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350 — 0 PENSAMENTO POLITICO CLASSICO, nenhuma regiao, -m homem, nem cidadao, nem religi fa que Montesquieu recusava o pat Sangre. Montesquieu no € um revlucionério, mas um concord io. 110, Tema retomado quatro vz por Diderot, ef, 100 Fee wo or Diderot, ef. Qvrespoigus, Cari Veenite, 1963, O contrato social e a constituigao 16 do corpo politico EMILE DURKHEIM* s causas que impedem a conservagaio do homem no estado am além de um certo ponto, é preciso, para que ‘que elas sejam neutralizadas por causas con- sirio que um sistema de forgas, assim cons- 5 e como estas Forgas ndo sto dadas na . um conjunto de Forgas que possa sobi -gando-as por um s6 motivo e levando-as a agit Torgas 86 pode nascer da colaboragio de varias” (Contraro, ). O que leva a dizer que sua sociedade co Como isso € possivel? Ira Rousseau, por um vago ecletismo, procurar edi da condigao primitiva, uma nova condigao que se junte a p soca ea conto dcx pola” Manta Rosy prc 1¥6cp. 148-19, Trade de Rag! Stas de A — 0 PENSAMENTO POLITICO CLASSICO wento the parece contradicdo consigo mesmo (...) ele nunca ser4 nem homem, nem “As boas instituigdes sociais, actescenta, so. aquelas que melhor sabem desnaturar o homem, tirar-lhe sua existén i transportar o eu para a unidade comum.”” A conciliagao s6 pode, entdo, ser feita por via da justaposicto exterior. Uma transformagao da natureza € necesséri ‘homem mude totalmente para poder se manter nesse meio que: ‘com suas proprias mos. Assim, os atributos caracteristicos do 10 mesmo tempo em que so mantidos. tanto, outra solugdo que a de encontrar um meio que per= los a essas novas condigdes de existéncia sem alterd-los es E preciso que eles tomem uma nova forma sem deixar Para isso, basta que 0 homem civil, apesar de diferir jente do homem natural, mantenha com a sociedade ames ma relago que o homem natural com a natureza fisica. Como isso ¢ possivel? Se, nas sociedades atuais, as relagdes const natural so transtornadas, & porque a igualdade pr tuida por desigualdades artificiais, e que, em conseqiiéncia disso, 0s ho~ mens encontraram-se colocados sob a dependéncia uns dos outros. Mas, se a nova forga, nascida da combinagao d dualizada, fosse impessoal e se, conseqiientemente, de todos 0s p: todos iguais em relagao a cla, ja que nenhum tulo privado e, a0 mesmo tempo, dos outros, mas de uma forga que por sua ica, mutatis mutandis, as forcas naturais. O lade que uma forga humana nun- ‘ca pudesse vencer, a dependéncia dos homens voltaria entdo a ser aquela das coisas; reunir-se-iam na repiblica todas as vantagens do estado natural aquelas do estado dade que mantém 0 homem isento de vicios, a moralidade que o eleva a vit- (Emile, 11). 0 de temediar 0 mal, diz ele no mesmo trecho, & entdo armar a lei ‘com uma forga real, superior a agao de toda vontade particular” E em uma carta ao Marqués de Mirabeau (26 de julho de 1 eis como ele formula o que chama de o grande problema em pottica: CCONTRATO SOCIAL E CORPO POLITICO — 353 1a forma de governo que coloque a lei acima do ho- no € suficiente que essa forca, elemento-chave do superior a todos os individuos. E ainda preciso que ia natureza, isto &, que essa superioridade nao seja s. A ordem que resultar idade e esta necessidade que carac- leresse prescreve, para las!” (Le contrat ‘rodugdo). — Podemos nos surpreetider, & primeira vista, a0 \u, para quem a sociedade ndo pertence A natureza, dizer -a sobre a qual a sociedade repousa deve ser natural, fundada jureza, Mas € que, aqui, natural é sin6nimo de racional. Até a ‘lo tem sua explicacHo. Se a sociedade for obra humat segundo sua natureza, sem ‘em combinar ¢ em desenvolver propriedades que, sua intervengdo, teriam ficado latentes, mas que nao deixam de ‘como € possivel para Rousseau conceber, de , a0 mesmo tempo em que difere do Assim, 0s homens poderdo sait do estado tural, sob a condig&io de que possam se reunir em sociedades sob a lependéncia de uma forga ou de um mesmo sistema de forcas que ie todos os particulares, ao mesmo tempo em que é baseado na tural sem violar a lei Esse resultado pode ser atingido, e como? Bastaria que o mais 1¢ se submeta ao resto da sociedade? Mas, sua autoridade s6 serd duravel se for reconhecida como um direito; ora, nao hé nada no 354 — 0 PENSAMENTO POLITICO CLASSICO poder fisico que possa engendrar nem um direito, nem uma obriga- ¢20. Além disso, se 0 direito seguir a forga, ele muda com ela, cessa quando ela desaparece. Como ela varia de mil manciras, ele varia do ‘mesmo modo. Mas, um direito a tal ponto variavel nao & um dieito, ‘Assim, para que a forga gere o direito, ¢ preciso que ela seja funda- mentada; e ela nao pode ser fundamentada pelo tinico fato de existir (Lecontrat social, I, 3). __Grotius tinha, no entanto, tentado fundamentar logicamente 0 jo, que um particular to que um povo pode fazer alienaco s6 é racional se ela for feita em troca de algut Dizem que 0 déspota assegura tranqiiilidade aos seus stiditos. Mas es- sa tranqUilidade esta longe de ser completa: as guerras que o despotis- mo provoca pertubam-na. Além disso, a tranuilidade em si e por si ndlo € um bem: tal & a tranquilidade dos carceres; 2.°) Nao se pode alienar a liberdade das geragdes futuras; 3.