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108 FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade. So Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 21.
Renato Amado Peixoto 143
seu pai, como era, por exemplo, o caso da disputa por comendas
e pelo privilgio de acompanhar as misses oficiais do governo
brasileiro na Europa.
No mesmo sentido, Saldanha se fez capaz de abandonar a
mulher amada e o seu lar, unicamente pelo argumento paterno
de que estes no faziam jus a sua posio social: abandonado
tediosa tarefa de se construir social e idealmente como a imagem
de seus pares, Saldanha transforma seu corpo num simulacro de
si mesmo o mesmo corpo-simulacro que ser retalhado pelos
seus opositores ao fim da batalha.
Ainda, a eliso desses elementos fracos no mitema se torna
ainda mais evidente se procurarmos entender a ao dos oficiais
que comandavam o So Paulo e o desfecho da misso a partir do
lugar de discurso de Epitcio Pessoa.
O bom uso do bem pblico e de um meio de guerra cars-
simo cede vez a uma prtica destinada apenas a legitimar uma
ideia que a instituio fazia de si por meio dos seus membros
privilegiados e que a coadunava com um lugar mtico frente a
identidade da nao. Se a narrativa os busca construir enquanto
guerreiros-poetas, a investigao os revela apenas cidados-eu-
nucos brandindo suas palavras-espada.
156 Cartografias Imaginrias