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Yonne Leite Dinah Callou Como Falam os Brasileiros 4 edigao 4@ yY ZAHAR Introdugado E através da linguagem que uma sociedade se comunica € retrata 0 conhecimento ¢ entendimento de si propria e do mundo que a cerca. E na linguagem que se refletem a identificagao e a diferenciagao de cada co- munidade e também a insergao do individuo em dife- rentes agrupamentos, estratos sociais, faixas etirias, géneros, graus de escolaridade. A fala tem, assim, um cardter emblematico, que indica se o falante é brasileiro ou portugués, francés ou liano, alemao ou holandés, americano ou inglés e, mais ainda, sendo brasileiro, se é nord tino, sulista ou carioca. A linguagem também oferece pistas que permitem dizer se o locutor é homem ou mulher, se é jovem ou idoso, se tem curso primirio, universitdrio ou se é iletrado. E, por ser um parimetro que permite classificar 0 individuo de acordo com sua nacionalidade e naturalidade, sua condigao econdmica ou social e seu grau de instrugio, é frequentemente usada para discriminar e estigmatizar o falante. De uma perspectiva estritamente linguistica, nao se justificam julgamentos de valor, uma vez que a facul- 7. dade da fagem € inata © comum a to WS exivtentes entre ay presentam apenas formas de facul hun na. As ereng 0 dist de universal, Assim, para o | mem € igual nao s6 pet a sua capacidade | de Ista Como. ¥ do scale XX Joao | clementar de todas as ciéng s€ quue objetiv pode haver um fen eno bom © outro n todos sao essenctalmente legitimes, Nao EXISTE, asi vanante boa ou md, tou lingua pobre, ow nterior O que ocorre & supe! a Variab: ha produigao » MUITAS vezes determ sociats, que nao é excl © inerente a todas. O Sa0 as tealtzagives pore da por farores siva de uma lingua, € universal que hd de concreto no cotidiano dlividuais que ocorrem A nossa volta, a comunICagaO S6 se efetiva devido 2 existencia dle uma representay.io abstrata, compartilhada por um Brupo maior ou menor de individuos, que vem a ser a gua nacional x, you z E de se esp ar dessa forma que na extensio do eritorio brasileito haja uma unidade linguistica, a lin 7 Lisa Portuguesa, mas também diversidade, os fa- dares brastletre: ares brasrleires. © falante do norte do pais nio tem a4 menor ditic henor Wificuldade em entender o falante do sul, embora ocorram diterengas ma fonética, © no léxwo. P ae "cxemplo, a uma mesma fruta atri Ntas regionalmente diferentes, tais buem-se pala COMO FALAM OS BRASH tangerina, mexerica, laranja cravo ou berga- mota. pinha, fruta de conde ow ata, goitha ow aracd cia, opyies lexicais proprias de cada regio. ayes, quie S40 mais flagrantes no vocabu- Bos. tiv € na pronuncia, nao compromerem a unidade maior de entendimento entre os falantes. Toda essa variagao linguistica explica-se, nas palavras dle Anténuo Houniss, pelo proprio processo de coloni- por influxo indi- zaga0 do pais: dialetayao horizon cna e diferenciayao vertical entre fala do luso ea fala do nascide ¢ criado na terra. Segundo 0 cientista social Manuel Dicgues Je, 0 Brasil pode ser considerado como uma vasta expe em que as mais diversas relagées de ragas ¢ culeuras — ncia de pluralismo étnico e cultural, que se processam ¢ se processaram no cenario brasileiro — sio responsdveis pelas diferengas existentes entre regides ¢ dreas geograticas do pais ¢, consequentemen- te, pelas diferengas entre os diversos falares brasilciros. A grande questio nunca foi a da intercomunicab dade, mas sim a da padronwzagio de uma lingua falada escrita para fins cultos. Por uma ou outra raza0, a escolha de um falaclocal padedo sempre girou em rorno de trés grandes centros urbanos, a saber, a cidade do Rio de Janciro, a de Sio Paulo e a de Salvador. A preferéncia recaiu sobre a cidade do Rio de Janciro ese deveu, prioritariamente, a razées extralinguisticas: 0 fato de o Rio de Janciro estar geograficamente no centro de uma polaridade norte/sul, ser centro politico fa mass tempo. capstal di Colina dende 1765, € sep eeu area cua inguagem culta tende a apreunne sence numero de marcas locals € regionals, com ume tendencia