte ou lesão corporal.
. Aberratio ictus com unidade complexa, ou resultado duplo, que ocorre quando o agente vem a
atingir a vitima virtual e também a vítima efetiva.

31. Explique os desígnios autônomos.


Está prevista no art. 70, caput, do CP, tendo também aplicação nas hipóteses de aberratio ictus.
Se o agente, ao pretender atingir a vítima virtual, ofender a vitima efetiva, agindo com intenções
autônomas, as penas devem ser somadas, ou seja, aplicadas cumulativamente.
Nesses casos de desígnios autônomos, exemplificamos nas figuras de A e B:
. Se o agente mata A e B: responde por dois crimes de homicídio doloso, aplicando-se a pena
cumulativamente;
. Se o agente mata A e fere B: responde por um crime de homicídio doloso consumado e por uma
tentativa de homicídio, cumulativamente;
. Se o agente fere A e B, responde por duas tentativas de homicídio;

32. Conceitue o erro de proibição.


Está normatizado no direito penal brasileiro pelo Art. 21 do CP, o erro de proibição é erro do agente
que acredita ser sua conduta admissível no direito, quando, na verdade ela é proibida - art. 21, caput, CP:
“O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se
evitável, poderá diminuir a pena de um sexto a um terço”. Portanto o erro de proibição recai sobre a
consciência de ilicitude do fato.
O erro de proibição é um juízo contrário aos preceitos emanados pela sociedade; No erro de
proibição, o erro se diferencia da ignorância ou da má compreensão legal. Pode-se ignorar a lei e ao mesmo
tempo conhecer a norma.
Formas de “Erro de Proibição”:
1. Erro de proibição Direto: quando o agente desconhecer a existência da norma proibitiva; ou
tendo conhecimento, considera-a não vigente; ou a interpreta de forma errônea, e
conseqüentemente, não reputa aplicável a norma proibitiva. Este erro abrange a situação do
agente desconhecer a existência da norma proibitiva, ou, se o conhecimento obtiver, considera a
norma não vigente ou a interpreta de forma errônea, conseqüentemente, não reputa aplicável a
norma proibitiva.
2. Erro de proibição Indireto: quando o agente possui o conhecimento da existência da norma
proibitiva, porém acredita que, em caso concreto, existe uma causa que, justificada em juízo,
autoriza a conduta típica. O que significa que: “por erro que concorre uma norma justificante,
por desconhecer os limites jurídicos de uma causa de justificação admitida ou supor a seu favor
uma causa de justificação não acolhida pelo ordenamento jurídico”.
3. Erro de proibição Escusável: neste caso não se deve reprovar a conduta do agente, porque este
não se encontra em situação de conhecimento do injusto do fato. Sendo assim, o erro de
proibição invencível deve ser, sempre, desculpável. Trata do assunto o Art. 21 do nosso CP: “O
erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta a pena”.
4. Erro de proibição Inescusável: neste caso o agente também desconhece o injusto do fato, porém,
possui por completo a condição de chegar à consciência da ilicitude do fato por conta própria.
Aqui o agente responde pelo crime doloso e há somente a possibilidade de atenuação da pena,
conforme o Art. 21, 3ª parte, CP: “(...)se evitável, poderá diminuí-la de 1/6 a 1/3”.
As conseqüências no erro de proibição – o erro exclui a consciência da ilicitude, conseqüentemente,
exclui a culpabilidade. Como não há crime sem, no mínimo, culpabilidade, e se o erro de proibição for
inevitável fica impedida a condenação. Já se o erro de proibição for evitável, impõe-se a pena por crime
doloso devido à inexistência de ação dolosa-culposa simultaneamente, porém atenuada.

33. Conceitue a Antijuricidade.


Antijuricidade é sinônimo de ilicitude. Para que ocorra um crime é necessário que o fato típico seja
contrário à lei penal, que viole bens jurídicos protegidos pelo ordenamento jurídico.

34. Por que o tipo penal trás em seu bojo a Antijuricidade?


Desde que a norma penal estabelece um mandamento determinante da não violação do bem
jurídico, quando traduzida para a esfera penal é chamado de “tipo”.
O tipo penal já traz em sua essência uma carga de antijuricidade que caracteriza um padrão de
conduta exigido, fazendo com que a ilicitude da conduta já seja excluída pelo juízo de atipicidade do fato.
Um fato típico já carrega consigo uma aparente antijuricidade, a qual será efetivamente constatada
no momento da análise da ocorrência ou não das causas de exclusão da antijuricidade.

35. Conceitue as causas de exclusão da Antijuricidade, e como estão previstas no Código Penal, e
como são encontradas na doutrina como sinônimos jurídicos:
As causas de exclusão da antijuricidade são causas que justificam a prática do fato típico, que o
tornam jurídico, pois não é vedado nem proibido pelo ordenamento jurídico. Ex: o agente que, para
salvaguardar sua vida, mata uma pessoa, agindo em legítima defesa à Neste fato típico elimina-se o caráter
criminoso, tornando-se lícito penal e está prevista no art. 23 do CP – “Não há crime quando o agente
pratica o fato: em estado de necessidade; em legítima defesa; em estrito cumprimento de dever legal ou no
exercício regular de direito”.
São encontradas na doutrina com os nomes: causas de exclusão da ilicitude; descriminantes; causas
de exclusão do crime; eximentes; e tipos permissivos.

36. Conceitue o estado de necessidade, sua capitulação no Código Penal, natureza jurídica e
requisitos:
Está previsto no art. 24, caput do CP que o Estado de Necessidade é quando o agente pratica um
fato para salvar de perigo atual, que não foi provocado por sua vontade, nem podia de outro modo evitar,
o interesse legítimo e protegido pelo Direito de um bem próprio ou de terceiro, e nas circunstancias, não
tendo outros meios senão lesar o interesse de outrem, igualmente legítimo.
A natureza jurídica do Estado de Necessidade, embora seja fato considerado típico, não há crime em
face da ausência da ilicitude. Porém é necessário que a circunstancia apresente os requisitos objetivos e
subjetivos. Se houver ausência do requisito subjetivo, o fato não será excludente de ilicitude e,
conseqüentemente, será considerado crime, pois na falta do elemento subjetivo de justificação, o agente
não fica justificado, apesar dos elementos objetivos de justificação.
São requisitos da Estado de Necessidade: Ameaça a direito próprio ou alheio; existência de um
perigo atual; inexigibilidade de sacrifício do interesse ameaçado; situação não causada voluntariamente
pelo sujeito; inexistência de dever legal de enfrentar o perigo; e conhecimento da situação de fato
justificante.

37. Explique as formas de estado de necessidade e seus requisitos:


O Estado de Necessidade é um estado de perigo para o bem jurídico, que somente pode ser
resgatado mediante a lesão de outro. Para a proteção de um interesse próprio ou de terceiro, o Direito
permite a lesão de outro bem, desde que seu sacrifício seja imprescindível para a sobrevivência daquele.
Havendo dois bens jurídicos em perigo de lesão, o Estado permite que seja sacrificado um deles, pois
diante do caso a tutela penal não pode salvaguardar ambos. A norma penal concede ao sujeito esse direito
subjetivo.
Os requisitos da Estado de Necessidade:
. Ameaça a direito próprio ou alheio – nesse caso o agente pode agir para evitar lesão a bem jurídico
seu ou de terceiro, não sendo necessário qualquer tipo de relação entre eles.
. Existência de um perigo atual – aquele que está acontecendo no momento ou preste a acontecer.
. Inexigibilidade de sacrifício do interesse ameaçado – não necessita sacrificar o seu bem próprio
para preservar o bem jurídico de terceiro, tem-se o direito de salvaguardar seu bem em detrimento do bem
jurídico de terceiro, porém deve-se ponderar a proporcionalidade entre o interesse ameaçado e o interesse
sacrificado.
. Situação não causada voluntariamente pelo sujeito – se houver causado a situação de perigo
voluntariamente, não se deve invocar o Estado de Necessidade, pois se trata de dolo, porém no caso de ter
agido com culpa, pode-se invocar o Estado de Necessidade.
. Inexistência de dever legal de enfrentar o perigo – Art. 24, § 1º - “Não pode alegar estado de
necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo”. Ex: um bombeiro, um policial que se recusa
executar sua tarefa alegando salvaguardar sua vida é caso de omissão.
. Conhecimento da situação de fato justificante – requer do agente o conhecimento de que está
agindo para salvaguardar um interesse próprio ou de terceiro.

38. Explique a causa de diminuição de pena e as formas de estado de necessidade:


No art. 24, § 2º do CP – “§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a
pena poderá ser reduzida de um a dois terços”. Reconhecido que o sujeito estava obrigado a sacrificar seu
direito ameaçado, embora não houvesse estado de necessidade, o agente responderá pelo crime que
praticou, a critério do juiz e as vista das peculiaridades do caso concreto, a pena poderá ser reduzida de 1 a
2/3.
As formas do estado de necessidade são classificadas pelos seguintes critérios:
Quanto à titularidade do interesse protegido – é dividido em: estado de necessidade próprio,
quando o agente salva direito próprio; e estado de necessidade de terceiro, quando o agente salva direito
de outrem.
Quanto ao aspecto subjetivo do agente – é dividido em: estado de necessidade real, que
efetivamente está ocorrendo; e estado de necessidade putativo, em que o agente incide em erro
(descriminante putativo).
Quanto ao terceiro que sofre a ofensa – é dividido em: estado de necessidade agressivo, quando a
conduta do agente atinge direito de terceiro inocente; estado de necessidade defensivo, quando o agente
atinge direito de terceiro que causou ou contribui para a situação de perigo.

39. Conceitue a legítima defesa, a natureza jurídica e seus requisitos:


Prevista no art. 25 do CP – Legítima defesa é a repulsa a injusta agressão, atual ou iminente, a direito
seu ou de outrem, usando moderadamente dos meios necessários.
Na natureza jurídica trata-se de causa excludente da antijuricidade; embora seja fato típico, não há
crime em face da ausência de ilicitude.
Para a configuração da ocorrência de Legítima defesa são necessários os seguintes elementos:
Agressão injusta, atual ou eminente – no momento estava preste a acontecer ou aconteceu um ato
humano, que violou a lei e não havia justificação, causando lesão ou colocando em perigo um bem
jurídico.
Direito próprio ou de terceiro – o agente pode repelir injusta agressão a direito seu, em legítima
defesa própria ou de outrem, em legítima defesa de terceiro, não havendo necessidade de qualquer relação
entre eles.
Utilização dos meios necessários – o agente somente pode invocar legítima defesa quando utilizou
dos meios necessários para repelir a agressão, somente aqueles que se encontravam a sua disposição.
Devendo optar dos meios menos lesivos.
Utilização moderada dos meios necessários – o agente deve agir sem excessos, utilizando-se dos
meios necessário moderadamente e interrompendo a reação quando cessar a agressão injusta.
Conhecimento da situação de fato justificante – que o agente tenha conhecimento da situação de
agressão injusta e da necessidade de repulsa (animus defendi).

40. Conceitue a legítima defesa subjetiva, sucessiva e recíproca:


Legítima defesa subjetiva - O agente em legítima defesa, já tendo repelido a injusta agressão, supõe,
por erro, que a ofensa ainda não cessou e se excede nos meios necessário empregados. Ex: o agente em face
da injusta agressão desfere golpes de faca no agressor, este cai e tenta se levantar para fugir, porém
supondo que o agressor intenta novamente atacá-lo, desfere-lhe mais golpes de faca, e agindo com excesso,
mata-o à O erro de tipo escusável exclui o dolo e a culpa.
Legítima defesa sucessiva – a ação da defesa legítima é até que cesse a agressão injusta; a partir daí
configura-se excesso e o agente atua ilegalmente, o agressor torna-se vítima de exacerbação tendo o direito
de defender-se legitimamente do agente.
Legítima defesa recíproca – quando a ação do agente é ilícita devida não haver injusta agressão a ser
repelida caracterizando-se em legítima defesa contra legítima defesa que não é admitida no ordenamento
jurídico. Ex: o agente pretende matar injustamente seu oponente, este tem uma lícita reação de defender-
se, em vista disso o agente desfere-lhe tiros sob pretexto de salvaguardar sua vida.

41. Explique a provocação e legítima defesa:


A provocação não é agressão, poderá ela vir a consistir ou não em uma agressão. Se consistir em
uma agressão injusta, autorizará a legítima defesa, caso contrário, não haverá legítima defesa, e o agente
que ceder a provocação responderá criminalmente pelo fato que praticar. Pois a legítima defesa provocada
não constitui causa excludente da antijuricidade. Ex: o amante ciente do horário que o marido traído chega
em casa, coloca-se na cama com a mulher deste, aguardando uma reação para matá-lo em legítima defesa à
não haverá exculpante, mas homicídio doloso.

42. Conceitue ofendículas:


São barreiras ou obstáculos para a defesa de bens jurídicos. Constitui-se em aparatos destinados a
impedir a agressão a algum bem jurídico, seja pela utilização de cães ferozes, seja pela utilização de
alarmes, cerca elétrica, cacos de vidros sobre o muro, etc. As ofendículas constituem em hipóteses de
legítima defesa que atuam quando o infrator procura lesionar algum interesse ou bem jurídico protegido,
desde que sejam meios moderados e não venham atingir inocentes.

43. Observe “Questões interessantes sobre legítima defesa”, que deve ser estudado e aprendido:
São hipóteses apresentadas em casos concretos que merecem analise detalhada à luz das causas
excludentes da antijuricidade:
É admitida legítima defesa contra agressão de inimputáveis bastando que a ofensa seja injusta, seja
de: bêbados, menores, incapazes mentais, etc.
É admitida legítima defesa de todos os direitos da pessoa humana, reconhecidos pela ordem
jurídica: vida, liberdade, patrimônio, honra, integridade física, etc.
É admitida legítima defesa contra as agressões injustas por omissão quando o agressor tinha o dever
de atuar: o carcereiro que, a vista do alvará de soltura, deixa de libertar o preso.
É admitida legítima defesa contra as agressões injustas praticadas por agente não culpável. Ainda
que haja ausência de culpabilidade, persiste a ilicitude da conduta, ensejando a repulsa legítima: coação
moral irresistível, obediência hierárquica, embriaguês completa proveniente de caso fortuito ou força
maior.
É admitida legítima defesa putativa contra legítima defesa putativa – no caso, os agentes incidem
em erro, tendo uma falsa percepção da realidade, fazendo com que ambos suponham a existência de
injusta agressão.
É admitida legítima defesa real contra legítima defesa putativa, ou vice versa, pois na legítima
defesa putativa é excluída a culpabilidade do agente ou a tipicidade do fato, porém a conduta permanece
ilícita, ensejando repulsa legítima.
É admitida legítima defesa real contra legítima defesa subjetiva, pois na legítima defesa subjetiva há
excesso por erro de tipo, e esse erro admite repulsa legítima.
Não é admitida legítima defesa contra ataques de animais, pois a exculpante exige atuação humana.
E a repulsa a ataque de animais caracterizará estado de necessidade.
Não é admitida legítima defesa contra legítima defesa, pois a 1ª legítima defesa já se volta contra
injusta agressão e portanto sendo justa a repulsa não admitindo nova legítima defesa.
Não é admitida legítima defesa contra estado de necessidade, pois no estado de necessidade a
conduta está amparada e permitida por lei, não sendo esta injusta; (pode haver estado de necessidade
contra estado de necessidade).

44. Conceitue estrito cumprimento do dever legal e sua capitulação no Código Penal:
A lei, em determinados casos, impõe ao agente um comportamento: um policial que viola o
domicilio onde está sendo praticado um delito, ou emprega força indispensável no caso de resistência ou
tentativa de fuga de preso, ou o soldado que mata o inimigo no campo de batalha, ou do oficial de justiça
que viola domicilio para cumprir ordem de despejo, dentre outros. Disposto no art. 23 do CP – “Não há
crime quando o agente pratica o fato: III. em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de
direito”.
Ocorre a excludente só quando existe um dever imposto pelo Direito, regulamentado pelo Decreto
ou qualquer ato emanado do Poder público, desde que tenha caráter geral, seja em lei penal ou extrapenal.
Porém estão excluídas da proteção legal as obrigações morais, sociais, religiosos, etc.

45. Conceitue o exercício regular de Direito, explique o consentimento do ofendido e o excesso


punível:
O exercício regular de direito (em sentido amplo) é excludente de antijuricidade e vem disposto no
art. 23 do CP – “Não há crime quando o agente pratica o fato: III. em estrito cumprimento de dever legal
ou no exercício regular de direito”. E toda conduta nesses casos, embora típica, não será ilícita. Ex: a
correção dos filhos pelos pais; porém deve-se limitar o direito exercido, sob pena de abuso.
O consentimento do ofendido equivale dizer consentimento do titular do direito
No consentimento presumido (reconhecido pelo direito costumeiro) - o agente acredita na existência
de um consentimento que não houve porque se pressupõe a sua existência diante das circunstâncias,
embora não exista um consentimento real do ofendido. Obtêndo-se duas ponderações diversas:
a. O atuar no interesse material do ofendido – ex: o médico que opera aquele que foi vítima de um
acidente, estando este inconsciente e não podendo dele obter seu consentimento. A ação se justifica,
situado no interesse do ofendido, dentro de um juízo objetivo, como justo meio para justo fim e o atuante,
é indubitável que o consentimento teria sido outorgado, se o supostamente ofendido tivesse conhecimento
da situação de fato e oportunidade de fazê-lo à corresponde a uma vontade presumida do titular do
consentimento devido ao instinto de preservação: direito à vida, à integridade corporal, etc.
b. O princípio do interesse ausente - será considerado onde faltar um interesse de conservação do
ofendido, digno de ser protegido, e deva se supor o seu consentimento, conforme um juízo objetivo e
razoável.
Já no consentimento putativo o agente tem pleno conhecimento da inexistência do consentimento.
Trata-se de acordo que exclui a tipicidade, erro sobre este consentimento configura-se como um erro de
tipo onde há a exclusão do dolo, mas permite-se a punição por crime culposo se previsto em lei. Se tratar-
se de consentimento que exclua a antijuridicidade, o erro sobre este consentimento configura-se como um
erro de proibição, onde há a isenção de pena, se inevitável, e a diminuição de 1/6 a 1/3, se evitável.
No excesso punível o agente extrapola os limites traçados pela lei para as causas excludentes da
antijuricidade. Ex: “no caso de legítima defesa” - o agente, depois de repelida a injusta agressão por
legítima defesa, continua a ofender o bem jurídico de terceiro; “no caso do estado de necessidade”, o
agente continua atuando, ainda depois de afastado o perigo atual, causando lesão desnecessária ao bem
jurídico de terceiro.
O excesso punível pode ser doloso – quando o agente, já tendo atuado em conformidade com o
direito na conduta inicial da excludente, avança voluntariamente os limites impostos por lei e produz
dolosamente resultado antijurídico.
O excesso punível pode ser culposo – quando o agente, já tendo atuado em conformidade com o
direito na conduta inicial da excludente, avança os limites impostos por lei, por imperícia, imprudência ou
negligencia, produzindo culposamente resultado antijurídico.

46. Conceitue a punibilidade e a culpabilidade, e quais são seus elementos?


A culpabilidade liga o agente à punibilidade, onde no fato será apurado os ilícitos penais e haverá
imposição penal quando devida.
A culpabilidade é condição da resposta penal, é o juízo de reprovação social, funcionando como
pressuposto de aplicação da pena.
Os elementos da culpabilidade são: imputabilidade (doença mental, mentalidade não desenvolvida,
viciado em tóxico, embriagues acidental); potencial consciência da ilicitude (erro de proibição, erro
inevitável sobre a ilicitude, erro inevitável de descriminante putativo); e exigibilidade de conduta diversa
(coação moral irresistível, obediência hierárquica, supralegais).

47. Explique a imputabilidade e qual o critério adotado pelo Código Penal:


Imputabilidade – quando o agente é imputável (quando sua mente não está em pleno
funcionamento normal), porém possui consciência de que a conduta possui caráter ilícito; entretanto o
ordenamento jurídico não poderia exigir naquele momento ou situação, uma outra conduta, a não ser
praticar aquele fato. E denomina-se inimputabilidade – a incapacidade do agente de entender o caráter
ilícito da conduta em virtude de doença mental, menoridade penal, etc.
Nosso CP, primeiramente, verifica se o agente, na época do fato, era portador de doença mental ou
desenvolvimento mental incompleto ou retardo; no segundo momento, verifica se ele era capaz de
entender o caráter ilícito do fato; no terceiro momento, verifica se ele tinha capacidade de determinar-se de
acordo com esse entendimento.

48. Conceitue a “Actio libera in causa”:


É quando o agente se coloca, propositalmente, em situação de inconsciência para a pratica da
conduta punível. Sendo casos de conduta livremente desejada, mas cometida no instante em que o sujeito
se encontra em estado de inconsciência.. ex: para praticar um crime, o agente ingere voluntariamente
bebida alcoólica, para se encontrar em estado de inimputabilidade por ocasião da conduta típica. Porém,
neste caso, o agente responde normalmente pelo delito praticado, pois voluntariamente se colocou em
situação inconsciente, desejando o resultado ou assumindo o risco de produzi-lo.

49. Explique as causas excludentes da imputabilidade:


São isento de pena, disposto Cód Penal, o agente que, por doença mental ou desenvolvimento
mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Conseqüentemente, não terá
culpabilidade. Porém no art. 149, Cód. Proc. Penal diz que: “quando houver dúvida sobre a integridade
mental do acusado, o juiz ordenará, de oficio ou requerimento do Ministério Público, do defensor, do
curador, do ascendente, descendente, irmão ou cônjuge do acusado, seja esse submetido a exame médico-
legal”. Ressaltando que o art. 153, Cód. Proc. Penal diz que: “o incidente de insanidade mental processar-
se-á em auto apartado, que só depois da apresentação do laudo, será apenso ao processo principal”.

50. Explique quais as sanções aplicadas a adolescentes (menores de 18 anos), e como são chamadas?
Tratando-se de uma presunção absoluta de inimputabilidade do menor de 18 anos, por imposição
legal, faz com que ele seja considerado incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de
acordo com esse procedimento, portanto logo não se aplica sanção penal. Entretanto o menor que infringe
a lei penal está sujeito a uma legislação própria (Lei nº 8.069/90) que consideram “crianças”: pessoas até 12
anos de idade; e “adolescentes”: pessoas de 12 a 18 anos de idade. A sanção aplicada às crianças chama-se
“medida específica de proteção”; e aos adolescentes são aplicadas a “medida socioeducativa”.

51. Qual a diferença entre desenvolvimento mental incompleto e retardado?


O desenvolvimento mental incompleto ocorre nos inimputáveis em razão da idade e também nos
silvícola inadaptadas , ou seja, com a pessoa que nasceu ou vive nas selvas ou matas e não se adaptou aos
costumes dos grandes centros, portanto, para ambos, são considerados incapazes de entender o caráter
ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse procedimento.
A mentalidade retardada aquele que sofre de deficiência do desenvolvimento mental (oligofrenia) e
podem ser classificados em débeis mentais, imbecis, néscio, estúpidos, idiotas, pois falta-lhe a inteligência.
A caracterização dessas anomalias são dadas pela medicina forense. Desde que em razão deste
retardamento mental, o agente seja incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou incapaz de determinar-
se de acordo com esse entendimento no momento da conduta, será, então, considerado inimputável, sendo
alegado a falta de culpabilidade, e na falta da pena, lhe será aplicada à medida de segurança. Porém isso
será comprovado mediante exame médico-legal que o acusado será submetido, ficando o processo
suspenso (salvo quanto às diligências que possam ser prejudicadas pelo adiamento) até que seja
confirmada a dúvida sobre a integridade mental do acusado. E a prova da alegação incumbirá a quem a
fizer; mas o juiz poderá, no curso da instrução ou antes de proferir sentença, determinar, de ofício,
diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante (art.156, CPP).

52. Conceitue a embriaguez e como pode ser classificada:


Embriaguez é a intoxicação aguda e transitória causada pelo álcool ou substância de efeitos
idênticos. E em virtude da embriaguez falta ao agente a capacidade de entendimento do caráter ilícito do
fato ou a capacidade de determinação de acordo com esse entendimento, para que haja exclusão da
imputabilidade.
A embriaguez pode ser completa ou incompleta. Uma Embriaguez Completa: resulta na absoluta
falta de entendimento por parte do agente, com confusão mental e falta de coordenação motora; numa
Embriaguez Incompleta: resta ainda, ao agente, alguma capacidade de entendimento, embora haja
comprometimento relativo à coordenação motora e funções mentais.
Na embriaguez é analisado o elemento subjetivo do agente, se tal embriaguez trata-se de:
1. Voluntária e culposa – quando o agente, voluntariamente, ingere substância alcoólica ou com
efeito idêntico com a intenção de embriagar-se ou mesmo sem essa finalidade, mas com excesso
imprudente;
2. Acidental – quando a ingestão da bebida alcoólica ou de substância com efeito idêntico não é
voluntária nem culposa, podendo ser proveniente de caso fortuito (quando o agente desconhece o efeito da
substância ou desconhece sua condição física de suscetibilidade a ela), ou força maior (o agente foi
obrigado a ingerir bebida alcoólica ou alguma substância alcoólica que lhe foi ministrada em uma bebida
inofensiva, sendo uma embriaguez provocada por terceiro, sem que houvesse responsabilidade do
agente).
Nos casos de Embriaguez Completa Acidental o agente é inimputável, faltando-lhe a culpabilidade
na conduta ilícita, sendo isento de pena e de medida de segurança.
Nos casos de Embriaguez Incompleta Acidental, será aplicada ao agente, por embriaguez,
proveniente de caso fortuito ou força maior, que não possuía, no momento da ação ou da omissão, a plena
capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento: a
pena reduzida de 1 a 2/3 (art.28, II, §2º, CP).

53. Conceitue a semi-imputabilidade, e como está prevista no Código Penal?


No caso de semi-imputabilidade, é aplicada ao agente a pena reduzida de 1 a 2/3, se o agente, em
virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era
inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento (art. 26, § único). Devido a parcial diminuição de sua capacidade de entendimento e
determinação, ainda persiste a culpabilidade do agente sendo-lhe aplicado pena reduzida ou medida de
segurança.

54. Explique o potencial da consciência da ilicitude e a inescusabilidade do conhecimento da lei:


O potencial da consciência da ilicitude também é elemento de culpabilidade, pois o agente a
possibilidade de conhecer a antijuricidade do fato e potencialmente sabe da ilicitude da conduta.
O desconhecimento da lei é inescusável, ou seja, ninguém pode alegar que desconhece a lei, pois ela
não está oculta, escondida. E uma vez em vigor tem alcance a todos, sendo de conhecimento da sociedade
a proibição das condutas tipificadas, constituindo-se infração.

55. Explique o erro de proibição:


É aquele que recai sobre a ilicitude do fato, excluindo a culpabilidade do agente, por sua suposição
de inexistência da regra de proibição. Porém o erro de proibição não exclui o dolo, somente a
culpabilidade, quando o erro for escusável, porém em caso de erro inescusável, a culpabilidade é atenuada
e a pena reduzida de 1/6 a 1/3.
No erro de proibição escusável ou inevitável ocorre com pessoa prudente e dotada de discernimento
e na circunstancia do fato, qualquer pessoa não teria possibilidade de ter ou alcançar a consciência da
ilicitude e assim é afastado a culpabilidade da conduta do agente.
E no erro de proibição inescusável ou evitável ocorre com o agente tendo ou podendo ter, na
circunstância, consciência da ilicitude da sua atitude, agindo com leviandade, imprudência, etc. assim,
propicia apenas diminuição da pena.
No erro de proibição, também ocorrem as descriminantes putativas (incidem em erro, tendo uma
falsa percepção da realidade, supondo a existência de injusta agressão) onde supõe situação de fato que
exija sua legítima defesa.
Assim “responde pelo crime o terceiro que determina o erro” (art.20, §2º, CP) e “o erro sobre a
ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de 1/6 a 1/3” (art. 21, CP),
havendo 3 modalidades de erro apontadas nas descriminantes putativas:

1. quando o agente supõe a existência de causa de exclusão da antijuricidade que não existe à erro
de proibição;
2. quando o agente incide em erro sobre os limites da causa de exclusão da antijuricidade à erro de
proibição;
3. quando o agente incide em erro sobre a situação de fato supondo uma situação de fato que exija
sua legítima defesa (estado de necessidade putativo; legítima defesa putativa; estrito cumprimento do
dever putativo) à erro de tipo, denominado erro de tipo permissivo ou descriminante putativa.

56. Conceitue a exigibilidade de conduta diversa:


É o terceiro e último elemento da culpabilidade somente são punidas as condutas que poderiam ter
sido evitadas pelo agente, pois nas circunstancias do fato, este (o agente) tinha possibilidade de ter tido um
comportamento de acordo com o ordenamento jurídico, ao invés de um comportamento criminoso.
Mas no caso de não haver possibilidade de se lhe reclamar conduta diferente da que praticou, o
agente não é culpável.
Há 2 causas de exclusão da culpabilidade por inexigibilidade de conduta diversa, são: coação moral
irresistível e obediência hierárquica, sendo, neste caso, punido o autor da coação ou da ordem.

57. Explique a coação moral irresistível, a obediência hierárquica, e a diferença entre ambas:
A coação irresistível pode ser uma coação física (emprego da força), ou uma coação moral (grave
ameaça). A coação moral pode ser resistível (podendo o coacto se opor a ela) ou irresistível (não sendo
possível ao coacto se opor a ela). A única coação que exclui a culpabilidade do coacto é a coação moral
irresistível, somente o coator responde pelo delito. Mas caso seja coação moral resistível o coacto será
agente que responderá criminalmente pela conduta praticada, militando em seu favor uma circunstância
atenuante genérica: “cometido o crime sob coação a que podia resistir” (art. 65, III, CP).
Na obediência hierárquica o agente tem sua culpabilidade afastada e não responde pelo crime, pois
este é imputada ao autor superior. A obediência hierárquica pressupõe 5 requisitos: que haja relação
superior de direito público entre superior e subordinado; que a ordem não seja manifestadamente ilegal;
que a ordem preencha os requisitos formais; que a ordem seja dada dentro da competência funcional do
superior; e que o fato seja cumprido dentro da estrita obediência à ordem do superior. Caso o subordinado
cumpra ordem manifestadamente ilegal, responderá pelo delito juntamente com o superior, militando em
seu favor apenas uma circunstância atenuante genérica: “em cumprimento de ordem de autoridade
superior” (art. 65, III, CP).
Coação Moral Irresistível X Obediência Hierárquica – na coação moral irresistível o coacto comete
crime sob coação a que não podia resistir; na obediência hierárquica, o subordinado cumpre ordem de
autoridade superior.

58. Conceitue o concurso de pessoas e o necessário eventual:


No concurso de pessoas - quando um crime é praticado por duas ou mais pessoas que concorrem
para a consecução do resultado, e todos participantes são penalizados na medida de sua culpabilidade.
No necessário eventual – indica o número de pessoas classificando o crime em: monossubjetivos
(crime cometido por um agente); e plurissubjetivos (para a prática de um crime exige-se pluralidade de
agentes). O crime plurissubjetivo é classificado em condutas paralelas, havendo auxílio mútuo nas
condutas: havendo mesma intenção
59. Explique as formas de concurso de agente: co-autoria e a participação.
Concurso de agente possuem duas formas: co-autoria e participação. Nosso Cód. Penal adotou a
teoria restritiva da autoria, onde distingue autor de partícipe.
Co-autoria – quando a principal conduta do tipo penal é realizada por várias pessoas, havendo
diversos executores do tipo penal: estupro e roubo.
Participação – quando há concorrência de qualquer modo para a prática da conduta típica, não
realizando atos executórios do crime. O autor que executa o núcleo da conduta típica; enquanto o partícipe
é o sujeito que concorre de alguma modo para a realização do crime, pratica atos diversos dos praticados
pelo autor, ou seja, atividades que contribuem para a realização do delito (vigia a rua enquanto o autor
furta, empresta arma para o autor matar, etc). E participam de forma moral (induzindo o criminoso no
propósito da conduta) ou de forma material (auxiliando na prática, é cúmplice).
Para que haja concurso de agente são necessários os requisitos: pluralidade de condutas; relevância
causal de cada uma; liame subjetivo entre os agentes; identidade de infração para todos os participantes.

60. Explique o concurso em crimes culposos e a punibilidade no concurso de pessoas:


É admitido o concurso de pessoas em crime culposo, mas somente é admitidos a co-autoria e todos
os concorrentes, tendo em vista a previsibilidade da ocorrência do resultado, respondem pelo delito à
quando o acompanhante instiga ao motorista a empreender velocidade excessiva no veículo, que resulta
em atropelamento e morte de pedestre.
Porém a não observância do dever de cuidado, os concorrentes realizam o núcleo da conduta típica
culposa, não havendo participação em sentido estrito.

61. Explique as circunstâncias incomunicáveis e sua capitulação e regras no Código Penal


Circunstâncias incomunicáveis, previsto no art. 30, Cód. Penal – “Não se comunicam as
circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime”. Sendo clara a
distinção entre circunstâncias (os elementos que se integram à infração penal apenas para aumentar ou
diminuir a pena) e condições pessoais (relação do agente com o mundo exterior:
pessoas/coisas/parentes).
“... salvo quando elementares do crime” – são quaisquer componentes que integrem a figura típica
fundamental. Ex: num crime infanticídio (homicídio da criança em estado de parto ou após este), a
elementar é a qualidade de mãe do agente.
Para as circunstâncias ou condições de caráter pessoal, para haver comunicabilidade, devem ser de
conhecimento do participante as condições pessoais do co-autor.

62. Explique os casos de impunibilidade:


Casos de impunibilidade, previsto no art. 31, Cód. Penal – “O ajuste, a determinação ou instigação e
o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser
tentado”. Portanto não chegando à fase de execução o crime não é punível, pois iter criminis é composto
de cogitação, de atos preparatórios, de atos executórios e consumação. Mas no caso de uma tentativa em
que o agente inicia atos de execução, mas não atinge a consumação por circunstancias alheias à sua
vontade à a participação, nesses casos, não é punível, salvo nos casos em que o mero ajuste, determinação
ou instigação e auxílio já sejam, por si só, puníveis como delitos autônomos: no crime de bando ou
quadrilha, quando se associam mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, com a finalidade de cometer
crimes (art. 288, Cód. Penal).

=============================== F I M ===============================

DIREITO DE PENAS

O sujeito ativo de um crime comum pode ser qualquer pessoa. Ex: homicídio previsto no art. 121, do
CP – “Matar alguém: Pena - reclusão, de 6 a 20 anos”.
A exceção são os crimes especiais, ou seja, crimes próprios que somente é praticado por determinada
categoria de pessoas. Exemplos: peculato – do art. 312 do CP – praticado por funcionário público em razão
do cargo que exerce. O infanticídio - do art. 123 do CP – Matar o próprio filho, praticado pela mãe durante
o parto ou logo após, sob a influência do estado puerperal.
Crime resulta em reclusão, detenção + multa.
Contravenção (infração) resulta em prisão simples e multa.
Infração sui generis, sobre a Lei de Tóxicos (Lei nº 6.368/76) é uma infração típica que resulta em
multas pesadas
Diz respeito a um dos 17 verbos contidos no seu art. 2º, § 3º - Para extrair, produzir, fabricar,
transformar, preparar, possuir, importar, exportar, remeter, transportar, expor, oferecer, vender,
comprar, trocar, ceder ou adquirir para qualquer fim substância entorpecente ou que determine
dependência física ou psíquica, ou matéria-prima destinada à sua preparação, sendo indispensável licença
da autoridade sanitária competente, observadas as demais exigências legais.
Portanto passar a droga resulta em pena até 1 ano e responde por infração sui generis.
***********************

TIPOS DE NORMAS
Norma penal incriminadora – aquela que apresenta o preceito primário (a conduta) + o preceito
secundário (a pena). Ex: o art. 121, do CP – “Matar alguém: Pena - reclusão, de 6 a 20 anos”.
Norma penal não incriminadora e permissiva (tolerante; permitida) – aquela que não possui
preceito primário (a conduta) nem preceito secundário (a pena). Ex: o art. 23 - Não há crime quando o
agente pratica o fato: em estado de necessidade; em legítima defesa; em estrito cumprimento de dever
legal ou no exercício regular de direito
Norma penal explicativa e não incriminadora – aquela que apenas tem a finalidade de explicar. Ex:
o art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou
sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
***********************
MOMENTO CONSUMATIVO
Pode ser material, formal (ou mera conduta)
Material - possui conteúdo interno estipulado pela lei, que descreve a conduta e o resultado
naturalístico – matar alguém tem resultado naturalístico na consumação do fato. Este necessita haver o
dano material, a lesão do bem ou do interesse jurídico tutelado, ou seja, o resultado material. Nesta
consumação reúnem todos os elementos de sua definição legal: sujeito ativo (que pratica o crime); o sujeito
passivo (que sofre as conseqüências do crime); a Capacidade penal (condições necessárias para que o
sujeito seja titular de direitos e obrigações no campo penal); o objeto jurídico do crime ou a objetividade
jurídica (o bem ou interesse protegido pela norma penal); objeto material do crime (o bem jurídico pelo
qual recai a conduta criminosa); o elementos temporal (o momento da ocorrência ou consumação do crime,
ou a tentativa, o momento do ônus da prova do crime); o elemento espacial (o local da ocorrência do crime
ou da tentativa); e a punibilidade (a conseqüência jurídica do crime).
Formal - possui conteúdo externo ou formal dado pela lei, é uma simples atividade, uma mera
conduta que não depende de lesão material do bem ou do interesse jurídico tutelado; para consumação
desse crime é suficiente a simples possibilidade de dano, o próprio risco, o perigo, não precisando haver o
dano material. Exemplos: injuria moral; seqüestro (crime permanente, que se prolonga no tempo, mas que
a lei considera já a ação, não o resultado naturalístico); violação de domicílio (desde que entrou ou
permaneceu contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito tem posse na casa ou em suas
dependências).
***********************

FATO TÍPICO
• O Cód Penal brasileiro adotou a Teoria Finalística, que afirma que toda conduta é voluntária e
dirigida para determinado fim.
O Fato Típico é o comportamento humano positivo ou negativo, que provoca um resultado e este
esteja previsto pela lei penal como infração, que se enquadra perfeitamente nos elementos contidos no
tipo penal:
• a conduta humana dolosa ou culposa (resultado causado por imprudência, negligência ou
imperícia);
• o nexo de causalidade (elo de ligação entre a conduta e o resultado, mas que é inexistente nos
crimes de forma vinculada, formais e de simples atividade);
• o resultado (com exceção dos crimes de mera conduta);
• a tipicidade (o enquadramento do fato material ou da conduta punível à norma penal
incriminadora, ou ao tipo legal. Pois não há crime sem lei anterior que o defina – art. 1º CP).
Não é nem crime doloso nem culposo os casos de sonambulismo, força maior (eventos da natureza)
e fato fortuito – porque não possui conduta humana dolosa ou culposa – tornando-se, então, atípico – o
agente não responde por ele. Exemplo: a criança que solta das mãos da mãe e atravessa a rua, sendo
atropelado sem culpa e sem dolo do motorista.
Portanto: Fato Típico = a conduta dolosa ou culposa + nexo causal + resultado + tipicidade.
***********************

FONTES
Fonte material – (ou fonte de produção ou fonte substanciais) diz respeito à origem, à criação, à
elaboração, à formação do Direito Penal. A única fonte material do Direito Penal é o Estado, órgão
responsável pela criação das normas, através da competência legislativa exclusiva atribuída à União pelo
art. 22, I, da CF – “Competente privativamente à União legislar sobre o direito civil, comercial, penal,
processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho”.
Fonte formal – (ou fonte de conhecimento ou fonte de cognição) diz respeito a exteriorização, à
forma pela qual o Direito Penal se faz conhecida. Elas podem ser mediatas e imediatas.
Mediatas - aquele que toca de maneira indireta o sujeito, como os costumes e os princípios gerais de
direito. Sendo que o costume é um conjunto de normas não escritas de comportamento, onde as pessoas
obedecem por convicção de sua obrigatoriedade. Este pode ser utilizado como forma de interpretação da
Lei, pois tem nítida influência na elaboração da Lei Penal.
Imediatas – aquele que toca imediatamente, instantaneamente e diretamente o sujeito à é a Lei
penal e a norma penal, sendo que:
A Lei penal (norma redigida expressamente pelo legislador) pode ser incriminadora em sentido
estrito : aquela que descreve a infração penal e estabelece a sanção; ou incriminadora em sentido lato : que
não descreve a infração penal nem estabelece sanções penais, subdividida em permissiva, considerando
lícitas determinadas condutas ou isenta o agente de pena como causas excludentes da antijuricidade.
A norma penal – aquela que regula as ações e comportamentos dos indivíduos, mediante
proibições, obrigações e permissões (ou garantias). É um mandamento proibitivo que pode ou não estar
escrita. São disposições normativas: regras, princípios, prescrições. Diz respeito ao comportamento aceito
socialmente. Não sendo necessário que a regra seja escrita, mas trata-se de uma regra social proibitiva, tida
como normal. Ex: a própria sociedade não aceita o ato de matar, estuprar, furtar, constranger, etc.
***********************

ELEMENTOS DA CULPABILIDADE
• O Cód Penal brasileiro adotou a Teoria Finalística, que afirma que toda conduta é voluntária e
dirigida para determinado fim.
São elementos da culpabilidade:
• Imputabilidade
• Potencial consciência da ilicitude
• Exigibilidade de conduta diversa

IMPUTABILIDADE PENAL
• O Cód Penal brasileiro adotou a Teoria da Atividade (art. 4º) – “Considera-se praticado o crime
no momento da ação (fazer) ou omissão (não fazer), ainda que outro seja o momento do
resultado”: o tempo do crime.
A imputabilidade é a capacidade penal, ou seja, é a possibilidade de se atribuir a alguém a
responsabilidade por algum fato. É um conjunto de condições pessoais que dá ao agente a capacidade para
lhe ser juridicamente imputada a prática de infração penal.
O Cód Penal não define imputabilidade, pelo contrário, ele enumera as hipóteses de
inimputabilidade: agente com doença mental, com desenvolvimento mental incompleto ou retardado
Art. 26, CP – “É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental
incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter
ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento”.
Portanto é inimputável o agente:
a. Com doença mental: aquele com perturbação mental ou psíquica de qualquer ordem, capaz de
eliminar ou afetar a capacidade de entender o caráter criminoso do fato ou de comandar a
vontade de acordo com esse entendimento – Ex: o neurótico, psicótico, esquizofrênico, epilético,
etc – a esses cabe medida de segurança.
Também aqueles que estam sob efeito de substância, entorpecente ou que determine dependência
física ou psíquica ao tempo da ação ou da omissão, sendo inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito
do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, qualquer que tenha sido a infração penal
praticada. Consta no art. 19 da Lei 6.368/76 (Lei de tóxicos) que configura como doença mental sempre
que estiver sem a capacidade de entender e querer.
a. Com desenvolvimento mental incompleto: aquele que ainda não tenha a mente se concluído,
devido a recente idade cronológica (menores de 18 anos) ou pela falta de convivência em
sociedade, ocasionando-lhe imaturidade emocional e mental (o silvícola = homem da floresta).
Com o incremento das relações sociais, faz-nos pensar, hoje, que os menores de 18 anos e os
silvícolas inadaptados à sociedade, tem condições de chegar ao pleno desenvolvimento com o acúmulo das
experiências do cotidiano.
a. Com desenvolvimento mental retardado: aquele que sempre terá uma deficiência mental e
jamais alcançará o desenvolvimento completo. Seu desenvolvimento é incompatível com o
estágio de vida que a idade cronológica da pessoa se encontra, estando sempre abaixo do
desenvolvimento normal. Sendo o caso dos oligofrênicos: pessoas com reduzidíssimo coeficiente
intelectual; são classificados, na escala de inteligência, em ordem decrescente: débeis mental,
imbecis e idiotas.
São 3 critérios para definição de inimputável:
1º - O biológico – leva-se em consideração apenas o desenvolvimento mental do acusado (idade e
problemas mentais).
2º - O psicológico – considera-se apenas se o agente, ao tempo da ação ou omissão, tinha capacidade
de entendimento e autodeterminação.
3º - O biopsicológico – considera-se inimputável aquele que, em razão de sua condição mental, era,
ao tempo da ação ou omissão, totalmente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se
com esse entendimento. Foi o adotado pelo Cód Penal brasileiro.
São requisitos do Biopsicológico:
1º elemento causal - no elo existente entre a conduta e o resultado o agente seja doente mental ou
retardado ou com desenvolvimento incompleto.
2º cronológico – no tempo da ação ou da omissão o agente seja doente mental ou retardado ou com
desenvolvimento incompleto.
3º consequencial - o agente perde a capacidade de entender e determinar-se, perdendo a capacidade
da vontade e do querer.

Menoridade – art. 27, CP – “Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando
sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial” – ECA - consagrados constitucionalmente no art.
228, CF – “São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação
especial” - ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei 8.069/90) - os menores ficam sujeitos às
medidas sócio-educativas.

Emoção e Paixão – no art. 28, I do CP – Não excluem a imputabilidade penal: a emoção ou a


paixão. Porém no art. 65, III, c – são circunstâncias que sempre atenuam a pena: sob a influência de
violenta emoção; e art 121, § 1º - é caso de diminuição de pena: se o agente comete o crime sob o domínio
de violenta emoção, o juiz pode reduzir a pena de 1/6 à 1/3.
Portanto está estabelecido “Não excluem a imputabilidade penal: a emoção ou a paixão”, apenas são
“atenuantes”, sendo caso de “diminuição de pena”.
A emoção é um estado súbito e passageiro de instabilidade psíquica, uma perturbação momentânea
da afetividade. A paixão é um sentimento duradouro, caracterizado por afetividade permanente. Apesar
de não excluírem o crime, pode funcionar como atenuante genérico ou causa de diminuição de pena.
Obs: a ira momentânea configura emoção – e ódio recalcado, o ciúmes, formado em decorrência de
possessão doentia retratam a paixão – são posições jurisprudencial de alguns tribunais que se orientaram
por essa base.

Embriaguez
• O Brasil adotou a teoria “actio libera in causa” = “ação deliberada da causa” – segundo o qual,
o agente, ao embriagar-se, sabia da possibilidade de praticar o delito e era livre para decidir.
Esta é a moderna doutrina penal de responsabilidade objetiva, independente do dolo ou da culpa, o
agente responde. Esta teoria é defendida pelo promotor Fernando Capez. Mas Damásio defende ao
contrário: não havendo intenção de cometer um delito, após estar embriagado e acontecer uma provocação
que leve o sujeito a cometer tal delito, este não deveria responder.
Na embriaguez – art. 28, II, CP – “Não excluem a imputabilidade penal: a embriaguez voluntária ou
culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos”.
Utilizando-se a interpretação analógica (lei genérica servindo para casos diferentes com causas
semelhantes) = substâncias que produzam o mesmo efeito que o álcool.
Embriaguez é um estado de intoxicação aguda causada pelo álcool ou por substâncias de efeitos
análogos (maconha, cocaína, etc)
Fases da embriaguez:
1ª fase – do macaco – que causa euforia – é um estado eufórico provocado pela inibição dos
mecanismos de autocensura. O agente torna-se inconveniente, perde a acuidade (perspicácia) visual e tem
seu equilíbrio afetado.
2ª fase – do leão – que causa depressão – é um estado passado da excitação inicial para a depressão,
estabelecendo-se uma confusão mental, irritabilidade, deixando o sujeito agressivo, chato, inconveniente.
3ª fase – do porco – que causa sono – ocorre somente quando grandes doses são ingeridas, o agente
fica em estado de dormência profunda, com perca do controle das funções fisiológicas.
A doutrina diz que na fase do porco o ébrio só pode cometer delitos omissivos (a mera conduta
negativa, consistente em omissão).
As conseqüências da embriaguez em relação da imputabilidade:
a. A embriaguez pode ser voluntária – quando o agente quer embriagar-se. Podendo ser
completa, quando retira a capacidade de entendimento e autodeterminação do agente. Ou pode
ser incompleta, quando não retira tal capacidade.
b. A embriaguez pode ser culposa – quando o agente não quer embriagar-se, mas agindo
imprudentemente ingere doses excessivas e acaba embriagado. Também podendo ser completa
ou incompleta.
Na conduta não há dolo (vontade de consumar), mas culpa por imprudência pela afoiteza (ousadia e
coragem), pois aceita, conscientemente, o risco, agindo sem cautela.

Lembrete:
. Imprudência (= equivale a ação precipitada, aceitando conscientemente o risco, agindo sem
cautelas);
. Imperícia (= equivale a conduta, onde não há capacidade e conhecimento técnico para
execução de tal conduta);
. Negligência (= equivale a omissão, falta de precaução, indiferença em relação ao ato
realizado).

A alteração psíquica ocorre de um comportamento doloso, intencional de quem quer tomar um


porre (bebedeira) ou fazer uma viagem (drogar-se), mas com descuido, com uma conduta culposa:
imprudente, excessiva.
1. A embriaguez pode ser acidental – proveniente de caso fortuito ou força maior. Que se for
completa, exclui a imputabilidade, desde que em razão dela o agente, ao tempo da ação ou
omissão, tenha ficado inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com tal entendimento (art. 28, §1º, CP).
Força maior – deriva de uma força externa ao agente, que é obrigado a consumir droga ou a
ingerir álcool por coação física ou moral irresistível, perdendo o controle de suas ações.
Caso fortuito – ocorre quando alguém está tomando determinado medicamento e,
inadvertidamente, ingere bebida alcoólica, tendo seu efeito potencializado em face dos
remédios, fazendo com que uma pequena quantidade de bebida o faça ficar em completo estado
de embriaguez.
O art. 28, § 2º, CP – estabelece que a pena poderá ser reduzida de 1 a 2/3 se o agente não possuía, ao
tempo de ação ou omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou determinar-se de
acordo com tal entendimento.
1. A embriaguez patológica (doentia) – é o caso dos alcoólatras e dos dependentes químicos que
se colocam em estado de embriaguez em virtude de uma vontade invencível de continuar
consumindo a droga.
Se na embriaguez patológica o agente perder inteiramente a capacidade do caráter ilícito do fato ou
determinar-se de acordo com tal entendimento, estará excluída a imputabilidade (art. 26, caput, CP).
Se houver mera redução dessa capacidade, o agente responderá pelo crime com a pena reduzida
(art. 26, parágrafo único, CP).
1. A embriaguez preordenada – quando o agente se embriaga justamente para tomar coragem
para a pratica do delito. Atua como agravante da pena genérica nos termos do art. 61, II, l, CP –
que sempre agravam a pena, as circunstâncias em que o agente comete o crime: em estado de
embriaguez preordenada.
***********************

POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE


O Código Penal brasileiro adota a teoria limitada da culpabilidade.
O legislador exigiu como requisito da culpabilidade, não o conhecimento do caráter injusto do fato,
mas a possibilidade de que o agente tenha esse conhecimento no momento da ação ou omissão. Trata-se de
potencial consciência da ilicitude.
A potencial consciência da ilicitude leva em consideração aspectos externos, objetivos, que
orientam o juiz na aferição (na comparação, medição) da culpabilidade. Pouco adianta alegar não saber
que a conduta era proibida, pois se existir a possibilidade de sabê-la ilícita no momento da ação ou
omissão, o agente responderá pelo crime.
Portanto só é eliminada a potencial consciência da ilicitude quando o sujeito, além de não conhecer
o caráter ilícito do fato, não tinha nenhuma possibilidade de fazê-lo.
Estabelece o art. 21 do CP que o desconhecimento da lei é inescusável (indesculpável,
indispensável). Portanto presume a lei que todos são culpáveis. Entretanto, ocorre que o mesmo art. 21 do
CP, em sua segunda parte, determina que o erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se
evitável, poderá diminuí-la de 2/3 a 1/3.
Erro de proibição – quando o agente acredita ser sua conduta admissível no direito, quando na
verdade ela é proibida, portanto se engana quanto à ilicitude, não se encontrava em situação de
conhecer o caráter injusto do fato no momento da ação ou omissão. O erro de proibição é o erro
inevitável retira do agente a conhecimento da ilicitude do fato, por conseqüência exclui a
culpabilidade, isentando o réu de pena. Em outras palavras, o agente erra sobre o caráter ilícito
do fato, entendendo que determinada conduta é lícita.
Erro de tipo – recai sobre algum elemento ou circunstância do tipo penal, quando o agente erra
quanto ao fato (tira o dolo, mas responde por crime culposo, se previsto em lei).
1º Ex: no intuito de acertar um animal, atira e, só depois, percebe que acertou um homem e não um
animal.
2º Ex: art. 155, CP: furto - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel - se o agente
confundiu o objeto como sendo o seu próprio, levando o celular de outrem pela semelhança idêntica do
seu -trata-se, então, de erro evitável que poderá ser diminuída a pena de 2/3 a 1/3.
No erro de tipo, há erro quanto ao próprio fato. O agente imagina que um homem é um animal; ou
que o objeto alheio é seu próprio.
***********************

EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA


Consiste na expectativa social de um comportamento diferente daquele que foi adotado pelo agente.
Somente haverá exigibilidade de conduta diversa quando a coletividade podia esperar do sujeito que este
tivesse atuado de outra forma.
A exigibilidade de conduta diversa tem natureza jurídica de causa de exclusão da culpabilidade,
fundada no princípio de que só podem ser punidas as condutas que poderiam ser evitadas.
A exigibilidade de conduta diversa pode ser excluída por dois motivos:
1. Coação moral irresistível;
2. Obediência hierárquica
Ambas previstas no art. 22, do CP - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita
obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou
da ordem.

Lembrete:
A culpabilidade é pressuposto de penalidade. Para existir crime é preciso dos elementos do fato
típico: conduta dolosa ou culposa, nexo de causalidade, resultado e tipicidade (“não há crime sem lei
anterior que o defina”). Portanto, não há crime quando se exclui conduta dolosa ou culposa =
tratando-se de fato atípico.
A coação é o emprego de força física ou de uma grave ameaça para que alguém faça ou deixe de
fazer alguma coisa.
A coação irresistível pode ser:
. coação física (vis absoluta) – que se dá com o emprego de violência física, quando uma pessoa
obriga a outra a praticar o crime. Ex: forçar a mão da vítima para que ela aperte o gatilho de um revolver.
Neste caso a violência física empregada retira totalmente a vontade da ação, de modo que o coagido se
apresenta como mero instrumento do coator e, assim, não havendo condições de resistir = não existe fato
típico pela ausência do 1º requisito: a conduta: ação humana voluntária.
. coação moral (vis relativa) – aquela que decorre de uma grave ameaça, não podendo o coagido se
opor a ela, uma ameaça que não pode ser vencida nem superada pelo agente no caso concreto. Somente no
caso de coação moral irresistível, exclui a culpabilidade do coagido e o coator quem responderá pelo
delito.
Mas caso seja uma coação resistível onde o coagido poderia se opor a ela, pois havia um resquício
de vontade por parte do coagido, e, assim, havendo crime e o coagido é culpável, este será o agente que
responderá criminalmente pela conduta praticada, militando em seu favor uma circunstância atenuante
genérica: “ter o agente cometido o crime sob coação a que podia resistir” (art. 65, III, c, CP).

Quanto à obediência hierárquica é considerado ordem superior hierárquica inerente à


Administração Pública, quando um funcionário público de categoria superior determina a um
subordinado que faça algo em termo de ação ou omissão.
Na obediência hierárquica o agente tem sua culpabilidade afastada e não responde pelo crime, pois
este é imputada ao autor superior. A obediência hierárquica pressupõe 5 requisitos:
1. que haja relação superior de direito público entre superior e subordinado;
2. que a ordem não seja manifestadamente ilegal;
3. que a ordem preencha os requisitos formais;
4. que a ordem seja dada dentro da competência funcional do superior;
5. e que o fato seja cumprido dentro da estrita obediência à ordem do superior.
Caso o subordinado cumpra ordem manifestadamente ilegal, responderá pelo delito juntamente
com o superior, militando em seu favor apenas uma circunstância atenuante genérica: “ter o agente:
cometido o crime em cumprimento de ordem de autoridade superior” prevista no art. 65, III, c, CP.
***********************

CONCURSO DE PESSOAS
• O Brasil adotou a Teoria Unitária ou Monista - aquela em que todos que contribuem para o
resultado delituoso devem responder pelo mesmo crime, de acordo com a sua culpabilidade.
O concurso de pessoas no art. 29, CP – “Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas
penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade”.
O concurso de pessoas ocorre quando uma infração penal é cometida por duas ou mais pessoas. A
exigência é que seja 2 ou + pessoas.
Quanto ao concurso de pessoas, o crime pode ser:
1. Crime Monossubjetivos (ou crimes de concurso eventual) – aqueles que podem ser cometidos
por um ou mais agentes. Podendo ou não haver co-autoria ou participação. Ex: homicídio, furto,
etc.
OBS: Haverá hipóteses de várias pessoas matarem a vítima, caso em que haverá concurso.
1. Crime Plurissubjetivos (ou crime de concurso necessário) – aqueles que só podem ser
realizados por uma pluralidade de agentes em concurso, ou pelo menos 2 pessoas. Exigindo
uma co-autoria. Ex: crimes de bando ou quadrilha, art. 288; crimes de rixa, art. 137
* Bando ou Quadrilha - Art. 288 - Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para
o fim de cometer crimes: Pena - reclusão, de um a três anos - Parágrafo único - A pena aplica-se em dobro,
se a quadrilha ou bando é armado.
* Rixa - Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os contendores: Pena - detenção, de quinze
dias a dois meses, ou multa - Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-
se, pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos.
Os crimes plurissubjetivos podem ser:
1. de condutas paralelas – os agentes auxiliam-se mutuamente, visando produzir um resultado
comum, em prol de um objetivo idêntico, concentrando esforços para realizar o crime. Ex: crime de
quadrilha (Art. 288 ).
2. de condutas convergentes – quando a conduta dos agentes se encontra, se dirige uma à outra,
gerando um único resultado. Ex: antigo crime de adultério, art. 240 do CP - Revogado pela Lei nº 11.106,
de 2005
3. de condutas contrapostas – quando as condutas dos agentes são praticadas umas contra as outras.
Os agentes são, ao mesmo tempo, atores e vítimas: eles se agridem mutuamente. Ex: participação no crime
de rixa.

Forma de Concurso de Pessoas: Autoria – Co-Autoria – Participação


Há 3 tipos de autoria, sendo o CP brasileiro adotou a teoria Restritiva
Na autoria restritiva é apenas aquele que executa a conduta típica descrita na Lei, ou seja, aquele
que realiza o verbo contido no tipo penal. Ex: furto, art. 155 – autor é aquele que subtraiu, para
si ou para outrem, coisa alheia móvel.
Na co-autoria é quando todos os agentes auxiliam-se, reciprocamente, visando o mesmo fim,
para praticar a conduta criminosa. Ex: quando 2 ou + pessoas, conjuntamente, matam a vítima.
Elas são co-autores de homicídio. Outro ex: Roubo - Art. 157 - quando 2 ou + pessoas subtraem
coisa móvel alheia, mediante grave ameaça, ambos agindo em co-autoria.
Na participação o agente partícipe não pratica o verbo típico (matar, furtar, etc), porém
contribuiu de algum modo para que o crime se realize. Ex: exerce vigilância sobre o local para
que seus comparsas pratiquem o crime colaborando para os autores objetivasse o resultado
esperado. O partícipe irá responder na medida de sua culpabilidade.

Existem duas formas de participação:


1. A participação moral – a pessoa contribui moralmente para o crime, agindo sobre a vontade do
autor, quer provocando-o, para que nele surja a vontade de cometer o crime (incitação), quer estimulando
a idéia criminosa já existente (instigação).
2. A participação material – a pessoa contribui materialmente para o crime, através de um
comportamento positivo (ação) ou negativo (omissão). Ex: participação positiva – empresta a arma para o
agente praticar o crime. E na participação negativa - não fecha a porta, que deveria trancar, para que
alguém entre e roube a casa, facilitando ao ladrão, por ter aderido a idéia dele.

REQUISITOS DE CONCURSO DE PESSOAS


1. Pluralidade de condutas – exige-se, no mínimo, 2 condutas principais realizadas pelos autores (co-
autoria), ou uma principal e outra acessória praticadas, respectivamente, por autor e partícipe (de algum
modo contribuindo para que principal realize). Porque uma só conduta não caracteriza concurso de
pessoas.
2. Nexo de causalidade – é indispensável que o comportamento do co-autor ou do partícipe sejam
relevantes ou eficazes para a ação e o resultado.
3. Vínculo subjetivo (psicológico) – necessário a vontade consciente e recíproca de todos em
contribuir para a atividade delituosa. Sendo indispensável a adesão subjetiva à vontade do outro, embora
seja desnecessária a prévia combinação entre eles.
Inexistente o vínculo subjetivo, não há concurso de pessoas, embora possa haver autoria colateral:
todos se comportando para o mesmo fim, mas desconhecendo a conduta alheia.
4. Identidade de crime – a infração penal deve ser igual, objetiva e subjetivamente, para todos os
concorrentes (art. 29), embora cada um responde na medida de sua culpabilidade.

OBS: Nosso código não adotou a teoria dualista: na qual há um crime para os autores e outro
para os partícipes; nem a teoria pluralista: na qual cada um dos envolvidos respondem por delito
autônomo.

Apesar do CP brasileiro ter adotado a Teoria Unitária ou Monista, encontramos algumas exceções,
tanto na parte geral quanto na especial:
1. CP – art. 29, § 2º - trata da chamada cooperação dolosamente distinta ao estabelecer que, se algum
dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste. Assim se duas
pessoas combinam agredir outra e, durante a execução, uma delas resolve matar a vítima, sem que tenha
havido uma anuência da outra, haverá apenas o crime de lesões corporais para aquele que quis participar
de resultado menos grave. Entretanto, será aumentada até metade se o resultado mais grave era previsível
na hipótese concreta.
• 2. CP – art. 29, § 1º - participação de menor importância, a pena pode ser diminuída de 1/6 a
1/3, sendo somente uma participação moral (incitação), ou material (empresta a arma). A
participação de menor importância tem natureza jurídica de causa de diminuição de pena, não
constitui efetiva exceção à Teoria Unitária ou Monista, pois o crime é o mesmo para todos
(todos respondem), havendo apenas uma redução de pena.
Encontramos, também, algumas exceções na parte especial do CP:
1. A gestante que consente na pratica do aborto incide no art. 124; enquanto quem pratica a manobra
abortiva com o consentimento da gestante responde pelo art. 126.
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: pena - detenção,
de um a três anos.
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: pena - reclusão, de um a quatro
anos.
2. É considerado corrupção ativa: oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público,
para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício = incide no art. Art. 333; enquanto é
considerado corrupção passiva: solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda
que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de
tal vantagem = incide no art. 317

REQUISITOS PARA A EXISTÊNCIA DO CONCURSO DE PESSOAS:


1. Pluralidade de condutas, sem a qual não se pode pensar em concurso;
2. Relevância causal das condutas, sem que haja essa relevância causal, não se pode cogitar que
todos tenham contribuído para o crime;
3. Liame subjetivo, significa que o partícipe deve estar ciente que colabora para o resultado
criminoso visado pelo outro.
Segundo a melhor Doutrina, é desnecessário o prévio ajuste entre as partes, bastando a unidade de
desígnios, ou seja, que uma vontade adira (aderir) à outra. Ex: por desavenças anteriores, uma pessoa
deixa a porta aberta da vítima, pois sabe que na região estão acontecendo diversos furtos. O ladrão se
aproveita deste fato, independente de saber estar recendo ajuda, e pratica o crime. O autor da participação
do furto não sabe que foi ajudado, mas quem o ajuda é partícipe do crime.
4. Identidade de crimes para todos os envolvidos – todos os envolvidos respondem pelo mesmo
crime, cada no grau de sua culpabilidade.

AUTORIA COLATERAL E AUTORIA INCERTA


Autoria colateral: duas pessoas querem praticar o crime e agem ao mesmo tempo sem que um saiba
da intenção do outro. E o resultado decorre da ação de apenas um deles, que é identificado no caso
concreto.
A e B pretendem matar C. Entretanto A e B não sabem do intento um do outro. A aguarda a vítima
de um lado da estrada e B do outro lado. Quando a vítima passa, ambos atiram ao mesmo tempo, sendo
que a vitima é alvejada por apenas um dos tiros. No caso concreto, se ficar provado que o disparo que
atingiu a vítima foi em virtude do tiro de A, este responderá por homicídio consumado e B por tentativa
de homicídio.
No caso concreto não há concurso de pessoas, pois não existia liame subjetivo entre os envolvidos.
Se houvesse liame subjetivo, ambos responderiam por homicídio consumado.
Autoria incerta: ocorre quando, na autoria colateral, não se consegue apurar qual dos envolvidos
provocou o resultado.
A melhor Doutrina orienta-nos que de ambos devem responder por tentativa de homicídio.
Autoria Mediata: quando o agente serve-se de pessoas sem discernimento (menores ou doente
mental) para o crime. Responde pelo crime o autor mediato: aquele que se usa do menor ou doente mental.
Segundo o profº Damázio Evangelista de Jesus, a autoria mediata pode resultar:
1. da ausência de capacidade em face da minoridade ou doença mental. Ex: induzir um doente
mental a colocar veneno no copo da vítima;
2. de coação moral irresistível, em que o executor pratica o fato com a vontade submissa à do coator;
3. de obediência hierárquica, em que o autor da ordem a sabe ilegal, mas faz o executor crê-la legal.
***********************
PENAS REINCIDENTE
Pena é a retribuição posta pelo Estado em razão da prática de um ilícito penal e consiste na privação
de bens jurídicos determinada pela lei, que visa à readaptação do criminoso ao convívio social e à
prevenção em relação à prática de novas transgressões.
As penas previstas na legislação devem respeitar os seguintes princípios constitucionais:
1. Da legalidade - não há pena sem prévia cominação legal (art. 5º, XXXIX). Significa que a pena
deve estar prevista em lei vigente à época da prática do delito.
2. Da individualização da pena – a lei deve regular a individualização da pena de acordo com a
culpabilidade e os méritos pessoais do acusado (art. 5º, XLVI).
3. Da pessoalidade - a pena não pode passar da pessoa do condenado, podendo a obrigação de
reparar o dano e a decretação de perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendida aos
sucessores e contra eles executadas até o limite do valor do patrimônio transferido (art. 5º, XLV).
4. Da vedação da pena de morte, penas cruéis de caráter perpétuo ou de trabalhos forçados (art. 5º,
XLVII).
5. Da proporcionalidade – a pena deve ser proporcional ao crime cometido (art. 5º, XLVI e XLVII).