°) Renunciar a sua liber- dade, é renunciar & sua qualidade de homem ¢ esse abandono nao tem ’) Enfim, um contrato que estipule lar para o outro que nao tem direitos. — Grotius alega que 0 de guerra implica o direito de escravidao. vencedor tendo o direito de matar 0 vencido, este pode recuperar guerra, Mas entre particulares nlio hd estado de guerra crOnico e de al- ‘onde tudo esti sob a is, nem no estado natural, onde os homens no so naturalmente inimigos, onde suas relagdes nao sao suficientemente constantes para serem aquelas de guerra nem as da paz. Um estado que nto existiu ndo pode ter fundado um direito. A guerra é uma relagto, nfo de homem para homem, mas de Estado para Estado. (Querem falar da guerra entre povos e do direito de conquista? Mas, a guerra no da ao vencedor o direito de massacrar 0s povos vencidos; ela no poderia, pois, fundar 0 direito de momento em que os defe igo abandonam as ar- ssomente quando nao 6, ento, o direito de matar que estabelece o de escraviza de escravidao nao poe fim ao estado de guerra. Tomando- se do vencido o equivalente A vida, o vencedor nao Ihe faz por bon- dade. Ha ai um ato de forca, nfo uma autoridade legitima (Le contrat social, 1, 4). ‘CONTRATO SOCIAL E CORPO POLITICO — 335, esmo que esse direito do mais forte pudesse ser fcado, cle n&o saberia servir de base para uma yma sociedade é um corpo organizado onde jo todo, e reciprocamente, Ora, uma multidao la por um chefe nao tem esse cardter. B “uma agregacdo € jefe sto separados dos da massa. iro venha a morrer para que a multiddo, que s6 estava unida en- jos entre si de modo que se forme um todo ct , Nao € a vontade do governante s ela deve ser interna. A questo da ‘preciso primeiramente que 0 poyo ‘ro fundamento da sociedade”” (Le contrat social, evidentemente, s6 pode consistir em uma associaclo e, te, © problema a ser resolvido enuncia-se assim: “En- ‘ma de associago que defenda e proteja com toda a 1m a pessoa e os bens de cada associado, ¢ pela qual cada ndo-se atodos, obedega, no entanto, apenas a si mesmo e con- {ao livre quanto antes.”” Essa associaedo s6 pode resultar de um ‘ato em virtude do qual cada associado se aliena, ele proprio, jodos os seus direitos comunidade. Em consequéneia desse contrato, todas as vontades individuals desaparecem no seio de uma vontade comum, a vontade geral, que é a Uma forga € assim constituida, infinitamente ‘las dos particulares. E esta forga tem uma \erna; pois os elementos dos quais ela resulta perderam de |gum modo, juntando-se a ela, sua individualidade e seu movimento Com efeito, como aalienacao foi feita sem reservas, nenhum ia vontade pessoal. “*Ao invés da pessoa particular de cada le, esse ato de associagao produz um corpo moral e coletivo ‘a assembléia tem de vazes, 0 ‘vex stias cldusulas jamais tenham sido enunciadas. Mas elas sto ad- 358 — 0 PENSAMENTO POLITICO CLASSICO geral, porque a divisto igual dos bens, que delas resulta, éjusta e por- que © sistema assim estabelecido deve ser respeitado. E assim que “0 pacto fundamental substitui, por uma igualdade moral e legitima, 0 que a natureza pode por de desigualdade fisica entre os homens" Givro I, diltimas linhas), A passagem do estado natural ao estado civil produz entio no homem “uma mudanea bastante not la tem como conseqiién- cia transformar a ordem de fato em ordem de direito, gerar a mo- ralidade (I, 8). As palavras de dever e de direito s6 tém sentido uma ledade esteja constituida. A razto disso € que, até ai, 0 inha considerado a si mesmo” e que, agora, * obrigado a agir segundo outros principios”. Acima dele, hé algo com que ele € obrigado a contar (A bém sto obrigados a contar virtude nada mais é que a ‘conformidade da vontade particular a vontade geral”” (Economie politique).* ‘Mas seria enganar-se singularmente sobre o pensamento de Rousseau, se se entendesse essa teoria como se, segundo tivesse por fundam binagdo das forcas oder coercitiv nao é um fato sem importancia; pois direitos que surgem com 0 estado civil, mas ela no os engendra. N40 é porque a vontade geral é materialmente a mais forte que ela deve ser respeitada, ¢ sim porque ela é geral. Para que a justiga reine entre os individuos, é preciso que haja fora deles um ser sui generis que sirva de arbitro © que fixe o direito. E o ser social. Este nao deve entZo sua supremacia moral a sua superioridade fisica, mas a esse fato de que ele € de uma outra natureza que os particulares. E porque ele esta fora dos interesses privados que ele tem a a reguld-los. Pois ele nao é parte na causa. ressa € que a ordem moral ultrapassa 0 individuo, que ela nao é realizada na natureza fisica ou psiquica; cla deve ser sobreposta a ¢s- tas. Mas para que haja um fundamento, & preciso um ser no qual ele se estabelece, e, como néo ha na natureza um ser que preencha para isto as condigdes necessérias, é preciso, entao, criar um. E 0 corpo social. Dito ainda em outras palavras, amoral no decorre analiticamente do |, Também Rouse, comparand o exado vi aim cooebido, como ead naturel, cba CCONTRATO SOCIAL E CORPO POLITICO — 389 ado. Para que as relagdes de fato se tornem morais, € preciso n consagradas por uma autoridade que nao estit nos ‘O carditer moral Ihes € acrescentado sinteticamente. Mas, ent, i €a yontade ‘amente que certos criticos (Janet, II, 429) -se contradito a0 condenar de um lado a iaeiio da liberdade individual em proveito de um déspota, e de , a0 fazer dessa abdicagao a base de seu sistema, quando ela ‘as mos da comunidade. Se ela ¢ imoral num caso, dizem,, 0 seria no outro? Mas & que as condigdes morais nas quais ela nfo stio absolutamente as mesmas. No primeiro caso, ela € ‘a porque coloca o homem sob a dependéncia de um homem, 0 a propria fonte de toda a imoralidade. No segundo caso, ela.0 a dependéncia de uma forga geral, impessoal, que o regula liza sem diminuir sua liberdade, a natureza da barreira que 0 “40 vem unicamente do fato de que ignorou-se o abismo que exis- ponto de vista moral, entre a vontade geral e uma vontade par- qualquer que seja ela. Dosoberano em geral Jue 0 Contrato Social engendrou, enquanto , de todos os deveres e de todos os poderes, jamos quais s40 0s atributos da soberania ca ia das manifestagdes pelas quais ela se afirma. ‘A soberania & “‘o exercicio da vontade geral””. E 0 poder co- 0 dirigido pela vontade coletiva. E preciso ent&o determinar, meiramente, no que consisteesta ultima. : ‘A vontade geral tem como elementos todas as vontades parti- tir de todos” (II, 4). Mas esta primeira condicao Ja, A vontade de todos