universalist, dentro de pais. Nao hi como. egat gue. em termos socioeconienicos. S40 Paulo ha mano superou © Rio de Janeito. mas, por outro lado, mantem a sua marca localista, pelo menos na fala, a marca do chamado “dialeto caipira™. Salvador, cmb ‘capital durante a maior parte do Brasl-Coldnia, sotreu forte importasao lexical das linguas afticanas, apresen tando um tipo de entoayio descendente, denominada fala “cantada’, ¢ caracteristicas foneticas marcantes, como a de vogais abertas € perda pronunciads do r final. Como todos bem, esas marcas regionals, tanto do dialeto caipira quanto do dialeto hatano, si cstig matizadas pelos falantes de outeas drcas do pais. Coscuma-se dizer que 0 falar carioca € 0 que mais ‘quidistante se encontra do norista, do nordestino. do ‘onental. dosulistaedosertancjo,equeo Rio de Janciro Possui condicies geogrificas, histéricas, politicas €, inclusive, inguisticas, para ser um centro unificador. Dois congressos nacionats,o de Lingua Cantada, orga- ‘uzado em 1937 por Mano de Andrade, escritor e figura hminane do Modernsmo em Sio Paulo, ¢ 6 de Lingua Falada no Teatro, realizado em Salvador em Wt. deseumse wie cus guctie eens hae Intadedecatabelcetnermas de ambito generalists ue, ‘fe um lado, eepresentassem 0 ideal lingustica da cor pruned bases coe wen ate Se ot, Faciwem (om que s€ CDATESSE OSE ; media que nao cortespondesse des fuss Brass mo pass ie também evitat D dos prunidas de orgulho tee dos momento. wxtaquuc 21he% principal Camp m ane ta promancia € "hs fora de um talante de area no peal Tina que ae seers munud dentro se umn quairo gerade g Leristicas fonéticas ¢ morfossintancas, ¢ de Funda “hase canon’ a partic de uma bora com ressalvas, a mda or i mmportincs star ese nguna canoca em Cees ur evidente, se verula relasao aos outros falares € ton deito, este comportamente medi Uma visio geral do Brasil: (© mito da homogeneidade A opesisao entre as variantes brasileira € europeia dla lingua portuguesa jd foi reconhecida, conquanco tenha, suscitado polémicas, durante algum tempo, sobre a ‘exiséncta ou nio de uma “lingua brasileira” ¢, por mats ‘tempo ainda, sobre seu cariter uniturme ¢ conservador No que se retere ao portugués do Brasil, predominava Me 2 concepyao de lingua como reflero e expressan da cultura ca da superionddade cultural dos brancoweboe dios. Ao advoyzarem a “lusitanidade” ds 108 negros € ine Hos0s teriam, necessatiamen cultura brasileira, os estud fe de admitir que havia uma identidade linguistics uma homogencidade dentro de um conjunte hetens éneo, mars recentemente chamado de brasil”. Segundo Jose Honstio Rodrigues, si uo istituinte de 1823 0s repre “portugucs ‘ocasing da Assembleta ( sentantes de diversas provincia foram capares. de difcrenga de proséduae, av mesmo tempo, a observar a d bre més ‘pualdade da lingua que todes falavam. A céle ma “unsdade na diversidade e diversidade na unida de" €« ponte centtal da questao sobre o portugues do Brasil Um territétio de 8.5 milhoes de quil uadrados, com uma populagio hoje estimada em 1.0 mithirs de habitances — com indice ainda alto de anaitsbetism "? — mio poderia apresentar um Satie Bogwistica homoginco. A diversulade que Cand the Ponce expctha uma pluralidade £42 * pede presumir para a erpansio do ertunués no Brand una forma hnguinecs ie fw 4 choca em que we dew a colonue an nee See frac onuzas40, a origem dm conta Hic nesuencin inpulenese ce petetoReneo sa aspecton gue dance Samadcradon Une text come ado Reo Gane colonizayio se dew por processo diferente da maior is, na base de casais, com mncigetasso, im Babua, rae dom quadea wlénica a0 do Basil Cental enone cole ros pontos do. atual nor homens, com maior mestigagem, Em decortén. ce dion ts vesperas da Independencia, 0 Brasil possula uma populacio estimada em 1.347.000 brancos € 3.993.000 negeos € mestigos, entre escra: vos ¢ livres, mas a distribuigao populacional era irregular, com maior concentrayio de negros em Pernambuco, Bahia, Minas Gerais ¢ Rio de Janciro. Na verdade, toda essa complexidade dificulta ou torna praticamente impossivel tragar um quadro completo da