PENAS PRINCIPAIS - o art. 32 do Código Penal adotou as seguintes espécies de pena:


a. Privativas de liberdade: reclusão e detenção (arts. 33 e s.);
b. Restritivas de direitos: prestação pecuniária, perda de bens e valores, prestação de serviços à
comunidade ou a entidades públicas, interdição temporária de direitos e limitação de fim de
semana (art. 43);
c. Multa (arts. 49 e seguintes.).

As Penas Privativas de Liberdade (art. 33) são:


a. Reclusão: cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto.
b. Detenção: cumprida em regime semi-aberto ou aberto, salvo a hipótese de transferência
excepcional para o regime fechado.
c. Prisão simples: prevista apenas para as contravenções penais e pode ser cumprida nos regimes
semi-aberto ou aberto.

Em relação ao regime de cumprimento da pena, o art. 33, § 1º, estabelece as seguintes regras:
a. Regime fechado: a execução da pena se dá em estabelecimento de segurança máxima ou média.
Hoje nos temos estabelecimentos penais como o RDD regime disciplinar diferenciado.
b. Regime semi-aberto: o sentenciado cumpre a pena em colônia agrícola, industrial ou
estabelecimento similar.
c. Regime aberto: a pena é cumprida em casa do albergado ou estabelecimento adequado, ou seja,
o sentenciado trabalha fora durante o dia e à noite se recolhe ao albergue.
Regras do Regime Fechado (art. 34): no início do cumprimento da pena, o condenado será
submetido a exame criminológico, hoje tal exame é facultativo de classificação e individualização (art. 34,
caput). A pena é cumprida em penitenciária.
O condenado fica sujeito a trabalho no período diurno e isolamento durante o repouso noturno (§
1º).
Dentro do estabelecimento. O trabalho será em comum, na conformidade com as ocupações
anteriores do condenado, desde que compatíveis com a execução pena (§ 2º).
O trabalho externo é permitido em obras públicas, desde que tomadas as cautelas para evitar a fuga
(§ 3º).
O trabalho será sempre remunerado (art. 39).

Regras do Regime Semi-Aberto (art. 35): o condenado poderá também ser submetido a exame
criminológico (arts. 35, caput, do CP e 8º da LEP).
O condenado fica sujeito a trabalho remunerado e em comum durante o dia em colônia penal
agrícola, industrial ou similar (§ 1º).
É permitido o trabalho externo, bem como a freqüência a cursos supletivos e profissionalizantes, de
instrução de segundo grau ou superior (§ 2º).
A jurisprudência tem entendido que na ausência de vagas no regime semi-aberto, o condenado deve
aguardar a vaga no regime fechado. O preso, no regime ora estudado, tem direito, com autorização
judicial, à saída temporária da colônia com a finalidade de visitar familiares, freqüentar cursos ou
participar de outras atividades relevantes para sua ressocialização por prazo não superior a 7 dias,
renovável quatro vezes por ano (arts. 12, 123, 124 da LEP).

Regras do Regime Aberto (art. 36): o regime aberto baseia-se na autodisciplina e no senso de
responsabilidade do condenado (art. 36), uma vez que este permanecerá fora do estabelecimento e sem
vigilância para trabalhar, freqüentar curso ou exercer outra atividade autorizada e, durante o período
noturno e dias de folga, deverá recolher-se à prisão albergue (§ 1º). O art. 117 da Lei de Execução Penal
(Lei n. 7210/, de 11-7-1984) admite, em hipóteses excepcionais, que o sentenciado cumpra o regime aberto
em prisão-albergue domiciliar. Nesse caso, o condenado deve recolher-se à sua residência durante o
período noturno e dias de folga. Essa forma de prisão domiciliar é admissível quando se trata de pessoa
maior de 70 anos, condenado acometido de doença grave, pessoa com filho menor ou doente mental ou,
ainda, quando se trata de condenada gestante. A jurisprudência tem admitido também a prisão domiciliar
fora das hipóteses do art. 117 quando não existe na comarca albergue no qual o sentenciado possa
recolher-se.

Regime Inicial (art. 33, caput) - O juiz, ao prolatar a sentença e fixar o montante da pena, deve fixar
o regime inicial para o seu cumprimento, de acordo com as regras do art. 33, § 2º, do Código Penal:
1. Para os crimes apenados com reclusão:
1. Se condenado a pena superior a 8 anos, deve começar a cumpri-la em regime fechado.
2. Se condenado a pena superior a 4 anos e não superior a 8 anos, poderá iniciá-la no regime semi-
aberto, desde que não seja reincidente. Se for reincidente deve começar no regime fechado.
3. Se condenado a pena igual ou inferior a 4 anos, poderá iniciar o cumprimento em regime aberto,
desde que não seja reincidente. Caso seja reincidente, o regime inicial será o fechado.

1. Para os crimes apenados com detenção:


1. Se condenado com pena superior a 4 anos ou se for reincidente, deve começar a cumpri-la em
regime semi-aberto.
2. Se condenado com pena igual ou inferior a 4 anos, poderá iniciar o cumprimento no regime
aberto.

Entretanto, o art. 33, § 3º estabelece que, na fixação do regime inicial o juiz deve atentar aos critérios
descritos no art. 59 do Código Penal (personalidade do acusado, culpabilidade, conduta social,
circunstâncias e conseqüências do crime). Assim, o quantum da pena não é um critério absoluto, sendo
possível, por exemplo, que alguém seja condenado a 6 anos de reclusão e, mesmo sendo primário, o juiz
fixe o regime inicial fechado por entender que o acusado tem péssima conduta social e que o crime se
revestiu de especial gravidade.
O art. 33, caput, estabelece que a regime inicial nos crimes apenados com detenção deve ser o aberto
ou semi-aberto.
Os arts. 2º, § 1º, da Lei n. 8072/90 e 1º, § 7º, da Lei n. 9455/97 estabelecem que os condenados por
crimes hediondos, tráfico ilícito de entorpecentes, terrorismo e tortura devem necessariamente iniciar o
cumprimento da pena em regime fechado.

Progressão de Regime (art. 33, § 2º) - dispõe que as penas privativas de liberdade devem ser
executadas em forma progressiva, de acordo com o mérito do condenado. Segundo essa regra, o
condenado deverá gradativamente passar de um regime mais rigoroso para um mais brando, desde que
preenchidos os requisitos legais, a fim de estimular e possibilitar a sua ressocialização. É vedada a
progressão por saltos, ou seja, iniciado o cumprimento da pena em regime fechado, o sentenciado deve
passar pelo regime semi-aberto antes de ser colocado no regime aberto.
Para a progressão do regime fechado para o semi-aberto, o condenado deve ter cumprido no
mínimo 1/6 da pena imposta na sentença ou do total de penas (no caso de várias execuções). Além disso, o
sentenciado deve ter demonstrado bom comportamento carcerário, havendo a necessidade, ainda, da
existência de parecer da Comissão Técnica de Classificação (art. 6º da LEP) e do exame criminológico
facultativo (art. 8º).
Para a progressão do regime semi-aberto para o aberto, é necessário, inicialmente o cumprimento de
1/6 do restante da pena (quando iniciado no regime fechado) ou 1/6 do total da pena (quando iniciado no
regime semi-aberto). Além disso, exige-se que o sentenciado tenha aceitado as condições do programa (da
prisão-albergue), as impostas pelo juiz, que esteja trabalhando ou comprove a possibilidade de fazê-lo
imediatamente e, por fim, que seus antecedentes e que os exames a que se tenha submetido demonstrem
que irá ajustar-se, com autodisciplina e senso de responsabilidade, ao novo regime. A realização do exame
criminológico é facultativa (art. 8º da LEP).
A oitiva do representante do Ministério Público é sempre imprescindível para fim de progressão de
regime, sob pena de nulidade.
O Supremo Tribunal Federal entende ser possível a progressão de regime para os crime
considerados hediondos e assemelhados.
Progressão de regime e exame criminológico
O STF tem entendido que em sua nova redação o art.112 da LEP, admite a realização facultativa do
exame criminológico, desde que fundamentada e quando necessária à avaliação do condenado e de seu
mérito para a promoção a regime mais brando.
Ressaltou-se, ainda, que esse exame pode ser contestado, nos termos do §1º do próprio art.112, o
qual prevê a instauração de contraditório sumário. A partir de interpretação sistemática do ordenamento
(CP,art.33,§2º e LEP, art.8º), conclui-se, que a citada alteração não objetivou a supressão do exame
criminológico para fins de progressão do regime, mas ao, contrário, introduziu critérios norteadores à
decisão do juiz para dar concreção ao princípio da individualização da pena.

REGRESSÃO DE REGIME – é a transferência do condenado para qualquer dos regimes mais


rigorosos, nas hipóteses previstas em lei.
Nos termos do art. 118 da Lei de Execução Penal, a regressão deve-se dar:
a. Quando o agente praticar fato definido como crime doloso: para que seja decretada a regressão
não é necessária a condenação transitada em julgado, basta a prática do delito.
b. Quando o agente praticar falta grave: fuga, participação em rebelião, posse de instrumento
capaz de lesionar pessoas, descumprimento das obrigações e outras descritas no art. 50 dessa lei.
c. Quando o agente sofre nova condenação, cuja soma com a pena anterior torna incabível o
regime atual.

Além disso, nos termos do art. 36, § 2º, do Código Penal, se o sentenciado estiver no regime aberto,
dar-se-á a regressão se ele frustrar os fins da execução (parar de trabalhar, não comparecer à prisão
albergue etc.) ou se, podendo, não pagar a pena de multa cumulativamente imposta.

Regime Especial (art. 37) - dispõe o art. 37 do Código Penal que as mulheres devem cumprir pena
em estabelecimento próprio, observando-se os deveres e direitos inerentes à sua condição pessoal. Veja-se
que a própria Constituição Federal estabelece que “a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, se
acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado” (art. 5º, XLVIII). O RDD é um sanção
disciplinar para os condenados de alta periculosidade.)

Direitos do Preso (art. 38) - estabelece o art. 38 do Código Penal que o preso conserva todos os
direitos não atingidos pela perda da liberdade, impondo-se a todas as autoridades o respeito à sua
integridade física e moral.
A Constituição Federal consagra que aos presos é assegurado o direito à integridade física e moral
(art. 5º, XLIX). Assim, para assegurar tal proteção, o legislador tipificou como crime de tortura submeter
“pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática
de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal” (art. 1º, § 1º, da Lei n. 9455/97).
A Carta Magna também assegura aos presos que comprovarem insuficiência de recursos assistência
jurídica integral (art. 5º, LXXIV), indenização por erro judiciário ou por permanência na prisão acima do
tempo determinado (LXXV) e condições para que as presidiárias possam amamentar seus filhos (L).
Além disso, o art. 41 da Lei de Execução Penal estabelece que constituem direitos do preso:
alimentação e vestuário; trabalho remunerado; previdência social; proporcionalidade na distribuição do
tempo para o trabalho, descanso e recreação; exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e
desportivas anteriores (desde que compatíveis com a execução da pena); assistência material, à saúde,
jurídica, educacional, social e religiosa; proteção contra qualquer forma de sensacionalismo; entrevista
pessoal e reservada com seu advogado; visita do cônjuge, companheira, parentes e amigos em dia
determinados; ser chamado pelo próprio nome; igualdade de tratamento em relação aos outros presos
(salvo quanto a peculiaridades da pena); audiência especial com o diretor do estabelecimento;
representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de direito; contato com o mundo exterior por
meio de correspondência escrita, leitura e outros meios de informação que não comprometam a moral e os
bons costumes. Nos termos do art. 42 da mesma lei, esses diretos também valem para os presos provisórios
(em flagrante, por prisão preventiva, por sentença recorrível, por pronúncia e temporária) e para os
submetidos à medida de segurança. Não se deve esquecer, contudo, o disposto no art. 15, III, da
Constituição Federal, no sentido que haverá suspensão dos direitos políticos com a condenação criminal
transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos. Os presos provisórios, portanto, têm direito a voto.
Trabalho do Preso (art. 39) - reza que o trabalho do preso será sempre remunerado, sendo-lhes
garantidos os direitos da previdência social.

DA REMIÇÃO
O art. 126 da Lei de Execução Penal trata desse instituto estabelecendo que o condenado que cumpre
pena no regime fechado ou semi-aberto pode descontar, para cada 3 dias trabalhados, 1 dia no restante da
pena. A remição deve ser declarada pelo juiz, ouvido o Ministério Público. Se o condenado,
posteriormente, for punido com falta grave, perderá o direito ao tempo remido (art. 127). A remição se
aplica para efeito de progressão de regime e concessão de livramento condicional. Somente são
computados os dias em que o preso desempenha a jornada completa de trabalho, excluindo-se os feriados
e fins de semana. A autoridade administrativa (do presídio) deve encaminhar mensalmente ao Juízo das
Execuções relatório descrevendo os dias trabalhados pelos condenados.

Legislação Especial (art. 40) - diz que a legislação especial regulará a matéria prevista no art. 38
(direitos do preso) e art. 39 (trabalho do preso), bem como especificará os deveres e direitos do preso, os
critérios para a revogação e transferência dos regimes e estabelecerá as infrações disciplinares e
correspondentes sanções.
A lei especial que regulamenta tais temas é a Lei n. 7210/84, chamada de Lei de Execução Penal, já
mencionada.

Superveniência de Doença Mental (art. 41) – é preciso distinguir a doença mental que acomete o
sentenciado, durante a execução da sua pena, da enfermidade que possui o agente no momento da
conduta delituosa. A este último, aplica-se o disposto no art.26 do CP, vale dizer, não se aplica pena, mas
medida de segurança, ocorrendo a chamada absolvição imprópria. O juiz, apesar de absolver o réu, impõe-
lhe medida de segurança (internação ou tratamento ambulatorial), que será, nos termos do art.97, §1ª, do
CP, indeterminada, até que haja a cessação da periculosidade (afinal, cometeu um injusto no estado de
insanidade). A superveniência de doença mental ao condenado, no entanto, apesar de poder levar à
conversão da pena em medida de segurança, nos termos do disposto no art.41 do CP, em combinação com
o art.183 da Lei de Execução Penal, não pode ser por tempo indeterminado, respeitando-se o final da sua
pena.Afinal, o sistema do duplo binário (aplicação de pena e de medida de segurança) foi abolido em 1984,
de forma que, se o réu foi condenado, por ter sido considerado imputável à época do crime, recebendo a
reprimenda cabível, por tempo determinado, não pode ficar o resto dos seus dias submetido a uma
medida de segurança penal. Assim, terminada a sua pena, estando ele em hospital de custódia e
tratamento psiquiátrico, deve ser colocado à disposição do juízo civil, tal como acontece com qualquer
pessoa acometida de uma enfermidade mental incurável. Por derradeiro, é preciso que se diga que se a
doença mental for curável e passageira, não há necessidade de conversão da pena em medida de
segurança, mas tão-somente a transferência do preso para tratamento em hospital adequado, por curto
período.

Detração (art. 42 do CP) – é a contagem no tempo da pena privativa de liberdade e da medida de


segurança do período em que ficou detido o condenado em prisão provisória, no Brasil ou no exterior, de
prisão administrativa ou mesmo de internação em hospital de custódia e tratamento.Ex: se o sentenciado
foi preso provisoriamente e ficou detido por um ano até a condenação transitar em julgado, sendo apenado
a seis anos de reclusão, cumprirá somente mais cinco anos.
Prisão provisória: são todas as formas de prisão cautelar, previstas no processo penal: a) prisão
temporária; b) prisão preventiva; c) prisão em decorrência de flagrante; d) prisão decorrente da pronúncia;
e) prisão em virtude de sentença condenatória recorrível; f) prisão para extradição.
Aplica-se a qualquer que tenha sido o regime de cumprimento fixado na sentença (fechado, semi-
aberto ou aberto). Também se aplica a algumas penas restritivas de direitos (prestação de serviços à
comunidade ou a entidades públicas, interdição temporária de direitos e limitação de fins de semana)
porque estas substituem a pena privativa de liberdade.

Penas Restritivas de direito (art. 43 do CP) - são: prestação pecuniária; perda de bens e valores;
prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas; interdição temporária de direitos; limitação de
fim de semana.

AS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS - têm caráter substantivo, ou seja, não são previstas em
abstrato no tipo penal e, assim, podem substituir as penas privativas de liberdade. desde que observadas
os requisitos do art. 54, CP – “As penas restritivas de direitos são aplicáveis, independentemente de
cominação na parte especial, em substituição à pena privativa de liberdade, fixada em quantidade inferior
a 1 ano, ou nos crimes culposos”.
O juiz deve aplicar as penas restritivas de direitos, em caráter substitutivo e desde que presentes os
requisitos legais.
São requisitos legais:
1º - art. 44, I, CP – devendo, primeiramente, que o crime seja culposo, ou que, nos crimes dolosos,
seja aplicada pelo juiz penas restritivas de liberdade não superior a 4 anos, desde que o delito tenha sido
cometido sem emprego violência ou grave ameaça à pessoa.
Obs: Os crimes de constrangimento legal – no art. 146, CP - Constranger alguém, mediante violência
ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a
não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda.
E na de lesão corporal de natureza leve – do art. 129, caput - Ofender a integridade corporal ou a
saúde de outrem: § 1º Se resulta: incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias; perigo
de vida; debilidade permanente de membro, sentido ou função; aceleração de parto: pena - reclusão, de 1 a
5 anos. § 2° Se resulta: incapacidade permanente para o trabalho; enfermidade incurável; perda ou
inutilização do membro, sentido ou função; deformidade permanente; aborto: pena - reclusão, de 2 a 8
anos. Além de serem crimes dolosos cometidos com emprego de violência ou grave ameaça, não podem
ser tidos como excluídos do benefício, uma vez que são considerados infrações de menos potencial
ofensivo (pena submetida ao juizado e não superior a 2 anos) admitindo-se em relação a eles aplicação
imediata da pena de multa ou de penas restritivas de direitos até mesmo na audiência preliminar, antes do
oferecimento da denúncia.

2º - art. 44, II, CP – “o réu não for reincidente em crime doloso”. O juiz, mesmo o réu sendo
reincidente, conforme exceção do § 3º, do art. 44, poderá aplicar a substituição desde que a medida seja
socialmente recomendável e a reincidência não se tenha operado em virtude da prática do mesmo crime.

3º - art. 44, III, CP – “a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do


condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente”.
Fixação da pena - Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à
personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao
comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção
do crime : I - as penas aplicáveis dentre as cominadas; II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos
limites previstos; III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade; IV - a substituição
da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível.

As Penas Restritivas são:


1º - Prestação pecuniária – consiste no pagamento em dinheiro à vítima, seus dependentes, ou para
(fundo penitenciário) as entidades públicas ou privativas com destinação social. O valor é fixado pelo juiz,
sendo no mínimo, de 1 salário e, no máximo 360 salários. A importância será deduzida da condenação
eventualmente alcançada na reparação civil, se forem os mesmos beneficiados – são penas substitutivas.

2º - Perdas e bens e valores – estes, pertencentes ao condenado, serão perdidos em favor do fundo
penitenciário. O valor terá como teto um montante do prejuízo causado ou provento obtido pelo agente ou
terceiro como pratica do crime, o que for maior.

3º - Prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas – porém só tem cabimento se a


pena for superior a 6 meses. Consiste na atribuição de tarefas ao condenado, conforme suas aptidões. O
cumprimento será a razão de 1 hora de tarefa por dia de condenação. A fixação do período deve ser
realizada de modo não prejudicar a jornada normal de trabalho. Se a pena substituída for superior a 1 ano,
o condenado poderá, querendo, prestar mais horas por dia, cumprido a pena em tempo menor até o limite
da metade do tempo inicialmente estipulado. Assim, sendo a pena de 2 anos, o condenado dedicando-se 2
horas por dia, cumprirá a pena no tempo limite de 1 ano.

4º - Interdição temporária de direitos – art. 47 e incisos – o condenado fica temporariamente


interditado nos seguintes direitos: na proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem
como de mandato eletivo; na proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de
habilitação especial, de licença ou autorização do poder público; na suspensão de autorização ou de
habilitação para dirigir veículo; na proibição de freqüentar determinados lugares.

5º - Limitação de fim de semana – consiste na obrigação do condenado permanecer, aos sábados e


domingos, por 5 horas diárias, em casa de albergado ou outro estabelecimento adequado, e durante a
permanência poderão ser ministrados ao condenado cursos e palestras ou atribuídas atividades
educativas.
Obs: esta limitação de fim de semana deveria ser classificada como pena restritiva de liberdade, e
não restritiva de direito, pois atinge a liberdade do indivíduo em períodos determinados como a pena de
detenção (regime aberto), reclusão (regime fechado), etc.

REGRAS DE SUBSTITUIÇÃO
1 – Se a pena for igual ou superior a 1 ano (de condenação privativa de liberdade), a substituição
pode ser feita por multa ou por uma restritiva de direitos.
Obs: Se a pena for inferior a 6 meses, não poderá ser fixada a pena de prestação de serviços à
comunidade ou a entidades públicas. Porque, segundo o art. 46, CP – “A prestação de serviços à
comunidade ou a entidades públicas é aplicável às condenações superiores a 6 meses de privação da
liberdade”.

2 – Se a condenação for superior a 1 ano e não superior a 4 anos, neste caso, poderá ser substituída.
O juiz poderá aplicar a substituição, sendo: uma pena de multa + uma restritiva de direitos; ou 2 penas
restritivas de direitos.

CONVERSÃO DAS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS EM PRIVATIVA DA LIBERDADE


Devendo ser superior a 6 meses - art. 44, § 4º - a pena restritiva de direitos converte-se em privativa
de liberdade quando ocorrer o descumprimento injustificado da restrição imposta. Neste caso, o cálculo da
pena privativa de liberdade a executar será deduzido o tempo já cumprido da pena restritiva de direitos,
respeitado o saldo mínimo de 30 dias de detenção ou reclusão. Ex: Se um indivíduo é condenado a 8 meses
de detenção, após cumprir 6 meses de pena restritiva de direitos (limitação de fim de semana, p.ex:.), passa
a descumprir injustificadamente a pena imposta, terá que cumprir os 2 meses restantes de detenção.
Art. 51, Lei Execução Penal – Lei nº 7.210/84 - Comete falta grave o condenado à pena restritiva de
direitos que: I - descumprir, injustificadamente, a restrição imposta; II - retardar, injustificadamente, o
cumprimento da obrigação imposta; III - inobservar os deveres previstos nos incisos II e V, do artigo 39,
desta Lei - Constituem deveres do condenado: obediência ao servidor e respeito a qualquer pessoa com
quem deva relacionar-se; e execução do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas.

Art. 44, § 5º - “Sobrevindo condenação a pena privativa de liberdade, por outro crime, o juiz da
execução penal decidirá sobre a conversão, podendo deixar de aplicá-la se for possível ao condenado
cumprir a pena substitutiva anterior”.

PENA DE MULTA – pode ser cominada como pena única; ou com pena cumulativa; ou alternativa;
ou em caráter substitutivo. “Na condenação igual ou inferior a 1 ano, a pena privativa de liberdade poderá
ser substituída por uma multa ou por uma pena restritiva de direitos; se superior a 1 ano, a pena privativa
de liberdade poderá ser substituída por uma multa + uma pena restritiva de direitos ou por duas
restritivas de direitos” – art. 44, §2º, CP.
O valor da multa aplicada na sentença deve ser atualizado pelos índices oficiais de correção
monetárias.
“A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da quantia fixada na sentença e
calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de 10 e, no máximo, de 360 dias-multa. O valor do dia-multa
será fixado pelo juiz não podendo ser inferior a 1/30 do salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato,
nem superior a 5 vezes esse salário. O valor da multa será atualizado pelos índices de correção monetária,
na execução” (art. 49, §1º, §2º, CP).
Na Jurisprudência tem-se decidido que a correção da multa aplicada flui a partir da data do delito
(na data do delito – vem a sentença – dá-se a multa. O valor será fixado desde a data do delito), vez que a
multa é imposta com base no salário mínimo vigente ao tempo do fato.

CÁLCULO DA PENA DE MULTA – dá-se em duas etapas, ou, excepcionalmente em três etapas:
1º momento – o juiz fixa a quantidade dos dias-multa entre 10 a 360 dias-multa (art. 49, CP),
levando-se em consideração o art. 68 CP (critério trifásico da aplicação da pena); observando o art. 59 CP:
1º - as circunstancias judiciais: culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do
agente, aos motivos, às circunstâncias; conseqüências do crime; e o comportamento da vítima (art. 59)
2º - as circunstancias legais: atenuantes e agravantes
3º - incorporando no cálculo: as causas de aumento ou diminuição.
2º momento – o juiz fixa o valor de cada dia-multa que, no mínimo deve ser 1/30 do valor do
salário mínimo, não podendo ser superior a 5 vezes esse salário. Ex: na hipótese de uma pessoa que tenha
remuneração mensal de 30 salários (R$ 10.500,00), significa que o agente recebe em torno de 350,00 por dia
(um salário) equivale ao valor de cada dia multa. Ou uma pessoa que tenha remuneração mensal de
3.200,00 significa que o agente recebe por dia em torno de R$ 96,00 equivale ao valor de cada dia multa.
Nos 2 momentos o juiz deve conhecer os rendimentos, os investimentos, o patrimônio do
condenado, antes de fixar a quantia da multa; e, então, poderá surgir, excepcionalmente, o:
3º momento – quando o juiz devendo atender, principalmente, a situação econômica do réu, poderá
aumentar o valor da multa até o triplo, se considerar que, em virtude da situação econômica do réu, se
torne ineficaz, embora aplicada no máximo (art. 60, §1º, CP).

PAGAMENTO DA MULTA – após a sentença transitada em julgado, impondo pena de multa, os


altos deverão ir para o contador judicial que efetuará a atualização de seu valor.
O juiz, depois de ouvir o Ministério Público, homologa tal valor e determina a intimação do
condenado, para que no prazo de 10 dias efetue-se o pagamento.
É permitido pelo CP, no §1º do art. 50, que cobrança da multa seja efetuada mediante desconto no
vencimento ou salário do condenado, desde que não incida sobre os recursos indispensáveis ao seu
sustento e de sua família, quando: aplicada isoladamente; aplicada cumulativamente com pena restritiva
de direitos; concedida a suspensão condicional da pena.
Assim, efetuado o pagamento, por desconto nos vencimentos ou por ato do condenado, o juiz
decretará a extinção da pena.

FIXAÇÃO DA PENA EM GERAL – o juiz deverá observar o art. 59 e 68 CP e fixar a pena em três
etapas:
1º - as circunstancias judiciais: culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do
agente, aos motivos, às circunstâncias; conseqüências do crime; e o comportamento da vítima (art. 59)
2º - as circunstancias legais: atenuantes e agravantes
3º - incorporando no cálculo: as causas de aumento ou diminuição.

O art. 59 trás as circunstancias judiciais, começando pela culpabilidade. A culpabilidade refere-se ao grau
de reprovabilidade da conduta, de acordo com as condições pessoais do agente e as características do
crime.
ANTECEDENTES – são os fatos bons ou maus da vida pregressa do autor do crime. A reincidência
constitui agravante genérica aplicada na 2ª fase de fixação da pena (nas circunstancias legais atenuantes e
agravantes).
A reincidência deixa de gerar efeitos após 5 anos do término do cumprimento da pena, passando tal
condenação a ser considerada apenas para fins de reconhecimento de maus antecedentes à posição do
Ministério Público.
CONDUTA SOCIAL – refere-se ao comportamento do agente em relação às suas atividades
profissionais, relacionamento familiar e social, etc.
PERSONALIDADE – o juiz deve analisar o temperamento e o caráter do acusado, levando ainda
em conta a sua periculosidade. Portanto, personalidade é a índole do sujeito, seu perfil psicológico e moral.
MOTIVOS DO CRIME – são os precedentes psicológicos do crime, ou seja, os fatores que o
desenvolveram, que levaram o agente a cometê-lo.
Se o crime constituir qualificadora, causa de aumento ou diminuição de pena, agravante ou
atenuante genérica, não poderá ser considerado circunstância judicial, para se evitar bis in idem = dupla
exasperação (agravamento) da pena pela mesma circunstância.
CIRCUNSTÂNCIA DO CRIME – refere-se à maior ou menor gravidade do delito em razão dos
modus operantis, no que diz respeito aos instrumentos do crime, tempo de sua duração, forma de
abordagem, objeto material, local da infração.
CONSEQUÊNCIA DO CRIME - refere-se a maior ou menor intensidade da lesão produzida no
bem jurídico em decorrência da infração penal. Ex.: no crime de estorção mediante seqüestro (art. 159, CP),
o pagamento do resgate é mero exaurimento (esgotamento), pois o crime já havia se consumado com a
privação da liberdade da vítima. Porém acontece que a pena base deve ser fixada em patamar mais
elevado na hipótese em que os familiares da vítima efetivamente pagaram resgate, pois neste caso o crime
se reveste de maior gravidade por terem atingido dois bens jurídicos = liberdade individual + patrimônio.
COMPORTAMENTO DA VÍTIMA – se fica demonstrado que o comportamento anterior da vítima
de alguma forma estimulou a prática do crime ou, de alguma maneira, influenciou negativamente o
agente, a pena deverá ser abrandada.
As circunstâncias do art. 59 do CP, além de servirem de fundamento para que o juiz possa fixar a
pena base, são também relevantes em outros aspectos.
O juiz pode escolher entre as penas cominadas.
Assim, nos termos dos incisos I, III e IV do art. 59 deverão ser consideradas para que o juiz escolha a
pena aplicável dentre as cominadas (privativa da liberdade ou multa), para que fixe o regime inicial de
cumprimento da pena privativa de liberdade e para que avalie a possibilidade de substituição da pena
privativa de liberdade por outra espécie de pena nas hipóteses legais.
Além disso, os arts. 77 do CP e 89 da Lei 9.099/95 estabelecem respectivamente, que os sursis e a
suspensão condicional do processo só serão aplicados quando as circunstâncias do art. 59 CP autorizarem
o beneficio, ou seja, quando forem favoráveis ao acusado.
Obs.: art. 59, II, CP não pode sair do previsto mínimo e máximo, deixando claro que, nesta 1ª fase o
juiz jamais poderá sair dos limites legais previstos em abstrato para a infração penal, ou seja, a pena não
pode ser fixada acima do máximo ou abaixo do mínimo legal.

SEGUNDA FASE DA APLICAÇÃO DA PENA


Aplicação das agravantes e das atenuantes:
Fixada a pena base com fundamento no art. 59, CP o juiz passa para a 2ª fase, ou seja, a aplicação de
eventuais agravantes e atenuantes genéricas.
As agravantes estão descritas nos arts. 61 e 62, CP e as atenuantes nos arts. 65 e 66, CP.
O montante do aumento referente ao relacionamento de uma agravante ou de uma atenuante fica a
critério do juiz, não havendo um índice pré-estabelecido (na pratica ele usa 1/6 da pena). Da mesma forma
que ocorre com as circunstancias judiciais do art. 59, não pode o juiz, ao reconhecer a agravante ou
atenuante genérica, fixar a pena acima ou abaixo do mínimo legal.
Agravantes genéricas em espécies:
1. Reincidente (art. 63, CP) – nos termos do art. 63, CP, considera-se reincidente o agente que comete
novo crime depois de transitar em julgado a sentença que, no país ou no estrangeiro, o tenha condenado
por crime anterior.
Obs.: A contravenção praticada no exterior somada a contravenção praticada no Brasil não gera
reincidência. Ainda para fim de reconhecimento de reincidência, não se consideram os crimes militares
próprios e políticos (art. 64, II, CP).
Crimes militares próprios são aqueles descritos no Cód. Penal Militar, mas que não encontram
descrição semelhante na Legislação penal brasileira. Ex.: deserção (ausência por mais de 8 dias),
insubordinação, etc.
O fato de o agente ter sido condenado por um crime a pena de multa não exclui a reincidência.
Crime de tortura + crime de terrorismo = reincidência
Para efeito de reincidência não prevalecerá a condenação anterior, se entre a data do cumprimento
ou extinção da pena e o delito posterior tiver decorrido período de tempo superior a 5 anos.
Aplicação de “sursis” - O sursis significa suspender, ou seja, é a suspensão da execução da pena
imposta, visando facilitar a ressocialização do condenado. Mesmo que o réu tenha sido beneficiado pelo
sursis quanto à condenação penal irrecorrível anterior, este será considerado reincidente se praticar novo
crime, desde que obedecido o art. 64 do CP.
Agravantes
Art. 61, I - A reincidência se prova através de certidão judicial da sentença condenatória transitada
em julgada.
Obs.: O art. 120, CP determina que a sentença que concede o perdão judicial não induz à
reincidência, ou seja, se após a concessão do perdão o agente comete novo crime, será considerado
primário.
Obs.: há diferença entre a reincidência e o antecedente criminal. Antecedente criminal é analisado
pelo magistrado na fixação da pena-base, na 1ª fase da divisão; reincidência é analisada na 2ª fase do
cálculo da pena, após a fixação da pena-base.
Art. 61, II – tendo o agente cometido crime:
a) por motivo fútil ou torpe
Motivo fútil (qualificação) – um motivo insignificante e de pouca importância, sendo que há uma
grande desproporção entre o crime e a causa que o originou.
Motivo torpe – um motivo vil, repugnante, que demonstra a depravação moral do agente. Ex.: por
egoísmo, maldade, quando o agente mata um irmão para receber sozinho a herança.
b) para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime
Nesta agravante existe conexão entre dois crimes (vinculo processual que determina a união do
processo). A conexão pode ser teleológica, quando o crime é cometido para facilitar ou assegurar a
execução de outro crime (posterior ao 1º), ou conseqüencial, quando um crime é praticado para garantir a
ocultação, a impunidade ou a vantagem de outro crime (anterior).
c) à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso que dificultou ou tornou
impossível a defesa do ofendido.
Neste dispositivo, o agente aproveita-se da confiança que a vítima nele deposita para cometer o
crime.
Emboscada (tocaia) ocorre quando o agente aguarda escondido a passagem da vítima por
determinado local para contra ela cometer o ilícito penal.
Dissimulação é a utilização de artifícios para se aproximar da vitima, usando de falsa prova de
amizade, uso de disfarce, etc., por fim, o legislador refere-se a qualquer outro recurso que dificulte ou
torne impossível a defesa da vítima. Ex.: a surpresa.
d) com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que
podia resultar perigo comum.
Na tortura e no meio cruel o agente inflige um grave sofrimento físico ou moral à vítima.
No meio insidioso é usado de fraude ou armadilha para que o crime seja cometido de tal forma que
a vítima não perceba que está sendo atingida.
O perigo é aquele resultante de conduta que expõe à risco a vida ou patrimônio de um número
indeterminado de pessoas. Ex.: incêndio.
e) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge
A necessidade do aumento surge em razão da insensibilidade moral do agente que pratica o crime
contra uma dessas pessoas enumeradas na lei. A agravante abrange qualquer forma de parentesco
(consangüíneo ou civil). E na questão de concubina (companheira) não se aplica a agravante. A agravante
também não incide nos crimes em que o parentesco seja elementar, causa de aumento ou qualificadora.
Ex.: infanticídio, nos crimes contra os costumes e nos crimes do arts. 224 e 225 - Presume-se a violência, se
a vítima não pode, por qualquer outra causa, oferecer resistência, sendo que o crime é cometido com abuso
do pátrio poder, ou da qualidade de padrasto, tutor ou curador.
f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de
hospitalidade, ou com violência contra a mulher na forma da lei específica
No abuso de autoridade se refere às relações privadas e não públicas, porque para relação pública
há leis específicas.
Nas relações domésticas refere-se à ligação entre membros de uma mesma família.
Relações de coabitação indica que o autor e a vítima mora sob o mesmo teto, com animo definitivo,
enquanto que relação de hospitalidade ocorre quando a vítima recebe alguém em sua casa para visita ou
permanência temporária e este se aproveita da situação para cometer o crime a vítima.
Com violência contra a mulher que foi introduzida pela Lei nº 11.340/2006 e se refere a qualquer
tipo de violência praticada contra a mulher.
g) com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício, ministério ou profissão
Dever inerente a cargo e ofício refere-se a funcionário público.
Dever inerente ao ministério refere-se a líderes religiosos
Dever inerente a profissão abrange qualquer atividade exercida por alguém como meio de vida.
h) contra criança, maior de 60 anos, enfermo ou mulher grávida
Considera-se criança o menor de 12 anos.
Considera-se velho o maior de 60 anos, mas para o Direito Penal considera o maior de 70 anos.
Considera-se enfermo pessoa com doença, com grave eminência de vida.
Para as mulheres grávidas apenas se houver crime cometido contra ela ignorando seu estado.
Obs.: a agravante genérica referente ao estado de gravidez não se aplica ao crime de aborto por
constituir fato elementar deste crime (arts. 124, 125 e 126, CP)
i) quando o ofendido estava sob a imediata proteção da autoridade
O aumento é devido ante o desrespeito à autoridade e a maior audácia do agente.
j) em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou qualquer calamidade pública, ou de desgraça
particular do ofendido
É evidente a exacerbação da pena do agente insensível que se aproveita das facilidades decorrentes
de um momento de desgraça coletiva ou particular para cometer crime.
l) em estado de embriaguez preordenada.
Hipótese em que o agente se embriaga propositalmente para afastar seus freios naturais, e assim se
encorajando para cometer o crime.

Agravantes no caso de concurso de pessoas


O rol do art. 62 somente é aplicável no caso de concurso de pessoas (com 2 ou + agentes)
Art. 62, I, CP - a lei pune o indivíduo que promove a união dos agentes e atua como líder do grupo.
O mentor intelectual que planeja o crime a distancia, contrata pessoas, orienta-os, mesmo não estando
presente no local do crime.
A causa de aumento incide sobre o mentor intelectual, ainda que este não esteja no local da pratica
do delito.
Art. 62, II, CP – “A pena será ainda agravada em relação ao agente que: coage ou induz outrem à
execução material do crime”. Nessa hipótese o agente ameaça ou emprega violência contra outrem, para
levá-lo à prática do crime.
Nessa situação a agravante genérica incidirá apenas o participe (pessoa que coagiu ou induziu) que
terá a sua pena mais elevada do que o autor direto do crime. Na hipótese da coação o agente responderá
pelo crime praticado pelo executor direto (com a pena agravada e também pelo crime de tortura previsto
na Lei nº 9.455/97 art. 1º, I, b).
Art. 62, III, CP – “A pena será ainda agravada em relação ao agente que: instiga ou determina a
cometer o crime alguém sujeito à sua autoridade ou não-punível em virtude de condição ou qualidade
pessoal”.
Instigar é reforçar a idéia pré-existente; determinar significa mandar e ordenar. Para que se aplique
a agravante é necessário que a conduta recaia sob a pessoa que está sob autoridade, pública ou privada, de
quem instiga ou determina ou sobre pessoa não punível com razão de condição ou qualidade pessoal:
menoridade, doença mental, etc.
Obs.: vis relativa → coação moral; vis absoluta → coação física.
Art. 62, IV, CP – “A pena será ainda agravada em relação ao agente que: executa o crime, ou nele
participa, mediante paga ou promessa de recompensa”.
A paga é anterior a prática do crime; e recompensa é uma entrega posterior. Mas a agravante pode
ser aplicada, ainda que o autor daquela não o tenha efetivado após a pratica do crime.
O mandante irá responder como co-autor.
Art. 121, §2º, I – “Matar alguém: se o homicídio é cometido: mediante paga ou promessa de
recompensa, ou por outro motivo torpe – Pena: reclusão, de 12 a 30 anos”.
12 anos / 1/6 = agravante

art. 59 - trazendo as circunstâncias judiciais, começando pela culpabilidade, que se refere ao grau de
reprovabilidade da conduta, de acordo com as condições pessoais do agente e as características do crime
→ ¼ . sendo agravante não pode ser atenuante.

Circunstâncias Atenuantes – arts. 65 e 66, CP


Art. 65 – “São circunstâncias que sempre atenuam a pena”:
I – “ser o agente menor de 21 anos, na data do fato, ou maior de 70 anos, na data da sentença”. Essa
sentença é a de 1º grau, ou seja, logo posterior a ação penal.
II – “o desconhecimento da lei”. Sendo casos raríssimos e não existe jurisprudência a respeito.
Porque nos termos do art. 21, CP, o desconhecimento da lei é inescusável, sendo evitável não insenta o
agente de pena, servindo apenas para reduzi-la.
III – “ter o agente”:
a) “cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moral”. Sendo que no motivo de
relevante valor social diz respeito ao interesse da coletividade. Ex.: aquele que mata o traidor da Pátria. E
no motivo de relevante valor moral diz respeito a interesse particular. Ex.: o pai que mata o estuprador da
filha. → Art 121. Matar alguém: § 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor
social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, ou
juiz pode reduzir a pena de 1/6 a 1/3. é caso de diminuição de pena, mas que não terá benefício duplo.
b) “procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou
minorar-lhe as conseqüências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano”. Não se confunde com
arrependimento eficaz do art. 15, CP, pois sendo arrependimento posterior equivale ao art. 16 (nos crimes
cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o
recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de 1/3 a 2/3),
terá atenuante de minorar-lhe as conseqüências.
Quando a alínea fala em redução de pena para o agente que repara o dano antes da sentença, está se
referindo a sentença de 1ª instancia.
c) “cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade
superior, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima”. Sob coação moral a
que podia resistir, hipótese em que o agente responde pelo crime, mas a pena é reduzida. Sob
cumprimento de ordem de autoridade superior, que esta seja legal. Sob a influência de violenta emoção, é
influência duradoura.
d) “confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime”. Não se aplica atenuante
quando o agente confessa o crime perante a autoridade policial em juízo (delegado de polícia), e se retrata,
negando a pratica do delito diante do juiz.
e) “cometido o crime sob a influência de multidão em tumulto, se não o provocou”. Ocorre sempre
em brigas envolvendo grande número de pessoas. Ex.: no final de jogo de futebol.
Art. 66 - A pena poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância relevante, anterior ou
posterior ao crime, embora não prevista expressamente em lei.

Concurso de circunstâncias agravantes e atenuantes


Art. 67 – “No concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve aproximar-se do limite indicado
pelas circunstâncias preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam dos motivos determinantes
do crime, da personalidade do agente e da reincidência”.
Nos termos do art. 67, CP no concurso entre agravantes e atenuantes a pena deve se aproximar do
limite indicado pela preponderante, entendendo-se como tais os motivos do crime, da personalidade do
agente e da reincidência.
O dispositivo tem por finalidade esclarecer que o juiz, ao reconhecer uma agravante e uma
atenuante genérica, não deve simplesmente compensar uma pela outra. O magistrado deve dar maior
valor as circunstâncias preponderantes, quer seja agravante quer seja atenuante.
Esta análise deve ser feita caso a caso, mas o legislador esclareceu no dispositivo que as
circunstâncias preponderantes são de caráter subjetivo (motivo do crime, personalidade do agente,
reincidência).

Jurisprudência
A jurisprudência tem entendido que apesar do art. 67 não fazer nenhuma menção, o fato do agente
ser menor de 21 anos na data do fato deve preponderar sobre todas as circunstâncias.
Aplicação das causas de aumento e diminuição de pena (3ª fase), quanto ao critério trifásico. As
causas de aumento e diminuição podem estar previstas, tanto na parte geral quanto na parte especial do
CP e deve ser aplicadas pelo juiz na 3ª e última fase de fixação de pena.
Nas causas de aumento, o legislador utiliza índice de soma ou de multiplicação sobre a pena. Ex.: no
art. 121, § 4o - no homicídio doloso, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra
pessoa menor de 14 anos ou maior de 60 anos.
As causas de diminuição de pena caracterizam-se pela utilização de índice de redução a ser aplicado
sobre a pena fixada na fase anterior. Ex.: na tentativa, a pena é reduzida de 1/3 a 2/3 – art. 14, §ú, CP.
Obs.: diferentemente do que ocorre com as circunstâncias judiciais (art. 59, CP) com as agravantes e
atenuantes, as causas de aumento e diminuição da pena dão a possibilidade ao juiz de aplicar pena
superior à máxima ou inferior à mínima prevista em abstrato.
O art. 68, § ú., CP traça uma regra importantíssima, no sentido que, no concurso de causa de
aumento ou diminuição da pena, previstas na parte especial, pode o juiz limitar-se a um só aumento ou a
uma só diminuição, prevalecendo, todavia, a causa que mais aumente ou diminua.

Questionário para a prova


1. Quais as espécies de pena?
As espécies de pena são privativas de liberdade: reclusão e detenção; Restritivas de direitos:
prestação pecuniária, perda de bens e valores, prestação de serviços à comunidade ou a entidades
públicas, interdição temporária de direitos e limitação de fim de semana; e Multa.
2. Quais as penas privativas de liberdade?
As penas privativas de liberdade são: Reclusão: cumprida em regime fechado, semi-aberto ou
aberto. Detenção: cumprida em regime semi-aberto ou aberto, salvo a hipótese de transferência
excepcional para o regime fechado. Prisão simples: prevista apenas para as contravenções penais e pode
ser cumprida nos regimes semi-aberto ou aberto.
E em relação ao cumprimento: no regime fechado: a execução da pena se dá em estabelecimento de
segurança máxima ou média. No regime semi-aberto: o sentenciado cumpre a pena em colônia agrícola,
industrial ou estabelecimento similar. E no regime aberto: a pena é cumprida em casa do albergado ou
estabelecimento adequado, ou seja, o sentenciado trabalha fora durante o dia e à noite se recolhe ao
albergue.

3. Quais os requisitos para a progressão de regime?


Segundo essa regra, o condenado deverá gradativamente passar de um regime mais rigoroso para
um mais brando, desde que preenchidos os requisitos legais, a fim de estimular e possibilitar a sua
ressocialização, sendo vedada a progressão por saltos.
Na progressão do regime fechado para o semi-aberto, o condenado deve ter cumprido no mínimo
1/6 da pena imposta na sentença ou do total de penas,no caso de várias execuções. Devendo, também, o
sentenciado ter demonstrado bom comportamento carcerário, necessitando, ainda, de um parecer da
Comissão Técnica de Classificação e do exame criminológico facultativo.
Para a progressão do regime semi-aberto para o aberto, é necessário, inicialmente o cumprimento de
1/6 do restante da pena (quando iniciado no regime fechado) ou 1/6 do total da pena (quando iniciado no
regime semi-aberto). Exige-se, também, que o sentenciado tenha aceitado as condições do programa (da
prisão-albergue), impostas pelo juiz, que esteja trabalhando ou comprove a possibilidade de fazê-lo
imediatamente e que seus antecedentes e exames, a que se tenha submetido, demonstrem possibilidade de
ajustar-se, com autodisciplina e senso de responsabilidade, ao novo regime.

4. É imprescindível exame criminológico para a progressão de regime?


Segundo art. 8º da LEP (Lei de Execução Penal), a realização do exame criminológico é facultativo,
mas a oitiva do representante do Ministério Público é imprescindível para fim de progressão de regime,
sob pena de nulidade.
O STF tem entendido que em sua nova redação o art. 112 da LEP, é admitida a realização facultativa
do exame criminológico, desde que fundamentada e quando necessária à avaliação do condenado e de seu
mérito para a promoção a regime mais brando.
Podendo ser contestado, nos termos do §1º do próprio art. 112, que prevê a instauração de
contraditório sumário. A partir de interpretação sistemática do ordenamento (art. 33, §2º, do CP, e art. 8º,
da LEP), conclui-se, que a citada alteração objetivou introduzir critérios norteadores à decisão do juiz para
dar concreção ao princípio da individualização da pena.

5. O trabalho do preso é remunerado em nosso ordenamento jurídico? Fundamente sua resposta.


O CP, em seu art. 39, reza que “o trabalho do preso será sempre remunerado, sendo-lhe garantidos
os benefícios da Previdência Social”. O preso tem o direito social ao trabalho pelo art. 6º da Constituição
Federal. No art. 31 da LEP, o condenado à pena privativa de liberdade está obrigado ao trabalho, na
medida de suas aptidões e capacidade, sendo uma jornada de trabalho não inferior a 6 horas e nem
superior a 8 horas, com descanso nos domingos e feriados, assim estabelecido no art. 33 da LEP. Já o preso
provisório não está obrigado ao trabalho. Entretanto, as atividades laborterápicas lhes são facultadas e sua
prática dará direito à remição da pena, tão logo venha a ser aplicada.

6. É possível a detração penal em nosso ordenamento jurídico?


A detração está disposta no art. 42 do nosso ordenamento jurídico, onde é contado o tempo da pena
privativa de liberdade e da medida de segurança do período em que ficou detido o condenado em prisão
provisória, no Brasil ou no estrangeiro, de prisão administrativa ou mesmo de internação em hospital de
custódia e tratamento psiquiátrico ou em outro estabelecimento adequado”– arts. 42 e 41, CP.

7. Quais as penas restritivas de direito previstas em nosso ordenamento jurídico?


As penas restritivas de direitos são: prestação pecuniária; perda de bens e valores; prestação de
serviço à comunidade ou a entidades públicas; interdição temporária de direitos; e limitação de fim de
semana.
8. Qual o critério a ser seguido pelo juiz na aplicação da pena?
É feito o cálculo da pena em duas etapas, ou, excepcionalmente em três etapas:
1º momento – o juiz fixa a quantidade dos dias-multa entre 10 a 360 dias-multa (art. 49, CP),
levando-se em consideração o art. 68 CP (critério trifásico da aplicação da pena), observando o art. 59 CP,
que são: 1º - as circunstâncias judiciais: culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade
do agente, aos motivos, às circunstâncias; conseqüências do crime; e o comportamento da vítima (art. 59);
2º - as circunstâncias legais: atenuantes e agravantes; e 3º - incorporando no cálculo: as causas de aumento
ou diminuição.
2º momento – o juiz fixa o valor de cada dia-multa que, no mínimo deve ser 1/30 do valor do
salário mínimo, não podendo ser superior a 5 vezes esse salário. Ex: na hipótese de uma pessoa que tenha
remuneração mensal de 30 salários (R$ 10.500,00), significa que o agente recebe em torno de 350,00 por dia
(um salário) equivale ao valor de cada dia multa. Ou uma pessoa que tenha remuneração mensal de
3.200,00 significa que o agente recebe por dia em torno de R$ 96,00 equivale ao valor de cada dia multa.
Nestes 2 momentos o juiz deve conhecer os rendimentos, os investimentos, o patrimônio do
condenado, antes de fixar a quantia da multa; e, então, poderá surgir, excepcionalmente, o:
3º momento – quando o juiz devendo atender, principalmente, a situação econômica do réu, poderá
aumentar o valor da multa até o triplo, se considerar que, em virtude da situação econômica do réu, se
torne ineficaz, embora aplicada no máximo (art. 60, §1º, CP).

9. Qual o montante da agravante e atenuante a ser seguido pelo juiz na aplicação da pena?
O montante do aumento referente ao relacionamento de uma agravante (descritas nos arts. 61 e 62,
CP) ou de uma atenuante (descritas nos arts. 65 e 66, CP) fica a critério do juiz, não havendo um índice pré-
estabelecido (na pratica ele usa 1/6 da pena). Da mesma forma que ocorre com as circunstâncias judiciais
do art. 59, não pode o juiz, ao reconhecer a agravante ou atenuante genérica, fixar a pena acima ou abaixo
do mínimo legal.

10. A reincidência penal pode ser considerada como circunstância agravante e judicial?
Fundamente sua resposta.
A reincidência é uma circunstância que agrava a pena. Porém não gera reincidência, se entre a data
do cumprimento ou extinção da pena e a infração posterior tiver decorrido período de tempo superior a 5
anos, computado o período de prova da suspensão ou do livramento condicional, se não ocorrer
revogação; e para efeito de reincidência também não se consideram os crimes militares próprios e políticos.
A reincidência se prova através de certidão judicial da sentença condenatória transitada em julgada.
A reincidência é analisada na 2ª fase do cálculo da pena, após a fixação da pena-base.

A sentença que concede o perdão judicial não induz à reincidência, e assim, após a concessão do
perdão se o agente cometer novo crime, será considerado primário (art. 120, CP).

11. Diferencie agravante genérica prevista no art. 61, II, alínea “a” da prevista na alínea “f”.
Circunstâncias que sempre agravam a pena: ter o agente cometido o crime:
a) por motivo fútil ou torpe, sendo que o motivo fútil é um motivo insignificante e de pouca
importância, havendo uma grande desproporção entre o crime e a causa que o originou. E o motivo torpe é
um motivo vil e repugnante, demonstrando a depravação moral do agente; seja por egoísmo, por maldade,
como por exemplo: quando o agente mata um irmão para receber sozinho a herança.
f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de
hospitalidade, sendo que no abuso de autoridade refere-se às relações privadas e não públicas, porque
para relação pública há leis específicas. E nas relações domésticas refere-se à ligação entre membros de
uma mesma família. Já nas relações de coabitação indica que o autor e a vítima mora sob o mesmo teto,
com animo definitivo, enquanto que relação de hospitalidade ocorre quando a vítima recebe alguém em
sua casa para visita ou permanência temporária e este se aproveita da situação para cometer o crime a
vítima. E, ainda, com violência contra a mulher que foi introduzida pela Lei nº 11.340/2006 e se refere a
qualquer tipo de violência praticada contra a mulher.

12. Discorra sobre agravante genérica prevista no art. 62, II, CP.
Art. 62, II, CP – “A pena será ainda agravada em relação ao agente que: coage ou induz outrem à
execução material do crime”. Nessa hipótese o agente ameaça ou emprega violência contra outrem, para
levá-lo à prática do crime.
Nessa situação a agravante genérica incidirá apenas o participe (pessoa que coagiu ou induziu) que
terá a sua pena mais elevada do que o autor direto do crime. Na hipótese da coação o agente responderá
pelo crime praticado pelo executor direto (com a pena agravada e também pelo crime de tortura previsto
na Lei nº 9.455/97 art. 1º, I, b).
***********************

Art. 69, CP – Concurso Material – “Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão,
pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não”.
Quando isso ocorrer, as penas deverão ser somadas. No caso de aplicação cumulativa de penas de
reclusão e de detenção, executa-se primeiro a pena de reclusão.
Não se aplica concurso material quando estiverem presentes os requisitos do crime continuado
(crime da mesma espécie praticados nas mesmas condições de tempo, local e modo de execução).
Ausentes os requisitos do crime continuado, poderá ser aplicada a regra do concurso material, desde
que o agente tenha praticado o crime com duas ou mais condutas que impliquem o reconhecimento de
dois ou mais crimes - Exemplo: Tício, notabilizado pela prática de furto de veículos, logo após ter furtado
um deles, conduzia-o em alta velocidade em uma via pública, quando, de forma culposa, acabou por
atropelar e matar um transeunte. Relativamente a conduta delituosa tem-se que houve o “concurso
material” (com penas somadas).
O Concurso Material, também chamado de concurso real, pode ser homogêneo, quando os crimes
praticados forem idênticos será concurso material homogêneo – Exemplo: um agente comete um estupro e
um homicídio.
OBS: no caso de aplicação cumulativo de pena de reclusão e detenção, executa-se primeiro a pena
de reclusão.
Sendo aplicada a pena privativa de liberdade, não suspensa (sem aplicação de sursis), por um dos
crimes, em relação aos demais não será cabível a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva
de direitos.
Sendo aplicadas duas penas restritivas de direito (em substituição às penas privativas de liberdade)
o condenado as cumpriras simultaneamente se forem compatíveis, ou sucessivamente se não for possível o
cumprimento simultâneo.

Art. 70, CP – Concurso Formal – ocorre quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica
dois ou mais crimes, idênticos ou não.
Se os crimes forem idênticos (concurso formal homogêneo) será aplicada uma só pena aumentada
de 1/6 até 1/2 – Exemplo: agindo com imprudência, o agente provoca um acidente no qual morrem duas
pessoas. O juiz aplica a pena de um homicídio culposo, no patamar de um ano (supondo-se que o
magistrado tenha aplicado a pena mínima) e, na seqüência, aumenta-a de 1/6 chegando a pena de um ano
e 2 meses de detenção.
Se os crimes forem de natureza diferente (concurso formal heterogêneo) o juiz aplicará a pena do
crime mais grave, aumentada de 1/6 até 1/2 – Exemplo: em um só contexto o agente profere (pronunciar
em voz alta) ofensas que caracterizam calúnia e injúria contra a vítima. Neste caso o juiz aplica a pena de
calúnia (crime mais grave) e aumenta de 1/6 até 1/2 e deixando de aplicar a pena referente a injúria.
Embora, nesta hipótese do concurso formal heterogêneo, seja possível que ocorra uma injusta distorção na
aplicação da pena.
Exemplo: um crime do art. 213 – estupro – pena: reclusão, de 6 a 10 anos; e um crime do art. 130 –
perigo de contágio venéreo – pena: detenção, de 3 meses a 1 ano, ou multa. Suponha-se que o juiz fixa a
pena mínima para os dois crimes, sendo que a pena mínima do crime mais grave – estupro é de: 6 anos e a
pena mínima do crime menos grave – perigo de contágio venéreo é de: 3 meses. Se as penas forem
somadas atingirá 6 anos e 3 meses. Mas de acordo com a regra do art. 70, caput, chegaria a pena de 7 anos,
sendo 6 anos pelo estupro aumentada em 1/6. Na prática, a regra do concurso formal estaria a prejudicar o
acusado. Atento a esse detalhe, o art. 70, em seu § ú, estabelece que a pena resultante da aplicação do
concurso formal não pode ser superior àquela cabível no caso de soma de penas (art. 69). A esta hipótese
deu-se o nome de concurso material benéfico.
O concurso formal jamais teve por objetivo servir de estímulo a marginais, visando beneficiá-los na
aplicação da pena.

OBS: Suponha-se que A, querendo matar B e C, tranque-os em uma casa e nela coloca fogo,
matando-os ao mesmo tempo. Não seria justo, neste caso, a aplicação de uma só pena aumentada de 1/6
até 1/2. A solução encontra-se no art. 70, na segunda parte do CP – é o concurso formal impróprio (ou
imperfeito), no qual as penas serão somadas (como no concurso material), sempre que, mediante uma só
ação ou omissão dolosa, o agente praticar dois ou mais crimes, cujo resultado ele intencionalmente visava
– autonomia de desígnios em relação aos resultados.
• Com desígnios autônomos - concurso formal impróprio (ou imperfeito);
• Sem desígnios autônomos - concurso formal próprio (ou perfeito).

Art. 71 - Crime continuado - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois
ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras
semelhantes, podem ser tidos uns como continuação dos outros.
Exigindo-se a prática de duas ou mais condutas
Espécies:
• Crime continuado comum – crime cometido sem violência ou grave ameaça contra a pessoa,
onde aplica-se a pena do crime mais grave, aumentada de 1/6 até 2/3 ;
• Crime continuado especifico – crime doloso praticado com violência ou grave ameaça contra
diversas vitimas, onde aplica-se a pena do crime mais grave aumentada até o triplo.
Concurso material benéfico – se a pena resultar superior à que restaria se somadas as penas, aplica-
se a regra do concurso material (concurso material benéfico).

Art. 72, CP – Pena de multa no concurso de crimes – qualquer que seja a hipótese de concurso
(material, formal ou crime continuado) a pena de multa será aplicada distinta e integralmente, não se
submetendo a índices de aumento.
Art. 75, CP – Limite das penas - O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade, no
Brasil, não pode ser superior a 30 anos.
OBS: quando sobrevier condenação por fato posterior ao inicio do cumprimento da pena, far-se-á
nova unificação, desprezando-se para esse fim o período de pena já cumprida – Exemplo: réu condenado a
30 anos de reclusão, cumpre 10 e é libertado, ficando 20. Cometendo novo delito é condenado a 15 anos
que soma-se com os 20, ficando 45 anos, mas nosso Cód. Penal somente permite 30 anos – será o que o réu
cumprirá.

Art. 100, CP – Ação pública e de iniciativa privada - A ação penal pode ser pública ou privada. A
ação penal pública, nos termos do art. 129, I, CF, é de iniciativa exclusiva do Ministério Público.
OBS: No âmbito Estadual, os representantes do Ministério Público são os Promotores, seus
superiores são os Procuradores Gerais da Justiça.
No âmbito Federal são os Promotores Federais, ou também chamados de Procuradores da República
e seus superiores são os Procuradores Gerais da República.
• Na ação pública vigora o princípio da obrigatoriedade, ou seja, havendo indícios suficientes,
surge para o Ministério Público o dever de propor a ação.
A denúncia é a peça inaugural que dá inicio à ação pública.
OBS: quando há um crime, abre-se um inquérito público (ato administrativo), que é enviado ao
Ministério Público. Se constatado o crime, começa-se o processo depois da denuncia feita pelo Ministério
Público.
• A ação privada é de iniciativa, exclusiva, do ofendido. Sendo o ofendido menor de 18 anos
(incapaz), a titularidade do direito de queixa ou de representação, pertence ao seu representante
legal.
O legislador, atento ao fato de que determinados ilícitos atingem a intimidade das vítimas, deixa a
critério destas o inicio da ação penal.
A queixa-crime (notitia criminis) é a peça inaugural que dá inicio à ação privada, que é feita na
delegacia.
Na ação penal privada vigora o princípio da oportunidade ou conveniência, ou seja, ainda que
existam cabais de autoria e de materialidade, pode a vitima optar por ingressar com ação penal, para evitar
que aspectos de sua intimidade não venha à tona em juízo.
A ação penal somente tem inicio efetivo quando o juiz recebe a denuncia ou a queixa e, assim,
admitir a existência de indícios de autoria e materialidade da infração penal. Após determina a citação do
acusado para que este seja interrogado e produza sua defesa.
A ação penal pública pode ser:
• Incondicionada – quando o oferecimento da denuncia independe de qualquer condição
específica.
No silêncio da lei, o crime será de ação penal pública incondicionada (art. 100, caput).
• Condicionada – quando o oferecimento da denúncia depende da prévia existência de uma
condição.
A ação penal pública pode ser condicionada a representação da vítima ou de seu representante legal
ou a requisição do Ministro da Justiça.
A titularidade da ação penal continua sendo do Ministério Público, mas este somente pode oferecer
a denúncia se estiver presente a representação ou a requisição que tem natureza jurídica de condição de
procedibilidade (autorização para o início da ação).
A queixa ou a representação só podem ser feitas pelo ofendido ou seu representante legal.
A requisição só é feita pelo Ministro da Justiça.
A existência da representação ou da requisição não vinculam no Ministério Público, que goza de
independência funcional e, assim, poderá deixar de oferecer a denúncia, promovendo o arquivamento do
inquérito policial.
A representação será irretratável depois de oferecida a denúncia (art. 102, CP).
A ação penal privada subdivide-se em:
• Ação Privada Exclusiva – (art. 100, §2º, CP) - promovida mediante queixa do ofendido ou do seu
representante legal. Em caso de morte do ofendido ou de ter sido declarado ausente por decisão
judicial, o direito de oferecer queixa ou de prosseguir na ação, dentro do prazo decadencial de 6
meses, passa ao “cônjuge, ascendente, descendente ou irmão” (= “CADI”);
• Ação Privada Personalíssima – só pode ser intentada pelo ofendido e, em caso de seu
falecimento, antes ou depois, não poderá haver substituição para sua propositura ou
procedimento – Exemplo: art. 236, § único – “A ação penal depende de queixa do contraente
enganado e não pode ser intentada senão depois de transitar em julgado a sentença que, por
motivo de erro ou impedimento, anule o casamento”.
• Ação Penal Privada Subsidiária da Pública - aquela proposta pelo ofendido, quando o
Ministério Público, ao receber o inquérito policial que apura o crime de ação pública
(condicionada ou incondicionada), deixou de oferecer a ação penal pública no prazo legal de 5
dias para o indiciado que está preso, e de 15 dias se estiver solto.
OBS: Findo este prazo, sem que o Ministério Público tenha apresentado a denúncia, surge para o
ofendido o direito de oferecer queixa subsidiária dentro do prazo decadencial de 6 meses, a contar do
término do prazo do Ministério Público (quando se esgotou o prazo para o oferecimento da denúncia).
Prevista constitucionalmente no art. 5º, LIX – “será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se
esta não for intentada no prazo legal”.

=============================== F I M ===============================

PARTE ESPECIAL DO CÓD PENAL

Art. 121 do CP – “Matar alguém – pena: reclusão, de 6 a 20 anos”.