nto é, ou pelo menos ‘uma soma de vontades particulares” (II, 3). al se aplicam todas as vontades particulares se} vontade geral, para ser realmente geral, deve sé: ‘0 quanto na sua esséncia; ela deve partir de todos para se aplicar a todos" (II, 4). Isto é, € 0 produto das vontades particulares deliberando sobre uma questo que diz respeito ao corpo da nacao, sobre um interesse comum. Mas a propria expressao precisa ser com- preendida. (0 PENSAMENTO POLITICO CLASSICO Concebe-se as vezes 0 interesse col 10 0 interesse proprio 10 como uma perso especiais ¢ hetero- 105 podem sentir. Sem diivida, mesmo esse sentido, o que é util ou necessario sociedade interessa os par- ticulares porque eles sentem o contragolpe dos estados sociais. Mas esse interesse & apenas mediato. A utilidade col ; ela nao se determina em funcao do individuo, considerado ou tal aspecto, mas em fun¢do do ser social considerado na sua ho é a concepgdo que Rousseau tem a respeito a todos 60 que é util a cada um. O interesse luo médio. A vontade geral, portanto, & aqucla de todos os particulares, na medida em que eles querem 0 que melhor convém, nao a um ou a outro dentre eles, mas a cada cidadao em geral, dados o estado le egoismo. Pois “nao ha ninguém que nao se aproprie das palavras cada wm e que nao pense em si mes- ‘mo ao votar por todos. O que prova que a igualdade de di nogdo de justiga que ela produz, derivam da preferéncia que cada um se dé, e conseqtientemente danatureza do homem”? (ibid.). ‘Também, para que a vontade geral se manifeste, nao & neces- sitio nem mesmo itil que todas as vontades parti 5» ento, seria ibinados entre que sua resultante pudesse se manifestar. Ao contréio, © ideal seria que cada individuo exercesse sua parte de soberania. isoladamente dos outros. ‘Se, quando o povo informado cidadaos nao tivessem nenhuma comunicagdo entre sit Il, 3). Todo agrupamento intermediairio en- 95 cidadaos e 0 Estado s6 pode ser prejudicial desse ponto de vista. importante, para se obter o enunciado da vontade geral, que nto fade parcial no Estado que cada cidadao s6 proceda segundo ele propr 3). Com efeito, a vontade geral, definida id.). Se, enttio, cada indi- independentemente de seu vizinho, havera um mesmo mimero de votantes © de individuos, logo um grande nimero de pequenas diferencas que, gracas A sua fraqueza, desaparecerao 10 ‘CONTRATO SOCIAL F CORPO POLITICO ~ 3 tira apenas o que nao depende de nenhuma cons- particular; a vontade coletiva convergira, portanto, natural- io. Mas, se grupos particulares se 10 40s seus membros, mas parti vontades coletivas que devera emergir a do soberano. Ora, jus- ite Porque essas vontades elementares so pouco numerosas, seus ‘eres diferenciais suprimem-se menos facilmente. Quanto menos nntos se tem para formar um tipo, menos esse tipo € geral. A ide piblica correré, entdo, um maior risco de desviar para fins res. Se, finalmente, acontece que um desses se torne lominante, nada mais resta que uma diferenca tinica, “‘e a opiniao vence nada mais ¢ que uma opiniao particular” (ibid.). Reco- jecemos nesta teoria este horror de todo particularismo, ésta con- epgtlo unitaria da sociedade que é uma das caracteristicas da Re- volugio. Em resumo, a vontade geral é a média aritmética entre todas as ides individuais na medida em que elas se propdem como fim a espécie de egoismo abstrato a ser realizado no estado civil. Rous- Wu dificilmente poderia elevar-se acima de um tal ideal,’ pois se a ‘iedade ¢ fundada pelos individuos, se nas suas maos ela ndo passa lum instrumento destinado a assegurar- ‘des determinadas, ela s6 pode ter um ol ja desprovido de todo carater in- ser algo muito abstrato e muito impes- 86 se pode di que ele & o seu iinico autor. Mas, de into possivel e impedi-lo de agir num sentido particular; tudo o que ia de natureza a facilitar essas agdes particulares s6 pode set con- rado como um perigo. Assim, nés encontramos em toda parte as 8 tendéncias antitéticas que caracterizam a doutrina de Rousseau: um lado, a sociedade reduzida a ser apenas um meio para o in- 10, de outro, 0 individuo colocado sob a dependéncia da so- lade, elevada bem acima da multidao dos particulares. 2. CF. R. Demin, JomJacgues Rowse Ia scence paitigue de son temps (©. UF Pai ‘MENTO POLITICO CLASSICO (ima observagdo sobressai do que precede. Ja que a von- fine pincpalmente por seu objeto, la nfo const unicamente, e nem sfésmo essencialmente, no proprio ato do querer coletivo. Ela nao & ela mesma pelo tinico fato que todos participam dela; pode acontecer que os cidadaos reuni resolu que nao exprima a vontade ger ivro TV, que todos os caracteres da vontade geral io na pluralidade: quando eles deixam de ai estar, qualquer & portanto, uma condicdo suficiente; ¢ preciso, além disso, que 08 particulares, que colaboram na formagao da vontade geral, se pro- alidade sem a qual ela ndo existe, a saber, o interesse fere entdo daquele pelo qual qui- ficar 0 despotismo das maiorias. Se a co- ‘do é porque ela comanda, mas porque ela comanda 0 bem comum. O interesse social nao se decreta; ele nfo existe por causa da lei; ele existe fora dela e ela s6 € 0 que ela deve ser se ela o expressa. Também o mimero de sufragios é algo secundatio. ue generaliza a vontade é menos o niimero de votos do que o in- teresse comum que 0s une” (II, 4). Os longos debates, as deliberagdes mnge de ser o meio natural no qual deve-se elaborar a perfeito estado de satide, todo esse aparelho complicado é iniitil para a confeceXo das leis. ‘“O primeiro que as prope s6 diz o que todos ja sentiram”” (IV, 1). Em outros termos, a vontade geral nao é consti- tulda pelo estado onde se encontra a consciéncia coletiva no momento onde a resolurao é tomada; isso nada mais é que a parte mais super- ficial do fenémeno. Para compreendé-lo bem, € preci fundo nas esferas menos conscientes e atingir os hal entapto fia econstante dos expritos¢ das