variagao dialetal € socialmente dife- renciada resultante do contato com outras linguas , por sua ver, de mudangas ocorridas na lingua portuguesa tratida para cd. ‘Outro aspecto que surpreende os nio especialistas € indo pode deixar de ser posto em relevo é 0 de que, até a primeira metade do século XVIII, a “lingua geral” indigena era predominante. O historiador Sérgio Buat- ‘que de Holanda informa, com base em relatorio escrito por volta de 1692 pelo entio governador do Rio de Janeiro, que os filhos de paulistas primeiro aprendiam a lingua indigena © 4 depois a materna, isto é a portuguesa. Em alguns pontos, até 1755, a lingua 13. Minor) "Se impor na Aria, emi, riadores Corte sean thee Infor acal Embora a ¢ asec Poe: Hinguas indigenes as coo és, Bués, segundo estimativa do minio, ainda hoje h4 grupos i grandes centros urbanos, como os do Rio de Janeiro, em Sio Paulo ¢ tambon oon Grande do Sul, que conservam sus line ye 8 A Constituigao de 1988 assegurou as popelyo : ee oes eens Sa sua divesdade lin i ural, nhecimento oficial de ser o pais multilingue. O portugués falado por essas populagées tem sido alvo de poucos estudos siste- miticos, mas o numero jé € suficiente para mostrar que se tem um outro tipo de hererogencidade, & qual se deve somar o do portugués falado por con- tingentes de imigrantes japoneses, italianos, ale espanhdis, libaneses, sem esquecer esa, agorianos, povei- devem set lembrados mies, poloneses, de falantes de origem portugu ros ¢ transmontanos. Também 214. onizag20 ever. oria da ol ente ca exist ecida. Esse na leigao, do Rio de Janeiro. de om yresenntante junto ao Con- de 1982, 0 que evidenci2 i isti 10 ma maior abertura Tinguistica. Por outro lad x . ge um pais monoli \izaga ee de uma persiste aidealizagao monoling® i Bamatica pura, inmuravel, o mals proxima posstv é do Adantico. © pre- portuguésfalado no outro lado do A 0. OF conceito linguistico por parte da sociedade € dificil d gresso Nacional nas cleises grnicae’ +18. mico-soci social que, ee i assim, asse tera assegura 0 seu prima politico-cultural. Cumprira surah jente democratica ¢ igualittia,teconhecer st . Feconhecer a versidade e com ela trabalhar, no sentido de possi cla War a todos os usudrios da lingua 0 acesso as normas prestigiadas ¢ as mesmas oportunidades Assumindo a diversidade Gaerats, 0 Aulas lM do Parand, para Citar a elabo- dinguist1co de Minas Me Paraiba © 0 Ads Lingus do Param P So agora est em CUES inas os alas gerais: ee apenas Urn atlas geval: 0 APL#S Tinguistico do Brasil dogitada hi quase 50 480% mas sempre ae erpoes, a extensio certicorial cae a falta (ALB) tarefa adiada devido, entre 0% ddo pais, 8 assimetria da densidade demogss se prearsos humanos ¢ financeiros Para UM empre- ae jimenwo de tal wuleo. © objetivo, € F225F 8 retrato se prs ito, dar conta da diversidade existent, O° ether, da dialetacao do portugués, a fim de cornar idvel a tao complexa delimitagao de reas proprias cada fendmeno linguistico. Em suma, seria importante confirmar ou infirmar a tese de que as divisoes diale- tais no Brasil 40 menos geogréficas que socioculturais ¢ de que as diferengas na mancira de falar sao maiores, We di lo sul, apresenta um critério de n: ee : atureza prosidica — ima de cadéncia — e um de natureza est ‘ a esta mente fonética, a pronuincia das vogais antes do acento (pretOnicas): vogais abertas, caracteristicas da regiio norte, versus vogais fechadas, caracteristicas da regio sul. Em 1953, Serafim da Silva lan Antenor Nascentes, que juntamente 2% cou as bases para a elaboragio de fs wva que a divisio um atlas lingufsuco do Brasil, foes si grande dificuldade: a falta de ane das +jsoglossas”> isco é, lin: 18° Mapa J. Divisio das areas linguisticas, segundo Antenor Nascentes 219+ Atioga, S CATACteristic ; 28 sdo a ser imitad. ae 20m, AS Nos Meio de Mareantes eam, Aas novel as novelas, dle massa — Por uM personagem, a fala de uma der geogedfica. A linguagcm televiva ws tragos singularizadores, acabando por caricature ¢ igualar a fala de nondestinos ¢ nortsas bannos per amaronenses va usa € abusa desses mambucanos, paraibanos ou