Conceito: homicídio é a eliminação da vida de uma pessoa por outra.
Objeto jurídico: (o bem protegido:) a vida humana extra-uterina. Se fosse intra-uterina seria
considerado aborto e não homicídio.
Objeto material: é a pessoa sob a qual recai a conduta.
Elementos do tipo e sujeitos do crime – o homicídio tem por ação nuclear o verbo matar, que
significa eliminar ou destruir, no caso, a pessoa, utilizando-se de qualquer meio de execução.
O homicídio é de ação livre, pois o tipo penal não descreve nenhuma forma de atuação específica a
ser observada pelo agente.
O agente pode lançar mão de todos os meios, não só material, para realizar o núcleo da figura típica
(matar).
→ Pode-se matar:
1. por meios físicos (ou materiais) – mecânicos; químicos; ou patogênicos. Entre os meios
mecânicos incluem-se os instrumentos perfurantes, cortantes, etc.; entre os meios químicos
incluem-se as substâncias corrosivas (ácido sulfúrico), que geralmente é utilizado para causar o
envenenamento da vítima; e, finalmente, entre os meios patogênicos incluem-se os vírus letais;
por ex.: o vírus da Aids.
2. por meios morais ou psíquicos, quando o agente se serve do medo e das emoções súbita da
vítima. Para alcançar seu objetivo.
3. por meio de palavras, por ex.: dizer a um cego para avançar em direção a um despenhadeiro.
4. por meio direto, quando o agente ataca o corpo da vítima desferindo-lhe facadas.
5. por meio indireto, quando o agente atrai a vítima para determinado local, onde a mesma fica
exposta a descarga de forte corrente elétrica, ou a ataque de uma fera (um cão bravo).
6. por ação ou omissão, sendo que, a ação é um comportamento positivo – “o facere” – ex.:
empurar a vítima num precipício; desferir disparos com arma de fogo ou matá-la a facadas. E
por omissão, que é um comportamento negativo – é um não fazer, sendo necessário, no caso
concreto, haver uma norma que determine o que deveria ser feito.
A chamada teoria Normativa, prevista no art. 13, § 2º - A omissão é penalmente relevante quando o
omitente devia e podia agir para evitar o resultado - Relevante omissão, do CP, onde está presente as 3
hipóteses daquele que tem o dever jurídico de agir. Ausente este dever, o agente não comete crime algum.
Sujeito ativo do homicídio é qualquer pessoa, pois trata-se de crime comum.
Os crimes hediondos trazida pela Lei n. 8.072/90 – sofreu alteração pela Lei nº 8.930/94, alterando a
redação do art. 1º, considerando hediondo o homicídio quando praticado em atividade típica de grupo de
extermínio, ainda que cometido por um só agente.
Sujeito passivo do homicídio é qualquer pessoa com vida – “qualquer ser vivo nascido de mulher”.
Mas há exceções para o sujeito passivo: quando atentar contra a vida do Presidente da República, do
Senado Federal, da Câmara ou do Supremo Tribunal Federal configurará a hipótese do art. 29 da Lei
7.170/93 – Lei de Segurança Nacional; da mesma forma, matar vítima menor de 14 anos ou idoso (60 anos)
de forma dolosa, a pena será aumentada de 1/3 – art. 121 §4º, da 2ª Parte do CP; e, finalmente, matar com a
intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso poderá caracterizar o
crime de genocídio – Lei 2.889/56.
Elemento subjetivo do crime de homicídio doloso é o dolo, o “animus necandi ou accidendi – que
consiste na vontade livre e consciente de matar.
• Dolo direto ou determinado – quando o agente quer realizar a conduta e produzir o resultado.
Ex.: o sujeito atira contra o corpo da vítima, desejando matá-la.
• Dolo indireto ou indeterminado – quando a vontade do agente não se dirige a certo e
determinado resultado. Há 2 formas: o eventual e alternativo. No dolo eventual, o agente não
quer diretamente o resultado, mas aceita a possibilidade (o risco) de produzi-lo, por ex.: o
agente que faz disparos contra seu adversário, prevendo e aceitando o fato de os projéteis
alcançarem, também, quem está por trás; no dolo alternativo, o agente não se importa em
produzir este ou aquele resultado, seja ferir ou matar.
• Dolo geral ou erro excessivo ou “aberratio causal” – quando o agente, tendo realizado a
conduta, supondo ter conseguido alcançar o resultado pretendido, pratica o que entende ser um
exaurimento, e neste momento atinge a consumação - por ex.: Tício esfaqueia a vítima e pensa
ter matado-a, ao tentar ocultar o cadáver, jogando-a ao rio, vem efetivamente matá-la por
afogamento.
Pergunta: haverá tentativa de homicídio pelas facadas em concurso com homicídio culposo? “foi
praticar a ocultação de cadáver e acabou matando-a” – ou homicídio doloso? O agente responderá por
homicídio doloso, pelo dolo geral.
Classificação Doutrinária do homicídio:
- É Crime Material, pois na consumação exige resultado naturalístico: morte.
- É Crime Instantâneo, porque a consumação se opera de maneira instantânea, não se prolongando
no tempo.
- É Crime de Efeitos Permanentes, uma vez consumado não há como desaparecer seus efeitos, pois
são irreversíveis.
Momento Consumativo do Homicídio
A prova da materialidade é o exame de corpo de delito, sendo o meio de prova pelo qual é possível
a constatação da materialidade do delito.
O CPP prevê 2 espécies de corpo de delito: direto e indireto.
• Exame de corpo de delito direto – sua realização é imprescindível nas infrações que deixam
vestígio. Realiza mediante inspeção e autópsia do cadáver, na busca da causa-mortis, sendo tal
exame devidamente documentado por laudo necroscópico.
• Exame de corpo de delito indireto – não sendo possível o exame de corpo de delito, por
haverem desaparecido os vestígios, por ex.: o cadáver, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a
falta – art. 167, CPP. Mas é exceção. Deste modo, a partir da palavra de testemunhas é possível
constatar o resultado naturalístico.
Obs.: Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou
indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado (art. 158, CPP).
***************************

Tentativa de Homicídio - salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena


correspondente ao crime consumado, diminuída de 1 a 2/3.
O homicídio é crime material, admitindo a tentativa, que ocorre quando o agente não chega a
consumação do crime por circunstâncias alheia a sua vontade – por ex.: Tício, após ser alvejado por
disparos de arma de fogo, é socorrido em hospital. No caso haverá tentativa de homicídio.
7. Tentativa imperfeita – trata-se da hipótese em que o agente não consegue utilizar-se de todos os
mecanismos que possui – por ex.: depois de efetuar 3 disparos contra a vítima, tendo 3 projéteis
a sua disposição, o agente é impedido de continuar a execução por interferência da polícia.
8. Tentativa perfeita – (acabada ou crime falho) – quando o agente realiza integralmente a fase
executiva, mas o crime não se consuma por circunstâncias alheias a sua vontade – por ex.: o
agente efetua todos os disparos de munição que dispõe em sua arma de fogo, mas a vítima é
salva por intervenção da polícia.
1ª Obs.: A desistência não se confundem com a tentativa, onde há vontade de consumação. Na
tentativa o resultado não produz por circunstâncias alheia à vontade do agente; já na desistência
voluntária e no arrependimento eficaz, o resultado não se produz por vontade do agente.
2ª Obs.: A desistência voluntária - somente é possível na tentativa imperfeita - art. 15 - O agente
que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza, só
responde pelos atos já praticados: por lesão corporal, pois ainda não percorreu toda a trajetória do delito,
iniciado os atos de execução, podendo deter-se voluntariamente. Na tentativa perfeita ocorre o
arrependimento eficaz após esgotar todos os atos de execução, arrepende-se e evita, com sucesso, a
consumação: o resultado naturalístico: a morte. Responde por mal que praticou: lesão corporal

Tentativa de Homicídio Branca - se o agente pratica todos os atos executórios, sem que a vítima
sofra qualquer lesão.
***************************

Art. 121, §1º do CP - “homicídio privilegiado” – o juiz pode reduzir a pena de 1/6 a 1/3.
Nomenclatura dada pela doutrina e jurisprudência. O dispositivo tem caráter subjetivo, motivo pelo
qual, em conformidade com o art. 30, CP, não se comunica aos co-autores e partícipes.
Art. 30, CP - Não se comunicam às circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando
elementares do crime. Neste art. é considerado elementar o crime de infanticídio, onde a mãe mata o
próprio filho “sob efeito a influência do estado puerperal”; o crime de peculato, onde o funcionário público
se apropria de bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em “razão do cargo que exerce” -
Nestes crimes elementares se comunica aos co-autores e partícipes. Mas não se comunica aos co-autores e
partícipes, quando as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, ou seja, de relevância social,
particular – de requisitos subjetivos.
Hipótese de Homicídio Privilegiado (art. 121, §1º, CP) - Caso de diminuição de pena
9. Impelido por motivo de relevante valor social – significa dizer que há especial importância a
sociedade, um sentimento geral, coletivo, com lealdade e o patriotismo – por ex.: aquele que
mata o traidor da pátria; matar um estuprador que está atacando um bairro.
10. Impelido por motivo de relevante valor moral – diferencia-se do valor social, pois o interesse é
particular, é pessoal, etc. – por ex.: matar uma pessoa de sua relação afetiva que se encontra em
estado agonizante = eutanásia; ou matar o estuprador de sua filha.
11. Sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima – diferencia-
se da atenuante genérica prevista no art. 65, III, c, CP, em que o agente age sob a “influência” da
violenta emoção, pois o estado “influência” menos intenso do que sob o “domínio” de violenta
emoção
1ª Obs.: sob a “influência da violenta emoção” – mata depois de meses ou anos influenciado por
aquele motivo que lhe causou violenta emoção; já sob o “domínio” de violenta emoção – mata na hora,
dominado pela violenta emoção.
2ª Obs.: se a forma privilegiada for reconhecida pelos jurados, em respeito à previsão constitucional
da soberania dos veredictos, o juiz, presidente do Tribunal do Júri, tem a obrigação de aplicá-la, embora a
redação do dispositivo contenha a expressão “o juiz pode”.
***************************

Homicídio Qualificado - art. 121, §2º do CP – pena: reclusão de 12 a 30 anos.


O art. 121, § 2º do CP – o Homicídio Qualificado traz circunstâncias legais que acarretam a
majoração do preceito secundário (que é a descrição da pena), de 6 a 20 anos, para 12 a 30 anos.
- O homicídio qualificado diz respeito aos motivos determinantes do crime e aos meios e modos de
execução da conduta, revelando uma maior periculosidade e extraordinário grau de perversidade do
agente, cujas conseqüências agravam a pena.
- O homicídio qualificado é considerado crime hediondo de acordo com a Lei nº 8.072/90 (Lei de
crimes hediondos) em seu art. 1º, I.
Homicídio Qualificado Privilegiado – tornou-se majoritária a posição doutrinária que admite a
existência do homicídio qualificado- privilegiado, desde que a circunstância qualificadora tenha caráter
objetivo, para coexistir com o privilégio, que é sempre subjetivo.
São de caráter objetivos os incisos III e IV; e de caráter subjetivos, os incisos I, II e V. Exemplos:
matar o estuprador da filha com veneno (privilegiado por relevante valor moral e qualificado por emprego
de veneno). Não se admite, ao contrário, situação duplamente subjetiva: matar o estuprador da filha por
motivo fútil.
A posição majoritária (maioria absoluta) afirma que o homicídio qualificado privilegiado não pode
ser considerado hediondo, uma vez que o privilégio é incompatível com a hediondez.
O privilégioso é uma causa de diminuição de pena. Enquanto a Qualificadoras aumenta
consideravelmente a pena.
• Art 121, § 2°, I – Se o homicídio for cometido: “Mediante paga ou promessa de recompensa, ou
por outro motivo torpe”:
* Necessita-se de interpretação analógica, pois fornece, primeiramente, exemplo casuístico e, no
final, utiliza-se da forma genérica.
• Mediante paga ou promessa de recompensa é qualificada por revelar a vileza do mercenário
que põe a sua criatividade criminosa a serviço do mandante, revelando nesta repugnante
atividade sua baixa torpeza – ex.: matar para receber a herança da vítima; matar o colega de
trabalho para ser promovido.
O homicídio cometido mediante paga é também conhecido como homicídio mercenário, distingue-
se paga que importa em prévio recebimento da simples promessa de pagamento, que significa a
expectativa do agente em receber.
• Outro motivo torpe é o motivo repugnante, vil, que fere o senso ético da coletividade e
demonstra imoralidade profunda.
O crime é qualificado pela torpeza. O CP se vale de uma forma casuística e depois genérica, sendo
necessário uma interpretação analógica.
A qualificadora aplica-se ao mandante e ao executor, ou só a este último. Este crime é
plurissubjetivo, pois exige duas pessoas: o mandante e o executor, e o motivo torpe é elementar.
Para alguns autores, a torpeza é circunstancia do homicídio de caráter subjetivo, motivo pelo qual
não se comunica ao mandante (art. 30 do CP).
Corrente majoritária – o motivo torpe é elementar do crime qualificado. O motivo torpe é o que vai
qualificar o crime – se não tiver esse motivo torpe será por motivo simples.
O mandante e o executor respondem pelo mesmo crime. Porque nesta espécie de homicídio
qualificado exigem-se no mínimo duas pessoas, por se tratar de um crime pluri-subsistente (continua a
existir). Como ensina o art. 29 do CP – “Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas
a este cominadas, na medida de sua culpabilidade” - ambos respondem pelo mesmo crime na medida de
sua culpabilidade.
• Art 121, § 2°, II – Se o homicídio for cometido: “Por motivo fútil” – que é um motivo
desproporcional, insignificante e inadequado – ex.: matar o garçom porque a comida está fria;
matar a esposa porque a roupa não está bem passada.
• Art 121, § 2°, III – Se o homicídio for cometido: “Com emprego de veneno, fogo, explosivo,
asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum”:
* Necessita-se de interpretação analógica, pois fornece, primeiramente, exemplo casuístico e, no
final, utiliza-se da forma genérica.
• Com emprego de veneno é uma qualificadora que reside na insídia (no poder de
convencimento) da ação delituosa, em regra, praticado por pessoa da confiança da vítima.
Veneno é qualquer substância que, introduzida no organismo, tem aptidão para lesionar ou
provocar a morte.
Obs.: o veneno deve ser introduzido sem o conhecimento da vítima. Se for ingerido com o
conhecimento dela, com força bruta do agente, não incide a qualificadora, mas por meio cruel.
• Com emprego de fogo - é, sem dúvida, meio cruel que pode ser também enquadrado no crime
de perigo comum.
• Com emprego de explosivo – é substância que atua com detonação ou estrondo, é matéria
capaz de causar rebentação (Magalhães Noronha).
• Com emprego de asfixia - que é o impedimento da respiração, matéria que diz respeito a
medicina legal. Pode ser realizado por 2 meios: o mecânico e o tóxico.
- A asfixia por meio mecânico: esganadura – que é a constrição do pescoço feita no corpo do agente –
ex.: a força das mãos; estrangulamento - que é a constrição do pescoço operada pelo peso do corpo da
vítima – ex.: a forca; sufocação direta – que é feita por meio de objetos que impedem a respiração – ex.:
pressionar o travesseiro no rosto da vítima; sufocação indireta – que é o impedimento da movimentação
torácica e, conseqüentemente, a respiração; afogamento – que é a imersão em meio líquido; soterramento –
que é a imersão em meio sólido.
- A asfixia por meio tóxico: inalação de gás e o confinamento, impedindo a respiração por falta de
oxigênio no local.
• Tortura – que se caracteriza pelo intenso e desnecessário sofrimento físico ou mental – ex.:
choques elétricos, mutilações, pau-de-arara, etc.
Até a promulgação da Lei de Tortura, não havia no Brasil legislação penal que conceituasse esse
crime. Com exceção da matéria dos direitos humanos, da qual o Brasil é signatário, a Convenção da ONU
sobre tortura e o Estatuto da Criança e do adolescente, que trazia no art. 233 um crime dessa natureza,
mesmo assim a conceituação era vaga e imprecisa e foi revogado pela Lei nº 9.455/97 – Lei de Tortura –
que delimitou um conceito legal do que vem a ser tortura em nosso ordenamento jurídico, no seu art. 1º,
§3º da Lei nº 9.455/97 – sendo que: art. 1º constitui crime de tortura: I - constranger alguém com emprego
de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental; II - submeter alguém, sob sua
guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou
mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo. §3º - “se resulta lesão
corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de 4 a 10 anos; se resultar morte, a reclusão
é de 8 a 16 anos”.
A diferença básica entre o homicídio qualificado pela tortura e o crime de tortura é o dolo.
No homicídio qualificado pela tortura o sujeito ativo utiliza a tortura como meio de execução do
crime de homicídio. E no crime de tortura o agente deseja torturar, mas a sua conduta, por culpa, provoca
a morte da vítima – esta hipótese trata-se de uma forma preterdoloso, com dolo de tortura e culpa no
resultado agravador de morte.
• Outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum – novamente o CP se
vale de uma forma casuística e depois, genérica, sendo necessário uma interpretação analógica.
- Meio insidioso é o meio enganoso, pérfido, que se realiza para atingir o resultado – ex.: o agente
adultera equipamentos médicos para que, com o seu uso, sobrevenha à morte da vítima.
- Meio cruel é o que causa sofrimento desproporcional e desnecessário à vítima – ex.: a tortura, o
veneno.
- Que resultar perigo comum é um ato que atinge um número indeterminado de pessoas, colocando
as mesmas em risco, o fogo e o explosivo pode resultar em perigo comum se empregados em grandes
proporções.
• Art 121, § 2°, IV – Se o homicídio for cometido: “à traição, de emboscada, ou mediante
dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido”:
* Necessita-se de interpretação analógica, pois fornece, primeiramente, exemplo casuístico e, no
final, utiliza-se da forma genérica.
• Traição – trai quem age de forma infiel, de modo sorrateiro, colhendo a vítima de forma
descuidada – ex.: matar o amigo, desprevenido, pelas costas.
Obs.: o ataque frontal e repentino não caracteriza traição, mas sim surpresa.
• Emboscada – é o ato de esperar a vítima em um ou em diversos lugares, por mais ou menos
algum tempo – ex.: a tocaia.
• Mediante dissimulação – é o ato de fingir, disfarçar, ocultar a sua real intenção. Pode ser
material – ex.: o agente usa de um disfarce para aproximar-se da vítima. Pode ser moral – ex.: o
agente finge falsa amizade com a vítima para conseguir uma aproximação e matá-la.
• Outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido – novamente o CP se
vale de uma forma casuística e depois, genérica, sendo necessário uma interpretação analógica.
Recurso que dificulte ou torne impossível à defesa do ofendido não pode ser o que é inesperado,
visto que é comum o homicídio; por isso, para qualificar o crime, o recurso utilizado pelo agente deve ser
um diferencial para incidir como diminuição de qualquer defesa da vítima.
• Art 121, § 2°, IV – Se o homicídio é cometido: “para assegurar a execução, a ocultação, a
impunidade ou vantagem de outro crime” - responderá por homicídio qualificado, com pena
de reclusão, de 12 a 30 anos.
Teoria teleológica (leva-se em conta a finalidade) – quando o homicídio é cometido com a finalidade
de assegurar a execução de outro crime – Se o agente comete homicídio contra a vida de um pai, para
assegurar a execução de outro crime, como por exemplo, seqüestrar o filho e pedir resgate para o avô,
responderá por homicídio qualificado em conjunto com a extorsão mediante seqüestro – trata-se de
homicídio em conexão com outros crimes.
Mas se a finalidade do agente é garantir a execução de uma contravenção → Não incidi em
qualificadora, porque o dispositivo fala em “crime” e não em “contravenção”, mas no caso concreto
poderá incidir em qualificadora do motivo fútil ou torpe.
No caso de um homicídio impossível – ex.: quando o agente dispara a arma em uma pessoa que já
estava morta, incide qualificadora? Não, porque neste caso não há crime, é atípico – quando o homicida
deseja assegurar a execução de um delito impossível.
Conexão teleológica – diz respeito ao futuro (crime praticado por vingança).
Conexão consequencial - diz respeito ao passado - quando o homicídio é cometido para assegurar a
ocultação, a impunidade ou a vantagem de um crime anteriormente praticado.
Diz-se que a ocultação é do crime e a impunidade é do agente.
1. Na ocultação, o autor mata para que a existência do crime não seja conhecida – ex.: matar a
testemunha que presenciou o furto cometido durante a madrugada.
2. Na impunidade, importa o agente manter desconhecida a autoria do delito – ex.: matar a vítima
ou a testemunha para não ser reconhecido.
Obs.: o crime anterior não precisa ter sido cometido pelo homicida – ex.: o pai que mata a
testemunha para assegurar a impunidade de seu filho que cometeu o crime.
Vantagem – é o que o agente adquiriu com a pratica do crime, pode ser patrimonial ou moral – ex.:
matar o co-autor para ficar com todo o dinheiro subtraído.
***************************

Homicídio culposo – art. 121, § 3º do CP – pena: detenção, de 1 a 3 anos.


O processo dos crimes previstos no art. 121, § 3º homicídio culposo e art. 129, § 6º lesão corporal
culposa do CP terá o rito sumário estabelecido nos arts. 531 a 538 do Código de Processo Penal, conforme a
Lei nº 4.611/65.
Para o Direito Penal somente importam as condutas impulsionadas pela vontade, ou seja, pelo dolo,
onde o indivíduo quer e assume o risco de um resultado ilícito. Na conduta culposa, há uma ação
voluntária, mas dirigida a uma finalidade licita, quando, pela quebra do dever de cuidado a todos
exigidos, sobrevém um resultado ilícito não querido, e cujo risco nem sequer foi assumido. Ex.: um
individuo na direção de seu automóvel imprime maior velocidade para chegar mais rápido ao serviço. A
ação é dirigida para uma finalidade inicial lícita que é “chegar mais rápido ao serviço”; contudo “imprime
maior velocidade no seu automóvel” é a quebra do dever de cuidado através de uma conduta imprudente;
assim não consegue frear a tempo de evitar um atropelamento de um transeunte; o resultado
“atropelamento” não coincide com a finalidade inicial do agente que era lícita.
Portanto para que o agente responda pela modalidade culposa do crime de homicídio é necessário
que as conseqüências de sua ação descuidada sejam previsíveis, pois a previsibilidade é elemento da culpa
que justifica a responsabilização do agente pela sua conduta descuidada.
O crime de homicídio culposo é um tipo penal aberto em que se faz a indicação pura e simples da
modalidade culposa, sem se fazer menção à conduta típica ou ao núcleo do tipo. A culpa está apenas
prevista genericamente no tipo (art. 18, II do CP).
***************************
Causas de aumento de pena: Art. 121, § 4º do CP – se o homicídio é culposo ou doloso, a pena é
aumentada de 1/3.
* Se o homicídio é culposo, se o crime resulta:
• da inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício;
• ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima;
• ou não procura diminuir as conseqüências do seu ato;
• ou foge para evitar prisão em flagrante.
Obs.: art. 18, II, CP - No homicídio culposo, a culpa se manifesta pela:
1. Imprudência – é uma ação, é um fazer demais, é a afoiteza do agente.
2. Negligência – ao contrário, é uma omissão, é um deixar de fazer.
3. Imperícia – é a falta de aptidão referente à uma arte ou ofício, é a ausência de conhecimentos
técnicos para exercê-los.
• Inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício – na imperícia o agente não possui
os conhecimentos técnicos para o exercício de sua profissão, arte ou ofício. Na causa de aumento
de pena há o conhecimento, mas o agente não o observa, incidindo o diapositivo, por ex., se o
médico possui os conhecimentos técnicos de sua profissão, mas durante a cirurgia não observa
os mesmos, e com isso vindo a causar a morte de seu paciente.
• Se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima – o agente efetua um disparo acidental
enquanto limpa a sua arma de fogo na presença de algumas pessoas. Ao atingir a vítima deve
prestar-lhe imediato socorro. Se sobrevier a morte, responde por homicídio culposo, com
incidência da causa de aumento.
Entretanto, não incide o aumento se não é possível prestar o socorro, sem risco pessoal, ou se já foi
prestado por terceiro. Também não incide a causa de aumento, se houver morte instantânea da vítima,
pois não se pode socorrer quem já morreu.
• Se o agente não procura diminuir as conseqüências do seu ato – trata-se de desdobramento
lógico do socorro prestado à vítima. Afere-se caso a caso, se o agente não procurou diminuir as
conseqüências de seu ato. Hipótese citada pela doutrina é a seguinte: o agente atinge
culposamente um médico; e durante o socorro a vítima aponta que estava a caminho do hospital
para realizar uma cirurgia complicada, e diz ser necessário avisar por telefone o ocorrido para
que se providencie um substituto. Cabe ao autor da lesão avisar o hospital e, com isso, diminuir
as conseqüências de seu ato.
• Se o agente foge para evitar prisão em flagrante – neste caso o agente visa impedir a ação da
justiça. Entretanto, não incide o aumento, no caso do agente fugir para não ser linchado.
Devendo ser aplicada neste caso uma analogia em “bonam partem”, assim, caso o autor do
homicídio culposo tenha prestado socorro imediato à vítima, não cabe prisão em flagrante, nos
moldes apregoados pelo art. 301 do CTB – Código de Trânsito Brasileiro – não mais existindo
esta causa de aumento no CP.
* O homicídio é doloso, se o crime resulta:
• De pratica contra pessoa menor de 14 ou maior de 60 anos – Teoria da Atividade: “considera-se
praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do
resultado”.
***************************

Art. 121, § 5º do CP - Perdão judicial - Na hipótese de homicídio culposo, permite ao juiz deixar de
aplicar a pena, quando as conseqüências da infração penal atingirem o próprio agente de forma tão grave
que a sanção penal se torne desnecessária – é causa extintiva da punibilidade prevista no art. 107, IX do CP
– o perdão judicial, nos casos previstos em lei.
Fundamento: percebe-se, em alguns casos, a desproporção entre as conseqüências físicas ou morais
do crime e a sanção penal prevista para o autor.
Imagine-se o condutor de um veículo que tenha suas pernas amputadas em razão do acidente, essa
conseqüência física é uma condenação perpétua. Embora, tenha agido de forma culposa, não há sanção
penal a ser aplicada, tornando-se, a mesma, desnecessária em razão das conseqüências físicas e morais da
infração.
Alcance do dano provocado pelo agente – é possível mensurar doutrinariamente a extensão do
dano. O que deve ser feito no caso concreto pelo juiz.
Natureza jurídica da sentença que concede o perdão judicial – existem 3 correntes doutrinárias:
1ª - Natureza Absolutória – (absolvição) – ao conceder o perdão judicial, absorve-se o réu.
2ª - Natureza Condenatória – O STF entende que só é possível perdoar quem é culpado. Por isso,
condena-se o agente, excluindo-o da sanção penal. Para essa corrente os efeitos secundários da condenação
persistem (lançamento do nome do réu no rol dos culpados, tendo responsabilidade pelas custas), com
relação a reincidência o art. 120 do CP exclui expressamente seus efeitos – posição de Fernando Capez.
3ª - Natureza Declaratória de extinção da punibilidade – conforme Súmula 18 do STJ – “a sentença
concessiva do perdão judicial e declaratória da extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito
condenatório”. Neste sentido, exclui-se todos os efeitos secundários da condenação (lançamento do nome
do réu no rol dos culpados, custas processuais, reincidência, etc)
***************************

É ilícito induzir ao suicídio – art. 146 – “Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça,
ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a
lei permite, ou a fazer o que ela não manda” – o constrangimento ilegal não compreende na disposição
desse art. a coação exercida para impedir suicídio.
Art. 122 do CP - pena: reclusão, de 2 a 6 anos, se o suicídio se consuma;
pena: reclusão, de 1 a 3 anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.
Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio – também chamado de autocídio – é a supressão
voluntária da própria vida. Por razões de política criminal, não se pune a tentativa de suicídio; apenas a
participação no suicídio de outrem.
Objeto Jurídico – é a proteção da vida humana.
Objeto Material – é a pessoa sob a qual recaí a conduta do agente de induzir, instigar ou auxiliar o
suicídio.
Sujeito ativo – qualquer pessoa.
Sujeito passivo – qualquer pessoa com capacidade de discernimento.
Obs.: se a vítima não possui compreensão sobre seus atos, por ex.: um doente mental que retira a
própria vida, convencida pelo agente, este comete crime de homicídio.
Núcleo do tipo (verbo) – é crime a participação no suicídio de outra pessoa, que pode ser moral
(induzir ou instigar) ou material (auxiliar). Portanto, existem 3 formas de condutas:
1. Induzir – significa embutir, inspirar, dar idéia a quem ainda não possui. A vítima não pensava
em sua morte, mas o agente introduz essa nova idéia em sua mente.
2. Instigar – é animar, fomentar, aumentar a idéia já existente na mente da vítima – ex.: ao
presenciar um desesperado com uma arma de fogo apontada para a própria cabeça, o agente
passa a incentivá-lo para que este puxe o gatilho.
3. Auxiliar – é a contribuição material para o suicídio. Essa ajuda é acessória ao ato de retirar a
vida – ex.: fornecer uma arma de fogo, entregar uma porção de veneno. Se o agente, mesmo a
pedido da vítima, pratica meios de execução que ocasiona a morte, comete crime de homicídio, e
não participação em suicídio.
Obs.: descreve o art. 14, II do CP – “Diz-se o crime tentado, quando, iniciada a execução, não se
consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente”. Na lei penal, para suicídio, é inadmissível a
tentativa de suicídio. Nosso ordenamento jurídico penal não pune nem suicídio nem autolesão.
Consumação do suicídio – ocorre com a morte da vítima ou com as lesões corporais de natureza
grave. Isso se dá pela redação do preceito secundário.
Obs.: preceito primário é a descrição da conduta; o preceito secundário é a descrição da sanção.
Para o agente que induziu ou instigou ou auxiliou, o preceito secundário da consumação do suicídio
é reclusão de 2 a 6 anos se o suicídio se consuma; de 1 a 3 anos se da tentativa de suicídio resulta lesão
corporal de natureza grave.
Obs.: se o fato constitui lesões de natureza leve, não será punido; tentativa não é admissível no
ordenamento.
Art. 122, I e II – são causas de aumento de pena – a pena é duplicada: se o crime é praticado por
motivo egoístico; se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.
Questões Importantes:
. Denomina-se crime de conteúdo variado ou tipo misto alternativo – o agente pode cometer crimes
contra a mesma vítima mediante uma ou mais condutas, sem que isso constituía concurso de crimes. O
agente responderá por apenas um crime – ex.: se o agente induz a vítima ao suicídio e depois, ainda, lhe
presta auxílio, comete infração única e não dois crimes em concurso material – responderá apenas pelo art.
122 do CP.
. se o agente obriga a vítima a ingerir o veneno e a mesma, com a resistência diminuída, o ingere, há
crime de homicídio.
. Na pratica aquele que elabora escrito genéricos ou musicais, com incentivo ao suicídio, não comete
crime – porque não é um incentivo a pessoa determinada. O tipo (art. 122) fala em induzir ou instigar
alguém, portanto, é necessário que seja uma determinada vítima.
. O aspecto de morte é o acordo de duas ou mais pessoas que resolvem morrer ao mesmo tempo.
Segundo o profº Damázio de Jesus, se duas pessoas se trancam em local fechado para morrem por asfixia,
por inalação de gás:
1º. Aquele que abre o gás e sobrevivi, responde por homicídio – uma vez que foi o executor da
morte do outro;
2º. Aquele que abre o gás e morre, sobrevivendo o seu pactuante, este responderá pelo art. 122 do
CF – por participação em suicídio;
3º. Se o agente abre o gás e se ele e seu pactuante sobrevivem com lesões graves, o que abriu o gás
responde por tentativa de homicídio, por ser executor dos atos, e o pactuante responde por participação
em suicídio.
Classificação doutrinária do suicídio:
- É Crime Material, pois na consumação exige resultado naturalístico: morte.
- É Crime Comum, pois pode ser cometido por qualquer pessoa.
- É Crime Instantâneo, porque a consumação se opera de maneira instantânea, não se prolongando
no tempo.
– É Crime de Conteúdo Variado.
– É Crime de Ação Penal Pública Incondicionado.
***************************

Crime de Infanticídio - Art. 123 do CP – pena: detenção, de 2 a 6 anos.


“Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após” – é
elementar ser mãe, estar sob a influência do estado puerperal e o próprio filho ser nascente (nascido na
hora do parto) ou neonato (recém-nascido), sendo desnecessária a perícia.
Objeto jurídico - proteger a vida humana.
Objeto material - é o filho nascente ou recém-nascido.
Sujeito ativo - trata-se de crime próprio, onde só a mãe pode ser autora.
Sujeito passivo - o filho nascente ou recém-nascido que é morto durante ou após o parto.
Ação Nuclear - a conduta – o infanticídio é a morte do nascente ou neonato provocada pela própria
genitora, que age sob a influência do estado puerperal.
O Núcleo do tipo - é matar, o infanticídio é uma espécie de homicídio privilegiado. Diferencia-se do
homicídio porque a autora pratica o crime com o seu filho durante ou logo após o parto e porque, também,
é imprescindível que esteja sob a influência do estado puerperal.
Estado puerperal: é período logo após o parto, que causam modificações físicas muito grandes e
importantes modificações psicológicas.
Portanto, o Estado Puerperal é um estado de transtorno físico e psíquico que ocorre na mulher em
conseqüência do fenômeno do parto. Essas alterações se dão ao longo da gestação e perduram após o
parto.
A jurisprudência considera estar sob influência do estado puerperal conforme a medicina, um
período que dura em torno de 6 a 8 semanas.
O puerpério é inerente ao parto, em maior ou menor grau de intensidade. Para Edílson Bonfim –
“por isso, é importante o exame de corpo de delito”. Para maior parte da doutrina não é imprescindível.
Se a mãe, sob a influência do estado puerperal, matar outro filho, responde por homicídio, pois a
vítima do infanticídio deve ser nascente ou recém-nascido.
Lapso temporal - para caracterização do infanticídio, o tipo penal exige que o fato ocorra durante o
parto ou logo após.
Para a doutrina a expressão “durante” abrange o início do parto, desde a ruptura da bolsa até o
nascimento. Para a doutrina, o problema é entender o alcance da expressão: “logo após”.
Segundo o profº Nelson Hungria, é necessário analisar o caso concreto, traçando um paralelo entre a
perduração do estado puerperal e a fase da inquietação ou bonança, quando a mãe restabelece seu instinto
maternal.
Elemento subjetivo - é o dolo direto ou eventual. Não há figura do infanticídio culposo. A mãe que,
durante o estado puerperal, mata o próprio filho por culpa, responde por crime:
1º - corrente – homicídio culposo, não havendo previsão por infanticídio culposo.
2º - concorrente – a mãe, sob influência puerperal, não responde nem por homicídio culposo nem
por infanticídio culposo, pois não há previsão na lei, recebendo o “perdão judicial”.
Consumação – o crime se perfaz no momento da morte do nascente ou recém-nascido. Também se
admite a tentativa de infanticídio.
Questões importantes:
• Não se reconhecem, no crime de infanticídio, as agravantes genéricas previstas no art. 61, II, e, h
(circunstancias agravantes: ter o agente cometido o crime: ou contra ascendente, descendente,
irmão ou cônjuge; ou contra criança); pois os crimes de infanticídio são elementares do crime
com previsão no art. 123 do CP.
Busca-se saber se existe co-autoria e participação no infanticídio:
• A 1ª corrente defendida por Damázio, Noronha, Frederico Marques, diz ser possível, conforme
dispõe o art. 30 do CP - as circunstâncias e as condições de caráter pessoal se comunicam,
quando elementares do crime – justamente o que ocorre no infanticídio. O estado puerperal é
condição de caráter pessoal, mas faz parte do tipo incriminador, comunica-se a todos, e as
demais pessoas que ajudarem a mãe no infanticídio são co-autores no crime de infanticídio, se
terceiros prestarem auxílio material ou moral são partícipes.
• A 2ª corrente defendida por Edílson Bonfim, diz ser inadmissível, pois o estado puerperal é
condição personalíssima que ultrapassa os limites do art. 30 do CP, sendo a circunstância
incomunicável; os demais participantes no crime de infanticídio respondem por homicídio e a
mãe por infanticídio.
Se outra pessoa praticar a conduta de matar o recém-nascido, sendo instigado pela mãe que está no
estado puerperal, responde:
• Uma parte da doutrina diz que a mãe seria partícipe do homicídio e aquele que matou o recém-
nascido responde por homicídio.
• Outra parte da doutrina diz que, uma vez, como partícipe do homicídio, a mãe deve receber
uma punição muito mais severa do que o infanticídio.
• Para harmonizar esta contradição, o autor deve responder pelo art. 121 (homicídio – pena:
reclusão, de 6 a 20 anos) e a mãe deve responder pelo art. 123 (infanticídio – pena: detenção, de 2
a 6 anos).
Classificação doutrinária:
- É Crime de Ação Penal Pública Incondicionado.
- É Crime Condicionado a representação pública.
- É Crime de Forma Livre, porque pode ser cometido por qualquer forma.
- É Crime Instantâneo, porque a consumação se opera de maneira instantânea, não se prolongando
no tempo.
- É Crime Material, pois na consumação exige resultado naturalístico: morte.
- É Crime Plurissubjetivo, porque é uma conduta integrada por vários atos.
- É Crime Próprio, porque demanda sujeito ativo qualificado.
***************************

Aborto: provocado pela gestante ou com seu consentimento – art. 124 – pena: detenção, de 1 a 3
anos.
“Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque”.
- Aborto Natural – não há crime, ocorre por causas patológicas, de forma espontânea.
- Aborto Acidental - não há crime, ocorre por traumas exteriores – ex.: queda acidental.
- Aborto Criminoso – a interrupção da gravidez é provocada de forma intencional. Estão elencadas
nos arts. 124 à 127 do CP.
- Aborto Permitido ou Legal – não se pune o aborto por expressa previsão legal – art. 128 do CP.
• Objetividade jurídica – o bem jurídico protegido é a vida, desde a concepção, mesmo antes de
sua total formação biológica e nascimento.
Se o crime for praticado por outrem, protege-se além do feto, a integridade física e a vida da
gestante.
• Objeto material – a conduta criminosa recai sobre o feto, geralmente a gestante também é objeto
material do crime; a prática abortiva resulta em agressão ao corpo da vítima.
• Sujeito ativo – no auto-aborto (art. 124, CP), só a gestante é autora, pois ela provoca aborto em
si mesma → trata-se de crime próprio. Nos demais tipos de aborto → trata-se de crime comum,
podendo ser praticado pelas demais pessoas.
• Sujeito passivo – é o produto da concepção → o feto, o nascituro.
No aborto provocado por terceiros, a mãe é sujeito passivo do crime, se não houver seu
consentimento.
No auto-aborto a vítima é o feto, se a gestante sofrer qualquer lesão, não será punida, pois o Direito
Penal não pune a autolesão.
Para o profº Mirabete, o feto nunca é vítima dos crimes de aborto, visto que não possui
personalidade jurídica, por isso não é titular de direitos (posição minoritária).
Entretanto, a posição majoritária diz que a vida humana intra-uterina é merecedora da proteção
penal, desde a concepção, sendo considerada sujeito passivo do crime.
• Elementos subjetivos – é o dolo direto ou eventual. Todos os tipos especificados como aborto
são dolosos. Se o aborto advém por culpa da gestante, o fato é atípico. Se a culpa é de terceiro,
responde pelo art. 129, §6º do CP, desde que, em razão do aborto, a mãe sofra lesão corporal
(art. 129, § 1º, IV – aceleração de parto).
É de se observar, que o aborto culposo tem relevância no CP – no art. 129, §2º, V, que prevê a lesão
corporal gravíssima, se da lesão dolosa resultar aborto → trata-se de tipo preterdoloso: dolo na lesão
contra a gestante e culpa no resultado de → trata-se de aborto.
• Consumação – é o crime material (que exige prova do resultado naturalístico). O momento
ocorre com a morte do produto da concepção.
Obs.: é possível que o feto continue dentro do ventre materno após a morte. O que não impede a
consumação do crime, pois a expulsão do feto não é elementar do tipo penal (a expulsão não está descrita).
Não há que se falar em aborto, se o feto já estava morto antes da conduta do agente.
• Crime impossível – art. 17 do CP – há também crime impossível se o meio empregado para o
aborto é absolutamente ineficaz – ex.: uso de medicamento inadequado.
• Tentativa – todas as formas de aborto admite a tentativa, quando iniciada a execução, o aborto
não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente.
Algumas hipóteses de tentativa:
4. O agente emprega meio idôneo para o aborto, mas o feto sobrevive sem ser expulso do ventre
da mãe – constitui tentativa de aborto.
5. Se o agente emprega meio idôneo para o aborto e o feto é expulso do ventre materno, mas
sobrevive, antecipando o parto – constitui tentativa de aborto.
Obs.: Se a intenção do autor era lesionar a gestante e não provocar o aborto, responde pelo art. 129,
§1º, IV → lesão corporal de natureza grave e que resulta
6. Se o agente tenta provocar o aborto com conduta absolutamente ineficaz e o feto permanece
vivo, não se pune o aborto, pois se trata de crime impossível.
7. Se, após a conduta abortiva, o feto é expulso e morre naturalmente fora do corpo da mãe. Trata-
se de aborto consumado, pois não é necessário que o feto morra dentro do ventre materno.
8. O agente que provoca o aborto, mas ao perceber que o feto é expulso com vida o agride para
provocar-lhe a morte, há claramente nova conduta que consiste em matar. Trata-se de concurso
material de tentativa de aborto e homicídio.
Perguntas e Respostas
1. O agente que pratica homicídio contra uma mulher grávida, tendo ciência da sua gravidez.
Responde por qual crime? O agente comete crime de homicídio em concurso com o crime de
aborto.
2. O agente que anuncia substância destinada a provocar o aborto, comete qual tipo de infração? A
infração que está prevista no art. 20 da Lei nº 3.688/41 - Contravenções penais - Anunciar
processo, substância ou objeto destinado a provocar aborto, sendo penalizado com multa.

Aborto: provocado por si mesma ou com o seu consentimento - art. 124 – pena: detenção, de 1 a 3
anos.
Objeto jurídico: é a vida do feto.
Objeto material: recai sobre o feto.
Sujeito do crime próprio só podendo ser cometido pela mãe, devida a expressão: “em si mesma”
Sujeito passivo é o feto.
Ação nuclear: “provocar”, que consiste em produzir, ocasionar.
A gestante que dá causa ao aborto usa de medicamentos abortivos ou meios mecânicos, tipo: sucção
do feto, raspagem, etc.
O tipo prevê uma segunda forma de conduta da gestante: seu consentimento; sua autorização; sua
permissão, que outro lho faça o aborto. De forma omissiva, a gestante suporta a conduta de outra pessoa,
para a produção da morte de seu filho.
Elemento subjetivo: o dolo (a vontade).
Consuma-se com a morte do feto. Da modalidade de consentir, após a permissão da gestante,
necessita-se, na pratica do aborto, a conseqüente morte do feto, para a consumação. E a tentativa é
possível, sendo aceita pelo CP.
Questões importantes
3. É crime de mão própria (só pela mãe) o tipo penal previsto no art. 124 do CP. Se é crime de mão
própria, não admite a co-autoria. Se terceira pessoa ajuda, materialmente, no aborto, responde
por delito autônomo (art. 126 do CP).
4. O crime de mão própria admite participação, através de instigação, ou auxilio, ou induzimento.
Ex.: o marido auxilia a esposa a ingerir medicamento para abortar, responde por participação no
crime de auto-aborto – partícipe (art. 124 do CP).

Classificação Doutrinaria
- É Crime de Mão Própria, só podendo ser cometido pela gestante, e não admite co-autoria.
- É Crime Material, pois na consumação exige resultado naturalístico: dano (com lesão).
- É Crime Comissivo Instantâneo, pois se consuma por ação de maneira instantânea.
- É Crime, também podendo ser, Omissivo, pois a consumação se dá por omissão da mãe.

Aborto: provocado por terceiro, sem o consentimento da gestante – art. 125 – pena: reclusão, de 3 a
10 anos.
Objeto jurídico e material se coincidem: a vida da gestante e do feto e a integridade física da
gestante.
Sujeito do crime: é crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa.
O sujeito passivo é duplo: atingindo o feto e a gestante, que não deu consentimento para a pratica
do aborto.
Ação nuclear: é “provocar” - idêntica a do art. 124.
Elementos subjetivos: é o dolo.
A consumação ocorre com a morte do produto da concepção (o feto). É possível a tentativa, por
exemplo, quando dois autores seguram a gestante para ministrar-lhe, à força, medicamentos abortivos,
sendo interrompidos por terceiros e o crime não se consuma por circunstâncias alheias a sua vontade.

Questões importantes
1. O art. 125 do CP tipifica o aborto sem o consentimento da gestante. Por esse motivo, a pena é
maior em relação às outras formas de aborto: reclusão, de 3 a 10 anos. Deduz-se que se a
gestante não permitiu o aborto, este é cometido com violência física, com grave ameaça.
2. a reincidência desse crime, independentemente, da discordância da gestante, nos casos em que a
lei presume não ser ela capaz de consentir, ocorrendo nas hipóteses do art. 126, § ú. do CP.
Classificação Doutrinaria
- É Crime Comum, pois pode ser cometido por qualquer pessoa.
- É crime de Dano, pois causa efetiva lesão ao bem jurídico tutelado.
- É Crime Instantâneo, porque a consumação se opera de maneira instantânea, não se prolongando
no tempo.
- É Crime Comissivo, porque se consuma por ação.
- É Crime Omissivo, pois a consumação se dá por omissão por parte do agente.
- É Crime de Forma Livre, porque pode ser cometido por qualquer forma.

Aborto: provocado por terceiro, com o consentimento da gestante – art. 126 – pena: detenção, de 1
a 4 anos.
Objeto jurídico do crime: protege a vida do feto.
Objeto material: recai sobre o feto.
Ação nuclear: “provocar” – sendo a mesma dos arts. 124 e 125.
Sujeito ativo: é qualquer pessoa.
Sujeito passivo: é o feto.
É importante notar que no art. 126 do CP, a gestante dá consentimento para o aborto. Em princípio,
a pessoa que provocasse o aborto deveria, também, responder pelo art. 124 do CP, o fundamento da Teoria
Unitária ou Monista da ação. Para essa Teoria, todos que colaboram para o crime respondem pelo mesmo.
Mas não é o que acontece no presente caso; enquanto a gestante, que deu o consentimento, responde pelo
art. 124, o terceiro que realizou o aborto, responde pelo art. 126. essa distinção é exceção da Teoria Monista.
Foi adotada a Teoria Pluralística da ação, na qual cada um responde por um crime.
Elementos subjetivos – é o dolo. Não forma culposa.
Consumação ou tentativa – se consuma com a morte do feto. Admite-se a forma tentada.
Discordância real ou presumida – (§ ú. do art. 126 do CP) – prevê situações que retiram a validade
da vontade da gestante, motivo pelo qual o autor do aborto responde pelo art. 125 do CP. Em primeiro
lugar, não se pode aceitar o consentimento da gestante não maior de 14 anos, alienada ou débil mental,
nestes casos a violência é presumida. Em segundo lugar, há contrariedade com o aborto real, pois seu
consentimento foi conseguido através de mediante violência física ou moral ou fraude.
Classificação doutrinaria
- É Crime Comum, pois pode ser cometido por qualquer pessoa.
- É Crime Instantâneo, porque a consumação se opera de maneira instantânea, não se prolongando
no tempo.
- É Crime Material, pois na consumação exige resultado naturalístico: morte.
- É crime de Dano, pois causa efetiva lesão ao bem jurídico tutelado.

• Art. 127 do CP – Formas qualificadas – o aborto só será qualificado nas hipóteses dos arts. 125 e
126 (não se engloba o art. 124, porque o CP não pune autolesão). Com relação a hipótese de
terceira pessoa ser partícipe do crime do art. 124 do CP e do crime resultar lesão grave ou morte
da mãe, não se aplica o art. 127, uma vez que o CP determina expressamente a majoração apenas
nos crimes previstos nos arts. 125 e 126. portanto, o partícipe responde pelo crime previsto no
art. 124, e se houver culpa, pelo art. 121 – “homicídio culposo”.

• Lesões Graves – são absorvidas pelo aborto. A interrupção voluntária da gravidez, por si só, já
provoca uma agressão ao corpo da gestante. O dispositivo, ao falar em lesão grave ou morte,
cuida de resultado anormal de aborto, ou seja, uma lesão extraordinária para a gestante e, por
isso, merece uma maior sanção penal.
Obs.: essa lesão anormal resulta da análise do caso concreto

• Forma Preterdolosa – o resultado agravador só é atribuído a titulo de culpa. Uma das espécies
de crime qualificado pelo resultado - é a forma preterdolosa (dolo no antecedente + culpa no
conseqüente).
Com efeito, se o agente quer a morte do feto e também da gestante, responde por aborto em
concurso com homicídio.

• Art. 128 do CP – Aborto necessário – é um aborto legal, excluindo o crime. Trata-se de uma
norma penal não incriminadora, mas permissiva (permitida), prevista na parte especial do CP.
O artigo prevê em seu inciso I o aborto necessário ou terapêutico. E no inciso II o aborto sentimental
ou humanitário, ambos são espécies de aborto legal ou permitido.
O dispositivo em comento (comentado) trás duas espécies especiais de exclusão da ilicitude.
O aborto necessário do art. 128, I do CP – para sua realização há necessidade do preenchimento de 3
requisitos:
1º - que este aborto seja praticado por médico.
Obs.: Caso seja necessário a realização do abordo por pessoa sem habilitação profissional de médico
(parteira, farmacêutico, enfermeiro, etc.) apesar de ser fato típico, estará o agente acobertado pela
excludente da ilicitude prevista no art. 24 do CP (está de necessidade).
2º - perigo de vida da gestante.
Obs.: Não basta o perigo para a saúde da gestante, tem que ser perigo de vida.
3º - a impossibilidade de outro meio para salvá-la.
Obs.: Não basta para o médico escolher o meio mais cômodo, por se houver outra maneira, que não
a interrupção da gravidez, para salvar a vida da gestante, o agente responderá por crime.
Entende a melhor doutrina que não há necessidade o consentimento da gestante, basta o
profissional entender que o abordo é indispensável. Não é necessário a autorização judicial.
***************************

Questionário
------------------------------------------------------------
1. Quanto a hediondez, no que se refere ao delito de homicídio, será correto afirmar que: os crimes
hediondos, após ter sofrido alteração pela Lei nº 8.930/94, é considerado hediondo o homicídio quando
praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente (simples). O
homicídio qualificado privilegiado não pode ser considerado hediondo, uma vez que o privilégio é
incompatível com a hediondez.
2. Com relação à classificação doutrinária do crime de homicídio, pode-se afirmar que ele é: comum,
material e instantâneo de efeitos permanentes.
3. Tício auxilia o seu vizinho, de 12 anos de idade, a praticar suicídio, entregando-lhe uma dose fatal
de veneno. O menino morre após ingerir o veneno. Tício responderá por: crime de homicídio qualificado
pelo veneno, com causa de aumento de pena, por ser a vítima menor de 14 anos.
4. Na tentativa de homicídio, o agente está animado pela vontade de: tirar a vida da vítima, razão
porque usaria de tudo a seu alcance até consumar execução: tirar a vida da vítima, porém o agente não
chega a consumação do crime por circunstâncias alheia a sua vontade. “Na tentativa, iniciada a execução,
só não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente”.
5. Tício, logo após o nascimento de seu filho, ocorrido na sua residência, percebeu que a cabeça do
mesmo apresentava deformidade; sorrateiramente envolveu a criança em um lençol e a jogou no lixo,
tendo ocorrido a morte por asfixia, comprovada na necropsia. Tício responderá por: homicídio qualificado.
6. O fato do marido traído ministrar substância letal no organismo de sua esposa e, logo em seguida,
injetar antídoto que a salva, sem que daí advenha nenhuma lesão, constitui: arrependimento eficaz.
7. Os crimes culposos; os crimes preterdolosos; as contravenções; os crimes omissivos próprios são
condutas que não admitem a tentativa exceto: os crimes plurissubsistentes.
8. Constitui requisitos subjetivos do estado de necessidade: a consciência do agente da situação de
perigo e de agir para evitar a lesão.

. Discorra sobre embriaguez acidental e não acidental. A embriaguez acidental é proveniente de


caso fortuito ou força maior; se for completa, exclui a imputabilidade, desde que o agente tenha ficado
inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com tal
entendimento - art. 28, §1º do CP. A embriaguez não-acidental trata-se de embriaguez voluntária ou
culposa, pelo álcool ou por substâncias de efeitos análogos, neste caso não se exclui a imputabilidade
penal, pois ao embriagar-se, sabia da possibilidade de praticar o delito e era livre para decidir – art. 28, II
do CP.

. A conexão ocasional está prevista no art. 121 § 2º, V do CP. Quando ela ocorre? Como é
qualificado o homicídio? A conexão ocasional quando um delito é cometido em virtude da oportunidade
surgida pela prática de outro delito. O homicídio é cometido para assegurar a execução, a ocultação, a
impunidade ou vantagem de outro crime – o agente realiza 2 ou + condutas e responde por concurso
material de crime. O agente responderá por homicídio qualificado, com pena de reclusão, de 12 a 30 anos.
/ Se o agente comete homicídio contra a vida de um pai, para assegurar a execução de outro crime, como,
por exemplo, seqüestrar o filho e pedir resgate para o avô, responderá por homicídio qualificado em
conjunto com a extorsão mediante seqüestro – trata-se de homicídio em conexão com outros crimes. / Mas
se a finalidade do agente é garantir a execução de uma contravenção → Não incidi em qualificadora,
porque o dispositivo fala em “crime” e não em “contravenção”, mas no caso concreto poderá incidir em
qualificadora do motivo fútil ou torpe.

. Considerando o crime do art. 122 do CP - Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio - Quem


pode ser sujeito passivo? Qual o elemento subjetivo? Quando se consuma? O sujeito passivo é qualquer
pessoa com capacidade de discernimento. O elemento subjetivo é o dolo direto ou eventual: o
Induzimento, a instigação ou o auxílio à vítima para o suicídio. Se consuma quando ocorre a produção do
resultado: a morte da vítima ou lesões corporais de natureza grave proveniente da tentativa.

. No crime de homicídio é necessário o exame de corpo de delito direto? Fundamente - É


necessário sim, porque os crimes deixam vestígio, e o laudo necroscópico é o documento do resultado da
autópsia do cadáver, revelando as provas da causa-mortis.

. No crime de homicídio, quais os meios que os agentes podem lançar mão para realizar o núcleo
da figura típica? O agente pode lançar mão de todos os meios para matar: por meios físicos ou materiais
(patogênicos; mecânicos; químicos); por meios morais ou psíquicos; por meio direto e indireto; por ação ou
omissão; até por meio de palavras.

. No homicídio privilegiado, a redução é obrigatória? O juiz pode reduzir a pena de 1/6 a 1/3, se a
forma privilegiada for reconhecida pelos jurados - em respeito à previsão constitucional da soberania dos
veredictos. Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o
domínio de violenta emoção.

. É possível o homicídio qualificado privilegiado? É majoritária (maioria absoluta) a corrente que


admiti o homicídio qualificado privilegiado, desde que as circunstâncias qualificadoras tenham caráter
objetivo para coexistir com o privilégio de cunho subjetivo.

. O homicídio privilegiado é crime hediondo? Não. O homicídio privilegiado não pode ser
considerado hediondo, porque o privilégio é incompatível com a hediondez. O homicídio hediondo é
apenas a qualificação do delito praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que este seja
cometido por apenas um agente: homicídio simples. O homicídio privilegiado, previsto no art. 121, § 1º do
CP, é aquele em que o agente é impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio
de violenta emoção, logo em seguida à injusta provocação da vítima, portanto de caráter subjetivo.

. Qual a natureza jurídica do homicídio qualificado? O homicídio qualificado, previsto no art. 121,
§ 2º do CP, é causa especial de aumento da pena, possuindo certas circunstâncias agravantes: motivos
determinantes do crime; meios e modos utilizados na execução, indicando as motivações de alto grau de
periculosidade ou perversidade do agente.

. Discorra sobre a cláusula especial de aumento de pena, previsto no art. 121, §4º - inobservância
de regra técnica de profissão, arte ou ofício. R: A cláusula especial de aumento de pena são aplicáveis com
respeito às modalidades culposa e dolosa do delito de homicídio. O agente tem o conhecimento técnico
para o exercício de sua profissão, ou arte, ou ofício, mas não o observa. Por exemplo: um médico ser capaz
de realizar uma intervenção cirúrgica sem prévio pedido dos exames necessários, o que leva ser causa da
morte do paciente.

. Qual a natureza jurídica da sentença que concede o perdão judicial? O perdão judicial extingue a
punibilidade, mas é somente aplicável aos casos expressamente previsto na lei. O juiz deverá verificar se
há prova do fato e da autoria, se há causa excludente de ilicitude e da culpabilidade, caso entenda que sim:
ele afasta todos os efeitos da condenação, principais e secundários - não há nenhuma substituição de efeito
condenatório – entendimento do STJ - natureza declaratória. Mas o STF entende que a sentença tem
natureza condenatória – condena-se o réu, deixando de aplicar a pena, concedendo o perdão. Mas apenas
afasta o efeito principal da condenação, e os efeitos secundários da condenação permanecem, como sanção,
o agente terá obrigação de reparar o dano e terá seu nome lançado no rol dos culpados.

. Diferencie o estado de necessidade, de legítima defesa - o estado de necessidade, previsto no art.


24 do CP, é quando o agente pratica um fato para salvar de perigo atual, que não foi provocado por sua
vontade, nem podia de outro modo evitar, e nas circunstancias, não tendo outros meios senão lesar o
interesse legítimo de outrem. Legítima defesa, previsto no art. 25 do CP, é quando alguém, usando
moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de
outrem.
. Tício, supondo seu inimigo a dormir, quando na realidade está morto, desfecha-lhe punhaladas.
Qual o crime que Fulano cometeu? Trata-se de conduta que não se enquadra em tipo penal algum: uma
conduta atípica, se a conduta não é típica, não há que se cogitar de ilícito penal.

. Diferencie tentativa imperfeita de tentativa acabada - quando o processo executório da intenção


delituosa é interrompido por circunstâncias alheias à vontade do agente. A tentativa é punida com a pena
correspondente ao crime consumado, diminuída em 1 a 2/3. Tentativa acabada: quando o processo
executório da intenção delituosa é integralmente realizado pelo agente, porém o resultado não acontece
por circunstâncias alheias à sua vontade.

. Diferencie o momento consumativo do aborto, do momento consumativo do infanticídio - a


consumação do crime do aborto é a interrupção da gravidez, que ocorre com a morte do produto da
concepção (a extinção da vida intra-uterina). A consumação do crime do infanticídio ocorre com a morte,
logo após o nascimento, do nascente ou neonato provocada pela própria mãe, que age sob a influência do
estado puerperal.
. Diferencie o homicídio qualificado pela tortura, do crime de tortura qualificado pela morte
previsto na Lei nº 9.455/97 – a diferença básica é o dolo: o “animus necandi ou accidendi – que consiste na
vontade livre e consciente de matar. No homicídio qualificado pela tortura o sujeito ativo utiliza a tortura
como meio de execução do crime de homicídio. E no crime de tortura o agente deseja torturar, mas a sua
conduta, por culpa, provoca a morte da vítima – esta hipótese trata-se de uma forma preterdoloso, com
dolo de tortura e culpa no resultado agravador de morte.

. Cabe co-autoria no infanticídio? Fundamente sua resposta – existem duas correntes doutrinárias
que buscam saber se existe co-autoria no infanticídio - A 1ª corrente afirma ser possível, conforme dispões
o art. 30 do CP - as circunstâncias e as condições de caráter pessoal se comunicam, quando elementares do
crime – justamente o que ocorre no infanticídio. O estado puerperal é condição de caráter pessoal, mas faz
parte do tipo incriminador, comunica-se a todos. Assim, as demais pessoas que ajudarem a mãe na
conduta de matar o próprio filho, são co-autores do infanticídio. Se terceiros prestarem auxilio material ou
moral são partícipes (Damázio de Jesus, Noronha, Frederico Marques). A 2ª corrente afirma ser
inadmissível, pois o estado puerperal é condição personalíssima que ultrapassa os limites do art. 30 do CP,
sendo a circunstância incomunicável; os demais participantes respondem por homicídio, e a mãe por
infanticídio (Edílson Bonfim).
Se outra pessoa praticar a conduta de matar o recém-nascido, sendo instigado pela mãe que está no
estado puerperal, responde: pelo art. 121 (homicídio – pena: reclusão, de 6 a 20 anos) e a mãe deve
responder pelo art. 123 (infanticídio – pena: detenção, de 2 a 6 anos).

. Diferencie o homicídio torpe de homicídio fútil – são modos e meios subjetivos utilizados na
execução do crime de homicídio qualificado (art. 121, § 2º do CP). O homicídio torpe é o motivo
repugnante, vil, que fere o senso ético da coletividade e demonstra imoralidade profunda – trata-se de um
crime plurissubjetivo, que exige duas pessoas: o mandante e o executor; e o motivo torpe é elementar do
crime qualificado com caráter subjetivo. O homicídio fútil é um motivo desproporcional, inadequado, não
sendo causa para o cometimento do crime de homicídio, por tamanha a sua insignificância.

. É possível co-autoria no crime previsto no at. 122 (induzimento, instigação ou auxílio a suicídio);
fundamente sua resposta - o núcleo do tipo é a participação no suicídio de outra pessoa. Esta participação
pode ser moral (no ato de induzir ou instigar) ou material (no ato de auxiliar). A lei incrimina atos, a título
de dolo, nos quais qualquer pessoa (o agente partícipe) vá contribuir de algum modo para que o crime se
realize, seja por induzimento, instigação ou auxílio, que leva a vítima a cometer o suicídio.
Obs.:
"induzir" é persuadir, formar a vontade do outro, criando a idéia do suicídio na mente da vítima
quando ela jamais havia pensado na hipótese.
"instigar" é animar, reforçar, estimular uma idéia pré-existente, quando a vítima já havia
mencionado a intenção do suicídio.
"auxiliar" é uma participação material (fornecimento de arma, veneno, por ex.), é ajudar, favorecer,
facilitar a sua realização, sabendo do interesse do suicídio na vítima. Sendo que auxiliar é ajudar e não
participar.
"co-autoria" é quando os agentes, de comum acordo, praticam a mesma conduta criminosa:
auxiliam-se, reciprocamente, visando o mesmo fim.

. Diferencie o homicídio qualificado privilegiado, do homicídio qualificado; explique sua


resposta – é admitido doutrinariamente o homicídio qualificado privilegiado, desde que as circunstâncias
qualificadoras tenham caráter objetivo para coexistir com o privilégio que é de cunho subjetivo. Sendo de
caráter subjetivo os incisos I, II e V e de caráter objetivo os incisos III e IV, todos do art. 121, § 2º do CP. O
homicídio qualificado privilegiado não é considerado hediondo, pois o privilégio prepondera sobre a
qualificadora, retirando assim a hediondez do delito, optando-se, assim, por aquele mais leve ao réu,
sendo o privilégio causa de diminuição de pena.
Já o homicídio qualificado diz respeito aos motivos determinantes do crime e aos meios e modos de
execução da conduta, revelando uma maior periculosidade e extraordinário grau de perversidade do
agente, cujas conseqüências agravam a pena. Sendo considerado crime hediondo de acordo com a Lei nº
8.072/90 (Lei de crimes hediondos) em seu art. 1º, I. Portanto, é crime hediondo somente à forma
genuinamente qualificada.
***************************
Art. 129 do CP – Lesão corporal – sendo tratado pelo CP da seguinte forma:
1. Lesão corporal dolosa simples: leve, no art. 129, caput (incondicionada);
2. Lesão corporal dolosa qualificada (ação pública condicionada à representação):
a) grave, no art. 129, § 1º;
b) gravíssima, no art. 129, § 2º;
c) seguida de morte, no art. 129, § 3º - obs.: sempre preterdolosa, com dolo no antecedente e culpa no
conseqüente.
3. Lesão corporal privilegiada, no art. 129, §§ 4º e 5º;
4. Lesão corporal culposa, independente da natureza da lesão, no art. 126, § 6º;
5. Aumento de pena e perdão judicial, no art. 129, §§ 7º e 8º; e
6. Violência Doméstica, no art. 129, §§ 9º e 10º.
A lesão corporal é a ofensa a integridade corporal do ser humano ou a sua saúde. Conforme a
exposição de motivos do CP, é “todo e qualquer dano ocasionado a normalidade funcional do corpo
humano, quer do ponto de vista anatômico, quer do fisiológico ou do mental”.
O bem jurídico é a integridade física e corporal.
A Autolesão não é punida pelo CP brasileiro. A não ser que se trate de outro bem jurídico protegido
pela norma penal e o agente faz uso da autolesão para que sirva de meio para cometimento de outro crime,
como por ex.: a autolesão só será crime se ela for realizada como fraude para receber o seguro:
quem frauda para receber indenização ou valor de seguro, “... lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava
as conseqüências da lesão ou doença, com o intuito de haver indenização ou valor de seguro” - art. 171, §
2º, V do CP: estelionato.
Na lesão consentida pelo ofendido é admitida pela doutrina, ainda que seja causa que não está em
nosso ordenamento jurídico como supralegais de exclusão da ilicitude, deixando o fato de ser crime. No
caso da lesão corporal consentida, o assunto é controverso, uma vez que, para uma parte da doutrina o
consentimento não tem relevância, pois o Estado deve velar pela própria vida humana. Mas para outra
parte da doutrina, o consentimento é perfeitamente possível, configurando-se uma causa supralegal de
exclusão da ilicitude.
Obs.: Quanto a tipicidade: a autolesão é atípica, assim como a lesão consentida proveniente de ato
sexual; e a lesão consentida será típica, deixando apenas de ser antijurídica; assim, admite-se a
antijuridicidade de condutas como a amputação de um membro, a queimadura de outro, extirpação
de rim, a extração de sangue ou do leite materno, o corte de cabelos, desde que, nestes casos, o fato
não ultrapasse os limites dados por aquele que consentiu.
• Art. 129, caput do CP – Lesão corporal – “Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
pena - detenção, de três meses a um ano”.
1. Lesão corporal de natureza grave – o CP não fala qual lesão é leve, mas diz qual a lesão é grave
ou gravíssima. Por isso, sabe-se que uma lesão corporal tem natureza leve por exclusão.
2. Objeto jurídico e material – o bem jurídico é a integridade física e psíquica do ser humano; e o
objeto material é a pessoa que sofre a lesão.
3. Sujeitos do crime – o sujeito ativo é qualquer pessoa, pois trata-se de crime comum; e o sujeito
passivo, também, é qualquer pessoa.
4. O núcleo do tipo – é o verbo: “ofender”, que significa fazer mal, ferir.
Obs.: é possível caracterizar a lesão corporal sem a presença de dor ou a exposição de sangue, mas é
imprescindível alteração do corpo da vítima interna ou externa.
Elementos subjetivos – é a vontade livre e consciente de lesionar a vítima (o dolo). É fundamental a
análise do dolo para diferenciar o homicídio tentado do crime de lesão corporal.
Consumação – a lesão corporal é perfeitamente possível. O profº Damázio Evangelista de Jesus cita
o seguinte exemplo: “o agente desfere uma machadada na perna da vítima, pois deseja amputar a perna do
mesmo, ferindo-a, não conseguindo realizar seu intento por intervenção de terceiros. Há, nesse caso,
tentativa de lesão corporal gravíssima.
Questões Importantes:
1. A prova da lesão é feita mediante o exame de corpo de delito direto, através do laudo pericial.
Somente excepcionalmente cabe o corpo de delito indireto.
2. O crime de lesão corporal de natureza leve é de menor potencial ofensivo, sua pena máxima não
ultrapassa a 1 ano. As lesões graves e gravíssimas tem sanções maiores, o que exclui, em ambos os casos,
do conceito legal de crime do juizado. Por isso é imprescindível saber a natureza da lesão para encaminhar
o fato à justiça comum ou ao juizado especial criminal.
A natureza da lesão importa, também, para a ação penal. A lesão de natureza leve é de ação pública
condicionada à representação.
Obs.: no art. 88 da Lei nº 9.009/95 - preceitua ser condicionada à representação do ofendido a ação
penal no crime de lesões corporais leves – “Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação
especial, dependerá de representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões
culposas”
Também no delito de lesão corporal culposa incidem a exigência de representação e a suspensão
condicional do processo (arts. 88 e 89 da Lei n. 9.099/95). Observe-se que a Lei dos Juizados Especiais
Criminais faz referência expressa, também, à lesão corporal culposa – Damázio E. Jesus.
3. O crime de lesão corporal de natureza grave ou gravíssima é de ação penal pública
incondicionada, como estabelece o art. 77, da lei nº 9.099/95, para o oferecimento da denúncia nos crimes
de competência nos juizados especiais criminais, se a materialidade puder ser auferida por meio de
boletim médico ou prova equivalente, é possível denunciar o autor sem o exame de corpo de delito.
Classificação Doutrinária da lesão de natureza leve:
- É Crime Comum, pois pode ser cometido por qualquer pessoa.
- É Crime Comissivo Instantâneo, pois se consuma por ação de maneira instantânea.
- É crime de Dano, pois causa efetiva lesão ao bem jurídico tutelado.
- É Crime de Forma Livre, porque pode ser cometido por qualquer forma.
- É Crime Material, pois na consumação exige resultado naturalístico.