atvidades num sentido ido do interesse geral. E uma disposicao erénica digdes objetivas (a saber, ‘0 interesse geral), segue que a propria von- tade coletiva tem algo de objetivo. Eis porque Rousseau fala muito dela como de uma forga que tem a mesma necessidade que as frsas fisicas. Elechega a dizer que ela é“indestruivel” (IV, 1). ‘A soberania nada mais € do que a forga co iu o pacto fundamental, colocada ao dispor da vontade geral ‘Agora que nos conhecemos os dois elementos dos guais determina anatureza da resultante. )) A soberania s6 pode ser inaliendvel. entender que ela nao pode nem ser agdo. “Todas as vezes que se trata de’ (© povo nao pode ter representantes u, ed. Dreyfus, erentes e dirigem-se em sentidos divergentes. Uma endereva- conseqentemente, a igualdade, ea outra ao particular, ¢ smente, as preferéncias. Sem divida, um acordo momen- de ser possivel acidentalmente entre elas; mas como esse no resulta de sua natureza, nada pode garantir a duragao. O pode muito bem desejar 0 que deseja hoje tal homem; mas pode assegurar que esta harmonia su Em suma, porque o ser coletivo € sui generis, por ser o tinico de cle ndo pode, sem cesar de ser ). la s6 pode se dividir la outra parte, Mas a vontade do or conseguinte o poder do qual ida 0 soberano é composto de 2.°) A soberania é indi fe da sociedade quer ., mas o poder soberano que res pode nao estar inteiro em cada ’ste se todas as vontades particulares ent vel em seu prin eu objeto? Partindo dessa idéia, s sem ter bragos, 0 outro teria bragos sem ter olhos, etc... Se 1 um desses poderes & soberano, todos os atributos da soberania se m nele: sto manifestagdes diferentes da soberania, e ndo iam ser partes distintas dela. Essa argumentacao prova que a unidade atribuida por Rousseau poder soberano nada tem de orginico. Esse poder é constituido, por um sistema de forgas diferentes ¢ solidérias, mas por uma for- jogénea, e sua unidade resulta dessa homogeneidade. Ela vem (0 de que todos 0s cidadaos devem concorrer para a formagao da ide geral, e é necessario que todos eles concorram para isso, para caracteres diferenciais sejam eliminados. Nao ha ato soberano S64 — 0 PENSAMENTO POLITICO CLASSICO que no emane do povo inteiro, porque sendo seria 0 ato de uma as- sociagéo particular. Estamos assim em melhores condigdes de re- Presentarmo-nos no sentido em que Rousseau péde, como ele o faz muitas vezes, comparar a sociedade a um corpo vivo. Isso ni dizer que ele a conceba como um todo formado de part solidérias umas das outras, justamente porque elas so € que ela é ou deve ser animada por uma alma una e i move todas as partes no mesmo sentido, tirando- da a esse respeito, se se quiser sua analogia se sustenta. S6 que essa divisto do trabalho é para ele um fenémeno secundario e derivado que ndo engendra a unidade do vivo individual ou coletivo, mas antes a ela pode suscitar orgaos diver (as magistra- turas) que ela encarrega, sob seu controle, de r eres que assim sfo engendrados nao sdo partes, mas emanagdes do poder soberano, e continuam sempre subordinadas a ele. E nele e por ele que encontram sua unidade. Em suma, a solidariedade social resulta das leis que ligam 0s individuos ao grupo, no os individuos cles s6 so soliddrios uns com os outros porque so todos to é, alienados a ela. O individualismo nivelador de Rousseau nao Ihe permitia um outro ponto de vista. 3.°) A soberania ¢ exercida sem controle; 0 soberano nao tem poderia té-la jé que no ha forca superior & forca © poder soberano. Mas, além disso, toda garant 1, 3). Com efeito, para que haja vontade geral, é pre suficiente que cada um queira o que parece ser ti geral. Ela se dirige entao tao seguramente a seu fim, vagao ¢ ao bem-estar do todo” (Economie politique), que a vontade privada do homem natural se dirige para sua felicidade e sua conser- ue ela se engane, que o que » & 0 julgamento, sempre o préprio bem, mas nem sempre se sabe onde ele esta. Jamais se corrompe 0 povo, mas freqilentemente o enganam’ nA, vontade geral é sempre correta, mas o julgamento que a orienta nem. sempre & esclarecidk 6). Esses erros se produzem sobretudo CCONTRATO SOCIAL E CORPO POLITICO — Ms o grupos particulares se formam no seio do Estado. Por pouco nem, os membros que os compdem, em vez de se pergun- para todos, isto é para cada um em geral, bus- .0 para tal partido, tal associagao, tal individuo. ares tornam-se assim preponde: ie geral ndo é destruida por isso, nem corrompida, ela é apenas isto é, subordinada a vontades particulares, Ela permanece Lcrdvel, dirigindo-se sempre ao seu fim natural, mas € impedida de nr forgas contraias (IV, 1). se a soberania esté livre de qualquer controle, nao ida todos os servigos que um cidadao pode fazer para o Je deve faz8-los logo que 0 soberano os requerir. Mas, por ‘0 soberano no deve pedir ao stidito outros sacrificios podem servir a todos. Existe alum critério que per- ir 0s que so legitimos dos outros? mnsportar-se as proposicdes precedentes. A vontade juando ¢ ela mesma. Ela € ela mesma quando parte -omo objeto a coletividade em geral. Mas, a0 con- cla contradiz sua natureza e s6 & ge jome “quando tende 4 algum objeto individual ¢ determinado’ 4). Ela nao pode inciar-se nem sobre um homem, nem sobre um fato. Com efeito, ‘torna competente quando se pronuncia sobre 0 corpo da (do indistintamente, € que entdo o arbitro e a parte nao passam de "mesmo ser considerado sob dois aspectos. O soberano é 0 povo no . Mas, quando a ide soberana trata de uma questao in fermos; ha de um lado-0 pi colar interessado), de outro, este dltimo. A partir dai, “a questo tor- snciosa”, no se vé mais “‘qual é o juiz que deva pronun- 14), Atémesmo a vontade que exerce nesse caso nloé mais, vontade soberana; pois ela ndo é mais a vontade do 10. O todo, menos uma parte, nao € mais 0 todo. Nao ha mais 0 lo, mas partes desiguais. De que direito uma legislaria a outra? (II, (Sempre