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tempos
Travestidos de pastores/ ou escolta voluntria dos reis Magos/ vamos a
Belm falando de amor e de paz,/ mas ainda assim escondendo/ sob a capa
de qualquer eventualidade/ uma kalashnikov bem oleada. So versos
muito fortes estes de um poeta recndito e agora esquecido, Giovanni
Angelo Abbo, falecido em 1994. curioso que a poesia intitula-se Natal
1987: na realidade, ela ainda mais atual hoje, quando se fala de paz, e
todavia o mercado do armamento e as potncias polticas continuam a
introduzir os seus produtos de guerra e de morte nos vrios pases.
Entretanto o Natal tradicional continua as suas coreografias publicitrias, os
seus aparatos de luzes e de presentes, os seus rituais comerciais.
Entendamo-nos: tambm este aspeto exterior, num tempo em que se tende
a eliminar todo o smbolo ou memria religiosa, tem um significado.
Contudo, com os fluxos ininterruptos e muitas vezes trgicos dos
refugiados, com as bombas de Alepo e as tendas das vtimas dos terramotos
no podemos, como cristos, abandonar-nos impunemente aos gadgets e
aos bolos-reis, s iluminaes e s filhoses.
por isso que pensmos propor uma cena natalcia evanglica conhecida
mas habitualmente marginalizada, a de Cristo refugiado no Egito com os
seus pais. H alguns anos, o pintor Renato Guttuso, numa das capelas do
Monte Santo de Varese, quis representar Maria, Jos e o pequeno Jesus
precisamente como uma famlia de refugiados no Prximo Oriente,
amedrontados, obrigados a abandonar a sua casa errando no deserto.
A liturgia deste Natal, com a voz incansvel do papa Francisco, transformase num apelo a reencontrar entre os rostos assustados dos refugiados que
vemos fluir nos ecrs das televises tambm aquele do pequeno Jesus e
aqueles angustiados de Maria e Jos
In "Famiglia Cristiana"
Trad. / adapt.: Rui Jorge Martins
Publicado em 04.01.2017