cearenses cou paraenses. Merece mensio o ca db mane Fe do ed antcs do som i em paws com ada tipica do falar jo falar baie dental do tipo, mentira. desdec ditade, Considers! eral ine nordestine — no qual emf alse em algu™ exacerbadas poe ceed “Grilos amaticals: do ese Seni mal O Globo de crdnicas como Crake, Ribeiro, publicada 14.06.1987: no jo Anigamence, nordestino no falava *s6-brinho” ¢ “te thado”, como hoje a gente ouve, €m contraposigao 20s aaa autstas’ "é-brinho” ¢ “té-thado”, Falava “su- brinho” ¢ “té-lhado” mesmo. Mas af chegou o nortés da Rede Globo ... ¢ até os nordestinos se convenceram de que 0 certo € dizer “sé-brinho”, que € como se cscteve. A inica diferenga entre 0 escrito € 0 falado & a de que todo nor Je que todo nordestino tem de abrir a vogal ¢ todo 12s re . alae rented af Ca € 60 YC qualidade de nascido ¢ criado em Fora na mor dor do Rio de Janeiro ha Mapa 2. mites do foler boron na dovisS0 proposta por Antenor Neascentes +2. de tletrados, Nensa diveraite a Por ws nbeleai 40. A vartacay 14 que a norma cules na wha pad Ciada nas gy ramiticas tra abstrag3 escolares, 114440. AS normas cultas san & izadas como fatos dialeas ce etats ees lares devem ser estudadas penn adas precis, Normas locais. For nese Beis He i ido « © Projeto de Estudo da Norma L Norma Culta (Projeto NURC), que nha por f as normas linguisticas de cinco capitais bras to Alegre, Sao Paulo, Rio de Janeiro am vador e Re através da andlise da fala culta média habinal Ess cidades proporcionam uma amostra relativa a uma populagao urbana concentrada em quatro cidades fun- dadas no século XVI ¢ uma — Porto Alegre —noséculo XVII, distribuidas por nossa extensio territorial mais densamente povoada, correspondendo, groso modo, is regioes geogrificas do Sul (POA), Sudeste (SP € RI) € Nordeste (SSA € RE). ‘ Esse projeto disponibilizou uma documento nora de mais de 650 horas de registros oe ae no pais, capaz de fornecer dados bugis : pia ae cmos eles me gos> aulas, conferéncias- os idealizadores do projeto brasileiro, 4! as, Tf alo atascame nto renos, HAs MO- as de Porto Ale Rio de considerados Centres urba- | Sao Paul ¢ Reet Janeiro. y mais Alem re cultura, pusderam comprena os ta uma ver, 695 diversidade de fi rn iqao se detectou, como seria dle espera uma comncidencia entre © comportamento linguistico desses Jares € NOTMAS. falares € suas respectivas areas geogrificas: Recife, por cxemplo, incluida na reghio Nordeste, aprosimaSt ceas veres, mais de Porto Alegre que de Salvador oO Roo de Janeiro, cujo dialero é considerado 0 “padrio” em relacio aos falares brasilciras ¢ é incluido entre os dialetos do Sul, apresenta realizages que ora 0 aproxi- mam de uma regiao, ora de outra: no caso do 7, de Salvador ¢ Recife, ¢ no caso do famoso “chiado” cario- ca, apenas de Recife. Em outros casos, afasta-se tanto de Recife quanto de Salvador, aproximando-se mais de Sao Paulo € Porto Alegre, como no uso do artigo diante " nomes de pessoas, 0 Jodo, a Maria, usado mais requentemente na regiao Sul, em oposigao a Jodo, +28. 0 falar cari jt Carioca no conjunto dos falares bras leiros Ha 80 anos, 0 carioca Antenor Nascentes, seguindo os Passos do paulisca Amadeu Amaral, autor de O dialeo caipira, descrevia o falar do Rio de Jancito, afirmando, no prefécio da primeira edigao, que seu trabalho nio era para a sua geragao ¢ que somente dali a cem anos os estudiosos encontrariam nele uma fotografia do estado da lingua € neste ponto seriam mais felies do édbvio, do falar de 1822. que ele, que nada encontrara, ie Filho de pais cariocas, nascido criado no entdo 1 F “legitimo repre: trito Federal, considerava-se um fe : a sentante da fala genuinamente carioca fazer o estudo dela ..."