a mesma concepeio em virtude da qual Rousseau procura stituir acima dos individuos uma forga que os domine ¢ que, en ‘0 soberano age conhecendo apenas o corpo da nagdo, e sem distinguir nenhum daqueles que a compdem. Nao € entdo uma convencdo entre ‘0 superior e 0 inferior (como a escravidao); mas do corpo com os seus Wo — © PENSAMENTO POLITICO CLASSICO absoluto que seja o poder soberano, el ;passa, nem pode ultrapassar, os limi sas convenges [gerais], de seus bens ¢ de sua li que Rousseau quer dizer quando, por uma contrad aparente, apds ter declarado que os particulares se dao inteiramente ao Estado, ele fala no entanto “em distingur os direitos respectivos dos cidadaos edo soberano”’ (ibid. ). Mas, dirao, se o soberano usurpar esses direitos c ultrapassar es- ses limites? Mas, segundo Rousseau, nao pode como nao deve fazer ‘isso, pois, para isso seria preciso que ele tendesse a um fim parti , por conseguinte, cessasse de ser ele mesmo. Quando tais violacdes s€ produzem, elas'sAo 0 resultado nao do soberano, mas de patti- culares que tomaram seu lugar ¢ usurparam seu impétio. Isto significa dizer que a obediéncia no é exigivel. (Comparar com Kani Daleiem geral Do ponto de namico. O corpo politico esté formado; ele vai nos mostré-lo vivo. ato pelo qual se manifesta a vontade soberana € a lei. Ela tem como objeto fixar os direitos de cada um, de modo a assegurar 0 io das partes das quais a sociedade é feita. Bis af, em titima ¢, 0 objeto em sie a razdo de ser da organizaglo social, Tanto que Rousseau nao teme dizer que ele é “em relacao aos membros do ue), Nao é que como Hobbes, por exemplo, o entendia. “O que esté bem e conscante ordem, assim o é pela natureza das coisas e independentemente das sneGes humanas? Toda justica vem de Deus”? (II, 6). Mas esta a imanente as coisas é apenas virtual; é preciso fazé-la passar & . A lei divina é sem ago, enquanto nao se tornar uma lei hu- Tal é a fungdo da lei, que se confunde com a propria fungao do soberan, arbitr superior dos interesses particulars. Mas em que consiste? Ela se define naturalmente em fungo da vontade geral, Ela resulta da aplicagdo de todas as vontades a0 corpo da nago em seu ‘CONTRATO SOCIAL E CORPO POLITICO — 367 ‘Quando todo 0 povo estatui todo © povo, forma-se entdo ‘io, sera todo 0 objeto sob um ponto de vista ¢ todo 0 ot ‘> ponto de vista... E esse ato que eu chamo de uma ‘uma nova prova de que, no fundo, s6 ha uma diferenca de vista entre 0 Arbitro © as partes, o corpo da sociedade € a \dividuos, qualquer esforgo que Rousseau faca para por do outro. resultam varias consequéncias cla expressa, nao pode ter um privilégios, nao atribui-los nominalmente a alguém. Ela ig- iuos enquanto individuos. E 0 contrario do que Hobbes ‘As leis sto feitas para Titus e para Caius, e no para 0 ado” (De eive, XII). A razio dessa diferenga é que Hob- inha de demarcagio claramente tracada entre 0 . O primeiro era exterior aos segun- ‘vontades. © ponto de aplicagao da ‘oberana era entdo necessariamente um individuo ow in- ide. Para Rousseau, o soberano, A lei, como a vontade lar. Ela bem s-um de seus aspectos. Quando entio ele legifera ie que legifera, e é neles que reside esse poder legis! rravés dele. 2.°) Pelo mesmo motivo, a lei dev la retine ‘a universalidade da vontade a do ot ymem ordena nunca & uma I a0 pode ser injuste id.). O geral & 0 critério do just ¢ injusto consigo mesmo’ vontade geral se dirige ao geral por natureza. Sao os magis que deturpam a lei, porque eles sao para ela intermediairios in- (ver 9.2 Lettre de la montagne). Mas 0 povo niio se basta a si mesmo para fazer a lei. Se ele sem- uct o bem, no é sempre que ele enxerga. E preciso alguém para -ecet seu julgamento. E 0 papel do legislador. Nao € possivel ndo se surpreender em ver Rousseau uma tal importéncia ao legislador. E necessariamente um ‘ece que haja ai uma espécie de contradigao ao fazer de um in- uo a fonte da lei, quando 0 individuo foi apresentado comoa fon- t ‘oralidade, Rousseau percebe isso. Ele reconhece que a na- tureza humana por si propria ndo est4 adequada para uma tal funedo, pois seria preciso para isso um homem que conhecesse a fundo 0 Coragao humano € que, ao mesmo tempo, fosse impessoal o bastante ira passar por cima das paixdes humanas ¢ para dominar o parti- arismo dos interesses. Um tal personagem s6 pod 268 — © PENSAMENTO POLITICO CLASSICO “ser extraordindrio”, uma espécie de deus que Rousseau postula, por assim dizer, como a condi¢ao necessaria de toda boa legi ter nenhuma garantia de que essa condigdo seja sempre dada. “Seria preciso deuses para dar leis aos homens”. para essa missdo, mas também da espécie de ai ica, Trata-se de desnaturar a natureza humana, de trans- poder dispde 0 nenhum. Ele nao poderia, com efeito, ter nas maos nenhuma forga cfetiva para realizar suas idéias, pois sendo ele ocuparia o lugar do soberano. Seria um particular que comandaria os homens; “Aguele que comanda as leis nao deve comandar os Ele pode apenas propor. S6 0 povo deci ‘Assim, na ‘obra da legislago, encontramos a0 mesmo tempo dois elementos que smpativeis: um empreendimentoacimada forsahumanae, ia, uma autoridade que naoé nada.” (ibid. ) Como, ent&o, jecer? Deve-se pensar, sobretudo, que, quando ele em- preende esse trabalho, ainda nao ha costumes sociais constituidos que facilitam-nos para ele. Quanatas possibilidades ele tem dendo ser com- preendido, “Para que um povo nascente possa provar as sis maximas da politica, seria nevessirio que o efeito pudesse tornar-se causa e que ‘0s homens fossem antes das leis 0 que deveriam tornar-se por elas" (id. Historicamente, os legisladores s6 triunfaram dessas dificul- dades ao revesti-las de um cardter religioso. Dessa maneira, as leis do Estado ganhavam, aos olhos dos povos, a mesma aguelas da natureza, j4 que tanto estas quanto aquela: ma origem. Os homens se submetiam mais facilmente (© mesmo poder