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Você está iniciando o estudo da segurança pública. Comecemos com um pouco de história,
então?
Nesta unidade você vai compreender que a segurança é uma necessidade básica da
vida humana em sociedade e possui duas dimensões: a Interna e a Pública, portanto, a partir
dessas características, você conhecerá um pouco mais sobre como processo se deu ao longo
da história, considerando, inclusive outros territórios, suas culturas e valores. Como surgiu a
Segurança Pública moderna e como as constituições contemplam o que se caracteriza um bem
fundamental para a manutenção da harmonia em sociedade e a preservação da dignidade
humana.
É interessante você saber que Platão, na sua clássica obra “A República”, já faz
referência a isso quando diz que “O que causa o nascimento a uma cidade, penso eu, é a
impossibilidade que cada indivíduo tem de se bastar a si mesmo e a necessidade que sente de
uma porção de coisas”. Nos primórdios da civilização humana, então, as pessoas trataram de
se organizar para a vida em sociedade de tal forma que um grupo, escolhido entre toda a
população, passasse a fazer pelo povo tudo aquilo que ele não poderia fazer por si só e que
fosse de interesse público. Surgia, assim, a figura do servidor público.
• Segurança Interna
• Segurança Pública
Segurança Interna
Embora o nome insinue a pensar que seja uma segurança do interior de um Estado,
trata-se de todas as medidas adotadas para a garantia da SOBERANIA NACIONAL. A
segurança interna, portanto, é decorrente do agir, ou da prontidão para agir, de um grupo de
servidores públicos treinados e com os equipamentos necessários para responder com o uso da
força bélica a todas as violações, ou possibilidade de violações, das fronteiras do país, com o
desejo de garantir o exercício livre e soberano do governo. Estes funcionários são os militares
das Forças Armadas. Eles são guerreiros que, treinados para tal, combatem ao inimigo com o
desejo de eliminá-lo e, assim, garantir a soberania nacional.
Segurança pública
Esta possui uma dimensão diferente. Ela é exercida por uma gama de servidores
públicos, conforme ainda veremos mais à frente, para a garantia do exercício pleno da
cidadania, situação na qual o povo de um Estado vê seus direitos civis e políticos garantidos
pela ação do governo. Em outras palavras, a segurança pública, enquanto procedimento de
governo que busca fazer pelo povo tudo aquilo que ele não consegue fazer por si só para o
bem viver no território, visa a garantir um código de convivência social, materializado no
arcabouço legal vigente, onde estão expressas as vontades e desejos do povo, elaboradas e
votadas pelo Poder Legislativo, cujos integrantes ali estão por terem sido eleitos como
representante do povo para tal fim.
Veja o que ele diz referindo-se àqueles que seriam os guardiões da paz e da
tranqüilidade da cidade:
Sendo assim, filósofo, irascível, ágil e forte será aquele que destinamos a tornar-se
um bom guardião da cidade. Embora seja possível imaginar que esteja falando do servidor
engajado na defesa interna da cidade, logo adiante Platão deixa claro que fala também de
quem fará a segurança pública.
Acompanhe:
Tal será, então, o caráter do nosso guerreiro. Mas como educá-lo e instruí-lo? O
exame desta questão pode ajudar-nos a descobrir o objeto de todas as nossas pesquisas, isto é,
como surgem a justiça e a injustiça numa cidade. Precisamos sabê-lo, porque não queremos
nem omitir um ponto importante nem perder-nos em divagações inúteis. Veja que, se Platão
assim trata o assunto, pensador influente que é na formação do pensamento ocidental, é de se
esperar que todos os que o sucederam tenham sido conduzidos por essa linha de pensamento,
como de fato o foram. Assim, segurança pública, por muitos e muitos séculos, foi confundida
com defesa interna.
a) No Egito
Um dos primeiros faraós do Egito, Menés, cita o mesmo autor, promulgou um
código em que seus súditos deveriam se cadastrar para o senso e, para tanto, deveriam
procurar os magistrados, que exerciam funções policiais.
b) Na Grécia
Apesar de os gregos terem legado à posteridade a palavra polícia, era a sociedade
que menos uso fazia da atividade policial, mercê do equilíbrio social e da consciência cívica
de seus cidadãos. A polícia confundia-se com o conjunto das instituições que governavam a
cidade. O grego entendia que um Estado bem policiado era aquele em que a lei, de um modo
geral, assegurasse a prosperidade e o equilíbrio social.
c) Em Roma
Roma, com uma população aproximada de 126.000 pessoas, era policiada por 7.000
homens (7 coortes vigilum), com 1.000 policiais cada uma delas. De início, as funções
policiais confundiam-se com as de judicatura.