• Art. 129, § 1º do CP – Lesão corporal de natureza grave: pena - reclusão, de 01 a 05 anos


I. Se resulta: incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 dias. Entende-se por
ocupação habitual, toda atividade lícita freqüentemente desempenhada pela vítima. Pode ser o trabalho
ou outra atividade, como: academia, aula, etc. A incapacitação é objetiva, não incide a qualificadora se a
vitima deixa sua atividade habitual por vergonha, como: não comparece a natação por apresentar
hematomas (lesões) nas nádegas.
É atribuído ao inciso I o nome de crime a prazo, pois a comprovação da incapacidade se dá após os
30 dias. Para isso a vitima deve submeter-se a exame de corpo de delito complementar, após este período
(art. 168, §2º do CPP):
Art. 168. “Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido incompleto, proceder-
se-á a exame complementar por determinação da autoridade policial ou judiciária, de ofício, ou a
requerimento do Ministério Público, do ofendido ou do acusado, ou de seu defensor. E §2º - Se o exame
tiver por fim precisar a classificação do delito no art. 129, § 1o, I, do Código Penal, deverá ser feito logo que
decorra o prazo de 30 (trinta) dias, contado da data do crime”.
Obs.: a atividade há de ser lícita, pois não tem cabimento qualificar um crime se a vítima da lesão
física ficou impedida, por ex., de manter seu ponto de tráfico de entorpecente.
II. Se resulta: perigo de vida. É a real possibilidade de morte em razão das lesões sofridas. Essa
situação deve ser demonstrada em laudo pericial, que aponte de forma clara qual a situação que criou o
risco para a vítima. Ex: uma cirurgia em um órgão vital; transfusão imediata de sangue para evitar a morte.
Inicialmente o agente tem o dolo de lesionar a vítima, mas acaba resultando em um perigo de vida
para a vítima: há um resultado culposo.
Obs.: só se admite o risco de vida na forma preterdolosa. Pois se o agente deseja a morte da vítima
ou assume o risco de produzi-la (dolo eventual), há crime de homicídio tentado.
III. Se resulta: debilidade permanente de membro, sentido ou função. Entende-se por debilidade a
diminuição, o enfraquecimento do membro, do sentido ou da função, devendo ser permanente, ou seja,
duradoura, mas não perpétua.
Os membros do corpo são: braços, pernas, mãos, pés. Os sentidos do ser humano são cinco: audição,
visão, olfato, paladar e tato. A perda parcial da visão de um dos olhos é debilidade permanente; entretanto
só será gravíssima se houver inutilização: cegueira.
1ª Obs.: no art. 109 e incisos do CP constam a prescrição do prazo para a vítima procurar a justiça
para fazer notícia criminis na delegacia, que é regulada pelo máximo da pena privativa de liberdade
cominada ao crime, verificando-se: em 20 anos, se o máximo da pena é superior a 12; em 16 anos, se o
máximo da pena é superior a 8 anos e não excede a 12; em 12 anos, se o máximo da pena é superior a 4
anos e não excede a 8; em 8 anos, se o máximo da pena é superior a 2 anos e não excede a 4; em 4 anos, se o
máximo da pena é igual a 1 ano ou, sendo superior, não excede a 2; em 2 anos, se o máximo da pena é
inferior a 1 ano.
2ª Obs.: note-se que nos órgãos duplos, como: olhos, pulmões, ouvidos, rins, etc. há inutilização de
apenas um deles, caracterizando-se em lesão grave por debilidade permanente e não gravíssima por
completa inutilização.
Por fim, função é atividade precípua de um órgão, como: função circulatória, respiratória, etc.
IV. Se resulta: aceleração de parto. Que é a antecipação do parto, seu acontecimento antes do tempo
estipulado pela medicina. O agente deve saber da gravidez da vítima. É importante frisar que, mesmo com
o nascimento prematuro, incide esse dispositivo se a criança nasce com vida. Pois se nascesse morta,
incidiria o dispositivo aborto.
• Art. 129, § 2º do CP – Lesão corporal de natureza gravíssima. Pena: reclusão de 2 a 8 anos.
No CP não há o nomen iuris “gravíssima”. Essa nomenclatura doutrinária serve para diferenciar as
hipóteses de maior gravidade na sanção penal.
I. Se resulta incapacidade permanente para o trabalho. Trata-se de incapacidade duradoura para a
atividade laboral. Ao contrario da incapacidade para ocupações habituais, a lei fala em trabalho,
necessariamente, relacionada ao sustento, com ganho financeiro. A incapacidade não se restringe ao
trabalho especifico que era executado pela vítima antes da lesão, mas deve manter co-relação com
atividade por ela exercida, a fim de evitar que o dispositivo se torne inaplicável.
II. Se resulta enfermidade incurável. Pela Teoria da Atividade: considerando incurável pela
medicina na época que ocorre a lesão, não havendo retroatividade se, depois de transitado em julgado, for
descoberto cura para tal enfermidade, pela medicina.
Enfermidade incurável é o processo patológico irremediável, segundo os padrões médicos da época
em que ocorre a enfermidade.
Também, considera-se incurável se para possibilitar a cura da vítima é imprescindível procedimento
cirúrgico de auto-risco. A recusa, neste caso, deve ser bem justificada para incidir a qualificadora.
III. Se resulta perda ou inutilização de membro, sentido ou função. Sendo que a perda se dá por
mutilação ou amputação. Na mutilação é a retirada pelo próprio agente devido a sua conduta. Ex.: o
agente extirpa a mão da vítima com uma serra elétrica. E na amputação é a retirada, por meio cirúrgico,
em conseqüência da lesão provocada pelo agente.
A perda pode ser de um membro (corte de uma perna); de um sentido (retirada dos glóbulos
oculares); ou de uma função (destruição da bolsa escrotal, o que impede a reprodução).
A inutilização diferencia-se da perda, pois inutilizar é tornar imprestável, é danificar. Neste caso,
nada é retirado do corpo da vítima, embora desapareça sua atividade precípua. Ex.: o braço da vítima não
é amputado, mas perde totalmente o movimento.
A cirurgia de mudança de sexo caracteriza lesão corporal gravíssima? Em princípio sim, pois com a
retirada do pênis há uma inutilização da função sexual. Entretanto, nos dias atuais, com a revolução social
e consuetudinária, tem-se demonstrado a importância da cirurgia nos transexuais, se comprovada
necessidade biológica e psicológica. O que se justifica, para exclusão do crime, em virtude de haver o
consentimento do ofendido em submeter-se ao procedimento cirúrgico.
IV. Se resulta deformidade permanente. Sendo que deformar é deturpar, onde se perde a forma
primitiva. A doutrina diz que deformidade permanente é o dano ligado a estética permanente e visível,
que cause impressão vexatória. Ex.: cicatriz extensa, perda das orelhas.
O dano estético não ocorre apenas no rosto, pode apresentar-se em outras regiões do corpo, mas
deve ter dimensão apta a causar vexame no ofendido.
A vítima não é obrigada a submeter-se a um procedimento cirúrgico, porém, se for possível a
correção do dano e ela concordar com a cirurgia, será afastada a qualificadora.
Obs.: note-se que a correção deve ser natural, por ex.: o implante de prótese não exclui o aumento
da pena.
Art. 621, III do CPP – “A revisão dos processos findos será admitida: quando, após a sentença, se
descobrirem novas provas de inocência do condenado ou de circunstância que determine ou autorize
diminuição especial da pena”.
V. Se resulta aborto. Aborto é a interrupção da gravidez, que provoca a morte do feto, devendo o
agente saber da gravidez. O aborto neste caso advém por culpa do agente; é denominado crime
preterdoloso. Se o autor tem dolo na morte do feto, responde pelo crime de aborto e não por lesão corporal
qualificado.
• Art. 129, § 3º do CP – Lesão corporal seguida de morte. Pena: reclusão de 4 a 12 anos.
O dispositivo traz a forma mais clara de crime preterdoloso existente no CP. A expressão “resulta”
indica o nexo entre a conduta do autor e a morte da vítima. Depois, taxativamente, o legislador exclui o
dolo direto pela frase: “o agente não quis o resultado”, e o dolo eventual: “nem assumiu o risco de
produzi-lo”.
Obs.: note que, se no caso concreto se demonstrar a vontade do agente no resultado morte, o crime é
de homicídio.
Tentativa – não é cabível, pois se trata de crime preterdoloso. No crime preterdoloso a conduta é
voluntária, porém o resultado é involuntário. E, conforme o art. 18, § ú., ninguém pode ser punido por fato
previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente, salvo os casos expressos em lei.
A "lesão corporal preterdolosa" é encontrada com muito mais freqüência. Ocorre quando o
resultado vai além do pretendido, como, por ex., a lesão corporal seguida de morte.
• Art. 129, § 4º do CP – Lesão corporal privilegiada – causa de diminuição de pena - o juiz pode
reduzir a pena de 1/6 a 1/3, se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor
social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da
vítima.
Nessa ação de pena privilegiada a redação é idêntica ao art. 121, §1º no mesmo Código sobre
homicídio privilegiado. Cabe a diminuição nas lesões dolosas de natureza leve, grave, gravíssima ou
seguida de morte.
Obs.: porém não cabe o privilégio em lesão corporal culposa.
• Art. 129, § 5º do CP – Substituição da pena - não sendo graves as lesões, o juiz pode ainda
substituir a pena de detenção pela de multa. A expressão “o juiz pode ainda”, indica tratar-se
também de figura privilegiada decorrente do § anterior - ação penal privilegiada.
Aplicam-se as penas nos casos de lesões corporais leves e consiste na substituição da pena privativa
de liberdade pela pecuniária em dois casos:
1ª - Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o
domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima.
2ª - Se as agressões e lesões são recíprocas, pois não se trata de legitima defesa, que exclui a ilicitude
e, por conseqüência, o próprio crime. Mas, neste caso, a conduta do autor é ilícita, quando se revida a
agressão sofrida. Porém merece o beneficio da substituição por ter agido, o agente, após ser vítima de
lesões.
• Art. 129, § 6º do CP – Lesão corporal culposa – com pena de detenção, de 2 meses a 1 ano.
O dispositivo prevê o crime de lesão culposo, quando o agente deu causa ao resultado por
imprudência, negligência ou imperícia - art. 18, II do CP.
Obs.: para fixação da pena aplica-se o “critério trifásico”: 1º - as circunstancias judiciais:
culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às
circunstâncias; conseqüências do crime; e o comportamento da vítima (art. 59); 2º - as circunstancias legais:
atenuantes e agravantes; e 3º - incorporando no cálculo: as causas de aumento ou diminuição.
O CP não faz diferenciação, para a tipificação do crime, no que diz respeito a natureza da lesão, se
leve, grave ou gravíssimo, no entanto, o juiz deve levá-la em consideração para a fixação da pena o art. 59
do CP.
Lesão culposa na condução de veículo automotor – possui atualmente o tipo especifico do art. 303
da Lei nº 9.503/97 - o CTB - Cód. de Transito Brasileiro: “praticar lesão corporal culposa na direção de
veículo automotor: penas - detenção, de 6 meses a 2 anos e suspensão ou proibição de se obter a permissão
ou a habilitação para dirigir veículo automotor. E aumenta-se a pena de 1/3 à 1/2, se ocorrer homicídio
culposo cometido na direção de veículo automotor”.
Obs.: o Cód. de Transito brasileiro trata de lesões e homicídio culposo; o Cód. Penal trata de lesões e
homicídio doloso.
A pena para lesão corporal culposa, na condução de veículo automotor, é maior do que a pena para
lesão corporal dolosa ou culposa prevista no CP. Essa desproporção cria a seguinte situação:
- se o agente provoca lesão corporal culposa na condução de veículo automotor, a pena é de
detenção de 6 meses a 2 anos;
- se o agente comete um crime mais grave, de lesão corporal dolosa, na condução de veículo
automotor, a pena é de detenção de 3 meses a 1 ano.
Isso porque o CTB prevê somente a forma “culposa” nos crimes de homicídio e lesão corporal. Está
claro que as sanções penais merecem revisão legislativa.
• Art. 129, § 7º do CP – Aumento de pena – as observações feitas são remetidas ao art. 121, §4º do
CP, há aumento de 1/3, se o crime resulta de “inobservância” de regra técnica de profissão, arte
ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as
conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante.
Obs.: na “inobservância” o agente possui conhecimento de regra técnica da profissão, porém, não a
observa.
• Art. 129, § 8º do CP – observa-se que é aplicada à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121, ou
seja, o perdão judicial: o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da infração
atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.
• Art. 129, § 9º do CP – Violência Doméstica - se a lesão for praticada contra ascendente,
descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou,
ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: a
pena é de detenção, de 3 meses a 3 anos, conforme o art. 44 da Lei nº 11.340/2006 – Lei Maria da
Penha. A pena será aumentada de 1/3 se o crime for cometido contra pessoa portadora de
deficiência.
Trata-se de uma nova espécie de lesão corporal, acrescentada pela Lei nº 10.886/2004. A violência
doméstica significa que o perfazimento do crime se dá no âmbito da família.
A grande novação trazida pela Lei nº 11.340/2006 foi no cenário da pena que passou a sanção
máxima para 3 anos, afastando as considerações de se tratar de infração de menor potencial ofensivo. E
também o acréscimo da causa de aumento no caso da pessoa, que ser agredida no contexto domestico ou
familiar, for portadora de deficiência física ou mental, agravando a pena para 1/3.
Objeto jurídico – a proteção de mais de um objeto jurídico parece ter sido visada pelo legislador ao
criar um especifico tipo de “violência doméstica”, assim, são objetos de proteção: a integridade física da
vítima e a harmonia familiar.
Entende-se que o art. 129, § 9º do CP deve ser aplicada a pena apenas no caso de lesão corporal de
natureza leve, embora não previsto expressamente no tipo. Não obstante, se a natureza da lesão for de
natureza grave, gravíssima, ou seguida de morte aplicar-se-ão as sanções previstas nos §§ 1º, 2º e 3º,
acrescida de aumento de 1/3 conforme determinada no § 10º do art. 129 do CP.
Formas de Violência Doméstica – pode ocorrer esse crime em 2 situações distintas:
1. Em razão de parentesco ou convivência familiar – o tipo penal fala em primeiro lugar em
ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro. Evidentemente, se a vítima reside com o agente
o delito estará caracterizado. Contudo, a co-habitação do autor com a vítima não é indispensável, uma vez
que para a tipificação delitiva será suficiente a constatação de relação doméstica ou familiar para
ocorrência do crime.
A expressão “convivência” permite maior elasticidade, uma vez que a exigência da “constante
presença física” do autor e da vítima não é condição essencial – ex: um casamento moderno entre marido e
mulher que moram em casas separadas, mas que com certa freqüência se visitam, neste caso, o crime se
caracterizará, se neste contexto houver a pratica de lesão corporal perpetrada contra o cônjuge visitado.
Isso porque, a convivência não poderia significar, no caso, co-habitação ou vida em comum sobre o mesmo
teto.
Por outro lado, por “quem conviva ou tenha convivido” parece não ensejar a restrição de sua
aplicação ao regime de união estável. O tipo penal fala textualmente “companheiro”. Logo, a convivência
desde que seja doméstica, fará incidir o tipo, como ocorrência na hipótese de lesões praticadas, por ex., em
alguém que morasse com amigos em uma república.
Pergunta: Se o agente comete a lesão corporal grave contra sua mulher no âmbito familiar, sendo a
vítima portadora de deficiência física, por qual crime responderá? Por Violência Doméstica conforme a
Lei nº 11.340/2006 – Lei Maria da Penha, com a pena de detenção de 3 meses a 3 anos acrescida de
aumento de 1/3 por crime cometido contra pessoa portadora de deficiência conforme o art. 129, § 9º do CP.
Obs.: É difícil a caracterização do crime quando a convivência já tenha terminado – a expressão:
“tenha convivido” – o que denota má técnica legislativa. A solução encontrada pela doutrina é no sentido
que:
1ª hipótese – tende se exigir que a lesão corporal tenha sido praticada em razão da convivência à
vida entre autor e vítima;
2ª hipótese – prevalecendo-se o agente das relações domestica, de co-habitação ou de hospitalidade.
Quem se prevalece, aproveita-se de algo, utiliza-se de alguma coisa para certa finalidade, o que se
denota é a exigência de que o crime seja praticado em razão de relações domesticas.
Sanção penal – o dispositivo teve sua pena alterada pela Lei nº 11.340/2006 – Lei Maria da Penha,
passando a ser detenção de 3 meses a 3 anos.

PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE


• Art. 130, caput - Perigo de contágio venéreo - expor alguém, por meio de relações sexuais ou
qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está
contaminado: a pena é de detenção, de 3 meses a 1 ano, ou multa.
Classificação Doutrinária:
- É Crime Comissivo, porque ao se expor comete uma ação.
- É Crime que contém dolo de perigo;
- É Crime de Forma Vinculada, só podendo ser cometido por meio de relação sexual ou ato
libidinoso.
- É Crime Formal, não exigindo o resultado naturalístico.
- É Crime Instantâneo, porque a consumação se opera de maneira instantânea, não se prolongando
no tempo.
- É Crime Plurisubsistente, porque é uma conduta integrada por vários atos.
- É Crime Próprio, porque demanda sujeito ativo qualificado: pessoa contaminada com moléstia
venérea.

Elemento subjetivo do crime – é o dolo de perigo. Não existe a forma culposa.


Ação nuclear do tipo – o verbo “expor”, que significa: colocar em perigo ou deixar descoberto. O
objeto da conduta é o contágio da moléstia venérea.
Sujeitos Ativo e Passivo – o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa contaminada por doença
sexualmente transmissível (DST). O sujeito passivo pode ser qualquer pessoa, inclusive a pessoa que
exerce a prostituição, pois tal profissão não a isenta dos seus direitos.
A expressão “relação sexual” pode ser abrangente ao “coito” que é a união estabelecida entre duas
pessoas, através da prática sexual. Trata-se de expressão mais abrangente do que conjunção carnal, a qual
se limita à cópula (pênis/vagina), pois também abrange o sexo anal e oral.
O “ato libidinoso” é a ação que dá ao autor prazer e satisfação sexual. Trata-se de expressão de
máxima abrangência, envolvendo desde conjunção carnal, passando pela relação sexual até atingir
qualquer tipo de ato tendente a satisfazer a lascívia do agente, ex.: carícias corporais, beijos sensuais, entre
outros. O tipo penal envolveu toda forma de ato sexual possível de transmitir a doença venérea.
O art. 130 - Perigo de contágio venéreo – é crime de natureza leve.
Moléstia Venérea – é toda doença transmissível através de contato sexual e qualificada como
venérea. Essa qualificação em “venérea” necessita ser conceituada pela medicina, não ficando a critério do
legislador definida – ex.: Sífilis; Gonorréia; Cancro Mole; etc
Com utilização do preservativo não configura o delito, pois inexiste a conduta que é colocar em
perigo o sujeito passivo. Embora, seja crime abstrato, é indispensável que o núcleo do tipo se concretize. O
que somente se dá, se o agente atuar sem qualquer proteção.
Obs.: O núcleo do tipo “expor” é um crime de perigo, quando expõe a vítima.
• Dolo Direto - na expressão “que sabe” – o agente tem conhecimento pleno de seu estado de
enfermidade e, ainda assim, mantém com a vítima relação sexual capaz de transmitir a doença.
Neste caso, há dolo direto de perigo, que é a vontade de expor outra pessoa ao perigo.
• Dolo Eventual - já na expressão “deve saber” há dolo eventual, uma vez que diante do estado
de saúde que apresenta o agente deveria ter noção que está contaminado. Ao manter relações
sexuais ou praticar qualquer ato libidinoso com a vítima ele assume o risco de transmitir a
doença.
• Objetos Materiais - é a pessoa que mantém relação sexual com o contaminado.
• Objetos Jurídicos – são a vida e a saúde.
• Art. 130, § 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia: a pena é de reclusão, de 1 a 4 anos, e
multa.
Neste § o dolo é de dano, consistindo uma exceção no contexto do delito de perigo, que é o perigo
de contagio venéreo, pois se trata da hipótese em que o agente “sabe estar contaminado” e quer transmitir
a doença.
Note-se, que pela própria pena o crime é considerado mais grave, uma vez que o agente ficará em
curso nas penas de 1 a 4 anos e multa. Semelhante à lesão corporal grave, é um delito formal de dano,
pune-se a conduta do agente de manter relação sexual ou praticar ato libidinoso com a vítima desejando-
lhe contaminar.
Havendo ou não o contagio, o agente responderá pelo art. 130 § 1º - só engloba lesão corporal de
natureza leve.
No caso de, ao transmitir a doença, causar lesões graves na vítima, poderá o agente responder por
lesão grave ou gravíssima e até por lesão corporal seguida de morte, dependendo o caso. Se houver lesão
corporal leve fica absorvida pelo delito mais grave, que é aquele descrito no art. 130 § 1º.
Pode ocorrer 4 situações:
1ª - Se o agente sabe estar contaminado e mantém relação sexual com a vítima, sem a pretensão de
transmitir a doença, mas expondo o sujeito passivo a perigo, responderá pelo art. 130, caput.
2ª - Se o agente deve saber estar contaminado e pratica a mesma conduta descrita no item anterior,
responderá pelo art. 130, caput.
3ª - Se o agente sabe estar contaminado e quer transmitir a doença no contato sexual – conseguindo
ou não o contagio, responderá pelo art. 130, § 1º.
4ª - Se o agente sabe estar contaminado e quer transmitir a doença com a intenção de afetar a saúde
da vítima, responderá por lesão corporal grave ou gravíssima do art. 129, §§ 1º e 2º do CP – ou se for o
caso, por lesão corporal seguida de morte do art. 129, § 3º do CP.
Obs.: Se a vítima estiver com saúde debilitada e o agente tiver intenção de contaminar a vítima e
esta vem a morrer, responderá pelo art. 121 do CP.
A ação penal é pública condicionada a representação, pois assim está expresso no art. 130, § 2º
• Art. 130, § 2º - Somente se procede mediante “representação”.
Obs.: Quando a ação pública é condicionada à representação, sempre vem expressa no tipo.
• Art. 131 - Perigo de contágio de moléstia grave - praticar, com o fim de transmitir a outrem
moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o contágio: a pena é de reclusão,
de 1 a 4 anos, e multa.
Apesar do tipo penal estar situado no capitulo referente aos crimes de perigo, o delito descrito no
art. 131, da mesma forma que o previsto no art. 130, § 1º é formal e de dano, com dolo no dano.
O agente pratica ato capaz de produzir o contagio de moléstia grave da qual é portador, com claro
objetivo de transmitir o mal a outrem, portanto, causando-lhe dano a saúde – o que é lesão corporal.

Classificação Doutrinária

Tentativa, que ocorre quando o agente não chega a consumação do crime por circunstâncias alheia a
sua vontade
- É Crime de Ação Penal Pública Incondicionado.
- É crime de Dano, pois causa efetiva lesão ao bem jurídico tutelado.
- É Crime de Efeitos Permanentes, uma vez consumado não há como desaparecer seus efeitos, pois
são irreversíveis.
- É Crime de Mão Própria, só podendo ser cometido pela gestante, e não admite co-autoria.
- É Crime Condicionado a representação pública.
- É Crime Comissivo, porque se consuma por ação.
- É Crime Comissivo Instantâneo, pois se consuma por ação de maneira instantânea.
- É Crime Comum, pois pode ser cometido por qualquer pessoa.
- É Crime de Forma Livre, porque pode ser cometido por qualquer forma eleito pelo agente..
- É Crime Formal, não exigindo o resultado naturalístico.
- É Crime Instantâneo, porque a consumação se opera de maneira instantânea, não se prolongando
no tempo.
- É Crime Monosubjetivo, podendo ser cometido por uma pessoa e, eventualmente, ser cometido
por mais pessoas
- É Crime Material, pois na consumação exige resultado naturalístico: dano, lesão ou morte
- É Crime Omissivo, pois a consumação se dá por omissão por parte do agente.
- É Crime Plurissubjetivo, porque a conduta é, necessariamente, cometida por mais de uma pessoa.
- É crime plurisubsistente, uma vez que pode ser transmitido através de vários atos.
- É Crime Próprio, porque demanda sujeito ativo qualificado.
- É crime próprio, pois demanda que ao sujeito ativo uma qualidade especial.
- É Crime Unisubjetivo, podendo ser praticado por um só agente.
- É Crime Unisubsistente, pois a consumação: “transmissão da doença grave” se dá em um único
ato.

=============================== F I M ===============================

DIREITO PENAL II - PARTE ESPECIAL


TÍTULO II
DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO - ARTS 155 a 180 CP

Sumário: 1. Furto; 2. Roubo; 3. Extorsão; 4. Dano; 5. Estelionato; 6. Receptação

1. FURTO
GENERALIDADES:
O OBJETO JURÍDICO primeiramento protegido no furto é a POSSE, e depois o PATRIMÔNIO.
Temos como TIPO OBJETIVO o verbo SUBTRAIR (retirar sem o consentimento de quem de direito,
tirar algo de alguém, desapossar), sendo um crime de forma livre, ou seja, admite todas as formas de
subtração.

DIVISÕES DO ARTIGO:
ART 155, “Caput” – Furto Simples;
ART 155, §1° – Furto Noturno;
ART 155, §2° – Furto Privilegiado;
ART 155, §3° – Furto de energia elétrica;
ART 155, §4° – Furto Qualificado;
ART 155, §5° – Furto Qualificadíssimo.

FURTO SIMPLES (ART 155, “Caput”)


Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de um a quatro anos,
e multa.

A subtração engloba, tanto a hipótese em que o bem é tirado da posse da vítima, sem seu
consentimento, quanto aquela em que a coisa é entregue voluntariamente ao agente e este a leva consigo e
não devolve.
Obs.: Apropriação indébita (é vigiada) - Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a
posse ou a detenção: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

ELEMENTOS:
a) SUBTRAÇÃO – Subtrair = tirar algo de alguém, desapossar. Pode ocorrer em dois casos:
1. Tirar algo de alguém sem o seu consentimento;
2. Receber uma posse vigiada e, sem autorização, levar o bem, tirando-o da esfera de vigilância da
vítima.

b) ÂNIMO DE ASSENHORAMENTO DEFINITIVO DO BEM, PARA SI OU PARA OUTREM


(animus rem sibi habendi) – Trata-se do elemento subjetivo específico do tipo. Não basta apenas a vontade
de subtrair (dolo geral): a norma exige a intenção específica de ter a coisa, para si ou para outrem, de forma
definitiva.
É esse elemento que distingue o crime de furto e o furto de uso (fato atípico)

c) COISA ALHEIA MÓVEL (Objeto material do tipo) – “COISA MÓVEL” é aquela que pode se
aquela que pode ser transportada de um local para outro. O Código Civil considera como imóvel alguns
bens móveis, como aviões, embarcações, o que para fins penais é irrelevante.
Os semoventes também podem ser objeto de furto, como, por exemplo, no abigeato (furto de gado).
Também Areia ou terra, retirados sem autorização, e árvores, quando arrancadas do solo, podem ser
objeto de furto, desde que não configure crime contra o meio ambiente.
A coisa deve ser ALHEIA (elemento normativo do furto) - Coisa alheia é aquela que tem dono

NÃO PODE SER OBJETO DE FURTO:


a) SER HUMANO – vivo, pois não é coisa, é alguém ou morto (exceto quando o cadáver tiver valor
econômico);

Na hipótese “a” o fato é atípico pela falta da elementar “coisa”.

1ª Obs.: A subtração de cadáver ou parte dele tipifica o delito específico do art. 211 do Código Penal
(destruição, subtração ou ocultação de cadáver). O cadáver só pode ser objeto de furto quando pertence a
uma instituição e está sendo utilizado para uma finalidade específica. Ex.: faculdade de medicina,
institutos de pesquisa.

2ª Obs.: A subtração de órgão de pessoa viva ou de cadáver, para fins de transplante, caracteriza
crime da Lei n. 9.434/97 (lei da retirada compulsória de órgãos).

3ª Obs.: No caso de alguém retirar dente de ouro ou paletó do cadáver, há dois entendimentos: 3.1)
Esses bens possuem dono, que são os sucessores do falecido, por isso tratam-se de coisa alheia que pode
ser furtada, caracterizando o crime de furto que terá como sujeito passivo os familiares do de cujus. 3.2) Os
bens equivalem à coisa abandonada, por não haver interesse por parte dos sucessores em recuperá-los.
Assim, o crime não é o de furto, mas o de violação de sepultura – art. 210 do Código Penal. (prevalece o
último)

b) RES NULLIUS –Coisas que não pertencem a ninguém ou que nunca tiveram dono;

c) RES DERELICTA – Coisa abandonada.

Nas hipóteses “b” e “c” o fato será atípico porque a coisa não é alheia.

d) RES DESPERDICTA– Coisa perdida (“achado não é roubado”). Nesse caso, não há furto, mas sim
“Apropriação de coisa achada” (Art 169, Parágrafo único, II, CP).

Na hipótese “d”, a coisa tem dono, mas não pode ser objeto de furto porque falta o requisito da
subtração.

e) COISA DE USO COMUM: (água dos mares, rios, ar atmosférico etc.) não pode ser objeto de furto,
exceto se estiver destacada de seu meio natural e for explorada por alguém. Ex.: água da Sanesul.

Obs.: se a coisa de uso comum estiver fora do seu meio natural e for explorada por alguém -
caracteriza furto - ex.: água tirada da tubulação da sanesul.

SUJEITO ATIVO e SUJEITO PASSIVO:


SUJEITO ATIVO: Qualquer pessoa, com exceção do proprietário da coisa, pois faltará a elementar
“coisa alheia”;
1ª Obs.: subtrair coisa própria que se encontra em poder de terceiro, em razão de contrato ou de
ordem judicial - configura o crime do art. 346 do CP - Tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa própria,
que se acha em poder de terceiro por determinação judicial ou convenção: Pena - detenção, de seis meses a
dois anos, e multa.
2ª Obs.: o credor que subtrair bem do devedor, para se auto-ressarcir de dívida já vencida e não
paga, pratica o crime de
Exercício arbitrário das próprias razões - Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer
pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou
multa, além da pena correspondente à violência.
3ª Obs.: quem se utiliza de animais ou incapaz para realizar a infração de subtração comete o crime
de furto.
4ª Obs.: Quem pega objeto alheio pensando ser seu, não comete crime - erro de tipo.

SUJEITO PASSIVO: quem sofre a subtração - qualquer pessoa, são eles: proprietário (que sofre o
prejuízo), o possuidor (está na posse) e o detentor (que tenha interesse na coisa).
1º Ex.: A furta B; C furta A - sendo que B é o proprietário que sofre o prejuízo da coisa. Portanto, o
agente que furta um bem que já fora anteriormente furtado responde pelo delito que terá como vítima, não
o primeiro furtador, mas o dono da coisa.
2º Ex.: Pessoa jurídica pode ser vítima de furto, porque o seu patrimônio é autônomo do patrimônio
dos sócios.

CONSUMAÇÃO:
O furto consuma-se mediante dois requisitos:
a) retirada do bem da esfera de vigilância da vítima;
b) posse tranqüila do bem, ainda que por pouco tempo: furta e se livra do produto do furto antes de
ser pego ou é pego com o objeto.

Obs.: se na fuga o agente perde ou se livra do objeto furtado e que não vem a ser recuperado pela
vítima, consuma-se o delito, pois a vítima sofreu prejuízo.
Quando concurso de agentes, se o crime está configurado para um também estará configurado para
todos.
TENTATIVA
É possível, até mesmo na forma qualificada, com exceção do §5º do art. 155 do CP (subtração for de
veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior).
CONCURSO DE DELITOS
A violação de domicílio fica absorvida pelo furto praticado em residência por ser crime meio.

FURTO NOTURNO (ART 155, §1°) - (22 hs as 06 hs - CG)


§ 1º - A pena aumenta-se de 1/3, se o crime é praticado durante o repouso noturno.
Trata-se de causa de aumento de pena que tem por finalidade garantir a proteção em relação ao
patrimônio durante o repouso do proprietário, uma vez que neste período há menor vigilância de seus
pertences.

1ª Obs.: o aumento de pena previsto neste § não se aplica aos furtos qualificados ou
qualificadíssimos (§§ 4º e 5º), pois ambos já possuem previsão de aumento de pena. (evitando o bis in
idem).
2ª Obs.: furto praticado na rua, durante o repouso noturno, também recebe o aumento.

FURTO PRIVILEGIADO (ART 155, §2°)


§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena
de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.
É causa de diminuição de pena.
Furto Privilegiado - § 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz
pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de 1 a 2/3, ou aplicar somente a pena de
multa.
REQUISITOS:
1) agente primário – Pessoa contra quem não há nenhuma sentença condenatória transitada em
julgado.
2) Coisa de pequeno valor – A doutrina e a jurisprudência dizem que é coisa com valor igual ou
inferior ao Salário Mínimo.
1ª instância - Fórum; 2ª instância: TJ; 3ª instância: STJ - não cabe mais recurso.

1ª Obs.: deve ser examinado o valor do bem, no momento da subtração e não o prejuízo suportado
pela vítima.
2ª Obs.: não confundir furto privilegiado com furto de bagatela, onde é aplicado o princípio da
insignificância e este é considerado atípico, porque o bem jurídico tutelado é ínfima. Já no furto
privilegiado, ao contrário, o fato é considerado crime, mas haverá um benefício.
3ª Obs.: no § 2º, apesar da existência da expressão "pode", presentes os requisitos legais, o juiz
"deve" aplicar o privilégio, pois o fato é direito subjetivo do réu.
A doutrina majoritária entende que o privilégio do § 2º não se aplica aos furtos qualificados e
qualificadíssimos, em razão da incompatibilidade destes com a redução de pena prevista no seu parágrafo.

Tipicidade conglobante - união da tipicidade formal + material + subsidiariedade +


fragmentariedade.
Infração penal: crime ou contravenção - fato típico; anti jurídico (ilicitude); culpabilidade.
Fato típico: conduta; resultado; nexo causal; tipicidade.
Tipicidade formal: o que a lei define como crime.
Tipicidade material: subsidiariedade (utilizado quando nenhum outro ramo do Direito possa
resolver) e fragmentariedade (somente deve ser utilizado quando houver prejuízo ao bem - lesão ao
proprietário - de valor significativo) - neste caso resolve-se de outra maneira: pagamento de multa entre
outros.

FURTO DE ENERGIA ELÉTRICA (ART 155, §3°) – É uma norma complementar explicativa.
§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.
Furtar energia elétrica é CRIME PERMANENTE.
O art. 155, § 3.o, do Código Penal trata do furto de energia. Equipara-se à coisa móvel a energia
elétrica, bem como qualquer outra forma de energia com valor econômico. Esse dispositivo é uma norma
penal explicativa ou complementar (esclarece outras normas; na hipótese, define como objeto material do
furto, a energia).
Considerado crime permanente, enquanto persistir o agente está em flagrante.

Obs.: equipara-se a energia elétrica: tv a cabo, telefonia, genética (sêmen).

FURTO QUALIFICADO (ART 155, §4°)


§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:

I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;


Obs.: o cão não é considerado.
Com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa: Para qualificar o Furto, é
necessário rompimento ou destruição de Obstáculo colocado com finalidade específica de evitar a
subtração. Ex: Romper o “quebra vento do veículo não faz incidir a qualificadora, pois não foi colocado
com “finalidade especial de evitar a subtração”.
Para caracterização, o artigo 171 do CPP exige perícia.

II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;


Obs.: a simples relação empregatícia não gera a qualificadora, há de se provar a relação de
confiança;
Com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza: .
a) Abuso de confiança – É necessária a consciência de que atua em abuso de confiança (se não tiver,
não há a qualificadora);
- Confiança = Vínculo especial de lealdade ou fidelidade;
- A simples relação doméstica não gera a qualificadora (há que se provar a relação de confiança);

Fraude – É um meio enganoso, capaz de iludir a vigilância da vítima.


Escalada – É um meio para o furto, o acesso a um lugar por meio anormal de uso..
- Escalar é: Saltar um muro, subir em telhado, descer pela chaminé (Doutrina e Jurisprudência
dizem que túnel qualifica “por escalada”).
Destreza – Habilidade que faz com que a vítima não perceba que está sendo furtada. Para qualificar
o crime, a destreza não pode ser percebida pela vítima.

III - com emprego de chave falsa;


Obs.: o furto, utilizando a chave verdadeira, não qualifica o crime
Com emprego de chave falsa: É qualquer instrumento que tenha finalidade de abrir fechadura ou
lugar análogo, com o objetivo de facilitar a execução do furto, e pode ou não ter forma de chave. Ex:
Gazuas, Michas, arames, grampos, etc.

IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.


Obs.: furto cometido por quadrilha ou bando é furto simples em concurso material, pois já
respondem pelo crime; quadrilha ou bando, para evitar bis is idem.
Mediante concurso de duas ou mais pessoas: - Exige, no mínimo, 2 pessoas (art 29 CP);
- Mesmo que a 2ª pessoa seja inimputável, incide a qualificadora;
- Mesmo que o Co-autor seja desconhecido, se for certa a sua participação, incide a qualificadora (se
incerta, não incide);

FURTO QUALIFICADO APROPRIAÇÃO INDÉBITA

- Neste, o agente tem contato com a coisa, mas - O agente exerce a posse desvigiada;
não a posse - Neste crime, a confiança é elementar
do tipo.

FURTO QUALIFICADÍSSIMO (ART 155, §5 °)


§ 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a
ser transportado para outro Estado ou para o exterior.
Assim a doutrina chama este crime, que possui os seguintes requisitos:
1) Veículo automotor;
2) Transportado para outro Estado ou Exterior.
1ª Obs.: esse crime só se o veículo for transportado para outro Estado ou País, não admitindo
tentativa (para evitar o golpe do seguro.
1ª Obs.: o indivíduo que dirige o carro para outro Estado ou País, sabendo ser furtado, comete o
crime de receptação dolosa

FURTO DE COISA COMUM (ART 156)


Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem legitimamente
a detém, a coisa comum:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ 1º - Somente se procede mediante representação.
§ 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não excede a quota a que tem
direito o agente.

- FURTO DE USO:
Ocorre quando o agente retira coisa alheia, para dela servir-se momentaneamente, repondo-a em
seguida, na esfera patrimonial do dono. Tal fato é ilícito civil, mas não configura ilícito penal.

- FURTO FAMÉLICO:
É o furto para “matar a fome”. Caracteriza excludente de ilicitude pelo Estado de Necessidade.
----------------------------------------------------------------------------

2.ROUBO (ART 157)

GENERALIDADES
Enquanto o furto é a subtração pura e simples de coisa alheia móvel, para si ou para outrem (artigo
155 do Código Penal), o roubo é a subtração de coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante
violência, grave ameaça ou qualquer outro recurso que reduza a possibilidade de resistência da vítima.

CONCEITO
Roubo é um crime complexo, composto por fatos que, considerados individualmente, constituem
crimes. São eles: Furto + Constrangimento ilegal + lesão corporal (quando houver).

A diferença básica entre furto X roubo


Furto é a subtração pura e simples de coisa alheia móvel para si ou para outrem, já o Roubo é a
subtração da coisa alheia móvel para si ou para outrem mediante violência , grave ameaça ou qualquer
outro meio que reduza a possibilidade de resistência da vítima.

OBJETO JURÍDICO
Em razão de ser considerado um crime complexo, tutela-se, além da posse e da propriedade, a
integridade física, a saúde e a liberdade individual.

DIVISÕES DO ART. 157 CP:


No art. 157, caput - trata-se de roubo próprio;
No art. 157, § 1º do CP - trata-se de roubo impróprio;
No art. 157, § 2º do CP - roubo circunstanciado;
Art. 157, § 3º do CP - roubo qualificado (com lesão grave ou seguido de morte = latrocínio).

ROUBO PRÓPRIO - art. 157, caput - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante
grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade
de resistência: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

OBS.: o latrocínio está disciplinado no rol do art. 1º da Lei nº 8.072/90:


São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados: II - latrocínio (art. 157, § 3º, in fine)

* Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência
a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: pena -
reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
Obs.: O caput do artigo 157 trata do roubo próprio, e o seu § 1.º descreve o que a doutrina chama
roubo impróprio. A diferença reside no momento em que a violência ou a grave ameaça contra a pessoa
são empregadas. Quando o agente pratica a violência ou grave ameaça, antes ou durante a subtração,
responde por roubo próprio; quando pratica esses recursos depois de apanhada a coisa, para assegurar a
impunidade do crime ou a detenção do objeto material, responde por roubo impróprio.
A pena para ambos é de reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa.

CONCURSO DE CRIMES:
O número de vítimas não guarda equivalência com o número de delitos. Este último será
relacionado com base no número de resultados (lesão patrimonial), que o agente sabia estar realizando no
caso concreto.
É possível que um só roubo tenha duas vítimas? Sim, pois a vítima do roubo é tanto quem sofre a
lesão patrimonial, como quem sofre a violência ou grave ameaça. Exemplo: se A empresta seu carro a B,
sendo este último assaltado, ambos serão vítimas.
Da mesma forma, havendo grave ameaça contra duas pessoas, mas lesado o patrimônio de apenas
uma, haverá crime único, porém, com duas vítimas.
Empregada a grave ameaça contra cinco pessoas e lesado o patrimônio de três, por exemplo, há três
crimes de roubo em concurso formal.
E se o agente emprega grave ameaça contra uma pessoa para subtrair bens de duas? Nesse caso, se o
agente não sabe que está lesando dois patrimônios, há crime único, evitando-se a responsabilidade penal
objetiva; se o agente sabe que está lesando dois patrimônios (subtrai o relógio do cobrador e o dinheiro do
caixa, por exemplo), há dois crimes de roubo em concurso formal.
É possível a existência de crime continuado, se preenchidos os requisitos do artigo 71 do Código
Penal. Exemplo: indivíduo rouba uma pessoa em um ônibus, sai dele, entra em outro e rouba outra pessoa.

ELEMENTOS:
1º. Subtração - verbo nuclear - coisa alheia móvel (idem ao crime de furto) - Subtrair e coisa alheia
móvel já foram objeto de análise no módulo relativo ao crime de furto. (“subtrair”, como no furto, é o
verbo núcleo do tipo).

2º. Grave ameaça - é a promessa de um mal grave e iminente (ex.: anúncio de morte, lesão, etc.)
O mal grave = promessa de que algo realmente mal irá acontecer;
O mal iminente = que está em via de efetivação imediata.
Pode ser praticado por intermédio de palavras ou, por ex., pelo porte ostensivo da arma de fogo
(estando com a arma apontada para vítima é uma grave ameaça) - mas se engatilhar e apontar a arma é
emprego de arma.

1ª OBS.: basta tão somente o porte ostensivo da arma de fogo para configurar a grave ameaça.
Apontar a arma para a vítima ou engatilhá-la configurara a causa de aumento de pena relativa ao emprego
de arma (art. 157, § 2º, I do CP)

2ª OBS.: a simulação de porte de arma de fogo constitui grave ameaça


O porte de arma de fogo nem sempre caracterizara o crime de roubo. No caso de furto ou tentativa
de furto no caso do agente esteja portando arma, mas não a use ostensivamente para a intimidação da
vítima haverá furto ou tentativa de furto em concurso com o crime de porte ilegal de arma de fogo.

Emprego de arma defeituosa, desmuniciada ou de brinquedo também caracteriza grave ameaça.

3º Violência - trata-se de violência física da qual decorra lesão corporal ou vias de fato, capaz de
dificultar ou paralisar os movimentos do ofendido de modo a impedir sua defesa
Por ex.: amarrar as mãos da vítima, jogá-la ao chão, dar-lhe tapas, pontapés, segurar-lhe fortemente
os braços, disparar contra elas tiros de arma de fogo, etc..

1ª OBS.: a trombada (esbarrão) será considerado violência se for meio utilizado pelo agente para
reduzir a vítima à impossibilidade de resistência, caracterizando roubo e não furto. Se no entanto a
trombada consistir num mero esbarrão, incapaz de machucar a vítima e com o intuito de distraí-la haverá
crime de furto qualificado pela destreza.
2ª OBS.: o mesmo acontece com o arrebatamento de objeto preso ao corpo, se a violência for contra o
objeto, mas machucar a vitima
Estará caracterizado o crime de roubo.

4º Qualquer outro meio - é a chamada violência imprópria, que pode ser revelada, por exemplo,
pelo uso de sonífero, bebida alcoólica, narcóticos, etc.

SUJEITO ATIVO e SUJEITO PASSIVO:


SUJEITO ATIVO: é crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa, exceto o
proprietário ou o possuidor do bem.

SUJEITO PASSIVO: Dependendo do momento da ofensa pode-se ter um ou mais sujeitos passivos:
Considerando a ofensa imediata → é a realizada contra o proprietário ou possuidor do bem, que
será a única vítima;

Considerando a ofensa mediata → é a empregada contra terceiro que não seja o proprietário ou
possuidor, sendo o crime de dupla subjetividade passiva (mais de uma vítima), ou seja, uma pessoa sofreu
a grave ameaça , a violência ou teve, por qualquer meio, reduzido à possibilidade de resistência e a outra
teve seu patrimônio lesado;

ELEMENTO SUBJETIVO:
É o dolo, a vontade de subtrair coisa alheia móvel, com o fim especial de tê-la, para si ou para
outrem. No roubo impróprio há, também, a finalidade de assegurar a impunidade do crime ou a detenção
da coisa, para si ou para terceiro.
1ª OBS.: não se admite, na doutrina e na jurisprudência , um roubo de uso (caracterizado pelo uso
da coisa com a finalidade de devolução) - não há grave ameaça
Também não se admite o emprego do princípio da insignificância do crime de roubo, não existindo
também o crime de roubo privilegiado.

ROUBO PRÓPRIO (ART 157, “Caput”)


Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a
pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: Pena -
reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
Há certa divergência quanto ao momento consumativo do roubo próprio.
Para alguns doutrinadores, o roubo consuma-se da mesma maneira que o furto – quando, após
empregar violência ou grave ameaça, o agente consegue a posse tranqüila da res, fora da esfera de
vigilância da vítima.
O entendimento do Supremo Tribunal Federal-STF e do Superior Tribunal de Justiça-STJ, é que o
roubo se consuma com a simples retirada do bem da vítima, após o emprego da violência ou grave
ameaça, ainda que não consiga a posse tranqüila.

Hipótese de consumação:
1) Perda ou desfazimento do bem subtraído (está caracterizado) – se o agente, durante a fuga, perde
o bem ou dele se desfaz, o crime está consumado;
2) Prisão de um dos agentes e fuga dos demais com a res furtiva (com o produto do crime) – Preso
um dos agentes no local do crime, o delito estará consumado para todos os co-participantes, em razão da
subtração já haver sido realizada;
3) Prisão em flagrante – quando o agente é preso em flagrante com o objeto do roubo, após
perseguição, responde por crime consumado (Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça,
que dispensam o requisito da posse tranqüila da coisa para consumação do roubo).

Tentativa
A tentativa é possível e será verificada quando, iniciada a execução, mediante violência ou grave
ameaça, o agente não consegue efetivar a subtração; não se exige o início da execução do núcleo “subtrair”,
e sim da prática da violência (conforme entende o Prof. Damásio de Jesus).
Concurso de Crimes
O número de vítimas não guarda equivalência com o número de delitos, que será relacionado com
base no número de resultados (lesões patrimoniais), que o agente sabia estar realizando no caso concreto.
É possível que um só roubo tenha duas vítimas, pois a vítima do roubo é tanto quem sofre a lesão
patrimonial, como quem sofre a violência ou grave ameaça. Exemplo: se A empresta seu carro a B, sendo
este último assaltado, ambos serão vítimas.

Havendo violência ou grave ameaça contra 2 pessoas e lesado o patrimônio contra 1 , haverá crime
único com 2 vítima.

Empregado violência ou grave ameaça contra 5 pessoas e lesado o patrimônio de 3, por ex, nesse
caso haverá 3 crimes de roubo em concurso formal.

Se o agente emprega violência ou grave ameaça contra uma pessoa para subtrair bens de 2 ou + .
Dependerá se ele sabe ou não estar lesionando 2 patrimônios - se sabe, responde por 2 crimes; se não sabe,
responde por crime único, evitando-se a responsabilidade penal objetiva.

Mas se o agente sabe que está lesando dois patrimônios (subtrai o relógio do cobrador e o dinheiro
do caixa, por exemplo), há dois crimes de roubo em concurso formal.
É possível a existência de crime continuado, se preenchidos os requisitos do artigo 71 do Código
Penal. Exemplo: indivíduo rouba uma pessoa em um ônibus, sai dele, entra em outro e rouba outra pessoa.

ROUBO IMPRÓPRIO (ART 157, § 1°)


* Art. 157, § 1º do CP - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega
violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da
coisa para si ou para terceiro.
Trata-se de roubo impróprio
A intenção do agente é furtar (não roubar, usando de violência e grave ameaça), mas pego em
fragrante, ele tornar-se violento para garantir o roubo.

Diferenças entre roubo próprio e impróprio


1 - no roubo próprio a violência ou grave ameaça ocorre antes ou durante a subtração; no roubo
impróprio ocorre depois.
2 - no roubo próprio a violência ou grave ameaça constitui meio para a subtração; enquanto no
roubo impróprio o agente , inicialmente, quer apenas furtar e depois de já haver apoderado do bem da
vítima emprega violência ou grave ameaça para garantir a sua impunidade ou a detenção do bem.
3 - no roubo próprio, a lei menciona 3 meios de execução, que são a violência, a grave ameaça ou
qualquer outro recurso que dificulte a defesa da vítima; no roubo impróprio, a lei menciona apenas 2
meios de execução, que são a violência ou grave ameaça, incabível o emprego de sonífero ou hipnose,
neste caso, de violência imprópria.

Requisitos do roubo impróprio:


1) Efetiva retirada da coisa - Que o agente tenha se apoderado do bem que pretendia furtar. Se o
agente ainda não tinha a posse do bem, não se pode cogitar de roubo impróprio, nem de tentativa.
Exemplo: o agente está tentando arrombar a porta de uma casa, quando alguém chega ao local e é
agredido pelo agente, que visa garantir sua impunidade e fugir sem nada levar. Haverá tentativa de furto
qualificado em concurso material com o crime de lesões corporais.

2) Emprego de violência ou grave ameaça “logo depois” da subtração - O “logo depois” está
presente enquanto o agente não tiver consumado o furto no caso concreto. Após a consumação do furto, se
houver demora, o emprego de violência ou de grave ameaça não caracterizará o roubo impróprio, mas sim
o, furto consumado em concurso material com o crime contra a pessoa realizado (lesão corporal, ameaça,
homicídio, etc).
Obs.: a violência ou grave ameaça pode ser contra o próprio dono do bem ou contra um terceiro, até
mesmo um policial
3) Finalidade de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para sí ou para terceiro –
Nem toda violência ou grave ameaça empregada após a subtração da coisa configurará o crime de roubo
impróprio. O tipo penal exige uma finalidade especial de agir, ou seja, que a violência ou grave ameaça
tenham o objetivo de garantir a detenção do bem ou assegurar a impunidade do agente. Assim, se durante
a fuga, após a subtração, o agente emprega violência contra terceiro inimigo seu, por vingança, não há
roubo impróprio, e sim furto em concurso material com um dos crimes contra a pessoa.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
A consumação do roubo impróprio ocorre no momento em que, após a retirada do bem, emprega-se
a violência ou grave ameaça contra o(s) perseguidor(es), decorrendo daí duas hipóteses:
1) o sujeito, após a retirada do bem, emprega violência ou grave ameaça contra a pessoa, havendo a
consumaçao do crime de roubo impróprio;
2) o agente, após a retirada do bem, não emprega violência ou grave ameaça contra a pessoa,
havendo somente a consumação do crime tentado ou consumação do crime de furto;

Pelo exposto, conclui-se que não é possível a tentativa do crime de roubo impróprio.

ROUBO CIRCUNSTANCIADO (ART 157, § 2°) – causas de aumento de pena.


Obs.: A doutrina classifica erroneamente este parágrafo como roubo qualificado, sendo que o
mesmo prevê causas de aumento de pena, caso ocorram determinadas circunstancias, e não uma
qualificação do crime. Para haver qualificação, teriam que ser previstos novos limites mínimos e máximos
da pena.
§ 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade:
I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância.
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para
o exterior;
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade.

* Art. 157, § 2º - A pena aumenta-se de 1/3 até 1/2 ("causa de aumento de roubo" [circunstanciado]):
I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma - é o chamado normalmente pela
Doutrina de roubo qualificado pelo emprego de arma.
Com emprego de arma – É chamado roubo qualificado pelo emprego de arma. (Repita-se que apesar
desse nome, não se trata de qualificadora, mas sim de causa de aumento de pena).
Arma é qualquer instrumento que tenha poder vulnerante. A arma pode ser própria ou imprópria.
Arma própria é a criada especificamente para ataque e defesa, tal como o revólver, por exemplo. Arma
imprópria é qualquer objeto que possa matar ou ferir, mas que não possui esta finalidade específica, como,
por exemplo, faca, tesoura, espeto etc.
Para o aumento da pena, é necessário que a arma seja apontada para a vítima; não basta que o
agente esteja armado e que a vítima tome conhecimento disto.

Obs.: para o Profº Fernando Capez, o fundamento dessa causa de aumento é o poder intimidador
que a arma exerce sobre a vítima. Assim, não importa o poder vulnerante da arma, desde que ela seja apta
a incutir medo na vítima, facilitando o roubo. Assim, a arma de fogo descarregada ou defeituosa ou o
simulacro de arma configuram a majorante em tela.
Entretanto, segundo o STF, a arma de brinquedo NÃO faz incidir a causa de aumento de pena
(serve apenas para tipificar o crime de Roubo). A Causa de aumento só incidirá se a arma possuir,
efetivamente, potencialidade lesiva. (Súm 174 STJ – REVOGADA).

OBS.: nesse sentido, a simulação do porte de arma não aumenta a pena, servindo unicamente para
caracterizar o roubo.

* Art. 157, § 2º - A pena aumenta-se de 1/3 até 1/2 ("causa de aumento de roubo" [circunstanciado]):
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
Se há o Concurso de duas ou mais pessoas – O Concurso de pessoas no Roubo Aumenta a pena, (no
furto, qualifica o crime). Basta o número de agentes para caracterizar o concurso de pessoas, sendo
indiferente a qualidade de inimputável de um deles.
Obs.: O crime de quadrilha (art 288 CP) não absorve a causa de aumento pelo concurso de pessoas,
pela divergência de objetos jurídicos e momento consumativo de ambos, assim:

CRIMES OBJETO MOMENTO CONSUMATIVO OBSERVAÇÃO


JURÍDICO

Quadrilha Paz pública Reunião de mais de 3 pessoas Com + de 3


ou bando para a prática de crimes pessoas
art. 288

Roubo Patrimônio Retirada da coisa com violência Com 2 pessoas ou


art. 157 ou grave ameaça + pessoas

* Art. 157, § 2º - A pena aumenta-se de 1/3 até 1/2 ("causa de aumento de roubo" [circunstanciado]):
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância.
Se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância– Não
importa a natureza do valor (dinheiro, jóias, títulos, etc.). Porém, a vítima deve estar, necessariamente, à
serviço de outrem pois, se a coisa for própria, a causa de aumento não incide. Além disso, é necessária,
também, a presença de elemento subjetivo, pois o agente deve ter consciência de que a vítima está a
serviço de outrem, para a causa de aumento ocorra (não importa a natureza do valor).

* Art. 157, § 2º - A pena aumenta-se de 1/3 até 1/2 ("causa de aumento de roubo" [circunstanciado]):
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para
o exterior
Se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o
exterior – Idêntico ao furto, com a ressalva da violência ou grave ameaça contra a pessoa empregada na
retirada da coisa (veículo automotor).

* Art. 157, § 2º - A pena aumenta-se de 1/3 até 1/2 ("causa de aumento de roubo" [circunstanciado]):
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade
Se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade – Não confundir com o crime
de Extorsão mediante seqüestro, pois a violência ou grave ameaça é cometida contra a pessoa, restringindo
a sua liberdade, com o fim de SUBTRAIR COISA ALHEIA MÓVEL.

Obs.: Não confundir com crime de extorsão, mediante seqüestro, pois a violência ou grave ameaça é
cometida contra a pessoa, restringindo sua liberdade, com o fim de subtrair coisa alheia móvel.

Obs.: sobre esta hipótese podemos trabalhar com 3 situações:


1. A privação de liberdade por tempo não considerável, sendo necessária a prática do roubo, não
configura o aumento de pena.
2. Se a privação é sensível, há a incidência da causa de aumento, desde que a privação da liberdade
não tenha sido necessária para a prática do roubo.
3. Se a privação de liberdade é sensível, relevante e sem necessidade para a prática do roubo, ocorre
o concurso formal do crime de roubo com crime de seqüestro.

ROUBO QUALIFICADO PELA LESÃO GRAVE OU MORTE - ART 157, § 3°.


Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de 7 a 15 anos, além da multa;
Se resulta morte, a reclusão é de 20 a 30 anos, sem prejuízo da multa.

O § 3º prevê as qualificadoras do crime, no caso de Lesão corporal grave e morte, decorrente da


VIOLÊNCIA).
Há duas formas de roubo qualificado, aplicáveis tanto ao roubo próprio quanto ao impróprio. De
acordo com a primeira parte do dispositivo: “se da violência resulta lesão corporal de natureza grave (art
129, §1° CP) a pena é de reclusão, de 7 (sete) a 15 (quinze) anos, além de multa”. Houve alteração da pena
mínima, para tornar pacífico o entendimento de que as causas de aumento da pena do § 2.º não se aplicam
às qualificadoras do § 3.º Se a lesão é leve, esta fica absorvida.
O roubo será qualificado se a morte ou a lesão corporal grave resultarem da “violência”; o tipo não
menciona a grave ameaça. Assim, se a vítima morre em razão da grave ameaça tem-se concurso formal de
roubo simples e homicídio culposo (exemplo: a vítima, ao ver a arma, sofre ataque cardíaco e morre).

ROUBO SEGUIDO DE MORTE (LATROCÍNIO - ART 157, § 3°, 2ª PARTE).


§ 3º ... se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa.

A parte final dispõe que “se resulta morte, a reclusão é de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, sem prejuízo
da multa”. É o denominado latrocínio, considerado crime hediondo nos termos da Lei n. 8.072/90.

LATROCÍNIO - (art. 1º, II da Lei nº 8.072/90 de hediondez) - na parte final do § 3º (do art. 157) é o
denominado latrocínio, considerado crime hediondo, nos termos da Lei nº 8.072/90.
O latrocínio é um crime complexo, que nasce da fusão de dois ou mais tipos penais (roubo +
homicídio), não sendo um crime doloso contra a vida, mas sim um crime contra o patrimônio.

SÚMULA Nº 603 - STF - A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do juiz


singular e não do Tribunal do Júri.
SÚMULA Nº 610 - STF - Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não se
realize o agente a subtração de bens da vítima.

1ª Obs.: No caso do § em estudo (§ 3º), o resultado agravador pode decorrer por culpa ou dolo,
dependendo da vontade e consciência do agente.

2ª Obs.: Se a morte resultar de grave ameaça não existirá a qualificadora do § 3º, mas sim o concurso
formal do crime de roubo com o crime contra a vida doloso ou culposo, dependendo da intenção do
agente.

3ª Obs.: No latrocínio, a vítima de morte e da subtração, necessariamente, não precisam ser a mesma
pessoa. Assim, se durante o roubo, a vítima de homicídio é o carona do veículo e não o motorista
proprietário, estará consumado o latrocínio.

4ª Obs.: Considerando a obs. acima citada - porém, a violência contra a pessoa tem que ser praticada
em função da subtração, ou seja, durante (fator tempo) e em razão dela (nexo causal: da subtração).

5ª Obs.: Exemplos que não configuram:


1 - O agente que durante a fuga, enxerga desafeto e decide matá-lo → roubo qualificado em
concurso com homicídio doloso.
2 - O agente que, depois de 3 semanas do crime de roubo, decide matar testemunha → crime de
roubo com homicídio para ocultação do crime.
3 - O latrocínio pode ser doloso ou culposo, se culposo o crime é preterdoloso e não admite
tentativa.
O agente pode, além de desejar a subtração, querer provocar lesão grave ou morte da vítima →
latrocínio doloso, que admite tentativa.
É evidente que a tentativa só é admitida quando o resultado agravador for desejado pelo agente,
pois não se pode tentar ao produzir por acidente.

6ª Obs.: Se após a realização de roubo, um dos ladrões mata o outro para ficar com o produto do
crime → não há latrocínio, mas homicídio qualificado por torpeza.

7ª Obs.: O latrocínio não é um crime contra a vida, mas contra o patrimônio, sendo ainda
considerado equiparado aos crime hediondos, disposto no art. 1º, II da Lei nº 8.072/90

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA NO LATROCÍNIO

MOMENTO CONSUMATIVO DO LATROCÍNIO – o latrocínio estará consumado se a morte estiver


consumada, independentemente da subtração. (vide súmula 610 STF – “há crime de latrocínio, quando o
homicídio se consuma, ainda que não realize o agente a subtração de bens da vítima”).
Quando o latrocínio é cometido contra pessoa elencada no artigo 224 CP, a pena é aumentada da
metade.
Presunção de violência
Art. 224 - Presume-se a violência, se a vítima:
a) não é maior de 14 (catorze) anos;
b) é alienada ou débil mental, e o agente conhecia esta circunstância;
c) não pode, por qualquer outra causa, oferecer resistência.

O LATROCÍNIO está consumado quando:


SUBTRAÇÃO MORTE LATROCÍNIO

Consumada Consumada Consumado

Consumada Não Consumada ou Tentado - Art 157, §3°, 2ª parte, c/c Art
Tentada 14, II, CP

Não Consumada ou Consumada Consumado - súmula 610 – STF


Tentada

O que importa é o bem-jurídico "vida", portanto, se consumada a morte independe se a subtração foi
consumada → basta que a intenção inicial era a subtração, não importa se foi consumada.
SÚMULA Nº 610 - STF - Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não se
realize o agente a subtração de bens da vítima.
Quando o latrocínio é cometido contra a pessoa elencada no art. 224 CP a pena é aumentada da
metade.

1ª Obs.: Se houver pluralidade de vítima fatais e unidade de patrimônio prevalece que é crime
único. Latrocínio agravado pela morte de outrem.
E se na mesma situação houver pluralidade de patrimônio prevalece o concurso formal. Ex.: um
onibus para roubar os passageiros e mata alguns.

2ª Obs.: Ainda que a morte seja dolosa, prevalece que o julgamento é de competência de juiz
singular:
SÚMULA Nº 603 - STF - A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do juiz
singular e não do Tribunal do Júri.

3ª Obs.: Se durante a pratica de roubo, o agente atira na vítima, mas acerta o comparsa, o que
prevalece é que responderá pelo latrocínio → erro de tipo acidental → "Aberratio Ictus".

TENTATIVA
Quando o resultado derivar de preterdolo, não há que se falar em tentativa.
Quando as lesões derivarem de dolo direto ou eventual, admite-se a tentativa (ácido na cara da
vítima). Assim, o elemento subjetivo (consciência e vontade do agente) definirá a existência ou não de
tentativa.

"Dolo eventual" - admite a culpa de provocar o resultado;


"Dolo direto" - deseja realmente provocar o resultado.
----------------------------------------------------------------------------

3 – EXTORSÃO (ART 158 CP)

GENERALIDADES:
A característica básica deste crime é que o agente coage a vítima a fazer, não fazer, ou tolerar que se
faça algo, mediante o emprego de violência ou grave ameaça. Resumindo: assemelha-se ao art. 146 CP - o
crime de constrangimento ilegal, diferenciando-se pela finalidade específica especial do agente,
caracterizada pela vontade de auferir vantagem econômica indevida.
Constrangimento ilegal - Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou
depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei
permite, ou a fazer o que ela não manda: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.

OBJETO JURÍDICO
A extorsão, como o roubo, também é um crime complexo, sendo a violência à pessoa o meio
executório para o auferimento da vantagem patrimonial (objetivo final do agente e motivo de estar no
título dos crimes contra o patrimônio). Na extorsão tutela-se sobretudo a inviolabilidade do patrimônio.
Secundariamente, tutela-se, também, a vida, a integridade física e a liberdade pessoal.

OBJETO MATERIAL
O objeto material do crime não é apenas a coisa móvel, como no furto e no roubo, mas também a
coisa imóvel, ou seja, tudo aquilo que pode ser objeto de ação ou omissão, da qual resulte proveito
indevido para o agente.
Exemplo: o agente que obriga a vítima a assinar uma escritura, passando-lhe propriedade de imóvel.

DIVISÕES DO ARTIGO
Art. 158, "caput" - Extorsão Simples
Art. 158, § 1º - Causas especiais de aumento de pena
Art. 158, § 2º - Extorsão Qualificada

EXTORSÃO SIMPLES (ART 158, “Caput”)


Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si
ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa:
pena - reclusão, de 4 a 10 anos, e multa.
O "caput" trata-se de extorsão simples, com pena de 4 a 10 anos e multa.