na formaeao do homem e na da cidad CCONTRATO SOCIAL E CORPO POL! io que, na origem das nagdes, a religido sirva de “ins ” 4 politica (II, 7, tltimas linhas). Rousseau, no entanto, nde dizer com isso que, para fundar uma sociedade, basta iImente os ordculos falarem. O que deve impor esse respeito 10 talvez seja o que permite compreen- Luro, esses tipos de apoteoses nao Ihe parece ‘aplicada ao corpo da nagao. Ainda € necessario que © povo le proprio, em determinadas condigdes. Quando a natureza humana é fixada, ela nao se deixa mais, ‘A to profunda transformagao que deve operar 0 I , supe que o homem ainda é maledvel. Ela 6 € possi ovos que ainda no estio muito avancados na ida smente. Um povo mi 86 seria possivel impor al que é preciso escolher e que nao se reencon- /olugbes podem as vezes recolocar a matéria ‘quebrando completamente os velhos , as perturbagdes podem destruir o que existia sem nz rho lugar. 2.°) E necessério que as dimensdes do povo sejam normais. iso que ele ndo seja muito grande; pois, entao, nao poderia haver smogeneidade sem a qual a vontade geral & impossivel. E preciso em que ele nao seja to pequeno a ponto de nao poder se manter. se essas duas condi¢des so importantes, elas nao o sao igual- ‘A primeira tem primazia sobre a segunda, pois antes de tudo, M0 ~ 0 PENSAMENTO POLITICO CLASSICO YVé-se 0 quanto, segundo Rousseau, a instituigao de uma legis- lagdo € uma obra delicada, complexa, laboriosa e de sucesso incerto. E necessrio que, por um feliz mas imprevisivel acaso, ido um Iegislador que guie 0 povo, e, como ja foi visto, eles 86 aparecem de tempos em tempos ¢ como por milagre. E necessario que © povo tenha apenas o grau de maturidade necessdrio, as dimensées normais, esteja num estado interior conveniente. Se falhar uma ou ‘outra dessas condigdes a empresa wes diferentes que so as) Rousseau ocupa-se somente fas constituigao da ordem 1 a vontade individual s6 pode realizar-se no exterior va eneraia sic, a vontade geal s6 pode atualizar io de u etiva. Essa forga € 0 poder exe- de uma forga co o poder exe Uma tal concepeao res mente das premissas colocadas por Rousseau, ao mesmo t que ela explica seu pessimismo historico. Se a sociedade nao estiver necessariamente coi natureza, ela nfo decorre naturalmente desta. E, portant operagao forcosamente dificil aquela que tem como objeto desenvol- ver germes que, sem diivida, existem neles mesmos, mas estao infi- nitamente distantes do ato e de encontrar uma forma de desenvol- vimento que Ihes convenha, sem cont damentais d¢ ga governamental pode entdo ser considerada como uma rat jjos extremos sAo 0 soberano € o Estado; isto é, esses tr8s termos é {Ao estreita que um deles imp pode variar sem que os outros variem. Por exemplo, sendo que um tem dez vezes mais siditos do que 0 iciro & aquele onde cada cidadaio terd uma parte menor da soberana; ela sera dez vezes menor. A distancia entre a e cada vontade particular sera, portanto, dez vezes mais favel. Ora, quanto menos as vontades particulares se referem |, mais é preciso que o governo tenha forga para conter as s individuais. Mas, quanto maior a forga do governo, leve ser a forga do soberano. Do mesmo modo, dada a série S (governo), P (povo), se estabelecermos que P=1, se jos que S (razio dobrada) tornou-se mais forte, podemos ‘de que 0 mesmo aconteceu com G. Donde segue que a governo é relativa a dimensio do Estado e que naoha sae absoluta de organizagao governamenté ‘a questo essencial que suscitam as fé politicas resume- sao as diferentes formas de governo e a que condigses rio estavel forgas que nao so constituidas naturalmente, para formar um todo sistematico, fazé-lo sem violéncia, mudar 0 homem ao mesmo tempo em que se respeita a sua natureza, é realmente uma tarefa que pode parecer ex- ceder as forcas humanas. E compreende-se que Rousseau nao se sur- reenda com o pequeno mimero de casos historicos onde, segundo ele, a humanidade se aproximou um pouco deste ideal. Das leis politicas em particular As leis podem ter como objeto expressar a relago do todo com 0 todo, isto é, do conjunto dos cidadaos considerados como soberano com 0 conjunto dos cidadaos considerados como sid politicas. Elas enunciam a maneira pela qual a sociedade se cons- As leis civis so aquelas que determinam as relagdes do soberano com o5 stiditos ou dos siiditos-uns com os outros; as leis penais, ielas que decretam as sangOes sancao penal). Afora esses trés sgundo o nimero daqueles ingue a democracia, a aris- tomar uma forma explicita e consagrada, determinam a conduta dos homens, exatamente como fatiam as lei ditas. Nao @ uma visio sem interesse essa de ter apr reitamente a lei escrita do costume difuso. mostra que esas aoue de mais essen x rimeiro lugar, o.que faz a importncia do. coe que a inensidade da forge governamental depende 372 ~ O PENSAMENTO POLITICO CLASSICO. imediatamente dele, e isto por duas razdes: 1.°) © governo s6 tem como forga aquela que ele obtém do soberano, ela consequentemente ndo aumenta se a sociedade ficar no mesmo nivel. Mas ento, quanto mais numeroso ele for, quanto mais ele for obrigado a.usar a forca da ual ele dispde sobre seus membros, menos Ihe sobra para agir sobre o ovo. Logo, sua fraqueza cresce com 0 ntimero dos magistrados. 2.°) Segundo a ordem natural, sao as vontades particulares que sao as mais ativas; a vontade mais geral tem sempre algo de mais facil e de mais justamente porque cla ¢ artificial; as outras vontades co. icam-se entre esses dois extremos segundo seu grau de generalidade. A ordem social, ao contrario, supde esta ordem der. Tubada e que a vontade geral supere as outras. Se entlo todo o gover- oO est nas maos de um 86, a vontade geral do corpo governament confundindo-se com a vontade particular de um 56, participara da fensidade desta e tera a sua energia maxima; e, como é do grau de von- , ndo o tamanho, mas 0 uso da forea, 0 governante lade possivel. Sera o inverso se houver tantos gover- nantes quanto &, se 0 poder executivo estiver unido a0 legislativo (democracia), pois entao sé haverd a vontade geral com sua fraqueza natural (II, 2). 