Você sabia?
Que durante a Idade Média, o poder esteve nas mãos dos senhores feudais e da
Igreja Católica? É, os senhores feudais tinham seus próprios exércitos para defesa de seus
feudos e a Igreja como única fonte de controle social; e, que a Igreja católica usou seus fiéis
como inquisidores para policiar os hereges, interrogá-los sob tortura e mandá-los,
posteriormente, para a fogueira, caso não professassem os dogmas da Santa Igreja?
Quando aqui chegou, D. João VI trouxe consigo a Divisão Militar da Guarda Real
de Polícia, considerada como sendo o embrião da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro,
iniciando assim a história da Segurança Pública no País.
Na época da declaração da Independência, em 1822, a segurança da população se
confundia com a própria segurança do país. Não se tinha nessa época a noção que temos hoje
a respeito de segurança pública, tampouco organizações que se dedicassem exclusivamente a
este mister. A própria legislação era omissa quanto a esse assunto. A Constituição do Império,
de 1824, por exemplo, nada referenciava a respeito de segurança pública.
A primeira lei que trata do assunto foi a Lei Imperial de 1º de Outubro de 1828, que
dispunha em seu art. 66: Das Câmaras Municipais - TÍTULO III - Posturas Polícias art. 66 –
Terão a seu cargo tudo quanto diz respeito à polícia, (...)
pelo que tomarão deliberações, (...)”.
Como você pôde observar, a lei delega às Câmaras Municipais o exercício do poder
de polícia. Em 1831, durante a regência do Padre Diogo Antônio Feijó, os governos
provinciais são conclamados a extinguir todos os corpos policiais então existentes, criando,
para substituí-los, um único corpo de guardas municipais voluntários por província. São
criados então os
Corpos de Guardas Municipais Voluntários, por meio de Lei Regencial. Estes
Corpos de Guardas se constituíram no embrião das Polícias Militares em quase todos os
Estados da Federação.
Por motivos diversos, mas igualmente, com uma visão bastante avançada, Feijó
determina que a nova polícia brasileira deveria ser hierarquizada e disciplinada, composta
exclusivamente por voluntários que se dedicassem permanentemente, em tempo integral e
com todas as suas energias, aos misteres policiais.
Em 1834, a Lei Imperial nº 16, também chamada de Acto Addicional, uma espécie
de emenda à constituição do Império, delega às Assembléias Legislativas Provinciais a
competência para legislar sobre a Polícia e a Economia municipal.
Diz o texto da Lei Provincial nº 16 de 12 de Agosto de 1834: “art. 10 – Compete às
Assembléias Legislativas Provinciais: § 4º - Sobre a polícia e a economia municipal
precedendo propostas das Câmaras”.
Com base nessa Lei Imperial, foram criadas nas províncias as Forças Policiais, com
a função de atender aos interesses da Monarquia, evitar aglomeração de escravos e atender
aos anseios
da classe dominante, além de se constituírem em braço armado do poder público para
execução das posturas municipais.
Em 1840, a Lei Imperial nº 105 de 15 de Novembro, em seu art. 1º, definiu que o
termo polícia, de que tratava o § 4º do art. 10 do Acto Addicional de 1834: “(...) compreende a
Polícia Municipal, e Administrativa somente, e não a Polícia Judiciária”.
O governo federal resolveu então controlar as Forças Públicas, fato que não ocorreu
durante a República Velha. Em 1934, novo acordo entre a União e os Estados ratifica o
acordo firmado anteriormente, tornando as Forças Públicas, oficialmente, força reserva de 1ª
linha do Exército.
Em seu art. 167 definia que as Forças Públicas eram consideradas reservas do
Exército. É a primeira referência constitucional (em nível federal) sobre as Polícias Militares
enquanto organizações.
No início da década de 60, mais precisamente em 1964, o país voltou a passar por
momentos de turbulência política e social, que culminaram na Revolução de 31 de março de
1964. Novamente o país voltava a viver em um regime de exceção, com restrição das
liberdades políticas e individuais. Como em outras épocas de nossa história, esse regime
caracterizou-se pela centralização e excessivo controle sobre a Segurança Pública,
restringindo a liberdade dos Governadores de organizar os órgãos de segurança estaduais.