ELEMENTOS DO TIPO
A Ação Nuclear do tipo configura-se no verbo “constranger”, que significa coagir, compelir, forçar,
obrigar alguém a fazer (assinar escritura de imóvel), tolerar que se faça (permitir que o agente rasgue um
contrato) ou deixe de fazer alguma coisa (obrigar a vítima a não propor ação judicial contra o agente).
Ocorre, primeiramente, a ação de constranger realizado pelo coator, a qual é seguida pela realização ou
abstenção de um ato por parte do coagido.
Os Meios Executórios - através do emprego de violência ou grave ameaça, os quais podem atingir
tanto o titular do patrimônio qualto pessoa ligada a ele (filhos, pai, mãe, esposa, etc).
OBS.: A lei não se refere ao "emprego de qualquer outro meio" - como ocorre no roubo, de modo
que, se o constrangimento for realizado com emprego de substância entorpecente ou álcool, por ex., não
estará configurado o crime de extorsão (podendo ser roubo).

SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO


SUJEITO ATIVO
Extorsão é crime comum, qualquer pessoa pode praticá-lo. Porém, se o agente é funcionário público,
o crime cometido é o de Concussão - Art. 316 do CP - Exigir, para si ou para outrem, direta ou
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:
Pena - reclusão, de 2 a 8 anos, e multa.
Sobre este fato, têm-se duas situações:
1ª. Se o agente é funcionário público e, sem empregar violência ou grave ameaça, exige vantagem
indevida em razão da função, pratica concussão;
2ª. Se o funcionário público, em razão da função, além da exigência de vantagem indevida, emprega
violência ou grave ameaça, haverá extorsão, em razão de ser este crime mais grave, e apenado com mais
rigor.

SUJEITO PASSIVO
Sujeitos passivos - podem ser:
1. aquele que sofre a violência ou grave ameaça;
2. aquele que faz ou deixa de fazer ou tolera que se faça algo;
3. aquele que sofre o prejuízo econômico.
ELEMENTO SUBJETIVO
É o dolo, representado pela vontade de constranger outrem, mediante o emprego de violência ou
grave ameaça, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa.
Além do dolo, é necessário o fim especial de agir, para obtenção de vantagem econômica indevida.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
CONSUMAÇÃO
A Extorsão é crime formal não exigindo o resultado naturalístico, por isso, não é necessário que o
agente venha auferir a vantagem indevida para sua consumação. Quando ocorre a exigência da vantagem
indevida, já estará configurado o delito (Súm.96 do STJ) - O crime de extorsão consuma-se
independentemente da obtenção da vantagem in-devida.

TENTATIVA
É possível mesmo tratando-se a extorsão de um crime formal e plurisubsistente (uma vez que pode
ser transmitido através de vários atos), podendo não se consumar por circunstancias alheias à vontade do
agente. Pode ocorrer a tentativa, por ex., se a vítima, constrangida pelo emprego de violência ou grave
ameaça não realizar o comportamento ativo ou omissivo desejado pelo agente, para a obtenção da
vantagem econômica indevida, desde que por circunstancias alheias a vontade do agente.
OBS.: para que ocorra a tentativa, no entanto, o meio coativo empregado pelo agente deve ser
idôneo a intimidar a vítima.
1º ex.: Se o meio é idôneo e a vítima resolve, confiante, requisitar a intervenção policial - ocorre a
tentativa.
2º ex.:Da mesma forma, ocorre a tentativa se, praticada a violência ou grave ameaça, a vítima não
realizar comportamento exigido pelo agente.

EXTORSÃO X EXERCÍCIO ARBITRÁRIO DAS PRÓPRIAS RAZÕES


Exercício arbitrário das próprias razões - Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer
pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite: Pena - detenção, de 15 dias a 1 mês, ou multa,
além da pena correspondente à violência.Na extorsão o agente visa a uma vantagem patrimonial indevida,
enquanto no exercício arbitrário das próprias razões a vantagem é devida (artigo 345 do Código Penal).

EXTORSÃO X ROUBO
Há 3 correntes doutrinárias que buscam os pontos diferenciais desses 2 crimes:
1ª Corrente - Nelson Hungria defende que no roubo o bem é tirado da vítima, e na extorsão a vítima
entrega o bem.
2ª Corrente - enquanto no roubo a ação e o resultado são concomitante, ocorrendo ao mesmo tempo,
na extorsão o mal prometido e a vantagem são futuros.
3ª Corrente - a majoritária, adotada pela jurisprudência : o Profº. Damázio de Jesus defende que na
extorsão é imprescindível o comportamento da vítima, enquanto no roubo é prescindível (não interessa se
a vítima entrega ou não o bem - é roubo)
No exemplo do assalto, é irrelevante que a coisa venha a ser entregue pela vítima ao agente ou que
este a subtraia. Trata-se de roubo. Constrangido o sujeito passivo, a entrega do bem não pode ser
considerada ato livre voluntário, tornando tal conduta de nenhuma importância no plano jurídico. A
entrega pode ser dispensada pelo autor do fato. Já na extorsão o apoderamento do objeto material depende
da conduta da vítima”. A jurisprudência tem-se manifestado nesse sentido.
OBS.: na verdade independe se é roubo ou extorsão, a pena é a mesma. A questão polêmica é a que
diz respeito ao constrangimento da vítima para sacar dinheiro em caixa eletrônico - a jurisprudência
entende que o delito se trata de extorsão e não de roubo.

OBS.(extra) - sobre extorsão e roubo - a extorsão diferencia-se do roubo porque na extorsão é


imprescindível o comportamento do sujeito passivo imediato, enquanto no roubo é dispensado. Na
extorsão o agente não pode obter a vantagem ilícita indevida sem o comportamento da vítima, que pode
ser negado, sem que o autor possa superá-la negativa.

EXTORSÃO X ESTELIONATO
Estelionato - Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio,
induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de 1 a 5 anos, e multa.
Para se saber se o crime é o de extorsão, deve-se verificar se a entrega do objeto material foi
espontânea (voluntária) ou não. No estelionato, a entrega é espontânea porque a vítima está sendo
enganada; na extorsão, a vítima entrega a coisa contra a sua vontade por estar sob o efeito de violência ou
grave ameaça. No estelionato, a vítima não sabe que está sendo cometido um crime.
Quando o agente emprega fraude e violência ou grave ameaça para obter a coisa, o delito é de
extorsão, pois a entrega ocorre não em razão da fraude, mas sim da violência ou grave ameaça.
Observe o exemplo citado por Nelson Hungria: “uma pessoa simula ser policial e, sob ameaça de
morte, obriga a vítima a entregar-lhe certa quantia em dinheiro”.

EXTORSÃO X CONSTRANGIMENTO ILEGAL


Tanto na extorsão quanto no constrangimento ilegal, o agente emprega violência ou grave ameaça
contra a vítima, no sentido de que faça ou deixe de fazer alguma coisa.
A diferença entre os dois está na finalidade do agente. No constrangimento ilegal, o sujeito ativo
deseja que a vítima se comporte de determinada maneira, para obter qualquer tipo de vantagem. Na
extorsão, o constrangimento é realizado com o objetivo expresso no sentido de obter indevida vantagem
econômica.

Constrangimento Ilegal - Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou
depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei
permite, ou a fazer o que ela não manda: Pena - detenção, de 3 meses a 1 ano, ou multa.

CAUSAS DE AUMENTO DE PENA (ART 158, §1°)


O § 1.º do artigo 158 do CP dispõe: - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com
emprego de arma, aumenta-se a pena de 1/3 a 1/2.
Sobre o cometido do crime por duas ou mais pessoas, nota-se que neste § a lei fala de cometimento e
não em concurso, não servindo para partícipe, sendo indispensável, pois, que os co-agentes pratiquem atos
executórios do crime. Exige-se, portanto, a co-autoria e não mera participação. Assim, se um dos agentes
fica na vigília, enquanto o outro comete a extorsão, não incide o aumento de pena.
Não se deve confundir essa majorante com a prevista no crime de roubo e furto, que prevêem o
concurso de pessoas, o qual abrange a co-autoria e a participação.

Sobre o emprego de arma, aplicam-se aqui os comentários ao crime de roubo majorado pelo
emprego de arma (art. 157, §2º, I do CP).

EXTORSÃO QUALIFICADA (ART 158, §2°)


De acordo com este parágrafo, aplica-se à extorsão as regras e penas do roubo qualificado pela lesão
grave ou morte.
A extorsão qualificada pela morte é crime hediondo (artigo 1.º, inciso III, da Lei n. 8.072/90 de
hediondez).
1ª OBS.: A extorsão qualificada pela morte é considerada crime hediondo.
2ª OBS.: O crime de extorsão por morte da vítima, assim como no latrocínio, é de competência do
juiz singular e não do Tribunal do Júri.

EXTORSÃO MEDIANTE SEQÜESTRO (ART 159).

DIVISÕES DO ARTIGO:
ART 159, “Caput” – Extorsão mediante seqüestro simples;
ART 159, §§1º, 2° e 3º – Extorsão mediante seqüestro qualificada;
ART 159, §4º – Causa de diminuição de pena;

Extorsão mediante Seqüestro - Art. 159, caput - SIMPLES - Seqüestrar pessoa com o fim de obter,
para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate: Pena - reclusão, de 8 a 15
anos.
A Extorsão mediante seqüestro também é crime formal, consumando-se com o simples
arrebatamento da vítima, independentemente da obtenção ou não da vantagem econômica. Trata-se de
uma extorsão na qual ocorre privação da liberdade da vítima, tendo por fim a obtenção de vantagem,
como condição ou preço do resgate.
OBS.: Trata-se de crime hediondo em todas as modalidades (forma simples ou qualificada).
As penas foram alteradas pela Lei nº 8.072, de 25.7.1990, que aumentou a pena privativa de
liberdade de 6 a 12 para 8 a 15 anos, eliminando a multa.

OBJETIVIDADE JURÍDICA
O principal bem tutelado é o patrimônio. Secundariamente tutela-se da liberdade de locomoção.
Trata-se de crime complexo.
Nas formas qualificadas pelo resultado lesão corporal grave ou morte, tutela-se, ainda, a integridade
física.

ELEMENTO SUBJETIVO
É o dolo, consistente na vontade livre e consciente do agente em sequestrar a vítima, mais a
finalidade especial de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do
resgate. Não presente esta finalidade, o crime passa a ser outro, como por exemplo, o do artigo 148
(sequestro e cárcere privado), em caso de vingança do agente contra a vítima.

ELEMENTOS DO TIPO
A AÇÃO NUCLEAR do tipo configura-se no verbo “sequestrar”, que significa privar a vítima de sua
liberdade de locomoção, ainda que por breve espaço de tempo.
1ª OBS.: apesar do artigo não se referir, expressamente, ao cárcere privado, entende a Doutrina que
o termo "seqüestro" tem acepção ampla, abrangendo também aquele.
2ª OBS.: o que diferencia o seqüestro do art. 148 do art. 159 é a finalidade especial do agente de
obter para si ou para outrem vantagem como condição ou preço do resgate.
3ª OBS.: embora o tipo penal fala em "qualquer vantagem", entende-se que esta deve
necessariamente ser de natureza econômica.
4ª OBS.: a lei também não diz se a vantagem almejada é devida ou indevida, como o faz
expressamente no crime de extorsão. O profº Damázio de Jesus entende que para configuração de Extorsão
mediante Seqüestro a vantagem pode ser devida ou indevida.
Para maioria da Doutrina, no entanto, para caracterizar a extorsão mediante seqüestro a vantagem
deve, necessariamente, ser indevida e patrimonial. Se a vantagem for devida o crime será o de exercício
arbitrário das próprias razões (345) em concurso formal de seqüestro ou cárcere privado (148).
5ª OBS.: a intenção de se obter a vantagem não precisa ser anterior ao Seqüestro, podendo ocorrer
posteriormente a este.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
Consumação - O crime se consuma no momento do seqüestro, com a privação da liberdade de
locomoção da vítima. Trata-se, portanto, de crime formal, já que não exige o pagamento do resgate,
considerado simples exaurimento crime.
Tratando-se de delito permanente, poderá ocorrer prisão em flagrante enquanto a vítima estiver sob
o poder dos seqüestradores (artigo 303 do Código de Processo Penal).
CPP - Art. 303 - Nas infrações permanentes, entende-se o agente em flagrante delito enquanto não
cessar a permanência.

Tentativa - A tentativa é possível quando, iniciado o ato de “seqüestrar”, os agentes não tiverem
êxito na captura da vítima, desde que provada a sua intenção de obter vantagem como condição ou preço
do resgate.

SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO


Sujeito Ativo - Trata-se de crime comum, assim, qualquer pessoa pode praticá-lo.

1ª Obs.: o sujeito ativo deste crime não é apenas aquele que realiza o seqüestro, mas também o que
vigia a vítima no local do cativeiro e também aquele que faz a ligação aos parentes da vítima.
2ª Obs.: caso o agente seja funcionário público, no exercício de suas funções, pode ocorrer, além da
extorsão, o delito previsto nos arts. 3º e 4º da Lei nº 4.898/65
Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:
a) à liberdade de locomoção;
Art. 4º Constitui também abuso de autoridade:
a) ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual, sem as formalidades legais ou com
abuso de poder;
SUJEITO PASSIVO - Sujeito Passivo é qualquer pessoa, admitindo-se a pluralidade de sujeitos
passivos.
É sujeito passivo o seqüestrado e a pessoa a quem se dirige a finalidade do agente de obter a
vantagem.
1ª Obs.: Para que incida a qualificadora do § 1º do art. 159 é necessário que a vítima seja,
efetivamente, maior de 60 anos, não incidindo quando a vítima tiver até 60 anos.
2ª Obs.: se a vítima tiver menos de 14 anos, não se aplica a qualificadora , prevista no § 1º, mas sim o
art. 9º da Lei nº 8.072/90 (dos crimes hediondos), onde a pena é acrescidas de metade, respeitado o limite
máximo de trinta anos de reclusão.
32ª Obs.: para o profº. Fernando Capez, caso o crime seja cometido por quadrilha ou bando, os
agentes responderão pelo crime de extorsão mediante seqüestro em quadrilha ou bando em concurso
material. (§3º do art. 159 do CP)

EXTORSÃO MEDIANTE SEQÜESTRO SIMPLES (ART 159, “caput”).


Art. 159 - Seqüestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como
condição ou preço do resgate: Pena - reclusão, de 8 a 15 anos.

Trata-se de crime hediondo, conforme o artigo 1º, IV, da lei 8.072/90.

3.22. EXTORSÃO MEDIANTE SEQÜESTRO QUALIFICADA(ART 159, §§1°, 2° e 3°)


§ 1o Se o seqüestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o seqüestrado é menor de 18 (dezoito)
ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha: Pena - reclusão, de doze
a vinte anos.

§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e
quatro anos.

§ 3º - Se resulta a morte: Pena - reclusão, de 24 a 30 anos.

1ª Obs.: Essas duas qualificadoras só se aplicam quando o resultado recair sobre a pessoa
sequestrada. A morte de outras pessoas que não a vítima constitui o crime de homicídio ou lesão grave em
concurso com o crime do art. 159 em sua forma simples.
2ª Obs.: as qualificadoras se aplicam tanto ao resultado doloso quanto ao culposo. Só não serão
aplicadas se o resultado agravador for conseqüência de caso fortuito ou culpa de terceiro.
3ª Obs.: a pena será agravada de metade se a vítima se encontra nas condições:
-Art. 224 do CP - Presume-se a violência, se a vítima:
a) não é maior de catorze anos;
b) é alienada ou débil mental, e o agente conhecia esta circunstância;
c) não pode, por qualquer outra causa, oferecer resistência.
-Art. 9º da Lei dos crimes hediondos

DELAÇÃO PREMIADA (ART 159, §4°) – CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA


§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a
libertação do seqüestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços.

O §4° do Art 159 permite a delação premiada mesmo na hipótese de dois ou três comparsas. O
denunciante terá a pena diminuída se preenchidos dois requisitos:
REQUISITOS:
a) Existência de um crime de extorsão mediante seqüestro;
b) Crime cometido em concurso;
c) Delação feita por um dos co-autores ou partícipes à autoridade;
d) Eficácia da delação.
----------------------------------------------------------------------------

4 – DANO (ART 163 CP)


Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia: Pena - detenção, de um a seis meses, ou
multa.
Obs.: Dano é um delito de natureza privada só se procedendo mediante queixa do ofendido devido
ao quantum de sua pena. Trata-se de crime de competência do Judiciário Especial. A reparação de dano ou
a simples composição em relação ao prejuizo, desde que homologado pelo juiz em audiência preliminar,
gera a extinção da punibilidade do agente nos termos do art. 74, paragrafo único da Lei nº 9.099/95 dos
Juizados Especiais.
Art. 74, Parágrafo único - Tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação penal pública
condicionada à representação, o acordo homologado acarreta a renúncia ao direito de queixa ou
representação.

GENERALIDADES:
O dano de que fala o artigoem tela refere-se, especificamente, ao dano físico, que recai diretamente
sobre a coisa, trazendo modificações de ordem material.
Apesar de ser um crime contra o patrimônio, a finalidade específica de obtenção de vantagem
econômica não constitui seu elemento essencial (o agente não visa necessariamente à obtenção de
vantagem econômica), apesar de nada impedir sua presença.

OBJETO JURÍDICO
O objeto jurídico do crime de dano são a propriedade e a posse de coisas móveis e imóveis.

OBJETO MATERIAL
Objeto material é a coisa alheia (móvel ou imóvel), inclusive aquela perdida pelo dono.

1ª Obs.: pela redação do artigo, a Res Nulius ou coisa sem dono não pode ser objeto do delito, pois
trata-se de coisa que não pertence a ninguem e o crime de dano exige que a coisa seja alheia.
2ª Obs.: a este crime tem sido aplicada, pela jurisprudência, o princípio da insignificancia que afasta
a tipicidade penal.

SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO


Sujeito Ativo - é qualquer pessoa , menos o proprietário.
Obs.: Se o autor da conduta danosa for o proprietario da coisa, o crime praticado será o do art. 346
do CP, que pune quem tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa própria, que se acha em poder de
terceiro em razão de contrato (aluguel, penhor) ou de ordem judicial.

Sujeito Passivo - é o titular do direito de propriedade. Em regra, o proprietário do bem danificado.


Excepcionalmente, o possuidor.

ELEMENTO SUBJETIVO
É o dolo, representado pela vontade do agente em praticar uma das condutas previstas no tipo
penal.
Não há crime de dano culposo previsto pela legislação comum.
Entretanto, no Cód Penal Militar existe essa possibilidade.
Apesar de existirem autores que defendam o contrário, prevalece na doutrina que basta a vontade
de danificar, não havendo a necessidade do fim especial de causar prejuizo ao ofendido, pois a lei não se
refere a esse elemento subjetivo.

ELEMENTOS OBJETIVOS DO TIPO


Destruir: a coisa deixa de existir em sua individualidade; demolir, desfazer o objeto:
Ex: matar um animal, cortar uma árvore, quebrar uma vidraça, etc.

Inutilizar: fazer com que o bem se torne inútil para as funções originárias.
Ex: quebrar um revólver, castrar um reprodutor, etc.

Deteriorar: qualquer outra forma de dano que não seja destruir ou inutilizar; estragar; causar
modificação para pior.
Ex: alterar obra de arte, sem destruí-la, tirar os ponteiros de um relógio, etc.

1ª Obs.: a conduta de pixar, grafitar, que antes era enquadrada como crime de dano por
deterioração, com o advento da lei 9.605/98 (meio ambiente) passou a ser tipificado em seu art. 65, desde
que atinja edificação ou monumento urbano. Mas caso seja em área rural ainda será tipificado como
deterioração.

2ª Obs.: a conduta de fazer desaparecer o objeto alheio é fato atípico. Trata-se de uma lacuna das
normas penais incriminadoras, não havendo adequação ao tipo penal do art. 163 , por ex.: soltar um
animal numa floresta. Porém, o tipo é previsto no Cód. Penal Militar em seu art. 259 - Destruir, inutilizar,
deteriorar ou fazer desaparecer coisa alheia: Pena - detenção, até seis meses.

3ª Obs.: a destruição de objeto material de furto é um pós fato... impunível

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
CONSUMAÇÃO – Trata-se de crime material. Tem lugar com o efetivo dano, total ou parcial, ao
objeto.
É indispensável a prova pericial.

TENTATIVA - é admissível.

DANO QUALIFICADO (Parágrafo Único do Art 163, CP)


Art. 163, parágrafo único - Se o crime é cometido:
I - com violência à pessoa ou grave ameaça;
II - com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais grave
III - contra o patrimônio da União, Estado, Município, empresa concessionária de serviços
públicos ou sociedade de economia mista;
IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima:
Pena - detenção, de 6 meses a 3 anos, e multa, além da pena correspondente à violência.

• I - com violência à pessoa ou grave ameaça


Dano simples é aquele que não envolve violência ou grave ameaça.
1ª Obs.: para caracterizar essa qualificadora a violência ou grave ameaça devem ser praticados com
o intuito de viabilizar a realização do dano, antes ou durante a execução do crime. Se o crime se consumou
e, após, ocorre o emprego de violência ou grave ameaça contra vítima, haverá dano simples em concurso
com o resultado da violência.

2ª Obs.: o sujeito ativo pode valer-se dos meios executórios não só contra o titular da propriedade,
mas também contra terceira pessoa a este ligado

• II - com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais grave
1ª Obs.: observar os arts. 250 e 251 do CP
Art. 250 - Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem:
pena - reclusão, de 3 a 6 anos, e multa.
Art. 251 - Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, mediante explosão,
arremesso ou simples colocação de engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos: pena -
reclusão, de 3 a 6 anos, e multa.

• III - contra o patrimônio da União, Estado, Município, empresa concessionária de serviços


públicos ou sociedade de economia mista
1ª Obs.: "patrimônio" deve ser entendido, aqui, de forma ampla, ou seja, englobando até mesmo os
bens de uso comum do povo. Quebrar orelhão, banco de praça.

2ª Obs.: A locação ou sessão de prédios a órgãos da administração pública não os caracteriza como
públicos. Se houver dano neste caso será simples, pois o imóvel é particular (é de propriedade particular
alugado para um órgão).

• IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima.


1ª Obs.: "motivo egoístico" é o simples sentimento pessoal que levou o agente a cometer o crime
(ódio, inveja, despeito, etc.). Tem que ser algo do qual resulte em proveito pessoal econômico ou moral,
ex.: envenenar o cavalo do competidor para ganhar a corrida.
2ª Obs.:Prejuízo considerado para a vítima, devendo o sujeito praticar o fato com intenção
específica, devendo mesmo ser aferido em relação à situação do ofendido (que deixe a vítima em prejuízo
considerado, arrasado, falido)

AÇÃO PENAL (art 167 CP)


Art. 167 - Nos casos do art. 163, do inciso IV do seu parágrafo e do art. 164, somente se procede
mediante queixa.

AÇÃO PENAL PRIVADA – de acordo com o artigo 167, é cabível no caso de dano simples (caput) e
no caso do inciso IV do parágrafo único (hipótese de dano qualificado);

AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA – é cabível nas demais hipóteses do art 167 incisos I,
II e III do CP;
----------------------------------------------------------------------------

5 – ESTELIONATO (ART 171 CP)


Estelionato - Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio,
induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
pena - reclusão, de 1 a 5 anos, e multa.
Trata-se de Estelionato Simples

DIVISÕES DO ARTIGO:
ART 171, “Caput” – Estelionato simples;
ART 171, §1° – Estelionato privilegiado;
ART 171, §2° – Estelionatos equiparados;
ART 171, §3° – Majorante;

GENERALIDADES:
A idéia principal do crime de estelionato é a fraude, o engodo, a mentira.
Há várias elementares a considerar neste crime. É preciso que ocorra a obtenção de uma vantagem, e
que ela seja ilícita. É ainda necessário que terceiro sofra prejuízo. A vítima deve ser induzida ou mantida
em erro, com o emprego de artifício, ardil, ou outro meio fraudulento.

OBJETO JURÍDICO
Tutela-se a inviolabilidade do patrimônio. O dispositivo visa reprimir a fraude causadora de dano
ao patrimônio do indivíduo.

OBJETO MATERIAL
É a vantagem ilícita. O agente emprega meio fraudulento capaz de iludir a vítima com a finalidade
de obter vantagem ilícita em prejuízo alheio.

1ª Obs.: a vantagem obtida deve ser econômica, segundo a maioria da doutrina, porque se trata de
um crime patrimonial.
2ª Obs.: deve ser, também, ilícita. Se lícita, o crime é o serviço arbitrário das próprias razões.

ELEMENTOS DO TIPO
A AÇÃO NUCLEAR do tipo consiste em induzir ou manter alguém em erro, medinate o emprego
de artifício, ardil, qualquer outro meio fraudulento, a fim de obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita
em prejuízo alheio.
No Estelionato, em vez de violência ou grave ameaça o agente emprega a fraude, obtida através de
um ardil, uma estratégia para:
-Induzir a vítima em erro – O agente é quem faz a vítima ter a falsa percepção da realidade;
-Manter a vítima em erro – A vítima, espontaneamente, se equivoca, e o agente não desfaz o engano.
1ª Obs.: para haver a caracterização do estelionato é fundamental que haja aptidão do meio para
iludir o ofendido, sendo que a potencialidade é aferida segundo as condições pessoais da vítima e as
circunstancias específicas do caso concreto.
2ª Obs.: o "erro" consiste na falsa percepção da realidade, provocando uma manifestação de vontade
viciada, pois a situação na qual a vítima acredita não existe. Se a vítima tivesse conhecimento verdadeiro
dos fatos não haveria a obtenção de vantagem patrimonial pelo agente.

3ª Obs.: prejuízo alheio é o objeto danoso de natureza patrimonial. Juntamente com a obtenção
vantagem patrimonial ilícita pelo agente deve haver um prejuízo para a vítima, ou seja, uma perda
patrimonial.

MEIOS EXECUTÓRIOS DESTE CRIME:


-Artifício – É a fraude no sentido material. É a utilização de algum aparato para enganar. Ex:
Cheque, Bilhete, etc;
-Ardil – É a fraude no sentido imaterial, dirigida à inteligência da pessoa, visando a criação de uma
motivação ilusória. Ex: A conversa enganosa, a simulação de uma doença, etc (utilizada sem nenhum outro
aparato,além da “cara-de-pau”;
-Qualquer outro meio – abrange os dois meios supra citados e, também, todos os outros que sirvam
ao fim desejado, que é o estelionato. Ex: O silêncio para manter a vítima em erro ( o que caracteriza a
possibilidade do cometimento por omissão).

SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO


SUJEITO ATIVO - É crime comum, qualquer pessoa pode praticá-lo. Há, ainda, a hipótese de co-
autoria ou participação. Vejamos alguns casos:
1-um dos agentes induz ou mantem a vítima em erro mediante o emprego de fraude. O outro, de
comum acordo, apodera-se do bem, produto do estelionato, ou seja, obtém a vantagem ilícita. Ambos são
co-autores do crime de estelionato;

2-São também co-autores de estelionato tanto quem assina folha de cheque pertencente a outro
titular da conta, como quem, mediante esse meio fraudulento, obtém vantagens ilícitas, adquirindo
mercadorias, usufruindo-as e recebendo troco;

3-O agente induz ou mantém a vítima em erro, mediante o emprego de fraude, com a intenção de
obter vantagem ilícita que beneficiará terceiro. Se esse benefício induziu ou instigou o agente a praticar o
crime, responderá como partícipe do crime de estelionato. Se ele tomou conhecimento da origem criminosa
do bem no momento em que recebeu o objeto, responderá por receptação dolosa. Se contudo, não tinha
qualquer conhecimento da origem criminosa do bem, não responderá por qualquer crime.

SUJEITO PASSIVO – é a pessoa enganada, ou seja, aquela que sofre o prejuízo. Porém, pode o
sujeito passivo, que sofre a lesão patrimonial, ser diverso da pessoa enganada. A pessoa deve ser
determinada, e o número indeterminado de pessoas caracteriza, além do estelionato contra as vítimas
específicas, crime contra a economia popular em concurso formal. Por exemplo: Balança viciada de um
açougue.

O enganado terá de ter capacidade para ser iludido, pois se for louco ou menor, incorrerá o agente
no crime de abuso de incapazes, (art 173) ou crime de furto (art. 155)..

ELEMENTO SUBJETIVO
É o dolo, representado pela vontade livre e consciente de realizar a conduta fraudulenta em prejuízo
alheio

Além do dolo, é necessário o fim especial de agir, para obtenção de vantagem econômica indevida.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
CONSUMAÇÃO - O estelionato é crime material, consumando-se, assim, com a obtenção da
vantagem ilícita indevida,em prejuízo alheio, ou seja, quando o agente aufere o proveito econômico,
causando dano à vítima.

1ª Obs.: trata-se de crime de duplo resultado:


1. A obtenção da vantagem indevida pelo agente;
2. Prejuízo alheio.
Havendo os dois resultados o crime estará consumado.

2ª Obs.: A consumação no local onde o agente obteve a vantagem ilícita determina também a
competência.
A competência para julgamento, conforme Súm 48 do STJ – Compete ao juízo do local da obtenção
da vantagem ilícita processar e julgar crime de estelionato cometido mediante falsificação de cheque.

TENTATIVA - É admissível. Há tentativa se o agente não logra obter a vantagem indevida por
circunstâncias alheias à sua vontade. Ex: Agente que, passando-se por técnico de informática, vai à
residência da vítima, dizendo ter que levar o equipamento e, na saída, é surpreendido pelo verdadeiro
profissional.

Obs.: para que haja tentativa, o meio deve ser idôneo a enganar. Se for meio inidôneo, grosseiro,
haverá crime impossível por absoluta ineficiência do meio empregado (art. 17 CP).

ESTELIONATO SIMPLES (ART 171, CAPUT, CP)


Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou
mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: Pena - reclusão,
de um a cinco anos, e multa.

ESTELIONATO FURTO MEDIANTE FRAUDE

- O agente emprega a fraude, fazendo com que a - O agente emprega a fraude para
vítima entregue espontaneamente a coisa, ainda que distrair a vítima, facilitando a subtração.
enganada. - A mudança de posse é unilateral.
- A mudança de posse é bilateral.

Ex: a) Furtar carro durante “Test drive”, para a maioria, é considerado Furto Mediante Fraude, pois
a concessionária entregou uma posse vigiada;
b) Pessoa que, em loja de roupas, coloca três calças e sai, comete também o crime de Furto mediante
fraude.

5.9. ESTELIONATO PRIVILEGIADO (ART 171, §1°, CP)


Trata-se de Estelionato Privilegiado
Art. 171, § 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena
conforme o disposto no art. 155, § 2º.

Aplicam-se, a este caso, todos os dispositivos relativos ao furto privilegiado: “Se o agente é primário
e o prejuízo de pequeno valor, o juiz poderá diminuir a pena de 1/3 a 2/3, substituir a pena de reclusão
por detenção ou aplicar somente pena de multa”.

Obs.: Os benefícios previsto no § 1º aplicam-se tanto ao caput quanto ao § 2º.

5.10. SUB-TIPOS DE ESTELIONATO (ART 171, §2°, CP)


Trata-se de Estelionato Equiparados
Art. 171, § 2º - Nas mesmas penas incorre quem:

Disposição de coisa alheia como própria


I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia como própria;

Obs.: Comete este crime, o condômino que vende ou aliena coisas em divisa do condomínio.

Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria


II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria inalienável, gravada de ônus ou
litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento em prestações, silenciando sobre
qualquer dessas circunstâncias;
Pune a conduta oposta do inciso I. Só pode ser sujeito ativo deste crime o real proprietário (crime
próprio, que exige condição especial do agente).
1ª Obs.: Ex.: o proprietário vende duas vezes o seu imóvel para dois compradores diferentes. Se o
proprietário se manter calado, não participando nenhuma das partes, responde pelo estelionato. Portanto,
as condutas desse inciso só serão crime se “o proprietário silenciar” sobre essas condições.
Se comunicar a uma das partes sobre a venda iniciada, mas não concluída, não responde pelo
estelionato e a parte prejudicada pode buscar reparação de danos.

2ª Obs.: Trata-se de crime próprio – só o proprietário responde por esse inciso.

Defraudação de penhor
III - defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro modo, a garantia
pignoratícia, quando tem a posse do objeto empenhado;

Defraudar = Espoliar por meio de fraude;


Espoliação = tirar a alguém, por violência ou fraude, a propriedade de alguma coisa.

Fraude na entrega de coisa


IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar a alguém;
O sujeito ativo é todo aquele que está apto a entregar algo a alguém, sendo o sujeito passivo o
adquirente da coisa defraudada.

1ª Obs.: Na conduta desse inciso o agente defrauda (altera):


1. Substância – ex.: entrega óleo em lugar de azeite.
2. Qualidade – ex.: vende arroz de 3ª dizendo ser de 1ª.
3. Quantidade – ex.: pesa 900 gr de carne e vende como sendo de 1 kg.

2ª Obs.: O crime só se configura se a vítima é certa e determinada. Pois em caso de as vítimas serem
indeterminadas (ex.: consumidores em geral) o crime é “Contra a economia popular”.

Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro


V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou
agrava as conseqüências da lesão ou doença, com o intuito de haver indenização ou valor de seguro;

Fraude no pagamento por meio de cheque


VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o
pagamento.

1ª Obs.: Para que se caracterize o estelionato, há que estar presente a má-fé, a utilização de fraude
para obtenção da vantagem ilícita. Se não houver, configurará mero ilícito civil, conforme Súm. 246 do STF
- Comprovado não ter havido fraude, não se configura o crime de emissão de cheque sem fundos.

2ª Obs.: A conta deve estar ativa. Se inata o crime é de estelionato simples.

3ª Obs.: O crime consuma-se no momento e local em que o Banco recusa seu pagamento.

4ª Obs.: O STF entende que, o pagamento do valor do cheque, antes do recebimento da denuncia
exclui a justa causa para a cão penal – não havendo mais motivos. Mas se pago após o oferecimento da
denuncia é causa de diminuição de pena (Súm. 554 do STF): se trata de atenuante de pena, pois o juiz
considera aquele pagamento, entretanto não deixa de penalizá-lo.

MAJORANTE DO CRIME DE ESTELIONATO (ART 171, §3°, CP)


Trata-se de Estelionato Majorante
Art. 171, § 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de entidade de
direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência.

OUTRAS FRAUDES (ART 176 CP)


Art. 176 - Tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem
dispor de recursos para efetuar o pagamento:
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.
Parágrafo único - Somente se procede mediante representação, e o juiz pode, conforme as
circunstâncias, deixar de aplicar a pena.
----------------------------------------------------------------------------

6.RECEPTAÇÃO (ART 180 CP)

DIVISÕES DO ARTIGO:
ART 180, “Caput” – Receptação própria e imprópria;
ART 180, §1° – Receptação qualificada;
ART 180, §2° – Modalidade equiparada;
ART 180, §3° – Receptação culposa;
ART 180, §4° – Norma explicativa;
ART 180, §5° – Perdão Judicial;
ART 180, §6° – Causa de aumento de pena;

6.1 - GENERALIDADES
O crime de Receptação encontra-se no rol dos delitos mais praticados pela nossa sociedade,
variando desde a aquisição de pequenos produtos vendidos por camelôs e ambulantes até as mais
impressionantes situações, cometidas por grandes empresas, que adquirem carregamentos inteiros de
mercadorias roubadas, quase sempre, durante o seu transporte rodoviário.

6.2. OBJETO JURÍDICO


Tutela-se a inviolabilidade do patrimônio.

6.3. OBJETO MATERIAL


O objeto material deste crime é o produto do crime, isto é, coisa procedente de anterior delito contra
o patrimônio.
Prevalece que a coisa tem que ser móvel. Os objetos imóveis não podem ser objeto deste crime, pois
“receptar” é o mesmo que “dar esconderijo”.

6.4. PRESSUPOSTO
O crime de receptação exige, para o seu cometimento, um pressuposto: a existência de crime
anterior. Assim, para que ocorra o crime de receptação, deve ocorrer um crime antecedente (delito
pressuposto). Neste crime tipifica-se a conduta que estimula o cometimento de outros crimes contra o
patrimônio, e que serve como um incentivo à prática de ilícitos desta natureza. Além disso, busca-se coibir
o enriquecimento, a obtenção de vantagem financeira do receptador com o produto de crime
anteriormente praticado.
A receptação é um delito autônomo em relação à infração antecedente, ou seja, basta a prova da
existência de crime anterior, não havendo a necessidade de comprovação da autoria deste.

Também se for extinta a punibilidade do crime anterior, ou se a punição deste depender de


representação do ofendido e esta não ocorrer persistirá o crime de receptação, em razão da autonomia do
crime em relação ao anterior.

6.5 – ELEMENTOS DO TIPO:

Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa
que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

RECEPTAÇÃO PRÓPRIA (caput, 1ª parte) – É a prevista na Primeira parte do Caput do artigo 180:
“Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser
produto de crime...”. assim, temos os verbos:
a) ADQUIRIR – obtenção do domínio da coisa de forma onerosa (compra) ou gratuita (doação);
b) RECEBER – Diz respeito a qualquer forma de obtenção da posse da coisa produto de crime (não
há transferência da propriedade);
c) TRANSPORTAR – é o deslocamento da coisa de um local para outro;
d) CONDUZIR – significa dirigir, no caso, qualquer meio de transporte de locomoção que seja
produto de crime;
e) OCULTAR – Significa esconder, de forma a não ser encontrado;

Nas modalidades transportar, conduzir e ocultar o crime é permanente.

RECEPTAÇÃO IMPRÓPRIA (caput, 2ª parte)– É a prevista na segunda parte do Caput do artigo 180:
“...ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte”.
Nessa hipótese, o agente estimula terceiro de boa-fé a adquirir, receber ou ocultar coisa proveniente
de crime. Ressalte-se que o influenciador não pode ser aquele que praticou o crime antecedente. Quem
furta e convence terceiro de boa-fé a ficar com o produto furtado não responde por receptação imprópria,
mas apenas pelo furto.
O terceiro deve estar de boa-fé, se souber da origem do produto, o influenciador será partícipe de
receptação própria.

6.6 - SUJEITO ATIVO e SUJEITO PASSIVO:

a) SUJEITO ATIVO: É crime comum. Qualquer pessoa pode praticá-lo, exceto o autor, co-autor ou
partícipe do crime antecedente. (Quem participa do crime antecedente responde por ele, e não pela
receptação).

b) SUJEITO PASSIVO: É a vítima do crime antecedente. O titular do bem jurídico atingido pelo
crime pressuposto.

6.7 - ELEMENTO SUBJETIVO:


É o dolo, consistente na vontade livre e consciente de adquirir, receber, transportar, conduzir ou
ocultar a coisa, ou de influir para que terceiro de boa-fé a adquira, receba ou oculte.
O tipo penal exige expressamente o dolo direto (no caso, o elemento subjetivo “sabe”, previsto no
artigo). Se o indivíduo tolera a origem criminosa, mas não sabe, não incide no caput, mas sim na
modalidade culposa (parágrafo 3°).
Além disso, exige-se um fim especial de agir, representado na expressão “em proveito próprio ou
alheio” (obter vantagem, para si ou para terceiro). Se o ocultamento da coisa for realizado com o fim de
favorecer o autor do crime antecedente, averá o crime de favorecimento real (art 349 CP).
CP - Art. 349 - Prestar a criminoso, fora dos casos de co-autoria ou de receptação, auxílio destinado a
tornar seguro o proveito do crime:
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.

RECEPTAÇÃO FAVORECIMENTO REAL


(ART 180) (ART 349)

- Oculta-se a coisa produto do crime em proveito - Oculta-se a coisa para beneficiar o


seu ou de terceiro, não autor do crime anterior; próprio autor do crime anterior.
- Ex: “A” furta e “B” oculta (para si ou para 3°). - Ex: “A” furta e “B” oculta (em
benefício de “A”).

6.8. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

CONSUMAÇÃO – Na receptação própria (caput, 1ª parte), O CRIME É MATERIAL. A consumação


ocorre quando o agente realiza uma das condutas típicas (“Adquirir, receber, transportar, conduzir ou
ocultar...”).
Na receptação imprópria (caput, 2ª parte), O CRIME É FORMAL. Basta o simples ato de
“influenciar”, não sendo necessário que o terceiro de boa-fé efetivamente adquira, receba ou oculte a coisa
produto do crime.

TENTATIVA – a receptação própria admite a tentativa (crime plurisubsistente), já a receptação


imprópria não admite (crime unisubsistente).

6.9. RECEPTAÇÃO DOLOSA QUALIFICADA (ART 180, §§1° E 2° CP)


§ 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar,
remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no
exercício de atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber ser produto de crime:
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.
Temos aqui um crime próprio, pois somente pode ser praticado por quem desempenha atividade
comercial ou industrial.
O parágrafo pune o comerciante ou industrial que comete receptação, empregando a expressão:
“que deve saber ser produto de crime”, o que gera a seguinte situação: se a lei fala em “dever saber”, há
uma situação de falta de certeza. E se o comerciante tiver certeza de que a coisa é produto de crime?
Responderá pela forma qualificada? A maioria entende que a consciência da origem criminosa não precisa
da certeza, bastando a tolerância. Classifica-se, aqui, o elemento cognitivo como dolo direto ou eventual,
ou seja, tanto faz se o sujeito sabe ou aceita o risco da origem criminosa, há receptação qualificada.

6.10. MODALIDADE EQUIPARADA (ART 180, §2° CP)


§ 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do parágrafo anterior, qualquer forma de
comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercício em residência

É uma norma de ampliação, pois explica o que se deve entender por “atividade comercial”.
Para efeito do § 2.º, considera-se comerciante aquele que exerce sua atividade de forma irregular ou
clandestina, inclusive a exercida em residência. Citamos como exemplo o camelô e o desmanche ilegal.

6.11. RECEPTAÇÃO CULPOSA (ART 180, §3° CP)


§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço,
ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as penas

Observe-se que, no caso da receptação culposa, excluiu-se o verbo “ocultar”, por ensejar dolo para
sua realização. Assim, é atípica a conduta de quem esconde bem de origem ilícita, sem conhecer a sua
origem criminosa. Da mesma forma, é atípica a conduta do agente que, tendo dúvida em relação à origem
do objeto, influi para que terceiro de boa-fé adquira ou receba a coisa.
Na modalidade culposa, a natureza da coisa, desproporção do preço, condição de quem oferece
permitem ao agente presumir estar lidando com produto de crime:
a) NATUREZA DA COISA – significa que a coisa em si não poderia estar ali sendo vendida, como
por exemplo: objetos de valor histórico, um veículo sem documentação, etc;
b) DESPROPORÇÃO ENTRE O VALOR E O PREÇO – é a disparidade entre o valor da coisa e o preço
pelo qual é ofertado. A injustificada perda por parte do vendedor deveria ensejar desconfiança;
c) CONDIÇÃO DE QUEM OFERECE A COISA – exige-se cautela na compra de algum bem quando o
vendedor se mostra incompatível com o que se espera do dono do bem. Cite-se como exemplo a venda de
objetos de valor por um andarilho ou menor de rua.

6.12. PERDÃO JUDICIAL (ART 180, §5° CP)


§ 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode o juiz, tendo em consideração as
circunstâncias, deixar de aplicar a pena. Na receptação dolosa aplica-se o disposto no § 2º do art. 155.

É cabível o perdão judicial no caso de receptação. Porém, observe-se que só será possível a sua
aplicação no caso de receptação culposa (”Na hipótese do § 3º...”).
No caso da receptação dolosa, ainda que qualificada, é possível a aplicação do dispositivo previsto
no art. 155, §2° CP, ou seja, se é de pequeno valor a coisa e o agente é primário, pode ser aplicado o
privilégio.

6.13. CAUSA DE AUMENTO DE PENA (ART 180, §6° CP)


§ 6º - Tratando-se de bens e instalações do patrimônio da União, Estado, Município, empresa
concessionária de serviços públicos ou sociedade de economia mista, a pena prevista no caput deste artigo
aplica-se em dobro

6.14 - DISPOSIÇÕES GERAIS


O capítulo VIII dispõe sobre as imunidades, que podem ser absolutas (art. 181 CP) ou relativas (art.
182 CP), referindo-se as mesmas às infrações contra o patrimônio cometidas sem violência ou grave
ameaça.

I- IMUNIDADE ABSOLUTA
É isento de pena quem comete qualquer crime contra o Patrimônio em prejuízo do cônjuge, de
ascendente ou descendente (art. 181 CP).

Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo:
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.

- IMUNIDADE RELATIVA – Somente se procede mediante representação quando os crimes contra


o patrimônio forem cometidos em prejuízo: Do cônjuge divorciado ou judicialmente separado, de irmão,
legítimo ou ilegítimo, de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita (art 182 CP).

Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é cometido
em prejuízo:
I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.

- EXCEÇÕES PARA AS IMUNIDADES – Não se aplica o disposto nos artigos 181 e 182: Ao estranho
que participa do crime (art. 183), se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60
anos; se o crime é de roubo ou de extorsão ou, em geral, quando praticado mediante violência ou grave
ameaça contra a pessoa.

Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores:


I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaça ou
violência à pessoa;
II - ao estranho que participa do crime.
III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
x
Parecer do Ministro do STF sobre a progressão de regime nos crimes hediondos.

23/02/2006 TRIBUNAL PLENO


HABEAS CORPUS 82.959-7 SÃO PAULO
VOTO
O SENHOR MINISTRO CARLOS AYRES BRITTO
Senhor Presidente, o que se pede no presente habeas corpus é a superação do óbice do § 1º do art. 2º
da Lei de Crimes Hediondos.

2. Sobre o tema, inicio este meu voto com o juízo de que a progressão no regime de cumprimento
de pena em estabelecimento físico do Estado finca raízes na vontade objetiva da Constituição de 1988.
Não que a própria Constituição vocalize o fraseado “regime de progressão em estabelecimento
penitenciário ou prisional do Poder Público”. Porém no sentido inicial de que ela, Constituição Federal, ao
proibir a pena de morte (“salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX”) e o
aprisionamento em caráter perpétuo (alíneas a e b do inciso XLVII do art. 5º), parece que somente o fez no
pressuposto da regenerabilidade de toda pessoa que se encontre em regime de cumprimento de
condenação penal, seja quando essa condenação diga respeito à privação total da liberdade de
locomoção, seja quando referente à privação parcial dessa mesma liberdade. Independentemente,
portanto, da natureza e da gravidade do delito afinal reconhecido e já com o trânsito em julgado da
respectiva sentença. Pois se o Magno Texto não partisse desse radical a priori lógico da possibilidade de
regeneração da pessoa humana, nada impediria que ele inserisse nos seus mecanismos de inibição criminal
o confinamento penitenciário perpétuo e até mesmo a pena capital.
3. Externando por outra forma a idéia, penso que foi em direta homenagem ao princípio da
dignidade da pessoa humana (inciso III do art. 1º) que a nossa Constituição Federal interditou a pena de
morte e a prisão perpétua. Ao assim dispor, teria mesmo que se comprometer com a proclamação da
garantia da individualização da pena, como efetivamente ocorreu (inciso XLVI do mesmo art. 5º). E tal
proclamação já significa afirmar que o cumprimento da pena privativa de liberdade de locomoção há de
ostentar uma dimensão ensejadora da regeneração do encarcerado.

4. Estou a dizer, por conseguinte, que a vedação constitucional da pena capital e da prisão
perpétua já significa imprimir à efetiva execução das penas privativa ou restritiva da liberdade de
locomoção um papel ressocializador (outros preferem dizer “socializador”); de parelha, naturalmente, com
a clássica função de castigo ou sofrimento que é indissociável da idéia mesma de pena. Com o que o poder
estatal de punir passa a ter naquele primeiro mister socialmente profilático do cumprimento das penas em
causa um dos seus fundamentos. Uma das suas justificativas lógicas.

5. Se é assim – vale dizer, se a Constituição mesma parece conferir à execução das penalidades em
foco uma paralela função de reabilitação individual, na perspectiva de um saneado retorno do apenado à
vida societária, esse mister reeducativo é de ser desempenhado pelo esforço conjunto da pessoa
encarcerada e do Estado-carcereiro. Esforço conjunto que há de se dar segundo pautas adrede fixadas
naquilo que é o próprio cerne do regime que a lei designa como de execuções penais (lei federal nº
8.072/90). Um regime necessariamente concebido para fazer da efetiva constrição da liberdade topográfica
de ir e vir um mecanismo tão eficiente no plano do castigo mesmo quanto no aspecto regenerador que a
ela é consubstancial.

6. É neste ponto que o regime das execuções penais, para permanecer fiel àquela inspiração
constitucional da dignidade da pessoa humana, tem que seqüenciar a conhecida garantia da
individualização da pena. E se digo “seqüenciar”, é pelo fato de que tal garantia não se exaure com a sua
primeira e necessária aplicação, que é o momento sentencial da dosimetria da reprimenda que venha a ser
imposta ao sujeito condenado em ação penal.

7. Com efeito, as coisas sinalizam imbricamento. Encaixe em congruente unidade. É por


reconhecer a todo ser humano uma dignidade inata (inciso III do art. 1º) que a Lei Republicana interdita a
pena de morte (como regra geral) e a prisão ad aeternum. Imprimindo à execução da pena constritiva de
liberdade, por conseqüência, um paralelo mister reeducativo. O que implica trazer para os domínios de tal
execução a garantia igualmente constitucional da individualização da pena. Seja qual for a gravidade do
crime afinal reconhecido, pois o fato é que a garantia da individualização da pena vem consagrada em
dispositivo constitucional posterior àquele que versa, justamente, sobre os delitos de caráter hediondo
(incisos XLVI e XLIII do art. 5º). Restando claro que ela, garantia da individualização da pena, não se
esgota com a sentença de condenação de alguém a confinamento carcerário. Quero dizer: a garantia
constitucional da individualização da pena, serviente que é do princípio também constitucional da
dignidade da pessoa humana, não limita essa dignidade ao momento jurisdicional condenatório que
atende pelo nome de cominação. Prossegue vida afora do sentenciado para alcançar a fase que já se define
como de matéria penitenciária ou de Direito Penitenciário, propriamente, porquanto ocorrente no interior
de um dado estabelecimento prisional do Poder Público.

8. Convém repetir: há de haver um regime jurídico de gradativo abrandamento dos rigores da


execução penal em si, como resultante lógica da garantia constitucional de individualização da pena.
Regime tão serviente dessa garantia quanto a precedente decisão judicial condenatória. E tudo a decolar
originariamente do proto-princípio da dignidade da pessoa humana, que já se põe como um dos explícitos
fundamentos da República Federativa do Brasil (inciso III do art. 1º da Lei Fundamental). Pois é da
essência desse fundamental princípio o reconhecimento de que toda pessoa natural é um verdadeiro
microcosmo. Um ser absolutamente único, na medida em que, se é parte de um todo, é também um todo à
parte. Se é parte de algo (o corpo social), é também um algo à parte. A exibir na lapela da própria alma o
bóton da originalidade. Que não cessa pelo fato em si do cometimento de um crime do tipo hediondo,
seguido ou não de condenação judicial e posterior cumprimento da pena em estabelecimento prisional do
Estado. Afinal, não é de se confundir jamais hediondez do crime com hediondez da pena, $visto que
direitos subjetivos outros não são nulificados pela condenação penal em si, como os direitos à saúde, à
integridade física, psicológica e moral, à recreação, à liberdade de expressão, à preferência sexual e de
crença religiosa.
9. Tanto parece razoável assim pensar, tanto o princípio da dignidade da pessoa humana e a
garantia da individualização da pena dão mostras de continuar na escolta do encarcerado que a
Constituição mesma determina que “a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a
natureza do delito, a idade e o sexo do apenado” (inciso XLVIII do art. 5º). Sem deixar de imediatamente
complementar essa proteção individual com a regra de que “é assegurado aos presos o respeito à
integridade física e moral” (inciso XLIX), quando, antes, já havia determinado que “ninguém será
submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante” (inciso III)1.
[1] Consoante observei em outras oportunidades, o regime de progressão penitenciária é uma clara
técnica de “sanção premial”, a operar, não pela ameaça de castigo como fator de punição da conduta
socialmente indesejável, porém pela promessa de recompensa como fator de estímulo ao comportamento
socialmente desejável.

10. Por este ângulo de visada, então, tudo sugere ter-se por inconstitucional um regime
carcerário que não reduza o seu teor de severidade à medida que o prisioneiro vá respondendo às
normas de disciplina interna com a melhoria do seu próprio (dele, encarcerado) temperamento e caráter.
Com a redução do seu potencial de periculosidade. Visto que todo regime penitenciário de cumprimento
da sanção penal deve operar como verdadeiro espelho de cristal, a refletir, sem distorção, o personalizado
modo como o prisioneiro passa a responder às normas intra-muros que lhe são impostas. Raciocínio –
ainda uma vez enfatize-se - extraído do ineliminável caráter educativo da pena, traduzido no empenho
estatal e do próprio condenado para que o regime prisional não deixe de cumprir esta função que é
própria de toda penitência: franquear ao penitente a possibilidade de fazer do modus operandi da
reprimenda que lhe é infligida uma oportunidade de superação do animus delinquendi a que não
resistiu quando do cometimento do crime pelo qual veio a ser definitivamente condenado.

11. É certo que o inciso XLVI do art. 5º da Constituição não regulou, por si mesmo, as condições
ou os requisitos da individualização da pena. Convocou o legislador de segundo escalão para fazê-lo (“a
lei regulará a individualização da pena (...)”. Mas não é menos certo que se cuida de um transpasse de
poder normativo que não priva o dispositivo constitucional de toda e qualquer dimensão eficacial
imediata. É exprimir: o preceito constitucional em exame não prescinde da intercalação da lei comum, é
fato, $porém não é de ser nulificado por ela. Se compete à lei indicar os parâmetros de densificação da
garantia constitucional da individualização do castigo, a esse diploma legal não é permitido se desgarrar
do núcleo significativo ambivalente que exsurge da Constituição mesma: o momento abstrato da
cominação da pena privativa de liberdade, seguido do instante concreto do respectivo cumprimento em
recinto penitenciário. Ali, busca da “justa medida” entre ação criminosa dos sentenciados e reação coativa
do Estado. Aqui, a mesma procura de uma justa medida, só que no transcurso de uma outra relação de
causa e efeito: de uma parte, a resposta crescentemente positiva do encarcerado ao esforço estatal de
recuperá-lo para a normalidade do convívio social; de outra banda, a passagem de um regime prisional
mais severo (porque integralmente fechado) para outro menos rigoroso (porque já incorporante de saídas
do presídio e retorno a ele em horas certas).

12. No ponto questionado, portanto, tenho por bem decidir pela superação do óbice instituído
pelo § 1º do art. 2º da Lei nº 8.072/90, por se tratar de cláusula com flagrante vício de
inconstitucionalidade. Nem por isso a matéria fica de todo resolvida, devo admitir. É que, suplantado o
impedimento legal da progressão, um outro desafio temático passa a tomar corpo. Desafio que bem se
expressa na seguinte pergunta: que prazo mínimo de cumprimento de pena é de se observar para o efeito
de progressão de regime prisional?

13. A mais instantânea resposta só pode ser esta: o prazo de 1/6 da pena imposta, já fixado pelo
art. 112 da LEP para os crimes comuns. Isto devido a que não se pode extrair (quero crer) nem do sistema
constitucional nem do sistema legislativo-penal-ordinário uma objetiva grandeza temporal, uma espécie
de tempo médio que separe as duas situações: a dos condenados por crime sob “o fartum ou o bafio” da
hediondez, de uma parte, e, de outra, a dos
apenados por delitos comuns.

14. Acontece que essa utilização do parâmetro uniforme de pelo menos 1/6 da pena
judicialmente aplicada redunda em tratamento jurídico igual para situações ontologicamente desiguais.
Pois não se pode obscurecer o fato de que, pelo inciso XLIII do art. 5º da Magna Carta Federal, é sonegado
às pessoas condenadas por crimes hediondos o acesso a determinados benefícios que ela, Constituição,
deixou de interditar aos acusados por delitos comuns. São, especificamente, os benefícios da fiança, da
graça e da anistia (inciso XLIII do art. 5º). Mais até, não se pode ignorar que a Magna Lei de 1988 exigiu
que se levasse em conta a natureza do crime até mesmo para o efeito de segregação em estabelecimento
penitenciário oficial (ainda o art. 5º, inciso XLVIII). A robustecer o juízo de que tanto o momento
jurisdicional da cominação quanto o momento administrativo de execução da pena devem refletir aquela
fundamental dicotomia entre os delitos timbrados pela hediondez e os crimes que não chegam a esse plus
de lesividade social.

15. Daqui resulta que também tenho por inconstitucional a aplicação da regra geral de 1/6 aos
condenados pelos delitos hediondos. Invalidade, contudo, que não implica retirar do mundo jurídico o
diploma viciado. Explico: o vício da inconstitucionalidade traduz-se, como regra geral, na necessidade de
extirpar do Ordenamento Jurídico o ato inválido, de sorte a preservar a coerência de tal Ordenamento e
garantir a hierarquia e a rigidez da
Constituição Federal. Mas há casos em que tal extirpação normativa é também agressora da própria
Constituição da República. Casos em que “razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social”
(art. 27 da Lei nº 9.868/99, aqui subsidiariamente aplicada) se contrapõem ao abate em si do ato
inconstitucional. O que tem levado esta Suprema Corte a, num juízo de ponderação, “retrabalhar” os
efeitos de certas declarações de inconstitucionalidade 2.
[2] No julgamento da RE 197.917, Rel. Min. Maurício Corrêa, este Supremo Tribunal assentou a
possibilidade de aplicação subsidiária da regra de modulação de efeitos, inscrita no art. 27 da Lei nº
9.868/99, ao controle incidental de inconstitucionalidade: “Efeitos. Princípio da segurança
jurídica.Situação excepcional em que a declaração de nulidade, com seus normais efeitos ex tunc,
resultaria grave ameaça a todo o sistema legislativo vigente. Prevalência do interesse público para
assegurar, em caráter de exceção, efeitos pro futuro à declaração incidental de inconstitucionalidade”.

16. É o que se dá com a aplicação da regra geral de 1/6 aos condenados por delitos hediondos, a
exigir que se imprima às respectivas decisões uma ponderação ou modulação temporal de efeitos.

17. Em síntese, também voto pela inconstitucionalidade da incidência da regra geral de 1/6 aos
condenados por crimes hediondos. Mas tenho por imperioso protrair-se a eficácia e aplicabilidade da LEP
(art. 112), no ponto, até que norma legal específica venha a ser editada. $Norma que, agora sim, cuide de
forma particularizada o tema da progressão no regime de cumprimento de pena pela prática de crime
hediondo. Isto, lógico, desde que também sejam preenchidos os requisitos subjetivos que a própria lei já
estabelece, o que será analisado, in concreto, pelo Juízo da execução.

18. Com estes fundamentos, peço vênia aos colegas que entendem em sentido contrário e defiro a
ordem de habeas corpus.

É como voto.
----------------------------------------------------------------------------

DIREITO PENAL II - PARTE ESPECIAL

CRIMES CONTRA OS COSTUMES

CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL

1. ESTUPRO – (ARTIGO 213 CP)


Art. 213 - Constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça → Pena é
reclusão, de seis a dez anos.

1ª Obs.: O coito vulvar

2ª Obs.: Todas as circunstancia do art. 224 CP requerem, necessariamente, o conhecimento da


situação. As 3 alíneas devem fazer parte do dolo do agente.
3ª Obs.: Vitima embriagada, a ponto de não oferecer resistência, é vítima de estupro com violência
presumida. Outros exs.: paciente anestesiada, o comprimento "boa noite cinderela".
A presunção é, ainda hoje, absoluta. Porém, cresce cada vez mais essa corrente que diz que a
presunção tem que ser relativa. Se houver "erro do tipo", como: menor que age, mente, engana ser maior
de idade, levando o agente a acreditar que se trata de garota maior de idade, comete erro do tipo, não
responde, é atípico.

4ª Obs.: o homem, quando mantém conjunção carnal com a mulher, mediante violência e grave
ameaça, comete estupro. A mulher quando constrange, mediante violência e grave ameaça, o homem a
manter com ela conjunção carnal, comete o crime de constrangimento ilegal (menor potencialidade - 146
CP)

5ª Obs.: pessoas que realizam mudança de sexo, como a Roberta Close, não pode ser vítima de
estupro, pois para o Direito Penal não importa o fenótipo (aspecto externo do ser vivo) e sim o genótipo
(constituição hereditária de um indivíduo, seja animal ou vegetal).

6ª Obs.: no caso de hermafrodita o crime praticado depende do sexo preponderante (aquele que ela
acha que é).

7ª Obs.: o crime de estupro é punido a título de dolo. Além dele não é preciso uma finalidade
específica, um motivo.

GENERALIDADES
No título VI do código penal, a palavra “costumes” tem o sentido de moralidade social sob o ponto
de vista sexual.
Ressalte-se que a prostituição, o homossexualismo, a bestialidade e o incesto não são relevantes
penais, a princípio.

OBJETO JURÍDICO
O crime de estupro tutela, sobretudo, a liberdade sexual da mulher, a liberdade de dispor de seu
corpo, de não ser forçada violentamente a manter conjunção carnal com outrem.

ELEMENTOS:
a) CONSTRANGIMENTO – Constranger significa forçar, compelir, coagir mulher a manter com o
agente conjunção carnal;

b) CONJUNÇÃO CARNAL – Conjunção carnal é a introdução, completa ou incompleta, do pênis na


cavidade vaginal da mulher. Não se compreendem, aqui, outras formas de ato sexual, como a cópula oral
ou anal. Quem constrange outrem, do mesmo sexo ou não, a praticar com ele ato libidinoso diverso da
conjunção carnal pratica o crime do art. 214 CP (Atentado violento ao pudor).

c) VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA - O constrangimento deve ser mediante violência ou grave


ameaça. São os meios pelos quais se executa o estupro. Este crime é, na verdade, uma espécie de
Constrangimento ilegal, onde a vítima é compelida a fazer o que a lei não manda, no caso, a conjunção
carnal (ver art 146 CP).

Constrangimento ilegal
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver
reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o
que ela não manda:

c.1 – VIOLÊNCIA – A Violência, no caso, é a MATERIAL ou REAL, com emprego de força física,
capaz de tolher a capacidade de agir da vítima, impedindo-a de desvencilhar-se do estuprador.
No caso de utilização de VIOLÊNCIA PRESUMIDA (OU FICTA), de acordo com as condições da
vítima, a lei pode considerar que a conjunção carnal foi praticada com o emprego de violência material,
ainda que com o seu consentimento para a prática do ato sexual. Prevê o artigo 224:
A VIOLÊNCIA MORAL é aquela que age no psíquico da vítima, anulando a sua capacidade de
querer. A ameaça deve ser grave, ou seja, o dano prometido deve ser maior que a própria conjunção
carnal, não tendo a vítima outra alternativa senão ceder à prática do ato sexual. O mal prometido pode ser
ainda:
a) Direto (contra a própria vítima) ou indireto (contra terceiros ligados à vítima);
b) Justo (ex: Denunciar um crime praticado pela vítima) ou injusto (anunciar que vai matá-la se não
ceder).
Todas estes pontos serão analisados, no caso concreto (o direito penal é, cada vez mais, o direito do
caso concreto), sob o ponto de vista da vítima, levando-se em consideração suas condições físicas e
psíquicas, numa análise individual. Assim, serão analisados a idade da vítima, o local, o horário do fato,
etc.
O crime de estupro exige a CONTRARIEDADE DA VÍTIMA, sendo necessário para configurar-se
que ela não queira realizar a conjunção carnal, que se oponha veementemente ao ato sexual e que lute com
o agente, somente cedendo em razão da violência ou grave ameaça. Contudo, esta oposição pode estar
ausente no crime, pois o temor pode paralisar a vitima, ou esta pode perder os sentidos e desmaiar.
A permissão para a prática do ato sexual, livre de qualquer coação, via de regra, não configura o
crime de estupro (exceto nas hipóteses de violência presumida), sendo que, dependendo da idade da
vítima, pode configurar outro crime (Art. 218 CP - corrupção de menores, etc)

Assim:
* Constranger Mulher → a conjunção carnal → com Violência real - Emprego efetivo de força física -
Morte ou Lesão Grave (Art. 223 do CP)
* Constranger Mulher → a conjunção carnal → com Violência presumida (Ficta) - Não existe
Emprego de Força Física (Art. 224 do CP)
* Constranger Mulher → a conjunção carnal → com Grave Ameaça - Promessa de Mal Injusto e
Grave

• Constrangimento + Violência real + Conjunção Carnal = Estupro Simples;


• Constrangimento + Violência real + Conjunção Carnal + Lesão Grave = Estupro qualificado

Lei nº 11.106/2005
Estupro - art. 213 CP - "Constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave
ameaça: pena - reclusão, de seis a dez anos".

Obs.: todas as formas de estupro são considerados crime hediondo, segundo o art. 1º da Lei nº
8072/90

SUJEITO ATIVO e SUJEITO PASSIVO:


SUJEITO ATIVO: Sujeito ativo (no caso de AUTORIA IMEDIATA) do crime é o homem. Somente
este poderá executar a ação típica, já que a lei fala em “conjunção carnal”. Exclui-se, portanto, a prática de
atos sexuais entre pessoas do mesmo sexo. Assim, qualquer ato libidinoso diverso da conjunção carnal será
enquadrado como atentado violento ao pudor, pois não haverá cópula vagínica;
Contudo, em relação à AUTORIA MEDIATA, nada impede que a mulher seja sujeito ativo do
crime, uma vez que, nesses casos, ela não estaria executando pessoalmente a conjunção carnal. (utilização
de menor inimputável, obrigar, mediante violência ou grave ameaça, mulher a praticar conjunção carnal
com homem, etc). Também nos casos de CO-AUTORIA (mulher que segura outra mulher para que
homem pratique com ela conjunção carnal, mulher que, utilizando arma, ameaça vítima para que seu
comparsa realize a conjunção carnal) e PARTICIPAÇÃO (mulher que induz (faz nascer a idéia) homem a
praticar estupro, mulher que instiga (reforça idéia existente) homem a praticar estupro, ou mulher que
auxilia materialmente (empresta arma, ou leva o agente até o local do crime, ou fica vigiando o local para
que o agente pratique o estupro, etc) a mulher figura como sujeito ativo do crime, pois ela “constrange” a
vítima à prática de conjunção carnal, praticando o verbo núcleo do tipo.