- Sian XX, esa fia by eabscrvayncs 48 CONvENCOES Mapa 3. Limites do falar fluminense na divisso proposta por Antenor Nascentes +27 Ser ede Outro, Se esten, de por uma érea de fe deuma cidade que a, tanha, justil i a » justifica a diferenca no pl IMDIto socioecondmico, oe oan eg Ea i m, = que © contra lencia, ¢ foi em funsio disso que acaptal une ital Aum nense foi escolhida para ser o primeiro municip seu préprio Relatério de Desenvolvimento Hee feito em parceria pelo Programa das Nagées Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o Instituro de Pes- quisa Econémica (IPEA) a Prefeitura,conforme pu blicado no jornal O Globo de 24.3.2001. ‘As razoes dessa diferenciagao nao se aponm mente na geografia da cidade, embora as diferensas sociais estejam relacionadas as diferensis Caan processo de neh direta- modo, a esto da cidade. vrana marcava vu a unidade «Pac sa0 norte urbana, ™ ho do proieto 43 1850. A cidade. de" u paroquia ios de jus I/populacional possa explicar, €m Pa wavem hoje na fala de mers ‘da cidade — Zona Norte, esta tiltima com resqul abrangendo toda a area residen- ida a0 longo das linhas ferreas ial ‘o decorrer do sé Estrada de jo, dividia-se em do a abranget erative aexpan da implants: Pedro Il. em diversas freguestas © os cerrits 5. passany isdigao adminis’ era privile iferenyas mais tarde, ilidade espacial = ‘A mobilidade espact cae dores das Zona Sul icios de poucos ¢ talvez linguisticas que © tradicionais dreas: ¢ Zona Suburbana, caracteristicas rurais € cial e industrial consutux 4 parti das tiltimas décadas do século XIX. Sio os diversos aspectos caracterizadores da mobill- dade econémica, cultural ¢ social que marcaram o Rio de Janeiro nos tltimos dois séculos que tornam possivel entender a dinimica linguistico-educacional neste ter- ceiro milénio. Os resultados do Relatorio de Desenvol- vimento Humano apontam um Rio de contradigoes, em que a escolaridade mais alta € a da Zona Sul, com 11 anos, seguida da Zona Norte, com 9, ¢ dos subur- +29. ‘ Cinco adultos, pelo menos, tendo iniciado 0 curso superior, Acscolidae média da populagio € de 8.2 anos, taxa inatinina Para os padroes dos paises desenvolvides, mas bem acima da média nacional de 5,5 anos. Esses dados de natureza educacional (publicados em O Globo de 12.5.2001) poderiam servir como arguments 2 de i 0 “padrao™ fesa de que a linguagem do Rio de Jind nacional. Ressalte-se, porém. que o Mm {igualmente dieibuido pes OT go com nivel superer concent cional no est extando a populas .30+ do Ae agoa, cura renda 12 eas corn ie e 23 veres MaHor 4! ey 126 chega 2 Ser WAS = me RSS 2170 Aida atea rurale Santa TUE GS TT oe os Soe area: ole ae tenes eae ¢ Sio Paulo. o maior ce vtande diterenga de Sie a uma grande Na capital paulista, a €s¢O- do pais. Na es dos cariocas gente populacional laridade media & de zi que se refere deducaydo superior © ee mada de 19.75%, perde apenas para Porto Aleere, Vigra ¢ Cariaba, Em alfberizayio, o Rio salsou de terceiro ugar. em 1980. para primeiso lugar. na decada de 90, com uma populayao analfabeca de apenas 3.490 Para exemplificara diferenciagdo por area geogratica de residéncia, numa perspectiva linguistica, pode-se tomar como ponto de referéncia a distribuigio do ¥, consoante que apresenta varias possibilidades de pro- nuincia, desde uma realizagio considerada padrio, mais conseradors de vibrate anteriog. o chamado r “rola- » mais frequente nos falares gaucho e paulista, até luma aspiraydo ou auséncia do segmenta, em final de infintivas, come ao inovadoras, Dentro de he eet Relizagives mais mie at do Ro de Tani, quanee 3 fal ceil cat Suburbana que se revela mais inovadora stivel. com frequéncia mai aior de aspiradas (56%), 7.44, contra 8.16 o de Janeiro. com ogre. Me EE aS mia tone Zona None orase Percentual signifi talver. por Imovadoras, ty ApFONIMa de uns ative aa f Linguisticos. en i Cass exemplo. 0 processo de apagamento do 7 6m posigio final. Comiderado uma mudanga “de Dai Praca cima’ usado nas pesas teatrais de Gi Vicente para a reriara fala de negr0s, fem O}e UT USD irresttito, vee sendo privativo de mulheres ow de qualquer etnia, "lawe social ou nivel de escolaridade, Sio as mulheres jovens, contudo, que, em rermos percentuais ucilizam rats Fequentemente a variante marcada ¢ mais inOvs- dora, apagando 0 r final nas formas verbais do infini- tive Isso talver indique que esse tipo de pronuincia nao seja mais estigmatizado. Por outro lado, as mulheres ‘adultas acima de 36 anos diminuem sensivelmente © percentual