'n6s vimos que a forga do governo deve crescer com 0 tamanho do Estado. Donde segue que o niimero de governantes depende das dimensoes da sociedade e, por conseguinte, de mancira is ‘magistrados deve estar na razio inverse do niimero dos cidadios”’ (IIL, 3). A forca do governo, definida pe dimensoes do érga0 governmental, encontra-se assim ligada as di- mensdes do Estado, Estabelecidos esses principios, parece que ndo hé mais nada Para deduzir deles, a nao ser que *‘o governo democratico convém aos Pequenos Estados, o aristocritico aos médios € 0 mondrquico aos ides”. E bem isso, com efeito, o que ele diz (IIL, 3), mas ele nao se la a essa conclusto: ele chega a comparar os diversos governos visando a determinar o melhor. Nao ha, aliés, nenhuma contradicao no fato de ele se colocar esse problema, Sem diivida, cada governo Pode ser o melhor relativamente a tal cons ‘éncia. Rousseau esta téo longe quanto po: mesma forma possa convi governo nao convém a qualquer pais.). Mas, por outro lado, esses diferentes tipos de governo satisfazem desigualmente as condigces leais da ordem social. Esta sera tanto mais per Ccoletivo reproduzir mais completamente, mas sob espé mente novas, 0s caracteres essenciais do reino natural. Ora, CONTRATO SOCIAL F CORPO POLITICO — 373 respondem diferentemente a esta exigéncia fundamen- as leis que unem a natureza do governo & natureza da questo pode formular-se assim: Quais so os limites dade para que ela seja uma imagem transformada, ida quanto possivel ‘ovo de deuses, governar-se-ia democraticamente. Um Derfeito nao convem aos homens” (Il, 4). 1-°) No ¢ /ontade geral se aplique de uma maneira regular a casos in- 0 pode resultar confusdes anormais¢ perigosas. 2.°) O oder executivo é continuo e 0 povo nao pode perturbagdes. Retomando a expresso de Montesquieu, ‘que ela tem a virtude por princi \do ele, a torna pouco prati monarquia parece-Ihe o pior dos regimes, porque em 0 lugar a vontade particular tem maior dominio. O ia porque tem suas dimensoes pode, entao, facilmente por a perder a vontade geral, Entre -mos encontra-se a aristocracia que se aproxima do i . Por aristocracia, ido por uma minoria > experiéncia, quer pela inspirando-se em Montesqui as daquelas do primeiro, ‘© que chama de monari essa diferenga encontra-se na maneira diversa pela qual Rous- ntesquiew representam a sociedade. Montesquieu chegara a E esta sociedade, ele acreditava encontré-la realizada na — 0 PENSAMENTO POLITICO CLASSICO CONTRATO SOCIAL E CORPO POLITICO — 315 sociedade francesa da Idade Média, completada com o auxilio das ins- es inglesas. Para Rousseau, ao contrario, a vonta antagonista da vontade comum. “Numa legislaco perfeita, a vontade articular ou individual deve ser nula’” (III, 2). As ligagdes de indi- viduos com individuos devem ser reduzidas a0 minimo. "“A segunda [da qual tratam as leis] € a dos membros entre si ou com 0 cor- © essa relagao deve ser, no primeiro caso, t2o pequena, ¢, ‘40 grande quanto possivel, de modo que cada cidadao se encontre em perfeita independéncia de todos os outros e em uma excessiva dependéncia da cidade” is tara melhor o estado natural onde i e sO dependem de uma forga geral uma tal coesao s6 é possivel numa cidade medianat a sociedade esta presente em todos os lugares, onde todos so co- locados em condigdes de existéncia mais ou menos pat mesma vida. Num grande povo, ao contrario, a diversidade dos meios as tendéncias centrifugas. Cada ‘individuo tende mais a io sentido; e por conseguinte a unidade politica s6 ‘ragas & constituigao de um governo to forte que ele ir 2 vontade coletiva e degenerar em despotismo (II, 9). Eomesmo ocorre coma exclusdo dos grupos secundarios. Toda essa teoria dos governos se move, alias, em meio a uma contradieao. Em virtude de seu principio fundamental, Rousseau s6 pode admitir uma sociedade onde a vontadi poder governamental deve superar o do povo; 0 que é ado social. ‘Reside ai o vicio inerente e inevitavel que, causa da lenta usura que necessariame: ise estado mérbido pode se realizar de dois modos sem que as condigdes gerais do Estado tenham mu- se fecha e ganha assim uma forga que no é propor- es da sociedade, Ou entio, acontece que todo 0 poder soberano ou que os magistrados em particular 6 devem exercer em corpo. java 0 governo ao povo esti ssociagdo tomba em ruinas, ou pelo menos, dela s6 jueno micleo formado pelos membros do governo. Eles ‘0, por si mesmo, uma espécie de Estado, mas que nao mh a grande massa dos particulares outra relagao que a Wo. Peis, o pacto rompido, s6 a forca pode manter os n estado de obediéncia. No segundo caso, 0 Estado se dis- tem tantos chefes quanto governantes € porque a overno se comunica necessariamente ao Estado. Esse olugaio decorre ent do fato que a vontade pes- iro € devido ao fato que a vontade g iia vontade geral do corpo politico (1 ral seja autoridade ab- mncia de um governo esta tao em contradi¢ao com os josofia social de Rousseau que ito, a vontade geral, fonte de toda ; “sua forga ndo passa da forga publica im principio, ele s6 deve obedecer. O que ho impede que uma vez. constituido ele seja capaz de uma ardo propria. & preciso que ele tenha ‘um eu particular, uma sensibilidade comum aos seus membros, uma forga, uma vontade prépria que tenda Para sua conservagdo” (ibid.). Ele &, portanto, uma ameaga per- é indispensével. Dai uma tendéncia a reduzilo PO que o sentimento de sua necessidade. E © que explica a solugao média pela qual Rousseau coloca aristocracia cima de todos 0s outros tipos de governo, gerais aos atos particulares. Este duplo aspecto do cor- © governo tanto é um elemento adventicio na ordem social que jos, que € ora poder I ‘0, ora poder