Obs.: atualmente até mesmo o marido que força a esposa a prática da conjunção carnal comete o
crime de estupro

Autoria Imediata/intelectual: aquele que tem a idéia: neste caso o sujeito ativo somente é um
homem e não podendo ser outra mulher.
Autoria Mediata: podendo, também, ser outra mulher - pessoa que junta-se com outra para a prática
do verbo núcleo do tipo.
Co-Autoria: podendo ser homem, como também, ser mulher.
Participação que induz, que instiga, que auxilia materialmente, contribuindo para a prática do
crime: podendo ser homem, como também, ser mulher.

SUJEITO PASSIVO: É somente a mulher, pois apenas ela pode ser obrigada a realizar cópula
vagínica (conjunção carnal). Hoje em dia, não interessa para a configuração do crime, que a mulher seja
virgem ou honesta, não se excluindo da proteção legal a prostituta que, embora venda seu corpo, não
perde o direito dele dispor quando bem quiser.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA:
CONSUMAÇÃO: O estupro é crime material, que se consuma com a introdução completa ou
incompleta do pênis na cavidade vaginal da mulher.

O mero contato do membro viril com o órgão genital da mulher configura o crime tentado. Também
haverá tentativa quando, ainda que não ocorrendo este contato, seja inequívoca a intenção do agente para
a prática da conjunção carnal, só não se consumando o ato por razões alheias à vontade do agente. (agente
que joga a vítima ao chão, rasga suas roupas e, ao iniciar a abertura de suas próprias calças, é impedido
por terceiros, ou a vítima consegue se desvencilhar e foge).
O agente que, utilizando arma de fogo, leva a vítima a tirar a roupa, contudo desiste
voluntariamente de seu intuito, responderá por constrangimento ilegal (art 146 CP). (ver art 15 CP).

Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o


resultado se produza, só responde pelos atos já praticados

1ª Obs.: se a vítima é virgem, não é necessário o rompimento do hímen, nem ejaculação para
caracterização do crime.

A + B estupra C, sendo que A segura a vítima para que C a estupra, depois B segura a vítima
enquanto A a estupra. A e B responderão por dois estupros, como autor e co-autor e vice versa.
2ª Obs.: se 2 homens revezam no estupro, diz a maioria da doutrina que ambos responderão por
dois estupros em concurso material.

Obs.: Constrangimento ilegal - quando se dá início a intenção de estupro, ordenando que a vítima
tire a roupa, mas depois o agente desiste do ato, não responde por estupro, mas constrangimento ilegal.

Obs.: É possível o estupro por omissão, quando o agente tinha o dever legal de evitar o crime

PROVA DO CRIME DE ESTUPRO – MATERIALIDADE E AUTORIA:


Nem sempre o crime de estupro deixa vestígios. Nas hipóteses em que não chega a ocorrer a
conjunção carnal, por exemplo, dificilmente restam elementos a serem periciados junto à vítima. Note-se
que, mesmo havendo consumação, os resquícios podem desaparecer com o tempo, ou nem sequer ter
ocorrido, como na hipótese de mansa submissão após o emprego de grave ameaça ou ainda quando não há
ejaculação do agente, por exemplo.
Porém, ao analisarmos o artigo 158 do Código de Processo Penal, temos:
Art. 158. quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto
ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

Trata-se, aqui, da adoção do princípio da prova legal, sendo uma exceção ao princípio da livre
apreciação da prova pelo juiz (CPP, art 157: “o juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova”),
bem ao princípio da busca da verdade real, não podendo o julgador buscar a verdade por nenhum outro
meio de prova, seja pela confissão do acusado, por documentos existentes ou provas testemunhais, pois a
lei exige o formalismo da prova pericial para comprovar a materialidade delitiva.
Assim, quando é possível a realização da perícia, sua falta implica a nulidade de qualquer prova
produzida em sua substituição (ver CPP, art. 564, III, b)

Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:


III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:
b) o exame do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, ressalvado o disposto no Art. 167;

Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a
prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.

O artigo 167 somente se aplica aos casos em que o exame direto já não era possível ao tempo do
descobrimento do delito, em face do desaparecimento dos vestígios.
Nota-se, no entanto, hoje em dia, uma tendência da jurisprudência dos tribunais superiores a um
abrandamento dos rigores desta norma, sob o argumento de que as outras provas, não sendo ilícitas,
podem ser valoradas pelo juiz como admissíveis, sendo esta, inclusive, a posição do STF, que não
desconsidera a nulidade da falta de realização de exame de corpo de delito, desde que existentes outros
elementos de prova.

PROVA DA CONJUNÇÃO CARNAL


A conjunção carnal é requisito do crime de estupro, ou seja, de que houve a introdução, completa ou
não, do membro viril no órgão genital da mulher. Porém, se os resultados dos exames derem negativos,
isto não quer dizer que não houve o crime, pois a cópula pode ter sido incompleta, e não ter havido
ejaculação. O que importa é o conjunto das provas existentes (STF).
Ressalte-se que a mera constatação da conjunção carnal não configura o crime de estupro, pois ela
não é capaz de demonstrar a resistência da vítima à prática do ato sexual. É necessária, além da prova da
conjunção carnal, a demonstração de que o ato sexual se deu mediante constrangimento físico ou moral.

PROVA DA VIOLÊNCIA FÍSICA EMPREGADA


Fala-se aqui na prova da violência real, ou seja, aquela na qual houve efetivo emprego de força física
(mordidas, tentativa de esganadura, unhadas, equimoses, escoriações, etc), realizadas na vítima, como
forma de obrigá-la à prática do ato sexual, vencendo a sua resistência.
Às vezes, porém, a vítima pode não ter reação perante a abordagem do agente, ou desmaiar, não
manifestando, assim, nenhuma resistência ao ato sexual. Nesses casos, o juiz, levando em consideração
outras provas, dentre as quais a palavra da vítima e a prova testemunhal.

PROVA DA VIOLÊNCIA MORAL


Aqui fala-se na prova da violência ficta. É de difícil comprovação, suprindo-lhe a falta a prova
testemunhal, quando houver.

PROVA DA AUTORIA
Atualmente, o avanço da medicina propicia a utilização de vários métodos que podem ser utilizados
na comprovação do crime. É possível, por exemplo, colher o material genético do suposto estuprador e
comparar com o material colhido no corpo da vítima. Contudo, se tal exame for solicitado pela acusação, o
acusado não estará obrigado a realizá-lo, ainda que preso em flagrante, em razão do princípio de que
ninguém é obrigado a produzir prova contra si próprio. No entanto, a recusa do mesmo à realização do
exame pode, juntamente com as demais provas colhidas, servir para formar a convicção do juiz.
Na verdade, o exame de DNA apresenta-se como importante instrumento de negativa de autoria.

PALAVRA DA VÍTIMA
Via de regra, a palavra da vítima tem valor probatório relativo, devendo ser aceita com reservas. No
caso do estupro, no entanto, que é geralmente cometido às escondidas, a palavra da vítima, desde que
corroborada pelos demais elementos probatórios, deve ser aceita de forma mais contundente. Contribui
também para o valor probatório as condições pessoais da vítima (pessoa recatada, de bons costumes,
ilibada), não sendo comum que pessoas deste tipo venham a público cometer perjúrio, acusando um
inocente de lhe haver constrangido à conjunção carnal ou a ato libidinoso outro qualquer.

CONCURSO DE CRIMES
Concurso de crimes:
a) Estupro e atentado violento ao pudor → se o agente, além dos atos libidinosos diversos da
conjunção carnal, ainda consumar a conjunção carnal.
b) Estupro e seqüestro com cárcere privado → conforme disposições pertinentes a eles: arts. 219,
220, 221 e 222 do CP
c) Estupro com homicídio e/ou lesões corporais → se o agente, após estuprar a vítima, resolve
matá-la ou a lesionar; se do estupro advém lesões corporais de natureza grave ou a morte da vítima em
decorrência das lesões.
d) Estupro com contágio de Moléstia Venérea (130) → se o agente, sabendo estar acometido por
doença venérea e, ainda assim, manter relação com a vítima, porém sem a intenção de contagiá-la; se o
agente tinha ciência de sua doença, manter relação com intenção de contagiar a vítima
e) Estupro contra vítimas diversas → se preenchidos os demais requisitos legais haverá crime
continuado (71 do CP).
f) Estupro contra a mesma vítima em ocasiões diversas → preenchidos os demais requisitos legais,
é possível reconhecer a continuidade delitiva. Ausentes esses requisitos, o agente deverá responder pelos
crimes de estupro em concurso material.

a) Estupro e atentado violento ao pudor: se ocorrer de o agente praticar primeiramente atos


libidinosos diversos da conjunção carnal (coito anal, oral, etc), vindo posteriormente a consumar a
conjunção carnal, responderá pelos crimes de atentado violento ao pudor e estupro, em concurso formal.
Observe-se que, se o agente, após a prática dos atos libidinosos diversos da conjunção carnal, vem a
ser surpreendido no momento em que está para introduzir o pênis na cavidade vaginal da vítima,
responderá pelo crime de estupro tentado em concurso com o crime de atentado violento ao pudor
consumado.

b) Estupro e seqüestro ou cárcere privado: a lei 11.106/05 operou mudanças significativas na parte
da privação, com fim libidinoso, da liberdade de qualquer pessoa. Vamos a elas:
b.1 – REVOGAÇÃO DO CRIME DE RAPTO – foram revogados tanto o delito de rapto violento como
o de rapto consensual, assim como as disposições pertinentes a eles (CP, arts. 219, 220, 221 e 222):

Capítulo III - DO RAPTO

RAPTO VIOLENTO OU MEDIANTE FRAUDE


Art. 219. Raptar mulher honesta, mediante violência, grave ameaça ou fraude, para fim libidinoso →
Pena é Reclusão, de 2 a 4 anos.

RAPTO CONSENSUAL
Art. 220. Se a raptada é maior de 14 (catorze) anos e menor de 21 (vinte e um), e o rapto se dá com o
seu consentimento → Pena é Detenção, de 1 a 3 anos.

Obs.: Se a ofendida é menor de 18 anos, haverá seqüestro ou cárcere privado qualificado pelo fim
libidinoso e pelo fato da vítima ser menor de 18 anos (148, § 1º, IV e V do CP), sendo que a primeira
funcionará como qualificadora e a segunda como circunstancia judicial desfavorável.

DIMINUIÇÃO DE PENA
Art. 221. é diminuída de um terço a pena, se o rapto é para fim de casamento, e de metade, se o
agente, sem ter praticado com a vítima qualquer ato libidinoso, a restitui à liberdade ou a coloca em lugar
seguro, à disposição da família;

CONCURSO DE RAPTO E OUTRO CRIME


Art. 222. se o agente, ao efetuar o rapto, ou em seguida a este, pratica outro crime contra a raptada,
aplicam-se, cumulativamente a pena correspondente ao rapto e a cominada a outro crime.

Neste ponto, a lei penal nova é retroativa (porque favorece o agente). Mesmo quem já foi condenado
definitivamente pode se beneficiar com a nova lei (abolitio criminis).
A partir da nova lei, quem raptar (seqüestrar) qualquer pessoa com fim libidinoso vai responder
pelo crime de seqüestro qualificado (CP, art. 148, §1°, V)

Observe-se que a finalidade do agente é marcante nestes casos, pois reside nela a diferenciação dos
delitos. Quem seqüestra uma pessoa com o fim de privá-la da liberdade responde por seqüestro simples,
se há a finalidade libidinosa, ocorre seqüestro qualificado, se a finalidade é extorquir vantagem econômica,
o crime é de extorsão mediante seqüestro.
O seqüestro qualificado pelo fim libidinoso é um crime formal (não precisa acontecer o ato para sua
consumação)

Em relação ao CONCURSO DO SEQÜESTRO COM FIM LIBIDINOSO COM O ESTUPRO (ou


atentado violento ao pudor), tudo dependerá do lapso temporal despendido durante o ato. Assim:
a. se o agente conduz a vítima até local ermo, submete-a a conjunção carnal e, logo em seguida
abandona o local, não há que se falar em concurso de crimes, pois a privação da liberdade durou
o tempo necessário para a realização da conjunção carnal, estando inserido no íter criminis do
estupro;
b. se o estupro e o seqüestro ocorrerem em contextos diversos e em momentos bem destacados
temporalmente (ex: o agente estupra a vítima e, após, a mantém em cativeiro) ocorrerá o
concurso material dos dois crimes (estupro ou atentado violento ao pudor e seqüestro
qualificado pelo fim libidinoso)

c) Estupro e Homicídio ou lesões corporais: HIPÓTESES:


c.1 - se o agente, após estuprar a vítima, resolve matá-la ou a lesionar, ocorre concurso material de
crimes (estupro simples em concurso com homicídio qualificado ou lesão grave);
c.2 – se do estupro advém lesões corporais de natureza grave ou a morte da vítima em decorrência
das lesões (crime preterdoloso) haverá estupro qualificado;
c.3 - se do estupro advém lesões corporais de natureza leve estas serão absorvidas pelo estupro;
c.4 – As vias de fato também serão absorvidas pelo estupro.

* Estupro com morte e/ou Estupro com lesões graves - havendo Dolo - responde por Estupro + o
crime cometido = Concurso Material
* Estupro com morte e/ou Estupro com lesões graves - havendo Culpa (Preterdoloso) - Estupro
qualificado
* Estupro + lesões leves - responde por Estupro Simples

d) Estupro e Contágio de moléstia venérea: HIPÓTESES:


d.1 - se o agente, sabendo ou devendo saber que está acometido por doença venera e, ainda assim,
mantém relação com a vítima, porém sem a intenção de contagiá-la, responde por concurso formal
(próprio) entre estupro e perigo de contágio venéreo (CP art. 130);
d.2 – se o agente tinha ciência de sua doença e QUERIA contagiar a vítima, responde pelos dois
crimes em concurso formal (impróprio), pois com uma só ação quis produzir os dois resultados (CP art.
130, §1°)

Perigo de contágio venéreo


Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de
moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado → Pena é detenção, de três meses a um
ano, ou multa.
§ 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia → Pena é reclusão, de um a quatro anos, e multa.

OUTRAS MUDANÇAS TRAZIDAS PELA LEI 11.106/05

1. Eliminação do requisito normativo cultural "mulher honesta": esse requisito normativo cultural
aparecia em vários dispositivos penais (antigo crime de rapto, antigo crime de posse sexual mediante
fraude etc.). Somente a mulher "honesta" podia ser vítima desses crimes. Cuidava-se de tipo penal aberto,
que exigia juízo valorativo do juiz. Dependíamos da cabeça de cada juiz para se descobrir o que era
"mulher honesta". Na verdade, a honestidade da mulher jamais pode ser objeto de tutela penal. No mundo
dos crimes sexuais, o que importa é a liberdade sexual da mulher e do homem. Ninguém pode ser
compelido a praticar ou presenciar qualquer ato atentatório à sua liberdade. Fundamental, portanto, é a
liberdade, não a honestidade. Andou bem o legislador em eliminar o conceito de mulher honesta do
Código penal. Isso ocorreu inclusive no art. 215 (posse sexual mediante fraude), que agora só menciona
como sujeito passivo "mulher" (sem o qualificativo "honesta").

2. Nova redação ao art. 216: cuida o art. 216 do atentado ao pudor mediante fraude. Antes somente a
mulher honesta podia ser vítima desse delito. Agora o texto legal fala adequadamente em "alguém"
(homem ou mulher). No parágrafo único desse dispositivo também há uma alteração: antes se falava em
ofendida, agora se menciona vítima (que envolve homem ou mulher).

3. Revogação da condição de casado como causa de aumento de pena (art 226 CP)
Aumento de pena
Art. 226. A pena é aumentada de quarta parte:
II – Se o agente é ascendente, pai adotivo, padrasto, irmão, tutor ou curador, preceptor ou
empregador da vítima ou por qualquer outro título tem autoridade sobre ela;
III – se o agente é casado.

Não se justificava efetivamente essa causa de aumento de pena nos crimes sexuais. Ser casado ou
não, não altera o conteúdo do injusto penal (salvo se se raciona em termos morais). A ofensa ao bem
jurídico liberdade sexual independe do estado civil do agente. Se no caso concreto essa circunstância
contar com relevância, pode o juiz levá-la em consideração no momento da pena (nos termos do art. 59 do
CP). Mas isso fica reservado para a excepcionalidade (não a regra).
Agora, é a seguinte a redação do artigo 226:

Aumento de pena
Art. 226. A pena é aumentada:
I – de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de 2 (duas) ou mais pessoas;
II – de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro,
tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tem autoridade sobre ela.

4. Eliminação do delito de adultério: o crime de adultério estava previsto no art. 240 do Código
penal e foi revogado. Mais um caso de abolitio criminis. Praticamente já não se via condenação penal por
esse dispositivo. Era uma hipótese de "revogação" da lei (isto é, não uso, não incidência) pelos costumes
(leia-se: a sociedade brasileira já não acreditava na eficácia do Direito penal para evitar o adultério).
Juridicamente não se pode afirmar que os costumes revogam a lei. Mas é certo que pode colocá-la em
desuso. Era o art. 240 do CP, ademais, exemplo de ação penal privada personalíssima (porque somente a
vítima e ninguém mais podia agir em juízo para processar o agente). Em boa hora o legislador penal
revogou o delito de adultério, que encontra melhor atenção no âmbito do Direito civil.

5. Tráfico internacional e interno de pessoas: antes nosso Código penal só cuidava do tráfico
internacional de mulher, para o fim do exercício da prostituição, e agora fala em pessoa. Aproveitou o
legislador a ocasião, de outro lado, para criar o delito de tráfico interno (dentro do país) de pessoas, para o
exercício da prostituição. Sabe-se que a prostituição não é crime, mas em torno dela ainda existem vários
delitos. De qualquer modo, para o reconhecimento de qualquer infração envolvendo a prostituição o
fundamental é identificar não só a "exploração" senão também a clara ofensa a outros bens jurídicos da
vítima (liberdade individual, liberdade sexual etc.). Sempre que se tratar de vítima maior, que de modo
algum tenha sido ludibriada ou iludida, isto é, sempre que a vítima tenha aderido livremente (não
coagida) ao tráfico, conquistando ela mesma certa vantagem com esse ato, não consigo vislumbrar delito
algum. Todos os bens jurídicos envolvidos nesse tráfico são disponíveis. O consentimento válido da vítima
elimina a situação de risco proibido. Logo, pela teoria da imputação objetiva, não havendo risco proibido,
não há imputação objetiva da conduta (isto é, não há tipicidade, não há crime).

6. Revogação da causa extintiva da punibilidade consistente no casamento do agente com a vítima,


nos crimes sexuais (CP, art. 107, VII): a legislação brasileira era uma das últimas, senão a última do seu
entorno cultural, que ainda previa, em relação ao casamento com a vítima, nos crimes sexuais, força
extintiva da punibilidade. Cuidava-se de regra que exprimia a cultura dos anos 40 (do século passado):
mais vale o casamento (para a donzela "desonrada") que a tutela penal da liberdade sexual. Muitas vezes o
casamento era "comprado" (leia-se: "era de fachada"). Todos os resquícios dessa sociedade "machista", que
desconsiderava a dignidade das mulheres, devem mesmo ser abolidos do nosso Direito penal. O
casamento do agente com a vítima, nos crimes sexuais, doravante, já não extingue a punibilidade por si só.
Mas convém recordar que a regra nesses crimes é a ação penal privada. E nesse caso o casamento
representa perdão do ofendido, que também é causa extintiva da punibilidade. Em suma, nos crimes de
ação penal privada o casamento ainda terá relevantes efeitos penais.
7. Revogação da causa extintiva da punibilidade consistente no casamento da vítima com terceira
pessoa (CP, art. 107, VIII): nos crimes sexuais não violentos, o casamento da vítima com terceiro também
extinguia a punibilidade do agente (caso a vítima não requeresse o prosseguimento do inquérito ou da
ação penal em sessenta dias). Essa causa extintiva da punibilidade vinha, nos últimos tempos, sendo objeto
de horrorosas "transações". Noticiou-se o caso de um prefeito que teria mantido relação sexual com várias
adolescentes e depois teria "comprado" o casamento delas com vários rapazes. Com isso acabou
conquistando a impunidade. Como se vê, já era mesmo tempo de se revogar o inciso VIII do art. 107 do
CP. Tratando-se de lei penal nova desfavorável ao réu, claro que não pode retroagir, isto é, a crimes
ocorridos antes da nova lei (antes de 29.03.2005) ainda é possível incidir tanto a causa extintiva do inciso
VIII como a do inciso VII.

8. Revogação do crime de sedução: o crime de sedução previsto no art. 217 do Código penal era
criticado por grande parcela da doutrina. Já não se justificava falar em inexperiência da vítima, com mais
de 14 anos. Era outro dispositivo que via a mulher como uma virgem desprotegida. Somente ela podia ser
sujeito passivo do crime. Cuidava-se, como se vê, de dispositivo penal discriminatório e que pouco tem a
ver com a autodeterminação das pessoas. Nesse ponto, claro, a lei penal nova é retroativa (porque favorece
o agente). Mesmo quem já foi condenado definitivamente pelo crime de sedução pode se beneficiar com a
nova lei (porque estamos diante de um caso de abolitio criminis).

e) Estupro contra vítimas diversas:


Se preenchidos os requisitos legais, haverá crime continuado (CP, art. 70)
Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos
ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada,
em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação
ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no
artigo anterior
Pode haver crime continuado quando os crimes lesarem bens jurídicos pessoais (vida, integridade
física, etc), ainda que praticados contra vítimas diferentes.
Não preenchidos os requisitos o agente responderá pelos crimes em concurso material.

f) Estupro contra a mesma vítima em ocasiões diversas:


Preenchidos os demais requisitos legais, é possível reconhecer a continuidade delitiva (CP, art. 70),
ausentes os requisitos, o agente responderá pelos crimes em concurso material.

LEI DOS CRIMES HEDIONDOS


Prevê o art. 1º da Lei n. 8072/90 que são considerados crimes hediondos o estupro (art. 213 c. c. o art.
223, caput e parágrafo único) e o atentado violento ao pudor (art. 214 c. c. o art. 223, caput e parágrafo
único).

Constituem crimes hediondos, uma vez que a lei se refere expressamente a todas as formas, simples
e qualificadas, desses crimes (arts. 213 e 214 + suas combinações com o art. 223 do CP).

De acordo com a lei 8072/90, todas as formas de estupro são considerados crimes hediondos (art.
1°);
Mesmo com a decisão do STF, em 2006, reconhecendo a inconstitucionalidade da proibição da
progressão de regime aos crimes hediondos, por ferir os princípios da individualização da pena, da
dignidade humana e da proibição de penas cruéis, todas as formas de estupro continuam sendo
consideradas crime hediondo (o que acarreta a aplicação de todas as outras medidas gravosas da lei).

Na jurisprudência prevalecia a posição contrária, no sentido de que, sem que resulte lesão grave ou
morte, ambos os delitos, em sua forma simples, não constituem crimes hediondos e dão direito à
progressão de regime. Entretanto, o STF, contudo, ratificou que o estupro simples também é considerado
crime hediondo (STF, Pleno, HC n. 81.411-5/SC, rel. Min. Carlos Veloso, j, em 18.12.2001, DJU de 8.3.2002).

MEDIDAS GRAVOSAS DA LEI 8072/90:


Proibição de concessão de anistia, graça e indulto;
Proibição de concessão de fiança e liberdade provisória;
Prazo diferenciado para a prisão temporária:
- Crime comum = 5d, prorrogáveis por +5;
- crime hediondo = 30d, prorrogáveis por mais 30.

AUMENTO DE PENA
Obs.: o estupro e o atentado violento ao pudor já são qualificados pela condição da vítima, não
podendo ser utilizada a majorante da Lei nº 8072/90
O artigo 9° da lei 8072 prevê que as penas fixadas para os crimes capitulados nos artigos 213, caput
e sua combinação com o art 223, caput, e parágrafo único, são acrescidas de metade, respeitando o limite
de 30 anos de reclusão.

Assim, a situação atual das penas do estupro é a seguinte:


a) Estupro contra vítima adulta = pena de 6 a 10 anos de reclusão;
b) Estupro contra vítima de até 14 anos = pena de 9 (6+ metade) a 15 (10+ metade) anos de reclusão;

ESTUPRO QUALIFICADO – (ARTIGO 223 CP)


Formas qualificadas
Art. 223 - Se da violência resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de oito a doze
anos.
Parágrafo único - Se do fato resulta a morte: Pena - reclusão, de doze a vinte e cinco anos.

QUESTIONÁRIO - ESTUPRO - ART. 213


1. Em que consiste o delito de estupro?
R: Estupro consiste em o homem forçar (constranger) mulher, mediante violência física ou grave
ameaça, a manter relações sexuais com ele.

2. Qual o objeto jurídico protegido pela norma penal?


R: É a liberdade sexual da mulher.

3. Quem pode ser sujeito ativo no delito?


R: A descrição do tipo penal indica que o delito fica caracterizado quando ocorre “conjunção
carnal”, o que significa relação sexual normal (introdução do pênis na vagina) entre homem e mulher.
Logo, somente o homem pode ser sujeito ativo do delito.

4. Quem pode ser sujeito passivo do delito?


R: Somente a mulher.

5. A mulher nunca pode ser sujeito ativo do crime?


R: Isoladamente não, mas pode ser autora mediata, co-autora ou partícipe, em concurso de agentes.

6. Para que fique configurado o delito de estupro, a mulher deve, obrigatoriamente, ser virgem?
R: Não, pois o atributo “virgindade” não aparece na descrição do tipo, não sendo, portanto,
requisito para que fique caracterizado o delito.

7. Uma prostituta pode ser vítima do delito de estupro?


R: Sim, porque o objeto jurídico tutelado é a liberdade sexual da mulher. O fato de vender seu corpo
e entregar-se livremente a vários homens não a obriga a manter relações com qualquer pessoa em
particular.

8. Mulher casada pode ser estuprada por seu marido?


R: Sim. Atualmente, o entendimento afirmativo é pacífico.

9. Se o agente, ao obrigar mulher virgem a manter relações sexuais com ele, não rompe o hímen
da vítima e nem ejacula, terá praticado estupro tentado ou consumado?
R: Consumado. A jurisprudência vem confirmando que não há a necessidade de rompimento do
hímen nem ejaculação para consumação do delito até mesmo a introdução parcial já o consuma.

10. Estará caracterizado o estupro se a violência ou grave ameaça for dirigida a pessoa diversa da
vítima?
R: Sim. A violência ou grave ameaça não precisa, necessariamente, ser dirigida à vítima.

11. Em que consiste o delito de estupro?


R: Estupro consiste em o homem forçar (constranger) mulher, mediante violência física ou grave
ameaça, a manter relações sexuais com ele.

12. Qual o objeto jurídico protegido pelo artigo 213?


R: É a liberdade sexual da mulher.

13. Quem pode ser sujeito ativo do crime de estupro?


R: A descrição do tipo penal indica que o delito fica caracterizado quando ocorre “conjunção
carnal”, o que significa relação sexual normal (introdução do pênis na vagina) entre homem e mulher.
Logo, somente o homem pode ser sujeito ativo do delito.

14. Quem pode ser sujeito passivo do delito?


R: Somente a mulher.

15. A mulher nunca pode ser sujeito ativo do crime?


R: Isoladamente não, mas pode ser autora mediata, co-autora ou partícipe, em concurso de agentes.

16. Para que fique configurado o delito de estupro, a mulher deve, obrigatoriamente, ser virgem?
R: Não, pois o atributo “virgindade” não aparece na descrição do tipo, não sendo, portanto,
requisito para que fique caracterizado o delito.

17. Uma prostituta pode ser vítima do delito de estupro?


R: Sim, porque o objeto jurídico tutelado é a liberdade sexual da mulher. O fato de vender seu corpo
e entregar-se livremente a vários homens não a obriga a manter relações com qualquer pessoa em
particular.

18. Mulher casada pode ser estuprada por seu marido?


R: Sim. Atualmente, o entendimento afirmativo é pacífico.

19. Se o agente, ao obrigar mulher virgem a manter relações sexuais com ele, não rompe o hímen
da vítima e nem ejacula, terá praticado estupro tentado ou consumado?
R: Consumado. A jurisprudência vem confirmando que não há a necessidade de rompimento do
hímen nem ejaculação para consumação do delito até mesmo a introdução parcial já o consuma.

20. Estará caracterizado o estupro se a violência ou grave ameaça for dirigida a pessoa diversa da
vítima?
R: Sim. A violência ou grave ameaça não precisa, necessariamente, ser dirigida à vítima.

QUESTIONÁRIO - ESTUPRO(ART 213 CP)

1) O delito de estupro admite tentativa?


R.: Sim. Embora de difícil comprovação, na prática como realização do delito pode ser fracionada
em diversas etapas, é admissível que o agente, embora objetivando a conjunção carnal com a vítima, tenha
frustrado sua pretensão por motivo alheio à sua vontade.

2) O estupro pode ser cometido em concurso material com outro crime?


R.: Sim, como o caso de o agente adentrar uma casa para subtrair objetos ( delito de furto, art. 155 )
e, ao se deparar com a empregada, a estupra.

3) O estupro pode ser cometido em concurso formal com outro crime?


R.: Sim, como no caso de o agente sofrer de moléstia grave e infectocontagiosa, transmitindo-a à
vítima durante a conjunção carnal (art.131do CP).

4) Como será responsabilizado o agente que comete estupro, no caso de causar lesões corporais à
vítima?
R.: Se as lesões forem leves, integrarão o tipo e o responderá por estupro em sua forma simples,
conforme o art. 213 do CP; no caso de lesões graves, o agente responderá por estupro em sua forma
qualificada, segundo o art. 223, caput.

5) Quais as mais importantes alterações introduzidas pela Lei dos Crimes Hediondos (Lei nº
8.072/90) no art. 213do CP?
R. :essa lei incluiu o estupro no rol de crimes hediondos, aumentando a pena prevista no art. 213,
anteriormente de três a oito anos, alternada para seis a 10 anos. Foi também aumentada a pena no caso de
estupro em suas formas qualificadas (art. 213). Além disso, quanto ao art. 224, que trata da presunção de
violência nos crimes contra os costumes, a nova lei dispõe que a pena para o delito, se cometido contra
vítima que se encontra em qualquer das situações descritas no referido artigo (vítima cuja idade é inferior
ou igual a 14 anos, se é alienada ou débil mental, conhecendo o agente essa circunstância, ou se, ainda, não
pôde, por qualquer outra causa, opor resistência), será aumentada de metade, até o máximo de 30 anos. O
delito, como crime hediondo, passa a ser insuscetível de fiança, anistia, graça ou indulto e a pena passa a
ser cumprida integralmente em regime fechado. Em caso de apelação, o juiz decidirá fundamentalmente
sobre a possibilidade de o réu poder faze-la em liberdade. A liberdade condicional somente será concedida
após cumprimento de menos 2/3 da pena.

6) Se o agente pratica estupro, disso decorrendo a morte da vítima, como será responsabilizado?
R.: 1) se o agente, após estuprar a vítima, resolve matá-la ou a lesiona, ocorre concurso material de
crimes (estupro simples em concurso com homicídio qualificado ou lesão grave);
2) se do estupro advém lesões corporais de natureza grave ou a morte da vítima em decorrência das
lesões (crime preterdoloso) haverá estupro qualificado;

7) Qual o significado da expressão “PRESUNÇÃO DE VIOLÊNCIA”?


R.: Significa que não se exige violência real, em determinadas circunstâncias, para que fiquem
caracterizados os delitos sexuais. Ocorrendo os fatos sob as circunstâncias descritas no artigo 224 do CP,
tem-se a violência ficta, insto é, não é necessário que seja provada para que fique caracterizado o crime
sexual.

8) Se a vítima não conta, ainda, com 14 anos de idade e mantém conjunção carnal com o agente, a
presunção de violência é relativa ou absoluta?
R.: Na doutrina, majoritariamente é relativa. Na jurisprudência ainda é absoluta. Porém, cresce a
corrente que diz que a presunção tem que ser relativa.

9) A presunção do art. 224, “b”, CP, é absoluta ou relativa?


R.: Na doutrina, majoritariamente é relativa. Na jurisprudência ainda é absoluta. Porém, cresce a
corrente que diz que a presunção tem que ser relativa.

10) A presunção do art. 224, “c”, CP, é absoluta ou relativa?


R.: Na doutrina, majoritariamente é relativa. Na jurisprudência ainda é absoluta. Porém, cresce a
corrente que diz que a presunção tem que ser relativa.
----------------------------------------------------------------------------
----------------

2. ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR – (ARTIGO 214 CP)

Atentado violento ao pudor - Art. 214 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a
praticar ou permitir que com ele se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal: Pena - reclusão, de
seis a dez anos.

GENERALIDADES
O crime de atentado violento ao pudor trata de qualquer ato libidinoso, praticado contra homem ou
mulher, diverso da conjunção carnal.

OBJETO JURÍDICO
O crime de estupro tutela, sobretudo, a liberdade sexual da mulher e DO HOMEM, a liberdade de
disporem de seus corpos, de não serem forçados violentamente a manter , com outrem atos libidinosos
diversos da conjunção carnal.

ELEMENTOS DO TIPO PENAL:


a) CONSTRANGIMENTO – Constranger significa forçar, compelir, coagir o homem ou a mulher a
manter com o agente ato libidinoso diverso conjunção carnal;
b) ATO LIBIDINOSO – É aquele destinado a satisfazer a lascívia (luxúria, libidinagem,
sensualidade), o apetite sexual. Trata-se de um conceito abrangente, que cuida de qualquer atitude com
conteúdo sexual que tenha por finalidade a satisfação da libido (desejo sexual).

Ao contrário do estupro, que só se consuma com a conjunção carnal, o AVP pode manifestar-se de
diversas formas (até mesmo sem o contato dos órgãos sexuais. Ex: masturbação na frente da vítima,
introdução de dedo em órgão sexual de alguém, prática de sexo oral, etc).
Questão que suscita bastante polêmica diz respeito à situação na qual, mediante violência ou grave
ameaça, o agente aplica na vítima um beijo de forma lasciva, ou apalpa seus seios ou nádegas, ou acaricia
suas partes íntimas, ainda que vestida. A doutrina hoje se divide em razão, principalmente, da entrada em
vigor da lei dos crimes hediondos (lei 8072/90), que aplica pena mínima de 06 anos de reclusão o AVP.
Parte da doutrina que hoje defende que tais atos não devam ser considerados AVP. Defendem que
falta a “danosidade” proporcional necessária à configuração do delito. Equipará-los ao coito anal, ou ao
coito oral, praticados mediante violência ou grave ameaça, é um exagero, pois o desvalor da gravidade
entre ambos é imensurável, sendo estes, sem dúvida, muito mais graves que aqueles, para que sejam
apenados da mesma forma.
Luís Flávio Gomes, baseando-se na doutrina de Claus Roxin, que trouxe à tona novamente o
princípio da insignificância indaga: “um beijo lascivo é crime hediondo? Quem interpreta a lei penal de
forma literal diz (absurdamente) que sim, e admite então para esse fato a pena de seis anos de reclusão,
que é igual ao do homicídio; quem busca a solução justa para cada caso concreto jamais dirá sim (esse beijo
poderia no máximo constituir uma contravenção penal – art. 61 LCP, importunação ofensiva ao pudor).
Esta é, também, a posição de Celso Delmanto.

Art. 61. Importunar alguém, em lugar público ou acessível ao público, de modo ofensivo ao pudor:
Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.

No mesmo sentido, existem posições jurisprudenciais que sustentam tal posição, como é o exemplo
do TJRS:
“apalpadela dos seios de menor. Atentado violento ao pudor. Proporcionalidade. Desclassificação.
Ato obsceno. O ato de apalpar os seios da vítima, criança de 12 anos de idade, merece reprimenda, mas na
proporcionalidade com a gravidade do fato que diferentemente de outros, não atinge as características de
violência e repúdio do atentado violento ao pudor. A resposta jurisprudencial pretendida daria ao fato a
mesma sanção de um homicídio simples, o que evidencia a desproporção entre a ação e a sanção alvitrada
no recurso da acusação. A presunção de violência não pode atingir o injusto. Reprimenda necessária que se
faz com a desclassificação do delito, tal como promovida na sentença. O crime é de ato obsceno, tipificado
no art. 233 do CP.” (AC 70000765230, Rel. Aramis Nassif, j. 22-3-2000)

Já o professor Damásio Evangelista de Jesus sustenta o contrário, dizendo que caracteriza sim o
crime de AVP o ato de despir uma jovem e apalpar os seios da mesma com o emprego de violência ou
grave ameaça, ou apalpar as partes íntimas de uma jovem por sobre o vestido, sustentando ainda que o
beijo lascivo, quando praticado com o emprego de violência ou grave ameaça, igualmente tipifica o crime
em tela.
O professor Fernando Capez, por sua vez, afirma que não há que se falar em atipicidade pela
aplicação do princípio da proporcionalidade, muito menos pelo princípio da dignidade humana, pois o ato
de punir-se estas manifestações de taras. O grande ponto da questão é definir-se o que é ATO
LIBIDINOSO, e se o mesmo foi praticado com VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA. E isto obtém-se
observando a vontade do agente no momento da realização do ato. Assim, qualquer atuação sexual
tendente a satisfazer os desejos sexuais mais íntimos, praticada mediante violência real ou presumida ou
grave ameaça, tipifica o delito previsto no art. 214 do CP.
Por outro lado, um toque praticado com o intuito de provocar ou irritar a vítima, ainda que
atingindo regiões pudicas, levantar a saia ou beliscar as nádegas da vítima, dar um rápido beijo, sem
introdução da língua e sem lascívia, apalpar os seios da ofendida a pretexto de tecer comentários irônicos
sobre os mesmos, não configura o AVP, mas a contravenção prevista no art. 61 LCP, ou ainda qualquer dos
crimes contra a honra, previstos no Código Penal (Art. 138 a 140 do CP)

b.1) HIPÓTESES – como o tipo penal prevê que o agente deve constranger a vítima a praticar
permitir que com ele se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal, pode-se elencar as seguintes
hipóteses:
1) a vítima é obrigada a ter uma conduta ativa, isto é, a praticar atos libidinosos no agente;
2) a vítima é obrigada a ter uma conduta passiva, isto é, a permitir que o agente nela pratique atos
libidinosos;

Observe-se que é necessário o contato físico para caracterização do crime em tela. Caso o mesmo não
ocorra, não há que se falar em atentado violento ao pudor, pela falta de participação da vítima no ato
libidinoso. Por exemplo, agente que se masturba e obriga a vítima a contemplá-lo. O mesmo ocorre no caso
da vítima ser obrigada pelo agente a presenciar atos libidinosos praticados por terceiros. Nesses casos,
têm-se as seguintes hipóteses:
1) Vítima adulta – Crime de constrangimento ilegal – art. 146 CP;
2) Vítima entre 15 e 18 anos – Crime de corrupção de menores – art. 218 CP;
3) Vítima com idade igual ou menor que 14 anos – Crime de constrangimento ilegal – art. 146 CP,

SUJEITO ATIVO e SUJEITO PASSIVO:


SUJEITO ATIVO: ao contrário do crime de estupro, o sujeito ativo do AVP pode ser qualquer
pessoa, admitindo-se a prática do crime contra pessoas do mesmo sexo.
SUJEITO PASSIVO: Qualquer pessoa, tanto o homem quanto a mulher. (incluídas aí as prostitutas
e garotos de programa).

ELEMENTO SUBJETIVO:
É o dolo, consubstanciado na vontade de constranger outrem, mediante violência ou grave ameaça,
a praticar ou permitir que com ela se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal.
Maioria da doutrina (inclusive o professor Fernando Capez) entende não haver necessidade de
finalidade específica, mas é necessária, no entanto, a intenção da satisfação da lascívia, para a
caracterização do crime em tela. Assim, alguém que pratica ato libidinoso na vítima, mas com o intuito de
ridicularizá-la, ou provocá-la, ou irritá-la, não pratica AVP, mas como visto anteriormente, algum dos
crimes possíveis (art. 61 LCP; art. 138 a 140; art. 146 CP).

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA:
CONSUMAÇÃO: O crime é material, consumando-se com a prática do ato libidinoso diverso da
conjunção carnal.
TENTATIVA: é possível. Ocorre quando o agente, empregando violência ou grave ameaça, não
consegue realizar os atos libidinosos por circunstâncias alheias à vontade do agente.

FORMAS:
SIMPLES: prevista no art. 214 do Código penal.
Atentado violento ao pudor - Art. 214 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a
praticar ou permitir que com ele se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal: Pena - reclusão, de
seis a dez anos.

QUALIFICADAS PELO RESULTADO: previstas no art. 223 do CP.


Formas qualificadas - Art. 223 - Se da violência resulta lesão corporal de natureza grave: Pena -
reclusão, de oito a doze anos.
Parágrafo único - Se do fato resulta a morte: Pena - reclusão, de doze a vinte e cinco anos.

COM VIOLÊNCIA PRESUMIDA (ficta): previstas no art. 224 do CP.


Presunção de violência - Art. 224 - Presume-se a violência, se a vítima: Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90
a) não é maior de catorze anos;
b) é alienada ou débil mental, e o agente conhecia esta circunstância;
c) não pode, por qualquer outra causa, oferecer resistência.
AUMENTO DE PENA: Idem ao crime de estupro.

LEI DOS CRIMES HEDIONDOS: Idem ao crime de estupro.

DISTINÇÃO ENTRE AVP E O ART. 61 DA LCP – O artigo 61 da Lei de contravenções penais


(Decreto lei 3.688, de 3 de outubro de 1941), abrange as atitudes que não são abarcadas pelo termo “ato
libidinoso”. Assim, enquadra-se no artigo em questão as palavras, e todos aqueles atos ofensivos ao pudor
nos quais não haja emprego de violência ou grave ameaça.

CONCURSO DE CRIMES:
a. AVP e estupro: Vide comentários ao crime de estupro;

Crime continuado
Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da
mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os
subseqüentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se
idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços.

QUESTIONÁRIO - ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR (ART 214 CP)

1. Em que consiste o delito de atentado violento ao pudor?


R.: Atentado violento ao pudor consiste em constranger alguém, mediante violência ou grave
ameaça, a praticar ou permitir que com ele se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal. Já ato
libidinoso diverso da conjunção carnal abrange qualquer forma de manifestação sexual diversada cópula
ou coito vagínico, implicando necessariamente contato físico. Ex.: carícias intimas, coito anal, felação, etc.

2. Qual o objeto jurídico protegido pela norma penal?


R.: O objeto jurídico protegido é a liberdade sexual.

3. Quem pode ser sujeito ativo do delito?


R.: Pode ser sujeito passivo do delito qualquer pessoa física, homem ou mulher.

4. Quem pode ser sujeito passivo do crime do artigo 214?


R.: Pode ser sujeito passivo do delito qualquer pessoa física, homem ou mulher.

5. A contemplação lasciva (olhar libidinoso) caracteriza atentado violento ao pudor?


R.: Não, o atentado violento ao pudor enseja, necessariamente, contato físico. Pode caracterizar a
contravenção penal de “importunação ofensiva ao pudor”, do artigo 61 da Lei de contravenções penais
(Decreto lei 3.688, de 3 de outubro de 1941).

6. O Atentado violento ao pudor pode ser praticado em concurso com o crime de estupro?
Quando?
R.: Sim, desde que os dois delitos sejam cometidos de forma distinta. Caso os atos libidinosos sejam
praticados como “preparatórios” para a conjunção carnal, o estupro absorverá, então, o atentado violento
ao pudor.

7. A esposa pode ser vítima de atentado violento ao pudor praticado pelo marido?
R.: Sim, pois, embora manter relações sexuais constitua obrigação conjugal normal, a mulher não
pode ser constrangida a praticar atos libidinosos que atentem contra sua vontade, o que violaria sua
liberdade sexual.

8. Como será responsabilizado o agente que comete atentado violento ao pudor, no caso de causar
lesões corporais à vítima?
R.: Se as lesões forem leves, integrarão o tipo, e o agente responderá por atentado violento ao pudor
em sua forma simples, conforme o art. 214 do CP; no caso de lesões graves, se dolosas, o agente responderá
por ambos os crimes em concurso. Se preterdolosas o agente responderá pelo delito em sua forma
qualificada, segundo o art. 223, caput.
9. Quais as mais importantes alterações introduzidas pela lei dos crimes hediondos (Lei 8072/90),
sobre o artigo 214 do CP?
R.: Essa lei inclui o atentado violento ao pudor no rol dos crimes hediondos, aumentando a pena
prevista no art. 214 anteriormente de dois a sete anos, alterada pra seis a dez anos. Além disso, quando o
art. 224, que trata de presunção da violência nos crime contra os costumes, a nova lei dispõe que a pena
para o delito, se cometido contra vítima que se encontra em qualquer das situações descritas no referido
artigo (vítima cuja idade é inferior ou igual a 14 anos, se é alienada ou débil mental, conhecendo o agente
essa circunstância, ou se, ainda, não pôde, por qualquer outra causa, opor resistência), será aumentada de
metade, até o máximo de 30 anos. O delito, como crime hediondo, passa a ser insuscetível de fiança,
anistia, graça ou indulto e a pena passa a ser cumprida integralmente em regime fechado. Em caso de
apelação, o juia decidirá fundamentalmente sobre a possibilidade de o réu poder fazê-la em liberdade. A
liberdade condicional somente será concedida após cumprimento de pelo menos 2/3 da pena.

10. Deve, efetivamente, haver contato entre os órgãos sexuais para a caracterização do delito?
R.: Não. Ao contrário do estupro, que só se consuma com a conjunção carnal, o AVP pode
manifestar-se de diversas formas (até mesmo sem o contato dos órgãos sexuais. Ex: masturbação na frente
da vítima, introdução de dedo em órgão sexual de alguém, prática de sexo oral, etc).

11. Classifique os crimes abaixo relacionados, em relação à vítima que é obrigada, mediante
violência ou grave ameaça, a praticar atos libidinosos diversos da conjunção carnal:
• Vítima adulta – Crime de constrangimento ilegal – art. 146 CP;
• Vítima entre 15 e 18 anos – Crime de corrupção de menores – art. 218 CP;
• Vítima com idade igual ou menor que 14 anos - Crime de constrangimento ilegal – art. 146 CP.

12. Qual a principal diferença entre o crime de estupro e o de atentado violento ao pudor?
R.: O estupro só se consuma com a conjunção carnal, enquanto o AVP pode manifestar-se de
diversas formas, desde que diversas da conjunção carnal.

13. “Beijo lascivo” configura atentado violento ao pudor? Justifique.


R.: O professor Fernando Capez afirma que o grande ponto da questão é definir-se o que é ATO
LIBIDINOSO, e se o mesmo foi praticado com VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA. E isto obtem-se
observando a vontade do agente no momento da realização do ato. Assim, qualquer atuação sexual
tendente a satisfazer os desejos sexuais mais íntimos, praticada mediante violência real ou presumida ou
grave ameaça, tipifica o delito previsto no art. 214 do CP.
Por outro lado, um toque praticado com o intuito de provocar ou irritar a vítima, ainda que
atingindo regiões pudicas, levantar a saia ou beliscar as nádegas da vítima, dar um rápido beijo, sem
introdução da língua e sem lascívia, apalpar os seios da ofendida a pretexto de tecer comentários irônicos
sobre os mesmos, não configura o AVP, mas a contravenção prevista no art. 61 LCP, ou ainda qualquer dos
crimes contra a honra, previstos no Código Penal (Art. 138 a 140 do CP)

14. Quais as hipóteses de conduta da vítima no crime do artigo 214 do CP?


R.: a) a vítima é obrigada a ter uma conduta ativa, isto é, a praticar atos libidinosos no agente;
b) a vítima é obrigada a ter uma conduta passiva, isto é, a permitir que o agente nela pratique atos
libidinosos;

15. O que é Ato Libidinoso?


R.: É aquele destinado a satisfazer a lascívia (luxúria, libidinagem, sensualidade), o apetite sexual.
Trata-se de um conceito abrangente, que cuida de qualquer atitude com conteúdo sexual que tenha por
finalidade a satisfação da libido (desejo sexual).

----------------------------------------------------------------------------
----------------

3. POSSE SEXUAL MEDIANTE FRAUDE – (ARTIGO 215 CP)


Art. 215. Ter conjunção carnal com mulher, mediante fraude: Pena - reclusão, de um a três anos.
Parágrafo único - Se o crime é praticado contra mulher virgem, menor de 18 (dezoito) e maior de 14
(catorze) anos: Pena - reclusão, de dois a seis anos.
3.1) GENERALIDADES
Sobre o título do artigo leia-se “ter conjunção carnal com mulher, mediante fraude”. (basta ser
“mulher”).
Por lembrar o estupro, o crime é chamado de “posse sexual mediante fraude” ou “estelionato
sexual”.

3.2) OBJETO JURÍDICO


Tutela-se a liberdade sexual da mulher, a liberdade de dispor de seu corpo, de consentir no ato
sexual, sem que esse consentimento seja obtido mediante fraude.

3.3 - ELEMENTOS:
O tipo penal pune a conduta do homem que mantém conjunção carnal com mulher, mediante a
obtenção fraudulenta de seu consentimento.
Os crimes dos art. 213 (estupro) e 215 são idênticos, mudando apenas o “modus operandi” da
obtenção da conjunção carnal, pois no crime de estupro, o agente obtém a prestação sexual através de
violência ou grave ameaça, enquanto na posse sexual mediante fraude o agente esta prestação é obtida
mediante o emprego de meio enganoso, ou seja, por meio iludente da vontade da vítima (se não fosse
empregada à fraude, a vítima jamais teria se prestado à relação sexual). Daí ser considerado de menor
gravidade que aquele e possuir pena menor.

1ª OBS.: O crime de Posse sexual mediante fraude é INCOMPATÍVEL com as figuras de violência
(real ou presumida) e grave ameaça. Assim, quem através de fraude, mantém conjunção carnal com menor
de 14 anos não comete o crime de posse sexual mediante fraude, mas sim de estupro com violência
presumida.

2ª OBS.: Se a vítima for maior de 14 e menor de 18 anos, poderá estar configurado o crime de
corrupção de menores (Art 218 CP).

CONDUTAS DO AGENTE:
a) Indução da vítima em erro – o próprio sujeito ativo provoca o erro da vítima;
Ex: 1. Curandeiro que diz a mulher que somente o ato sexual a livrará dos males;

b) aproveitamento do erro da vítima – a vítima espontaneamente incorre em erro, mas a vítima se


aproveita dessa situação para manter com ela conjunção carnal;
Ex: 1. irmão gêmeo que, percebendo o erro da namorada de seu irmão, mantém com ela conjunção
carnal.

1ª OBS.: Assim como no estelionato, a fraude utilizada deve ser apta a viciar o consentimento da
vítima pois, se esta percebe a fraude e mesmo assim consente a prática do ato sexual, não ocorre o crime;

2ª OBS.: A fraude grosseira, via de regra, não é meio apto a iludir a vontade da vítima (no entanto,
deve-se levar em consideração as condições da vítima.

SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO:


- SUJEITO ATIVO:. Assim como no crime de estupro, somente o homem pode praticar o delito em
tela, pois o tipo penal faz expressa referência à conjunção carnal.
- SUJEITO PASSIVO:Somente a mulher pode ser sujeito passivo do crime em questão, seja ela casta
ou promíscua.

ELEMENTO SUBJETIVO
É o dolo, consubstanciado na vontade livre e consciente de ter conjunção carnal com mulher,
mediante o emprego de fraude.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
CONSUMAÇÃO: O crime consuma-se com a introdução completa ou incompleta do pênis na
cavidade vaginal da mulher (idêntico ao estupro).
TENTATIVA - A tentativa é perfeitamente possível. Assim, o crime será tentado se, por exemplo,
um curandeiro, ao solicitar os favores sexuais de mulher rústica sob o argumento de que curará seus
males, é surpreendido no momento em que está prestes a introduzir seu órgão genital na vagina da
mulher.

FORMAS:
SIMPLES: Está prevista no caput do art. 215:
Art. 215. Ter conjunção carnal com mulher, mediante fraude: Pena - reclusão, de um a três anos.

QUALIFICADA: Prevista no parágrafo único do art. 215. A pena é de reclusão de 2 a 6 anos. O crime
será qualificado se for praticado contra mulher virgem, menor de 18 anos e maoir de 14 anos.
Parágrafo único - Se o crime é praticado contra mulher virgem, menor de 18 (dezoito) e maior de 14
(catorze) anos: Pena - reclusão, de dois a seis anos.

Cuida-se nesse parágrafo da virgindade física da mulher, e não da virgindade moral. Quando
presente esta, poderá estar configurado o crime previsto no art. 218 do CP.

Corrupção de menores
Art. 218 - Corromper ou facilitar a corrupção de pessoa maior de 14 (catorze) e menor de 18
(dezoito) anos, com ela praticando ato de libidinagem, ou induzindo-a a praticá-lo ou presenciá-lo: Pena -
reclusão, de um a quatro anos.

A lei também exige que a vítima seja maior de 14 e menor de 18 anos.


Estes dois aspectos (ser VIRGEM e ser maior de 14 e menor de 18 anos) devem estar presentes para
que se configure a qualificadora. Além disso, o agente deve ter plena consciência dessas condições da
vítima para que a qualificadora se configure. Ausente esse conhecimento, responderá pelo crime na forma
simples. assim, têm-se as seguintes hipóteses
a. se a vítima não é virgem, mas é menor de 18 e maior de 14 anos, o fato enquadrar-se-á no caput;
b. se a vítima é virgem, mas é maior de 18 anos, o fato enquadrar-se-á no caput;
c. Vítima virgem, maior de 14 anos e menor de 18 anos, o fato enquadrar-se-á no caput;
d. se menor de 14 anos, virgem ou não, haverá o crime de estupro, em decorrência da presunção
de violência (art. 224 a)

1ª OBS.: Mulher virgem é a mulher sem qualquer experiência na conjunção carnal (Mulher que já
praticou conjunção carnal e possui o hímen não é virgem e aquela que não possui hímen mas não praticou
a conjunção carnal é virgem)

2ª OBS.: Na forma qualificada, é possível erro de tipo no que tange à idade;

Estupro e PSMF;

ESTUPRO – ART. 213 CP AVP – ART. 214 CP

Sujeito ativo – Homem (crime próprio); Sujeito ativo – Homem (crime próprio);
Sujeito passivo – Mulher (crime próprio) Sujeito passivo – Mulher (crime próprio)

Conduta: Conduta:
Constranger Mulher com violência real Praticar conjunção carnal mediante fraude
(Morte ou L. grave – art. 223) (meio enganoso) → MUDOU O “MODUS
Constranger Mulher com violência OPERANDI”
Presumida (art. 224 CP)
Constranger Mulher com Grave Ameaça
(promessa de mal injusto e grave)

Tipo subjetivo – Dolo (não exige Tipo subjetivo – Dolo


finalidade específica)

Consumação – Introdução completa ou Consumação – Introdução completa ou não do


não do pênis na vagina pênis na vagina (conjunção carnal)
(conjunção carnal)
Tentativa – é possível Tentativa – é possível

----------------------------------------------------------------------------
----------------

4. ATENTADO AO PUDOR MEDIANTE FRAUDE – (ARTIGO 216 CP)


Art. 216. Induzir alguém, mediante fraude, a praticar ou submeter-se à prática de ato libidinoso
diverso da conjunção carnal: Pena - reclusão, de um a dois anos.

GENERALIDADES
Após a retirada da expressão “mulher honesta” do artigo, (Lei n. 11.106, de 28 de março de 2005), o
tipo penal em estudo passou a abranger todas as pessoas (homens ou mulheres), deixando de ser crime
próprio, e passando a ser crime comum. Ficando a pena com o mesmo quantitativo.

OBJETO JURÍDICO
Protege-se a liberdade de qualquer pessoa, homem ou mulher, casta ou promíscua, prostituta ou
não, de dispor de seu corpo, isto é, a liberdade de consentir na prática dos atos libidinosos, sem que esse
consentimento seja obtido mediante fraude.

ELEMENTOS DO TIPO
Ação nuclear. Elemento normativo
No crime de atentado violento ao pudor o agente constrange a vítima mediante o emprego de
violência ou grave ameaça à prática dos atos libidinosos. Neste o agente, com o emprego de fraude, induz
alguém a praticar ou submeter-se à prática de ato libidinoso diverso da conjunção carnal. O agente obtém
o consentimento da vítima mediante o emprego de meio enganoso (médico ginecologista, parapsicólogo
charlatão, etc).

OBS.: Assim como o crime de Posse sexual mediante fraude, este crime é INCOMPATÍVEL com as
figuras de violência (real ou presumida) e grave ameaça. Assim, quem através de fraude, pratica o verbo
núcleo do tipo com menor de 14 anos não comete o crime de atentado ao pudor mediante fraude, mas sim
de atentado violento ao pudor com violência presumida.

São considerados atos libidinosos : o coito anal, o coito oral, o apalpar as partes do corpo (p. Ex.
Nádegas, seios, pernas), ainda que a vítima esteja vestida, etc.
Importantes as alterações promovidas pela Lei 11.106/05. O crime consistia em induzir a vítima a
praticar ou a permitir que com ela se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal. A atual redação
substituiu a expressão “ permitir” ( autorizar, consentir ), a Lei fala em “ submeter-se” (sujeitar-se,
subjugar-se, subordinar-se) ao ato libidinoso. A conduta não consiste mais em empregar a fraude para
convencer o sujeito passivo a concordar com o ato, mas para induzi-lo a se submeter ao mesmo. O item
“concordância da vítima saiu do espectro de análise do tipo penal.
Antes:
• Permitir que com ela se pratique – havia a necessidade da “concordância” da vítima;
Agora:
• Submeter-se à prática de ato libidinoso – não há mais a necessidade da “concordância” da
vítima à submissão do ato;

CONDUTAS DO AGENTE:
a) Indução da vítima em erro – o próprio sujeito ativo provoca o erro da vítima;
Ex: 1. Pai de santo que diz a mulher que somente a prática de atos libidinosos a livrará dos males;

b) aproveitamento do erro da vítima – a vítima espontaneamente incorre em erro, mas a vítima se


aproveita dessa situação para manter com ela atos libidinosos diversos da conjunção carnal;
Ex: 1. irmão gêmeo.

Também neste crime excluiu a lei 11.106/05 a expressão “mulher honesta”, substituindo-a pela
expressão “alguém”, abolindo-se tanto a exigência de pessoa do sexo feminino como o fato de ela ser
“honesta”, sob o ponto de vista da moral sexual, colocando o dispositivo penal em consonância com a a
atual ordem constitucional, bem como com os princípios da igualdade e da dignidade humana.

SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO


SUJEITO ATIVO - Qualquer pessoa.

SUJEITO PASSIVO – Qualquer pessoa, seja homem ou mulher, casta(o) ou promíscua(o).


Se a vítima for menor de 14 anos, haverá o crime de atentado violento ao pudor pela violência
presumida (art. 224, “a”); se for maior de 14 anos e menor de 18 anos, poderá estar configurado o crime de
corrupção de menores.

ELEMENTO SUBJETIVO
É o dolo, consubstanciado na vontade livre e consciente de induzir alguém, mediante o emprego de
fraude, à prática de atos libidinosos.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
CONSUMAÇÃO - Consuma-se o crime com a prática do ato libidinoso diverso da conjunção carnal.

TENTATIVA – é possível. Ocorre se o agente, por exemplo, emprega fraude, mas não consegue
realizar os atos libidinosos por circunstâncias alheias a sua vontade.

FORMAS:
SIMPLES: Está prevista no caput do art. 216
Atentado ao pudor mediante fraude
Art. 216. Induzir alguém, mediante fraude, a praticar ou submeter-se à prática de ato libidinoso
diverso da conjunção carnal: Pena - reclusão, de um a dois anos.

QUALIFICADA: Prevista no parágrafo único:


Parágrafo único. Se a vítima é menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (quatorze) anos: Pena – reclusão,
de 2 (dois) a 4 (quatro) anos

A lei não mais se refere somente à mulher, mas a qualquer pessoa, não importando o sexo. Também
não mais exige a honestidade da vítima, dada a alteração sofrida pelo caput do art. 216 do CP.
Na forma qualificada, é possível erro de tipo no que tange à idade;

----------------------------------------------------------------------------
----------------

5. ASSÉDIO SEXUAL – (ARTIGO 216-A CP)


Art. 216-A: Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual,
prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de
emprego, cargo ou função: Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.

GENERALIDADES
O art. 216-A foi introduzido no Código Penal pela Lei n° 10.224, de 15-05-2001, publicada em 16-5-
2001, quando entrou em vigor, não se aplicando, portanto, aos fatos cometidos antes dessa data. Por se
tratar de norma incriminadora, é irretroativa.
Parte da doutrina considera a criação do crime de assédio sexual como indevida, defendendo que o
conflito seria resolvido de forma mais adequada na esfera cível e trabalhista.

OBJETO JURÍDICO
Tutela-se a liberdade sexual do assediado, além do direito a um trabalho digno e com tratamento
digno.

AÇÃO NUCLEAR
A ação nuclear do tipo consubstancia-se no verbo constranger (forçar, compelir). A utilização de
violência ou grave ameaça descaracteriza o assédio sexual e caracteriza os crimes de estupro ou atentado
violento ao pudor. (a conduta não é a de violentar a vítima, mas de embaraçá-la, a fim de constrangê-la).
Não é qualquer gracejo, contudo,que caracteriza o assédio, mas tão-somente “a importunação séria,
grave, ofensiva, chantagiosa ou ameaçadora a alguém subordinado”.
Trata-se de crime de ação livre. O assédio pode ser realizado verbalmente, por escrito ou por gestos.

ELEMENTO NORMATIVO
ASSÉDIO LABORAL - O artigo 216-A do código penal trata do chamado “assédio laboral”, pois o
legislador somente tipificou o assédio decorrente de relação de trabalho. Excluindo-se o assédio exercido
pelo agente prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, a conduta de
assediar sexualmente com abuso ou violação de dever inerente a ofício ou ministério e o assédio sexual
exercido entre professores e alunos, em condições normais dentro do estabelecimento de ensino, como será
visto mais à frente.
Como exposto, exclui-se o assédio exercido pelo agente prevalecendo-se de relações domésticas, de
coabitação ou de hospitalidade, não sendo o mesmo abrangido pela norma do art. 216-A.

1ª OBS.: Não confundir, porém, a situação de “relação doméstica” com a da empregada doméstica,
pois aqui há perfeitamente uma relação empregatícia, estando ela sujeita à ascendência de seu patrão,
sendo certo que o assédio praticado contra a empregada doméstica enquadra-se perfeitamente no tipo
penal;
Relação doméstica - assediar a manicure ou a melhor amiga da esposa que frequenta a casa - não é
assédio sexual.

2ª OBS.: Da mesma forma, a babá e a diarista também podem ser sujeito passivo desse crime, visto
que, ainda que passageiramente, encontra-se inferiorizada na relação laboral.

A lei também não engloba a conduta de assediar sexualmente a vítima com abuso ou violação de
dever inerente a ofício ou ministério (exercido por padres, freiras, pastores), nos respectivos locais.
No que diz respeito ao assédio sexual exercido entre professores e alunos, a doutrina não é unânime
quanto à configuração do crime, pois “ainda que o professor de instituição pública exerça cargo ou função,
sua relação com o aluno é inerente à docência, não prevista no limitado tipo penal em exame”.
Entendemos, no entanto, que, no caso do professor que assedia sua aluna, ameaçando-a no desempenho
escolar, constrangendo-a com possibilidade de sua reprovação, caracteriza-se uma relação de sujeição
autorizadora do assédio sexual. Por outro lado, em cursos preparatórios para vestibular ou concursos, não
há que se falar no delito em questão, a menos que exista algum instrumento de coerção, como a ameaça de
prestar informações desairosas sobre o condidato etc.

3ª OBS.: Por não haver relação por cargo ou função, não haverá o crime de assédio sexual em razão
de exercício de pátrio-poder ou condição similar.

4ª OBS.: Nesse caso, se verificado que o temor reverencial foi capaz de afastar a capacidade de
resistir da vítima, haverá violência presumida, (Art. 224, “c” CP);

CONDIÇÃO HIERARQUICAMENTE SUPERIOR OU DE ASCENDÊNCIA - A lei também exige que


o crime seja praticado por agente que se prevaleça de sua condição hierarquicamente superior ou de sua
ascendência, como instrumento de coação para o assédio (o agente aproveita-se, abusa, dessa relação de
superioridade hierárquica ou ascendência para obter favores de natureza sexual). O sujeito ativo deve usar
sua superioridade hierárquica, de sua ascendência em razão de hierarquia laboral, ou pelo exercício de
cargo, emprego ou função, para constranger a vítima com o intuito de obter vantagem sexual.
Essa elementar é imprescindível para que se caracterize o crime. Se não há relação da atitude do
agente com sua condição de superior, não há crime de assédio. Uma “cantada” barata na rua não
caracteriza o crime de assédio sexual.
De acordo com Luiz Flávio Gomes, “na superioridade hierárquica há uma escala, há degraus de
relação empregatícia (há uma carreira). Na ascendência não há degraus, não há carreira. Há só uma
posição de domínio, de influência, de respeito e às vezes de temor.
A lei fala em ‘empregos, cargos ou função’. Empregos: relações privadas. Cargo ou função: relações
públicas”.
1ª OBS.: O chamado asédio ambiental não é abrangido pelo art. 216-A do CP - O asédio ambiental é
o assédio de colega de trabalho, neste caso não há superioridade hierarqica ou ascendência no âmbiete de
trabalho.

2ª Obs.: É necessário que haja o dissenso da vítima, deixando claro o seu não consentimento, sendo
vital para caracterizar o tipo penal. Portanto, é importante que de alguma forma a vítima venha a repelir o
assédio, demonstrando ao superior que não está gostando, não está o aceitando bem.

FAVORECIMENTO SEXUAL – Entende-se que tais favorecimento devem estar relacionados com a
prática de conjunção carnal ou outros atos libidinosos diversos (como os demais crimes contra os
costumes).

CONSTRANGIMENTO – Necessário se faz distinguir a conduta constrangedora do inofensivo


flerte, da tentativa de aproximação. Se não há sério constrangimento, não há que se falar em crime de
assédio. Além disso, há que existir seriedade na ameaça (de não ser promovido, de perder o emprego, etc),
que não precisa, inclusive, ser injusta.

1ª OBS.: O chamado “assédio ambiental” não é abrangido pelo art. 216-A. “Assédio ambiental” é o
praticado por colegas de trabalho, no ambiente laboral do dia a dia, podendo tal atitude, no entanto,
caracterizar outro crime;

2ª OBS.:É necessário que haja o dissenso da vítima, sendo vital para a caracterização do tipo que, de
alguma forma, a vítima venha a repelir o assédio, demonstrando ao superior que não o está aceitando bem;

SUJEITO ATIVO
Trata-se de crime próprio, já que a lei exige que o agente se prevaleça da sua condição de superior
hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função. O agente DEVE possuir
superioridade hierárquica ou ascendência sobre a vítima, podendo ser homem ou mulher.