de uso, comportamento esse oposto 20 dos homens, ¢ que talvez denote que uma marca negativa ainda per siste, As mulheres, na fase de fixagao no mercado de trabalho, teriam, assim, wm maior cui dado ae { TE, iy hisses TONNE Lem em sua utilizacao da lingu: agem, a fi tar um outro critério discrimi No que tange a0 “chiame, nto”, siderada de “ ima para baixo” » Por imitag;, corte portuguesa, ade identid: diferenga entte jovens e adul a havendo homens e mulheres, no Rio de Jancra. A generalizagio que se pode fazer existentes entre a linguage de que a identidade hor outras identidades culeu isoladamente, sobre as diferencas ™ masculina ¢ feminina é 3 mem/mulher interage com rais, ndo podendo ser vista € sim em conjunto com outros fatores A interaao género/faixa etaria desempenha papel de importancia na andlise do processo de mudanga lin- guistica. Para uma caracterizagao dos falares brasileiros As propostas de descrigao dialetal baseavam-se, 7 inicio, na introspecgao da propria fala ou em impr ses assisteméticas e generalista, sob a forma mono- grifica. Tentativas de caracterizar o falar toe padrio através de uma “média aritmétic” que On pondesse ao tipo de promincia majors no Bas sem incorrer no equivoco de comparar Conineene populacionais diferenciados, social ¢ regio 6 normas gerals ° jo 96 normas g jem nio 86 A mbém no te spe nanismas abe NOE modal emeada uma delas. Os Fe nas, alantes | sabrangem cinco areas urban ado as ent feminino ¢ ricos ior completo, do sexo es com curse supeti 225-35 és fa artas: 29-2 nasclino, distribuidos por trés faixas ct anos, 36-55 anos ¢ 56 anos em diante. A fonética da fala culta Vocalismo dtono Figura 1. Percentuais de vogais medi a retonicas abertas em Salvador, Recife, Rio de Janeiro, Sav Paulo ¢ Porto Alegre A comparagio entre os percentuais de cada cidade mostra que em Porto Alegre ¢ Sao Paulo nio hi ocor rénci s de vogais médias abertas, no Rio de Janciro 0 percentual é insignificante ¢ em Salvador ¢ Recife hd 40. al baixa aber’ pedece a condiciony ‘i passam desapercet mentos 7a primeira, condicion? J alca ou baixa 09 sflaba mento ea ‘omo em seen Pajleeboilotasem ver de Pelée bolota. corapa Per gjacentes sao também condic ionadoras a de clevagao. A lateral palacal, grafada ih, ya de altear a vogal (cfuliher @ rnit]thor)- As Sasori (nbs am) prevail a elena spemas deo. como em m[ullegue, B[uneca, apesat da fresenga em slabs toniea de uma vogal aberta, A vogal pretonica da palavea melhor cheg: a admitir as ¢ 1 ver de Jruja ¢ plelrigas €™ em algumas ireas, cias, mfejlhor, mfilthor © mlethor, a primeira, em que nenbuma regra se aplica, jf que a clevagao ¢ abaixamento sio processes Faculta- Ss pron tivos, a segunda, em que atua a consoante Uh, ea terceira, em que favor condicionante ¢ a vogal aberta da silaba tdnica, ‘ A oposigio entre a fala de homens ¢ mulheres faz- 08 pens: ; Pensar numa sociedade cindida, a julgar pelos per centusis de c q 5 uso do proceso de clevagao (iso w, sae getagao mais nova A distribuiga0 dos res trou, no caso das pretonicas, clevagao € mais frequente n (mais de $6 anos), diminuindo geragfes mais jovens (25-35 anos). |i geragao mais jovem, € nao a mais vel Gialmente alteia a vogal, tanto a anter posterior 0. Esse comportamento inver cidades, uma do Nordeste ¢ outra do Sudeste, n surpreendente, uma vez que 0 processo mais comu em Recife € 0 do abaixamento da vogal ¢ s: idosos que utilicam com maior frequéncia 2 wel aberta. Admitindo-se que faixa etéria corresponde @ estigios temporais aparentes, os falantes mals she» tendo depositirios de formas mais ancigas pode supor que a forma inovadora, a preferencial dos ae jovens, em Recife, seja 0 alteamentos © M0 he Janciro, seja 2 manurengao da vogal média. j4 ¢ ‘abaixamento nio passa de 5% e atinge um ™ restrito de vocabulos. 