You are on page 1of 5
4 ‘ Actes 4s pessoas como elas sio, tolerando que sejam difepenteag penisem de modo diverso do nosso, é uma das mais preciosas virtudes para q iedade, A falta de tolerdncia leva ao racismo, as ditaduras e é guerra, BETO, © CARNEIRO Ana Maria Machado 5 era um carneirinho cansado de carneirice. Cansado de fazer tudo 0 que seu mestre mandava. Por isso, um dia, quando ouviu chamar: — Bééé-bééé-to, vem cortar 0 cabelo Comegou a reclamar: — Néo quero cortar cabelo nenhum. Careca nao esta na moda. Vou embo- fa e vou ficar cabeludo como quiser. Quando o pastor se distraiu, ele subiu 4 montanha. No meio do caminho, ainda ouvia a carneirada: — Bééé-bééé-to... BE&é-béEE-to... Depois nao ouviu mais nada. A montanha era calma e linda, téo alta que ficava no meio das nuvens. Entao Bebeto pensou: — Oba, nuvem é uma coisa boa pra ser. Para um carneiro esperto como eu, nao é dificil ser branco e macio, nem ficar para ld e para c4. Esta resolvido: vou virar nuvem. Entrou no meio da neblina e pronto... Apareceu uma nuvem nova Uma nuvem “bebeta”. No comego era muito divertido. Cada passeio bom! As nuvens viam todas as coisas da terra. Rios, fazendas, praias e cidades. De vez em quando vinha um vento e mudava tudo num momento. — Seu Vento, quero ir ver a floresta ~ Nao senhor, vamos para o mar. E nada de reclamar. Bebeto acabou cansando também Nao gostava de ser mandado por : suém. oir / E achou melhor virar outra coisa ma Mas nao sabia o qué. We Em cima do mar, viu as ondas la embaixo, = cheias de espuma branguinha. : — Oba, espuma é coisa boa pra ser. Para um carneiro esperto como eu, néo ¢ dificil ser branco e levinho, nem boiar para ld e para 4. Esta resolvige: vou virar espuma. : A nuvenzinha fez uma chuva, mistuzou-se com a agua do mar. : E pronto: apareceu uma espuma nove ‘0 comego foi uma maravilha Que lindo o mar a noite, quando a lua brilha! E que beleza de dia, com sol. Que alegrial Vida boa! Ele passava o dia inteiro a toa. De papo pro ar, vendo as gaivotas Olhando os peixinhos no fundo Qu brincando atrés dos barcos que passavam, Um dia resolveu ir passear: — Dona Onda, quero ir a praia, brincar na areia ~ Nao senhor, agora nao. S6 na maré cheia. — Deixa de onda, dona Onda. Mas nao adiantou. E ele tam- bem se cansou. Por isso, quando dona Onda se distraiu, ele pegou uma onda e foi até a praia. Quando chegou 1a, ouviu um choro. Olhou, olhou, e des- cobriu que era uma carneirinha — Buééé... Bu Ninguém gosta de mim... Nenhum carneiro € meu amigo... Seré que é porque sou uma ovelha negra? Bebeto ficou morrendo de pena da ovethinha morena E viu que precisava voltar a ser carneiro mesmo. ~ Bom-dia, carneirinha! Eu quero ser amigo. Meu nome € Bebeto. — Bom-dia, Bebeto. Eu sou Memélia. Os dois comecaram a conversar e brine. Um chamava 0 outro: — Meééé-mééé-li ~ Bééé-bééé-to.., Correram, pularam, deram cambalhotas Cantaram e dancaram: Carneirinho, carneirio, neirio, neirio... Othai pro céu, olhai pro chao, pro chéo, pro chiv... Cataram conchinhas, fizeram castelos de areia. E ficaram muito amigos e felizes. Depois safram viajando pelo mundo afora Tocavam violdo e cantavam em muitas cidades diferentes. : Nao ganhavam muito dinheiro, mas se divertiam muito. Usavam 0 cabelo como queriam. f Nem dava pra ver se eles eram brancos ou pretos, porque estavam sempri com umas roupas muito coloridas, cheios de colares e enfeites. : Casaram e tiveram uma porcao de filhos. Carneirinhos pretos, brancos ¢ malhados. Todos levados, alegres e brincalhdes. Muito felizes por serem s6 carneirinhos. E todo mundo gostava deles.

You might also like