OBS.: Aquele que não é “superior hierárquico” ou não possuir ascendência sobre a vítima, poderá
responder pelo crime na condição de co-autor ou partícipe.

SUJEITO PASSIVO
Só pode ser vítima desse crime a pessoa (homem ou mulher) que esteja em uma posição subalterna
ao agente, de maneira que possa ser atingido por eventuais represálias.

ELEMENTO SUBJETIVO
É o dolo, consistente na vontade livre e consciente de constranger a vítima. Exige-se, além daquela, o
elemento subjetivo do tipo: a finalidade de obter vantagem ou favorecimento sexual.

1ª OBS.: Não ocorre o crime, por falta do elemento subjetivo, “...quando o sujeito ativo objetivar
uma relação duradoura, um namoro efetivo, por exemplo;

2ª OBS.: Esse crime somente ocorre quando o superior constrange o subalterno a prestar-lhe,
contrariamente, ‘favores sexuais (mesmo que não consiga);

3ª OBS.: A vantagem ou favorecimento sexual pode ser parar o próprio agente ou para outrem
(p.ex., um amigo), ainda que este desconheça esse propósito do agente (Caso o terceiro tenha ciência e
queira a obtenção dessesbenefícios sexuais, haverá o concurso de pessoas).

CONSUMAÇÃO E TENTIVA
CONSUMAÇÃO: O crime consuma-se com o ato de constranger a vítima. (a prática de um único ato
consuma o crime).
É crime formal, não se exigindo, para a consumação, que o agente efetivamente obtenha a vantagem
ou favorecimento sexual, que se ocorrer será mero exaurimento do crime.

OBS.: Se houver o emprego de violência ou grave ameaça, haverá estupro ou atentado violento ao
pudor;
TENTATIVA - Em tese, é admissível quando, empregado meio capaz de produzir o
constrangimento, este não chegar ao conhecimento da vítima ou esta não se sentir intimada pelas
manobras inoportunas.

FORMAS
SIMPLES - Está prevista no art. 216-A
Assédio sexual - Art. 216-A: Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento
sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao
exercício de emprego, cargo ou função: Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.

CAUSA DE AUMENTO DE PENA


Incide aqui o disposto no art. 226:
Aumento de pena
Art. 226. A pena é aumentada:
I – de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de 2 (duas) ou mais pessoas; (Redação
dada pela Lei nº 11.106, de 2005)
II – de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro,
tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tem autoridade sobre ela;

Dessa forma, a pena é aumentada:


b. De quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de duas ou mais pessoas (inciso I).
c. De metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro,
tutor, curador, PRECEPTOR OU EMPREGADOR da vítima ou por qualquer outro título tem
autoridade sobre ela (incisoII):
primeiramente, a Lei n. 11.106, de 28 de março de 2005, nessa parte, operou algumas modificações
substanciais. Em primeiro lugar, o limite de aumento de pena foi modificado: a pena será aumentada de
metade, e não mais de quarta parte, se presentes uma das situações elencadas no inciso II. Assim, a lei
tornou mais gravosa a reprimenda penal, de forma que não poderá retroagir ao réu.
Em segundo lugar, foi ampliado o rol do inciso II do art. 226, de forma que também incide o
aumento de pena se o sujeito ativo for madrasta, tio, cônjuge ou companheiro da vítima. Quanto a essas
modificações operadas pela nova Lei, estamos diante, novamente, de uma reformatio in pejus, uma vez
que ampliou o rol de pessoas que se sujeitarão ao aumento de pena previsto no inciso II, não podendo, por
mais esse motivo, retroagir para prejudicar o réu.
Finalmente, a nova Lei aboliu a distinção entre “ascendente” e “pai adotivo”, em face da
Connstituição Federal, que veda tal diferenciação, utilizando-se apenas da primeira denominação.
A majorante em estudo é aplicável ao delito em tela, mas somente em parte, pois a figura
PRECEPTOR OU EMPREGADOR se insere na condição de superior hierárquico ou ascendência, inerentes
ao exercício de emprego, cargo ou função (elemento normativo do tipo). Desse modo, por já constituírem
elemento do tipo penal, não podem servir novamente para ocasionar a majoração da pena, sob pena de
ocorrência de bis in idem.

1ª OBS.: incidindo o concurso das causas de aumento de pena acima citadas. Nos termos do
parágrafo único do art. 68 do Código Penal, o juiz pode limitar-se à aplicação da causa que mais aumente,
desprezando as demais.

ESPÉCIES DE ASSÉDIO
Assédio sexual por chantagem (assédio sexual quid pro quo)
Encontra-se também previsto no art. 216-A do Código Penal. Nesse caso, o sujeito ativo não fica
importunando a vítima, mas tenta induzi-la, prometendo-lhe alguma vantagem ou benefício, em troca de
favores sexuais. Segundo Rodolfo Pamplona Filho, essa forma é conhecida como assédio sexual quid pro
quo, que quer dizer, literalmente, “ isto por aquilo “

Assédio sexual ambiental - É a forma tratada no item 3.3. Não foi prevista pela Lei n. 10.224, de 15-
5-5001.

Assédio moral - De acordo com Luiz Flávio Gomes, “no assédio moral o que se pretende é o ‘
enquadramento do empregado, a eliminação de sua autodeterminação no trabalho ou a degradação das
suas condições pessoais no trabalho, que traz consequencias drásticas para a integridade física e psíquica
do trabalhador. Em suma, sua transformação em um robô. O comportamento do industrial Maxime
Bonnet (consoante o OESP, DE 26-5-2001, p A17), que não permitia que suas operárias sorrisem ou
levantassem a cabeça de suas máquinas de costura durante o trabalho, é citado como exemplo típico de
assédio moral. Sintomas desse assédio na vítima: perda de vontade de sorrir, depressão, perda da
autoconfiança, isolamento, etc., chegando-se às vezes ao suicídio”. Essa forma de assédio também não foi
prevista pela Lei n. 10.224, de 15-5-2001.

Assédio mediante violência ou grave ameaça. Não é assédio, mas estupro ou atentado violento ao
pudor, tentados ou consumados. Se a ameaça não for grave e, especificamente, relacionar-se com a
atividade em que existe a subordinação, poderá ocorrer o delito de assédio sexual. Por exemplo: professor
que ameaça não dar dez para aluna. A gravidade deve ser aferida de acordo com as peculiaridades do caso
concreto e com a importância que o fato tiver para cada vítima.

CORRUPÇÃO DE MENORES
Art. 218 - Corromper ou facilitar a corrupção de pessoa maior de 14 (catorze) e menor de 18
(dezoito) anos, com ela praticando ato de libidinagem, ou induzindo-a a praticá-lo ou presenciá-lo: pena -
reclusão, de um a quatro anos.

Ação penal nos crimes contra os costumes


Art. 225 - Nos crimes definidos nos capítulos anteriores, somente se procede mediante queixa.
§ 1º - Procede-se, entretanto, mediante ação pública:
I - se a vítima ou seus pais não podem prover às despesas do processo, sem privar-se de recursos
indispensáveis à manutenção própria ou da família;
II - se o crime é cometido com abuso do pátrio poder, ou da qualidade de padrasto, tutor ou
curador.
§ 2º - No caso do nº I do parágrafo anterior, a ação do Ministério Público depende de representação.

Regra geral:
Obs.: o motivo principal da adoção, pelo legislador, regra geral da ação penal privada, é o fato de
que a vítima, por questões de foro intimo poderia não querer tornar pública a ofensa.

Exceções:
Ação Penal Pública Condicionada a Representação - §1º, I c/c § 2º do art. 225 do CP
Ação Penal Pública Incondicionada - 1ª - § 1º, II, art. 225 CP
- 2ª Súm. 608 doSTF
OBS.: Ação Penal Pública Incondicionada
Hipóteses:
1. se o crime é cometido pelo sujeito com abuso do poder família , tutela ou curatela § 1º, II, art. 225
do CP;
2. em caso de estupro ou atentado violento ao pudor quando houver emprego de violência real
(física) Súm 608 do STF
OBS.: Mesmo no caso de estupro com lesão corporal de natureza leve (e será absolvida pelo
estupro), se houver o emprego de violência real a ação penal é pública incondicionada
OBS.: havendo lesão leve nos casos de violência presumida, a ação penal será privada (com as
exceções do § 1º, I e II do art. 225 do CP)
OBS.: a ação penal em caso de lesão leve (art. 125, caput CP) é condicionada à representação do
ofendido, já quando a lesão leve resulta de estupro ou atentado violento ao pudor a ação penal é pública
incondicionada, quando for empregada a violência real.
3. quando resulta de lesão grave ou morte
Lei de juizados especiais em seu art. 89 da lei 9.099/95 permite a aplicação do sursis (suspensão
condicional do processo)
Nos crimes contra os costumes no caso Ação Penal Pública Incondicionada e Condicionada.

Aplicação do sursis:
• Posse sexual mediante fraude - art. 215 reclusão de 1 a 3 anos;
• Atentado Violento ao pudor mediante fraude - art. 216 Reclusão 1 a 2 anos;
• Assédio sexual - art. 216-A Detenção de 1 a 2 anos;
• Corrupção de menores - art. 218 Reclusão de 1 a 4 anos

Aumento de pena
Art. 226. A pena é aumentada:
I – de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de 2 (duas) ou mais pessoas;
II – de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro,
tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tem autoridade sobre ela

----------------------------------------------------------------------------
----------------

6. CORRUPÇÃO DE MENORES – (ARTIGO 218 CP)


Art. 218 - Corromper ou facilitar a corrupção de pessoa maior de 14 (catorze) e menor de 18
(dezoito) anos, com ela praticando ato de libidinagem, ou induzindo-a a praticá-lo ou presenciá-lo: Pena -
reclusão, de um a quatro anos.

Art.217-SEDUÇÃO
Dispunha o art. 217 do Código Penal: “Seduzir mulher virgem, menor de dezoito anos e maior de
catorze, e ter com ela conjunção carnal, aproveitando-se de sua inexperiência ou justificável confiança:
Pena-reclusão, de dois a quatro anos”.
Tal dispositivo foi revogado pela Lei n. 11.106, de 28 de março de 2005, em seu art. 5º, atendendo aos
reclamos da doutrina que não via, na prática, a viabilidade da aplicação desse dispositivo penal. Trata-se
de verdadeira abolitio criminis, uma vez que o fato passou a ser considerado atípico.

CORRUPÇÃO DE MENORES
Corrupção de menores
Art. 218 - Corromper ou facilitar a corrupção de pessoa maior de 14 (catorze) e menor de 18
(dezoito) anos, com ela praticando ato de libidinagem, ou induzindo-a a praticá-lo ou presenciá-lo: Pena -
reclusão, de um a quatro anos.

GENERALIDADES
A Norma penal busca a tutela dos adolescentes contra a depravação ou perdição moral, sob o
prisma sexual. A juventude é frágil e possui uma maleabilidade psíquica alta, estando mais exposta à
maligna ação da libidinagem e do vício e, necessitando assim, de maior proteção penal.

OBJETO JURÍDICO.
Tutela-se a moral sexual dos maiores de 14 e menores de 18 anos de idade (a saudável formação da
moral sexual dos mesmos).

ELEMENTOS DO TIPO
AÇÃO NUCLEAR - O tipo penal contém duas ações nucleares:

a) CORROMPER: significa perverter (depravar) o senso moral do menor de 18 e maior de 14 anos de


idade, por meio do manejo de elementos eróticos, com ele praticando ato de libidinagem. É a denominada
corrupção principal. Nessa hipótese hé necessariamente contato corporal entre a vítima e o agente;

b) FACILITAR A CORRUPÇÃO: é o ato de favorecer a depravação moral do menor, propiciando ao


menor condições favoráveis para a corrupção, seja induzindo-o a praticar ato libidinoso, ou induzindo-o a
presenciá-lo. É a denominada corrupção acessória.
Induzir é instigar ou persuadir, convencer, levar o menor a praticar o ato libidinoso ou a presenciá-
lo. No ato de facilitar a corrupção não há contato corporal entre a vítima e o agente, podendo ocorrer duas
hipóteses:
a) A vítima é induzida a praticar o ato libidinoso em si mesma (p. Ex.: masturbação); ou com terceiro
(p. Ex.: manter conjunção carnal), sempre na presença do agente;
b) No ato de induzir a presenciar, a vítima é levada a assistir os atos libidinosos praticados pelo
agente ou por terceira pessoa. Não há qualquer contato corporal com a vítima.
Deve-se comprovar, no caso, que o agente determinou a vontade do menor. Assim, se este, por
acaso, surpreende um indivíduo praticando atos libidinosos, e se mantém na espreita para assisti-los, não
há aqui qualquer ato de induzimento.
O tipo penal refere-se aos atos libidinosos, isto é, todos aqueles capazes de provocar a libido da
vítima, de despertar nela o gosto pelos prazeres sexuais. No crime de atentado violento ao pudor
consideramos apenas como atos libidinosos aqueles diversos da conjunção carnal, por exemplo: coito anal,
oral, apalpar as partes do corpo etc. Tal exclusão se dá em virtude da anterior tipificação do crime de
atentado vilento ao pudor, o crime de corrupção também abrange a conjunção carnal, ou seja, a cópula
vagínica.
Do contrário, aconteceriam situações como a seguinte: o agente que mantivesse conjunção carnal
com a vítima maior de 14 e menor de 18 anos de idade não responderia por crime algum, uma vez que o
único delito pelo qual poderia ser responsabilizado serio o de sedução; contudo o art. 217 do CP foi
revogado pela Lei n. 11.106, 28 de março 2005. Pior, se um menor de idade fosse induzido a assistir à
prática de atos libidinosos (diversos da conjunção carnal), o indutor responderia pelo crime de corrupção
de menores. Se, no entanto, o menor fosse induzido a assistir à prática de conjunção carnal, não
responderia o indutor por crime algum.
Basta o cometimento de um único ato libidinoso para que o crime se configure.

SUJEITO ATIVO - Trata-se de crime comum, Tanto o homem quanto a mulher podem praticá-lo.

SUJEITO PASSIVO - Sujeito passivo é a pessoa maior de 14 e menor de 18 anos de idade, ainda não
inteiramente corrompida.
Assim, ainda que o menor esteja parcialmente corrompido, ele continua sendo vítima do crime. Não
se exclui da proteção legal a menor que não seja mais virgem, que seja experiente, pois sempre há um
resquício da moral sexual a ser resguardado e, quanto mais for exposta aos atos depravadores, maior será
o grau de corrupção.
Se a vítima for menor de 14 anos haverá o crime de estupro ou atentado violento ao pudor com
violência presumida. E, se um menor de 14 anos for induzido a assistir à prática de atos libidinosos de
terceiros, por qual crime responderá? Segundo Noronha, não poderá ele responder pelos crimes previstos
nos atrs. 213 e 214, pois ambos os tipos penais não prevêem essa conduta criminosa. Também não é
possível enquadrar como crime de corrupção de menores, pois a idade mínima exigida é de 14 anos.
Conforme sustentamos anteriormente, no crime de atentado violento ao pudor, o fato é atípico,
devendo responder o agente apenas pelo crime de constrangimento ilegal (CP, art. 146).

ELEMENTO SUBJETIVO
É o dolo, consubstanciado na vontade livre e consciente de praticar ato de libidinagem com maoir de
14 e menor de 18 anos de idade, ou induzi-la a praticá-lo ou presenciá-lo. Não se exige o fim especial de
corromper a menor.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
CONSUMAÇÃO - Na doutrina e jurisprudência diverge-se acerca do momento consumativo do
crime em estudo, mas vigora a posição que diz tratar-se de crime material, não bastando somente a prática
dos atos libidinosos. Exige-se que o menor efetivamente se corrompa, ou seja, que, após a realização
daqueles, o menor passe a ter uma conduta moral reprovável, comprovando que, efetivamente, sua
personalidade tenha sido modificada.
TENTATIVA - Haverá tentativa se, apesar da prática dos atos libidinosos, ele não se corromper.

DISTINÇÕES

Corrupção de menores e o crime de sedução ( revogado pela Lei n. 11.106, de 28 de março de 2005)
Embora o crime de sedução tenha sido revogado, para simples conhecimento, cumpre traçarmos aqui
algumas distinções entre ambos os delitos. No crime de corrupção de menores:
a) sujeitospassivo e ativo podem ser tanto homem quanto mulher;
b) o ato libidinoso abrange também a conjunção carnal;
c) a vítima, se mulher, não necessita ser virgem, aproveitando-se o agente de sua inexperiência ou
justificável confiança.
Corrupção de menores e lenocínio (CP, art. 227). Na corrupção o agente induz o menor à prática de
atos libidinosos com o fim de satisfazer sua própria lascívia. No lenocínio o agente induz o menor àquela
prática com o fim de satisfazer a lascívia alheia. Aqui o agente serve apenas como intermediário.

Corrupção de menores e Lei n. 2.252/54. Prevê o art. 1º da referida lei: “ Constitui crime, punido
com a pena de reclusão de um a quatro anos e multa, corromper ou facilitar a corrupção de pessoa menor
de dezoito anos, com ela praticando infração penal ou induzindo-a a praticá-la. Não se deve confundir esse
crime com aquele previsto no art. 218 do Código Penal (corrupção de menores).O primeiro trata-se de
norma geral que incidirá sempre que alguém praticar com um menor infração penal ou induzi-lo a tal
prática. O crime previsto no art. 218 do CP, por sua vez, é considerado delito específico.

Estatuto da criança e do adolescente (Lei n. 8.069/90). O art. 240 da referida lei, com redação
determinada pela Lei n. 10.764/2003, prevê:

Art. 240 - “Produzir ou dirigir representação teatral, televisiva, cinematográfica, atividade


fotográfica ou de qualquer outro meio visual, utilizando-se de criança ou adolescente em cena
pornográfica, de sexo explícito ou vexatória: Pena- reclusão, de dois a seis anos, e multa.

§1º Incorre na mesma pena quem, nas condições referidas neste artigo, contracena com criança ou
adolescente.
§2º A pena é de reclusão de três a oito anos:
I- se o agente comete o crime com o fim de abter para si ou para outrem vantagem patrimonial”.

O art. 241, por sua vez, também com a redação determinada pela Lei n. 10.764/2003, menciona:

Art. 241 - “Apresentar, produzir, vender, fornecer, divulgar ou publicar, por qualquer meio de
comunicação, inclusive rede mundial de computadores ou internet, fotografias ou imagens com
pornografia ou cenas de sexo explícito envolvendo criança ou adolescente: Pena- reclusão de dois a seis
anos, e multa.

§1º Incorre na mesma pena quam:


I - agencia, autoriza, facilita ou, de qualquer modo, intermedeia a participação de criança ou
adolescente em produção referida neste artigo;
II - assegura os meios ou serviços para o armazenamento das fotografias, cenas ou imagens
produzidas nas formas do caput deste artigo;
III - assegura, por qualquer meio, o acesso, na rede mundial de computadores ou internet, das
fotografias, cenas ou imagens produzidas no caput deste artigo.

§2º A pena é de reclusão de três a oito anos:


I- se o agente comete o crime prevalecendo-se do exercício de cargo ou função;
II- se o agente comete o crime com o fim de obter para sim ou para outrem vantagem patrimonial”.

Finalmente, a Lei n. 9.975, de 23 de junho de 2000, inseriu no ECA uma nova regra legal, qual seja, o
art. 244-A, que prevê o crime de submissão de criança ou adolescente à prostituição ou exploração sexual.

Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais definidos no caput do art. 2o desta Lei, à
prostituição ou à exploração sexual:

CONCURSO DE CRIMES
Se o agente, por diversas ocasiões, praticou atos sexuais com a vítima ou a induziu a praticá-los ou
assisti-los, há continuidade delitiva. Se as vítimas forem diversas, também será admissível o crime
continuado, uma vez presentes os demais requisitos legais (CP, art. 71).
----------------------------------------------------------------------------
----------------

7. AÇÃO PENAL NOS CRIMES CONTRA OS COSTUMES – (ARTIGO 225 CP)

Ação penal
Art. 225 - Nos crimes definidos nos capítulos anteriores, somente se procede mediante queixa.
§ 1º - Procede-se, entretanto, mediante ação pública:
I - se a vítima ou seus pais não podem prover às despesas do processo, sem privar-se de recursos
indispensáveis à manutenção própria ou da família;
II - se o crime é cometido com abuso do pátrio poder, ou da qualidade de padrasto, tutor ou
curador.
§ 2º - No caso do nº I do parágrafo anterior, a ação do Ministério Público depende de representação.

REGRA GERAL
A regra geral para a ação penal dos crimes contra os costumes é que somente se procede mediante
queixa, sendo a ação penal de iniciativa privada.

Observação: 1) O motivo principal da adoção, pelo legislador, da regra geral da ação penal privada
é o fato de que o ofendido, por questões de foro íntimo, poderia não desejar tornar pública a ofensa. (Se
fosse obrigado a depor, possivelmente não iria colaborar na elucidação dos fatos verdadeiros, o que
dificultaria o desenvolvimento do processo. O legislador procurou levar em conta os interesses pessoais do
ofendido.)

EXCEÇÕES.
São as seguintes as exceções no que se refere à ação penal nestes casos:
a) Ação penal pública condicionada à representação – se a vítima ou seus pais não puderem prover
as despesas do processo sem se privarem dos recursos indispensáveis à manutenção própria ou da família
(§1°, I, c/c §2° do art 225 CP).

b) Ação penal pública incondicionada – a ação será pública incondicionada nas seguintes hipóteses:
b.1 - Se o crime é cometido pelo sujeito com abuso de poder familiar, tutela ou curatela (§1°, II, do
art 225 CP);
b.2 - Em caso de estupro ou atentado violento ao pudor, quando houver emprego de violência real
(vide súmula 608 STF):

SÚMULA 608 STF – “No crime de estupro, praticado mediante viol6encia real, a açao penal é
pública incondicional”.

OBS.: 1) Mesmo no caso de estupro com lesão corporal de natureza leve (que é absorvida pelo
estupro), se houver o emprego de violência real a ação é pública incondicionada;
2) havendo lesão leve nos casos de violência presumida (casos do art. 224 CP), a ação penal será
privada (com as exceções do §1°, I e II, do art. 225 CP, como visto acima;
3) a ação penal em caso de lesão leve (art 129, “caput”, CP) é condicionada à representação do
ofendido. Já quando a lesão leve resulta de estupro ou atentado violento ao pudor a ação penal é pública
incondicionada (por causa do emprego da violência).

b.3 - Nos crimes contra os costumes dos quais resultem lesão corporal de natureza grave ou morte;

LEI DO JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS


O sursis processual previsto no artigo 89 da Lei n° 9.099/95 é cabível nos crimes contra os
costumes, desde que a ação penal seja pública incondicionada (casos do art 225, §1°, II) e condicionada
(casos do art 225, §§1°, I e 2°), podendo incidir nos seguintes delitos:
a) Posse sexual mediante fraude (art. 215, caput, CP) – Pena: Reclusão 1 a 3 anos
b) Atentado ao pudor mediante fraude (art. 216, caput, CP) – Pena: Reclusão 1 a 2 anos;
c) Assédio sexual - (art. 216-A, caput, CP) – Pena: Detenção 1 a 2 anos;
d) Corrupção de menores - (art. 218, caput, CP) – Pena: Reclusão 1 a 4 anos.

Com a entrada em vigor da lei 10.259/01 (lei dos juizados especiais federais), passaram a ser
denominados “crimes de menor potencial ofensivo” todos aqueles a que a lei comine pena máxima igual
ou inferior a 2 anos de reclusão ou de detenção, qualquer que seja o procedimento previsto.
Assim, os crimes de Atentado ao pudor mediante fraude (art. 216, caput, CP) e Assédio sexual - (art.
216-A, caput, CP) constituem tais infrações, estando sujeitos ao procedimento sumaríssimo da lei 9.099/95.
----------------------------------------------------------------------------
----------------

DIREITO PENAL II - PARTE ESPECIAL – TÍTULO XI

1. CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇAO PÚBLICA (ARTIGOS 312 a 359 CP):


Inicialmente, é importante definir o que seja “administração pública” para o direito penal. No
direito administrativo, a expressão “administração pública” define as atividades realizadas pelo poder
executivo (é um sentido restrito da expressão). A doutrina penal, por sua vez, considera-a de forma mais
ampla, abrangendo também as atividades administrativas desenvolvidas no âmbito das atividades
legislativas (poder legislativo) e judiciária (poder judiciário), regulando todos os fatos que impeçam ou
perturbem o desenvolvimento regular da atividade do Estado e de outros entes públicos.
O título XI do Código Penal trata dos delitos que atentam contra o regular funcionamento da
organização estatal, afetando e prejudicando a administração pública e, por conseguinte, toda a
coletividade, pois a atuação estatal visa a beneficiar esta última. Crimes desta natureza afetam diretamente
a probidade administrativa, promovendo o desvirtuamento da administração pública nas suas várias
camadas e ferindo, dentre outros, os princípios norteadores da legalidade, da impessoalidade, da
moralidade e da eficiência. “O agente, representando o Estado, contraria uma norma buscando, com sua
conduta, um fim obscuro e imoral, demonstrando nefasta ineficiência em seu serviço”.
É preciso lembrar que o agente público tem não apenas o poder, mas também o dever de agir de
acordo com sua atribuição, na busca do fim especificado pela sua função, correspondendo ao interesse
público.

Dentro deste título, os crimes são divididos em três capítulos, que definem também as espécies de
crimes que podem ser praticados:

a) CAPÍTULO I – Dos crimes praticados por Funcionário Público contra a Administração em geral
(arts. 312 a 327, CP): Peculato; Peculato mediante erro de outrem; Inserção de dados falsos em sistema de
informações; Modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações; Extravio, sonegação
ou inutilização de livro ou documento; Emprego irregular de verbas ou rendas públicas; Concussão;
Excesso de exação; Corrupção passiva; Facilitação de contrabando ou descaminho; Prevaricação;
Condescendência criminosa; Advocacia administrativa; Violência arbitrária; Abandono de função;
Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado; Violação de sigilo funcional; Violação do
sigilo de proposta de concorrência; Funcionário público.

b) CAPÍTULO II – Dos crimes praticados por Particular contra a Administração em geral (arts. 328 a
337, CP): Usurpação de função pública; Resistência; Desobediência; Desacato; Tráfico de Influência;
Corrupção ativa; Contrabando ou descaminho; Impedimento, perturbação ou fraude de concorrência;
Inutilização de edital ou de sinal; Subtração ou inutilização de livro ou documento; Sonegação de
contribuição previdenciária.

c) CAPÍTULO III – Dos crimes contra a Administração da Justiça (arts. 338 a 359, CP): Reingresso de
estrangeiro expulso; Denunciação caluniosa; Comunicação falsa de crime ou de contravenção; Auto-
acusação falsa; Falso testemunho ou falsa perícia; Coação no curso do processo; Exercício arbitrário das
próprias razões; Fraude processual; Favorecimento pessoal; Favorecimento real; Exercício arbitrário ou
abuso de poder; Fuga de pessoa presa ou submetida a medida de segurança; Evasão mediante violência
contra a pessoa; Arrebatamento de preso; Motim de presos; Patrocínio infiel; Patrocínio simultâneo ou
tergiversação; Sonegação de papel ou objeto de valor probatório; Exploração de prestígio; Violência ou
fraude em arrematação judicial; Desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão de direito.

OBJETIVIDADE JURÍDICA DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO


Dentro do que foi exposto acima, o objeto jurídico tutelado é “o desenvolvimento regular da
atividade do Estado, dentro de regras de dignidade, probidade e eficiência”.

DIFERENÇAS ENTRE ILÍCITO PENAL E ILÍCITO ADMINISTRATIVO


Diante dos conceitos acima apresentados, é preciso que a administração pública tenha instrumento
internos aptos a punir o funcionário público que contrarie as normas de funcionamento do serviço público
em geral. Esses instrumentos são, na ótica de Hely Lopes Meirelles, os poderes hierárquico e disciplinar.
Segundo o autor, “poder disciplinar é a faculdade de punir internamente as infrações funcionais dos
servidores e demais pessoas sujeitas à disciplina dos órgãos e serviços da administração (...)” . Assim, não
se deve confundir o PODER DISCIPLINAR DA ADMINISTRAÇÃO, que é faculdade punitiva interna
da administração, destinada às infrações relacionadas com o serviço, com o PODER PUNITIVO DO
ESTADO, destinado à repressão de crimes e contravenções definidas em lei, com finalidade social e
realizada fora da administração, através da justiça penal pelo poder judiciário.
Dentro desta ótica, nem sempre o fato praticado pelo funcionário público que tipifique um ilícito
administrativo ou um ato de improbidade administrativa configurará um fato típico no âmbito penal. São
esferas diferentes, e nem todo bem jurídico da administração será protegido simultaneamente pelo direito
administrativo e pelo direito penal.

CRIMES FUNCIONAIS - CLASSIFICAÇÃO


Crimes funcionais são os crimes que só podem ser praticados por funcionário público, ou seja,
aqueles que são praticados exclusivamente por aqueles que detêm uma qualidade especial: SER
FUNCIONÁRIO PÚBLICO. Dividem-se em:

a) CRIMES FUNCIONAIS PRÓPRIOS (OU PROPRIAMENTE DITOS): São aqueles crimes nos quais
a função pública é elemento essencial do crime. Faltando a condição de FUNCIONÁRIO PÚBLICO ao
agente, o fato passa a ser um indiferente penal (atipicidade absoluta). São os crimes previstos no Capítulo I
do Título XI - crimes praticados por Funcionário Público contra a Administração em geral (arts. 312 a 327,
CP)
Ex: 1. Corrupção passiva (art 317);
2. Prevaricação (art 319).

b) CRIMES FUNCIONAIS IMPRÓPRIOS (OU IMPROPRIAMENTE DITOS): São aqueles crimes que,
faltando a condição de FUNCIONÁRIO PÚBLICO do agente, o fato deixa de ser funcional, mas continua a
ser crime comum. (atipicidade relativa).
Ex: 1) Peculato (art 312 CP): nesse caso, se o agente é funcionário público, comete o crime de
peculato. Se não for, comete o crime de furto (art 155 CP);
2) Concussão (art 316 CP), se o agente é funcionário público, comete o crime de concussão. Se não
for, comete o crime de Extorsão (Art 158 CP).

CRIMES FUNCIONAIS – CONCURSO DE PESSOAS


Dispõe o art. 30 do Código Penal:
Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando
elementares do crime.

A condição de funcionário público é de caráter pessoal, e como é elementar dos crimes funcionais,
comunica-se ao co-autor ou partícipe do crime. Assim, mesmo quem não for funcionário público, mesmo o
particular estranho à administração pública, pode responder pelo crime funcional, caso colabore, de
qualquer forma, para o crime cometido por funcionário público.
É necessário, no entanto, que o terceiro TENHA CONHECIMENTO DA CONDIÇÃO DE
FUNCIONARIO PÚBLICO do outro agente. Se não o tiver, não responde pelo delito funcional.

FUNCIONÁRIO PÚBLICO - CONCEITO


No âmbito administrativo (Direito Administrativo), o conceito de funcionário público é bastante
restrito, sendo apenas uma das espécies de agente administrativo, que por sua vez, é uma das espécies de
agente público (agentes políticos, agentes administrativos, agentes delegados, agentes honoríficos). Assim,
nos ensina o direito administrativo que a administração pública, para exercer suas funções, lança mão dos
agentes públicos, gênero de que são espécies:
a) o funcionário público, titular de cargo público efetivo, regido por norma do Direito
Administrativo;
b) o empregado público, jungido ao regime da CLT;
c) o servidor ocupante de cargo em comissão, provido sem concurso e regido também pelo direito
administrativo;
d) o servidor temporário, contratado sem concurso, por tempo indeterminado, para atender à
necessidade temporária de excepcional interesse público, nos termos exatos do disposto no artigo 37, IX da
Constituição Federal.
Para efeitos penais, no entanto, o efeito da expressão foi ampliado. Assim, dispõe o artigo 327:

Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente
ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.

Este conceito alcança, assim, TODAS as espécies de agentes públicos, abrangendo qualquer função
de natureza e interesse público, sendo irrelevante se o vínculo com a administração é permanente ou
eventual, voluntário ou obrigatório, remunerado ou não, definitivo ou transitório.
Sob este prisma, funcionário público é todo aquele que desempenha, de algum modo, função na
administração pública direta ou indireta (autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista,
fundações públicas ou agências reguladoras) do Estado, além das pessoas que trabalham em entidades
paraestatais, denominadas entidades do terceiro setor (serviços sociais autônomos, entidades de apoio, e as
organizações não governamentais – ONGs), e mais ainda, os indivíduos que prestam serviços para
empresas privadas contratadas ou conveniadas, para o fim de execução de atividade típica da
administração. Como exemplo cita-se os contratados, mensalistas, diaristas, tarefeiros nomeados ou
contratados a título precário, bem como aqueles que prestam serviços públicos sem remuneração, como
jurados, presidentes e componentes de mesas receptivas e apuradoras de votos.

CARGO, EMPREGO E FUNÇÃO


a) CARGO – diz o artigo 3°, Parágrafo único da lei 8.112/90 (regime jurídico dos servidores
públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais):

Art. 3° - Cargo público é o conjunto de atribuições e responsabilidades previstas na estrutura


organizacional que devem ser cometidas a um servidor.
Parágrafo único. Os cargos públicos, acessíveis a todos os brasileiros, são criados por lei, com
denominação própria e vencimento pago pelos cofres públicos, para provimento em caráter efetivo ou em
comissão.

b) EMPREGO – representa, como no cargo público, também uma unidade de atribuições,


distinguindo-as uma da outra pelo tipo de vínculo que liga o servidor ao Estado. O ocupante de emprego
público tem um vínculo contratual, sob a regência da CLT, enquanto o ocupante de cargo público tem um
vínculo estatutário, regido pelo Estatuto dos funcionários públicos, que na União está contido na lei
8.112/90 (regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas
federais).

c) FUNÇÃO PÚBLICA – é a atividade correspondente ao cargo ou emprego, mas que pode ser
exercitada fora de um ou outro, não necessitando ser exercida por funcionário público. É qualquer
atividade que realiza fins próprios do Estado, ainda que exercida por pessoas estranhas à administração
pública.
Assim, ainda que a pessoa não seja empregada, nem tenha cargo no Estado, ela estará incluída no
conceito penal de funcionário público, desde que exerça, de algum modo, função pública.

FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS POR EQUIPARAÇÃO LEGAL (ou atípicos)


§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade
paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a
execução de atividade típica da Administração Pública.

Nos termos do que está disposto no §1° do artigo 327 CP, são equiparados ao funcionário público,
para efeitos penais, quem exerce cargo, emprego ou função em:
- ENTIDADE PARAESTATAL (Autarquia, Sociedade de economia mista, Empresas Públicas e
Fundações instituídas pelo Poder Público).
- EMPRESA CONTRATADA OU PRESTADORA DE SERVIÇO (Concessionárias ou permissionárias
de serviço público);
- CONVENIADAS PARA EXECUÇÃO DE ATIVIDADE TÍPICA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
(Ex: Santa Casa de Misericórdia).
OBS.: Tal equiparação não abrange, contudo, os funcionários atuantes em empresas contratados que
prestam serviços atípico da Administração (serviço "para" administração, e não serviço "da"
administração).

OBS.: Não comete o delito de desacato o particular que, por ex., ofende a honra dos indivíduos
constantes do § 1º. Ofende a maioria da doutrina que a equiparação constante no § somente se aplica......

OBS.: Subsistem, ainda, as seguintes posições


a) Administrador e médico hospitalar credenciado pelo SUS - não é considerado funcionário
público, segundo o STJ; mas é considerado funcionário público, segundo o TRF
b) Advogado remunerado por convenio público - não é considerado funcionário público.
c) Sindico de falência - não é considerado funcionário público.
d) Estagiário de empresa pública - é considerado funcionário público.
e) Leiloeiro de bens público - é considerado funcionário público.
f) Perito policial - é considerado funcionário público.
g) Escrevente auxiliar de cartório - é considerado funcionário público.
h) Empregados de Correio e Telégrafos - se de franquias, não é considerado, mas se concursado é
considerado funcionário público.

CAUSAS DE AUMENTO DE PENA - Art 327, §2°, CP.


§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo
forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da
administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder
público.

OBS.: O legislador não inclui no § as autarquias, não podendo o intérprete considerá-las


implicitamente.

OBS.: A majorante prevista neste § não se aplica aos ocupantes de cargos eletivos (prefeitos,
governadores, presidentes da República), uma vez que exercem a chefia do Poder Executivo, eleitos para
mandato temporário, não se confundindo com servidores ocupantes de cargo em comissão ou de função
de direção ou acessoramento de órgão da Administração direta.

Nesse caso, a lei considera a conduta ainda mais censurável, na medida em que ocorre a traição da
confiança nele depositada pela administração pública, de servidor ocupante de cargo em comissão ou
função de direção ou assessoramento (funções de confiança).
Incide sobre aqueles funcionários que ocupam: a) cargo em comissão; b) Função de direção ou
assessoramento em:
- Órgão da Administração Direta;
- Sociedade de Economia Mista;
- Empresa Pública;
- Fundação Instituída pelo Poder Público;

CRIMES FUNCIONAIS - PROCEDIMENTO.


No que diz respeito aos crimes funcionais, cuidou a lei de estabelecer um rito especial, tendo em
vista os elevados interesses da administração pública, resguardando-a no que diz respeito à probidade, ao
decoro, à segurança e outros bens jurídicos que lhe são essenciais ao bom funcionamento, com
determinadas cautelas. Com isso se protege, também, a pessoa do funcionário, em decorrência do exercício
de suas funções, muitas vezes alvo de acusações infundadas por motivos até políticos.
Ao contrário da minoria da doutrina, que defende a aplicação do rito especial a todo e qualquer
crime praticado por funcionário público, independentemente de ser ou não praticado contra a
administração pública, a maioria entende que o rito especial aplica-se a todo e qualquer crime praticado
por funcionário público, desde que a infração de que seja acusado constitua delito funcional típico,
previsto nos artigos 312 a 326 do CP (vide art. 513 CPP):

CÓDIGO DE PROCESSO PENAL - CAPÍTULO II


DO PROCESSO E DO JULGAMENTO DOS CRIMES DE RESPONSABILIDADE DOS
FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS
Art. 513. Os crimes de responsabilidade dos funcionários públicos, cujo processo e julgamento
competirão aos juízes de direito, a queixa ou a denúncia será instruída com documentos ou justificação
que façam presumir a existência do delito ou com declaração fundamentada da impossibilidade de
apresentação de qualquer dessas provas

Segundo o previsto na norma, a denúncia ou queixa, peça inaugural do processo penal, conterá a
exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou
esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol de
testemunhas (art. 41 CPP).
Será oferecida, ainda, com provas suficientes da materialidade e indícios da autoria. Em regra, para
tanto, o autor da ação serve-se do inquérito policial, entendido como sendo o procedimento administrativo
informativo criminal, composto por um conjunto de diligências policiais e presidido, em regra, pelo
Delegado de Polícia.

Estando a denúncia ou queixa em devida forma e, tratando-se de DELITO AFIANÇÁVEL, concede-


se ao indigitado funcionário o prazo de quinze dias para contestar a acusação nela contida, visando essa
medida impedir o recebimento da peça acusatória inaugural, no interesse da administração pública.
A falta desta notificação do acusado implica em nulidade insanável do processo (nulidade absoluta),
for ofensa ao princípio da ampla defesa e do contraditório.

OBS.: O inquérito policial pode ser dispensado, se a peça acusatória estiver instruída com
documento aptos à caracterização da materialidade delitiva e dois indícios suficientes de autoria, ou ainda,
na falta desses, quando houver a declaração fundamentada da impossibilidade de sua apresentação.

DISPÕE O ARTIGO 514 DO CPP:


Art. 514. Nos crimes afiançáveis, estando a denúncia ou queixa em devida forma, o juiz mandará
autuá-la e ordenará a notificação do acusado, para responder por escrito, dentro do prazo de quinze dias.

O procedimento especial previsto no artigo 514 do CPP aplica-se a todos os crimes funcionais, desde
que afiançáveis, ficando excluídos os inafiançáveis.
De acordo com o presente artigo, os únicos crimes que não serão submetidos ao rito especial serão
os de excesso de exação (art. 316, §1°, CP – pena: reclusão, de 3 a 8 anos e multa) e facilitação de
contrabando ou descaminho (art. 318, CP – pena: reclusão, de 3 a 8 anos e multa), sujeitando-se, ambos, ao
procedimento ordinário do CPP, por não terem abstratamente cominada pena mínima não inferior a dois
anos.
Finalmente, vale ressaltar que os crimes cuja pena máxima não exceda a dois anos sujeitam-se ao
procedimento da lei dos juizados especiais criminais. Assim, a todos os crimes previstos no capítulo I do
Título XI, cuja pena máxima prevista não exceda a dois anos, o procedimento a ser aplicado será o
sumaríssimo, previsto na lei 9.099/95 e incidente nas infrações de menor potencial ofensivo.
----------------------------------------------------------------------------

2. PECULATO – ARTIGO 312 DO CÓDIGO PENAL

PECULATO (Está previsto no Código Penal de 6 maneiras):

1. Art. 312, caput, 1ª parte - peculato apropriação (próprio)


2. Art. 312, caput, 2ª parte - peculato desvio (próprio)
3. Art. 312, §1º - peculato furto (impróprio)
4. Art. 312, §2º - peculato culposo
5. Art. 313 - peculato mediante erro de outrem (Peculato Estelionato)
6. Art. 313-A e 313-B - Peculato Eletrônico

Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel,
público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:
pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
O crime de peculato é semelhante ao crime de apropriação indébita, só que praticado por
funcionário público. Sua gênese histórica encontra-se no direito romano, quando a subtração de coisas
pertencentes ao Estado chamava-se peculatus ou depeculatus, em razão do nome que era dado aos bois e
carneiros (pecus), que eram objetos de comércio e que representavam a expressão da riqueza por
excelência, antes da invenção da moeda.

PECULATO APROPRIAÇÃO E PECULATO DESVIO – Art 312, “caput”


Peculato apropriação (Art. 312, caput, 1ª parte: Art. 312 - "Apropriar-se o funcionário público de
dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo
..."
Peculato desvio (próprio - Art. 312, caput, 2ª parte: Art. 312 - "... ou desviá-lo, em proveito próprio
ou alheio".

OBS.: Se o crime for em proveito da própria administração, haverá o crime do 315 do CP (emprego
irregular de verba ou renda pública).

OBS.: A apropriação deve recair sobre objetos, de forma que o tipo penal não abrange a utilização
de serviços de natureza pública.

OBS.: Todo crime corresponde a um ato de improbidade, mas nem todo ato de improbidade
configura crime.

PECULATO quer dizer, primordialmente, “apropriar-se de bem público ou particular à disposição da


administração”. O Peculato próprio, na verdade, constitui uma apropriação indébita, só que praticada por
funcionário público com violação do dever funcional, ferindo a moralidade administrativa, em razão da
quebra deste dever funcional.
Distanciando-se de sua origem, o peculato somente pode ser cometido por funcionário público,
entendido este no sentido mais amplo trazido pelo artigo 327 do Código Penal. Mesmo o servidor
aposentado, se conserva consigo posse de bem ilegalmente apropriado durante o exercício e em razão do
cargo antes ocupado, responderá pelo crime de peculato. Vejamos as duas ações previstas no caput do
artigo:

a) Peculato apropriação (art 312, caput, 1ª parte)


Art. 312 – “Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou
particular, de que tem a posse em razão do cargo...”
É o denominado peculato próprio. A ação nuclear está contida no verbo “apropriar”. Assim como no
crime de apropriação indébita, o agente tem a posse (ou a detenção) lícita do bem móvel, público ou
particular, e inverte esse título, passando a comportar-se como se dono fosse. A diferenciação entre a
natureza dos dois crimes é justamente que, no segundo caso (crime funcional) o agente tem a posse ou
detenção em razão do cargo, em razão da função pública que exerce.
Ex: João, entrega a José, seu amigo e funcionário do Detran, uma quantia em dinheiro para que este
último pague uma multa naquele órgão público. João, no entanto, apropria-se do dinheiro. Nesse caso,
João responderá por apropriação indébita, pois não teve a posse do bem em razão do cargo, não se
podendo falar que o bem particular estava sob a guarda ou custódia da administração.

b) Peculato desvio (art 312, caput, 2ª parte)


Art. 312 – “...ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio.”
Também é denominado de peculato próprio, previsto na segunda parte do artigo 312, caput, do
Código Penal. Aqui, o agente tem a posse da coisa e lhe dá destinação diversa da exigida por lei, agindo
em proveito próprio ou de terceiro.
Ex: O Funcionário Público empresta o dinheiro público para perceber os juros.

Emprego irregular de verbas ou rendas públicas


Art. 315 - Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei: Pena - detenção, de um a
três meses, ou multa.
ARTIGO 312 – PECULATO DESVIO ARTIGO 315 – DESVIO DE RENDA
- Há desvio - Há desvio

- Visando a satisfação de interesse próprio - Embora haja desvio, permanece a finalidade


ou alheio pública
(interesse privado) (não se busca a satisfação de interesse
particular)

Peculato próprio → apropriação → coisa → Pública → o agente tem posse legitima em razão do
cargo

Peculato próprio → desvio → coisa → Privada → o agente tem posse legitima em razão do cargo
OBS.: No desvio não confundir com o artigo 315 do CP

OBJETO MATERIAL
A lei refere-se a a) DINHEIRO (valor, como moeda de câmbio, apólices, notas promissórias, etc); e b)
BEM MÓVEL (Veículo, computador, aparelhos eletrônicos, etc). de natureza pública ou privada, de que
tem o funcionário público a posse em razão do cargo.
EX: 1. Funcionário Público que apropria-se de trator locado pela administração pública para auxiliar
trabalhadores ruralistas no cultivo de suas próprias terras, utilizando em suas terras próprias, sem
devolvê-lo;
2. Delegado de Polícia que deixa de registrar nos autos a apreensão de dinheiro encontrado em
poder de assaltantes , dele se apropriando
3. Guarnição policial que deixa de encaminhar algum objeto apreendido no decorrer de uma
ocorrência, dele se apropriando.

SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO


SUJEITO ATIVO – Trata-se de crime próprio. Somente o funcionário público (definido no art. 327,
caput, CP) e as pessoas a ele equiparadas legalmente (art. 327, 1° e 2°, CP) podem praticar o delito.

SUJEITO PASSIVO – o sujeito passivo será sempre o Estado, pois o peculato atingirá o
desenvolvimento regular da atividade administrativa. Pode ocorrer de também as entidades de direito
público sejam consideradas vítimas.

Secundariamente, pode ainda o particular ser sujeito passivo, na hipótese de serem seus os bens
apropriados ou desviados pelo funcionário público.

ELEMENTO SUBJETIVO
É o dolo, consubstanciado na vontade livre e consciente de apropriar-se de coisa móvel, pública ou
particular, ou desviá-la, o que pressupõe a intenção de apoderar-se da coisa, o propósito de assenhorear-se
dela definitivamente, ou seja, de não a restituir, agindo como se dono fosse, ou de desviá-la do fim para o
qual foi entregue.
Além do dolo, o tipo penal contém um elemento subjetivo do tipo “em proveito próprio ou alheio”, o
qual incide sobre o peculato peculato-apropriação e o peculato-desvio. Estas modalidades exigem o que
antigamente era chamado de “dolo específico”.

USO MOMENTÂNEO DE COISA PÚBLICA CONFIGURA PECULATO?


1) SIM, se a coisa usada é fungível, pois o bem fungível também é objeto material do delito. O
funcionário público, ao receber o dinheiro ou outro bem fungível, atua como um braço da administração. É
como se a coisa já fizesse parte do erário público, não podendo, assim, ser utilizado para fins particulares,
tendo o funcionário público a intenção de ter a coisa para si.
2) NÃO, se a coisa usada é infungível, pois se o funcionário público, por exemplo, utiliza automóvel
da administração para ir a uma festa, devolvendo o veículo no mesmo estado e local de onde o retirou
(como ocorre no crime de apropriação indébita), não incorre na intenção de ter a coisa para si, sendo o fato
atípico.

OBS.: para a Jurisprudência , a questão não se trata de coisa fungível ou infungível, mas sim de
coisa consumível ou inconsumível.
Ex.: utilizar o carro e devolver no outro dia não configura (pois é inconsumível, mas improbidade).
Entretanto, a gasolina configura (pois trata-se coisa inconsumível).

OBS.: segundo o art. 1º do Decr.-Lei 201/67 (que dispõe sobre a responsabilidade dos prefeitos e
vereadores), no caso dos prefeitos o mero uso da coisa será sempre considerado crime, não importando a
sua natureza (se consumível ou não).

OBS.:
a) reparação do dano anterior ao recebimento da denuncia - constitui causa de diminuição de pena
(art. 16 do CP);
b) reparação do dano posterior ao recebimento da denuncia - constitui atenuante genérica (art. 65,
III, "d" do CP);

APROPRIAÇÃO DE DINHEIRO PÚBLICO COMO COMPENSAÇÃO EXTRAJUDICIAL DE


CRÉDITO A SER EXIGIDO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PELO FUNCIONÁRIO CONFIGURA
O PECULATO?
SIM, pois o dinheiro público está vinculado, por lei ou ato administrativo, a determinados fins, não
podendo a administração ser privada, de forma ilegal, da disponibilidade daquele dinheiro.

APLICA-SE O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA AO PECULATO?


Apesar da corrente majoritária ainda considerar que não, sob o argumento de que mais que a
matéria, fere-se a moral pública (o crime não é contra o patrimônio, é contra o bom nome da
administração), é cada vez maior a corrente que diz que tal princípio é aplicável quando mínima a lesão ao
erário, pois acima do interesse à punição do culpado, deve prevalecer o interesse ao restabelecimento do
equilíbrio patrimonial alterado. O direito penal não pode ser utilizado para cuidar de bagatelas. Ainda
assim, mesmo aplicando-se o princípio da insignificância, não estará livre das sanções administrativas
pertinentes o agente.

CONSUMAÇÃO
PECULATO APROPRIAÇÃO – é crime material, consumando-se quando o funcionário público passa
a agir como dono da coisa, transformando a posse ou a detenção sobre o dinheiro, valor ou outro coisa
móvel em domínio, adotando comportamentos incompatíveis com a mera posse ou detenção (venda,
alienação, etc).

PECULATO DESVIO – é crime formal, consumando-se quando o funcionário público dá à coisa


destino diverso do previsto em lei. Não se exige, nesse caso, o proveito próprio ou alheio, bastando a
realização do verbo do tipo.

TENTATIVA
É perfeitamente possível.

ARREPENDIMENTO POSTERIOR
O ressarcimento do dano ou a restituição da coisa apropriada, em se tratando de peculato doloso,
não extingue a punibilidade, podendo apenas influir na aplicação da pena, existindo, nesse caso, duas
situações:

a) REPARAÇÃO DO DANO ANTERIOR AO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA - .Constitui causa de


diminuição de pena (conforme o artigo 16 do CP);

Arrependimento posterior
Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa,
até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços

b) REPARAÇÃO DO DANO POSTERIOR AO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA – Constituirá


atenuante genérica (conforme artigo 65, III, CP).

OBS.: se a reparação do dano ocorrer em instância recursal, incidirá atenuante do art. 66 do CP


Circunstâncias atenuantes
Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:
III - ter o agente:
d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime;

PECULATO FURTO (ou impróprio).


§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro,
valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de
facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário.

Estamos agora diante de um crime de furto, só que praticado por funcionário público., o qual se vale
dessa qualidade para cometê-lo. “A condição de funcionário não é causa, mas ocasião para o crime”.
O agente, também servidor público típico ou atípico, não tem a posse mas, valendo-se da facilidade
que a condição de funcionário lhe concede, subtrai (guarda noturno que subtrai objetos de prédio público),
ou concorre para que seja subtraída (no mesmo exemplo, o guarda apenas “deixa aberta” a porta para que
outros realizem a subtração) coisa do ente público ou de particular sob a custódia da administração.

Peculato-furto.
É o denominado peculato impróprio. Está previsto no § 1º. Consiste no furto cometido pelo
funcionário público, valendo-se de sua condição perante a Administração Pública. Aqui o agente não tem a
posse do bem como no peculato-apropriação ou desvio, mas vale-se da facilidade que lhe proporciona a
qualidade de funcionário público para realizar a subtração. Caso contrário, haverá crime de furto.
Exemplo: fiscal da Prefeitura verifica que o tesoureiro deixou o cofre aberto e retira certa importância. O
funcionário pode tanto realizar a subtração quanto concorrer para que outrem a faça. Dessa feita, poderá o
agente propositadamente deixar aberta à porta da repartição pública em que trabalha para que outrem
realize a subtração. A consumação se dá nos mesmos moldes do crime de furto. A tentativa é admissível
(v. crime de furto).

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
No peculato furto, a consumação e a tentativa se dão nos mesmos moldes do crime de furto, assim:
A CONSUMAÇÃO – se dá com a efetiva subtração e posterior posse mansa e pacífica do bem (teoria
da inversão da posse);
A TENTATIVA, existirá sempre que, fracionado o íter criminis, o agente não obtiver êxito em
substituir a posse do ofendido por circunstâncias alheias à sua vontade.

PECULATO CULPOSO
Peculato culposo
§ 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem: Pena - detenção, de três
meses a um ano.

Esta modalidade de peculato ocorre quando o funcionário público, através de manifesta negligência,
imprudência ou imperícia, infringe o dever de cuidado objetivo, criando condições favoráveis à prática do
crime de apropriação indébita, furto ou de peculato, em qualquer de suas modalidades (apropriação,
desvio, furto), ou seja, o agente concorre, culposamente, para a prática dolosa de um crime por parte de
terceiro.
Não há concurso de agentes, pois não se admite a participação culposa em crime doloso, daí a
tipificação individual da conduta do funcionário em um crime próprio

REQUISITOS
1. NEXO CAUSAL - Para que o funcionário responda ao crime, no entanto, é imprescindível o nexo
causal entre a conduta culposa do agente e o resultado gerado pelo terceiro. O agente do crime doloso
deve ter, efetivamente, se aproveitado das facilidade proporcionadas pelo comportamento culposo do
funcionário, do contrário não responderá este por crime algum. (funcionário esquece a porta da frente
aberta e o terceiro pratica o crime entrando pela porta dos fundos).

2. CONSUMAÇÃO DO CRIME PRATICADO POR TERCEIRO – também o funcionário público


somente responderá pelo peculato culposo, previsto no parágrafo segundo do artigo 312 se o crime doloso
praticado por terceiro consumar-se. Se o crime do terceiro ficar na tentativa, não ocorrerá a configuração
deste.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
A CONSUMAÇÃO – se dá com a consumação do crime doloso praticado por terceiro, havendo,
como visto, a necessidade de nexo causal entre as condutas;
A TENTATIVA não é possível.

OBS.: deve estar presente na ação do agente a vontade de não devolver a coisa ao real proprietário,
pois, se quer o agente desde o inicio, apenas utilizar a coisa, devolvendo-a após, não há ilícito penal.

REPARAÇÃO DO DANO E AÇÃO PENAL


§ 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível,
extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta.

EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE NO PECULATO CULPOSO


Prevista na primeira parte do parágrafo (“...a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível,
extingue a punibilidade...”). A reparação do dano (restituição do bem ou indenização do valor) deve ser
anterior ao trânsito em julgado de sentença penal irrecorrível, deve ser completa e não isenta o agente de
posterior sanção administrativa. Além disso, somente é aplicada ao funcionário, autor do peculato culposo,
não se estendendo ao terceiro que praticou o crime doloso.

CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA NO PECULATO CULPOSO


Prevista na segunda parte do parágrafo (“...se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta.”). Aqui, se
a reparação do dano é posterior à sentença irrecorrível, a pena imposta é reduzida de metade.

CAUSA DE AUMENTO DE PENA NO PECULATO DOLOSO E CULPOSO


Prevista no §2º, do artigo 327, CP:

§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo
forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da
administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder
público.

Essa causa especial de aumento de pena incide no peculato doloso e culposo.

QUESTÕES INCIDENTES
FUNCIONÁRIO QUE INDUZ OUTRO EM ERRO PARA OBTER A POSSE DO BEM -
Incide no crime de estelionato (Art. 171, CP). Nesse caso, não há:
 posse lícita;
 erro da vítima.

CONCURSO DE CRIMES
 Venda posterior do objeto de peculato não é crime, mas mero exaurimento;
 Falsificação de documento para a prática de peculato enseja em concurso material de crimes (o
STF diz tratar-se de concurso formal).

LEGISLAÇÃO ESPECIAL
 PREFEITO MUNICIPAL – Não responde por peculato, mas de acordo com o Decreto-Lei 201, de
27 de fevereiro de 1967:

Art. 1º São crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipal, sujeitos ao julgamento do Poder
Judiciário, independentemente do pronunciamento da Câmara dos Vereadores:

I - apropriar-se de bens ou rendas públicas, ou desviá-los em proveito próprio ou alheio;

 ASSOCIAÇÕES OU ENTIDADES SINDICAIS – respondem por peculato, conforme o artigo 552


da CLT:
Art. 552 - Os atos que importem em malversação ou dilapidação do patrimônio das associações ou entidades
sindicais ficam equiparados ao crime de peculato julgado e punido na conformidade da legislação penal.

AÇÃO PENAL
A ação penal é pública incondicionada.
Por constituir crime de menor potencial ofensivo (pena máxima até 2 anos), o peculato culposo
sujeita-se às disposições da lei 9.099/95 (lei dos Juizados Especiais Criminais).

PECULATO MEDIANTE ERRO DE OUTREM (ou peculato estelionato)


Peculato mediante erro de outrem
Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro de
outrem: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Apesar de conhecido como “peculato estelionato”, o crime em tela assemelha-se mais com o crime de
“apropriação de coisa havida por erro”, previsto no artigo 169, 1ª parte: (“Art. 169 - Apropriar-se alguém de coisa
alheia vinda ao seu poder por erro...”), só que, na hipótese, qualificada pela qualidade de funcionário público.

ELEMENTOS DO TIPO
AÇÃO NUCLEAR - TIPO OBJETIVO – está no ato do agente inverter, no exercício do seu cargo, a
posse de valores recebidos por erro de terceiro. Nessa modalidade criminosa, o funcionário se aproveita do
erro em que incidiu espontaneamente a vítima para se apoderar do bem.
O erro em que incide a vítima, segundo a doutrina, pode versar:
a) sobre a coisa que é entregue;
b) sobre a obrigação que deu causa à entrega;
c) sobre a pessoa a quem se faz a entrega.

OBJETO MATERIAL – é o dinheiro ou qualquer utilidade que tenha recebido no exercício do cargo.
Deve ser a coisa móvel de natureza patrimonial.
O bem deve ser recebido, pelo agente, no exercício do cargo, caso contrário, configura-se o crime do
art. 169, 1ª parte:

Apropriação de coisa havida por erro, caso fortuito ou força da natureza


Art. 169 - Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por erro...

SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO


SUJEITO ATIVO – É o funcionário Público, latu sensu, previsto no art. 327 do CP.

SUJEITO PASSIVO – É o Estado, mais especificamente a administração pública. Se houver particular


lesado pela conduta típica, concorrerá como vítima secundária do crime.

ELEMENTO SUBJETIVO
É o dolo, consistente na vontade livre e consciente de se apropriar do dinheiro ou de qualquer outra
utilidade que recebeu por erro de outrem.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
A CONSUMAÇÃO – se dá com a apropriação do bem, e não com o mero recebimento deste. Assim, o
funcionário comete o crime quando age como se dono fosse;

A TENTATIVA - é possível.

OBS.: deve estar presente na ação do agente a vontade de não devolver a coisa ao real proprietário,
pois, se quer o agente desde o inicio, apenas utilizar a coisa, devolvendo-a após, não há ilícito penal.

PECULATO ELETRÔNICO

Inserção de dados falsos em sistema de informações (incluído pela Lei nº 9.983 de 2000)
Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos, alterar ou
excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração
Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano: Pena –
reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.

Modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações


Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de informações ou programa de informática
sem autorização ou solicitação de autoridade competente: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois)
anos, e multa.
Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço até a metade se da modificação ou alteração
resulta dano para a Administração Pública ou para o administrado.
----------------------------------------------------------------------------

3. CONCUSSÃO
Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes
de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.

O crime de concussão é semelhante ao crime de extorsão , só que praticado por funcionário público,
com abuso de autoridade. Ocorre que, ao invés do uso de violência ou grave ameaça, utilizada na extorsão,
o que o funcionário público utiliza é a autoridade decorrente da função pública obtendo, em função dela,
vantagem indevida.

ELEMENTOS DO TIPO
AÇÃO NUCLEAR - TIPO OBJETIVO – A conduta típica consiste em exigir o agente, por si só ou
interposta pessoa, explícita ou implicitamente, vantagem indevida, abusando de sua autoridade pública,
como meio de coação.
Observe-se que o agente, necessariamente, deve exigir a vantagem indevida em razão da função
pública. Deve haver um nexo causal entre a função e a exigência da vantagem. Assim, por exemplo, o
carcereiro que exige vantagem dos presos comete o crime. Porém, se este mesmo carcereiro exige
vantagem dos presos para arquivar o inquérito policial dos mesmos, não incorre no crime de concussão,
haja vista não possuir o mesmo competência para tal. Daí, o crime cometido será o de extorsão comum (art
158 CP) Da mesma forma, o Policial que exige dinheiro da vítima para não prendê-la comete o crime de
concussão. Porém, se este mesmo policial utiliza de violência contra a pessoa para obtenção da vantagem,
comete ele o crime de roubo (art. 157 CP).
A exigência pode ser DIRETA (feita pessoalmente pelo próprio funcionário) ou INDIRETA
(valendo-se o funcionário de terceira pessoa).
Pode ainda ser EXPLÍCITA (funcionário exige abertamente o pagamento da vantagem indevida) ou
IMPLÍCITA (o funcionário não exige abertamente, mas dá a entender ao particular que ele tem que pagar
a vantagem indevida).
Por fim, a exigência da vantagem indevida em razão da função pode se dar ainda que fora da função
ou antes de assumi-la, mas sempre em razão dela. (ocorre mesmo que o funcionário esteja licenciado, de
férias, não esteja mais na função ou, nomeado, ainda não tenha assumido efetivamente a função).

OBJETO MATERIAL
É a vantagem indevida. Não só a de cunho necessariamente patrimonial, mas de qualquer natureza.

SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO


SUJEITO ATIVO – Trata-se de crime próprio. Somente o funcionário público (definido no art. 327,
caput, CP) e as pessoas a ele equiparadas legalmente (art. 327, 1° e 2°, CP) podem praticar o delito, ainda
que esteja de licença, férias ou, embora nomeado, não tenha ainda tomado posse.

SUJEITO PASSIVO – o sujeito passivo será sempre o Estado e, secundariamente, o particular.

CONSUMAÇÃO
Trata-se de delito formal (de consumação antecipada). Ocorre com a mera exigência da vantagem
indevida, independentemente de sua obtenção.

TENTATIVA
É possível, nas hipóteses em que o crime é plurissubsistente (carta contendo a exigência da
vantagem). Já nos casos de crime unissubsistente, não é possível (exigência oral da vantagem indevida).
 Crime unissubsistente: a conduta exterioriza-se com um só ato executório, consumando-se:
(exemplo: crimes cometidos verbalmente, tais como injúria, desacato, etc);
 Crime plurissubsistente: a conduta exterioriza-se em dois ou mais atos executórios (exemplo:
crimes cometidos por escrito, como a injúria e outros, como o homicídio, lesão corporal etc.);

CORRUPÇÃO PASSIVA – ARTIGO 317 DO CÓDIGO PENAL


Corrupção passiva
Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da
função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal
vantagem: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.

§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em conseqüência da vantagem ou promessa, o


funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional.

§ 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever
funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

GENERALIDADES
É uma forma de “comercialização” da função pública ou, como diz o Professor Damásio de Jesus “é
uma “mercancia” dos atos de ofício que devem ser realizados pelo funcionário”. Daí a tutela da
moralidade administrativa, procurando-se impedir que os funcionários públicos passem no desempenho
da função, a receber vantagens indevidas para praticarem ou deixarem de praticar atos de ofício.

CORRUPÇÃO ATIVA E PASSIVA – a corrupção, em nossa legislação, não é crime necessariamente


bilateral, pois o legislador optou por prever um tipo penal para o corruptor e outro para o corrompido, ou
seja, uma pode ocorrer sem a outra. Assim, o oferecimento de vantagem indevida pelo particular
configura, por si só, o delito de corrupção ativa (art. 333 CP), independentemente da aceitação pelo
funcionário público. Da mesma forma, se este solicita vantagem indevida ao particular, tal ato somente já
configura o delito de corrupção passiva.

CORRUPÇÃO PRÓPRIA E IMPRÓPRIA – Na CORRUPÇÃO PRÓPRIA, o ato a ser realizado pelo


funcionário público em troca da vantagem solicitada ou recebida é ilícito (retirar documentos de processo
ou inquérito, deixar de tomar ato de ofício, etc). Já na CORRUPÇÃO IMPRÓPRIA, o referido ato é lícito
(Oficial de justiça que cobra de advogado para dar prioridade ao cumprimento de mandado judicial
expedido em processo no qual o mesmo atua).

ELEMENTOS DO TIPO
Trata-se de crime de ação múltipla, sendo possíveis três condutas:

a) SOLICITAR – pedir, explícita ou implicitamente, a vantagem indevida. É o próprio funcionário


público que toma a iniciativa de requerer a vantagem;

b) RECEBER – aceitar, entrar na posse da vantagem indevida. Aqui, a iniciativa é do corruptor,


contando este com a aceitação da vantagem indevida por parte do funcionário público e;

c) ACEITAR PROMESSA DE RECEBER – o funcionário público concorda com o recebimento da


vantagem, anuindo com futuro recebimento. Nesta hipótese, também há corrupção por parte do particular
que faz a promessa, contando o mesmo com a aceitação por parte do funcionário público.

OBJETO MATERIAL
É a vantagem indevida. Não só a de cunho necessariamente patrimonial, mas de qualquer natureza.

SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO


SUJEITO ATIVO - O funcionário público (definido no art. 327, caput, CP) e as pessoas a ele
equiparadas legalmente (art. 327, 1° e 2°, CP).
REGRAS ESPECIAIS NO CASO DE SUJEITO ATIVO:
a) Fiscal de rendas – Se o agente for fiscal de rendas, praticará crime contra a ordem tributária,
previsto no artigo 3°, II, da lei 8.137/90:

Seção II - Dos crimes praticados por funcionários públicos


Art. 3° Constitui crime funcional contra a ordem tributária, além dos previstos no Decreto-Lei n°
2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal (Título XI, Capítulo I):
II - exigir, solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da
função ou antes de iniciar seu exercício, mas em razão dela, vantagem indevida; ou aceitar promessa de tal
vantagem, para deixar de lançar ou cobrar tributo ou contribuição social, ou cobrá-los parcialmente: Pena -
reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.

b) Testemunha, perito, tradutor ou intérprete judicial (oficiais ou não) – o falso testemunho ou


falsa perícia realizada mediante suborno, em processo judicial, policial ou administrativo, ou em juízo
arbitral, configura o delito do art. 342, §1°, CP. O indivíduo que deu, ofereceu ou prometeu o dinheiro ou
outra vantagem àquelas pessoas responde pelo crime previsto no art. 343 CP.

Falso testemunho ou falsa perícia


Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador,
tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

§ 1° As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se


cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em
que for parte entidade da administração pública direta ou indireta.

Art. 343. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra vantagem a testemunha, perito,
contador, tradutor ou intérprete, para fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade em depoimento,
perícia, cálculos, tradução ou interpretação: Pena - reclusão, de três a quatro anos, e multa

CONSUMAÇÃO
É delito formal. Consuma-se com os atos de “solicitar”, “receber” ou “aceitar a promessa de recebimento”
por parte do particular.
Não se exige a realização do ato ou a abstenção da realização do mesmo por parte do funcionário
público. Se isto acontecer, é mero exaurimento do crime, inclusive ensejando em aumento de pena previsto
no parágrafo primeiro do artigo.

§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em conseqüência da vantagem ou promessa, o


funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional.

TENTATIVA
Apesar de difícil caracterização, pode ocorrer, quando a solicitação é feita através de carta, sendo a
mesma interceptada antes de chegar ao destino.

FORMAS
SIMPLES – Prevista no caput;
PRIVILEGIADA – Prevista no §2° do artigo:

§ 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever
funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

Trata-se de conduta de menor gravidade, na medida em que o funcionário pratica ou retarda o ato
de ofício não em virtude do recebimento de vantagem indevida, mas cedendo a pedido ou influência de
outrem.

CAUSAS DE AUMENTO DE PENA


São as hipóteses do Parágrafo 1° do artigo (visto acima), e do parágrafo 2° do artigo 327 do CP.
----------------------------------------------------------------------------
PREVARICAÇÃO
Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra
disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: Pena - detenção, de três meses a
um ano, e multa.

Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de vedar ao
preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou
com o ambiente externo: Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

CONCEITOOBJETO JURÍDICO
O crime de prevaricação pune os comportamentos de funcionários desidiosos, que ignoram cumprir
seu dever, preferindo satisfazer interesso próprio em detrimento da coletividade. É a infidelidade ao dever
de ofício, à função exercida.

OBJETO JURÍDICO
O objeto jurídico é o interesse da administração pública, que não se compadece com o proceder do
funcionário que não cumpre com seus deveres com o objetivo de satisfazer interesses pessoais,
prejudicando o desenvolvimento normal e regular daquela atividade. Aqui não há venda do ato ou
conduta, mas sim impedir procedimento que molesta ou ofende aquele bem jurídico.

ELEMENTOS DO TIPO
As ações típicas são:
a. RETARDAR – atrasar, adiar, deixar de praticar ato de ofício dentro do prazo estabelecido
(conduta omissiva). Ainda que o ato possa ser praticado após expiração do prazo legal, sem que
o retardamento acarrete sua invalidade, haverá a configuração da prevaricação;

b. DEIXAR DE PRATICAR – Também se trata de uma conduta omissiva. Porém, nesta há o ânimo
definitivo de não praticar o ato de ofício;

c. PRATICAR (contra disposição expressa de lei) – aqui a conduta é comissiva. O agente


efetivamente executa o ato, só que de forma contrária à lei.

OBJETO MATERIAL
É o ato de ofício. Só comete o crime o funcionário que pratica qualquer das condutas acima em
detrimento de ato inserido em seu âmbito de atribuição ou competência funcional. Não pratica o ato, por
exemplo, o funcionário que deixa de expedir determinado documento judicialmente requisitado por não
ter competência para tanto.

SUJEITO ATIVO
É crime próprio. Somente o funcionário público pode praticá-lo. Admite-se a participação de
terceiro.

SUJEITO PASSIVO
Sujeito passivo principal é o Estado. O particular, secundariamente, também pode ser vítima do
delito em tela, caso venha a sofrer algum dano em face de conduta criminosa do funcionário público.

ELEMENTO SUBJETIVO
É o dolo, a vontade livre e consciente de retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício,
ou praticá-lo contra disposição expressa de lei. É imprescindível que o agente tenha a consciência de que a
omissão é indevida ou de que o ato praticado é contrário à lei. Ausente essa consciência, o fato é atípico.
Além disso, exige-se a vontade de satisfação de interesse (obtenção de vantagem) ou sentimento
pessoal.
Quanto ao interesse, que pode ser patrimonial ou moral, enseja algumas considerações, caso seja
patrimonial. Assim, caso seja de natureza material, outro será o delito cometido:
a. se ato praticado, retardado ou omitido tiver sido objeto de acordo anterior entre o funcionário e
o particular, visando aquele indevida vantagem, o crime passará a ser o de corrupção passiva;
b. se houver, anteriormente à prática ou omissão do ato, a exigência de vantagem indevida pelo
funcionário público, haverá o crime de concussão.
Já com relação ao sentimento pessoal, a esfera penal exige do funcionário, para a caracterização do
crime, expressa satisfação pessoal, como no caso de ódio, despeito, inveja, amizade ou amor. A omissão ou
retardamento do ato por mera indolência, desleixo ou negligência do funcionário, sem o objetivo de
satisfação de interesse pessoal, caracteriza improbidade administrativa, prevista na lei 8.429/92:

LEI 8.429/92 – LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA


Art. 11 – “constitui ato de improbidade administrativa que atneta contra os princípios da
administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade,
legalidade e lealdade às instituições e, notadamente:
I - ...;
II – retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício.

É pacífico na jurisprudência que o Ministério Público, na denúncia, deve descrever em que consiste
o interesse ou sentimento pessoal do funcionário público, não bastando a mera reprodução do texto legal,
sem qualquer indicação de elementos que especifiquem o sentimento ou interesse que o animou.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
CONSUMAÇÃO – com o retardamento, a omissão ou a prática do ato, sendo dispensável a satisfação
interesse visado pelo servidor.

TENTATIVA – Possível apenas na modalidade comissiva. (retardar ou deixar de praticar não


admitem)

=============================== F I M ===============================

CONTAVENÇÕES E LEIS PENAIS EXTRAVAGANTES


CRIMES HEDIONDOS
Lei nº 8.072/90 - Leis Extravagantes

Os crimes que são considerados hediondo estão previstos no art. 1º da Lei nº 8.072/90 e no art. 5º, III
da CF
Terrorismo, Tráfico e Tortura são considerados crimes hediondos
Obs.: Art. 60, § 4º da CF - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir
(cláusula pétreas):
I - a forma federativa de Estado;
II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
III - a separação dos Poderes;
IV - os direitos e garantias individuais (art. 5º da CF).

São 3 os critérios que foram definidos pelo legislador para se saber o que seria considerado crime
hediondo em nosso ordenamento jurídico:
1º critério legal - só seria considerado hediondo o que estivesse definido em lei;
2º critério judicial - o crime hediondo seria definido da análise do juiz no caso concreto;
3º critério misto - é uma combinação entre o critério legal e judicial, isto é, uma parte dos crimes
hediondos estaria definido em lei e a outra seria feita pelo magistrado na análise do caso concreto.
O Brasil adotou o critério legal, portanto só seria considerado hediondo o que estivesse definido em
lei.

Lei nº 8.072/90 - Art. 1º, I - São crimes hediondos em nosso ordenamento jurídico: o homicídio
simples quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só
agente.
Homicídio qualificado: art. 121, § 2º -
Grupo necessita de 4 pessoas - art. 288
Crime qualificado e privilegiado é sempre de natureza subjetiva, privilégio é incompatível com a
hediondez. Os crimes hediondos são de natureza objetiva. - Art. 121, III e IV
O homicídio qualificado privilegiado só é possível quando as qualificadoras forem de natureza
objetiva (art. 121, III e IV - natureza objetiva) - meios e modos de execução do crime.

Flagrante próprio ou verdadeiro - quando o agente está cometendo a infração penal ou quando
acaba de cometê-la.

Flagrante impróprio ou imperfeito - quando o agente é perseguido, logo após, pela autoridade,
pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração.

Flagrante presumido ou ficto - quando o agente é encontrado, logo depois, com instrumentos,
armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração.

Flagrante protelado ou retardado - só se aplica aos crimes praticados por organização criminosa, ou
seja, em princípio, quando há um crime de bando ou quadrilha, que é um crime permanente. É a
ocorrência da extensão do momento do flagrante para outro “mais eficaz do ponto de vista da informação
de provas e fornecimento de informações”. O que quer dizer que: "a polícia possui a possibilidade de
retardar a realização da prisão em flagrante, para obter maiores dados e informações a respeito do
funcionamento, componentes e atuação de uma organização criminosa"

Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não,
qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei de Drogas (nº8.072/90): pena -
reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.200 (mil e duzentos) dias-multa.

Art. 288 do CP - Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometer
crimes: pena - reclusão, de um a três anos.
Parágrafo único - A pena aplica-se em dobro, se a quadrilha ou bando é armado.

Irretroatividade da Lei de crimes hediondos:


Prevendo conseqüências penais e processuais mais severas, a lei dos crimes hediondos não retroage
para fins de alcançar fatos cometidos antes da sua vigência (julho de 1990) - mas há exceções - Súmula do
STF nº 711. A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua
vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.

1ºObs.: o homicídio cometido contra Presidente da República da República, do Senado, da Câmara


dos Deputados ou do STF não será considerado hediondo, pois a eles se aplicam a lei de segurança
nacional - Lei nº 7.170/83
2ºObs.: Os homicídios previstos no CPMilitar, não estão no rol do art. 1º da Lei nº 8.072/90.

O rol de crimes hediondos é taxativa.


Os homicídios tornaram-se hediondos a partir da vigência da Lei nº 8.930/94
Art. 14 do CP - Diz-se o crime: I – consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua
definição legal;

Art. 157, § 3º - 2ª Parte - trata de latrocínio - Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de
reclusão, de sete a quinze anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem
prejuízo da multa.

Extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2º CP) - Aplica-se à extorsão praticada mediante
violência o disposto no § 3º do artigo anterior.

Extorsão mediante seqüestro, inclusive na forma qualificada (art. 159, caput e §§ 1º, 2º e 3º do CP)

Estupro ainda que cometido com violência presumida e atentado violento ao pudor - são
considerados hediondos (crime contra a liberdade sexual) - decisões dos Tribunal superiores.
Estupro (art. 213 e sua combinação com o art. 223, caput e seu § ú do CP). Atentado violento ao
pudor (art. 214 e sua combinação com o art. 223, caput, § ú do CP).
Obs.: o STF e STJ já firmaram o entendimento que tanto o estupro quanto o atentado violento ao
pudor com violência presumida (art. 224 CP) são considerados crimes hediondos.

CRIMES HEDIONDOS
Segundo a Lei nº 8.072/90, art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados
no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados:
I. homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que
cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º;
II. latrocínio (art. 157, § 3o, in fine);
III. extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2o);
IV. extorsão mediante seqüestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ lo, 2o e 3o);
V. estupro (art. 213 e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único);
VI. atentado violento ao pudor (art. 214 e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único);
VII. epidemia com resultado morte (art. 267, § 1o);
VII.B.falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou
medicinais (art. 273, caput e § 1o, § 1o-A e § 1o-B, com a redação dada pela Lei no 9.677, de 2 de julho de
1998).
Parágrafo único. Considera-se também hediondo o crime de genocídio previsto nos arts. 1o, 2o e 3o
da Lei no 2.889, de 1o de outubro de 1956, tentado ou consumado.

EPIDEMIA COM RESULTADO MORTE - art. 267 do CP - Causar epidemia, mediante a


propagação de germes patogênicos: Pena - reclusão, de dez a quinze anos.
§ 1º - Se do fato resulta morte, a pena é aplicada em dobro (crime hediondo).

Art. 273 do CP - Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins


terapêuticos ou medicinais -
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, e multa.
• § 1º - Nas mesmas penas incorre quem importa, vende, expõe à venda, tem em depósito para
vender ou, de qualquer forma, distribui ou entrega a consumo o produto falsificado,
corrompido, adulterado ou alterado.
• § 1º-A - Incluem-se entre os produtos a que se refere este artigo os medicamentos, as matérias-
primas, os insumos farmacêuticos, os cosméticos, os saneantes e os de uso em diagnóstico -
(responde pela pena do caput).
• § 1º-B - Está sujeito às penas deste artigo quem pratica as ações previstas no § 1º em relação a
produtos em qualquer das seguintes condições:
I - sem registro, quando exigível, no órgão de vigilância sanitária competente;
II - em desacordo com a fórmula constante do registro previsto no inciso anterior;
III - sem as características de identidade e qualidade admitidas para a sua comercialização;
IV - com redução de seu valor terapêutico ou de sua atividade;
V - de procedência ignorada;
VI - adquiridos de estabelecimento sem licença da autoridade sanitária competente.

Obs.: Considerado crime hediondo - incluído pela Lei nº 9.695/98

GENOCÍDIO - também considerado hediondo - tratado pela 2.889/96 - Arts. 1º; 2º e 3º - A


competência é das Varas criminais da Justiça Federal

CRIMES ASSEMELHADOS AOS HEDIONDOS


CRIMES DE TORTURA - Lei nº 9.455/97
Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o
terrorismo são insuscetíveis de:
I - anistia, graça e indulto;
II - fiança.
§ 1o A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime fechado.
§ 2o A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes previstos neste artigo, dar-se-á
após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se
reincidente - (cometidos a partir de março de 2007)
Quem cometeu o crime em 2006 era apenado em progressão de regime que se dava após o
cumprimento de 1/6 da pena, se o apenado fosse primário

A TORTURA está definida na Lei nº 9.455/97 - a Lei disciplinou a tortura, previu punições e
revogou expressamente o art. 233 do ECA - Estatuto da criança e do Adolescente - definiu a TORTURA
como crime comum, aja vista não ser exigido qualquer qualificação especial do sujeito ativo.

Lei nº 9.455/97 - art. 1º - Constitui crime de tortura: I - constranger alguém com emprego de
violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental. Ex.: roubo a mão armada; tortura em
cadeia pelos policiais.

O § 2º desta Lei descreve duas condutas omissivas não é considerado crime de tortura, logo não é
crime assemelhado ao hediondo - e responde como partícipe e omisso - incorre na pena de detenção de um
a quatro anos (é uma exceção)

Teoria Monista do CP - todos os participantes, autores ou partícipes, de uma infração penal


responderão pelo mesmo crime - mas há exceção no Tráfico de drogas - Lei nº 11.343/2006 - adotando a
teoria Pluralista, donde haverá tantas infrações quantos forem o número de autores e partícipes.
Assim, o agente que pratique atos de auxílio material ao cometimento dos crimes do art. 33 e 34 da
Lei de Drogas, quis o legislador que o mesmo respondesse de forma autônoma, com uma sanção mais
rigorosa do que o traficante e não como mero partícipe.
O Traficante responde pelo art. 33 e o Financiador responde pelo art. 36.

TRÁFICO DE DROGAS - Lei nº 11.343/2006 - são considerados crimes assemelhados ao hediondos


- os art. 33, caput e § 1º; arts. 34, 36 e 37 - que constituem tráfico de drogas.

Lei nº 6.368, no art. 14 considerava a associação como crime de tráfico de drogas, mas atualmente
isso foi revogado pela Lei nº 11.343/2006. O delito de associação previsto no art. 35 da Lei nº 11.343/2006
não é considerado tráfico de drogas.
Iter criminis: cogitação; preparação; execução; e comunicação.
O crime só começa a ser punido a partir da execução. O simples fato de pessoas se preparem para o
crime
Art. 288 do CP - Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometer
crimes: Pena - reclusão, de um a três anos.
Parágrafo único - A pena aplica-se em dobro, se a quadrilha ou bando é armado.

Art. 59 da Lei nº 11.343/2006 - Nos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 a 37 desta Lei, o
réu não poderá apelar sem recolher-se à prisão, salvo se for primário e de bons antecedentes, assim
reconhecido na sentença condenatória.

TERRORISMO - não há definição de terrorismo no ordenamento jurídico - o doutrinador Victor


Rios fala que art. 20 da Segurança Nacional. Compete a todos os órgãos Federal e Justiça Federal julgar o
crime de terrorismo.

Há polêmica a cerca do tipo penal que descreva o crime de terrorismo no ordenamento jurídico
brasileiro
1ª posição - para o profº Victor Rios Gonçalves entende-se que o parâmetro é o art. 20 da Lei nº
7.170/83 - Segurança Nacional;
2ª posição - profº Alberto Silva Franco sustenta que não há tipo penal definindo o crime de
terrorismo, portanto o comportamento é considerado atípico em nosso ordenamento jurídico.

Art. 20 da Lei nº 7.170/83 - Segurança Nacional- Devastar, saquear, extorquir, roubar, seqüestrar,
manter em cárcere privado, incendiar, depredar, provocar explosão, praticar atentado pessoal ou atos de
terrorismo, por inconformismo político ou para obtenção de fundos destinados à manutenção de
organizações políticas clandestinas ou subversivas.
Pena: reclusão, de 3 a 10 anos.
Parágrafo único - Se do fato resulta lesão corporal grave, a pena aumenta-se até o dobro; se resulta
morte, aumenta-se até o triplo.

CONSEQUÊNCIA DE HEDIONDEZ
Art. 2º da Lei nº 8.072/90 - Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: I - anistia, graça (coletivo) e indulto
(individual); II - fiança (não cabe fiança).
Art. 312 do CPP - A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da
ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal,
quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria.
O magistrado deve fundamentar sua decisão quando determinar que o réu responda preso.
Doutrina: O réu respondeu em liberdade "pode" apelar em liberdade (provisória), desde que tenha
bons antecedentes, seja réu primário, tenha residência fixa. Mas se o réu respondeu preso, pode apelar
preso.

PROIBIÇÃO DE ANISTIA, GRAÇA E INDULTO


A discussão sobre a proibição, exclusivamente, quanto ao indulto - tem preponderado o
entendimento sobre a constitucionalidade da proibição, sob o argumento que o texto constitucional (art. 5º,
XLIII) ao mencionar a graça o faz amplamente de forma a permitir a inclusão do indulto. O indulto e a
graça são forma de clemência.

PROIBIÇÃO DE FIANÇA E LIBERDADE PROVISÓRIA


Sobre a fiança, nos crimes hediondos, não há nenhuma proibição.
Quanto a liberdade provisória - para grande parte da doutrina, só não será possível quando o agente
se enquadrar em qualquer das hipóteses do art. 312 do CPP
Cabe liberdade provisória desde que não preencha os requisitos do art. 312 do CPP.

REGIME DO CUMPRIMENTO DA PENA


§ 1o A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime fechado.

Era integralmente fechado. Quando veio a Lei nº 9.455/97 - Lei de Tortura - abriu possibilidade de
progressão
Progressão com 1/6 da pena com Recurso Ordinário - por bons antecedentes e primário, mas deve
preencher vários requisitos para obter esse benefício.

Art. 2º, § 2º da Lei nº 8.072/90 - A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes
previstos neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for
primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente.
A Lei nº 11. 464/2007 - que mudou o crime hediondos - em consonância com a decisão do STF
alterou o § 1º do art. 2º da Lei dos crimes hediondos, para abolir o cumprimento da pena no regime
integralmente fechado. Sendo cabível, hoje, a progressão aos condenados do crime hediondos ou
assemelhados após o cumprimento de 2/5 da pena se for primário e 3/5 se for reincidente.
São 2/5 se não reincidente e 3/5 para os reincidentes.

APELAÇÃO EM LIBERDADE
Art. 2º, § 3º da Lei nº 8.072/90 - Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá
fundamentadamente se o réu poderá apelar em liberdade.
Embora a lei fale em condenação de crime hediondo ou assemelhado pode o juiz conceder ao réu o
direito de apelar em liberdade, desde que ausente a necessidade da prisão.
O art. 312 CPP - são hipótese de necessidade da prisão.
A doutrina e a jurisprudência entende que ao juiz será vedada a concessão do direito de apelar em
liberdade se o réu estava preso durante a instrução do processo criminal.
O art. 59 da Lei 11. 343/ 2006 - proíbe expressamente, ao réu, o direito de apelar em liberdade, salvo
se o réu for primário e de bons antecedentes, assim reconhecido na sentença condenatória.

PRISÃO TEMPORÁRIA NA LEI DOS CRIMES HEDIONDOS


O prazo é de no máximo 30 dias, podendo ser prorrogado por igual período, no caso de extrema e
comprovada necessidade.
No caso de réu preso prevalece a regra do art. 10 do CPP?
Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em
flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se
executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela.

Embora aja controvérsias, predomina o entendimento que o delegado de polícia poderá manter o
inquérito consigo no prazo da prisão temporária.

Art. 14 da Lei nº 6.368/76 - Associarem-se 2 (duas) ou mais pessoas para o fim de praticar,
reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos Arts. 12 ou 13 desta Lei:
Pena - Reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 50 (cinqüenta) a 360 (trezentos e
sessenta) dias-multa.
Artigo bastante discutido

O art. 8º da Lei nº 8.072/90 dispõe que será de 3 a 6 anos a penas de reclusão prevista para o art. 288
do CP quando se tratar de crimes hediondos ou assemelhados.
Sabemos que o tráfico de entorpecentes é crime assemelhado, sendo que ao mesmo aplica-se o art.
35 da Lei 11. 343/2006 cuja pena é de 3 a 10 anos e 700 a 1.200 dias multas.

CAUSA DE AUMENTO DE PENA


Quanto a questão de incidência do art. 9º no estupro e no atentado violento ao pudor, ambos
praticados com violência presumida há duas orientações:
1ª corrente - sustenta a ocorrência de bis in idem e, assim, descarta a aplicação do art. 9º.
2ª corrente - admite a incidência do art. 9º, mesmo que se trate de violência presumida

DELAÇÃO PREMIADA
Subdivide-se em:
1. Delação Eficaz - trata-se de uma causa de diminuição de pena, especifica para o crime de extorsão
mediante seqüestro, praticado em concurso de pessoas.
O art. 7º da Lei nº 8.072/90 introduziu o § 4º ao art. 159 do CP - "Se o crime é cometido por quadrilha
ou bando, o co-autor que denunciá-lo à autoridade, facilitando a libertação do seqüestrado, terá sua pena
reduzida de 1 a 2/3".

Pressuposto da delação eficaz - atenuante genérico


a). tratar -sede um crime de extorsão mediante seqüestro (art. 159 do CP);
b). que o crime seja cometido em concurso de pessoas
Requisitos:
a). a apelação deve ser feita a autoridade policial, ou seja, delegado de polícia, juiz de direito,
promotor de justiça.
b). deve ser eficaz, isto é, proporcionar a libertação do seqüestrado.

Obs.: O benefício da delação eficaz é de circunstancia de caráter pessoal (subjetivo) que não se
comunica aos demais agentes (somente ao delator). A redução será feita observando-se a maior
contribuição ou a menor contribuição para a libertação do seqüestrado (1 a 2/3).

2. Traição Benéfica - trata-se de outra causa de diminuição definida no § único, art. 8º da Lei nº
8.072/90.
A causa, como se percebe, é diversa daquela prevista no art. 7º da Lei nº 8.072/90.

Art. 8º Será de 3 a 6 anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do CP, quando se tratar de crimes
hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo.
Parágrafo único. O participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou quadrilha,
possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de 1 a 2/3.
O dispositivo que trata da traição benéfica só será reconhecido quando as informações prestadas
pelo réu colaborador, propiciarem o desmantelamento da quadrilha ou bando.

Pressuposto da Traição Benéfica:


a). Tratar-se de crime de quadrilha ou bando (art. 288 do CP)
b). Ter essa quadrilha ou bando, por finalidade, a prática de crimes hediondos ou assemelhados.

Requisitos:
Não se pode esquecer que se faz necessária a delação (comunicação) a autoridade: delegado de
polícia, juiz de direito, promotor de justiça.
A delação precisa ser eficaz, ou seja, deve proporcionar o efetivo desmantelamento da quadrilha ou
bando.
Tendo o benefício de pena reduzida de 1 a 2/3 - conforme o art. 41 da Lei nº 11. 343/2006 - lei de
drogas.
A Lei nº 11. 343/2006 - lei de droga - tratou da delação premiada, genericamente, no art. 41 não
exigindo o desmantelamento da associação para o tráfico de drogas.
----------------------------------------------------------------------------

LEI ANTI DROGAS


Lei nº 11. 343/2006

A nova Lei anti drogas busca fazer uma política pública para recuperar, re-socializar o dependente
químico - SISNAD
Declaração Universal dos Direitos Humanos - Art. 4º - “Ninguém será mantido em escravidão ou
servidão; a escravidão e o tráfico de escravos estão proibidos em todas as suas formas”.
A Lei nº 11. 343/2006 entrou em vigor em 08.10. 2006, após 45 dias da sua publicação. Em seu art. 4º
institui o sistema nacional (princípios) de política pública sobre drogas;
Já nos seus arts. 68 e 69 tratou da cooperação da sociedade na prevenção ao tráfico de drogas.

O art. 28 é muito criticado, não traz penas alternativas - "quem adquirir, guardar, tiver em depósito,
transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas:
I - advertência sobre os efeitos das drogas;
II - prestação de serviços à comunidade;
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

§ 2º Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz atenderá à natureza e à


quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, às
circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente.

Natureza jurídica
Embora uma parte da doutrina entenda que o art. 28 trouxe a descriminalização para o usuário de
drogas, uma vez que o art. 28 não o pune mais com penas privativas da liberdade, mas sim, com penas
alternativas
O profº Damázio Evangelista de Jesus e Antonio Vaggione entendem que não houve
descriminalização da conduta ligada ao consumo pessoal, já que o legislador inseriu o art. 28, no capítulo II
denominado "dos crimes e das penas" - revelando claramente o seu posicionamento no que diz respeito a
natureza jurídica da figura típica.

A competência para a imposição das penas do art. 28 é dos juizados especiais criminais.

Objetividade jurídica - o bem penal protegido é a saúde pública.


Sujeito ativo do crime - trata-se de crime comum - praticado por qualquer pessoa
Sujeito passivo - é a coletividade
Sujeito passivo formal do crime - é o Estado, porque tem que garantir a segurança.

Ações Nucleares
1ª ação nuclear: Adquirir: significa adquirir, obter a posse, , a propriedade da substancia,
normalmente, a título oneroso.
2ª ação nuclear: Guardar: significa manter, reter, conservar em benefício próprio.
3ª ação nuclear: Ter em Depósito: significa manter, reter, conservar. A ação é pratica em nome de
terceiro.
4ª ação nuclear - transportar: deslocamento da droga, utilizando-se normalmente, de meio de
transporte.
5ª ação nuclear: trazer consigo: remover de um local para outro junto dele ou dentro dele.

Lei nº 11. 343/2006, art. 28, § 2º - Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz
atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se
desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente.

Circunstâncias a serem observadas para se admitir ou não a finalidade consistente no consumo


pessoal:
1º natureza e quantidade da droga apreendida
2ª local e condições da ação
3ª circunstâncias sociais e pessoais do agente, bem como a sua conduta e seus antecedentes

Qualquer outro objetivo afasta a tipificação do art. 28 para outra figura penal prevista na Lei 11.
343/2006

Classificação doutrinária:
1. É crime de perigo abstrato, expondo número indeterminado de sujeitos passivos (coletividade)
2. É crime formal
3. É crime de ação múltiplo ou de conteúdo variado

Consumação do crime: Com a simples atividade

Objeto material do art. 28: droga


Obs.: o art. 1º da Lei 11. 343/2006 cc com o art. 66 define que substancias ou produto capazes de
causarem dependência química estão relacionados na Portaria nº 344/98 da ANFISA

Conforme o ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente, art. 243. Vender, fornecer ainda que
gratuitamente, ministrar ou entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente, sem justa causa,
produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica, ainda que por utilização
indevida: Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o fato não constitui crime mais grave.
Por exemplo: cola de sapateiro.
Este produto químico não corresponde as drogas
Obs.: o art. 243 do ECA tem como objeto material produtos que possam causar dependência física
ou psíquica. Esses são outros produtos que não são considerados para os fins da Lei 11. 343/2006. é o que
ocorre com a cola de sapateiro, que contem um solvente, o tolueno, responsável pelos efeitos físicos e
psíquicos proveniente do produto. Tal substancia não é considerada droga perante a Lei 11. 343/2006,
razão pela qual se aplica o art. 243 do ECA.

As penas previstas no art. 28 , II e III serão aplicadas pelo prazo máximo de 5 meses. Em caso de
reincidência serão aplicadas pelo prazo máximo de 10 meses.
A pretensão de serviço a comunidade será cumprida em entidades educacionais, assistenciais, em
programas comunitários, em hospitais, estabelecimentos congêneres, com ou sem fins lucrativos.

Para garantias do cumprimento das medidas referidas neste artigo (28), a que injustificadamente se
recuse o agente a cumprir, poderá o juiz submetê-lo sucessivamente: a admoestação verbal (advertido) e
multa.

Art. 28, § 1º Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou
colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar
dependência física ou psíquica.

O § 1º do art. 28 equipara a conduta daquele que semeia, cultiva ou colhe plantas destinada a
consumo pessoal à figura típica prevista no caput. Anteriormente havia lacuna quanto a tipificação destas
condutas, sendo que parte da Doutrina e Jurisprudência entendiam que tal conduta era atípica, sendo que
outros tipificavam no art. 12 da Lei nº 6.368/76 (medidas de prevenção e repressão ao tráfico ilícito e uso
indevido de substâncias entorpecentes)
Procedimento processual para o crime de posse de drogas para consumo pessoal.

O art. 48, § 1º da Lei 11. 343/2006 determina que o procedimento para o art. 28, salvo se houver
concurso com os artigos 33 a 37, será processado e julgado na forma 9099/95, são considerados de menor
potencial ofensivo.

Ao usuário de drogas não se imporá prisão em fragrante, devendo mesmo se imediatamente


encaminhado ao juízo competente, ou na falta deste assumir o compromisso de ali comparecer.

LER: Art. 28 da Lei 11. 343/2006:


§ 1º O agente de qualquer das condutas previstas no art. 28 desta Lei, salvo se houver concurso com
os crimes previstos nos arts. 33 a 37 desta Lei, será processado e julgado na forma dos arts. 60 e seguintes
da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, que dispõe sobre os Juizados Especiais Criminais.
§ 2º Tratando-se da conduta prevista no art. 28 desta Lei, não se imporá prisão em flagrante,
devendo o autor do fato ser imediatamente encaminhado ao juízo competente ou, na falta deste, assumir o
compromisso de a ele comparecer, lavrando-se termo circunstanciado e providenciando-se as requisições
dos exames e perícias necessários.
§ 3º Se ausente a autoridade judicial, as providências previstas no § 2o deste artigo serão tomadas
de imediato pela autoridade policial, no local em que se encontrar, vedada a detenção do agente.
§ 4º Concluídos os procedimentos de que trata o § 2o deste artigo, o agente será submetido a exame
de corpo de delito, se o requerer ou se a autoridade de polícia judiciária entender conveniente, e em
seguida liberado.
§ 5º Para os fins do disposto no art. 76 da Lei no 9.099, de 1995, que dispõe sobre os Juizados
Especiais Criminais, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena prevista no art. 28
desta Lei, a ser especificada na proposta.

Art. 33 da Lei 11. 343/2006 - Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir,
vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever,
ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e
pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.

QUEM TRAFICA A DROGA - O Traficante responde pelo art. 33, com pena de reclusão de 5 (cinco)
a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.

QUEM AUXILIA MATERIAL - O Financiador responde pelo art. 36, com pena de reclusão, de 8
(oito) a 20 (vinte) anos, e pagamento de 1.500 (mil e quinhentos) a 4.000 (quatro mil) dias-multa.

O art. 33 é norma penal incriminadora que veio em malefício do réu.

O art. 33 da Lei de drogas contem 18 ações nucleares, sendo equiparado aos crimes hediondos: TTT:
Terrorismo, Tráfico, e Tortura. Sendo que contem como ações nucleares importar e exportar, ambas as
condutas geram crimes de competência a Justiça Federal, pois se trata de Tráfico internacional de drogas.
Não se aplica ao art. 334 do CP (crime de contrabando e descaminho) em razão do princípio da
especialidade.
Incide a causa de aumento, prevista no inciso I do art. 40 (transnacionalidade do delito)

Ação nuclear
1. Importar - significa trazer drogas para dentro do Brasil.
2. Exportar - significa levar droga para fora do Brasil.
3. Remeter - significa enviar a droga a algum lugar.
4. Preparar - significa obter algo por meio da composição de elementos.
5. Produzir - significa dar origem a algo antes inexistente.
6. Fabricar - significa produzir em maior escala, valendo-se de equipamentos e máquinas próprias.
7. Adquirir - significa comprar, obter mediante certo preço.
8. Vender - significa alienar por determinado preço.
9. Expor a venda - significa apresentar, colocar a mostra para alienação.
10. Oferecer - significa ofertar como presente.
11. Ter em depósito - significa manter em laboratório ou em armazém.
12. Transportar - significa levar de um lugar para outro.
13. Trazer consigo - significa transportar junto ao corpo.
14. Guardar - significa tomar conta de algo, proteger.
15. Prescrever - significa receitar, indicar
16. Ministrar - aplicar, administrar
17. Entregar ao consumo - significa confiar à alguém para gastar.
18. Fornecer - significa abastecer.

São 18 ações nucleares, cujo objeto é a droga, ou substancia entorpecente que determina
dependência física ou psíquica.

Art. 33 da Lei 11. 343/2006 - Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir,
vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever,
ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e
pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.

Para o crime previsto no art. 33 é indiferente haver ou não o lucro, ou mesmo o intuito de lucro (é
tipo alternativo misto e só responde uma vez pelo 33, independente de cometer algumas ações nucleares
→ crime de ação múltipla - eventualmente concurso de crime )

* Se não preenche os requisitos do art. 59 do CP - na hora de fixar a pena.

É um tipo alternativo misto, ou seja, o agente pode praticar uma ou mais condutas respondendo por
um só delito - ex.: se o agente importar, tiver em depósito e depois vender determinada droga é igual a um
crime de tráfico (art. 33).
Obs.: eventualmente, pode-se acolher o concurso de crime se entre uma determinada conduta e
outra transcorrer um período considerado.

Vender drogas durante dias seguidos no mesmo lugar - Tráfico Continuado - conforme o art. 71 do
CP:
Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da
mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os
subseqüentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se
idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços.
Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave
ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a
personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes,
se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e
do art. 75 deste Código.

Sujeito Ativo: qualquer pessoa: crime comum, com exceção: para grade parte da doutrina, na
modalidade prescrever o crime previsto no art. 33, é próprio, uma vez que exige a qualidade de médico ou
dentista para a sua prática.
Para o Profº Guilherme de Souza Nucci, além do médico ou dentista, outras pessoas, como o
curandeiro podem prescrever.
Art. 284 - Exercer o curandeirismo:
I - prescrevendo, ministrando ou aplicando, habitualmente, qualquer substância;
II - usando gestos, palavras ou qualquer outro meio;
III - fazendo diagnósticos:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Parágrafo único - Se o crime é praticado mediante remuneração, o agente fica também sujeito à
multa.

Sujeito Passivo: a coletividade


Elemento subjetivo do crime: é o dolo, não existindo na forma culposa.

Para o Profº Guilherme de Souza Nucci, deveria haver expresso no art. 33 uma finalidade específica
para o tráfico, consistente na intenção de comercializar drogas.

Objeto material - é a droga

Objeto jurídico - é a saúde pública.

Tentativa - é rara em face das 18 condutas previstas no art. 33. Ex.: a tentativa de adquirir substância
entorpecente é viável, até porque, quem pretende comprar a droga não trás consigo, por circunstância
alheia a sua vontade.

Crime de Perigo Abstrato ou Concreto?


Entende a maioria da doutrina que o crime de tráfico de drogas é crime de perigo abstrato, isto é,
dispensa a prova de risco efetivo, o qual é, absolutamente, presumido por lei, bastando a simples prática
de qualquer um dos comportamentos típicos.
Entretanto, cresce na jurisprudência pátria, em especial no STF, a lição de que os crimes desta
natureza (de perigo abstrato) violam o princípio da lesividade, razão pela qual não foram recepcionados
pela CF. Entendem que são crime de perigo concreto, isto é, dependem de prova de risco causado que
deve ser real e efetivo.
A conduta praticada, em síntese, deve apresentar idoneidade lesiva, ou seja, deve ser capaz de lesar
os bens jurídicos envolvidos.
De qualquer maneira, não se exige a apresentação de uma vítima concreta, porque se trata de um
crime de perigo concreto indeterminado
* Perigo concreto - a pessoa pode estar exposta em local onde outros estão vendendo e consumindo
drogas e as pessoas exposta no local pode ser envolvida se a política aparecer e prender os consumidores,
levando-a também - princípio da lesividade.

FRAGRANTE PREPARADO NO CRIME DE DROGAS


A Súmula nº 145 do STF - Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna
impossível a sua consumação.

É muito comum o policial, visando a prisão de um traficante, passar-se por um consumidor e


provocar neste a negociação, isto é, a venda da droga. A prisão não se dará pela simulação de compra e
venda, mas sim, pelo simples fato do traficante, espontaneamente, trazer consigo a droga.

A Súmula nº 711do STF - A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime
permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.

Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda,
oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo
ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal
ou regulamentar:
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e
quinhentos) dias-multa.
Obs.: Na pena prevista no art. 33 estamos diante de novatio legis in pejus - nova lei para pior,
aplicando somente aos fatos ocorridos durante a sua vigência,sendo vedada em caráter absoluto a sua
retroatividade.

* Art. 33, § 1º Nas mesmas penas incorre quem:


I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem
em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico
destinado à preparação de drogas;

Obs.: Súmula 711 STF - A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime
permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.
Ação nuclear: importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe, oferece, fornece,
tem, transporta, traz ou guarda
Matéria prima - substancia bruta no qual se extrai qualquer produto.
Insumo - elemento que entra no processo de produção de mercadorias ou serviços: máquinas e
equipamentos, trabalho humano, etc.; fator de produção.
Produto químico - substancia química qualquer, pura ou composta utilizada em laboratório voltada
a preparação (composição de elementos de drogas) - ex; acetona.

Sujeito ativo - qualquer pessoa


Sujeito passivo - a sociedade

Elemento subjetivo - é o dolo


Não há modalidade culposa, pois não há expressa disposição legal.

Elemento normativo - é a expressão "sem autorização ou em desacordo", com determinação legal ou


regulamentar. Constitui fator vinculado a ilicitude, porém inserido no tipo penal incriminador, e uma vez
não preenchido transforma o fato em atípico.

Objeto material - matéria prima, insumo ou produto químico.

Objeto jurídico - o bem protegido é a saúde pública.

* Art. 33, § 1º Nas mesmas penas incorre quem:


II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas;

No caso de arrendamento de terras e esta for usada para plantio de drogas, o que acarreta ao
proprietario as terras:
CF - Art. 243. As glebas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de
plantas psicotrópicas serão imediatamente expropriadas e especificamente destinadas ao assentamento de
colonos, para o cultivo de produtos alimentícios e medicamentosos, sem qualquer indenização ao
proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.

Ação nuclear:
Semear - significa espalhar, o simples ato de jogar as sementes para que germine;
Cultivar - propiciar condições para o desenvolvimento da planta;
Fazer a colheita - significa recolher o que a planta produz.

Objeto material
É a planta que se constitua em matéria prima destinada à preparação de drogas.

Sujeito ativo - qualquer pessoa


Sujeito passivo - a sociedade

Elemento subjetivo - dolo.


Não há modalidade culposa, pois não há expressa disposição legal.

Objeto jurídico - o bem protegido é a saúde pública.

Elemento normativo - é a expressão "sem autorização ou em desacordo" com determinação legal ou


regulamentar. Constitui fator vinculado a ilicitude, porém inserido no tipo penal incriminador, e uma vez
não preenchido transforma o fato em atípico.

* Art. 33, § 1º Nas mesmas penas incorre quem:


III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administração,
guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou
em desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas.

Ação nuclear:
Utilizar - significa aproveitar, valer-se de algo.

Objeto material - deste crime é o local ou bem de qualquer natureza de que tenha a propriedade (ter
o uso, gozo e disposição legal da coisa).
Ter a posse - é tirar proveito da coisa sem ser proprietário.
Ter administração - que é ter gerencia ou controle da coisa;
Ter a guarda da coisa - é manter a coisa sobre sua tutela;
Ter a vigilância - é tomar conta ou cuidar da coisa.

A 2ª figura penal consiste em consentir que é autorizar, permitir que outra pessoa se utilize do local,
aproveitando-se, ainda que gratuitamente, isto é, sem contra-prestação, para o tráfico ilícito de drogas.

Entendemos que a figura prevista na 2ª conduta do art. 33, § 1º, III, constitui nítido tráfico ilícito de
drogas.

Sujeito ativo - é o proprietário; posseiro; administrador; guarda ou vigilante de determinada área


territorial ou bem - crime próprio.
Sujeito passivo - a sociedade.
Sujeito passivo formal - de qualquer crime é o Estado.

Elemento normativo - é a expressão "sem autorização ou em desacordo" com determinação legal ou


regulamentar. Constitui fator vinculado a ilicitude, porém inserido no tipo penal incriminador, e uma vez
não preenchido transforma o fato em atípico.

Objeto material - é a área territorial ou bem que o agente se utilizado para a prática de ilícito de
drogas.

Objeto jurídico - o bem protegido é a saúde pública.

* Art. 33, § 2º Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga:


Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 300 (trezentos) dias-multa.
Obs.: Muito criticado, pois este agente deveria responder pelo caput
É cabível

Pena restritiva de direito (art. 44) - As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem
as privativas de liberdade

Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas
ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do
processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido
condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional
da pena (art. 77 do Código Penal).
Ação nuclear:
Induzir - dar idéia
Instigar - significa fomentar uma idéia já existente

A conduta do § 2º pode ser peculiar tanto ao traficante quanto ao usuário de drogas.


O agente que incentiva o uso de entorpecente, para viciar alguém, e depois consegue vender a droga
armazenada deve ser punido pelas penas previstas no art. 33.
A figura do § 2º traz uma celeuma (discussão) sobre a nova lei de drogas, uma vez que prevê pena
de detenção de 1 a 3 anos e multa, facilitando assim a atividade do traficante que alicia terceiros para o uso
de drogas.
Sujeito ativo - qualquer pessoa
Sujeito passivo - a sociedade e, secundariamente, aquele que usa a droga.

Elemento subjetivo - dolo.


Não há modalidade culposa, pois não há expressa disposição legal.

Aplica-se ao § 2º o art. 89 da Lei nº 9.099/95 (Juizados Especiais)

* Art. 33, § 3º Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu
relacionamento, para juntos a consumirem:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e
quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28.
Art. 61 da Lei nº 9.099/95 (Juizados Especiais)
Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as
contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada
ou não com multa.

Na figura prevista no § 3º do art. 33 o legislador resolveu uma grande discussão que havia sobre a
vigência da lei anterior, a respeito de como se enquadrar a conduta daquele que, gratuitamente, cedia
drogas a terceiro, para juntos consumirem.
Para uma 1ª corrente a conduta se ajustava era ao art. 12, atual art. 33 não distinguindo o tipo penal
a finalidade visada com a sessão.
Para outros, inexistente o objetivo de lucro a hipótese que melhor se enquadrava era o art. 16, atual
28.
Hoje a tormentosa questão está resolvida, sendo o crime equiparado ao tráfico, porém de menor
potencial ofensivo ( Lei nº 9.099/95 - Juizados Especiais).

Quando se diz "pessoa de seu relação" - seria amigos, parentes, namorado, colegas, etc.

Art. 33, § 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de
um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja
primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização
criminosa.
* Pena restritiva de direito (art. 44)
Não está definida, por lei, o que é "organização Criminosa" - a base é o art.288 (quadrilha ou bando)
ou Associação (art. 36 do 11.343/06) e não faz mais justiça a essa benefício.

*************************************************************************************************

CF/88 - Art. 226, § 8º - O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a
integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.

Anteriormente a violência doméstica era de competência dos Juizados, na Lei nº 9.099/95

Atualmente existe a Lei Maria da Penha - Lei nº 11.340/2006 que cuida especificamente da violência
doméstica.

A Doutrina diz que primeiramente é de competência dos Juizados Especiais Criminais, Lei nº
9.099/95 e depois passaria especificamente para a Lei nº 11.340/2006

Art. 1º Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a
mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas
as Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a
Violência contra a Mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela República Federativa do
Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece
medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar.

Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde
corporal;
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e
diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise
degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça,
constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz,
insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio
que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou
a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a
induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer
método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante
coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e
reprodutivos;
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração,
destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e
direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou
injúria.

Principais mudanças que esta Lei trouxe:


1) Estabeleceu o conceito de violência doméstica contra as mulheres em seu art. 5º ... "configura
violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause
morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de
pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se
consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a
ofendida, independentemente de coabitação".

2) Determina que a violência doméstica contra as mulheres independe de orientação sexual, isto é,
casos de violência ocorridos nas relações entre pessoas do mesmo sexo (lésbicas) também estão sujeitos a
esta mesma Lei, conforme o parágrafo único do art. 5º da Lei: "As relações pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientação sexual".

3) A nova Lei prevê um capítulo específico para o atendimento pela autoridade policial nos casos de
violência doméstica contra as mulheres
Sendo que a peça inicial é instaurar inquérito (Arts. 10 e 11), devendo
a autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência adotará, de imediato, as providências
legais cabíveis, devendo
a autoridade policial deverá, entre outras providências:
I - garantir proteção policial, quando necessário, comunicando de imediato ao Ministério Público e
ao Poder Judiciário;
II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saúde e ao Instituto Médico Legal;
III - fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local seguro, quando
houver risco de vida;
IV - se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar a retirada de seus pertences do local da
ocorrência ou do domicílio familiar;
V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e os serviços disponíveis.

4) Retira a competência dos Juizados Especiais criminais de julgar os crimes violência doméstica e
familiar contra as mulheres e possibilita a criação de juizados de violência doméstica e familiar contra as
mulheres (art. 14).
Obs.: Os juizados terão competência para resolver questões cíveis (separação, pensão alimentícia,
guarda de filhos) e criminais.
5) Estabelece medidas protetivas que estão previstas nos arts. 18 a 24, atingindo tanto ao ofensor
quanto a ofendida.
Art. 129, § 9º do CP - Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou
companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações
domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.

Art. 313, IV do CPP - Em qualquer das circunstâncias, previstas no artigo anterior, será admitida a
decretação da prisão preventiva nos crimes dolosos: se o crime envolver violência doméstica e familiar
contra a mulher, nos termos da lei específica, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência.

O art. 20 da Lei nº 11.340/2006 trás a possibilidade de decretação da prisão preventiva do agressor,


amparado no art. 313, IV do CPC

6) A Lei Maria da Penha possibilita a prisão em flagrante do agressor

7) A mulher vítima da violência doméstica será notificada dos atos processuais, especialmente
quanto ao ingresso e saída da prisão do agressor (art. 21 da Lei nº 11.340/2006)

Art. 129, §§ 9º, 10 e 11 do CP


Aumento de Pena - Violência Doméstica:
§ 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou
com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de
coabitação ou de hospitalidade: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.
§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no § 9o
deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço).
§ 11. Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for
cometido contra pessoa portadora de deficiência.

A pena do crime de violência doméstica art. 129, § 9º do CP - passou de 3 meses a 3 anos de


detenção, ficando expressamente proibido a aplicação de penas pecuniárias como a de sextas básicas e
multas
Se a violência for cometida contra mulher portadora de deficiência física a pena será aumentada de
1/3

8) O art. 16 da Lei nº 11.340/2006 trás a expressão renuncia, erroneamente, pois conforme o Profº
Tourinho Filho - "a abdicação do direito de oferecer queixa-crime e de promover a ação penal privada é
que configura renuncia, enquanto a retratação tratada nos arts. 102 do CP e 25 do CPP é a abdicação da
vontade de ser instaurada o inquérito policial ou oferecida a denuncia.

JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS


CF/88 - Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão:
I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a
conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de
menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumariíssimo, permitidos, nas hipóteses
previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau;

Lei nº 9.099/95 é a Lei dos Juizados Especiais Cíveis


Conforme o art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos
desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos,
cumulada ou não com multa.
E o art. 62. O processo perante o Juizado Especial orientar-se-á pelos critérios da oralidade,
informalidade, economia processual e celeridade, objetivando, sempre que possível, a reparação dos danos
sofridos pela vítima e a aplicação de pena não privativa de liberdade.
Estes são os princípios que regem a Lei dos Juizados Especiais Cíveis

A CF/88 estabelece em seu art. 98, I que competem aos juizados especiais criminais a conciliação, o
processo, o julgamento e a execução das infrações de menor potencial ofensivo.
JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS COMUNS (JECRIM) são órgãos da justiça Federal e Estadual

Não se aplica a lei JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS no âmbito da justiça eleitoral ou militar,
contudo a jurisprudência tem admitido alguns institutos despenalizadores no âmbito da justiça eleitoral.
De acordo com o art. 90-A da Lei nº 9.099/95 não se aplica os juizados criminais no âmbito da justiça
militar.

CONCEITO DE INFRAÇÃO DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO


1 - Juizados Especiais Estaduais (Criminais) - É o art. 61. Consideram-se infrações penais de menor
potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena
máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa.

JECRIM Estadual + Justiça Comum = julga contravenção


Justiça Estadual + JECRIM Federal = Compete à Justiça Federal

STJ - Súm. 122. Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de
competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, a, do Código de Processo Penal.
2 - Juizados Especiais Federais (Criminais) - Crimes cuja a pena máxima não exceda a 2 anos,
cumulada ou não com multa. O JECRIM Federal não tem competência para julgar contravenções (art. 109,
IV da CF)
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse
da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada
a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral.

Na definição dos crimes é importante verificar a pena máxima. Devem ser consideradas, no cálculo
da pena, eventuais qualificadoras, privilégios, causas de aumento e diminuição de pena

PRINCÍPIO INFORMADORES DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS


1) ORALIDADE - priorização de atos orais em detrimento de atos escritos - ex.: audiência preliminar
é conduzida oralmente pelo juiz ou por conciliador; o ofendido oferece representação oral, quando for o
caso; denúncia (pública) ou queixa (privada); as alegações finais também é oral; e a sentença também pode
ser oral.
2) CELERIDADE - os atos processuais devem ser realizados em tempo breve - ex.: encaminhamento
do autor do fato e da vítima de imediato aos juizados; realização imediata de audiência; os atos podem ser
realizados a noite; etc.
3) ECONOMIA PROCESSUAL - consiste em obter o máximo de resultado com o mínimo de
dispêndio no processo - ex.: os atos serão válidos quando atingirem sua finalidade e não a nulidade sem
prejuízo.
4) INFORMALIDADE - busca-se evitar a burocracia e o apego a formalidades inúteis - ex.: os atos
realizados em outra comarca serão solicitados por qualquer meio; citação pessoal no próprio juizado,
intimação por correspondência com aviso de recebimento (AR).

CP adotou, em razão do tempo do crime a Teoria da atividade; e em razão do lugar do crime adotou
a Teoria da Ubiqüidade.

1. Os JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS, em razão do lugar, segundo corrente majoritária adotou a


Teoria da Atividade - conduta (ação ou omissão)
2. Conexão - 2 processos - de juizados com infração de Justiça Comum a competência é da Justiça
Comum, sem prejuízo da aplicação dos institutos da composição civil extintiva da punibilidade prevista
no art. 74 da Lei nº 9.099/95 e da transação art. 76 da Lei nº 9.099/95
3. Desqualificação se o juiz, na sentença, desqualificar o crime de sua competência para uma infração
de menor potencial ofensivo, deverá remeter os autos aos Juizados Especiais Criminais, por força do art.
98, I da CF

Fase preliminar nos Juizados Especiais Criminais - assim que a autoridade policial tomar
conhecimento de uma infração de menor potencial ofensivo, deverá lavrar Termos Circunstanciado de
Ocorrência (TCO) - feito pelo delegado policial civil. Se o agente for pego em flagrante delito, será
conduzido a presença da autoridade e após a lavratura do TCO será encaminhado imediatamente ao
JECRIM, ou não sendo possível, assinará termo comprometendo-se a comparecer quando notificado.

Se o agente se recusar a assinar o termo de comparecimento ao JECRIM, qual a atitude a ser tomada?
Nos termos do CPP poderá ser lavrado o auto de prisão em flagrante (nada impede que após, seja-
lhe concedido o direito de livrar-se solto ou o benefício da liberdade provisória com ou sem fiança).

Assim que o autor do fato e a vítima forem encaminhados ao JECRIM será realizada a audiência
preliminar (que poderá ser designada para data próxima).
Aberta a audiência preliminar (audiência de instrução) será feita a composição civil quanto a
eventuais danos causados.
Se a ação foi privada ou condicionada a representação, essa composição, uma vez homologada
judicialmente provocará renuncia ao direito de queixa ou representação e, por conseqüência, a extinção da
punibilidade.
Na hipótese de não haver acordo civil com força extintiva da punibilidade realizar-se-á uma
tentativa de acordo entre o autor do fato e o Ministério Público - art. 76, § 2º, III da Lei nº 9.099/95.

Transação Penal - é uma medida despenalizadora na qual o autor da ação penal deixa de ajuizá-la,
desde que o autor do fato, assistido por advogado, concorde com a aplicação imediata de uma pena
alternativa (multa ou restritiva de direitos ou cumulativa de ambos).
A transação penal representa uma exceção a obrigatoriedade da ação penal.

Pressuposto da Ação Penal


Só é cabível quando for possível ajuizar a ação penal, isto é, não for o caso de arquivamento do
termo circunstanciado.

Requisito para transação penal


Estão previstos nos arts. 76, §2º, I, II e III da Lei nº 9.099/95

Art. 89 da Lei nº 9.099/95

Suspensão Condicional do Processo


"sursis Processual" - cuida-se de um acordo processual entre o órgão da acusação (MP) e o autor do
fato, no qual aquele (MP) abre mão de perseguir uma condenação criminal e o autor do fato submete-se ao
cumprimento de determinados condições durante um prazo (período de provas).

OBS.: A suspensão condicional do processo somente tem aplicação nos crimes de competência da
justiça comum, estadual ou federal e no âmbito da justiça eleitoral, não se aplicando a justiça militar por
força do art. 90-A da Lei nº 9.099/95

OBS.: Nos delitos relacionados com violência domestica e familiar contra a mulher não se aplicam os
institutos da Lei nº 9.099/95 independentemente da pena cominada, por força do art. 11.3400/2006

*******************************************************************************************

Lei nº 9.296/96 - interceptação telefônica - só através de autorização judicial


Art. 5º, XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados
e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a
lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal

O Estado de direito anterior a Constituição de 88 proibia a interceptação telefônica sem


qualquer exceção. Atualmente a matéria constitucional encontra-se com regramento diverso, é o que se
verifica do art. 5º, XII da CF/88.
A regra constitucional disciplinou uma polemica existente nos Tribunais Superiores, a cerca da
licitude ou ilicitude da interceptação telefônica. O legislador constitucional manteve a vedação das
interceptações telefônicas, todavia, desta vez, abrindo a exceção quando a sua destinação for investigação
criminal (inquérito)ou instrução processual penal (pois já houve denúncia).
Com a constituição de 88 ficou patente, no art. 5º, XII, a necessidade de uma regulamentação
para interceptação telefônica. Foi editada a Lei nº 9.296/96 que trouxe a regulamentação da matéria.
* O art. 1º da Lei nº 9.296/96 autoriza a interceptação para servir de prova em investigação
criminal, e em instrução processual penal.
Interceptação provém de interceptar, que significa intrometer, interromper, colocar-se entre
duas pessoas.
* No art. 2º da Lei nº 9.296/96 - Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas
quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses: I - não houver indícios razoáveis da autoria ou
participação em infração penal; II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis; III - o fato
investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção.
A interceptação (só com autorização judicial) se subdivide em:
1) Interceptação em sentido estrito - é a captação da conversa por um terceiro, sem
conhecimento de qualquer dos dois interlocutores.
2) Escuta telefônica - é a captação da conversa com o consentimento de apenas um dos
interlocutores.
Tanto a intercepção em sentido estrito quanto a escuta telefônica inserem-se na expressão
"interceptação" prevista no art. 5º, XII da CF, logo se submetem as regras previstas na Lei nº 9.296/96.
Diferentemente é o caso do interlocutor que grava a conversa. Neste, não existe a figura de
terceiro e, portanto, não se pode falar em interceptação. O Supremo Tribunal já aceitou a gravação como
prova.
A gravação somente não será permitida , e será considerada ilícita quando afrontar outra
garantia, qual seja a inviolabilidade da intimidade (art. 5º, XII da CF/88).

PROCEDIMENTO PARA INTERCEPTAÇÃO


Pode ser determinada de ofício ou a requerimento policial ou do representante do Ministério
Público, quando o pedido for concedido ex ofício (pelo juiz), deverá descrever a situação com clareza,
indicando e qualificando os investigados, salvo quando impossível, bem como demonstrar que a sua
realização é necessária para a apuração da infração penal, com indicação dos meios a serem empregados.
Regra geral o pedido da intercepção telefônica deverá ser feita por escrita, excepcionalmente de modo
verbal, caso em que será reduzido a termo.
O juiz avaliará o pedido no prazo máximo de 24 hs em decisão fundamentada. O prazo para
interceptação será de 15 dias, renovável uma única vez por igual período.
Cumprida a diligência, que poderá (deverá) ser acompanhada pelo Ministério Público, a fita
(CD) será transcrita encaminhada ao juiz que autorizou, juntamente com o auto circunstanciado (relatório)
contendo o resumo das operações realizadas.
A diligência correrá em autos apartados (para preservar o sigilo), apensados em inquéritos
policiais ou aos processuais criminais, preservando-se o sigilo.
A gravação que não interessar a prova poderá ser inutilizada, após decisão judicial, devendo
tal procedimento ser determinado pelo juiz e acompanhado pelo Ministério Público.

ADMISSÃO DA MEDIDA DE INTERCEPTAÇÃO


Nos termos do art. 2º da Lei nº 9296/ três são as hipóteses de admissibilidade da interceptação
telefônica:
1. Existência de indícios razoáveis de autoria ou participação e infração penal.
Obs.: indícios: art. 239 do CPP - Considera-se indício a circunstância conhecida e provada, que,
tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias.
2. Impossibilidade da prova ser feita por outros meios disponíveis;
Obs.: Se não houver como se buscar a prova através de busca e apreensão, depoimentos
testemunhais, exames periciais, etc. o meio disponível será a interceptação telefônica.
3. Que a infração penal seja punida com pena de reclusão (entrando na esfera de privacidade
do indivíduo).
É possível a interceptação telefônica nas contravenções penais? Não, porque a contravenção é
punida com prisão simples.

NATUREZA JURÍDICA DA MEDIDA


O procedimento de interceptação é uma medida cautelar que pode ser deferida se presentes os
requisitos que autorizam, que é o fumus boni iuris (fumaça do bom direito) - delineada no art. 2º e o
periculum in mora (podendo gerar perigo maior pela demora) - está desenhado no art. 4º da Lei.
COMPETÊNCIA PARA DEFERIR A MEDIDA - prevista no art. 3º da Lei
Art. 3° A interceptação das comunicações telefônicas poderá ser determinada pelo juiz, de
ofício ou a requerimento:
I - da autoridade policial, na investigação criminal (só na fase de inquérito policial);
II - do representante do Ministério Público, na investigação criminal e na instrução processual
penal.

A FORMALIZAÇÃO NO REQUERIMENTO - prevista no art. 4º da Lei


Art. 4° O pedido de interceptação de comunicação telefônica conterá a demonstração de que a
sua realização é necessária à apuração de infração penal, com indicação dos meios a serem empregados.
§ 1° Excepcionalmente, o juiz poderá admitir que o pedido seja formulado verbalmente, desde
que estejam presentes os pressupostos que autorizem a interceptação, caso em que a concessão será
condicionada à sua redução a termo.
§ 2° O juiz, no prazo máximo de vinte e quatro horas, decidirá sobre o pedido.

A decisão judicial quanto o pedido feito deve ser prolatada no prazo máximo de 24 horas, sob
pena de prejudicar a finalidade da medida requerida. Nos termos do art. 5º da Lei, a decisão será
fundamentada, sob pena de nulidade.
Art. 5° A decisão será fundamentada, sob pena de nulidade, indicando também a forma de
execução da diligência, que não poderá exceder o prazo de quinze dias, renovável por igual tempo uma
vez comprovada a indispensabilidade do meio de prova.
Art. 6° Deferido o pedido, a autoridade policial conduzirá os procedimentos de interceptação,
dando ciência ao Ministério Público, que poderá (deverá) acompanhar a sua realização (por ser fiscal da
Lei).

FORMA DA EXECUÇÃO DA MEDIDA


De acordo com o art. 5º da Lei, a execução da diligência não poderá exceder o prazo de 15 dias,
renovável por igual período uma vez comprovada a indispensabilidade do meio de prova.

QUANTO A EXECUÇÃO DA DILIGÊNCIA


O juiz poderá acatar aquela indicada pela autoridade policial ou pelo Ministério Público, ou
determinar outra forma para realização.
Reza o art. 7º da Lei que a autoridade policial poderá requisitar serviços e técnicos
especializados às concessionárias de serviço público para realização da medida.
Depois de cumprida a diligência, a autoridade policial deverá encaminhar o resultado da
interceptação ao juiz, acompanhado de auto circunstanciado que deverá conter o resumo das operações
realizadas (art. 6º, § 2º da Lei).

DA INUTILIZAÇÃO DA GRAVAÇÃO QUE NÃO SERVIRÁ DE PROVA


Art. 9° da Lei nº 9.296/96 - A gravação que não interessar à prova será inutilizada por decisão
judicial, durante o inquérito, a instrução processual ou após esta, em virtude de requerimento do
Ministério Público ou da parte interessada.
Parágrafo único. O incidente de inutilização será assistido pelo Ministério Público, sendo
facultada a presença do acusado ou de seu representante legal.
A gravação oriunda da interceptação telefônica feita no interesse na produção de prova de
investigação criminal ou no processo penal, possui partes que não são de interesse processual penal,
podendo esta parte ser inutilizada, uma vez que esta pode afetar a intimidade de terceiros, que seria
violação a regra constitucional prevista no art. 5º, X da CF.
Art. 5º, X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.

OBS.: este incidente de inutilização da gravação que não interessar a prova será assistido pelo
Ministério Público, como fiscal da lei e do interesse público, sendo facultado a presença do acusado ou de
seu representante legal, se já instituída a figura como tal (se já consta o advogado nos autos), devendo ser
lavrado autos circunstanciado.
Da decisão de defere ou indefere a inutilização cabe recurso de apelação, nos termos do art.
593, II CPP - Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias: II - das decisões definitivas, ou com força de
definitivas, proferidas por juiz singular nos casos não previstos no Capítulo anterior

DA PROVA EMPRESTADA
Regra geral não é cabível a prova emprestada quando obtida por meio de interceptação, no
entanto os Tribunais Superiores, STJ e STF já admitem a exceção, em favor do interesse público - "in dubio
pro societate".
A prova obtida por meio de interceptação legal relacionada a um determinado crime pode ser
utilizada como prova de outro delito, desde que o fato posterior esteja relacionado com o anterior,
mediante concurso de delitos, continência ou conexão, por ex., no crime de homicídio relacionado com
uma ocultação de cadáver.

DOS CRIMES EM ESPÉCIE


Art. 10 da Lei nº 9.296/96 - Constitui crime realizar interceptação de comunicações telefônicas,
de informática ou telemática, ou quebrar segredo da Justiça, sem autorização judicial ou com objetivos não
autorizados em lei.
Pena: reclusão, de dois a quatro anos, e multa.
1ª figura - interceptar comunicação telefônica , informática ou telemática sem autorização
judicial ou como objetivos não autorizados em lei.
Objetividade jurídica do crime - É a liberdade de comunicação, de informática ou telemática.
Objeto Material - A comunicação telefônica, de informática ou telemática.
Derrogação tácita - este dispositivo derrogou tacitamente o art. 151, § 1º, II do CP e também 56
da Código Brasileiro de Telecomunicações.
Elemento subjetivo do tipo - é doloso e não admite a forma culposo.
Para o profº Luiz Flávio Gomes, o legislador ao utilizar "a expressão com objetivos não
autorizados em lei" quis referir-se aos desvios de finalidade, por ex., pode ocorrer que a interceptação
telefônica tenha sido autorizada pelo juiz criminal, para fazer prova em investigação criminal ou instrução
processual penal, e o autor dela se utilize para alcançar objetivos não previstos em lei, como espionagem
industrial ou infidelidade conjugal.
Elemento normativo - Sem autorização judicial.
Consumação - com o ato de interceptar, ou seja, no momento em que o agente passa a tomar
conhecimento da comunicação alheia, não se exigindo que ele tenha ciência de toda a comunicação
interceptada.
É crime comum e permanente. E crime de ação penal pública incondicionada.

A 2ª figura - quebrar segredo de justiça sem autorização judicial ou com objetivos não
autorizados em lei.
Objetivo do tipo penal - é quebrar, que quer dizer violar, transgredir o dever funcional de
segredo.
Obs.: essa é a única diferença da 1ª figura, em regra os demais são parecidos.
Consumação - ocorre no momento que o agente revela o segredo de justiça referente ao
conteúdo da gravação da interceptação telefônica (precisando ser funcionário público).

=============================== F I M ===============================

You might also like