executive, € as sociedades s6 morrem porque elas so governadas, Ele € 0 que ha ico da democracia. Isto quer dizer que, logicamente, de corruptivel nelas 0 que determina sua corrupgao. Com efeito, em ium momento necessirio da génese de virtude de sua natureza, “‘ele faz um esforco continuo contra @ $0- bera como no ha outra vontade particular que seja » que a von: 0 resulta que, seqléncia da forga do governo de que se trata ir. E 0 proprio Rousseau reconhece a di de soberano que ele era, transforma-se em governo e passa te para contrabalangar a do prin. ta conduta como artificial. E a objesao pode ser tade geral€ afetada deuma fraqueza constitue jamos anteriormente que qualquer governo, sendo — 0 PENSAMENTO POLITICO CLASSICO particular, € contraditério com a ordem soci a wnica forma politica isenta de qualquer contr: Porque nela a vontade governamental é reduzida a nada ¢ a vonti ue, por conseguint is aspectos de uma mesma. ita de intermediario, a vontade geral Mos: DOL our isto é, ela sé pode mover-se m fera de iis ee Se ee ee Ee ‘seau percebe apenas dois pdlos na realidade humana, rimeiro nao passa, sem osegundo, deuma entidade logica, De qualquer modo, ja que 0 tnico , 18 que © tinico perigo de morte, para a sociedade, vem das usurpagdes possiveis do governo, o principal ob- jeto da legislagao deve ser preveni-las. Para isto, o principio é de tor- nar to freqentes quanto possivel as assembléias do povo, e att de essa a intermédio de representantes. O poder legis delegado quanto nao pode ser alienado. As expressamente desejadas pela sociedade rew 10 modo de recolher os votos na assembléia do 0 os votos na assembiéia do povo (IV, 4), a cris ingiulgber somo o tural enearegad de protege 8 sabe. rania contra as usurpagdes governamentais (IV, 5), como a censura destinada a enfentar casos imprevisos( pormenores de organizaco que so, na maioria, tomados do na maiori exemplo de Roma. 0 que prova de novo que o regime da cidade & costars aquele que esta diante de Rousseau e que ela se empenha em teorizar. CCONTRATO SOCIAL E CORPO POLITICO — 377 No entanto, um habil mecanismo constitucional nao seria su- intendimento espont na certa comunhao it Eis porque cada dois poderes assim 1600). “"A. ni ce suficiente (IV, 8). E preciso ‘que 0 faca amar seus deveres” 11 nao admite tampouco a teoria ex isertagdes sobre a unit para assegurar a coesao social. Como esta resulta antes de ineo das vontades, ela nao é possivel lectual. Antigamente, essa comunh3o ‘uralmente do fato que cada sociedade tinha sua religiao € fi feligito era a base da ordem si sitios ao funcionamento da sociedade eram assim colocados sob farda dos deuses. O sistema politico era, ao mesmo tempo, ial. As ideias e os sentimentos cade 1a stia religido e ndo se podia Estado sem praticar sua religiao. snismo introduziu uma dualidade onde sé havia ¢ devia Ele separou o temporal do espiritual, 0 teoldgico do io resultou um desmembramento da autoridade soberana ‘constituidos face a face, el fe cada cidadao tenha uma , por outro lado, ‘ta por Warburton nas ‘da religiao, da moral e da politica 1742), e segundo a qual o cristianismo seria o mais seguro ‘orpo politico. Com efeito, ocristianismo dele se desinteres- nge de ligar os coragdes dos cid 105 20 Es- tose. Nao so essa volta atras nao possivel, como nio & Tudo 0 que é preciso, com efeito, & que cada siidito tenha vvao de ordem religiosa para fazer seu dever. Portanto, os Yor em nome do Estado so aqueles que se eg moral, Quanto ao resto, cada um deve ser livre de professar ue no sof seu império 96 x O corpo politico nao tem que se ocupar com is re stias conseqiiéncias. As préprias raz0es que fazem i le deva intervir no espiritual, marcam os limites dessa inter- ‘Ao. Em outros termos, se for preciso uma religi&o il, dentro dos deve estender-se na medida exigida por [378 ~ 0 PENSAMENTO POLITICO CLASSICO Assim, renunciar & separaeao ilégica e anti-social do espirituall do temporal, mas reduzir a relig poral, mas reduzrareligiao do Estado ao peqeno me Principios nécessirios para reforsar a autoridade a moral, tal & concluséo de Rousseau. Esses princ tT x de Deus e a vida que est para vi das leis, a proscrigao absoluta de tox pane anes do Credo social eninuma elga0 que no folere as outras de seu sci. os membros que ele julgaInignos, Neshoe weeny aa, ticular pode dizer que fora dela nto ha salvagao, ®t Pare ‘A questao de Jean-Jacques Rousseau 17 ERNST CASSIRER* fei da questao de Jean-Jacques Rousseau. No entanto, a propria ‘cio deste tema implica um certo pressuposto — 0 pressuposto ve a personalidade e o mundo das idéias de Rousseau nao tenham Teduzidos a um mero fato histérico que no nos deixa outra ‘a0 compreendé-los e descrevé-los em sua simples realidade. je em dia no pensamos na doutrina de Rousseau como um 'o estabelecido de proposigdes isoladas que podem facilmente \das e encaixadas nas historias da filosofia, através da ‘elo e da resenha de seus textos. £ certo que iniimeras mo- jas a descrevam deste modo mas, comparados com a propria ‘Rousseau, todos estes relatos parecem particularmente frios € ja. ‘Qualquer pessoa que penetre com profundidade nesta obra ¢ ia uma vistio de Rousseau, do homem, do pen i imediatamente o quanto 0 esquema abstrato ‘normalmente se apresenta como ‘‘o ensinamento suficiente para aprender a abundancia interior que ‘0 que para nés se descobre aqui nao é uma doutrina Trata-se, antes, de um movimento de pensamento que jamente se renova, um movimento de tal forca € paixdo que vel, diante dele, refugiar-se na quietude da con- \cho histdr jjetiva’”, Constantemente ele se impoe a nds € jo constante nos arrasta consigo. O poder incomparavel que jor e o escritor Rousseau exerceu sobre o seu tempo baseavase + rhe Question of Jean lasaues Rowseau. Nova York, Columbia Uaivrsity Pret, 1934p. 352, ‘vaduchodeNara Lia Montes.

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