Diz a Constituição de 1967, em seu art. 13, § 4º: “As Polícias Militares, instituídas
para a manutenção da ordem e segurança interna nos Estados, (...), e os Corpos de Bombeiros
Militares são considerados forças auxiliares, reservas do Exército”.
Convém lembrar que a partir de 1964 as Polícias Militares passaram a ser
comandadas por Oficiais do Exército, que repassaram às Corporações os valores adquiridos
naquela Força Armada. Com isso as Polícias Militares passaram a dar maior prioridade à
defesa interna e à segurança nacional, em detrimento da segurança pública. Começava uma
era em que a Polícia seria considerada o braço visível do período ditatorial.
Você sabia?
Que com as revoltas estudantis ocorridas no ano de 1968, além de outros fatos, o
regime de exceção foi endurecido em 1969, resultando na publicação dos chamados Atos
Institucionais e na Emenda Constitucional nº 1, de 17 de Outubro de 1969, por muitos
considerada como uma nova Constituição Federal?
Essa emenda não alterou os dispositivos constitucionais previstos na Constituição Federal de
1967, no que se refere às Polícias. O artigo 183 define ainda as Polícias Militares como força
auxiliar e reserva do Exército, instituídas para a segurança interna e a manutenção da ordem
nos Estados.
Na Inglaterra, em 1829, coube a Sir Robert Peel, primeiro ministro inglês, homem de
ampla visão em problemas de criminalidade, enunciar os famosos princípios, que ganharia o
seu nome.
Uso da força pela polícia é necessária para manutenção da segurança, devendo agir
em obediência à lei, para a restauração da ordem, e só usá-la quando a persuasão, conselho e
advertência forem insuficientes.
A polícia visa à preservação da ordem pública em benefício do bem comum, fornecendo
informações à opinião pública e demonstrando ser imparcial no cumprimento da lei.
A polícia sempre agirá com cuidado e jamais demonstrará que se usurpa do poder
para fazer justiça.
Neste período, quando eleito para ocupar um cargo do poder executivo, o político
constituía a sua polícia e passava a administrá-la para atingir os seus objetivos pessoais. O
agente de segurança, neste contexto, é considerado o último escalão na descentralização do
serviço público municipal. Ele é o representante ambulante de informações e queixas do
governo da cidade, acessível aos cidadãos que tenham alguma dificuldade ou delação a fazer.
O fato de o policiamento estar disponível em todas as horas do dia e da noite possibilita ao
agente de segurança prestar aos cidadãos e ao governo esse tipo de serviço.
A fase denominada de polícia política foi substituída, por volta do ano 1910, pelo
que ficou conhecido como reforma ou fase da polícia profissional.
Duas grandes frentes foram atacadas para que houvesse a reforma. Veja quais foram:
Para Wilson, fazer segurança é identificar pessoas e locais de risco e patrulhar esses
locais para prender as pessoas de risco. Ser profissional, então, é saber identificar as pessoas
de risco e aplicar as técnicas especificadas para reprimir eventuais ações dessas pessoas de
risco.
Esta fase que hoje ainda exerce influência no pensar e agir da segurança pública dos
países ocidentais, incorreu no erro de estabelecer que o profissionalismo policial implicava
atuar exclusivamente nos locais de prática de crime e violência para reprimir o criminoso.
Todas as demais necessidades que porventura pudessem ter os envolvidos na ocorrência
poderiam ser de qualquer outro órgão público menos da polícia, que já tinha feito o seu
trabalho combatendo o criminoso e que, por isso, deveria se retirar do local mesmo deixando
cidadãos desassistidos para trás.
Define risco como toda a situação que possa gerar um incidente que requeira a
atuação policial. Os riscos podem gerar crimes, contravenções, acidentes e congestionamento
de trânsito, desaparecimento de pessoas e de objetos e outros incidentes que necessitam da
atenção da polícia.
Você sabia?
Que um episódio muito marcante foi a depredação dos órgãos públicos e viaturas
de polícia feita por negros de um bairro de ew York que protestavam contra a decisão
judicial de inocentar dois policiais que haviam matado por espancamento um negro, no ato de
uma prisão por motivo fútil?