42+ Tecnicamente donem palavras jar mm ayao ¢, em palavras usencia do sepment0. ¢ retroflexa, 0 famaso 7 ca} Os pode ser “chiado” ou “sib nite”, uma aspirag sean excepcionalmente, em palavtas como 70540. C160 ‘mesmo, luz, pires. O Ladmite basicamente duas possibi- Ididew uma variante vocalizada, que leva a confusso naescrita de formas como male mau, ¢ outta velariza- da, que ficou célebre gracas aos pronunciamentos de iticos gatichos no radio. (Os resultados aqui apre- sentados esto baseados na audicao de 30 fitas magne- ee 4.334 ocorréncias de r, 9.026 de 5 € 2.595 |) io brante pice a Ocorre ainda, em ira. raros casos, uma vibrant Or pés-vocéilico aS . 0 estudo quantitative da distribuigao de variances as ci inco capitais mostrou que Sao Paulo ¢ Port 0 Tn anes fi o dbus o a interior do vocdbulo, € opusertmos a realizayao anterior (vibrante apical simples € milripla) a realizagao poste- riorizada {fricativa velar, aspiragao), como se pode ver na Figura 2, em que se apresentam os percentuais de postenorizagan do rem posigso medial. ee Petmitem tracar, mais uma vez, uma appa ue sepa Sao Paulo e Porto Alegre de . Salvador e Recife, os primeiros privile- pando Wanda varanes vibrant apicais € os segundos, vantes nio vibrantes posteriores. a +4 2 Mio wibrante pant Os pés-wocdlico 0 podem ser pronunciadas com um 5 “sibit “thiado”. a depender do Gialeto. Andlises. quantirativas evidenciam que S40 Paulo e Porto Alegre tem uma distribuigao praticamen- te identica, com predominio quase absoluto da reali- zagio alveolar. No Rio de Janeiro, por outro lado, predomina a realizagéo palatal, comportando-se Recife ve foena semelhante, embora com percenttal mais beixo, 69%. Salvador, por sua vez, apresenta uma distribuicdo equilibrada das duas variantes. as como cisco © MEST Palavrs 7 ante” OU +45. LM chiade Ona0 chuado Figura 3. “Chiamento" versus “nao chiamento” Observa-se, portanto, de novo, uma oposigio sul/norte”, caracterizando-se a primeira pela nio pt latalizagao (realizayao sibilante). A regido “norte”, en tretanto, nao apresenta comportamento homogénco: de um lado Recife © Rio de Janeiro ostentam um clevado grau de “chiamento”, em oposigao a Salvador. Esses dados corroboram em parte a divisio de éreas linguisticas proposta por Antenor Nascentes, que ad- mite um falar baiano que se opde aos falares nordesti- no, sulista ¢ fluminense. Assim, no Mapa 4, uma linha orto Alegre ¢ Sio Paulo de Rio de alvador ¢ Recife, ¢ a maior ap: » de Janeiro © Recife € assi de Salvador. Fas § tosomcte Peeten nine we Ge cararte wesizada do | por Pat ' emtwmacromal em extruturas de topico © rteme de feo a SCA. pode ser considerado um Reaoes de Hesanee Gucusste, que supeta mesmo, Na PEL ktm face fia percesao : festamente ai que fica fo RE eg gn BME Posdescina em relagdo srecpainee ee, owas, Ngee Me Para as pessoas que tm Pramente a pronuncia de a elas cons- é, aqui m inal aparece desloca- que um sinta oe peeng corresponds, €m Berah 20 assagem, eu compro a aio’. “0 carro, o pneu furou”, “drama, ja basta a is The Foram estabelecidos sete padrocs entonaci om a finalidade de verificar se haveria um padrao lente simples: apresenta uma subida melédica ba tonica final ou na pais-tonica, 2. Axendente duplo: duas modulacoes ascendent es. 3 Ascendente/ te/descendente: modulacio ascendente na énica final, descendo na ¢ 7 lente este limo na arndente i mais Ulasaa 2 scendente ng | Mica sem Mod, hulacdo, descendente © sem Figuta 6 Padries entonacionars nas construgdes de topico Assim, Porto Alegre se singulariza por uma nio ocorténcia do padrio descendente ¢ total predomi nincia do padrio ascendente (89%). O Rio de Janciso aproxima-se da distribuigao de Porto aa embora dele difira pela possibilidade minima : um padrao deseendente, Ocupa, em eral ume Pos ao intermedisria entre Salvador € Recife 110. um lado € Sao Paulo ¢ Porto Alegre de outre, Caso espec Posto ae ico, est4 mais proximo de P cag Salvador ¢ Rev ite nentos s¢ nport fente s« Os dados reterentes a Puma linha que Porto Alegre am & y descend permite (Qt Reale ¢ S40 Ia orme Mapa a y de culta que chamam de imediato a io de uma lingua fossem as le qu endo se esperassem nitidas diferengas entre as cinco cidades na analise de fatos gramaticais, tornou se evidente, conforme palaveas do linguista Fernando Tar, lo, a existéncia de sotaques sintiticos Oartign definido ¢ de possessivos ¢ diante de nomes Proprios *pccto diverso da et Possibilidade de em. ive te. Por si 6, para deter- de origem do falante. A frequéncia aumenta 4 proporsao que se vai do nordeste para o sul » pais. embora cada Gdade apresente um compora- » heterogeneo em relagio a bein mulheres, jovens € idosos. O comportamento a dverenctado poderia apoiar-se, além de em cri ee hustonicos, na diferenga entre o ritmo silibico coon acentual, geralmente sonsiderados, respetiva a “aracterisnicos dos falares “nortistas” € “sulist = Prmeiros tenderiam a nio empregar 0 artigo P Rio de termes absolutos, a distingdo se pees Jareato e em Sao Paulo. Enquanto, ee oh sess falantes do Rio de Janciro ¢ de Sio +52- asittROS pasaw 05 8 105 € de possessivos 4 meio caminho entre “norte” ¢ “sul”, diante dos antroponimos os falances de Sio Paulo so os que mais uualieam o artig ‘clativos & frequéncia de uso diante de A PrSprios si0 mais nitidos: Sio Paulo © Porto Alegre opdem-se a Recife e Salvador, 9 Rio de Janeiro Permanecendo numa Posigao intermediéria, cn "M0 na fala > Pre Xo portuguas gy Brasil, a diy _ <4 gente © ng, Lara Menos brada: 56% © 44° des divergén ‘iras, mas o Ri agente (59 demais cidades ainda pr me se pode ver na conf Os percentuais d nds pot a gente mesmo niv lar, Na década de 90, na verdade, a form: aringit 758 no Rio de Janeiro 90s j st hate jovens ul F 1 90%. Esse fato sugere uma subst le nos por a gente nos tiltimos 20 anos. aceitagao que se ve pas: aceler. She hegava a att jovens que a entre 77 dafaixainterme preferencialmer Yo es ngit presentam UF ona 97%. 7 89%, COM EXCE -didria, nte ter nos mais Jove’ ns, de 25 2 decada de Mesmo na ter, muso maior Ge ao de Salvador, u}0s entre 36€ 55 ANOS: (90%). Salvador apres +85. 35 anos 70, sao OF oscilando falantes entra um NAM CALL comportamento diferenciade A distingao de gnero: é a 4 analisadas, em que os hom mulheres. : A analise de textos jorn. 29.1028 em trés 0 do Rio, 0 pri nas considerad cupo oe i@ principal objetivo se reste i cépias de cada edisio —, ¢ ngua i 0, Como seria de esp venitica uma preferés id cia pela variante padr. s jornals 7, enquanto no i maior é de £67 ues do Brasil, que e hoje no porte a falares, € pluralidade de Leda natureza do con- ys diferentes mica populacional icos ¢ sociais Ne ‘ tem origem latina (delere, deletum). mpréstimos Tragando linhas imaginarias Ours questio digna de destaque € a de que nio hi, cessariamente, uma coincidéncia entre 0 comporta- \ dos falares ¢ de suas dreas geogrificas respects Re fe, por exemplo, incluida na regiio Nordea, aproxima-se, muitas vezes, mais de Porto Alegre que de Salvador. © Rio de Janciro, cujo dialeto considerado o “padrio médio” em relaco aos falares brasileiros ¢ & incluido, segundo Nascentes, entre os YONNE LEME & oy dialetos do Sul, apresenta realizag mam de Salvador ¢ ite, co 0 5, aspira or, pude ‘ndo chia os, vibra or, tem emtoado ascendente, € gaticho”. cartoca, e mulher”; Voltando ao comeco ‘Tudo isso teve inicio com a chegada de Cabral, que, 20 aportar no Novo Mundo, se deparou com povos, cos- tumes € linguas diversos, até entao desconhecidos. Pouco depois, chegaram os jesultas, com a missio de transformar os indigenas em cristios. E daf surgiu a primeira gramitica de falares brasileiros, Arte da gra- mética da lingua mats usada na costa do Brasil, do padre José de Anchicta. A finalidade era ensinar a outros seligiosos a lingua tupinambd ¢ tornar efetiva a cate- quese. Como qualquer gramitica, embora intentasse ver apenas descritiva © pedagégica, terminou por ser +60. convencOns Mapa 4. Linhas demarcatorias de fendmenos linguisticas em areas nao continuas +61. "aa TONNE LEITE E Dinas em sua gramitica, A politica posta em pratica p apoio da Coroa tirou dos terras, sua cosmologia, sua diversidade condenada impés. deveriam passar a ter wma Fé, 56 wma lei, su Escavam assim langadas as bases para um ix que ainda hoje perdura. de uma Terra Brastice tica e culruralmente homogénea. ao Os hospedeiros dos portugues, % Ce ea conviviam bem com a variagao € a heteropeac=* que sua sociedade nao tinha como

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